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Resumos - Português
Alegoria:
PEIXES Arrogância
Poder curativo
Parasitismo
Força e poder
Peixe de Tobias Roncadores Vaidade
Energia
Rémora Hipocrisia
Atenção Pegadores
Torpedo Voadores
Quatro-olhos Polvo
HOMENS
Delectare Docere
Movere
(Deleitar) (Ensinar)
(Influenciar)
- Frases exclamativas; - Frases declarativas;
- Interjeições; - Frases imperativas; - Argumentos de
- Discurso figurativo: - Interjeições; autoridade;
alegoria, comparação, - Apóstrofes; - Explicação de conceitos;
metáfora; - Interrogações retóricas; - Trechos descritivos e
- Interrogações retóricas; - Outros recursos informativos;
- Outros recursos expressivos: gradação, - Discurso figurativo:
expressivos: gradação, anáfora, antítese e alegoria, comparação,
anáfora, antítese, enumeração; metáfora;
apóstrofe e enumeração; - Argumentos de - Outros recursos
- Elementos prosódicos: autoridade. expressivos: gradação,
entoação, pausas anáfora, antítese e
silenciosas, variações de enumeração.
ritmo, modulações de voz.
SERMÃO DE SANTO
ANTÓNIO AOS PEIXES
Vieira - defensor dos índios momento de comprovação ou demonstração
das afirmações do orador. O
Os colonos exploravam de uma forma desenvolvimento do seu pensamento faz-
desumana os índios. se por meio de dois tipos de
Em 1653, depois de chegar do Brasil, argumentos: de autoridade e baseados
Vieira descobre que mais de dois em exemplos.
milhões de índios haviam sido mortos PERORAÇÃO - destinada à recapitulação
em quatro décadas de colonização. da essência do que se disse. É a
Defendia os seus direitos e pretendia última oportunidade que o orador tem
a abolição de leis que os tornavam para impressionar, convencer e
cativos. influenciar o auditório recorrendo aos
Pronuncia o célebre Sermão de Santo melhores argumentos.
António aos Peixes, que deixou
enraivecidos os espíritos por aquelas Intenção persuasiva e
paragens.
O tema do sermão é a denúncia das
exemplaridade
atrocidades que os índios sofrem às Os homens devem:
mãos dos colonos. imitar as virtudes dos peixes;
Toda a crítica é feita sob a forma de afastar-se dos defeitos dos peixes,
alegoria. que são, de acordo com o discurso
alegórico, os seus.
Alegoria Vieira e o Estilo Engenhoso
Elabora uma ampla alegoria em que se
Propriedade vocabular;
propõe louvar, por um lado, e criticar,
Precisão;
por outro, os peixes.
Clareza;
Atribui-lhes qualidades que não encontra
Harmonia expressiva;
nos homens, no primeiro caso, e critica-
Sentido do ritmo;
lhes os defeitos comuns aos mesmos
Construção hábil e geométrica de
homens, no segundo caso.
frases e parágrafos;
O que preocupa Vieira são os
Grande frequência de verbos dinâmicos
comportamentos errados dos homens,
e apelando aos sentidos, sobretudo à
contra quem, afinal, este sermão
visão;
constitui uma vigorosa diatribe.
Uso de metáforas, imagens, hipérboles,
Estrutura Interna hipérbatos, etc;
"Hábil combinação do estilo amplo,
EXÓRDIO - momento em que o orador expõe o
espraiado, com densidade concisa,
assunto do sermão que pretende defender a
própria do estilo humilde, familiar e
partir de uma conceito predicável.
introspetivo".
Pretende alcançar a benevolência, a
Grande importância à palavra do ponto
simpatia e atenção dos ouvintes. Termina
de vista fónico, gráfico, morfológico,
com uma invocação a Deus ou à Virgem.
sintático, semântico;
EXPOSIÇÃO - faz parte do desenvolvimento
Grande importância conferida aos
do sermão e constitui o momento em que
"jogos de palavras", à maneira bem
faz a contextualização do assunto do
típica do Barroco.
sermão.
CONFIRMAÇÃO - também faz parte do
desenvolvimento do sermão e constitui o
A História por trás da ação Elementos da Tragédia
A ação está sujeita ao seguinte esquema:
Frei Luís de Sousa
Manuel de Sousa Coutinho, filho de
Hybris - desafio do destino:
Lopo de Sousa Coutinho e de D. Maria
- D. Madalena apaixonou-se por
de Noronha, dama da rainha D.
