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ISBN 979-12-80249-22-7
Inclui bibliografias
ÍNDICE
Prefácio pág. 15
Ir. Luis Carlos Gutiérrez, Vigário-Geral
Ir. Benjamin Consigli, Conselheiro-Geral
Ir. Ken McDonald, Conselheiro-Geral
PARTE 1: VISÃO
Capítulo 1 pág. 21
Introdução à liderança profética e servidora
Chamada e propósito
Ir. Luis Carlos Gutiérrez, Vigário-Geral
Ir. Benjamin Consigli, Conselheiro-Geral
Capítulo 2 pág. 37
A relevância da presença na liderança marista
Ir. Ernesto Sánchez Barba, Superior-Geral
Capítulo 3 pág. 55
Que tipo de líder você deseja ser?
Ir. Seán Sammon, Superior-Geral (2001-2009)
Capítulo 4 pág. 69
A liderança da empatia, do serviço e da compaixão
“Filho, eles não têm vinho”
Ir. Óscar Martín Vigario, Conselheiro-Geral
Capítulo 5 pág. 89
Liderança e cura
Ir. Peter Carroll, Provincial da Austrália
PARTE 3: HABILIDADES
PREÂMBULO
Ir. Ernesto Sánchez Barba
Superior-Geral
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Fraternalmente,
Ir. Ernesto Sánchez Barba,
Superior-Geral
2 de Janeiro de 2022
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PREFÁCIO
Ir. Luis Carlos Gutiérrez, Vigário-Geral
Ir. Benjamin Consigli, Conselheiro-Geral
Ir. Ken McDonald, Conselheiro-Geral
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Tudo isso nos serviu para preparar esta publicação. Desejamos que
sirva para fomentar o diálogo, enriquecer a formação, facilitar os cursos e ajudar
a todos a repensar como servir ao estilo de Jesus e tantos outros líderes, plena-
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Restam muitos aspectos a explorar. Estes são os que, por ora, pro-
pomos a você porque são iluminadores, práticos e inspiradores.
Desejamos, desde já, uma leitura que obrigue você a se fazer per-
guntas, que o deixe inquieto e que o impulsione a mudar suas perspectivas.
Sabemos que este livro foi escrito por um grupo significativo de Irmãos, a
quem agradecemos profundamente sua generosidade, começando por nos-
so Irmão Superior geral atual, Ir. Ernesto Sánchez, e os ex Superiores gerais
Irmãos Seán Sammon e Emili Turú. Para alguns autores foi um desafio
compartilhado com suas equipes e com outras pessoas. Juntos, o que é mais
importante, realizamos algo que tem uma particular beleza: nosso desejo de
servir e inspirar solidariedade e esperança.
Por ora, esperamos que você aproveite muito este conteúdo e que
traga muita vitalidade.
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PARTE I
VISÃO
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CAPÍTULO 1
Introdução à liderança
profética e servidora:
chamada e propósito
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I. Nosso apelo
Liderança do Servidor
Quase desde o momento em que foi eleito pelo Colégio dos Car-
deais para suceder ao Papa Bento XVI, que se aposentava, o Papa Francis-
co deixou poucas dúvidas quanto à direção que queria dar para a Igreja,
começando com a adoção do nome de São Francisco de Assis, a figura
dos séculos 12 e 13, que rejeitou a riqueza de sua família por uma vida
monástica de serviço aos pobres e ao meio ambiente. Outros papas tiveram
a mesma mensagem, mas Francisco tem insistido muito em manter essa
mensagem em primeiro lugar: liderança do servidor e cuidado com os mais
necessitados primeiro.
Como líder, ele vai aonde as pessoas estão: as pessoas que estão so-
frendo, que são pobres. É disso que trata a verdadeira liderança: conectar-se
primeiro com o lugar onde as pessoas estão antes de levá-las para onde você
deseja que elas vão. Como resultado, quando as pessoas olham para ele, a
esperança renasce nos corações. Trata-se dessa conexão humana emocional
para ajudar “o outro”.
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Jesus reuniu [os discípulos] e disse: “Sabeis que os que são considerados
chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder
sobre elas. Não deve ser assim com vocês. Em vez disso, quem
quiser ser grande entre vocês deve ser seu servidor. E quem quiser ser o
primeiro deve ser escravo de todos. Pois até o Filho do Homem veio, não
para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos.
...sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e
para Deus voltava; levantou-se da mesa, depôs as suas vestes e, pegando
uma toalha, cingiu-se com ela. Em seguida, deitou água numa bacia e
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“Sabeis o que vos fiz?” ele lhes perguntou. “Vós me chamais Mestre e Se-
nhor, e dizeis bem, porque eu o sou”. “Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre,
vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros”.
“Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós...
Se compreenderdes essas coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes”.
O Que Deus está nos pedindo para ser neste mundo emergente?
O que Deus está nos pedindo para fazer neste mundo emergente?
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evidência cada vez mais clara: estamos vivendo um novo tempo, uma nova
normalidade, uma mudança de época, uma nova era (XXII Capítulo geral,
2017).
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REFERÊNCIAS
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Instituto dos Irmãos Maristas. (2020). Para onde você irá: Regra de Vida dos
Irmãos Maristas. Casa Generalizia dei Fratelli Maristi.
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Van Dierendonck, D., & Patterson, K. (2011). Servant leadership, recent
development in theory and research. Greenleaf Center’s Annual
International Conference. Springer (Google Scholar).
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CAPÍTULO 2
A relevância da
presença na liderança
marista
Ir. Ernesto Sánchez Barba
Superior-Geral
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que sentia por seus Irmãos e pela necessidade de se fazer mais presente para
acompanhá-los, decide ir viver com eles. Quando o manifestou ao senhor
padre pároco, este não poupou esforços para dissuadi-lo… Marcelino era
consciente de que ao viver em comunidade teria que suportar a pobreza, as
privações e os sacrifícios inerentes à vida religiosa, e isso era precisamente o
que mais o impulsionava a viver com eles. Sabia que, ao se tornar mais um
entre eles, praticando primeiro ele o que lhes dizia, era o melhor meio para
apegá-los à sua vocação. Dessa forma, obtida a autorização, deixou a casa
paroquial para estabelecer-se com os Irmãos (Furet, 1989).
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Presença e liderança
Para oferecer teu serviço na missão de Deus,
só precisas colocar o avental da irmandade
que é teu ornamento específico na liturgia da vida.
(RV, 70)
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sorriso, mesmo sem palavras, diz muito a quem rodeia o líder. É um olhar
que expressa uma atitude de discípulo, sentindo-se em contínua apren-
dizagem desde a própria realidade, desde aquilo que observa nos outros.
Sabemos que isso não pode ser improvisado ou fingido, mas é fruto de um
processo de contínua aprendizagem.
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SIGLAS
C Constituições e Estatutos dos Irmãos Maristas das Escolas
(aprovadas em 2020 e publicadas em 2021).
REFERÊNCIAS
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CARACTERÍSTICAS
DA LIDERANÇA
PROFÉTICA E SERVIDORA
CAPÍTULO 3
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Dito isso, é importante lembrar que não existe uma maneira única
de liderar. Os estilos de liderança diferem de uma cultura para outra e di-
ferentes situações suscitam determinadas características num líder. Algumas
culturas, por exemplo, são jerárquicas por de natureza, outras são mais igua-
litárias. As tropas que vão para a batalha, provavelmente, conferirão mais
facilmente autoridade a um líder enérgico e decidido do que a outro com
objetivo de alcançar o consenso dentro do grupo.
Líderes e gestores
A liderança não se confunde com gestão. Os gerentes fazem corre-
tamente as coisas; os líderes fazem as coisas certas. Um gerente tradicional
prioriza projetos e os confia às pessoas. Ele saberá implementar um sistema
que garanta a pontualidade dos trens. Aqueles que precisam chegar ao tra-
balho em determinada hora ficarão tranquilos, sob a supervisão da pessoa
que controla o sistema de trens.
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A autoridade moral
A única autoridade real que existe é a autoridade moral. O direito
de liderar deve ser conquistado, não pode ser conferido. Se ganhamos a
confiança dos membros de um grupo eles nos permitirão liderar. No en-
tanto, se é pouca a confiança que merecemos como líderes, nossa autorida-
de será questionada. Assumir a responsabilidade de um projeto e descobrir
que os outros se recusam a unir-se a nós, diminui nossas possibilidades de
liderar.
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A confiança
Mesmo com diferenças de cultura e situação, existem certas carac-
terísticas que parecem comuns, entre aqueles que são líderes eficazes. Para
começar, esses homens e mulheres demonstram confiança. Novas ideias
não os ameaçam. Eles são capazes de ver possibilidades que outros não
veem.
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pessoas a bordo foram resgatadas por barcos próximos, com poucos feridos
graves.
Os cuidados e a compaixão
Líderes eficazes também entendem que o grupo é uma fonte de
sabedoria. Por isso, recusam-se de assumir a responsabilidade pela geração
de toda ideia nova, e procuram acolher o melhor que vem dos outros.
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O espírito de serviço
Líderes genuínos nunca se esquecem de que seu papel é manter
viva a visão que orienta o grupo. Se não fizerem isso, ninguém mais o fará.
O espírito de sacrifício e o desejo de servir são elementos essenciais neces-
sários para se atingir esse objetivo.
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Duas semanas depois, ela voltou. Gandhi olhou nos olhos do me-
nino e disse: “Menino, você precisa parar de comer açúcar. Não é bom para
a sua saúde”. O menino concordou com a cabeça e prometeu obedecer-
-lhe. Agora intrigada, a mãe do menino perguntou: “Por que você não disse
isso a ele duas semanas atrás, quando o trouxe aqui?”
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REFERÊNCIAS
Clay, S. (2010, agosto 4). Compassion for others – Even the enemy (A compaixão
pelos outros – mesmo pelos inimigos). Em http://www.confederate-
colonel.com/2010/08/compassion-for-others-even-the-enemy/
Kristof, K. (2010, outubro 14). Chilean miners: Leadership lessons from Luis
Urzúa (Lições de liderança de Luis Urzúa). CBS News, Moneywatch.
Mandela, N. (1994). Long walk to freedom (Longo caminho para a liberdade: uma
autobiografia). Little Brown & Co.
Reilly, P. (2008, julho 19). Gandhi Story (A história de Gandhi). The tea-
cher’s path: A journey of the mind, the body, and the heart (O caminho
do professor: uma jornada da mente, do corpo e do coração). In https://
preilly.wordpress.com/2008/07/19/gandhi-story/
Sutton, R. I. (2002). Weird ideas that work: 11 and ½ practices for promoting,
managing, and sustaining Innovation (Ideias esquisitas que funcionam: 11
e ½ práticas para promover, gerenciar e sustentar a inovação. (Nova York,
NY: The Free Press, 2002).
