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Roteiro – Aula III – 11/06/2021- Poética Colonial

Tema: A Carta Sobre o Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha.


Escrita em Porto Seguro de Vera Cruz, em 1º de maio de 1500, a El –Rei Dom
Emanuel, por Pero Vaz de Caminha, o escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral, a
conhecida Carta de Caminha pertence ao grupo de três documentos relacionados com o
descobrimento do Brasil: a Carta de Mestre João Faras e a Relação do Piloto Anônimo.
Foi descoberta por volta de 1793, por Juan Batista Muñoz e arquivada no Arquivo
Nacional da Torre do Tombo, em Portugal. Foi publicada pela primeira vez em 1817,
por Manuel Aires de Casal, em seu livro Corografia Brasílica.

Qual o seu lugar na Literatura Brasileira do Período Colonial, segundo a palavra


da crítica?

a) Paulo Roberto Pereira – Segundo Pereira, A Carta do Escrivão da futura


feitoria de Calicute é considerada o primeiro documento da nossa história, sendo
vista também como o primeiro texto literário do Brasil. O autor classifica a obra
como crônica oficial ou semioficial do nascimento do Brasil, redigida em forma
de diário ou de reportagem sobre os fatos que ia se observando. Tem provocado
um volumoso número de estudos e edições, e constitui o documento mais
venerado da história colonial. O texto reflete a visão que o europeu tinha do
mundo naquele momento em que a lição dos antigos era posta em dúvida pelos
conhecimentos adquiridos nas novas descobertas geográficas marítimas. O
escrivão demonstra a familiaridade com números, medidas, objetos ligados ao
raciocínio matemático; léguas, braças, mão travessa, fuso de algodão, tiro de
pedra, tiro de besta, jogo de mancal, jogo de xadrez. Por outro lado, constitui
também uma narrativa impressionista em que revela aquela cultura literária tão
própria dos portugueses da sua grande época, e aquela capacidade de
observação, e aquela faculdade de compreender e descrever judiciosamente, que
constituem o mais esplêndido encanto dos cronistas. A preocupação em traduzir
os gestos, a caracterização corporal, a sua alimentação e abrigo, enfim, o seu
modo de existir, demonstra o valor dessa carta narrativa como documento e obra
literária. Ao descrever o homem americano na sua inocência tropical, ele utiliza
os dados da realidade concreta, tanto para traçar um retrato como para comparar
com outras realidades. Caminha sabe ser um observador privilegiado pela
facilidade com que capta o pormenor do corpo ou do objeto, ou pela síntese com
que descreve a exuberância verdejante da terra com suas águas infindas. No
texto, é notório que o personagem principal é o indígena que, ao realçar a beleza
do corpo do autóctone americano desfaz o mito medieval de que nos trópicos os
seres humanos eram disformes. Assim, a missiva de Caminha, independente do
seu significado histórico, etnográfico e cultural, faz nascer, em 22 de abril de
1500, um povo cuja essência da sua personalidade se fundamenta na
cordialidade para com os seus semelhantes. (PEREIRA: 1999, pp.61-66).

b) Alfredo Bosi – Para Bosi, a Carta, uma vez pertencendo ao conjunto de


informações que viajantes e missionários europeus colheram sobre a terra e o
homem brasileiros, não pertencem ao gênero literário, mas à pura crônica
histórica. No entanto, interessa-nos como reflexo da visão do homem e da
linguagem que nos legaram os primeiros observadores do país. É graças a essas
tomadas diretas da paisagem, do índio e dos grupos sociais nascentes que
captamos as condições primitivas de uma cultura que só mais tarde poderia virar
arte literária. No Brasil, a Carta de Caminha foi convertida num gênero
desenvolvido no século XV em Portugal e na Espanha, a literatura de viagens.
Espírito observador, ingenuidade descritiva e uma transparente ideologia
mercantilista, batizada pelo zelo de uma cristandade ainda medieval., são as
marcas desse gênero. (BOSI: 1994, pp. 13-14).