Manuel de Sousa ainda casada com D.
Catarina.
João de Portugal.
Oriundo de uma família da melhor
- Casamento de D. Madalena e
nobreza do reino.
Manuel (incerteza quanto à morte do
Começou por seguir a carreira das
primeiro marido).
armas, sendo um Cavaleiro da Ordem
- Incêndio no palácio (desafio às leis
de Malta.
políticas).
Esteve algum tempo cativo em Argel,
Ágon - conflito interior, dilemas:
após isso, passou dois anos em Valença. - D. Madalena: culpada de amar
1580 - nomeado alcaide-mor do castelo Manuel de Sousa ainda casada com D.
e capitão-mor da gente das ordenanças João de Portugal.
de Marialva e seu termo. - Telmo de Pais: dividido entre o
1582 - Filipe II concede-lhe o amor por Maria e por D. João.
acrescentamento de moço fidalgo, com Peripeteia - peripécia, mudança:
correspondente aumento de moradia. - O incêndio provoca a mudança de
1583 - casou-se com D. Madalena de palácio: precipitação dos
Vilhena, viúva de D. João de Portugal acontecimentos.
desaparecido em Alcácer Quibir. - A chegada do Romeiro: altera a
1613 - após o falecimento da filha, ordem familiar.
Manuel e Madalena resolvem professar Ananké - destino implacável:
em conventos da Ordem Dominicana. - Comanda inquestionavelmente o
Tomou o hábito em 1614, após o ano de destino das personagens: o incêndio
noviciado, com o nome conventual de do palácio de Manuel de Sousa serve
Frei Luís de Sousa. para encaminhar as personagens até
ao ponto em que o destino as quer
Linguagem e Estilo apanhar: a casa de D.João de
Texto dramático escrito em prosa; Portugal.
Marcas fundamentais do diálogo; Pathos - sofrimento:
Estruturas frásicas e discursivas - O sofrimento atinge todos os
características da oralidade e da protagonistas: D. Madalena (culpas e
coloquialidade; dúvidas angustiantes); Manuel de
Coexistência dos registos informal e Sousa (revolta e indignação; sofre
formal; pela filha); Telmo Pais (angústias);
Vocabulário corrente e acessível; Frei Jorge (sofre pela família); Maria
Moderação no uso de linguagem de Noronha (a doença; os presságios;
figurativa; o sofrimento final).
Clímax - auge:
Vocábulos e construções em desuso no
- Final do Ato II: o Romeiro informa
século XIX, conferindo o tom epocal do
que D. João de Portugal se encontra
século XVI;
vivo.
Palavras próprias da expressão de Anagnorisis - reconhecimento:
sentimentos e de emoções; - A identificação do Romeiro como
Interjeições e locuções interjetivas; sendo D. João de Portugal (final do
Reiterações constantes; Ato II e final do Ato III).
Frases inacabadas; Katastrophé - catástrofe, desenlace
Diálogos vivos; falas curtas, palavras trágico:
soltas, sequências de monossílabos, - Morte de Maria de Noronha;
interrupções; - Separação do casal e "morte" para o
Diálogos entrecortados e mundo - morte social.
subentendidos;
Obedece a uma estrutura constituída por
Monólogos pouco extensos:
exposição, nó e desfecho; o avanço do
Pontuação expressiva (reticências e
progresso de degradação deve-se à
pontos de exclamação);
intervenção do destino que pesa sobre as
Recurso a frases de tipo exclamativo e
personagens; respeita-se a lei das três
interrogativo;
unidades.
Pausas, que se manifestam nas frases
inacabadas,
Dimensão Patriótica e a sua Expressão Simbólica
ANGÚSTIA EXISTENCIAL
Tristeza
Frustração
Pessimismo
Deceção
Desencanto
Desistência
Cansaço
PENSAR SENTIR
A dor de pensar
Tensões:
- pensar/sentir
- consciência/inconsciência
- pensamento/vontade
- fingimento/sinceridade
Intelectualização permanente.
Inveja e desejo de
inconsciência.
