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“As crises são inevitáveis sob o capitalismo. mas é perfeitamente possível e viável uma
organização da economia estruturalmente diferente da organização capitalista, capaz de
suprimir as causas da crise.
“E há, sobretudo, uma diferença essencial: a crise capitalista aparece como uma
superprodução de valores de uso, mais precisamente: não há insuficiência na produção
de bens, não há carência de valores de uso; o que ocorre é que os valores de uso não
encontram escoamento, não encontram consumidores que possam pagar seu valor de
troca e, quando isto se evidencia, os capitalistas tendem a travar a produção; na crise
capitalista, a oferta de mercadorias torna-se excessiva em relação a procura e,
então, restringe-se ao limite a produção.”
As contradições do capitalismo
Nas crises, trabalhadores e pequenos e médios capitalistas são sempre mais onerados
pela crise. Por outro lado, setores se beneficiam das crises, que têm por efeito favorecer
os mecanismos de concentração e centralização.
*Mazzucchelli
- Tendência a superprodução
“O primeiro aspecto a ser considerado é que o capital contém, por sua própria natureza,
a tendência a superprodução. Desde logo, não se trata ainda de ‘analisar a
superprodução em seu caráter determinado, senão somente a predisposição a ela, tal
como está posta primitivamente na relação do capital”
“A tendência a superprodução pode ser colocada nos seguintes termos: na medida em
que a socialidade em uma economia mercantil não se dá no processo imediato de
produção, mas sim é dada pela troca, o produto do trabalho assume uma dupla
determinação: uma determinação natural, útil, material (valor de uso), referida à sua
‘aptidão para satisfazer necessidades humanas’, e uma determinação social (valor)
referida à sua conexão com a troca. Como, entretanto, o valor só existe de um modo
relativo, como valor de troca, ‘a antítese interna de valor de uso e valor que se
alberga na mercadoria toma corpo em uma antítese externa, ou seja, na relação entre
duas mercadorias (...)’
“Isto significa que a circulação mercantil contém, em si mesma, ‘um marco para as
crises’: na medida em que compra e venda, produção e circulação, produção e
consumo, constituem pares complementares, porém não idênticos, instaura-se a
possibilidade da não coincidência entre estes distintos momentos, daí sobrevindo as
crises. Vale dizer: uma economia mercantil, ao contrário do intercâmbio baseado
na troca direta, é necessariamente uma economia monetária, estando a produção
necessariamente referida ao dinheiro, e apenas realizada socialmente, quando
convertida no dinheiro. E não há, aí, nenhuma garantia de que esta conversão se
realize, já que compra e venda, produção e consumo, apesar de unidos
interiormente, mantém em seu movimento, uma independência recíproca.
Além disso, em ambos autores, não há nenhum mecanismo que leve economias em
depressão à plena utilização da capacidade. Ou seja, é possível que economias
passem longos períodos em situações de baixo crescimento.
Mas, em Kalecki, por que não existe mercado, ou por que o nível da demanda não é
suficiente para absorver toda a produção que se poderia? A resposta está na despesa
dos capitalistas: seus gastos em consumo e em investimento são insuficientes, estão
aquém do nível da capacidade produtiva de que eles mesmos dispõem. Assim, esses
gastos assumem um papel fundamental na dinâmica das economias capitalistas,
principalmente em economias nas quais os governos são forçados a serem
superavitários.
P + W = I + Cc + Cw,
e se os trabalhadores usam toda sua renda para consumir, então
P = I + Cc.
Conforme Kalecki, “Considerada nesse contexto geral, a equação (1) permite afirmar
que – dada a distribuição da renda entre lucros e salários nos três departamentos – o
investimento e o consumo capitalista determinam o lucro e a renda nacional (...) Assim,
a renda (ou produto) nacional que se pode vender e os lucros P que se podem realizar
são determinados, em qualquer circunstância, pelo nível de investimento I e pelo
consumo Cc dos capitalistas (dada a distribuição de renda).
I = aS + b.deltaP – c.deltaK + B,
sendo S a poupança pessoal dos grupos que detém o controle das firmas, deltaP é a
variação do lucro (associado ao financiamento e ao risco crescente, ou seja, quanto
maior o empréstimo em relação ao capital da empresa, maior é o risco que ela corre de
ter prejuízos, na hipótese de haver uma queda na taxa de lucro) e deltaK é o estoque de
capital, variável que representa o princípio do ajustamento do estoque de capital”,
desenvolvimento do “princípio da aceleração”.