United States National Transportation Safety Board (Conselho Nacional
de Segurança dos Transportes dos Estados Unidos)– US NTSB-
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CAPÍTULO 4
A liderança da
empatia, do serviço e
da compaixão
“Filho, eles não têm vinho”
Ir. Óscar Martín Vicario
Conselheiro-Geral
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Talvez por isso, os parágrafos seguintes falem de: dar resposta aos
chamados das pessoas, suscitar inclusão, promover a família global… há
aqui, implicitamente, uma definição muito sugestiva do que é liderança
marista, que ilumina nossa forma de exercer esse serviço.
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No entanto, por sua vez, para nós, não somente é uma caraterística
“utilitarista”, mas um traço definidor. Entre as muitas caraterísticas que os
autores atribuem à liderança servidora, quase sempre são incluídos aspectos
como a escuta, a empatia, o conhecimento, a persuasão, a conceitualização,
o compromisso com o crescimento das pessoas ou a construção de uma
comunidade (Spears, 2010)6. Nessa línea, nós tentamos cultivar uma lide-
rança servidora que seja empática e próxima, não para obter maiores frutos
de eficácia, mas porque nasce da nossa cosmovisão, dos nossos valores e da
nossa opção pela pessoa e sua centralidade.
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2. A empatia é proativa
A própria etimologia de “empatia” nos dá uma primeira chave
para responder a essas preguntas. Empatia vem do grego “ἐμπάθεια” (em-
pátheia), palavra formada pelo prefixo “em” (dentro de) e a raiz “pathos”
(afeto, sentimento, padecimento). Podemos assim dizer que é algo que se
vive “no sentimento”, ou “no sofrimento”, ou “dentro do afeto”. A em-
patia seria, por isso, algo como “sentir com o outro”, ou “compartilhar o
afeto”.
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Tudo isso faz com que nos aproximemos de uma questão im-
portante: a necessidade de descobrir e cultivar a empatia dos nossos líde-
res, atendendo também, necessariamente, a sua dimensão afetiva (Altuna,
2017)12, como a própria raiz etimológica já nos sugeria.
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Mas o que eu gostaria que fosse lembrado, como alguns Irmãos percebe-
ram, foram as muitas horas ou dias inteiros de escuta pessoal nas entrevistas,
a presença repetida em cada comunidade, o acompanhamento pessoal, ou
a visita a cada um dos que estiveram hospitalizados ou sofreram perdas ou
crises. Mesmo que reconheça que muitas vezes não foi fácil cumprir essa
intenção.
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-Que verdadeiro é tudo o que diz, mas não poderá pelo menos
admitir que hoje é um dia péssimo?
-Não, Padre, é um dos mais belos da minha vida.
Seu rosto brilhava enquanto dizia essas palavras, e seus olhos nu-
blaram-se de lágrimas de felicidade. O senhor Champagnat, emo-
cionado e confortado perante tanta virtude, pôde, a duras penas,
conter as suas”.
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dizia-me algo assim: “Não entendo o que nos propõem, nem compartilho
essa linha moderna da província… mas se a mim me respeitam… aceito,
caminhemos até lá; embora, sim, eu vá no meu próprio ritmo”.
Uma noite, o Irmão foi ver o Padre e lhe manifestou que a todo
custo estava decidido a se retirar, e que nem sequer queria conti-
nuar no dia seguinte, que era domingo. Efetivamente, saiu às cinco
da madrugada. (…) Naquela mesma tarde, às seis, o Irmão regressa
à casa…
- Como, querido amigo? Já está de volta? Que alegria! Quem lhe
sugeriu tão boa ideia?
- Padre − respondeu-lhe chorando o Irmão −, andei todo o dia
procurando trabalho… (…)
- Está bem, meu amigo! − respondeu-lhe o Padre −, ninguém na
casa sabe nem saberá que havia partido. Ponha o hábito, seja cons-
tante, e para isso entregue-se com confiança a Deus.
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-lhes: “Querem que haja mudança? Querem que sua gente mude? Vocês as
conhecem? Vocês as amam? Se não conhecerem profundamente sua gente,
não haverá entendimento entre vocês, e sem entendimento não haverá
confiança.Vocês amam sua gente? Há amor no que fazem? Se não houver
amor em vocês, não haverá poder nem fortaleza em sua gente. Se não há
fortaleza, não há paixão. Sem fortaleza nem paixão, ninguém se arriscará. E
sem assumir riscos, nada mudará”.
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REFERÊNCIAS
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Notas
1 Inclusive referindo-se a líderes políticos, o Papa Francisco (2020) diz que uma de
suas missões é cuidar ternamente a fragilidade: “Cuidar a fragilidade quer dizer força e ter-
nura, luta e fecundidade” (Fratelli tutti, n. 188). Mais adiante, acrescenta: “O que é a ternura?
É o amor que se torna próximo e concreto. É um movimento que procede do coração e
chega aos olhos, aos ouvidos, às mãos” (Fratelli tutti, n. 194).
2 Um dos maiores especialistas neste âmbito, após muitíssima reflexão e estudos,
ainda se pergunta: “Servo e líder, podem estes dois papéis fundirem-se em uma pessoa real?”
(Greenleaf, 2002, p. 21).
3 Um líder é “alguém que exercita tanto o cuidar como o guiar” (Prosser, 2007, p.
13).
4 “Olhar o mundo da perspectiva de outra pessoa significa que se é capaz de colo-
car-se nos sapatos dessa outra pessoa; de se deixar tocar por ela; de compreendê-la, mesmo
que nem sempre sejam aprovadas as suas ações” (Turú, 2012).
5 Mario Boies reflete sobre a empatia no contexto da pandemia: “A empatia é a
capacidade de identificar-se com alguém e compartilhar seus sentimentos, colocar-se no
lugar do outro em suas circunstâncias pessoais…” (Mario Boies, 2020, 121)
6 É parte da lista de Larry C. Spears em “A Liderança servidora”, p. 36 (Ed. Blan-
chard e Roadwell). Esse autor acrescenta, além disso, que o líder deve ser um “ouvinte
competente e empático”. (Spears, 2018, p. 36)
7 “Enquanto a empatia pode ser paralisante para alguns (por exemplo, impede-lhes
de tomar decisões), o líder-servo não está à mercê da empatia, mas a utiliza para não fazer
juízos precipitados sobre as pessoas. A empatia permite passar dos assuntos superficiais ao
que realmente está acontecendo” (Campbell, 2020).
8 “A aceitação das pessoas requer a tolerância da imperfeição” (Greenleaf, 2002, p. 34).
9 É não somente um primeiro sentido da compaixão hebreia (“rajum”), mas tam-
bém bondade, amor constante, graça (“jesed”), arraigada nas próprias entranhas (“rehamîm”).
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CAPÍTULO 5
Liderança e cura
Ir. Peter Carroll
Provincial da Austrália
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Este é o momento
Nos últimos doze meses, assistimos à oscilação da pandemia em
todo o mundo. Evoluiu entre calmarias e picos. Mesmo quando tudo pare-
cia estar sob controle, aparecia novo surto. Inclusive, quando já havia cam-
panhas de vacinação, declarava-se, aqui e ali, um estado de emergência, em
diversas partes do mundo. As estatísticas apontam que o número de mortes,
causadas pelo coronavírus, supera os três milhões.
As pessoas sofrem,
Torturam-se umas às outras.
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Liderança espiritual
Não sei se nosso mundo é mais turbulento agora do que em ou-
tras épocas da história, mas certamente é turbulento. Há conflitos entre
nações e entre diferentes grupos das nações. Há rivalidades e desencontros
internacionais. Opressão das minorias. Crescente desigualdade econômica.
Mudança climática. Degradação do meio ambiente. Mudanças incessan-
tes. Estas são apenas algumas características do nosso mundo. A renomada
pensadora Margaret Wheatley (2007), especialista em teoria organizacional,
disse que, em tempos turbulentos, a liderança necessária é espiritual.
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ríamos que Jesus foi um líder ético. Ele não pregava uma coisa e para logo
fazer algo diferente. Ele tinha um comportamento igual ao que propunha
aos demais. Quando Pedro lhe perguntou: “Senhor, quantas vezes devo perdoar
a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu:
“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. (Mt 18, 22). Quando
Jesus recebe os mais graves ultrajes, como responde? “Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem” (Lucas 23, 34).
Jesus era um líder próximo a seu povo. Ele não vestia roupas ele-
gantes, isolando-se no Templo ou na Sinagoga. Literalmente, caminhava
com as pessoas simples. Falava de assuntos importantes, com os pés no chão.
Valia-se de situações cotidianas para explicar seus ensinamentos. Comemo-
rava, ria e chorava com o povo. Era pessoa acessível e sua mensagem era
acessível. Parece que a casta sacerdotal não via bem seu sucesso e pergunta-
vam aos seguidores de Jesus: “Por que Ele come com os publicanos e pecadores?”
(Marcos 2,16), enquanto outros o acusavam de ser “um comilão e beberrão”
(Mt 11,19). Mas a resposta de Jesus foi cortante e direta: “A sabedoria foi
justificada por suas obras” (ibid.).
Jesus chamou-os e lhes disse: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam
como senhores absolutos, e os grandes as oprimem com seu poder. Não seja
assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, faça-se
vosso servo. E quem quiser tornar-se o primeiro, entre vós, seja vosso escravo;
da mesma maneira como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas
para servir e dar sua vida em resgate por muitos (Mt 20,25-28).
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João Batista preso enviou alguns de seus discípulos a Jesus para per-
guntar-lhe se realmente era o Messias. Jesus resumiu seu próprio ministério
em sua resposta a João: “Ide e contai a João o que ouvis e vedes: os cegos veem,
os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a
Boa-nova é anunciada aos pobres’’ (Mt 11, 4-5).
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Embora esses fossem três aspectos físicos das curas de Jesus, havia
outros fatores em ação. Ele não estava preocupado apenas com o mal es-
pecífico que os afligia, mas também, numa perspectiva mais ampla, pelas
condições em que viviam. A maioria das narrativas de cura aborda questões
que transcendem o físico e nos apontam que a intenção de Jesus era de
restaurar a pessoa em sua totalidade. Isso se observa pelo fato de a maioria
das narrativas de cura tratarem dos marginalizados da sociedade daquela
época. Jesus curou possessos do demônio, mendigos, leprosos, mulheres que
sofriam de doenças incuráveis e aqueles que eram objeto de discriminação
racial da parte dos judeus. Outras narrativas de cura tratam da compreensão
da fé, da mensagem do perdão e do significado do sábado. O ministério de
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Jesus oferecia algo mais do que uma melhoria física. Sua ação curativa ia
além da eliminação de um problema orgânico. Curar o organismo fazia par-
te de uma recuperação mais integral da pessoa. Ele restaurava os enfermos a
partir da base: construindo sua confiança em Deus, tirando-os do abandono
e do desespero, libertando-os do pecado, devolvendo-os ao seio do povo de
Deus e oferecendo-lhes uma vida mais plena e saudável. (Pagola, p. 167).
