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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
MARIA DA GLÓRIA GAMA

A PRÁTICA DO ENSINO COMO INSTRUMENTO DE DOUTRINAÇÃO


IDEOLÓGICA DURANTE O REGIME MILITAR (1964 – 1985).

Manaus – Amazonas
2017
MARIA DA GLÓRIA GAMA

A PRÁTICA DO ENSINO COMO INSTRUMENTO DE DOUTRINAÇÃO


IDEOLÓGICA DURANTE O REGIME MILITAR (1964 – 1985).

Trabalho apresentado ao Departamento de


História da Universidade Federal do Amazonas
referente à disciplina Monografia Histórica II do
Amazonas, sob orientação do Professor Prof. Dr.
João Ricardo Bessa Freire como requisito parcial
para a conclusão do curso de Licenciatura em
História.

Manaus – Amazonas
2017.
SUMÁRIO

1. TEMA..................................................................................................................1
1.2- Delimitação do Tema:...................................................................................1
2. JUSTIFICATIVA:................................................................................................1
3. PROBLEMATIZAÇÃO.......................................................................................3
4. OBJETIVOS.......................................................................................................5
4.1- Objetivo Geral:...............................................................................................5
4.2- Objetivos Específicos:..................................................................................5
5. HIPÓTESE..........................................................................................................6
6. METODOLOGIA.................................................................................................7
7. CRONOGRAMA.................................................................................................8
8. REFERÊNCIAS..................................................................................................9
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1. TEMA

A prática do ensino como instrumento de doutrinação ideológica durante o


Regime Militar (1964-1985).

1.2- Delimitação do Tema:

O presente trabalho se enquadra na compreensão da prática do ensino


empregado ideologicamente durante o regime militar (1964-1985). Buscar-se-á
compreender como os livros didáticos foram utilizados como instrumentos de
doutrinação ideológica e formatação de condutas em tempos de ditadura civil-
militar no Brasil e no Estado do Amazonas in loco.

2. JUSTIFICATIVA:

Apesar da familiaridade que se tem com o livro didático, a dificuldade em


defini-lo quanto à função que o mesmo exerce ou deveria exercer em sala de
aula é um problema de investigação constante. Gérar e Roegiers (1998, p.19),
definem o livro didático como “um instrumento impresso, intencionalmente
estruturado para se inscrever num processo de aprendizagem, como fim de lhe
melhorar a eficácia”. Entretanto, sua utilização assume importância diferenciada
de acordo com as condições, lugares e situações em que é produzido e utilizado
nos diferentes âmbitos escolares.
A preocupação com os livros didáticos em nível oficial, no Brasil, se inicia
com a Legislação do Livro Didático, criada em 1938 pelo Decreto-Lei 1006
(ROMA NATTO, 2009). Nesse período o livro era considerado uma ferramenta
da educação política e ideológica, sendo caracterizado o Estado como censor no
2

uso desse material didático. Os professores faziam as escolhas dos livros a


partir de uma lista pré-determinada na base dessa regulamentação legal, Art.
208, Inciso VII da Constituição Federal do Brasil, em que fica definido que o
Livro Didático e o Dicionário da Língua Portuguesa são um direito constitucional
do educando brasileiro (NÚÑEZ etal, 2009).O livro didático acompanhou o
desenvolvimento do processo de escolarização do Brasil.
Se na primeira metade do século passado os conteúdos escolares assim
como as metodologias de ensino vinham como professor, nas décadas
seguintes, com a democratização do ensino e com as realidades que ela
produziu os conteúdos escolares, assim como os princípios metodológicos
passaram a serem veiculados pelos livros didáticos Romanatto (2009),
assumindo um papel importante na práxis educativa, tanto como instrumento de
trabalho do professor, quanto como único objeto cultural ao qual a criança tinha
acesso no final do século XIX e início do século XX.
Portanto, investigar até que ponto este material didático pode
comprometer o processo educacional e passar a ser agente formatador do
processo educacional é uma tarefa imprescindível e que sem dúvidas contribuirá
para o uso mais crítico e consciente dos livros pelos profissionais de educação e
mais especificamente os de História. O presente trabalho se enquadra no campo
da História social e busca trazer à tona as relação de poder e intencionalidades
escondidas na prática do ensino, empregadas ideologicamente por trás do uso
do livro didático durante o regime militar, dando enfoque aos efeitos causados e
a situação deste cenário no tocante ao ensino educacional no Estado do
Amazonas.
3