Consciência Inconsciência
Infelicidade Felicidade
Realidade Sonho
Tédio existencial (desalento
e angústia).
Introspeção e autoanálise
(estranheza e Refúgio e evasão
desconhecimento do "eu").
Fragmentação interior (drama
da identidade perdida)
Nostalgia da Infância
Tempo de pureza, felicidade, inconsciência e unidade
Saudade intelectual e literariamente trabalhada
FERNANDO PESSOA.
ALBERTO CAEIRO RICARDO REIS
TEMÁTICAS: Latinista e helenista, tendo incorporado, na sua
Comunhão com a Natureza poesia, o rigor, como convém aos princípios do
- relação de comunhão com a natureza, integrando-se estilo clássico.
nela e identificando-se com os elementos naturais Nas suas odes, e através de uma linguagem culta
que observa. e alatinada, Reis propõe uma concessão de vida
- crença na natureza e divinização dos elementos como um espetáculo, em que cada dia emerge como
naturais --> pagão. uma novidade e um fim em si mesmo, uma unidade
- aspira à conciliação e harmonia entre o natural e durante a qual o homem se deve libertar das
o humano. amarras de paixões desnecessárias e viver de
Primazia dos sentidos forma equilibrada e serena, sem desassossegos
- primazia das sensações como forma de alcançar o grandes.
conhecimento do mundo. Diferente de Caeiro, Reis abraça a sua
- priveligia a visão para aceder à verdade (ciência humanidade numa atitude racional, controlada e
de ver). oposta à recusa de pensamento ostentada pelo
- recuso o pensamento. mestre.
- apologia ao objetivismo --> associa o pensamento
a uma doença dos olhos. TEMÁTICAS:
Atitude Anti-metafísica Estoicismo - corrente filosófica que considera
- o mundo não exige atitudes de análise e ser possível encontrar a felicidade desde que se
interpretação, mas sim de apreensão imediata do viva em conformidade com o destino.
real através da perceção das formas, cores e - o ser humano deve ser indiferente às emoções e
sabores. não deve ceder ao impulso dos instintos e das
- questiona-se. paixões.
A teoria e a prática poéticas - deve aceitar com naturalidade o poder do destino
- defesa da naturalidade, revestida de uma aparente e ter uma atitude de abdicação que lhe permitirá
simplicidade. controlar a sua vida e, segundo as palavras de
- a sua poesia insinua-se espontânea e natural. Horácio, ser o rei de si mesmo.
- nesta aparente simplicidade, Caeiro deixa-nos uma Epicurismo - defende o prazer como caminho da
poesia pensada e trabalha que reflete um desejo de felicidade, mas, para que a satisfação dos
verdade natural e de paz, de viver sem sentidos desejos seja estável, é necessário um estado de
filosóficos e de acordo com a máxima "Assim é, ataraxia.
assim será". - defende a procura da felicidade relativa e um
estado de ataraxia (estado de tranquilidade, sem
Desejo de tornar a vida num elemento natural. qualquer preocupação).
A morte surge como algo inerente à vida. - advoga, através dos seus versos, a arte de
Aceita a vida e a morte, sem nelas pensar. atravessar a existência sem preocupação.
- o estado de tranquilidade absoluta, ou pelo menos
INFLUÊNCIAS NA... a sua ilusão, implica uma moderação nos prazeres e
Poesia de Ricardo Reis: o gosto pela natureza e uma fuga às sensações extremas, que perturbam e
a calma aceitação da ordem das coisas. desiquilibram a existência humana.
Poesia de Álvaro de Campos: sensacionismo (ainda
que em moldes diferentes).
FERNANDO PESSOA.
Carpe Diem Horaciano - necessário à felicidade, - inspirado pelos avanços técnicos, expressa a
na visão de Horácio. vontade de ultrapassar os limites das próprias
- o ser humano deve viver tranquilamente, sem sensações.
memória do passado, nem desejos para o futuro. - traduz um imaginário épico que se verifica ao
- deve aproveitar os momentos bons de cada dia e nível do conteúdo e da forma - canta-se a
viver um dia de cada vez. civilização moderna e as maravilhas do progresso e
- o presente surge como o tempo da realização. da técnica, em longas odes, onde o ritmo é rápido e
- satisfação de aproveitar o dia e os prazeres do a pontuação emotiva.
momento presente. - "Sentir tudo de todas as maneiras,/Viver tudo de
Consciência da mortalidade todos os lados."