c) Massaud Moisés – Na visão do autor, a Carta marca o início da História da


Literatura Brasileira. Apesar de ter sido escrita em cumprimento a um dever
imposto pelo cargo de escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral, isto é, o de
noticiar a D. Manuel o achamento da terra nova no Atlântico Sul. O propósito
era ser fiel à verdade observada para que o relato desse conta exata da gente e da
terra descobertas. No entanto, percebe-se que o autor não se limitou a um
reconto frio e impessoal. O entusiasmo provocado pelas novidades contempladas
fez-lhe transformar o estilo e, por isso, a maneira de ver o mundo. Pode-se dizer
que a veia literária latente aflorou em virtude do deslumbramento perante a visão
edênica oferecida pela terra desconhecida, daí a descrição fluentemente literária.
A vivacidade resultante, a indiscrição dos pormenores a fixar, a paixão pelo
indígena, o elogia da terra, que inaugurava o mito ufanista, constituem aspectos
dignos de nota neste documento que fundava, extasiadamente, nossa literatura.
(MOISÉS: 1971, pp.18-19).

d) Domício Proença Filho – Na perspectiva do crítico, no Brasil do século XVI,


tivemos apenas medíocres manifestações literárias, que representaram apenas
pálidas repercussões da presença do pensamento renascentista, marcando a linha
daquele humanismo praticado por Camões, apesar de não caracterizar um
renascimento na literatura brasileira do período (FILHO: 2002, pág.158).

e) Antonio Candido – De acordo com Antonio Candido, em virtude de tratar-se de


uma fase inicial, a imaturidade do meio, a dificuldade de formar grupos e a
formação de uma linguagem própria, além da falta de interesse pelas obras,
impediram a formação de uma tradição literária no país, portanto não existiu
literatura enquanto fenômeno de civilização. No entanto, nos cronistas do século
XVI estão as raízes de nossa vida literária. (CANDIDO: 1997, p.24).

f) Flávio Kothe – Já para Kothe, é estranho incluir a Carta de Caminha como


texto inaugural da literatura brasileira. Pois ela não foi feita para ser publicada.
Ela sequer é um texto literário, nem de autor brasileiro. Sua inclusão como início
da literatura determina uma visão do Brasil como utopia portuguesa,
documentando que, embora não seja verdade, o território foi descoberto primeiro
por Cabral. Significa querer determinar a natureza e o percurso básico de toda
uma literatura nacional por meio de um texto que, sendo correspondência
burocrática oficial do Estado Português, sequer pertence ao Brasil e nem à
literatura. Vista assim, ele é literatura a contragosto, dominado por uma
involuntária tendência à ficcionalização e a escrever bonito para sustentar a
ilusão de que a terra descoberta é o próprio paraíso perdido, uma utopia
concreta. O texto foi convertido institucionalmente em algo que não corresponde
à sua natureza. É a imposição de uma identidade de fora para dentro, atendendo
à necessidade de filiar o país à formação portuguesa, manter a hegemonia da
oligarquia de origem lusa sobre as outras minorias étnicas e impor a visão do
país como utopia. (KOTHE: 1999, pág. 199).
Considerando todos esses aspectos, a crítica e a historiografia literárias
brasileira consideram que a evolução da literatura no Brasil foi marcada por duas
grandes perspectivas: a ideia de “país novo” e a ideia de “país subdesenvolvido”.

a) A ideia de “país novo” corresponde à perspectiva ufanista.


– Predominando até a década de 1930 e pauta-se na defesa de que o
Brasil possui grandes possibilidades de progresso futuro.
-Produz na literatura algumas atitudes fundamentais, derivadas da
surpresa, do interesse pelo exótico, de um certo respeito pelo grandioso e
da esperança quanto ás possibilidades.
-Exprimiu-se em projeções utópicas que atuaram na fisionomia da
conquista e da colonização, inaugurando um tom de deslumbramento e
exaltação da terra.
-O estado de euforia foi transformado em instrumento de afirmação
nacional e em justificativa ideológica.
-A literatura se fez linguagem de celebração e eterno apego, favorecida
pelo Romantismo, com apoio na hipérbole e na transformação do
exotismo em estado de alma.
-As nossas literaturas se nutriram das “promessas divinas da esperança”.

b) A ideia de país subdesenvolvido – correspondente à visão do país na


perspectiva da “Consciência catastrófica do atraso”.