CRISE EM KEYNES
Conforme foi dito acima, uma das principais preocupações de Keynes era mostrar a
possibilidade do desemprego involuntário, em contraposição a teoria neoclássica, que
excluía essa possibilidade (Chick, p. 82). No esquema teórico de Keynes (na Teoria
Geral), o investimento também desempenha papel fundamental na explicação dos ciclos
econômicos – Keynes afirma que em um sistema complexo é comum se considerar
como causa causans o fator com maior propensão a flutuações repentinas e longas1.
Conforme ele explica no capítulo 22 (Notas sobre o ciclo econômico): “para explicar a
‘crise’, temos enfatizado que a taxa de juros tende a subir sob o efeito de maior
demanda de moeda, tanto para fins de transações correntes como para fins
especulativos. Algumas vezes este fator pode, certamente, representar um papel de
agravamento e talvez, ocasionalmente, de desencadeamento. Creio que a explicação
mais normal, e por vezes a essencial, da crise não é primordialmente uma alta taxa de
juros, mas um repentino colapso da eficiência marginal do capital”.
Para Keynes, a crise (cíclica) se explica por conta da queda da eficiência marginal do
capital causada pela queda da confiança dos empresários. A queda da confiança
aumentaria a preferência pela liquidez dos agentes, aumentando a taxa de juros. Nesse
cenário, os empresários teriam poucos motivos para continuar aumentando seus
investimentos, impactando negativamente a renda e o emprego.
Para Kalecki, a retórica do “estado de confiança” seria apenas uma forma de evitar que
o Estado incorresse em déficits orçamentários (sob justificativa da doutrina da “finança
sadia”) em períodos de desemprego, o que impediria que os trabalhadores ganhassem
poder de barganha, mantendo o chão de fábrica controlado.
Ademais, Keynes põe grande ênfase na confiança e nas expectativas para explicar um
eventual colapso da eficiência marginal do capital. No entanto, na medida em que esses
fatores são exógenos, no arcabouço teórico da Teoria Geral as crises seriam, em alguma
medida, fenômenos exógenos ao sistema capitalista.
CRISE EM MINSKY
*Pedrosa
“Hyman Minsky contribuiu para a elaboração de uma teoria dos ciclos econômicos, ao
chamar a atenção para o impacto que as decisões de financiamento das posições ativas
dos agentes têm para a dinâmica econômica. O principal legado de Minsky é a
construção de um aparato teórico em que a moeda e as finanças encontram-se no
centro da dinâmica e do ciclo da economia capitalista (LAVOIE; SECCARECCIA,
2001), lançando luz sobre como se dão as inter-relações entre os aspectos reais e
financeiros da economia capitalista (MINSKY, 1982, p. 4). Minsky não só coloca as
finanças no centro da sua teoria sobre a dinâmica capitalista, mas, ao construir o
chamado paradigma de Wall Street, busca mostrar o caráter endógeno das crises
financeiras, ressaltando que a instabilidade surge das condições de estabilidade.
*Lavoie
“For Minsky, instability and the rising fragility of the financial system are inherent
features of an unregulated capitalist economy. Part of this destabilizing stability is tied
to financial innovations, which will be introduced or expanded when things go well”
“In neoclassical theories such as Tobin's theory ‘q’ and in Minsky's theory of financial
fragility, a lower profit rate and higher leverage are associated with less
investment, not more. However, the description of firms investing in response to
severe competitive pressure reminded me of Marx's references in Capital to
"coerced" investment and his explanation of how competitive pressure
"compelled" firms to ‘Accumulate, Accumulate!’ (…) Unfortunately, most
formulations of Marx's theory of accumulation accept the proposition that a falling
profit rate inevitably lowers investment. What was needed, it seemed to me, was a
reformulation of Marx's theory of competition which could address the question of
whether ‘Accumulate, Accumulate!’ is indeed a universal imperative and, if not, to
establish the conditions under which competitive pressure can simultaneously reduce
the profit rate and raise cost-cutting investment.”