- constrói a sua poesia sobre a consciência de que 3ª Fase abúlica e intimista (Aniversário)
a vida é efémera, que o passar do tempo é - depois de cantar, louvar tudo, o tema acabou.
inelutável e a morte algo inevitável. - abatimento de alma, tédio existencial que se
- indiferença cética, que é, para Reis, um ato de expressa em cansaço, angustia e sentimentos de
lucidez de quem sabe que tudo tem um fim e que está frustração.
tudo traçado. - é dominado pela solidão e desejo de isolamento,
ÁLVARO DE CAMPOS perante a incapacidade das realizações.
1ª Fase decadentista (Opiário) - consciência do conflito entre a realidade, ele
- reflete uma atitude de desilusão e tédio perante próprio e os outros, traduz-se numa dificuldade de
o desenrolar de uma vida monótona e sem objetivos. socialização.
- o cansaço, a frustração e o enfado levam Álvaro - empurra Campos para a introspeção de tom
de Campos a procurara evasão para um "não lugar" e pessimista.
a ver no ópio um refúgio. - dor de pensar, sensação de vazio e inutilidade de
- o sujeito poético procura, então, novas tudo.
sensações.
- exibe uma atitude desafiadora das normas As 3 fases da sua poesia, traduzem as
instituídas e uma recusa em compactuar com os contradições do homem moderno, que vive entre a
cânones sociais estabelecidos. celebração eufórica dos avanços técnicos e a
2ª Fase Futurista e Sensacionista (Ode Triunfal; angústia e desassossego da sua vida.
Ode Marítima) Perante o cansaço do presente, a infância surge
- a atitude subversiva de Campos no "Opiário" ganha como símbolo da felicidade e da pureza que
um novo impulso com a fase futurista e Campos foi perdendo com o passar do tempo.
sensacionista. O poeta sabe que o tempo não volta atrás.
- numa linguagem impetuosa e exuberante, faz
apologia da civilização tecnológica, da SENSACIONISMO...
modernidade, da força e da velocidade. em Campos - a sensação é tudo, não a sensação
- exalta o tempo presente. das coisas como são, mas das coisas conforme
- celebra o triunfo da máquina - é na maquina que sentidas (a sensação é subjetiva).
são projetados os sonhos e desejos do poeta. em Caeiro - a sensação das coisas como são, sem
- a busca de sensações atinge o excesso, rompendo acrescentar quaisquer elementos do pensamento
em expressões sádicas e masoquistas a que alia uma pessoal, convenção ou sentimento.
euforia emocional, muitas vezes extravasada com
grunhidos e "eias".
FERNANDO PESSOA.
MENSAGEM assumindo a voz do povo. -
No poema Mensagem, Pessoa expõe uma visão mítica identificação"eu"/pátria.
da pátria, sendo que o imaginário épico surge Os símbolos e os mitos adquirem especial
concretizado na natureza épico-lírica e na relevância.
estrutura da obra, na exaltação patriótica e na Carácter subjetivo e uso da primeira pessoa.
dimensão simbólica do herói. Estrutura fragmentária da obra.
Na obra surge, também, um meio de afirmação do Interioriza a matéria épica e transforma-a em
Sebastianismo, tal como um anúncio do sonho de imagens simbólicas, pelas quais liricamente se
um império espiritual. exprime.
Exemplos poemas: "D. Sebastião, Rei de
NATUREZA ÉPICO-LÍRICA
Portugal"; "Screvo meu livro à beira mágoa"
A natureza desta obra é épico-lírica, uma vez
que assume características quer do discurso ESTRUTURA
épico, quer do lírico. 44 poemas divididos em três partes, cada uma
Assim, encontramos poemas com características dela representando os três momentos essenciais
predominantemente épicas ou líricas, ou uma da existência de Portugal.
junção das duas. 1ª parte: BRASÃO - fundação e consolidação da
nacionalidade - Nascimento
Dimensão Épica - materializa-se o esboço da ideia de império que
Matéria histórica, uma vez que integra e exalta
nasce com D. Dinis.
figuras e acontecimentos que pertencem a
- a nação vai cumprindo o seu destino divino e
momentos áureos da História Portuguesa.
consolidando os ideais nacionais.