As curas de Jesus não eram atos isolados. Elas faziam parte de sua
mensagem geral – a proclamação do Reino de Deus. Deus está aqui, neste
momento! A misericórdia de Deus está disponível, agora mesmo! Isso era
uma novidade e as curas de Jesus davam testemunho disso.
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Qual é tua história evangélica favorita com Jesus curador? Por quê?
Jesus podia curar porque ele mesmo estava são. Portanto há um tra-
balho significativo a ser realizado pelo cristão para assegurar-se de que vai
dando passos rumo à integridade. Costumamos dizer, familiarmente, “nin-
guém dá o que não tem”. É preciso começar a partir de nossa ruptura e fra-
gilidade, tomando a sério o caminho que nos conduz a uma vida indivisa.
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Já foi dito que “nós curamos de dentro para fora”; mas, pode ser um
processo lento. Trata-se de uma viagem profundamente espiritual que deve
ser empreendida com honestidade e confiança em Deus. A solidão, o silên-
cio, a oração e a reflexão são essenciais. Jesus nos guia no caminho. Às vezes,
talvez, teremos que voltar a esses momentos de nossa vida que ainda são
fonte de angústia ou dor. Pode ser que necessitemos embarcar num pro-
cesso de cura de lembranças concretas ou devamos abordar questões que
surgiram e continuam surgindo em torno de acontecimentos passados. É
quando teremos que contar com um guia externo que sirva como super-
visor ou companheiro espiritual (diretor).
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Quais são as palavras de cura que precisam ser ouvidas, hoje? Sa-
bemos que as palavras são poderosas; com elas pode-se construir ou mi-
nar; pode-se animar ou dissuadir, afirmar ou magoar. Precisamos selecionar
nossas palavras com cuidado; não podemos permitir-nos ser insensíveis. Faz
alguns anos, o Papa Francisco (2014, 22 de dezembro) alertou-nos contra
a enfermidade da fofoca, das murmurações e queixas. Ele disse o seguinte:
Já falei muitas vezes sobre essa doença, mas nunca será suficiente.
É uma enfermidade grave que começa simplesmente, na conversa,
mas se apodera depressa da pessoa, até convertê-la em “semeado-
ra de joio” e, muitas vezes, em homicida, a ‘sangue frio’, do bom
nome de seus colegas e irmãos. É a doença dos covardes que, não
tendo coragem para dizê-lo diretamente, falam pelas costas... Pre-
servemo-nos do terrorismo da fofoca!
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O dom do perdão
Ser um líder cristão é promover a cura e trabalhar pela paz; o per-
dão é um elemento essencial nesse processo. Existem histórias maravilhosas
de perdão que acentuam a cura que ele traz. Quando Martin Luther King
Jr foi esfaqueado por uma mulher desequilibrada, ele disse àqueles que
a seguravam: “Não façam nada contra ela; não a persigam; apenas, curem-na”.
Ele reconhecia que essa violência é uma manifestação de doença e que a
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A primazia da humildade
Se quisermos ser Líderes de Cura, precisamos ter a disposição que
parece faltar em nosso mundo contemporâneo barulhento, acelerado e
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Ser humilde é aceitar que não temos todas as respostas e nem sem-
pre temos a razão no que pensamos, fazemos e decidimos. Sabemos que
existe espaço para o fracasso e que existe espaço para aprender. No Livro da
Alegria, Dalai Lama (líder espiritual do Tibete) diz:
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Este é o momento
Ainda há muito a ser escrito sobre a questão da cura e o papel
de um líder, na missão de facilitá-la. No mundo turbulento de hoje é
vital, para aqueles que assumem alguma função de liderança, serem eles
capazes de responder às necessidades reais e aos gritos interiores dos que
são orientados e guiados. Certamente isso acontecerá diariamente, se am-
pliarmos nossa visão de liderança, incluindo nela também a exercida pelos
pais e professores. Também se adotarmos uma interpretação mais estreita
para aplicá-la àqueles que administram e dirigem empresas, oficinas ou
ministérios da Igreja, essa liderança será visível. Não é fácil, mas é preciso
fazê-lo. Consegui-lo-emos se nos comprometermos firmemente com isso
e renovarmos o compromisso com regularidade. Vamos consegui-lo ainda
se nos envolvermos com os outros, de modo sério e não de forma superfi-
cial, atentos a suas situações e reconhecendo suas feridas e incertezas. Agora
é o momento de nos empenharmos nessa liderança e se o fizermos...
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REFERÊNCIAS
Advocate Health Care. (2017). When trauma happens, love heals. In www.
advocatehealth.com
Augustine. (1934). The city of God. (J. Healey, Trad.). J.M. Dent and Com-
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Biblical Commentary. Bloomsbury.
Dalai Lama, Tutu, Desmond and Abrams, Douglas. (2016). The book of joy:
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CAPÍTULO 6
A Consciência
Ir. Ken McDonald
Conselheiro-Geral
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Consciência de si mesmo
“Se você deseja exercer uma liderança que produza mudanças,
deve estar disposto a mudar a si mesmo” (Kahane, 2010, p. 22). Estando
atentos às emoções, aos comportamentos e às reações, nós, líderes servido-
res maristas, conhecer-nos-emos mais, e isso nos ajuda a amadurecermos
em nossa função.
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Esta não é somente uma reflexão pessoal mas requer relações pro-
fissionais com outras pessoas. É benéfico encontrar pessoas sábias que nos
ajudem a explorar o mundo da liderança e a comentar nossa experiên-
cia; isso pode tornar-se muito benéfico. Ajuda, igualmente, a ter vontade
de aprender, de ouvir os outros e aprender de suas opiniões sobre nós
(Kahane, 2010). Mais do que um desejo de conhecimento, é um desejo de
compreender a nós mesmos bem como os efeitos que nosso estilo pessoal,
nossas suposições, perspectivas e comportamentos têm sobre o modo de
exercermos a liderança.
118
119
O Deus que está dentro e não fora, que está presente em cada
realidade e em tudo o que existe, que nos abraça por dentro e por
fora, denominamos de Espírito Santo. Portanto, não há nada fora
de Deus, nada acontece fora de Deus. Nunca estamos longe ou
fora, mas sempre diante de, em e com Deus. (p. 303)
120
121
sob nossa liderança. Em uma reunião, em Roma, o Ir. Emili, então Supe-
rior-Geral, entregou a cada um dos participantes uma transparência com
os olhos de uma criança. Ao apresentar-nos esse símbolo, insistia em ver o
mundo com os olhos de uma criança. Para estar preparado a ver o mundo,
através dos olhos de outros, é preciso que conheçamos realmente o seu
mundo. Esta compreensão mais profunda ajuda a desenvolver respostas ino-
vadoras às necessidades daqueles que se encontram em nossas obras.
122
123
124
125
escuta do que têm a dizer e refletindo sobre o que contam é possível chegar
a conhecer suas esperanças e seus sonhos.
REFERÊNCIAS
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127
128
CAPÍTULO 7
Liderança e Persuasão
Ir. Vincent de Paul Kouassi
Província da África Ocidental
Reitor do MIUC
129
Apresentação
Nossas diferentes culturas não consideram o servidor como al-
guém que lidera, mas como uma pessoa que serve e executa o que o líder
ordena. No entanto, Greenleaf (2008) considera que esses dois papéis – ser-
vidor e líder –, podem “ser fundidos em uma só pessoa real, em todos os
níveis de posição ou vocação” (p. 2). Para os cristãos a palavra cunhada por
Greenleaf “liderança de serviço” faz muito sentido porque Cristo, nosso
líder, passou toda a sua vida terrena mostrando-nos que ele “não veio para
ser servido, mas para servir” (Mateus 20, 28; Marcos 10,45).
130
• O que é persuasão?
• Como um verdadeiro líder servidor convence seus seguidores?
• Como o exemplo dado por Cristo se torna, para nós, um barômetro de
persuasão autêntica e bem-sucedida e, em última instância, se torna em
uma verdadeira liderança profética?
O que é a persuasão?
A persuasão é, simplesmente, uma tentativa de levar os outros a
aceitar uma mudança. A persuasão faz parte do trabalho de um líder pois
ele está, continuamente, tentando convencer seus seguidores a abraçar uma
mudança que ele deseja implementar. A definição de Northouse (2016) é
um excelente resumo do que deveríamos entender por persuasão. Ele a
definiu como a “comunicação clara e persistente que convence os outros a
mudar” (p. 225). Ele a explicou ainda mais, contrapondo-a à coerção. Este
contraste elucida a compreensão da persuasão como traço ou qualidade do
líder servidor. Enquanto a coerção “utiliza a autoridade de sua posição para
forçar a cumprimento, a persuasão consegue mudanças por meio do uso de
argumentos gentis, sem crítica” (p. 225). Na linha da liderança de serviço,
um exemplo contrário à persuasão seria um líder que ameaça demitir seus
131
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janeiro de 1830, pedia: “Digam a seus filhos que Jesus e Maria os amam
muito e a todos: os que são bons porque se assemelham a Jesus Cristo, que
é infinitamente bom; os que ainda não são bons porque chegarão a sê-lo”
(Circular I, p. 153). Champagnat aconselha os líderes que tratem a todos
com dignidade e respeito, porque cada indivíduo, como criatura de Deus,
é capaz de mudança e conversão. Os líderes, na palavra de Gandz (2008,
p.1) devem ser suficientemente “inteligentes” e “valorizar os que resistem”
porque esta é a única maneira de persuadi-los. De fato, é assim que, como
cristãos e líderes maristas, deveríamos compreender o desafio de Cristo –
“amai vossos inimigos” (Mateus 5,44). Isto requer muita paciência e con-
fiança porque a persuasão e a mudança não acontecem da noite para o dia.
136
sempre foi esta: Como você serve as pessoas se nem mesmo lhes perguntou
de que precisam? Northouse (2016) enfatizou que na prática da liderança
autêntica os líderes facilmente persuadem as pessoas quando, como líderes,
eles entendem sua “responsabilidade ética de tratar os seguidores com dig-
nidade e respeito – como seres humanos e identidades únicas” (p. 336). Esse
compromisso ético move o líder a estar atento às necessidades das pessoas.
Northouse acrescentava ainda que os líderes devem ter em conta as neces-
sidades das pessoas, para poderem influir de modo significativo e persuadir
qualquer grupo a executar a mudança proposta.
137
Conclusão
Este ensaio enfocou a persuasão como uma característica essencial
da liderança do servidor. A liderança autêntica, ou liderança de serviço,
consiste basicamente em cuidar dos outros como o centro da persuasão. O
logos, o pathos e o ethos deveriam ter como fio condutor o amor incondicio-
nal e desinteressado do líder. O exemplo de nosso Senhor, que nos amou
até o fim, morrendo por nós, mostra que qualquer tentativa de persuadir ou
convencer os outros é sempre possível, quando o amor a rodeia. O amor é o
que leva as pessoas a seguir o que dizem seus líderes. Os discípulos obede-
ciam a Cristo porque o amavam. Os Irmãos amavam Champagnat e faziam
o que ele pedia. Como Cristo, Champagnat ou qualquer líder autêntico,
os líderes servidores sabem que existem boas sementes em cada criatura de
Deus. Regam-nas e esperam, pacientemente, que cresçam e deem frutos de
amor e serviço.