“These assumptions (crescimento das firmas como objetivo primordial, irreversibilidade
do investimento e da acumulação de dívida, e expectativas) provide the foundation for
the Keynesian-Minskian components of Marxian investment theory. Given Keynesian
financial markets and the managerial firm's growth-safety objectives, it is the
combination of the assumptions of illiquid capital and the unknowability of the
future that profoundly affects the character of investment theory.
“The core ideas of the growth-safety tradeoff investment model can be expressed
succinctly. Management seeks growth (best thought of as a composite variable
positively influenced by firm size or market share and expected profits) and safety (a
variable inversely related to the likelihood that management's autonomy and/or the
firm's survival will be threatened by shareholders or creditors). Both growth and safety
are functions of investment. Growth requires capital accumulation but investment
spending must be financed. Internal funding and stock floatation create implicit future
cash-flow commitments to shareholders while debt funding creates explicit cash-flow
commitments to creditors. If these commitments cannot be met out of the future
operating profits generated by the invested capital, management's autonomy will be
threatened. However, while financing commitments, especially to creditors, are
relatively certain, expected profits are not: investment in illiquid capital is both
necessary for growth and dangerous to management and the firm. At the margin (as is
formally demonstrated in Crotty and Goldstein 1989), higher growth is associated
with decreased safety, and vice-versa: there is a growth-safety tradeoff.
“Firms will seek a level of investment that achieves an "optimal" balance between
growth and safety. Therefore, investment will be affected by: (1) management's
preference for growth versus safety and (2) those variables, objective and
subjective, that affect the relation between expected growth and safety and the
investment decision. For example, the expected profit rate has a powerful influence on
investment because a higher profit rate will, by increasing profits per unit of investment
(growth) and by raising expected profit flows relative to cash flow commitments to
owners and creditors (safety), simultaneously raise both the growth and safety levels
associated with every prospective level of investment. On the other hand, increased
leverage and higher interest rates will depress investment because they make every level
of investment more dangerous. Ceteris paribus, a managerial preference for growth
relative to safety, a high profit rate, financial robustness, low interest rates and minimal
uncertainty stimulate investment, and conversely. Note in particular that, ceteris paribus,
a rise in competitive pressure will decrease investment by lowering the profit rate and
increasing uncertainty.
“In a corespective regime, firms will have high profits (compared to fratricidal
competition) and reasonable protection from dysfunctional (as opposed to profit-
augmenting) technical change. With competition held within well understood
guidelines, uncertainty will be minimized. Thus, corespective relations permit the
firm a wide range of choice of strategies and bureaucratic structures: this is not a
coercive environment. In particular, the firm has the resources and the security
needed to adopt an efficient long-term strategy.
c) Coerced investment in an anarchic regime: invest or die once again: “Since the
qualitative increase in competitive pressure associated with the regime shift causes
the destruction of the corespective model, we can no longer automatically assert that
more competition means less investment. Of course, it may. The firm may judge
that the environment is so bleak that marginalization or bankruptcy is inevitable; selling
the enterprise as a whole or in pieces may be the best strategy available.
But then again it may not. Faced with the possibility of disaster under a status quo
strategy, management may decide to seek reproduction by becoming more
aggressive, by undertaking strategies and investment policies that it previously rejected
as too disruptive and risky.
“The strategic options available depend on industry conditions at the time of the regime
shift. They all involve substantial investment spending that must be debt financed
because profits are shrinking.
“More to the point, the firm may also undertake major new investment projects
designed to lower costs of production through labor substitution and enhanced
labor productivity, projects that must be debt financed because of low or even
negative profits. The assault on labor and the increase in cost-cutting investment are
complementary. Weak unions and frightened workers may be necessary
preconditions for the implementation of labor-saving, job-reorganizing investment
projects. Management may have to establish a new set of labor relations in order to
create cost-reducing investment opportunities that did not exist under the capital-labor
relations of the previous strategy. In accordance with Marx's theory of the reserve
army, the conditions that give rise to this shift in strategy also raise the likelihood
of its success. As many firms undertake labor-saving investment, unemployment will
rise, workers will become less militant, and unions will weaken.”
“Abstract analysis alone cannot tell us whether total investment will rise or fall.
But it can tell us that neoclassical and Keynesian theories are blind to one of the most
powerful influences on investment spending in an era of fratricidal competitive
struggle. Since the neoclassical firm in particular was already optimizing, already cost-
minimizing before the rise in competitive intensity, it has no other strategy to turn to.”