Segundo Foucault o poder disciplinar age de forma que adestra, normatiza,
objetifica o sujeito para que este se autogoverne de acordo com as normas constituídas em uma macro estrutura, fazendo com que o sujeito as reproduza de forma autônoma nas lacunas da lei. O poder disciplinar se articula a partir de algumas frentes: olhar hierárquico, a sanção normalizadora e a combinação num processo específico, o exame. Para que seja possível exercer a relação de poder disciplinar o espaço físico é essencial, existem diversos exemplos ao longo da história de arquiteturas pensadas para manter e propagar essa relação de poder. Assim, a arquitetura serve para vigilância interna dos presos, dos alunos, dos funcionários etc. Desta forma ela impele a individualidade e mina as relações. Com a divisão do trabalho cada vez mais e com os instrumentos cada vez mais caros a vigilância se torna parte do êxito econômico. A vigilância é exercida pelos funcionários mais especializados e a partir disto se cria uma distinção, onde quem possui este status lutará para mantê-lo e os demais funcionários almejam esta posição. Logo, com esta elevada complexidade nas relações e a obtenção de equipamentos cada vez mais caros, qualquer falha, por mínima que seja, causará uma despesa enorme, logo, vigiar faz parte do processo econômico. Já no ensino, a vigilância atua como um mecanismo que multiplica a sua eficácia, assim a vigilância atua em forma de rede que perpassa o vigilante e o vigiado e forma um conglomerado normatizador. Para que isso funcione, é necessário que a disciplina atue na lacuna das leis, onde a disciplina caracteriza e reprime comportamentos que não fazem parte da alçada de castigos do direito. Desta forma, a disciplina atua sobre modos, o corpo, a sexualidade. Portanto, mesmo existindo regras de punição disciplinar por processos naturais e observáveis, assim o castigo disciplinar serve para evitar desvios e não punir erros, logo o castigo dentro deste tipo de relação de poder o castigo serve como forma de adestramento quando impõe exercícios. Assim a disciplina funciona dentro de um sistema de recompensa-sanção: primeiro conquista-se o coração e só após isso começa o castigo. Este sistema possibilita a estruturação de uma economia disciplinar que caracteriza bons e maus alunos. Desta forma, a disciplina funciona como divisor e classificador de classes, promovendo apenas os melhores e punindo aqueles que ainda não assimilaram as normas na subjetividade. Assim, a disciplina coloca em funcionamento operações bem diferentes: relacionar os atos, os desempenhos e os comportamentos únicos em um arcabouço que ao mesmo tempo é um campo de comparação, espaço de diferenciação e início de uma norma a seguir. Desta forma, o sistema necessita de uma forma de avaliação que organize a conjuntura e a ordem, a forma escolhida foi o exame, sua função é qualificar, classificar e punir. O exame atua como uma relação de poder que permite obter e constituir saber, assim ele permitiu o desbloqueio epistemológico da medicina e marcou quando a pedagogia passou a funcionar como ciência. Pois, o exame constrói a formação do saber a uma forma de exercício de poder, nesse contexto o exame é a técnica que o poder prende o sujeito dentro de um mecanismo de objetificação.