138
REFERÊNCIAS
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140
141
CAPÍTULO 8
143
João Batista
A vida e a missão de João Batista (2 a.C.–28 d.C.) oferecem uma
lição essencial para todo o líder profético com vocação de serviço e de
escuta. « Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João. Ele
vinha como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos cres-
sem por meio dele » (Jo 1, 67). Era um mensageiro e profeta enviado por
Deus para preparar o caminho do Senhor, endireitar seus caminhos. Era
plano de Deus revelarse através de seu Filho encarnado, do qual João dava
testemunho.
144
Ante a serena insistência de Jesus para que fosse João quem o bati-
zasse, este aceitou o pedido sem objeção. A vontade de Jesus, na vida de um
discípulo, deve primar sobre a vontade e o desejo de quem quer que seja.
Foi graças à sua integridade, que João disse sem temor a verdade
ao rei Herodes o que lhe valeu a prisão e, finalmente, a morte. João disse a
Herodes: « Não te é lícito ter a mulher de teu irmão » (Mc 6,18).
145
146
Marcelino
Como Maria, na Igreja primitiva, Marcelino acompanhou os pri-
meiros Irmãos com atenção, sensibilidade e equanimidade. Irmãos entre
seus Irmãos, os chamados a exercerem o serviço da autoridade, buscam,
como o próprio Senhor, « servir mais do que ser servidos », de acordo com
os propósitos do Instituto. É com este espírito que assumem a responsa-
bilidade de mandar, quando seja necessário. No entanto, acima de tudo,
encontrase o convite de fomentar a escuta e o diálogo fraterno, promover
o discernimento e construir uma fraternidade autêntica, uma semente da
Boanova (C 87).
147
Vivo só para vós; cada dia, peço a Deus darvos tudo o que seja
verdadeiramente bom para vós; eu daria tudo, inclusive, a custo dos
maiores sacrifícios, para conseguilo para vós. (Furet, 1989, p. 460).
148
Depois que lhes lavou os pés, retomou o manto, voltou à mesa e lhes disse:
« Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e di-
zeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os
pés, também deveis lavarvos os pés uns aos outros. Deivos o exemplo para
que, como eu vos fiz, também vós o façais » (Jo 13, 1215).
149
150
REFERÊNCIAS
151
152
CAPÍTULO 9
Sentinelas da aurora:
Pre-ver: a imaginação
profética
Ir. Emili Turú
Superior-Geral
(2009-2017)
153
154
É sobre essa capacidade que queremos falar nas páginas que se se-
guem. Uma habilidade muito importante, difícil de conviver e certamente
não fácil de descrever. É provavelmente por isso que é uma característica
pouco estudada, como Larry Spears (2000), um grande estudioso da obra
de Greenleaf, reconheceu: “A prospectiva continua sendo uma área am-
plamente inexplorada nos estudos de liderança, mas que merece atenção
especial” (p. 4).
155
156
157
É muito interessante observar as palavras que usou para se referir a essa de-
cisão: “A inspiração do Altíssimo parece-nos o pensamento, que desde
o início do nosso pontificado brotou em nossa mente, como uma flor da
primavera imprevista, de convocar um Concílio Ecumênico” (AAS 53, p.
433). Inspiração do Altíssimo e da flor da primavera imprevista. Uma “in-
tuição profética”, de acordo com o Papa Francisco (2013). Uma bela forma
de definir a previsão: a intuição profética, que surge como um presente
inesperado e é recebida como inspiração.
Peter Senge (2002) nos lembra disso no epílogo que escreveu para
a edição do 25º aniversário do livro Greenleaf, ao qual temos nos referido
repetidamente. Citando o filósofo Eric Hoffer, ele enfatiza que a distinção
fundamental entre compromisso e fanatismo é a incerteza.
158
E prossegue:
2. Presencing
Além dos estudos feitos por Greenleaf sobre essa habilidade de
liderança chamada previsão, houveram outras abordagens para o conceito,
embora usando outros termos.
159
160
Uma palavra muito querida pela tradição Marista, e que se refere tanto a
viver conscientemente o momento presente (“viver na presença de Deus”),
quanto a estar perto das pessoas, especialmente das crianças e jovens que
nos sãos confiados (“estar presente”).
161
É muito difícil para mim aceitar essas afirmações, pois estou con-
vencido de que todas as pessoas nascem com essa capacidade potencial e
que, como todas as outras, a pessoa pode favorecer ou bloquear seu desen-
volvimento.
3. Sentinelas da aurora
Tão importante quanto cultivar a previsão ou a intuição profética
é a habilidade de compartilhá-la e comunicá-la apropriadamente ao outro.
162
163
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REFERÊNCIAS
165
166
Notas
1 Previsión é a palavra normalmente usada em espanhol para traduzir pre-
visão nas obras de Greenleaf. Mas, na verdade, o próprio Greenleaf usou as palavras
foresight (previsão) e prescience (presciência). (Cambridge Dictionary & RAE, 2021).
2 Dicionário Cambridge. A previsão é a capacidade de julgar corretamente o que
vai acontecer no futuro e planejar suas próprias ações com base nesse conhecimento. O Di-
cionário da Real Academia Espanhola dá diferentes significados para a palavra previsão: ver
com antecedência; saber, conjeturar por alguns sinais ou indícios o que deve acontecer; arranjar
ou preparar meios contra futuras contingências.
3 A Gaudet Mater Ecclesia foi totalmente redigida pessoalmente pelo Papa,
segundo Dom Loris Capovilla, que foi seu secretário pessoal. O texto que aqui
trazemos é o oferecido pelo Bispo Capovilla, que preserva o tom poético original,
e que se perdeu quando foi traduzido para o latim (a única língua oficial na épo-
ca), e novamente traduzido para o italiano e outras línguas. Cf. Tantum aurora est.
Conversazione dell’arcivescovo Loris Francesco Capovilla na Basílica de Sant’Eufemia di
Piacenza. (28 de outubro de 2009).
167
168
CAPÍTULO 10
Administração e
gestão na liderança
servidora
Ir. Libardo Garzón Duque
Ecônomo-Geral
(2015-2021)
169
Introdução
Esta reflexão pretende ser um retrato da ampla esfera da prática
da administração, sob a ótica da liderança servidora. Para isso, são tomados
elementos do Evangelho, alguns documentos atuais da Igreja, da tradição
Marista, da própria experiência e algumas contribuições sobre a forma de
recriar a arte da administração a serviço das necessidades dos outros.
170
por outros”, ser “responsável pelos outros”, estar ao “serviço dos outros”.
Administração sempre tem a ver com os outros (Gini & Green, 2014).
Como diz Richard Waters (2013) em sua pesquisa sobre o papel da admi-
nistração na liderança, a relação entre o gestor de uma organização e seus
destinatários é muito importante, uma vez que suas ações têm impacto no
bem-estar econômico, social, cultural ou político, o que requer responsa-
bilidade, prestação de contas e promoção de relações transparentes entre as
partes interessadas, a fim de garantir o sucesso a longo prazo da organização.
171
se faz responsável. Como diz Morela Hernández, os líderes têm uma enor-
me responsabilidade de agir não apenas como cuidadores, mas também
como modelos para as gerações futuras. Seu comportamento tem grande
influência no desenvolvimento de futuros líderes (Hernandez, 2009).
172
173
A experiência marista
O Padre Champagnat teve o apoio de outros sacerdotes. Depois
que dois deles deixaram o Hermitage, após reflexão cuidadosa e longa
oração, ele decidiu escrever ao arcebispo para implorar-lhe que enviasse
alguém que pudesse ajudá-lo na administração dos assuntos da congrega-
ção. Ao mesmo tempo, foi ao encontro do Sr. Gardette, reitor do seminá-
rio maior, para informá-lo de sua situação e pedir-lhe que mediasse com
o arcebispo para atender ao seu pedido (Furet, 1989). Ele sabia que não
poderia cumprir sua missão de liderança sozinho, que precisava de outras
pessoas para ajudá-lo, pois o número de irmãos e de escolas aumentava no
nascente Instituto.
174
175
Integridade pessoal
Uma pessoa é considerada íntegra quando é honesta, age de forma
correta e transparente. Quero dizer, é alguém em quem você pode confiar.
Este líder leva tempo para pensar sobre seus próprios valores, bem como os
da instituição. Essa ideia também é expressa por Siliceo et al. (2001), quan-
do afirmam que o líder dá exemplo dos valores e comportamentos que
deseja ver nos outros. Além disso, estão cientes de suas responsabilidades
para com os outros (Gini & Green, 2014).
176
Visão estratégica
Os líderes da área administrativa são chamados a ter uma orientação
fundamentalmente estratégica, embora, no nosso caso, eles também preci-
sem se equilibrar com uma abordagem operacional do dia a dia (Spears,
2010). Esta gestão diária sem perder de vista a visão de longo prazo exige
disciplina e prática. O Líder-servidor integra o compromisso da instituição
com as expectativas dos diferentes públicos de relacionamento, por meio de
soluções criativas voltadas para a concretização da visão institucional. Gera
relações de colaboração dentro e entre instituições e está atento ao meio
ambiente e suas implicações para a instituição. É leal à visão institucional,
compromete-se com o seu desenvolvimento e influência na forma de tor-
ná-la realidade, ajudando os membros da Instituição a caminharem juntos
para concretizá-la. O empenho de todas as partes na concretização da visão
torna-se um elemento essencial para o futuro de uma Instituição.
177
Cultura de confiança
Para promover a sua equipe, o líder deve ser visto como uma pes-
soa aberta ao diálogo, generosa, integrada e competente no seu saber-fazer.
Reinke (2004), citando Greenleaf (1977), propõe que a liderança servidora
melhora o desempenho organizacional porque fomenta relações de con-
fiança. Esta atitude é imprescindível no exercício da liderança, como requi-
sito para o empoderamento, caso contrário o líder acaba assumindo o papel
de outrem, dificultando o fluxo normal dos processos. Caldwell (2002),
citando Senge (1990), observou que “as organizações, em última análise,
dependiam dos comportamentos daqueles em quem confiavam” (p. 157).
É importante que os gestores ajudem a criar um clima organizacional que
o favoreça (Mallen et al., 2019). O maior desafio de um líder é criar um
ambiente, no qual os líderes potenciais prosperem (Maxwell,2008).