3. PROBLEMATIZAÇÃO.

O livro didático, com toda certeza é um dos grandes aliados na


construção do conhecimento e na delicada arte de educar já que visa transmitir
síntese de conhecimentos, tornando-os de mais fácil apreensão. Porém, pode
ser utilizado de forma intencional com o intuito de transmitir valores ideológicos e
modelos de comportamento de conduta desejados. Segundo Circe Maria
Bittencourt:
Fazer a história da leitura implica em rever o problema do livro e seu
caráter ambíguo. Proposto, em geral, para cimentar a uniformidade de
pensamento, divulgar determinadas crenças, inculcar normas, regras
de procedimento e valores, o livro pode também criar as diferenças
porque a leitura que se faz nele ou dele, nunca é única. A leitura de um
livro é ato contraditório e estudar seu uso é fundamental para o
historiador compreender a dimensão desse objeto cultural.
(BITTENCOURT, 1993, p. 5)

Livros didáticos empregados durante a Ditadura Militar.

Definir para análise posterior como se deu o processo de doutrinação


ideológica nas escolas públicas do Amazonas, através da prática do ensino,
empregados ideologicamente por trás da introdução de vários livros didáticos,
destacando a Organização Social e Política Brasileira e Educação Moral e
4

Cívica durante o Regime Militar (1964-1985) é condição sine qua non para que
se possa compreender mais um ângulo da ação estatal à época.
Devido a escassez de estudos sobre como se deu a prática do ensino no
Amazonas durante a Ditadura Militar, fazem-se pesquisas que investiguem com
todo o rigor, como o ensino nas escolas do Amazonas foi afetado por esse
retrocesso com a supressão das disciplinas de História e Filosofia pelos Estudos
Sociais.
Analisar como os livros didáticos de OSPB 1 e EMC2 entre outros, eram
usados como dispositivos pedagógicos disciplinares e ideológicos no ensino do
Amazonas e no Brasil durante o Regime Militar, investigar como foram exercidas
pressões sobre educadores no estado do Amazonas e como lidaram com a
substituição das disciplinas de História e Filosofia pelos Estudos Sociais; bem
como os compreender os prejuízos acarretados na educação com esse novo
programa de ensino e como fizeram uso do livro didático a serviço da nova
ideologia vigente sob a batuta dos militares é indispensável para compreender
as deficiências que o sistema educacional atual herdou deste período.
A enorme relevância nesta empreitada de definir os assuntos que serão
abordados em trabalho posterior, fazendo uso de entrevistas – pela escassez de
fontes bibliográficas - sobre esse tema, sob a ótica docente; residem em
compreender por que a opinião pública hoje direciona tanta credibilidade às
escolas militares e ao modelo behaviorista de ensino. O que torna o professor –
o pelo menos pretende fazê-lo – um mero reprodutor do que já vem pré-
estabelecido no material proposto.

1
Organização social e política brasileira.
2
Educação moral e cívica.
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4. OBJETIVOS

4.1- Objetivo Geral:

4.1.1. Compreender, abordar e contribuir para os estudos das práticas do


ensino escolar empregadas durante a Ditadura Militar através do uso e aplicação
do livro didático.

4.2- Objetivos Específicos:

4.2.1. Apresentar o contexto da prática do ensino na cidade de Manaus


nos anos 1964-1985.
4.2.2. Debater as intenções do regime escondidas no livro didático.
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4.2.3. Compreender o difícil contexto pelos quais as práticas do ensino


das disciplinas de História e Filosofia foram suprimidas durante o Regime Militar.

