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Por que a escola é chata?

Atualmente, há muitas discussões sobre a escola, sobre seu papel e sobre como torná-la mais interessante
para os alunos de hoje. A convite de um jornal de grande circulação, um jornalista, um educador e um sociólogo e
economista, que regularmente escrevem no jornal, debateram o tema. Leia uma síntese desse debate.

Os colunistas do Sinapse —Gilson Schwartz, 43, Gilberto Dimenstein, 46, e Rubem Alves, 69— abriram a
"Semana Sinapse" com o tema "Por que a escola é chata?", que tratou de assuntos como a utilidade dos conteúdos
ensinados em aula e a dificuldade para adquirir conhecimento.
Dimenstein abriu a palestra e afirmou que o principal problema da escola é o fato de ser desconectada do
cotidiano dos alunos, preparando-os não para a vida, mas para provas.
O colunista da seção "Experimentar" disse também que "só se retêm informações que dêem prazer ou
tenham utilidade" e que "a escola está se tornando não apenas chata mas também inútil". Para ele, isso acontece
devido ao fluxo de informações em circulação. O conhecimento se torna obsoleto rapidamente e não é retido pela
população.
Isso traz consequências ao mercado de trabalho, segundo o jornalista: "Agora, você é contratado mais pela
atitude diante do conhecimento do que pelo conhecimento em si". Dimenstein sugere que, como cartões de crédito,
diplomas tivessem prazo de validade e considera fundamental a educação permanente, que classifica de "quarto
grau". "O ato de aprender é o ato de lidar diariamente com o prazer da descoberta."
Dimenstein considera possível encontrar salas de aula em diversos ambientes. "Dá para aprender
matemática na marcenaria." Como exemplo, apresentou um vídeo sobre um projeto que realiza oficinas com
grafiteiros e dá a eles a chance de apresentarem seus trabalhos ao mesmo tempo que revitalizam áreas degradadas.
Em resposta a Dimenstein —"antítese", como definiu—, o economista e sociólogo Gilson Schwartz afirmou
que discorda da temática do debate de duas formas. De um lado, acha que pressupõe um juízo de valor. De outro,
induz a crer que os estudos possam receber o tratamento de uma relação entre consumidor e objeto de desejo.
Nesse sentido, considera até melhor que a escola seja chata.
Schwartz, que criticou a ideia de que é função das escolas qualificar para o mercado de trabalho, disse que
há dois problemas na educação. O primeiro está ligado às emoções da idade. "É difícil convencer o aluno de ir à
escola", afirmou o colunista da seção "Inteligências". O segundo é de ordem intelectual. "Produzir conhecimento é
difícil. Dói. É 1% inspiração e 99% transpiração", afirmou. "Ler a 'Divina Comédia' é prazeroso, mas não se faz isso tão
rapidamente quanto assistir a um filme."
Schwartz diz que escola não é parque de diversões, e que não há aprendizado espontâneo e indolor. "Para
aprender matemática, também é preciso resolver problemas no papel, fora da marcenaria."
Propondo um debate consigo mesmo, Schwartz disse que, por outro lado, a escola não deve ser
necessariamente chata. Para isso, ela deve cuidar para que, em aula, o aluno não seja desvinculado do contexto em
que vive e que o colégio se aproxime da comunidade. "Quanto mais relevante for para o estudante, menos chata a
escola será", disse. Mas ele advertiu para o fato de que a resposta de como fazer isso não é trivial.
Ao iniciar sua apresentação, o educador e psicanalista Rubem Alves fez uma ressalva à observação de
Schwartz de que a escola não é um parque de diversões: "Há uma diferença entre ser interessante e ser divertido.
Quanto mais interessante é a escola, mais disposta a sentir 'dor' a pessoa fica".
Em uma palestra cheia de citações e metáforas, o educador fez remissão ao sentido bíblico da palavra
"conhecer" —ter relação sexual. "Para 'conhecer', é preciso estar excitado."
Alves acredita que a escola não precisaria ser chata. "A falha é querer ensinar o que a criança não quer
aprender", disse, citando como exemplos dígrafos e orações subordinadas, assuntos que, segundo o educador, não
têm nenhuma utilidade para os alunos.
O conhecimento, segundo o colunista da seção "Sabor do Saber", é como o crescimento físico. "Imagine uma
cebola: o corpo está no meio, e o conhecimento vai-se acrescentando. A expansão do corpo excita porque é gostoso
dominar o ambiente", afirmou.
O colunista considera fundamental ao indivíduo conhecer o espaço em que atua. Por isso, segundo ele, é
fácil e interessante aprender aquilo com que se relaciona vitalmente.
Rubem Alves também criticou a divisão das atividades em aulas com tempo e assunto predeterminado. "O
aluno tem 45 minutos para aprender português, 45 para matemática, 45 para história. Isso não é sofrimento, é
burrice.“
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u581.shtml
Por que a escola é chata?
Atualmente, há muitas discussões sobre a escola, sobre seu papel e sobre como torná-la mais interessante
para os alunos de hoje. A convite de um jornal de grande circulação, um jornalista, um educador e um sociólogo e
economista, que regularmente escrevem no jornal, debateram o tema. Leia uma síntese desse debate.