178
Simplificando o complexo
O exercício da liderança em perspectiva administrativa torna-se
cada vez mais complexo. A multiplicidade de fatores que convergem em
organizações como a nossa faz com que não haja respostas únicas. O caráter
de quem lidera, sua segurança pessoal, favorece ou não que os processos
da organização sejam simplificados. A capacidade de simplificar as coisas
complexas é uma arte que requer conhecimento, experiência, empatia e
capacidade de comunicação.
Conclusões
A liderança servidora envolve, antes de mais nada, o compromisso
de servir às necessidades dos outros. Isso requer atenção, abertura e habili-
dades de escuta. O fundamento e a razão de ser de toda autoridade diretiva
é tornar a condição humana mais segura, mais satisfatória e mais produtiva
(Gini & Green, 2014).
179
180
REFERÊNCIAS
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182
CAPÍTULO 11
Liderança, um
compromisso prioritário
com as pessoas: crescendo
juntos, acompanhando-nos,
empoderando-nos
183
184
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186
187
b. Pontos de atenção
188
Uma comunidade Marista, uma obra escolar, uma obra social, uma
coordenação, uma província ou o próprio Instituto Marista são es-
feras diversas, mas todas requerem uma liderança na missão confia-
da, que atualmente é exercida e compartilhada por Irmãos, Leigas e
189
4. A escolha de líderes
O exercício da liderança em animação e governança requer uma
ampla rede de pessoas comprometidas, cada uma assumindo a liderança em
sua área de confiança em seu próprio nível. Como uma etapa preliminar,
você deve se concentrar na detecção de líderes. Para isso, são apresentadas
três tarefas: o para quê e, o porquê de um líder ser procurado; quais são
suas características, atitudes e habilidades; e como fornecer um acompa-
nhamento.
190
191
5. O desenvolvimento do exercício de
liderança
As luzes, que permitem que a liderança cresça e se consolide, e as
sombras, que podem colocar em risco não apenas a liderança, mas todo o
coletivo Marista, são exploradas a seguir. Como nas pinturas de Caravaggio,
a realidade é uma mistura de luz e sombra. Aqui estão algumas pequenas
dicas ou toques simples sobre o exercício de liderança.
a. Luzes
A lista pode ser muito longa, mas são selecionados quatro exemplos
de botões que afetam e se enraízam na pessoa do líder: empode-
ramento, tomada de decisões, geração de entusiasmo e a forma de
enfrentar o fim da liderança em uma missão concreta.
192
193
b. Sombras
194
a. Apresentação da experiência
Uma das etapas mais intensas que vivemos é a crise gerada pelos
casos de abuso sexual de menores, já que a pedofilia colide fron-
talmente com a missão Marista No início de 2016, uma série de
denúncias provocou um tsunami na mídia com o envolvimento de
instituições públicas de tal porte que foi denominado de “caso Ma-
rista”. Acusações de abuso, encobrimento, organização criminosa...
abalaram toda a comunidade Marista. Algumas situações remontam
a meados do século passado. Tivemos que enfrentar alguns eventos
que ocorreram, na maioria das vezes, fora do âmbito temporal de
nossas ações e de nosso conhecimento. Sem demora, tivemos que
enfrentar uma ampla gama de situações: as vítimas, os meios de
comunicação, os alunos, as famílias, o corpo docente, os próprios
Irmãos. Uma mudança de mentalidade era inevitável: passando
da perspectiva exclusivamente moral para a perspectiva do crime.
Uma equipe de Irmãos e Leigos conduziu de forma coordenada
o conjunto de respostas que deveriam ser dadas pela instituição
Marista. A pergunta: como corrigir esta situação, sob muita pressão
e com pouco espaço de manobra no início?
195
• Dificuldades
196
• Aprendizagens
197
• Caminhos de melhoria
198
199
200
REFERENCIAS
201
CAPÍTULO 12
“Quantos pães
vocês têm?”
Ir. Hipólito Pérez
Provincial de América Central
203
204
205
O pão da empatia
“Sobe para nascer comigo irmão, dai-me a
mão das profundezas de tua zona de dor
espargida” (Neruda). “Já estão há três dias
comigo e não têm o que comer” (Mc. 8,3).
206
no centro de sua existência, com uma escuta ativa para cada um, em sua
identidade e originalidade (Revista Vida Religiosa, 2013).
207
208
209
210
211
212
213
Seguir Jesus é encarnar sua própria morte em nossa vida, para po-
der participar de sua Ressurreição. Sem dúvida, nosso irmão se
apropria destas palavras de um hino litúrgico: Se Cristo foi meu
alimento, deixe-me ser pão e vinho no lagar e no moinho de onde
arrancam a minha vida (Otero, S., 2008).
1. Com que atitude(s) do texto você se sentiu mais identificado? Por quê?
Ele se conecta com alguma experiência pessoal que você viveu ou está
vivendo?
214
215
REFERÊNCIAS
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217
HABILIDADES
CAPÍTULO 13
Habilidades de
comunicação
Em Liderança Profética e
Servidora
Ir. Cyprian Gandeebo
Provincial da África Ocidental
221
222
223
224
O processo de comunicação
O processo da comunicação consiste em várias etapas incluindo
um emissor, uma mensagem, um meio e um receptor ou destinatário. O
processo de comunicação tem origem em um emissor que inicia uma ideia,
codifica e transmite esse pensamento através de um meio a um destinatá-
rio que recebe a mensagem, decodifica-a, interpreta-a e age sobre ela. O
beneficiário então dá um feedback sobre as informações recebidas. Assim,
há geralmente seis etapas em um processo de comunicação: formulação da
mensagem, codificação da mensagem, transmissão da mensagem, decodifi-
225
226
227
228
229
230
231
232
233
REFERÊNCIAS
234
CAPÍTULO 14
Habilidades para a
tomada de decisões
Ir. Robert Teoh
Provincial de East Asia
(2013-2019)
235
Introdução
Uma vez concluído o processo de reestruturação, o nosso Instituto
enveredou no estudo da busca de uma estrutura simples de governo, mas
de aplicação universal, para fazer o Instituto avançar no novo século. Com
a ajuda de um grupo de consultores profissionais, que envolveu todas as
unidades administrativas, dedicando a esta questão mais de quatro anos de
debate e planificação, a Administração geral ideou, finalmente, uma estru-
tura simples, mas realista, que pode impulsionar todo o Instituto a levar
adiante a visão e a missão de nosso Fundador na nova era.
236
237
238
239
3. Faça a sua tarefa. Prepare a informação que vai partilhar com seu gru-
po. Leve em consideração que, talvez, o primeiro obstáculo será encon-
trar tempo para envolver as pessoas no processo de tomada de decisões.
Considere que, se o debate transcorre por um caminho demasiado
formal, as pessoas podem sentir-se incômodas. Existem métodos que
possibilitam o processo de coleta de opiniões de maneira informal.
Por exemplo, iniciar propondo perguntas relacionadas com a próxi-
ma decisão, antes de efetuar a reunião, quando tenha oportunidade
de conversar com os membros do grupo. Se isso é algo que você faz
normalmente, essas pessoas se sentirão mais à vontade respondendo às
perguntas e, pode ser que até se adiantem na exposição de suas ideias.
Visualize a informação que conseguiu, porque uma boa apresentação
provocará boa impressão ao grupo quando estejam reunidos debatendo
a questão.
240
Conclusão
A mudança de estrutura e estilo de governo exige uma nova for-
ma de tomar decisões. O que aqui foi exposto é uma simples tentativa de
apresentar a tomada de decisões partilhada como elemento constitutivo de
nosso modo de decidir dentro desse novo estilo de governar através de uma
liderança servidora e profética. Este tipo de liderança consiste em romper a
estrutura piramidal do poder e da tomada de decisões. Nosso Instituto deve
inclinar-se para processos mais flexíveis e participativos. Uma boa maneira
de caminhar nessa direção é promover a inovação e fomentar o feedba-
ck dentro do Instituto. Os líderes maristas farão muito bem em seguir o
exemplo de nosso fundador, Marcelino Champagnat, que quando tomava
decisões cruciais, nunca deixava de consultar os irmãos mais prudentes,
ouvindo-os com atenção. Em certo sentido, sua forma de decidir não se
distancia muito da tomada de decisões partilhada que explicamos. Marce-
lino também nos ensina a tornar assunto de oração as decisões coletivas,
confiando-as à Boa Mãe.
241
REFERÊNCIAS
242
243
CAPÍTULO 15
Colaboração e
trabalho em equipe
Ir. Patrick McNamara
Provincial dos Estados Unidos
(2015-2021)
245
246
247
Martin Luther King, Jr.3 nos inspira em uma veia semelhante, en-
corajando a todos nós a assumir o manto da liderança servidora.
Todos podem ser grandes, porque todos podem servir. Não é pre-
ciso ter um diploma universitário para servir.Você não precisa fazer
com que seu sujeito e seu verbo concordem em servir.Você só pre-
cisa de um coração cheio de graça, de uma alma gerada pelo amor.4
Dois dos maiores ícones esportivos dos EUA, Babe Ruth e Mi-
chael Jordan, eram conhecidos por reconhecerem o valor do trabalho em
equipe e da colaboração em seus sucessos esportivos.
248
249
250
251
252
253
dedicamos tempo para nos reunirmos para reuniões educativas, bem como
para orações, eucaristia, refeições e celebrações.
254
255
256
REFERÊNCIAS
João XXIII. (1963, 11 de abril). Encyclic letter: Pacem in Terris. Libreria Edi-
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Notas
1 líquiasWorld. Em https://www.relicsworld.com/mother-teresa/none-of-usin-
cluding-me-ever-do-great-things-but-we-can-author-mother-teresa
2 Ghandi, M. e Dr. Ivan Joseph em Twiter // Confidence-coach, @DrIvanJoseph.
Mahatma Ghandi citações #leadership
3 Em: https://www.tameday.com/teamwork-quotes/
4 Em: https://www.tameday.com/teamwork-quotes/
5 Em: https://www.tameday.com/teamwork-quotes/
6 Em: https://www.tameday.com/teamwork-quotes/
7 A Nova Bíblia Americana. (1970). [Editoras Católicas da Bíblia]. Catholic Bible Publishers.
8 A Nova Bíblia Americana. (1970). [Editoras Católicas da Bíblia]. Catholic Bible Publishers.
257
258
PARTE IV
TRILHAS E
FUNDAMENTOS
259
CAPÍTULO 16
Pinceladas bíblicas em
chave de fraternidade
para uma liderança
orientada ao serviço
Ir. Josep Maria Soteras
Conselheiro-Geral
261
262
263
264
265
Se formos um pouco mais fundo, não será difícil reconhecer que a vitimiza-
ção se esconde por trás dessas acusações. Ocorre quando se presume que o
papel de vítima é a obtenção de um benefício e geralmente em detrimento
de alguém. É muito comum em contextos de violência de gênero: o com-
portamento abusivo é justificado pelos supostos maus-tratos previamente
dispensados pela vítima real.
