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CURSO: DIREITO TURNO: NOTURNO

DOCENTE: RILZA GOMES TURMA: 4º


COMPONENTE CURRICULAR: TEORIA GERAL DO PROCESSO DATA: 16/05/2021

ESTUDANTE: RAPHAELLA CASTRO MELO CARVALHO CRUZ CORREA NOTA:

RESENHA CRÍTICA

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça: Trad. Ellen Grancie


Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988.

No livro "O Acesso à Justiça", Cappelletti e Garth refletem sobre os principais


obstáculos para o acesso efetivo à Justiça e propõem soluções para que eles sejam
transpostos.
Em uma linha introdutória, os autores trazem uma reflexão sobre a expressão
“acesso à justiça”, aduzindo que seria uma expressão de difícil definição, mas que
serviria para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico: que o sistema deve
ser igualmente acessível a todos e que deve produzir resultados que sejam individuais e
socialmente justos.
Assim é que, em seu primeiro capítulo, iniciam um estudo sobre a evolução do
conceito teórico de acesso à justiça, partindo da premissa de que o conceito de acesso à
justiça vem sofrendo uma transformação importante. Isso porque nos estados liberais, os
procedimentos adotados para as soluções de litígio refletiam um comportamento
puramente individual dos direitos vigentes, onde acesso à justiça se limitava ao direito
formal do indivíduo de propor ou contestar uma ação. Unicamente!
Logo, muito embora fosse considerado um direito natural, não havia
participação do Estado; o Estado permanecia passivo em relação aos problemas que
obstavam o acesso à justiça, como por exemplo a incapacidade que muitas pessoas
tinham de utilizar plenamente a justiça e suas instituições. Era um acesso à justiça
formal, mas não efetivo.
Dessa forma, com o aumento da população, as ações e relacionamentos
adquiriram um caráter mais coletivo que individual e as sociedades modernas
precisaram abandonar a visão individualista dos direitos, e, com isso, o conceito de
direitos humanos se transformou, de modo que vem ocorrendo o reconhecimento
progressivo da importância fundamental do direito ao acesso efetivo à justiça.
Mas o reconhecimento, por si só, não é suficiente.
O conceito de efetividade, ainda que pós-evolução, é, por si só, algo muito vago,
de modo que a efetividade perfeita poderia ser expressa como a completa igualdade de
armas, algo obviamente utópico, vez que não há como se ter igualdade de armas em um
país tão desigual; as diferenças entre as partes não podem jamais ser completamente
erradicadas.
No segundo capítulo somos levados a entender/identificar os obstáculos a serem
transpostos para o efetivo acesso à justiça. O primeiro obstáculo seriam as custas
judiciais, vez que o ajuizamento de uma demanda, a instauração de uma lide e o litígio
como um todo é custoso, principalmente considerando que o Brasil adota o principio da
sucumbência, onde aquele que perde é duplamente penalizado, o que serve de
desestimulo. Ainda, para além dos custos com o próprio processo, existem os valores
dispendidos com a contratação de advogado.
De outro lado, além da limitação econômica, tem-se a possibilidade das partes,
no sentido de que quem pode pagar mais, suporta mais o tempo do processo. Pessoas ou
organizações que possuam recursos financeiros tem maior vantagem, primeiro porque
podem pagar para litigar (sejam as custas, sejam advogados) e segundo porque podem
suportar a demora do litígio. Ainda, tem-se a barreira pessoal do reconhecimento do
próprio direito.
Com isso se evidencia que muitos são os obstáculos a serem vencidos
(financeiro, pessoal, educacional, cultural), o que nos leva a conclusão que não podem
ser eliminados um por um, são obstáculos inter-relacionados, portanto, a solução para
transpor uma barreira pode exacerbar a outra.
No terceiro capítulo, os Autores tratam sobre as soluções práticas para os
problemas de acesso à justiça e fazem isso mediante uma subdivisão cronológica dos
movimentos de acesso à justiça em “ondas”. A primeira “onda” teria sido a assistência
judiciária; a segunda referia-se a representação jurídica para os interesses difusos e a
terceira “onda” que seria o “enfoque de acesso à justiça”.
A assistência judiciária para os pobres foi necessária como primeira onda, vez
que a parcela mais carente da população, em virtude dos altos custos processuais, taxas
e honorários advocatícios, começaram a renunciar a seus direitos. Já na segunda onda
buscou-se ultrapassar o obstáculo do acesso à justiça em relação à representação dos
direitos difusos e coletivos. Nesse ponto, e diante do surgimento de direitos que já não
se enquadravam mais em público ou privado e que demandavam igualmente a proteção
estatal (direito ambiental e dos consumidores), a segunda onda consistiu na reforma das
noções tradicionais do processo civil e o papel dos tribunais, para garantir a tutela
jurisdicional da coletividade.
Por fim, a terceira onda diz respeito ao enfoque mais amplo do acesso à justiça,
no sentido de promover o acesso à justiça não apenas pela via judicial, mas com a
implementação de políticas públicas de incentivo a conciliação, arbitragem e mediação;
os meios alternativos de solução de conflito.
No quarto capítulo somos levados a compreender as tendências no uso do
enfoque ao acesso à justiça, onde brilhantemente os Autores explicam que o enfoque do
acesso à Justiça requer muito mais que a criação de tribunais ou mudanças na
legislação. É necessária a modernização dos procedimentos, para que se tornem mais
simples e eficientes, de modo a viabilizar resultados mais justos, que não reflitam as
desigualdades entre as partes.
Encerram, no quinto e último capítulo, com as limitações e riscos desse enfoque,
na medida em que os riscos e limitações dessas mudanças não podem ser ignoradas, na
medida em que a complexidade do sistema judiciário e as variadas formas de governos
existentes, ensejam, em muitas vezes, o desrespeito as garantias fundamentais dos
indivíduos.
Com todas essas reflexões trazidas pelos Autores na obra, compreende-se que o
acesso à justiça e a superação dos obstáculos vai muito além da mera criação de leis e
investimento nos órgãos jurisdicionais. Por óbvio, muito já foi conquistado: a promoção
de acesso à justiça a população carente por meio da criação da Defensoria Pública, a
concessão de assistência judiciária gratuita para ajuizamento de demandas, tanto na
esfera comum, quanto na justiça especial, além da regulação de leis próprias e órgãos
especializados para a proteção de direitos coletivos.
Todavia, não é o bastante.
A complexidade do sistema judiciário ainda existe e muito ainda precisa ser
feito, mas o resultado final precisa ser único: o acesso à justiça como sinônimo de
igualdade entre as partes na busca da tutela pretendia, de forma justa e acessível; não
pode se resumir a uma briga em quem possui mais dinheiro ou menos dinheiro para
demandar em juízo; ou de quem tem mais conhecimento ou menos conhecimento sobre
o seu próprio direito; não se pode medir o direito em uma situação desigual. O acesso à
justiça precisa ser igualitário, para que, somente assim, toda e qualquer parcela da
população, enxergue no sistema judiciário, a possibilidade de efetiva justiça.

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