-Baseia-se na ideia de pobreza, da atrofia, naquilo que falta, não naquilo que
sobra.
-Está associado ao analfabetismo que, por sua vez, associa-se à debilidade
cultural, pela falta de meios de comunicação e difusão, inexistência,
dispersão e fraqueza de públicos disponíveis para a literatura,
impossibilidade de especialização do escritor para suas tarefas (vista como
atividades marginais), falta de resistência frente às pressões externas.
- A literatura é um bem de consumo restrito.
-O atraso econômico causa a dependência.
-A dependência estimula a cópia servil de tudo o que é moda nos países
desenvolvidos.
-Propõe o que há de mais peculiar na realidade local, insinuando o
regionalismo.
-O regionalismo foi uma etapa necessária, que fez a literatura, sobretudo o
romance e conto, focalizar a realidade local. A realidade econômica do
subdesenvolvimento mantém a dimensão regional como objeto vivo.
-Na fase de consciência de “país novo”, o regionalismo dá lugar sobretudo
ao pitoresco decorativo e funciona como descoberta, reconhecimento da
realidade do país e sua incorporação ao temário da literatura.
- Pelos anos 30 surge a fase da pré-consciência do subdesenvolvimento, que
produziu um regionalismo problemático, chamado “romance social”,
“indigenismo”, “romance do Nordeste”. Nele há a superação do otimismo
patriótico, desvendando a situação em sua complexidade, voltando-se contra
as classes dominantes e vendo na degradação do homem uma consequência
da espoliação econômica, e não do seu destino individual.

Referências:
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 37.ed, São São Paulo:
Cultrix, 1994.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira – Vol 1. 8.ed, Belo Horizonte:
Itatiaia, 1997.
__________________. A Educação pela Noite & Outros Ensaios. 3.ed, São Paulo:
Ática, 2003.

FILHO, Domício Proença. Estilos de Época na Literatura. V15.ed, São Paulo: Ática,
2002.
KOTHE, Flávio R. O Cânone Colonial – Ensaio. Brasília; Editora da UNB, 1997.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Brasileira Através dos Textos. 24.ed, São Paulo;
Cultrix, 1971.
PEREIRA, Paulo Roberto (org.) OS Três testemunhos do Descobrimento do Brasil –
Carta de Pero Vaz de Caminha, Carta de Mestre João faras, relação do Piloto
Anônimo. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999.

Prof. José Manoel Sanches da Cruz


Em: 04/06/2021.
ATIVIDADE: A partir das discussões realizadas em sala de aula, apresente a sua
perspectiva em relação lugar da Carta de Pero Vaz de Caminha no contexto da
Literatura Brasileira do Período Colonial. A resposta será manual e, no mínimo de
duas, e máximo de três laudas. A atividade corresponde à aula do dia 18/06.

Ao longo do século XVI nos anos de 1500 , diversas expedições vieram para as terras
recém descobertas na América para explorá-las e nessas expedições havia sempre um
cronista (cronista era aquele sujeito que registrava todas essas descobertas ou pelos
menos aquilo que convinha registrar ). Pero Vaz de Caminha é um desses cronistas, ele
vem junto com a armada de Pedro Álvares Cabral nos anos de 1500 e vai fazer o que
seria o primeiro registro oficial sobre o Brasil, sobre essa terra descoberta, no entanto fica
conhecida como Carta de Pero Vaz de Caminha que ele envia ao rei do Manuel contando
todas as descobertas as descobertas das paisagens da vegetação do clima e principalmente a
descoberta do povo que vivia aqui

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