266
267
tros entendem a liderança como aquele que vai na frente e toma posse do
acelerador. Algo assim aconteceu quando um irmão mais novo provocou
um diretor muito ciumento de “seu” colégio: “O colégio é tão seu, que
não pode ser meu”.
268
Maria (Êxodo 2, 4, 7; 15, 20-21), de Jetro, seu sogro (Êxodo 18, 13-27),
de Josué (Êxodo 17, 9; Números 13, 16; Deuteronômio 1, 38; 31, 1-4, 7-8;
Jos 1, 1), dos anciãos (Êxodo 3, 16; 4, 29; Números 11, 10-17), dos profetas
(Números 11, 24-30); dos levitas (Êxodo 32, 25-29)...
269
270
que por transformar, mais ocupada com as coisas acontecendo do que com
quem elas tornam visíveis, mais ansiosa por méritos do que por resultados...
Que outros itens poderíamos adicionar e a que modelo corresponde cada
um dos polos em contraste? Qual a diferença entre otimismo compulsivo e
esperança confiante?
271
272
273
único para validar essa abertura e, com ela, aquela primeira geração cristã
finalmente se abriu para o futuro (Atos dos Apóstolos 15; Gálatas 2, 1-10).
Uma liderança não deve servir somente o presente e ser fiel ao passado mas
também transmitir o futuro do projeto em que está comprometida5. Não se
exige necessariamente que o conceba mas pode acolher os que o promovem,
discernir com eles o essencial do acessório e disponibilizar os meios para que
se apresente no ritmo que lhe for conveniente. Não se trata somente de uma
atitude mas de um investimento. Neste sentido não é inútil questionar-se
acerca de tempo, energia, pessoas e recursos que se investem para acolher o
futuro e se mantêm a proporção adequada com aqueles que se dedicam a
gerir o presente ou preservar o passado.
274
Servir ao futuro implica também assumir uma certa dose de martírio, neces-
sária para purificar a profecia e até permitir ao grupo canalizar a raiva e a
dor pela perda de algo a que se agarram e que, sem dúvida, cumpriu uma
função. Mas não mais.
Conclusão
Como corolário final, poderíamos sublinhar esses três detalhes.
275
coexistem todos ao mesmo tempo, tanto uns como seus opostos. Eviden-
temente não eles próprios mas o que eles representam. Estar honestamente
ciente dessa realidade pessoal multifacetada é possivelmente o primeiro
passo para nos movermos na direção certa. Depois as proporções podem
ser ajustadas.
276
REFERÊNCIAS
277
Notas
1 Nos outros capítulos deste volume encontramos um excelente desenvolvi-
mento dessas características: a opção de servir primeiro para liderar, discipulado, humildade,
verdade e honestidade pessoais, preocupação com o bem-estar geral etc.
2 Além disso, vários artigos podem ser comparados. Para citar alguns desta últi-
ma década: EKINCI, A., & SAKIZ, H. (2020). Servant leadership within the context of
organizational efficacy. In Handbook of research on positive organizational behavior for improved
workplace performance (pp. 86-101). IGI Global; LANGHOF, J. G., & GÜLDENBERG, S.
(2020). Servant leadership: A systematic literature review—Toward a model of antecedents
and outcomes. German Journal of Human Resource Management, 34(1), 32-68; SMITH, L. S.
(2020). Christian leaders as servants: Accept the opportunity. In Modern metaphors of Christian
leadership (pp. 95-113). Palgrave Macmillan, Cham; EVA, N., ROBIN, M., SENDJAYA, S.,
VAN DIERENDONCK, D., & LIDEN, R. C. (2019). Servant leadership: A systematic
review and call for future research. The Leadership Quarterly, 30(1), 111-132; AMAH, O. E.
(2018). Determining the antecedents and outcomes of servant leadership. Journal of Gene-
ral Management, 43(3), 126-138; GREEN, M. T., RODRIGUEZ, R. A., WHEELER, C.
A., & BAGGERLY-HINOJOSA, B. (2016). Servant leadership: A quantitative review of
instruments and related findings. Servant Leadership: Theory & Practice, 2(2), 5; PANACCIO,
A., DONIA, M., SAINT-MICHEL, S., & LIDEN, R. C. (2015). Servant leadership and
wellbeing. In Flourishing in life, work and careers. Edward Elgar Publishing; WASHINGTON,
R. R., SUTTON, C. D., & SAUSER JR, W. I. (2014). How distinct is servant leadership
theory? Empirical comparisons with competing theories. Journal of Leadership, Accountability
& Ethics, 11(1); PARRIS, D. L., & PEACHEY, J. W. (2013). A systematic literature review of
servant leadership theory in organizational contexts. Journal of business ethics, 113(3), 377-
393; SCHNEIDER, S. K., & GEORGE, W. M. (2011). Servant leadership versus transfor-
mational leadership in voluntary service organizations. Leadership & Organization develop-
ment journal; DENNIS R., KINZLER-NORHEIM L., BOCARNEA M. (2010) Servant
Leadership Theory. In: van Dierendonck D., Patterson K. (eds) Servant leadership. Palgrave
Macmillan, London; PAROLINI, J., PATTERSON, K., & WINSTON, B. (2009). Distin-
guishing between transformational and servant leadership. Leadership & Organization develo-
pment journal.
3 É interessante resgatar o papel da mulher como uma “conspiração a favor da vida”
que vem sabotar o plano de morte em que os homens se movem (Êxodo 1, 16-22; 2, 11-
12.15). A perspectiva feminina vem enriquecendo a compreensão da liderança com uma
contribuição específica. Cf. BATALLÉ PRATS, I. (2021). Atrévete a hacer las cosas a tu manera:
La revolución del liderazgo de las mujeres. Barcelona: Destino (Planeta).
4 A atenção ao bem-estar das pessoas deixa de ser somente um meio e aos poucos
se torna um eixo essencial de qualquer organização, integrando-se em seus próprios propó-
sitos. Um número crescente de publicações mostra isso. Por exemplo, conforme FERNÁN-
DEZ, M. (2019). Trabaja en modo actitud. Madrid: Mestas Ediciones S. L.
278
279
CAPÍTULO 17
281
1. VULNERABILIDADE
Liderar a partir da vulnerabilidade pode parecer contraditório se
tivermos em nossa mente uma imagem de líder como uma pessoa que tem
todas as respostas e controla tudo. Mas na liderança servidora, que procura
“ajudar as pessoas a terem sucesso” (Floyd, 2018, p. 61), ela pode nos forne-
cer uma perspectiva diferente.
282
283
284
Assim, ser vulnerável, dizer “que seja feito”, como disse Maria, sig-
nifica ter risco, criatividade e incerteza como companheiros ao longo do
caminho. Desta forma, em meio à complexa realidade em que vivemos,
com nossas próprias capacidades e limitações, com as possibilidades e difi-
culdades de nossas instituições... assumimos liderar e servir. Ou seja, hoje
“que seja feito”, como Maria fez. Isso é ser vulnerável.
2. PROPÓSITO
Muitos de nós estamos familiarizados com os Maristas Azuis de
Aleppo. Sua história é a de um grupo de pessoas que realizava a missão
marista nesta cidade síria. Com a chegada da guerra ao país em 2011, mas
especialmente a partir de 2012, quando a batalha de Aleppo começou, eles
implantaram um enorme sistema de cuidados para pessoas que haviam sido
deslocadas de outras partes da cidade ou de outras cidades. Durante todos
esses anos, eles multiplicaram a ajuda que já estavam fornecendo. Os es-
paços comunitários se tornaram em várias ocasiões um grande centro de
285
Para fazer esta jornada, precisamos de uma liderança que nos ajude
a buscar um sentido, que nos permita ajudar os outros a crescer. De fato, “o
líder cresce ajudando outros a crescer” (Blanchard, 2012, p. 93). Descobrir
o potencial das pessoas e permitir que elas se desenvolvam ao máximo é
uma das melhores maneiras de cuidar daqueles que vivem e trabalham co-
nosco. É uma questão de oferecer ferramentas para que cada pessoa tenha
a capacidade de amadurecer em todas as suas dimensões: psicológica, social,
ocupacional, espiritual... Podemos chamá-lo “acompanhamento”.
286
287
3. TERNURA
Reconhecer-nos como vulneráveis - a nós mesmos e aos outros -
nos leva a nos considerar como necessitados de cuidados (Laguna, 2020).
Somos vulneráveis entre os vulneráveis. Se alguma vez tivemos a sensação
de sermos super-heróis perfeitos que fazem o melhor para ajudar aqueles
de status diferente (social, econômico, cultural...), nossa própria experiên-
288
cia nos faz sair deste sonho e passar para uma realidade na qual todos nós
precisamos uns dos outros. Neste sentido, “lembramos que ninguém é salvo
sozinho, que só é possível ser salvo juntos” (Papa Francisco, 2020, p. 33). Em
outras palavras, em vez de sermos autônomos, somos seres interdependen-
tes. O irmão Emili Turú colocou isso lindamente em sua carta para o ano
Montagne: “Trata-se antes de reconhecer que a missão deve ser realizada
em vulnerabilidade, em humildade, aberta para ser evangelizada por aqueles
que somos chamados a evangelizar” (Turú, 2015, p. 6).
289
CONCLUSÃO
Liderar no caminho de Maria na Anunciação é liderar a partir
da vulnerabilidade que vem de nos deixarmos tocar pela realidade, pelas
pessoas, e ousar dizer “sim”. Isto nos permite desenvolver a coragem de
viver com propósito e fazer essa caminhada para o essencial da vida. Ali, no
essencial, encontramos compaixão, ternura e interconexão.
290
REFERÊNCIAS
291
CAPÍTULO 18
Marcelino Champagnat,
um modelo de liderança
servidora
Ir. Benjamin Consigli,
Conselheiro-Geral
293
294
Liderança servidora
Enquanto a ideia de liderança de serviço remonta a pelo menos
dois mil anos atrás, o movimento de liderança servidora moderno foi lan-
çado por Robert K. Greenleaf em 1970 com a publicação de seu ensaio
clássico, The Servant as Leader. Foi nesse ensaio que ele cunhou as palavras “
líder servidor “ e “ liderança de serviço “. Greenleaf disse que “o líder- ser-
vidor é primeiro um servo “. Com isso ele quis dizer que o desejo de servir,
o “coração serviçal”, é uma característica fundamental de um líder servidor.
Não se refere a uma atitude servil, mas ao desejo de ajudar os outros. É
sobre identificar e atender as necessidades dos colegas e das comunidades.
