Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
05 - Mestre-Dançador, A Cachaça e o Coco - Salve A Jurema Sagrada
05 - Mestre-Dançador, A Cachaça e o Coco - Salve A Jurema Sagrada
"Salve a Jurema Sagrada, salve eu, salve vói, salve minha tronqueira e salve
minha cachaça, salve meu cachimbo e salve minhas encruza! E quem pode mais do
que Deus? Só Deus e mais ninguém, né nêgo? Agora me daí meu chapéu, meu cachimbo
e minha cachaça par eu molhar a guela e dançar aquele coco com uma nêga bem
boa!"
1
É característico dos mestres juremeiros quando chegam em terra saudarem a Jurema
Sagrada, a sua tronqueria, e tudo que a eles pertence e a Deus. E pedem para
cantar o seu ponto, que pode ser um coco ou não.
Como linha da umbanda ou como culto independente que se abriga no mesmo teto,
mas que reconhece Alhandra como a cidade da Paraíba tida como local de onde se
irradiou o ritual religioso, a Jurema tem muitos adeptos que ressaltam os
poderes de curados mestres juremeiros.
"A tradição diz unanimemente que no alto da praia de Tambaba houve uma Cidade da
Jurema de igual nome, anos passados: porém, esta cidade foi "devorada" pelo mar,
e de lá teria origem o culto que ainda hoje os juremeiros prestam ocasionalmente
nesta praia. Una juremeiros que foram lá em nossa companhia demonstraram o
máximo respeito para o lugar. Diversas vezes fomos a essa praia solitária,
encontrando, cada vez, objetos de culto e velas. O barulho que as ondas produzem
nas rochas deformas fantásticas é interpretado como a voz dos mestres."
2
Mestres são as entidades principais desse culto que aparecem nas sessões
semanais das casas destinadas à Jurema e nas festas periódicas dedicadas a
eles. São Exus, índios, caboclos, reis de iorubá, caboquinhas de
pena, boiadeiros, baianas, pretos velhos, marinheiros, pescadores e também
ciganas, Pomba-gira, Zé Pelintra, Maria Padilha e toda sua companhia. E
como senão bastasse, a Cumade Fulozinha e a figura do cangaceiro, Também
personagens das narrativas e contos populares,transitando na Jurema Sagrada.
Segundo a fala de um dos depoentes umbandistas: "Cumade Fulozinha é uma
identidade muito perigosa: ela tanto trabalha pro bem, como trabalha pro mal.
Todos animadíssimos com seus pontos cantados e com o som dos elus, gaitas e
maracás, a cachaça, o vinho da jurema e a fumaça dos cachimbos de jurema ou de
angico, de um ou de sete canudos de fumaça (e em raros casos de
charutos),constantemente fumados ao contrário, com o lado da brasa dentro da
boca.
Nos rituais de Jurema, o mestre aceita qualquer batida do elu; o mais importante
é o coco cantado, que tem força para "seus trabalhos", com sua cachaça e com
suas namoradas. Ainda temos o ganzá, que está presente nas duas manifestações,
muitas vezes improvisado com uma lata vazia, com pedrinhas ou sementes dentro.
Maracás, espécie de chocalho, com som semelhante ao do ganzá, também fazem
parte. O triângulo, instrumento apenas da Jurema tem o formato correspondente ao
nome, feito artesanalmente, a partir de restos de ferros utilizados na
construção civil, batido com um bastão do mesmo material. Também pode aparecer
gaitas feitas de bambu, semelhantes a uma pequena flauta, como asa tocadas pelos
participantes das tribos indígenas do carnaval.
Os pontos são acompanhados por palmas e batidas de pés. O espaço para o ritual
tanto pode ser fechado (o interior dos terreiros), quanto aberto (a rua, a
encruzilhada, o mato).
NOTAS