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Analítica do biopoder:
Para desenvolver o argumento, os autores passam à análise de três tópicos
que parecem condensar algumas das linhas biopolíticas da força ativa hoje, isto é, raça,
reprodução e medicina genômica. Para Rose e Rabinow a raça e a saúde, em relações
variáveis, tem sido um dos elementos centrais na genealogia do biopoder. Isso porque, a
exemplo do que estabelece a Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Racial “qualquer doutrina de diferenciação ou
superioridade racial é cientificamente falsa, moralmente condenável, socialmente injusta e
perigosa, e que não há justificativa para a discriminação racial, seja na teoria seja na
prática”. Como o Projeto Genoma Humano identificou que há 0,1% de diferença nos
genes entre os seres humanos, questiona-se se esta diferença poderia ser suficiente para
caracterizar a humanidade em raças e estabelecer-se uma hierarquia entre elas. Apesar
desta possibilidade e por temor a novas políticas de genocídio, o discurso médico tem
estabelecido que esta diferença biológica encontrada é insignificante em termos de
divisão por raça e que ela fundamenta apenas diferenças a serem consideradas para o
desenvolvimento de técnicas de saúde mais eficientes.
A reprodução já não é mais considerada e analisada nos termos em que o
foi por Foucault. Para ele, o controle da sexualidade dos indivíduos era o foco central da
biopolítica neste tema, no entanto, atualmente, para os autores, é a própria reprodução
que entra em foco e não mais a sexualidade. A reprodução passa a ser problematizada
por causa de suas consequências econômicas, ecológicas e políticas e também no
âmbito das relações médico-paciente, sendo que todas essas relações, macro e micro, ou
molar e molecular, combinam-se, tornando-se um espaço biopolítico por excelência,
embora seja difícil discernir alguma estratégia unificada neste campo. No entanto, ainda é
possível identificar formas de eugenia relacionada à saúde pública, como o controle de
Tay Sachs entre os judeus ocidentais na América do Norte e em Israel e da população em
geral no Chipre para identificar e eliminar a fibrose cística pela interdição do casamento.
A medicina genômica é relativamente nova no cenário biopolítico e ainda
hoje envolta em questões éticas que merecem controle e fiscalização para não tornarem-
se fundamento para políticas de extermínio, como o holocausto, ou de hierarquização
entre indivíduos ou entre “raças” que fundamentaram a escravidão. Assim, partindo de um
discurso de que a medicina genômica visa avançar na melhoria da saúde e do bem-estar
das pessoas, este processo envolve também o nível molecular, isto é, são os indivíduos,
na relação médico-paciente, quem também se submetem e alimentam esse tipo de
biopoder. Nesse sentido, há investimento de vários setores que vão do governamental,
passam pelas organizações capitalistas privadas e chegam ao particular, ao indivíduo que
alimentado pela esperança do bem-estar e da saúde também investe na prática.