Segundo Larry C. Spears, ex-presidente do Centro Robert K. Greenleaf
295
Escuta e empatia
Ele sabia como trazer humor a uma conversa para animar as coi-
sas... ele nunca se sentia incômodo entre os irmãos... (Laurent,
1842, p. 3)
296
O que vi com meus próprios olhos naquele novo posto, com re-
ferência à educação dos jovens, me lembrou as dificuldades que eu
mesmo havia experimentado na idade deles, por falta de professo-
res. Assim, rapidamente realizei o projeto que já tinha em mente
de criar uma associação de irmãos professores para os municípios
rurais, muitos dos quais, por falta de recursos financeiros, não po-
dem pagar os Irmãos das Escolas Cristãs.2
297
298
ele pegou uma folha de papel de sua mesa, pingou cera de selagem
e aplicou seu selo. Então ele escreveu uma única linha nela, assinou
a folha e me deu, dizendo-me para ter mais cuidado. O que con-
tinha essa linha? Aqui está escrito palavra por palavra: “Pagamento
de 1200 linhas”. (Green, 2007, pp. 91-92)
299
Fiquei muito feliz em ter notícias suas e saber que está com boa
saúde. Sei também que você tem muitas crianças em sua esco-
300
Parece que Denis está infeliz onde está e deve ter mencionado que
gostaria de ir para as missões. Marcelino entendeu que uma “mudança geo-
gráfica” não iria realmente resolver o que está incomodando Denis.Vemos
Marcelino ser claro, direto e ainda assim compassivo com Denis.
301
Sua posição em l’Hermitage talvez não seja tão invejável como al-
guns poderiam pensar. O que você poderia fazer a respeito, afinal?
Você não foi à procura desse cargo. Apenas tente cumprir bem seu
dever e Deus fará o que você não puder.8
Minha querida cunhada, aquele por quem você chora, e por quem
eu mesmo choro, se ele não lhe deixou muitos bens, deixou para
você e seus filhos o exemplo de uma vida verdadeiramente cristã,
e é por isso que eu gosto de lembrar que ele era meu irmão... Eu
nunca subo ao altar sem pensar nele. Será que vamos nos atrasar
muito em segui-lo até o túmulo?9
302
Você nunca deve duvidar do meu afeto por você. Eu nunca vou
uma única vez ao altar sagrado sem rezar por você. Deus, meu
querido filho, lhe concederá a perseverança da qual depende a sua
santificação.12
Como Irmão Basin, Irmão Avit tinha acabado de fazer sua pri-
meira profissão cinco meses antes e aparentemente tem algumas perguntas
sobre como nutrir e apoiar os votos, em particular “a virtude muito amável
(castidade)”. Marcelino compreende isso quando escreve:
303
Que Jesus e Maria sejam sempre o seu único recurso. Eles conhe-
cem bem o seu nome e as suas necessidades. Não obstante, não dei-
xe de falar-lhes sobre eles, e conte com sua poderosa ajuda...Você
não deve ter dúvidas do quanto eu desejo que Deus o abençoe e
tudo o que você faz, e que por sua causa Ele abençoe o estabele-
cimento onde você está e todos os irmãos que estão com você.14
304
salvação; ela está em boas mãos: Maria, não é ela o seu refúgio e sua
boa mãe? Quanto maiores forem suas necessidades, mais ela quer
se apressar para ajudá-lo.15
305
daquele momento, o Irmão Cassien teve que suportar uma longa crise in-
terior; primeiro ele descobriu que seus coirmãos não eram suficientemente
bons religiosos, e depois ele mesmo começou a questionar sua vocação para
a vida religiosa. Foi neste estado de espírito que ele escreveu a Marcelino,
culpando todos à sua volta por suas dificuldades. Marcelino responde com
uma carta muito comovente e simpática. Aqui está um trecho dessa carta:
Meu caro Irmão Cassien, não vou esconder de você a dor que
sua atitude me causa, pois simplesmente não consigo entendê-
-la. Não acredito, meu caro amigo, que tenha falhado de nenhu-
ma maneira com você: Tomei nota cuidadosamente das objeções
que você se sentiu obrigado a levantar comigo, e certamente não
pensei que estava zombando de você ao lhe enviar os dois irmãos
como fizemos. Você mesmo ficou satisfeito com eles... Quando a
atitude negativa do irmão Denis o perturbou, será que eu não fui
lá imediatamente para mudá-lo? ...Então, querido irmão, por que
você tem que ficar chateado? Se os membros da Sociedade de
Maria são demasiado imperfeitos para servirem de modelo para
você, caro Cassiano, então olhe para ela que pode ser o modelo do
perfeito e do imperfeito e que ama a todos eles: o perfeito porque
praticam a virtude e levam outros a fazer o bem, especialmente
em comunidade; e o imperfeito porque é especialmente por causa
deles que Maria foi elevada à sublime dignidade de Mãe de Deus.17
306
-lo do risco de andar por aí olhando para o céu... ele o havia visto
pisar inadvertidamente em uma pilha de argamassa. Em outra oca-
sião, ele lhe perguntou se as groselhas estavam maduras; ele o havia
visto comendo um pouco enquanto caminhava por um dos cami-
nhos. Estas observações, dadas com verdadeira bondade paternal,
mas armadas de um pequeno ponto afiado e penetrante, deixaram
memórias salutares e inesquecíveis.18
Cura
A cura das relações é uma poderosa força de transformação e in-
tegração. Uma das grandes forças da liderança servidora é o potencial para
curar a si mesmo e o relacionamento de cada um com os outros. Muitas
pessoas têm o espírito machucado e sofreram com uma variedade de gol-
pes emocionais. Embora isso seja parte da condição humana, os líderes ser-
viçais reconhecem que têm uma oportunidade de ajudar a tornar inteiros
aqueles com os quais entram em contato. Em seu ensaio, The Servant as
Leader, Greenleaf (1977/2002) escreve,
307
...não eram apenas para visitar os doentes, mas também para res-
tabelecer o contato com as famílias, para reconciliar seus
inimigos, para ajudar os pobres, para consolar os aflitos e
para trazer de volta aos seus deveres as pessoas que se distanciaram
e que já não falavam mais caridosamente de seu padre. Ele tinha
um dom natural para ganhar confiança e corrigir sem jamais ferir.
(Green, 2007, p. 34)
308
go! Sim, pode voltar a entrar. Você foi enganado; você agiu preci-
pitadamente; bem, entre e deixe que seja o fim de tudo. (Coste &
Lessard, 1985, III, doc 861.8)
309
Conscientização e autoconscientização
Para nós que estávamos no início, somos como as pedras brutas
que são jogadas nas fundações; para isso não se usam pedras polidas.21
310
311
beleza do meu corpo? Deus o fez e, em todo caso, é bem mal arru-
mado e eu não passo de uma pitada de pó. (Sester, 1990, pp. 77-79)
312
313
Toda vez que meu exame noturno me faz perceber que critiquei
alguém”, escreveu Marcelino, “vou me privar do café da manhã”.
...Toda vez que me dou conta de que fui culpado de uma men-
tira ou de qualquer exagero, direi o Miserere para pedir perdão a
Deus”. (Sester, 1990, pp. 89-91)
314
mão para servir como diretor de noviços, ele desejava ter alguns sacerdotes
(de preferência maristas de inclinação) para ajudar na formação espiritual
dos jovens em l’Hermitage e na administração financeira do Instituto. Nes-
te ponto da história do Instituto, Courveille e Terraillon tinham deixado
Marcelino e ele tinha que tratar sozinho de todas as questões. Marcelino
sabia que simplesmente não podia “fazer tudo isso a menos que eu tivesse
alguém para compartilhar o trabalho”. Ele procurou tanto o consolo quan-
to o conselho.
Persuasão
Os líderes servidores usam a persuasão - ao invés de sua autoridade
- para encorajar as pessoas a agir. Este elemento oferece uma das mais claras
distinções entre o modelo autoritário tradicional e o da liderança servidora.
Os líderes servidores visam a construir consenso em grupos, de modo que
todos apoiem as decisões.
315
316
317
que uma simples recomendação de sua parte seria da maior ajuda para nós
na presença de Sua Majestade.30
Essa mesma lógica pode ser vista em sua carta ao bispo De Bonald
de Le Puy, que acabara de ser nomeado arcebispo de Lyon em 4 de de-
zembro de 1839. Assim que Marcelino soube da nomeação de De Bonald,
apressou-se a compor uma carta para lhe enviar seus respeitos. Como o
Arcebispo estava em Paris nesta época, era uma boa ocasião para atualizá-lo
sobre os procedimentos com vistas a obter a autorização legal do Instituto
e para pedir-lhe que usasse sua influência para obter o que era necessário:
318
319
Seu amor por tudo o que diz respeito ao bem-estar público, que
é tão conhecido, e a proteção que o senhor estende àqueles que
querem promovê-lo, me levam a acreditar que o senhor enten-
derá a liberdade que estou tomando para lembrá-lo do pedido
dos Irmãozinhos de Maria, apontando-lhe as principais razões para
uma ação rápida sobre ele...O bispo Pompallier, a quem a augusta
família real se dignou mostrar sua bondade e a quem honrou com
as marcas mais lisonjeiras de sua boa vontade, e que partiu há mais
de um ano para levar a civilização francesa e as crenças francesas às
muitas ilhas da Oceania Ocidental, acaba de chegar a seu destino
com segurança.37
320
321
322
o suficiente para tomar banho... Posso ter transpirado de fato nas minhas
caminhadas, mas tenho o grato consolo de ter sempre chegado, com a ajuda
de Deus, a tempo de confortar os moribundos com os ritos da Igreja. Hoje,
nada me consola mais! (Furet,1989, p. 56).
Em sua carta à Madre São José, Superiora das Irmãs Maristas, Mar-
celino afirma que enviará três meninas para que ela comece sua forma-
ção. Embora não saibamos como Marcelino as conheceu, sabemos que ele
trabalhou de maneira constante para toda a Sociedade de Maria: para os
Padres (Furet, 1989, p. 199) e para as Irmãs, a quem enviou cerca de dez
meninas (Coste, et al., 1985).
323
Pretendo fazer uma pequena viagem para o sul. Espero ter a opor-
tunidade de vê-lo e falar com você sobre o estabelecimento que
você solicita. É verdade que não podemos fornecer irmãos este
ano por causa de nossa falta de pessoal, mas seu pedido está sendo
considerado e tentaremos atendê-lo o mais rápido possível.40
324
325
326
Estou cada vez mais atraído por este bom trabalho, que,
após exame atento, não se afasta do meu objetivo, uma vez que ele
se preocupa principalmente com a educação dos pobres47
327
328
329
330
...Então, querido irmão, por que você tem que ficar chateado?
Se os membros da Sociedade de Maria são demasiado imperfei-
tos para servirem de modelo para você, caro Cassiano, então olhe
para Aquela que pode ser o modelo do perfeito e do imperfeito
e que ama a todos eles: os perfeitos, porque praticam a virtude e
levam outros a fazer o bem, especialmente em comunidade; e os
imperfeitos, porque é especialmente por causa deles que Maria foi
elevada à sublime dignidade de Mãe de Deus.
331
332
333
334
Construindo laços
Essa competência consiste em trabalhar para construir ou
manter relações amigáveis, recíprocas e calorosas com as pessoas.