Os colunistas do Sinapse —Gilson Schwartz, 43, Gilberto Dimenstein, 46, e Rubem Alves, 69— abriram a
"Semana Sinapse" com o tema "Por que a escola é chata?", que tratou de assuntos como a utilidade dos conteúdos
ensinados em aula e a dificuldade para adquirir conhecimento.
Dimenstein abriu a palestra e afirmou que o principal problema da escola é o fato de ser desconectada do
cotidiano dos alunos, preparando-os não para a vida, mas para provas.
O colunista da seção "Experimentar" disse também que "só se retêm informações que dêem prazer ou
tenham utilidade" e que "a escola está se tornando não apenas chata mas também inútil". Para ele, isso acontece
devido ao fluxo de informações em circulação. O conhecimento se torna obsoleto rapidamente e não é retido pela
população.
Isso traz consequências ao mercado de trabalho, segundo o jornalista: "Agora, você é contratado mais pela
atitude diante do conhecimento do que pelo conhecimento em si". Dimenstein sugere que, como cartões de crédito,
diplomas tivessem prazo de validade e considera fundamental a educação permanente, que classifica de "quarto
grau". "O ato de aprender é o ato de lidar diariamente com o prazer da descoberta."
Dimenstein considera possível encontrar salas de aula em diversos ambientes. "Dá para aprender
matemática na marcenaria." Como exemplo, apresentou um vídeo sobre um projeto que realiza oficinas com
grafiteiros e dá a eles a chance de apresentarem seus trabalhos ao mesmo tempo que revitalizam áreas degradadas.
Em resposta a Dimenstein —"antítese", como definiu—, o economista e sociólogo Gilson Schwartz afirmou
que discorda da temática do debate de duas formas. De um lado, acha que pressupõe um juízo de valor. De outro,
induz a crer que os estudos possam receber o tratamento de uma relação entre consumidor e objeto de desejo.
Nesse sentido, considera até melhor que a escola seja chata.
Schwartz, que criticou a ideia de que é função das escolas qualificar para o mercado de trabalho, disse que
há dois problemas na educação. O primeiro está ligado às emoções da idade. "É difícil convencer o aluno de ir à
escola", afirmou o colunista da seção "Inteligências". O segundo é de ordem intelectual. "Produzir conhecimento é
difícil. Dói. É 1% inspiração e 99% transpiração", afirmou. "Ler a 'Divina Comédia' é prazeroso, mas não se faz isso tão
rapidamente quanto assistir a um filme."
Schwartz diz que escola não é parque de diversões, e que não há aprendizado espontâneo e indolor. "Para
aprender matemática, também é preciso resolver problemas no papel, fora da marcenaria."
Propondo um debate consigo mesmo, Schwartz disse que, por outro lado, a escola não deve ser
necessariamente chata. Para isso, ela deve cuidar para que, em aula, o aluno não seja desvinculado do contexto em
que vive e que o colégio se aproxime da comunidade. "Quanto mais relevante for para o estudante, menos chata a
escola será", disse. Mas ele advertiu para o fato de que a resposta de como fazer isso não é trivial.
Ao iniciar sua apresentação, o educador e psicanalista Rubem Alves fez uma ressalva à observação de
Schwartz de que a escola não é um parque de diversões: "Há uma diferença entre ser interessante e ser divertido.
Quanto mais interessante é a escola, mais disposta a sentir 'dor' a pessoa fica".
Em uma palestra cheia de citações e metáforas, o educador fez remissão ao sentido bíblico da palavra
"conhecer" —ter relação sexual. "Para 'conhecer', é preciso estar excitado."
Alves acredita que a escola não precisaria ser chata. "A falha é querer ensinar o que a criança não quer
aprender", disse, citando como exemplos dígrafos e orações subordinadas, assuntos que, segundo o educador, não
têm nenhuma utilidade para os alunos.
O conhecimento, segundo o colunista da seção "Sabor do Saber", é como o crescimento físico. "Imagine uma
cebola: o corpo está no meio, e o conhecimento vai-se acrescentando. A expansão do corpo excita porque é gostoso
dominar o ambiente", afirmou.
O colunista considera fundamental ao indivíduo conhecer o espaço em que atua. Por isso, segundo ele, é
fácil e interessante aprender aquilo com que se relaciona vitalmente.
Rubem Alves também criticou a divisão das atividades em aulas com tempo e assunto predeterminado. "O
aluno tem 45 minutos para aprender português, 45 para matemática, 45 para história. Isso não é sofrimento, é
burrice.“
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u581.shtml
ENSINO MÉDIO É A ETAPA QUE VAI EXIGIR MAIS ATENÇÃO DO PRÓXIMO GOVERNO
O ensino médio é o grande gargalo da educação básica brasileira. É a etapa de ensino que concentra os piores
indicadores escolares: altas taxas de abandono, alta porcentagem de repetência e piores índices de aprendizagem.
Melhorar esses índices, ampliar a carga-horária de estudos, aumentar o aporte de recursos e tornar a etapa mais
atrativa para jovens conectados serão desafios do próximo governante.
Sete em cada 10 estudantes não aprendem o básico em português e matemática, segundo indicadores
divulgados recentemente pelo Ministério da Educação (MEC). Na outra ponta, apenas 4,5% dos estudantes
alcançaram um nível de aprendizagem considerada adequado pelo MEC em matemática e 1,6% em língua
portuguesa.