Glorifica-se, assim, as ações heroicas das
- Pessoa inspirou-se no brasão das armas nacionais:
figuras, as quais contam com proteção
os sete castelos, as cinco quinas, a par de outros
sobrenatural.
elementos ligados à heráldica, mas apresenta um
Elevado estatuto social e moral dos
brasão novo, reconstruido a partir do de Infante D.
protagonistas.
Henrique.
Glorificação e mitificação do herói.
- mais do que um passado, cristaliza o lugar da
Uso da terceira pessoa que contribui para a
memória coletiva onde as qualidades de ser
narratividade do poema.
português se fixam em personalidades como Ulisses,
Relatos das ações históricas que retomam heróis
Viriato, D. Dinis, entre outras.
e acontecimentos da História de Portugal.
2ª parte: MAR PORTUGUÊS - descobertas e
No entanto, não encontramos um relato sucessivo
concretização do destino providencialista
de acontecimentos que nos permita conhecer os
português - Crescimento e Apogeu
eventos da História de Portugal de uma forma
- canta o português que desvendou os mundos,
contíinua.
"cumpriu" o mar e criou um império material que
Exemplos de poemas: "Padrão", "A última nau"
deixava adivinhar o seu fim.
Dimensão Lírica 3ª parte: O ENCOBERTO - testemunho do declínio
Tom reflexivo e introspetivo que perpassa a
da nação e esperança no futuro de Portugal,
obra.
regenerado no Quinto Império - Morte e
O sujeito poético assume um tom emotivo e
Ressurgimento
linguagem expressiva (exclamações), dá conta dos
- anuncia a instauração do Quinto Império.
seus sentimentos e das suas reflexões sobre
- consagra à figura de D. Sebastião e ao mito do
Portugal.
Quinto Império, anunciando um novo ciclo.
O "Eu" tende a confundir-se com a própria pátria
- imagem do império moribundo, com fé de que a
FERNANDO PESSOA.
morte conduza ao nascimento de um império algumas das linhas temáticas que atravessam os
espiritual,moral e civilizacional. poemas.
Portugal de Pessoa é mítico, pois surge como o
Estrutura tripartida - simbolismo do número 3: povo eleito, instrumento de Deus para a
representa a ordem intelectual e espiritual; instituição do Quinto Império.
manifestação da divindade, da perfeição, da Aborda temas da identidade nacional, a história
totalidade; remete para as três fases da e o destino da nação.
existência. Revela o sentido providencial e messiânico de
A estrutura está simbolicamente ligada às etapas Portugal como país de um povo eleito por Deus
e à evolução do Império português. para, após êxitos (os Descobrimentos e a criação
do Império), atingir o momento sagrado de
DIMENSÃO SIMBÓLICA DO HERÓI
Os heróis funcionam como símbolos. criação de um império espiritual e cultural.
As figuras históricas são exaltadas pela sua Obra de exaltação nacional votada para o futuro,
dimensão exemplar, no plano espiritual. exortando o povo a reerguer a nação e a fundar o
Os heróis marcados pela inspiração divina Quinto Império.
assumem, assim, uma dimensão mítica que os SEBASTIANISMO
descontextualiza e lhes retira a individualidade Este Quinto Império, este Portugal que deve
para que personifiquem a essência de Portugal. acontecer é, por sua vez, simbolizado pela
Portugal emerge, assim, como herói figura de D. Sebastião.
antropomorfizado, a quem se lança o apelo para Transforma-se no desejado, no encoberto, no
que se estabeleça uma nova pátria e o Quinto mito, simbolizando a dimensão messiânica de um
Império. salvador da pátria.
Não encontramos relatos históricos, nem retratos Assente numa forte consciência da identidade
de heróis com rigor histórico. As personalidades nacional, assume-se como crença na regeneração
destacadas foram selecionadas pela sua dimensão futura de Portugal.
simbólica. - situa-se no domínio da utopia e não D. Sebastião é o representante paradigmático
se define enquanto ser individual. deste herói.
