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Amazônia

Introdução

"Trata-se [a Amazônia] de um grandioso anfiteatro de terras baixas, encerrado entre o


arco interior das terras subandinas e o Planalto das Guianas e o Planalto Brasileiro." -
Aziz Nacib Ab'Sáber

A Amazônia é a maior região florestal e hidrográfica do mundo. Ocupa grande parte


hemisfério setentrional da América do Sul, correspondendo a parte brasileira a 42% do
território nacional. Estende-se das margens do Oceano Atlântico no leste, até o sopé da
Cordilheira dos Andes no oeste. Espalha-se pelas Guianas, Venezuela, Colômbia,
Equador, Peru e Bolívia, perfazendo mais de 6 milhões de km2. O vale amazonense é,
ao sul, ainda abastecido pelos rios que descem do Planalto Central brasileiro e dos que
vêm da região das Guianas ao norte, e pelos filetes de água gelada que se desprendem
da "corcova andina", fazendo com que termine por assumir - como constatou o geólogo
americano C.F. Marbut, que visitou-o em 1923 -, a forma de um leque, pelo qual escorre
1/5 da água doce do planeta. O ensaísta nortista Raymundo Moraes, por sua vez,
considerou-o, ao vale, semelhante a um anfiteatro, o "anfiteatro amazonense".

Devido a sua inacessibilidade, insalubridade e as dificuldades para explorá-la


economicamente, a Amazônia é uma das áreas mais subpovoadas do globo É um
Deserto Verde, pertencente a uma época em que a Terra ainda amanhecia, abrigando
uma das populações mais primitivas que se conhece - o homem neolítico em estado
puro. Para outros, como Pedro de Rates Hanequim, que viveu por mais de vinte anos no
Brasil, havia sido a morada de Adão e onde se encontrava a Árvore da Vida. Tanta
certeza tinha ele de ter habitado o Paraíso Terreal -, sendo o Amazonas o maior rio do
Éden -, que, ao voltar a Portugal, deixou-se processar e executar - "afogado e
queimado" - em 1744, por ordem de um Tribunal do Santo Ofício pelo crime de heresia
e apostasia, sem jamais ter pedido clemência.

Os diversos governos, brasileiros e vizinhos, até hoje procuram integra-la promovendo


sua ocupação, tanto por garimpeiros, por extrativistas, por sertanejos, criadores de gado
ou empresas de mineração. O resultado disso são as intensas queimadas, ou coivaras,
antigo método indígena de limpar o terreno para a lavoura. Do Mato Grosso à Roraima
a fumaça toma conta dos ares e, por vezes, escapa completamente ao controle. Este é
um dos temores do ecólogo Robert Goodland e do botânico Howard Irwin de que
"inferno verde torne-se um deserto vermelho", conforme o subtítulo do livro deles.

O destino da Amazônia - "pulmão do mundo" - portanto, têm preocupado as mais


diversas instituições, tanto a ONU como as organizações não-governamentais
ambientalistas, que temem a qualquer hora um desastre irreversível. O governo
brasileiro sofre pressões de todos os lados para tentar coibir a ocupação predatória, ao
mesmo tempo em que é politicamente constrangido pelos interesses internos a que
propicie vantagens, isenções e benefícios a grupos, empresas ou classes, para acelerar a
sua exploração econômica. Nesta tensão entre os apelos internacionais e a satisfação das
necessidades locais de crescimento, Brasília vai alternando, nos anos, suas políticas para
a região.
Primeiras expedições

"Do abismo viu o profundo/ do profundo o paraíso/ do paraíso viu o mundo/ e do


mundo viu o que quis" - Gil Vicente, 1539

As primeiras notícias que os espanhóis tiveram da existência de uma imensa região de


selvas existentes depois dos Andes, foi-lhes dada pelos próprios nativos em Quito e em
Cuzco. Graças a sua fantasia de homens medievais, os conquistadores imaginaram logo
que a floresta abrigava o El Dorado, uma serra repleta de ouro puro. Bastava chegar lá e
carregar o que pudessem. É certo que o grande rio já era conhecido desde que Vicente
Pinzón navegou na sua foz, em 1500, chamando-o de Mar Dulce, mas quem primeiro
organizou uma expedição partindo de Quito foi Gonzalo Pizarro, irmão do conquistador
do Peru. Partindo de Quito, em 1541, numa expedição com 150 soldados, 4 mil índios e
3 mil animais de tropa, inclusive com alpacas e lhamas, Gonzalo consegui transpassar
os Andes por dificílimos caminhos chegando às cabeceiras do Rio Amazonas. As
dificuldades encontradas fizeram com que destacasse, num barco lá mesmo construído,
a que Francisco Orellana desse prosseguimento ao projeto. A exploração teve
seguimento até que atingiu a desembocadura do grande rio no Atlântico, em 1542,
depois de ter percorrido seus 5.825 km.

