Resumo: Psicologia do Trabalho: aspectos históricos, abordagens e desafios atuais, por
Luís Henrique da Costa Leão
O campo da psicologia do trabalho
A psicologia do trabalho tem como característica marcante a interdisciplinaridade, ou seja, mantém contato direto com várias disciplinas e campos do conhecimento, como a antropologia e a sociologia, e, com cada um deles constrói conhecimento sobre o trabalho. A área da psicologia do trabalho é vasta, com bastante pluralidade e diversidade de vertentes e formas de pensar, porém, todas, discutindo um propósito em comum que é o estudo dos fenômenos relacionados aos processos organizacionais do ser humano. O bem-estar do trabalhador. É uma área científica e profissional bastante heterogênea, um conjunto de ideias e práticas complexas, que mantém conexões e compartilham de pensamentos e conceitos com uma vasta quantidade de áreas e matrizes. A emergência da psicologia do trabalho Devido ao avanço da técnica e as mudanças nas relações sociais, a urbanização e a industrialização se aceleram. Inserido no contexto de industrialização, principalmente nos Estados Unidos da América (EUA) e Europa, surgem práticas da psicologia em relação ao trabalho em cenários político-econômicas do agitado século XX. O intuito dessas práticas, no início, era contribuir para diminuir problemas do ser humano na esfera das fábricas. Efetivamente, a ênfase da psicologia no século XX estava na procura de resolução de problemas e conflitos individuais e coletivos relacionados a determinados locais e instituições como indústrias, escolas, prisão, entre outros. Abordagens das relações psicologia e trabalho A partir da Revolução Industrial, o capitalismo gerou uma ideia do trabalho na esfera econômica que tenha relação com a venda da mão de obra. Ou seja, formas de trabalho que antes não tinham cunho econômico e lucrativo, como atividades domésticas e sacerdotais perdem o espaço e o impacto depois do surgimento da sociedade capitalista, onde o homem começa a vender sua força de trabalho e assim, o trabalho assalariado se torna o conceito conhecido e unicamente aceito pela sociedade pós Revolução Industrial e o capitalismo. A psicologia do trabalho aí surge com o intuito de contribuir para o avanço das atividades econômicas minimizando o esgotamento. Um ponto importante é que, com as transformações do século XX, como a ciência, a medicina e a própria mudança da sociedade, acontece a interferência nas noções sobre trabalho, diversificando assim o campo das relações do trabalho no Brasil. A psicologia no universo organizacional Um elemento que une as categorias psicologia e trabalho é a organização, que tem seu conceito além do campo industrial, abraçando vários ambientes como hospitais, sindicatos e etc. A psicologia organizacional surge pela influência de conceitos da sociologia e antropologia e pelo desenvolvimento da psicologia social, trazendo novos conceitos e métodos. O objeto de estudo da psicologia organizacional está na “intersecção das ações da pessoa e da organização, como um todo complexo, dinâmico, inserido em uma ampla conjuntura” (ZANELLI, 1994, p. 104). A eficiência é o objetivo, e para chegar nela é preciso combinar as necessidades individuais dos trabalhadores com as exigências da organização. Por fim, essa psicologia de trabalho pretende avaliar os comportamentos que são consequência dos processos de um local formal onde se exercem tarefas. Problematiza o que acontece dentro desses lugares de trabalho ou organizações formais e a gestão do comportamento individual e coletivo. As perspectivas da psicologia (social) do trabalho Outros tópicos sobre a psicologia do trabalho surgem na Europa em que se percebem análises que articulam psicologia e marxismo. Na Itália, por exemplo, outra psicologia relacionada ao trabalho surge relacionada aos movimentos trabalhistas de luta por saúde no trabalho. Se trata de uma psicologia do trabalho de grande importância e impacto para o Modelo Operário Italiano (MOI), cujo principal autor foi Ivar Oddone. Seu foco estava em reencontrar a experiência dos trabalhadores para a mudança das nocividades do ambiente operário. Essa psicologia enfatizou a redescoberta da subjetividade dos operários em oposição à ação dos técnicos e ressaltou seu papel de agente de mudanças nos processos de produção. Essa perspectiva vai influenciar diretamente o surgimento do campo da saúde do trabalhador no Brasil e o desenvolvimento da clínica da atividade e da ergologia no contexto francês. Finalmente, enfoca-se que essa psicologia (social) do trabalho tem a intenção de entender e intervir em diversos âmbitos do mundo do trabalho a partir de referenciais críticos e não positivistas, implicada na transformação da sociedade e na emancipação humana. Abordagens clínicas do trabalho Uma abordagem que emergiu sob influências da ergonomia foi a chamada clínica do trabalho, que busca a compreensão da relação subjetividade, saúde e sofrimento. A quantidade de abordagens dessa perspectiva são bastante heterogêneas, e dentre as principais representantes estão a psicossociologia clínica (Eugene Enriquez, Vicent Gaulejac), psicodinâmica do trabalho (Christophe Dejours, Pascale Molinier), clínica da atividade (Yves Clot) e ergologia (Yves Schwartz). Essas vertentes teórico/metodológicas têm em comum a compreensão do trabalho como atividade do sujeito, complexa e intersubjetiva, que mobiliza dinâmicas coletivas de criação de normas e formas particulares de agir, irredutíveis às prescrições. Desafios e perspectivas Como desafio teórico-prático, tem destaque a importância de novos estudos e pesquisas multidisciplinares, que abordem a psicologia do trabalho no geral, em sua total complexidade, que não seja o conhecimento já existente. A falta de pesquisas e práticas da psicologia do trabalho em relação a agricultura, campo de enorme importância no Brasil. Assim, existe a necessidade de se abordar questões que envolvem os trabalhadores do campo e as organizações familiares de produção dentro do contexto da psicologia do trabalho. É preciso pensar novas relações entre a psicologia do trabalho e atividades consideradas fora desse campo. A disposição de abertura para constituir novos diálogos com áreas e temáticas que tradicionalmente não constituem seu objeto pode ser considerada fértil para o avanço do conhecimento e das intervenções nas relações psicologia e trabalho.