Segundo a presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, o desafio do próximo presidente na
educação é garantir que todos os estudantes aprendam. “O Brasil quase universalizou o acesso. Agora precisamos
universalizar a aprendizagem”, afirmou.
Após cursar apenas o 1º ano do ensino médio - a etapa tem geralmente três anos, mas pode ter quatro -, quase
um a cada quatro estudantes (23,6%) repete de ano ou abandona a escola.
“Hoje, o ensino médio é para poucos, é um ensino médio excludente”, afirmou a secretária de Educação Básica
do MEC, Kátia Smole, que participou da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio de
1999, na área de ciências da natureza e matemática. “Algo precisa ser feito. Acredito muito que esse ensino médio,
no modelo que está, não atende”, disse.
Cerca de 81% das matrículas do ensino médio estão concentradas nas escolas públicas estaduais, ou seja, a
cargo prioritariamente dos governos estaduais.
“O ensino médio é uma das etapas mais caras. O país vai ter que investir mais. Tanto no nível estadual quanto
federal, o Brasil vai ter que fazer esforço para aportar recursos para o ensino médio”, defendeu o vice-presidente da
região Sudeste do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Haroldo Rocha.
Rocha é secretário de Educação do Espírito Santo, estado que teve o melhor desempenho no último Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). “Penso também que as secretarias estaduais têm que fazer um
esforço para racionalizar os seus gastos, eliminando o desperdício que sempre ocorre no serviço público”,
acrescentou.
Mesmo com o melhor desempenho, o estado não conseguiu cumprir a meta para o Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade da educação do país, divulgado esta semana pelo MEC.
O país ficou, pela terceira divulgação seguida, abaixo da meta esperada. O indicador está praticamente
estagnado desde 2011.
NOVO ENSINO MÉDIO
A lei do chamado Novo Ensino Médio foi aprovada no início de 2017. Ela estabelece uma formação mais flexível
para os estudantes que poderão escolher itinerários formativos com ênfase em matemática, linguagens, ciências da
natureza, ciências humanas e ensino técnico.
Na época que foi enviada ao Congresso Nacional, a reforma do ensino médio foi criticada por ter sido instituída
por meio de medida provisória e foi um dos motivos de uma série de ocupações de escolas e universidades em 2016.
A aplicação da lei exigirá um esforço conjunto dos entes federados, uma vez que depende da aprovação da Base
Nacional Comum Curricular, ainda em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE); da definição dos
currículos que serão aplicados em cada rede a partir da Base; da formação de professores em conformidade com as
novas diretrizes; de novos livros didáticos, entre outros.
As mudanças exigirão ainda um redesenho do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que terá que se
adequar ao que os estudantes estão aprendendo na etapa de ensino.
A lei estabelece que as redes terão que ampliar gradualmente as matrículas em tempo integral, ou seja, para 7
horas diárias. O MEC deverá repassar recursos para os estados com essa finalidade. Até 2022, todas as escolas
deverão oferecer ensino médio de pelo menos 5 horas diárias.
Para a coordenadora de Políticas Educacionais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, movimento que
reúne cerca de 200 entidades educacionais, Andressa Pellanda, para que uma reforma seja eficiente, ela precisa ser
realizada a partir de debate com a comunidade escolar e acadêmica. “Só assim conseguiremos responder aos
anseios dos estudantes que ocuparam as escolas em 2015 e 2016”, disse. “Era demanda do movimento e é histórica
da categoria a formação inicial e continuada de qualidade [para os professores], condições de trabalho e valorização
dos profissionais da educação. Sem isso, não haverá uma educação com ensino e aprendizagem fortes”.
[...]
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2018-09/ensino-medio-e-etapa-que-vai-exigir-mais-atencao-do-proximo-governo
ENSINO MÉDIO É A ETAPA QUE VAI EXIGIR MAIS ATENÇÃO DO PRÓXIMO GOVERNO
O ensino médio é o grande gargalo da educação básica brasileira. É a etapa de ensino que concentra os piores
indicadores escolares: altas taxas de abandono, alta porcentagem de repetência e piores índices de aprendizagem.
Melhorar esses índices, ampliar a carga-horária de estudos, aumentar o aporte de recursos e tornar a etapa mais
atrativa para jovens conectados serão desafios do próximo governante.
Sete em cada 10 estudantes não aprendem o básico em português e matemática, segundo indicadores
divulgados recentemente pelo Ministério da Educação (MEC). Na outra ponta, apenas 4,5% dos estudantes
alcançaram um nível de aprendizagem considerada adequado pelo MEC em matemática e 1,6% em língua
portuguesa.
Segundo a presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, o desafio do próximo presidente na
educação é garantir que todos os estudantes aprendam. “O Brasil quase universalizou o acesso. Agora precisamos
universalizar a aprendizagem”, afirmou.
Após cursar apenas o 1º ano do ensino médio - a etapa tem geralmente três anos, mas pode ter quatro -, quase
um a cada quatro estudantes (23,6%) repete de ano ou abandona a escola.