Deve-se a Orellana sua denominação. Deparando-se, nas margens do rio, com um grupo
belicosas índias que acompanhavam os homens em combate, chamou-as de amazonas,
confundindo-as com as antigas guerreiras da mitologia grega. Ao retornar à Espanha,
Orellana conseguiu ser nomeado adelantado, organizando uma nova sortida que o levou
ao naufrágio e morte a bordo de um bergantim , provavelmente nas proximidade de
Macapá, em 1550.

O feito de navegação de Orellana repetiu-se depois, em 1561, por Lopo de Aguirre, um


celerado e doido que assassinou Pedro de Ursua, o chefe da expedição , aceitando ser o
rei dos seus seguidores, os marañones.

Amazônia

Fixação e primeiras missões

Esta incorporação definitiva do Amazonas ao Brasil fez-se com as “jornadas” dos


capitães, com as “entradas” dos colonos, e com a “catequese” dos missionários.
Tríplice elemento, oficial, particular, religioso, este simultaneamente particular e
oficial, interdependentes, todos três, e nem sempre concordes.” - Serafim leite, S.J. -
História da Companhia de Jesus no Brasil, Tomo III, 1943

Não demorou muito para que outros desbravadores viessem instalar feitorias na região
amazônica, preferencialmente na embocadura do grande rio e circunvizinhanças. A
presença dos heréticos ingleses e holandeses nas Guianas seguiu-se pela dos franceses
no Golfão do Maranhão, onde fundaram o forte de São Luís em 1612. As autoridades do
Reino Unido (entre 1580-1640, Espanha e Portugal estavam sob o mesmo governo),
decidiram-se expulsar os franceses de São Luís e fixar-se em definitivo no estuário
amazônico.

A cidade caiu em mãos portuguesas em 1615 e, no ano seguinte, em 16 de janeiro de


1616, o capitão-mor Caldeira Castelo Branco fundou, na região que denominou de
Lusitânia Feliz, o Forte Presépio de Belém, a casa forte que deu origem a capital do
Pará. Cidade essa, na baia de Guará, que se tornou na sentinela da embocadura do
Grande Rio e no trampolim para a conquista da hinterlândia amazonense.

Uma longa guerra - comercial e ideológica - travou-se na região até que em 1697
afirmaram-se mais ou menos a fronteira entre os interesses holandeses, ingleses e
franceses de um lado, do lado das Guianas, e os lusitanos do outro, do lado do Amapá,
tendo o cabo Orange, no Rio Oiapoque como o acidente divisor. O acordo celebrado no
tratado de Lisboa de 1701. As portas do Amazonas, desde então, abriam-se
exclusivamente aos navegantes portugueses. Em 1639 o capitão Pedro Teixeira,
partindo do Rio Tocantins, atingiu a extremidade da sua investida no Rio Napo,
seguindo dali até Quito, no Equador. Paralelo aos capitães e desbravadores privados,
assentaram-se as missões de jesuítas, franciscanos, mercedários, carmelitas e seculares,
que se espalharam pelas vastas áreas entre o Rio Solimões e o Tapajós. Os missionários
foram convocados para catequizar os gentios e também evitar a possível influência dos
hereges protestantes. A orientação das ordens religiosas, por lá já encontradas em 1570,
era que aldeassem os nativos, geralmente dispersos em amplos territórios e divididos
entre as nações tupinambás, urubus, gamelas, timbiras, apinajés, jurunas, caiapós,
carajás, aimorés, munducurus, tapajós, aruaques, turumás, murás, jurimaguás, omáquas,
manaus, barés e ianomâmis, para melhor evangelizá-los.

Quase que imediatamente iniciou-se um conflito entre as tropas de resgate (*) chefiadas
por mamelucos escravagistas e os padres, que se estendeu por mais de século, na luta
pelo braço indígena. Os religiosos desejavam-nos orando a Deus e a Cristo, os colonos
queriam-nos no eito, suando sobre a lavoura e a extração. Os sacerdotes, mais
influentes, conseguiram uma série de decretos, provisões, leis e alvarás reais atribuindo-
lhes autoridade sobre os nativos e proibindo sua escravidão, tal como a lei de 30 de
julho de 1609, que determinava que “fossem os índios tratados como pessoas livres,
sem serem constrangidos a executar serviços contra a vontade”, desde que lhes
divulgassem a fé. O que, obviamente, poucas vezes foi obedecida. Como defensor da
causa dos gentios destacou-se o Pe. Antônio Vieira, o grande sermonista, que
desembarcou no Maranhão em 1653, a quem logo os nativos chamaram de paiacu, o
grande pai.