5. HIPÓTESE

A grande dificuldade de ensinar as disciplinas de História e Filosofia em


um período em que as mesmas foram abolidas do currículo escolar foi o grande
desafio dos professores em todo o Brasil. A julgar que não se tratava mais de
professores de História e Filosofia, mas sim, de Estudos Sociais no qual
juntaram História e Geografia em uma única disciplina. Esse modelo foi criado
nos Estados Unidos após a crise de 1929.
Quando a educação foi culpada pela crise nos Estados Unidos, passou-se
a focar mais nos interesses de mercado, voltado para a sociedade industrial 3 e o
ensino tornou-se menos intelectualizado.
No Brasil, essa disciplina começou experimentalmente na década de 50,
mas foi em 1971 que a História foi abolida de vez do currículo escolar.
A História e a Filosofia, enquanto disciplinas tem o papel primordial de
formar cidadãos críticos dos processos históricos e políticos 4 no meio em que
estão inseridos; Em um regime ditatorial, certamente constituiu-se uma ameaça
à ideologia imposta pelas forças dominantes. Daí o empenho por erradicá-la do
currículo escolar.
De primeira à quarta série a Integração Social agregava um pouco de
tudo; desde História à noções de higiene. De quinta à oitava série começavam a
ministrar os Estudos Sociais. Os livros didáticos eram divididos: metade História,

3
Ensino tecnicista.
4
Algo preocupante para regimes autoritários.
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metade Geografia, tornando o ensino algo superficial e todo material usado


passava pelo crivo da censura. Ou seja, havia assuntos da história e Filosofia
que não poderiam ser tratados em sala de aula. Os professores tinham que ser
muitos cautelosos com o que era ministrado em sala. Falar sobre problemas
históricos era expressamente proibido.
Na ditadura, os professores eram treinados, e segundo entrevista com
uma professora da época, “reciclagem” era a palavra de ordem. Transformar
algo velho em novo, assim os professores passavam por um processo de
reciclagem e adestramento.
O Estado representado pela escola tem a função e responsabilidade de
contribuir para a formação de uma consciência crítica para que os alunos
possam estabelecer relações entre presente e passado com uma perspectiva no
futuro. Essa mesma consciência crítica é fundamental para as pessoas se
despirem de preconceitos e estereótipos, possibilitando uma forma de pensar
empática de se colocar no lugar do outro. Ao proibir o ensino de História e
Filosofia, o governo militar pretendia inibir as pessoas de pensar criticamente.
E como foi esse processo no estado do Amazonas? Por se tratar de um
estado periférico, estava o Amazonas coadunado com o regime militar do resto
do Brasil? Como estudante desse período, e pelas investigações feitas sobre a
condição do ensino de História no resto do Brasil, é possível afirmar sob a ótica
discente, que os militares tiveram sim, cuidado em implantar seus programas até
mesmo nos lugares mais remotos como o Amazonas. A hora cívica, em que
todos os alunos ficavam de pé enfileirados para a execução do Hino Nacional,
antes de entrarmos em sala de aula, é algo bastante vivo na memória.

6. METODOLOGIA

O tema a ser trabalhado abordará assuntos relativos à prática do ensino


empregado ideologicamente por trás do uso do livro didático durante o regime
militar (1964-1985).
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Haverá pesquisas relacionadas ao assunto nas bibliotecas públicas e


universitária, pesquisas bibliográficas e orais, jornais de maior circulação da
época. Observando e destacando o real acontecimento sobre o assunto no
contexto histórico amazonense, através da literatura, noticiários e imagens nos
anos 1964-1985.

1. Leitura da historiografia sobre o regime militar no Amazonas;

2. Levantamento bibliográfico e leitura sobre a política educacional


durante o Regime Militar em Manaus;

3. Consequências do emprego dos livros didáticos (OSPB-EMC) em


Manaus;

4. Coleta, transcrição e análise de depoimentos orais de discentes que


vivenciaram o ambiente escolar durante o período.
5. Coleta de imagens, destacando as relacionadas ao assunto abordado
nos jornais, livros e revistas da época.

7. CRONOGRAMA

Atividades 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 1
Início: X X X
Coleta de
depoimentos
e fontes
Revisão X X
Bibliográfica
Leitura de X X X
Bibliografia
9

Correção X X
Textual
Redação X X
final e
entrega

8. REFERÊNCIAS

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Fundamentos e Métodos/Circe Maria Fernandes Bittencourt – 2ª Ed. – São
Paulo: Cortez, 2008.

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