São geralmente figuras solitárias de exceção, É simbolicamente Portugal - Portugal foi grande
incompreendidas, visionárias, pois perseguiram no passado, perdeu a sua grandeza com D.
os seus sonhos, deixaram-se levar pela sua Sebastião e voltará a ser grande com o regresso
loucura e cumpriram a sua missão, enquanto simbólico do rei.
portugueses. O mito faz mais facilmente mover um povo do que
O herói é escolhido por Deus, um eleito a quem é a força da razão.
conferida uma missão que deve ser cumprida. - Esse tal Encoberto que levaria Portugal a
Deus, que deseja; o Homem, o receptor da constituir-se como Quinto império, não o via,
inspiração divina, que executa; a Obra, a Pessoa na figura de D. Sebastião redivivo,
concretização da vontade divina e o resultado da "senão na substância que essa pessoa e o seu
ação humana. nome simbolizam" - procura alguém com a mesma
EXALTAÇÃO PATRIÓTICA "loucura".
Tem como tema Portugal ao longo dos tempos - Ao reacender a crença vivificada pelos mitos,
título inicial da obra era Portugal. Pessoa pretendia fazer emergir a consciência da
O passado surge como um tempo de exaltação, o identidade nacional e criar forças espirituais
presente como um tempo de frustração, o futuro que iriam fundar os alicerces do futuro Império
como um tempo de concretização e o nacionalismo Português.
FERNANDO PESSOA.
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA O IMAGINÁRIO ÉPICO
44 poemas com estrutura formal variável. Os Lusíadas, Camões
cada poema tem a sua própria estrutura, - Epopeia do Renascimento;
métrica e esquema rimático. - Conteúdo maravilhoso, alegórico, mítico e
Presença de algumas formas tradicionais fantástico;
(versos decassilábicos, versos de - Incentivo dos heróis, valorização dos feitos.
redondilha, quadra e quintilha rimada) e Mensagem, Fernando Pessoa
outras em que prevalece a liberdade poética. - Canto épico do século XX;
Fusão entre a tradição e a modernidade. - Matéria real: queda do Império e perda da
Linguagem cuidada e expressiva, recorrendo a identidade nacional;
expressões latinas e frases aforísticas. - Valorização do passado e apelo à esperança no
Utilização de recursos expressivos: futuro.
apóstrofe, enumeração, gradação, São Cantores do Império, em momentos
interrogação retórica, metáfora. distintos da História de Portugal.
INTERTEXTUALIDADE TEMAS COMUNS:
Luís de Camões e Fernando Pessoa criaram a O Passado:
sua Epopeia, balizados pelas circunstâncias - as Descobertas marítimas;
que os rodeavam. - a História de Portugal.
O Renascimento deu a Camões a força anímica O (seu) Presente:
para incentivar os heróis e valorizar os - Egoísmo mercenário, falta de patriotismo, falta de
seus feitos, enquanto que, a queda do identidade nacional.
império e a perda de identidade nacional, OBJETIVO:
nos fins do século XIX e princípios do Objetivo de Camões ao escrever Os Lusíadas:
século XX, ofereceram, a Pessoa, motivos - evocar um passado recente: período áureo dos
para a transmissão de uma mensagem de Descobrimentos (glorificação do povo português).
valorização do passado e esperança do - apelar a um ressurgimento pátrio, dirigido, por um
futuro. lado, aos mais novos (a geração antiga servirá de
exemplo e estímulo aos jovens) e, por outro, ao
Os Lusíadas (1572) próprio Rei.
- Século XVI; - valorização do Passado.
- Decadência - início do processo de dissolução Objetivo de Pessoa ao escrever Mensagem:
do Império; - apelar a um ressurgimento: recuperar a grandeza
- Perda da independência e do domínio marítimo; perdida através da vinda de um Supra-Camões (ele
- Corrupção e perda de valores morais; próprio.
- Parasitismo, ostentação e luxo excessivo. - profetizar a fundação de um novo império de
Mensagem (1934) natureza espiritual: um império da Cultura e da
- Século XX; língua Portuguesa.
- Decadência - fase terminal da dissolução do - o assunto não é os portugueses ou eventos
Império; concretos, mas sim a essência de Portugal e a sua
- Fim da Monarquia, 1ª República (1910-1926); missão por cumprir.
- Portugal vive há um ano sob o domínio - apelo dirigido: aos jovens portugueses capazes de
salazarista (1922-1968), regime com cultura e amantes do seu país.
características facistas. - exaltação do futuro.