“Hoje, o ensino médio é para poucos, é um ensino médio excludente”, afirmou a secretária de Educação Básica
do MEC, Kátia Smole, que participou da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio de
1999, na área de ciências da natureza e matemática. “Algo precisa ser feito. Acredito muito que esse ensino médio,
no modelo que está, não atende”, disse.
Cerca de 81% das matrículas do ensino médio estão concentradas nas escolas públicas estaduais, ou seja, a
cargo prioritariamente dos governos estaduais.
“O ensino médio é uma das etapas mais caras. O país vai ter que investir mais. Tanto no nível estadual quanto
federal, o Brasil vai ter que fazer esforço para aportar recursos para o ensino médio”, defendeu o vice-presidente da
região Sudeste do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Haroldo Rocha.
Rocha é secretário de Educação do Espírito Santo, estado que teve o melhor desempenho no último Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). “Penso também que as secretarias estaduais têm que fazer um
esforço para racionalizar os seus gastos, eliminando o desperdício que sempre ocorre no serviço público”,
acrescentou.
Mesmo com o melhor desempenho, o estado não conseguiu cumprir a meta para o Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade da educação do país, divulgado esta semana pelo MEC.
O país ficou, pela terceira divulgação seguida, abaixo da meta esperada. O indicador está praticamente
estagnado desde 2011.
NOVO ENSINO MÉDIO
A lei do chamado Novo Ensino Médio foi aprovada no início de 2017. Ela estabelece uma formação mais flexível
para os estudantes que poderão escolher itinerários formativos com ênfase em matemática, linguagens, ciências da
natureza, ciências humanas e ensino técnico.
Na época que foi enviada ao Congresso Nacional, a reforma do ensino médio foi criticada por ter sido instituída
por meio de medida provisória e foi um dos motivos de uma série de ocupações de escolas e universidades em 2016.
A aplicação da lei exigirá um esforço conjunto dos entes federados, uma vez que depende da aprovação da Base
Nacional Comum Curricular, ainda em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE); da definição dos
currículos que serão aplicados em cada rede a partir da Base; da formação de professores em conformidade com as
novas diretrizes; de novos livros didáticos, entre outros.
As mudanças exigirão ainda um redesenho do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que terá que se
adequar ao que os estudantes estão aprendendo na etapa de ensino.
A lei estabelece que as redes terão que ampliar gradualmente as matrículas em tempo integral, ou seja, para 7
horas diárias. O MEC deverá repassar recursos para os estados com essa finalidade. Até 2022, todas as escolas
deverão oferecer ensino médio de pelo menos 5 horas diárias.
Para a coordenadora de Políticas Educacionais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, movimento que
reúne cerca de 200 entidades educacionais, Andressa Pellanda, para que uma reforma seja eficiente, ela precisa ser
realizada a partir de debate com a comunidade escolar e acadêmica. “Só assim conseguiremos responder aos
anseios dos estudantes que ocuparam as escolas em 2015 e 2016”, disse. “Era demanda do movimento e é histórica
da categoria a formação inicial e continuada de qualidade [para os professores], condições de trabalho e valorização
dos profissionais da educação. Sem isso, não haverá uma educação com ensino e aprendizagem fortes”.
[...]
http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2018-09/ensino-medio-e-etapa-que-vai-exigir-mais-atencao-do-proximo-governo
TEXTO 1
CRESCE O NÚMERO DE JOVENS ENTRE 15 E 29 ANOS QUE NÃO ESTUDAM NEM TRABALHAM
Dados sobre educação da Pnad divulgados nesta sexta mostram que, entre 2016 e 2017, o desemprego
aumentou a quantidade de jovens que não trabalham, mas o número de pessoas nessa faixa etária que só estudam
ficou estável.

Em 2017, o Brasil tinha 48,5 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, mas 11,1 milhões delas não
trabalhavam e também não estavam matriculadas em uma escola, faculdade, curso técnico de nível médio ou de
qualificação profissional.
Conhecido como 'nem-nem', esse grupo representava 23% do total de jovens brasileiros no ano passado, e
aumentou em relação ao ano anterior, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(Pnad) divulgados na manhã desta sexta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
GERAÇÃO 'NEM-NEM'
De acordo com os números, a variação entre 2016 e 2017 foi de 619 mil jovens de 15 a 29 anos a mais nessa
condição – em 2016, 21,8% das pessoas nessa faixa etária estavam no grupo 'nem-nem'.
Ao G1, Marina Aguas, coordenadora da pesquisa, ressaltou que os dados apresentam um "estudo ampliado", ou
seja, não consideram apenas se a pessoa está matriculada no ensino regular, mas também em outros tipos de
educação informal, como os cursos pré-vestibulares, curso técnico de nível médio ou um curso de qualificação
profissional.

REDUÇÃO DA OCUPAÇÃO
De acordo com o estudo, entre 2016 e 2017 o número de jovens estudando permaneceu estável, o que ocorreu
foi uma "redução da ocupação": tanto a porcentagem da população ocupada nessa faixa etária recuou de 35,7%
para 35% quanto a de jovens que estudavam e trabalhavam, que caiu de 14% para 13,3%.
Entre as diferentes faixas etárias da juventude, os índices se mantiveram estáveis entre os adolescentes de 15 a
17 anos e entre 25 e 29 anos, mas aumentou entre quem tem de 18 a 24 anos.