(*) O resgate era um sofisma utilizado pelos escravagistas, tal como a guerra justa, que
justificava o apresamento dos índios que se encontravam cativos em mãos de tribos
inimigas. Desta forma as bandeiras os “resgatavam” de sofrerem possíveis tormentos
levando-os como escravos.

Amazônia

Ocupação e administração

Em 1640 Portugal recuperou a independência e a Espanha voltou a ser adversária. Isso


fez com que novos fortins fossem instalados nas margens do Solimões e nos encontros
dos rios, como o forte de São José do Rio Negro, em 1699, onde bem mais tarde, nas
suas proximidades, surgiu Manaus. Esse período foi marcado pela penetração
extrativista e coletora atrás das “drogas do sertão” e, também pela captura, por
bandeirantes vindos do Sul, da mão de obra indígena tornada escrava. A resistência dos
padres ao costume das repartições onde os índios eram divididos entre os reinóis,
agravada pela pratica monopolista da Companhia de Comércio do Maranhão e Grão-
Pará, ativada em 1682, fez com que uma revolta eclodisse no Maranhão, a rebelião -
antijesuítica e antimonopolista - do senhor de engenho Manuel Beckmann, a revolta de
Bequimão, que morreu executado em 1685.

Somente em 1750 pelo Tratado de Madri, Espanha e Portugal acordaram em relação às


suas fronteiras. De Lisboa o Marques do Pombal, o todo-poderoso primeiro-ministro
(1756-1777), enviara já o seu irmão Mendonça Furtado, em 1751, para supervisionar os
negócios da companhia monopolista na Amazônia. A época do despotismo ilustrado
representada por Pombal na Metrópole e seu irmão no Grão-Pará, como politicamente
denominou-se a região do Amazonas, foi extremamente ativa. Os jesuítas que lá
estavam desde 1607 foram expulsos em 1760. Novas lavouras foram introduzidas, como
a do algodão, a do tabaco, a da cana-de-açúcar e a do café (trazido por Palheta).
Lusitanizou-se o nome das cidades, abandonando-se a toponímica brasílica, e a língua
portuguesa foi ensinada. “Liberou-se os silvícolas” do seus encargos nos aldeamentos,
bem como um pequeno número de colonos açoritas foi distribuído entre Belém,
Santarém e Ourém, para viabilizar os empreendimentos.

Administrativamente a região sofreu uma reforma: pelo ato régio de 20 de agosto de


1772, dividiu-se o antigo Estado do Grão-Pará - existente desde 1618 -, entre o Estado
do Maranhão e Piauí (com capital em São Luís) e o Estado do Grão-Pará e do Rio
Negro (atual estado do Amazonas, com sede em Belém). Ambos subordinados
diretamente à Lisboa. A integração política da Amazônia com o resto do Brasil só deu
seus primeiros passos com a instalação da Corte joanina no Rio de Janeiro em 1808,
quando então as duas capitais Belém e Manaus se lhe subordinaram.

Amazônia

Reforma Administrativa da Amazônia


(ato régio de 20.08.1772)
Lisboa
Estado do Maranhão e Piauí Estado do Grão-Pará e Rio Negro
(capital: São Luís) (capital: Belém)

Os portugueses, dentro de um rígido mercantilismo, sempre mantiveram uma política de


clausura das colônias. A Amazônia não foi exceção. Nem quando o célebre naturalista
alemão Alexander von Humboldt visitou a América (dele é a expressão hiléia
amazônica), entre 1799-1804, permitiram que ele penetrasse no lado português da
floresta. Essa política começou a ser reformada em 1808 com a vinda da família real
para o Brasil, e com o decreto da Abertura dos Portos às Nações Amigas. No império
começaram a chegar inúmeros naturalistas, entre eles Auguste Saint-Hilaire e os
austríacos Spix e Martius que coletaram vastas informações sobre a botânica
amazonense. Mas o imperador D. Pedro II, apesar das pressões internacionais, negou-se,
pelo menos até 7 de setembro de 1867, a liberar a navegação do grande rio aos
estrangeiros, tarefa que desde 1853 estava ao encargo de uma empresa do Barão de
Mauá. Três anos antes, em 1850, a região, numa outra reforma administrativa, criara-se
a Província do Amazonas, separando-a do Grão-Pará, tendo Manaus como sua capital.

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