FERNANDO PESSOA.
DIFERENÇAS ENTRE AS OBRAS
OS LUSÍADAS MENSAGEM
Império Material, terreno, Real. Império espiritual, "da matéria de que os
Expansão territorial (dilatação da fé e do sonhos são feitos", imaginário, a "loucura",
Império). a "febre do além".
Pensamento católico Expansão da Cultura e Língua Portuguesa.
Caráter predominantemente narrativo e pouco Pensamento ocultista e vagamente cristão,
abstratizante. baseado no conceito de tolerância.
Tema real, histórico e factual (os Caráter menos narrativo e mais
acontecimentos, os lugares). interpretativo e cerebral.
Os heróis são pessoas com limitações Tema: a essência de Portugal e a necessidade
próprias da condição humana, mesmo se de cumprir uma missão.
ajudados nos sonhos pela intervenção divina Os heróis são mitificados e encarnam valores
cristã ou pelos deuses do Olimpo. simbólicos, assumindo proporções
Os Deuses olímpicos regem os acidentes e as gigantescas.
peripécias do real quotidiano. Os Deuses são superados pelo destino, que é
Os heróis e os mitos que narram as grandezas força abstrata e inexorável.
passadas. Heróis e mitos que exaltam as façanhas do
Aponta para o passado. passado em função de um desesperado apelo
para grandezas futuras.
Aponta para o futuro, promessa, expectativa
messiânica, visionação, o Quinto Império.
Só no domínio da cultura, Portugal poderá
impor-se no mundo.
SÍNTESE DA TEMÁTICA
O mito é tudo: sem ele a realidade não existe, pois é dele que ela parte ("Ulisses";
"D. Dinis").
Deus é o agente da história, ou seja, é ele quem tem as vontades; nós somos os seus
instrumentos que realizam a sua vontade. É assim que a obra nasce e se atinge a
perfeição ("D. Fernando, Infante de Portugal", "O Infante").
O sonho é aquilo que dá vida ao homem: sem ele a vida não tem sentido e limita-se à
mediocridade ("D. Sebastião, Rei de Portugal", "Horizonte").
FERNANDO PESSOA.
A verdadeira grandeza está na alma, é através do sonho e da vontade de lutar que se
alcança a glória ("O Mostrengo", "Padrão").
Portugal encontra-se num estado de decadência, por isso, é necessário voltar a
sonhar, voltar a arriscar, de modo a que se possa construir outro império, um império
que não se destrói, por não ser material; é o Quinto Império, o Império
Civilizacional-Espiritual ("O Quinto Império", "As Ilhas Afortunadas").
D. Sebastião, além de ser o exemplo a seguir (pois deixa-se levar pela loucura
saudável/sonho), é também visto como o salvador, aquele que trará de novo a glórica
ao povo português e que virá completar o sonho, cumprindo-se assim Portugal "D.
Sebastião", "Screvo meu livro à beira-mágoa").
Mensagem recorre ao ocultismo para criar o herói - o Encoberto - que se apresenta
como D. Sebastião. O ocultismo remete para m sentimento de mistério, indecifrável
para a maioria dos mortais. Daí que só o detentor do privilégio esotérico
(=oculto/secreto) se encontra legitimado para realiza o sonho do Quinto Império.
O ocultismo:
- três espaços: o histórico, o mítico e o místico.
- "A ordem espiritual no homem, no universo e em Deus".
- poder, inteligência e amor na figura de D. Sebastião.
- overdadeiro conhecimento é aquele a que se consegue ter acesso através do ocultismo
esoterismo: importância dos símbolos (na perspetiva pessoana).
A conquista do mar não foi suficiente (o império material desfez-se, ou seja, a
missão ainda não foi cumprida): falta concretizar o novo sonho - um império
espiritual-cultural.
A construção do Futuro (a revolução cultural) tem que ter em conta o Presente e deve
aproveitar as lições do Passado, fundamentando-se nas nossas tradições ancestrais.
A atitude heroica é importante para a aproximação a Deus, mas o herói não pode
esquecer que o poder baseado na justiça, na lealdade, na coragem e no respeito é mais
valioso do que o poder exercido violentamente pelo conquistador - a opção clara pelo
poder espiritual, pelo poder moral, pelos valores.