ABAIXO DA META
De acordo com a meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE), até 2024, 33% das pessoas entre 18 e 24
devem estar matriculadas no ensino superior. Em 2017, essa porcentagem foi de 23,2%, e se manteve estável em
relação a 2016, segundo a Pnad.
No total, 25,1 milhões de jovens, não estavam matriculados em 2017 em nenhum tipo de curso de ensino
regular, pré-vestibular, técnico de nível médio ou de qualificação profissional, mas não haviam concluído uma
graduação, ou seja, ainda tinham o ensino superior incompleto.
Desses, 64,2% eram pessoas de cor preta e parda, segundo a Pnad. "De 2016 para 2017, foram 343 mil pessoas
a mais nessa situação, equivalendo a um aumento de 1,4% desse grupo", diz a pesquisa.

DIFERENÇAS DE GÊNERO
A Pnad também oferece dados sobre os motivos dados pelas pessoas para não estarem estudando. Do total de
pessoas nessa situação, 7,4% afirmaram que já haviam concluído o nível de ensino que desejavam. Mas os demais
motivos tiveram respostas variáveis de acordo com o sexo
Entre os homens, 49,4% afirmaram que as razões eram ou porque trabalhavam, ou porque estavam buscando
emprego ou já conseguiram trabalho, que começariam em breve. Entre as mulheres, essa justificativa foi usada em
28,9% dos casos.
O segundo motivo mais comum para os homens não estudarem é a falta de dinheiro para pagar a mensalidade,
o transporte, o material escolar ou outras despesas educacionais. Ele foi apontado por 24,2% dos homens e 15,6%
das mulheres.
CUIDADOS COM OS FILHOS E A CASA
Por outro lado, entre as mulheres, o segundo motivo mais citado para estarem fora da sala de aula é ter que
cuidar dos afazeres domésticos ou de criança, adolescente, idosos ou pessoa com necessidades especiais. Essa razão
foi apontada apenas por 0,7% dos homens.
Marina Aguas explica que esse tipo de cuidado doméstico ou com a família, segundo a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), configura trabalho.
"Isso hoje em dia é considerado trabalho no seu sentido ampliado. Se a pessoa vai trabalhar, ela tem que
pagar alguém para fazer esse serviço, então isso é um produto, de alguma forma. Não é um trabalho do
mercado, mas você pode dar um valor a ele. Ainda mais com a população envelhecendo", diz ela.

QUESTIONAMENTOS
QUESTÃO 1 – O que é o grupo chamado “nem-nem”?
QUESTÃO 2 – De 2016 a 2017, houve aumento ou redução nos grupos abaixo?
 Grupo de jovens que estudam;
 Grupo de jovens que só trabalham;
 Grupo de jovens que estudam e trabalham;
 Grupo de jovens que não estudam e nem trabalham.
QUESTÃO 3 – No final da reportagem, apresenta-se a geração “nem-nem” sob a perspectiva do gênero. Quais são as
principais motivos, entre jovens do sexo masculino e feminino dentro do grupo “nem-nem”, para não estarem
estudando?
QUESTÃO 4 – Quais são as consequências para o futuro de um(a) jovem quando ele(a) pertence ao grupo “nem-
nem”?
TEXTO 2
PESQUISA DO IBGE MOSTRA GRANDE DESEJO DOS BRASILEIROS POR QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
A Pnad 2014, divulgada nesta quinta-feira (23), mostra que mais de 40,2 milhões de pessoas têm interesse nesse tipo
de formação. Segundo o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, a educação profissional é o caminho mais rápido
para inserção dos jovens no mercado de trabalho
Os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, divulgados nesta quinta-feira (23)
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram o grande desejo dos brasileiros por qualificação
profissional e a valorização desse tipo de formação no país, avalia o diretor-geral do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi. De acordo com o estudo, mais de 40,2 milhões de pessoas têm
interesse nesse tipo de educação.
“Seguramente, a educação profissional é o caminho mais rápido para a inserção dos jovens no mercado de
trabalho e para a recolocação dos trabalhadores que ficam desempregados. Os resultados da pesquisa apontam que
a população brasileira tem clareza da importância desse tipo de formação e tem o desejo de se qualificar para o
mercado de trabalho”, afirma Lucchesi. “Pesquisa de egressos do SENAI mostra que 66% dos alunos que se formam
em curso técnico conseguem uma colocação no mercado de trabalho no primeiro ano após a formatura”, completa.
O diretor do SENAI lembra que os dados da Pnad estão em linha com pesquisa feita em 2014 pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Ibope, segundo a qual 90% dos entrevistados concordavam que quem
faz ensino técnico tem mais oportunidades no mercado de trabalho do que aquele que não faz nenhum curso. Na
época, a percepção também era positiva sobre salários: 82% concordavam que os profissionais com certificado de
qualificação profissional têm salários maiores do que aqueles que não possuem essa formação.
“Outros estudos, como pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), demonstram que, entre dois indivíduos com
a mesma escolaridade, os que frequentaram o ensino técnico têm aumento de 15% na renda. Se essa formação for
do SENAI, esse acréscimo é ainda maior, de 24%, o que não é trivial, é um diferencial importante. Várias ocupações
técnicas competem muito bem com formações de nível superior em termos de salários iniciais”, explica Lucchesi,
que também é diretor de Educação e Tecnologia da CNI.
AMPLIAÇÃO DE VAGAS – Para ele, a pesquisa do IBGE reforça ainda a importância do Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec)1, instituído em 2011, e da necessidade da maior oferta de vagas em cursos de
educação profissional. “O Pronatec tem um papel decisivo na ampliação de vagas em cursos de educação
profissional. [...]
Lucchesi também explica que o Brasil precisa investir em educação profissional para corrigir distorções na matriz
educacional brasileira, que possui baixo contingente de pessoas com formação técnica, ao contrário do que ocorre
na maioria dos países desenvolvidos. Na Europa, em média, 50% dos estudantes fazem o ensino médio junto com
educação profissional enquanto, no Brasil, são cerca de 10%.
“O mercado precisa de profissionais com formação técnica e muitas pessoas têm vocação para essas carreiras.”
[...]
https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/educacao/pesquisa-do-ibge-mostra-grande-desejo-dos-brasileiros-por-qualificacao-profissional/

QUESTIONAMENTOS
QUESTÃO 1 – Rafael Lucchesi utiliza duas pesquisas para afirmar que os(as) brasileiros(as) têm interesse em
educação profissional. Quais são elas?
QUESTÃO 2 – Além do interesse da população, quais outros argumentos Lucchesi apresenta a favor do ensino
técnico?
QUESTÃO 3 – Como você avalia a argumentação de Lucchesi a favor do ensino técnico? Os argumentos
apresentados por ele lhe parecem convicentes? Por quê?
QUESTÃO 4 – O ensino médio técnico é uma opção para você?

1
PRONATEC – O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, criado em 2011 pelo governo federal, busca
a ampliação da oferta de cursos de Educação Profissional Tecnológica (EPT), por meio de programas, projetos e ações de
assistência técnica e financeira.
Constituindo mais uma ferramenta de acesso educacional destinada, prioritariamente, aos(às) estudantes jovens e
adultos(as) de baixa renda, o programa atende, ainda, outros segmentos da sociedade. Os cursos oferecidos são gratuitos e
funcionam em parceria com as redes federais, estaduais e municipais de educação profissional e tecnológica, com os Serviços
Nacionais de Aprendizagem (Senai, Senac, Senat e Senar) e também com instituições da rede privada.
TEXTO 3
ENSINO MÉDIO DEVE VISAR, MAIS QUE VESTIBULAR, O GOSTO PELO SABER, DIZ PESQUISADORA
Silvia Colello afirma que formação de adolescentes não pode ser guiada apenas pela preparação para os exames.
Mais do que preparar o estudante para o desafio do vestibular, escolas de ensino médio têm a missão de
oferecer a ele formação humanística, para que possa se posicionar de modo ativo, ético e crítico no mundo.
Assim pensa a pedagoga Silvia Gasparian Colello, professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da
USP. Para ela, tão importante quanto ensinar é viabilizar o gosto pelo conhecimento, o prazer de aprender.
Qual o papel que o vestibular deve ter no ensino médio? A preparação para o vestibular é relevante, mas não
pode ser a norteadora da formação dos adolescentes. A escola deve oferecer uma formação humanística e abrir a
possibilidade para que o aluno seja produtor de conhecimento. Significa criar situações, como pesquisas e projetos,
para que o conhecimento seja produto do trabalho intelectual e afetivo do estudante.
O que caracteriza esse aspecto humano e afetivo?
O jovem tem que viver bem a etapa escolar em todos os seus aspectos —a aquisição de conhecimento, a
organização do estudo, os relacionamentos interpessoais, os namoricos. Tudo isso responde ao aspecto da formação
do humano, da constituição do sujeito que é social, aprendiz, pesquisador, afetivo e ético. Viver isso com intensidade
é importante não só para a vida universitária e profissional, mas também para a constituição de si.
Qual o risco de um ensino focado demais no vestibular?
Esse tipo de ensino se baseia na lógica do certo e do errado, como se o conhecimento fosse um pacote pronto.
Mas sabemos que nenhuma ciência está acabada e que o conhecimento avança justamente pelas mentes brilhantes
que têm uma postura inquisitiva frente ao mundo. Infelizmente, muitas vezes, as escolas abafam isso e impõem a
cultura do silenciamento, do “cala a boca” e do ensino pré-formatado.
Mas isso também não ocorre devido à pressão dos pais, que desejam que seus filhos passem a todo custo?
Sim, é o caso de escolas que se comportam como empresas e querem atender a demanda mais imediata do
cliente. Confundir escola com empresa é descaracterizar a natureza do seu objetivo, que é a formação humanística.
Tenho visto jovens que entram na universidade, muitas vezes até bem colocados, mas que ingressam com
falhas. Eles não sabem fazer pesquisa (estudaram com um método apostilado em que o conhecimento vinha
pronto), têm dificuldades para trabalhar em grupo, dividir tarefas e de apresentar e defender suas ideias.
Muitas instituições preparam para o vestibular, mas não para a vida universitária, é isso?
Sim, parece contradição. O ensino focado no vestibular tende a ser conteudista, feito na perspectiva do
professor que detém o conhecimento e do aluno que não sabe. Mas, na universidade e na vida profissional, não
vigora o saber doado, mas o construído, em que o estudante é o protagonista da sua formação.
Uma preocupação comum entre pais de adolescentes é o desinteresse dos filhos pelos conteúdos e até mesmo
pelo colégio. Como reconquistá-los?
Na adolescência, são muitos os fatores que atraem para uma vida extraescolar: a banda, a balada, a
sexualidade, questões políticas etc. A escola tem, então, o desafio de recuperar seu sentido. Pode fazer isso abrindo
espaço para que estudantes levem suas inquietações. Se esse jovem que está sendo atraído para o mundo chega à
escola e a primeira coisa que ouve é sobre a proibição do celular ou da conversa entre alunos, a instituição está indo
contra um aspecto muito importante para ele, mas que deveria ser compatível com a vida escolar.
Como ressignificar o vestibular para além das cobranças de sucesso?
O vestibular pode funcionar como rito de passagem, momento para o estudante se perguntar o que quer da
vida. Não só que curso vai seguir, mas quem quer ser e de que jeito quer viver. As escolas devem fornecer
informações e ferramentas para ajudar nessa reflexão.
Qual o modelo ideal para concluir a educação básica?
O papel da educação em geral, e do ensino médio em particular, é a formação do homem para a humanização
e para o combate à barbárie.
Texto de Lisandra Matias, publicado no Especial Escolha a Escola, da Folha de S. Paulo, em 08/09/2018

QUESTIONAMENTOS
QUESTÃO 1 – Qual é o principal tema da entrevista de Silvia Colello?
QUESTÃO 2 – Qual ponto de vista Colello defende a respeito desse tema?
QUESTÃO 3 – Segundo Colello, quais as consequências de um Ensino Médio ficado exclusivamente no vestibular?
QUESTÃO 4 – O que você entende por “formação humanística” defendida pela especialista?
O que devemos aos jovens
Lya Luft
Fiquei surpresa quando uma entrevistadora disse que em meus textos falo dos jovens como
arrogantes e mal-educados. Sinto muito: essa, mais uma vez, não sou eu. Lido com palavras a vida toda,
foram uma de minhas primeiras paixões e ainda me seduzem pelo misto de comunicação e confusão que
causam, como nesse caso, e por sua beleza, riqueza e ambiguidade.
Escrevo repetidamente sobre juventude e infância, família e educação, cuidado e negligência. Sobre
nossa falha quanto à autoridade amorosa, interesse e atenção. Tenho refletido muito sobre quanto deve
ser difícil para a juventude esta época em que nós, adultos e velhos, damos aos jovens tantos maus
exemplos, correndo desvairadamente atrás de mitos bobos, desperdiçando nosso tempo com coisas
desimportantes, negligenciando a família, exagerando nos compromissos, sempre caindo de cansados e
sem vontade ou paciência de escutar ou de falar. Penso sobretudo no desastre da educação: nem mesmo
um exame de Enem tranquilo conseguimos lhes oferecer. A maciça ausência de jovens inscritos, quase a
metade deles, não se deve a atrasos ou outras dificuldades, mas ao desânimo e à descrença.
De modo que, tratando dos jovens e de suas frustrações, falo sobre nós, adultos, pais, professores,
autoridades, e em quanto lhes somos devedores. O que fazem os que de maneira geral deveriam ser
líderes e modelos? Os escândalos públicos que nos últimos anos se repetem e se acumulam são para
deixar qualquer jovem desencantado: estudar para quê? Trabalhar para quê? Pior que isso: ser honesto
para quê, se nossos pretensos líderes se portam de maneira tão vergonhosa e, ano após ano, a impunidade
continua reinando neste país que tenta ser ufanista?
Tenho muita empatia com a juventude, exposta a tanto descalabro, cuidada muitas vezes por pais
sem informação, força nem vontade de exercer a mais básica autoridade, sem a qual a família se
desintegra e os jovens são abandonados à própria sorte num mundo nem sempre bondoso e acolhedor.
Quem são, quem podem ser, os ídolos desses jovens, e que possibilidades lhes oferecemos? Então,
refugiam-se na tribo, com atitudes tribais: o piercing, a tatuagem, a dança ao som de música tribal, na qual
se sobrepõe a batida dos tantãs. Negativa? Censurável? Necessária para muitos, a tribo é onde se sentem
acolhidos, abrigados, aceitos.
Escola e família ou se declaram incapazes, ou estão assustadas, ou não se interessam mais como
deveriam. Autoridades, homens públicos, supostos líderes, muitos deles a gente nem receberia em casa. O
que resta? A solidão, a coragem, a audácia, o fervor, tirados do próprio desejo de sobrevivência e do
otimismo que sobrar. Quero deixar claro que nem todos estão paralisados, pois muitas famílias saudáveis
criam em casa um ambiente de confiança e afeto, de alegria. Muitas escolas conseguem impor a disciplina
essencial para que qualquer organização ou procedimento funcione, e nem todos os políticos e
governantes são corruptos. Mas quero também declarar que aqueles que o são já bastam para tirar o
fervor e matar o otimismo de qualquer um.
Assim, não acho que todos os jovens sejam arrogantes, todas as crianças mal-educadas, todas as
famílias disfuncionais. Um pouco da doce onipotência da juventude faz parte, pois os jovens precisam
romper laços, transformar vínculos (não cuspir em cima deles) para se tornar adultos lançados a uma vida
muito difícil, na qual reinam a competitividade, os modelos negativos, os problemas de mercado de
trabalho, as universidades decadentes e uma sensação de bandalheira geral.
Tenho sete netos e netas. A idade deles vai de 6 a 21 anos. Todos são motivo de alegria e esperança,
todos compensam, com seu jeito particular de ser, qualquer dedicação, esforço, parceria e amor da família.
Não tenho nenhuma visão negativa da juventude, muito menos da infância. Acho, sim, que nós, os adultos,
somos seus grandes devedores, pelo mundo que lhes estamos legando. Então, quando falo em dificuldades
ou mazelas da juventude, é de nós que estou, melancolicamente, falando.
O que devemos aos jovens
Lya Luft
Fiquei surpresa quando uma entrevistadora disse que em meus textos falo dos jovens como
arrogantes e mal-educados. Sinto muito: essa, mais uma vez, não sou eu. Lido com palavras a vida toda,
foram uma de minhas primeiras paixões e ainda me seduzem pelo misto de comunicação e confusão que
causam, como nesse caso, e por sua beleza, riqueza e ambiguidade.
Escrevo repetidamente sobre juventude e infância, família e educação, cuidado e negligência. Sobre
nossa falha quanto à autoridade amorosa, interesse e atenção. Tenho refletido muito sobre quanto deve
ser difícil para a juventude esta época em que nós, adultos e velhos, damos aos jovens tantos maus
exemplos, correndo desvairadamente atrás de mitos bobos, desperdiçando nosso tempo com coisas
desimportantes, negligenciando a família, exagerando nos compromissos, sempre caindo de cansados e
sem vontade ou paciência de escutar ou de falar. Penso sobretudo no desastre da educação: nem mesmo
um exame de Enem tranquilo conseguimos lhes oferecer. A maciça ausência de jovens inscritos, quase a
metade deles, não se deve a atrasos ou outras dificuldades, mas ao desânimo e à descrença.
De modo que, tratando dos jovens e de suas frustrações, falo sobre nós, adultos, pais, professores,
autoridades, e em quanto lhes somos devedores. O que fazem os que de maneira geral deveriam ser
líderes e modelos? Os escândalos públicos que nos últimos anos se repetem e se acumulam são para
deixar qualquer jovem desencantado: estudar para quê? Trabalhar para quê? Pior que isso: ser honesto
para quê, se nossos pretensos líderes se portam de maneira tão vergonhosa e, ano após ano, a impunidade
continua reinando neste país que tenta ser ufanista?
Tenho muita empatia com a juventude, exposta a tanto descalabro, cuidada muitas vezes por pais
sem informação, força nem vontade de exercer a mais básica autoridade, sem a qual a família se
desintegra e os jovens são abandonados à própria sorte num mundo nem sempre bondoso e acolhedor.
Quem são, quem podem ser, os ídolos desses jovens, e que possibilidades lhes oferecemos? Então,
refugiam-se na tribo, com atitudes tribais: o piercing, a tatuagem, a dança ao som de música tribal, na qual
se sobrepõe a batida dos tantãs. Negativa? Censurável? Necessária para muitos, a tribo é onde se sentem
acolhidos, abrigados, aceitos.
Escola e família ou se declaram incapazes, ou estão assustadas, ou não se interessam mais como
deveriam. Autoridades, homens públicos, supostos líderes, muitos deles a gente nem receberia em casa. O
que resta? A solidão, a coragem, a audácia, o fervor, tirados do próprio desejo de sobrevivência e do
otimismo que sobrar. Quero deixar claro que nem todos estão paralisados, pois muitas famílias saudáveis
criam em casa um ambiente de confiança e afeto, de alegria. Muitas escolas conseguem impor a disciplina
essencial para que qualquer organização ou procedimento funcione, e nem todos os políticos e
governantes são corruptos. Mas quero também declarar que aqueles que o são já bastam para tirar o
fervor e matar o otimismo de qualquer um.
Assim, não acho que todos os jovens sejam arrogantes, todas as crianças mal-educadas, todas as
famílias disfuncionais. Um pouco da doce onipotência da juventude faz parte, pois os jovens precisam
romper laços, transformar vínculos (não cuspir em cima deles) para se tornar adultos lançados a uma vida
muito difícil, na qual reinam a competitividade, os modelos negativos, os problemas de mercado de
trabalho, as universidades decadentes e uma sensação de bandalheira geral.
Tenho sete netos e netas. A idade deles vai de 6 a 21 anos. Todos são motivo de alegria e esperança,
todos compensam, com seu jeito particular de ser, qualquer dedicação, esforço, parceria e amor da família.
Não tenho nenhuma visão negativa da juventude, muito menos da infância. Acho, sim, que nós, os adultos,
somos seus grandes devedores, pelo mundo que lhes estamos legando. Então, quando falo em dificuldades
ou mazelas da juventude, é de nós que estou, melancolicamente, falando.

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