Construir vínculos significa desenvolver e manter bons relacionamentos,
como aqueles dentro de uma família. A pessoa que possui essa com-
petência nutre relacionamentos relacionados a atividades ou projetos e tem
uma rede ampla e informal de colegas.
335
De fato, uma das razões para sua aceitação pelos irmãos, para o res-
peito que lhe demonstraram, para a confiança que depositaram nele, é que
ele conquistou seu amor mostrando amor - construindo relações com eles.
336
“Diga a seus irmãos que os amo como a meus próprios filhos; que
penso neles com frequência e constantemente, rezo por eles”. E, a
uma comunidade pouco antes de visitá-los, “estou ansioso para ir
vê-los e poder abraçá-los aos dois...69
337
Foi desta forma que Marcelino foi capaz de forjar uma família
religiosa. Com os laços construídos, Marcelino e seus irmãos colaboraram
para proporcionar uma educação cristã aos pobres.
338
Conclusão
Concluímos onde começamos, com uma reflexão do Irmão Jean-
-Baptiste sobre Marcelino:
339
340
Escuta e Empatia
Cura
Conscientização e Autoconscientização
341
Persuasão
REFERÊNCIAS
342
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Notas
1 Atribuído a Marcelino Champagnat...por D. Maitrepierre - OM #537. Coste, J.
(S.M.), e Lessard, G. (S.M.). Origens Maristas (OM): Extraits Concernant les Frères Maristes.
Casa Generalizia dei Fratelli Maristi; Roma, Itália, 1985).
2 Carta à Rainha Marie-Amelie, 1835-05, PS 059
3 Carta ao Rei Louis-Philippe, 1834-01-28; PS 034
4 TESTEMUNHOS SOBRE MARCELLIN CHAMPAGNAT: TESTEMU-
NHOS MENORES (Extraído de, Irmão. Leonard Voegtle, FMS, Postulador Geral, “Teste-
munha da Beatificação de Marcelino Champagnat”), Irmão Callinique, página 7.
5 Carta ao irmão Barthélemy; Ampuis, Rhône; 1830-01-21; PS 014
6 Carta ao Irmão Barthélemy; Ampuis, Rhône; 1831-01-03; PS 019
7 Carta ao Padre Denis; St. Didier-sur-Rochefort, Loire; 1838-01-05, PS 168
8 Carta a François; Notre Dame de l’Hermitage; 1838-06-23; PS 197
9 Carta à Madame Marie Clermondon,Veuve Champagnat; Rozey, Marlhes, Loire;
1838-03-16; PS 180
10 Carta ao Irmão Théodoret; Ampuis, Rhône; 1838-08-12; PS 205
11 Carta a Un frère; 1839-07-20; PS 259
12 Carta ao Irmão Basin; Saint-Paul-en-Jarret, Loire; 1839-02-23; PS 244
13 Carta ao Padre Avit; Pélussin, Loire; 1839-03-10; PS 247
14 Carta ao Padre Anaclet; Saint-Didier-sur-Rochefort, Loire; 1839-03-23; PS 248
15 Carta ao Irmão Marie-Laurent, 8 de abril de 1839; PS 249
16 Carta ao Irmão Apollinaire, 4 de agosto de 1837, PS 126
17 Carta ao Irmão Cassien; Sorbiers, Loire; 1834; PS 042
18 Testemunhas sobre Marcelino Champagnat: Testemunhas menores (Extraído de,
Irmão Leonard Voegtle, FMS, Postulador Geral, “Testemunha da Beatificação de Marcelino
Champagnat”), Pe. Jean Jantin, SM, Testemunho, p. 18
19 Carta ao Irmão Dominique; Charlieu, Loire; 1834-11-23; PS 049
20 Carta ao Irmão Dominique; Charlieu, Loire; 1838-12-28; PS 234
21 Atribuído a Marcelino Champagnat...por P. MAYET - OM #438. (Coste, J.
(S.M.), e Lessard, G. (S.M.). Origens Maristas (OM): Extraits Concernant les Frères Maristes.
Casa Generalizia dei Fratelli Maristi; Roma, Itália, 1985).
22 TESTEMUNHOS SOBRE MARCELLIN CHAMPAGNAT: TESTEMU-
NHOS MENORES (Extraído de, Irmão Leonard Voegtle, FMS, Postulador Geral, “Teste-
munho da Beatificação de Marcelino Champagnat”), Irmão Aidan, Testemunhos, página 4.
23 Carta ao Padre Gardette, maio de 1827, PS 003. (O PS é entendido como “Car-
tas de Marcelino Champagnat”, extraídas de Letters of Marcellin Champagnat” Volume 1,
Textos, Editado pelo Irmão Paul Sester, Traduzido pelo Irmão Leonard Voegtle, Casa Gene-
ralizia Dei Fratelli Maristi, Roma, 1991).
24 Carta a Monsenhor Gaston de Pins, Administrateur apostolique de Lyon, Rhône;
1835 (Quaresma); PS 056
25 Carta ao Padre Philibert Gardette, maio de 1837, PS 003
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CAPÍTULO 19
Estilo marista de
liderança profética
e servidora: alguns
exemplos em nossa tradição
Ir. Michael Green
Província da Austrália
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mais colocar os pés nela. Importantes decisões precisavam ser por ele toma-
das. A liderança precisava ser exercida.
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Irmão Basílio tinha um plano estratégico? Para isso, talvez ele tives-
se alguns elementos rudimentares: certamente, ele tinha as Constituições ad
experimentum, redigidas pelo Capítulo, junto com vários outros documen-
tos capitulares, e prioridades indicadas. Eram publicações contemporâneas
esclarecedoras. Mas, o ponto de partida do Irmão Basílio não era impor
“roteiros de viagem” ou baixar decretos, mas sair ao encontro dos Irmãos,
escutá-los e compreender suas histórias existenciais. Em sua primeira Cir-
cular (ele escreveu catorze, algumas delas verdadeiras teses) identificou a
realidade: havia aspectos, ainda que fundamentais, concernentes à natureza
da vida consagrada e às prioridades do ministério que pareciam ser anacrô-
nicos. Eram respostas para outro tempo e outro lugar. Era preciso mudar.
Poder-se-ia dizer que não há tarefa mais complicada para um líder do que
liderar um grupo, de forma eficaz e coesa, por meio de uma mudança sig-
nificativa, para relativizar estruturas estabelecidas, mantendo todos coesos
em torno do essencial.
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mais de trinta por cento menos Irmãos do que quando ele havia tomado
as rédeas. Com nenhum Superior Geral havia acontecido algo semelhante;
mesmo no final dos generalatos dos Irmãos Théophane e Stratonique, em
que o número total havia aumentado.
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REFERÊNCIAS
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CAPÍTULO 20
A sabedoria ética e
espiritual na liderança
Ir. Luis Carlos Gutiérrez
Vigário-Geral
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Círculos virtuosos
Era de caráter... firme, entusiasmado...(Furet, J.B., p. 252)
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A liderança ética exige que cada pessoa esclareça o que lhe importa
na vida, o que é que a determina a tomar decisões sobre coisas que
estão ao seu alcance, e disso também dependerá a forma de se co-
municar. Dessa maneira, ela perceberá quais são seus valores prio-
ritários (hierarquia de valores) e como levará sua vida para alcançar
uma vida bem-sucedida que, a curto ou longo prazo, terá impacto
no bom desenvolvimento das capacidades operacionais das pessoas
que trabalham com ela (Sonnenfeld, 2021, pos. 208),
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1. O primeiro passo para ser um líder é ser uma boa pessoa.Você não pre-
cisa ser perfeito, apenas ser realmente humano. Sua pessoa, mais do que
sua posição, faz com que as decisões fundamentais, em última análise,
dependam de sua sensibilidade para com a humanidade, concretizada
em seu próximo.
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3. Você escolherá cuidar da vida dos outros, mesmo que isso envolva
correr riscos, e às vezes, arriscar sua vida pelo outro. “Sabíamos que
estávamos em grande perigo.”
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... quando passava pela escola, parava para falar com todos que via,
fossem professores, faxineiros ou trabalhadores, para lhes dizer o
quanto ele se sentia feliz em vê-los. Fazia as pessoas se sentirem à
vontade consigo mesmas. Ele nunca viu a presidência como algo
que lhe dava superioridade sobre os outros, mas como uma opor-
tunidade de servi-los. Ele era um homem muito sensível que se
importava com as pessoas e que mostrava muita compaixão pelo
bem-estar de todos. Não podíamos deixar de sentir que estávamos
na presença de alguém muito espiritual, porque fazia todos se sen-
tirem bem e especiais. (Walton, 2020, p. 1)
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em nossas mãos agir para buscar o que Deus nos pede. Não há progres-
so na verdadeira liberdade e responsabilidade sem esse discernimento
de nossos pensamentos, dos “espíritos” ou das intuições que nos guiam
nas decisões. Se fizermos isso bem, uma atitude profética germinará,
intimamente ligada ao Reino: a profecia da compaixão, a profecia de
construir pontes, a profecia da fraternidade e da amizade social. Com
nossa liderança, além das urgências específicas, buscamos sonhar com
um futuro melhor para todos, sabendo separar o trigo do joio, e dis-
tinguir os sinais dos tempos. Somos convidados a ser líderes capazes de
mobilizar-nos, de cuidar, de tocar o coração e a mente das pessoas, de
“suplicar” por mudanças. “Significa assumir o presente na sua situação
mais marginal e angustiante e ser capaz de ungi-lo de dignidade” (FT,
188). Significa ter uma bússola moral e ética em mãos. Lembrando o
XXII Capítulo Geral (2017), as grandes e permanentes questões que
acompanham esse discernimento serão: O que Deus quer que sejamos e o
que Ele quer que façamos neste mundo emergente?
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Um teste da verdade
Ao final dessa reflexão sobre ética e espiritualidade, gostaria de
destacar as perguntas que Greenleaf (1970/2021) levanta na definição de
liderança de serviço. Sugiro que as deixe ressoar várias vezes dentro de você,
porque sua densidade é fundamental para entender se você está acertando
ou não no seu caminho:
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mais saudáveis
mais sábias
mais livres
mais autônomas,
mais propensas a se tornarem servidoras?
E qual é o efeito sobre as menos privilegiadas na sociedade?
Elas se beneficiarão ou, pelo menos, não serão mais prejudicadas?
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SIGLAS
AR Água da Rocha
C Constituições dos Irmãos Maristas das Escolas
FT Fratelli Tutti
RV Regra da Vida dos Irmãos Maristas
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PARTE V
PERSPECTIVAS DE
FORMAÇÃO
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CAPÍTULO 21
Formação e formação
permanente para um
mundo emergente
Ir. Chano Guzmán Moriana
Delegado da Missão da Província de
Mediterrânea (2016-2022)
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Esta história ainda é lembrada hoje, não menos importante por seu final
irônico. De onde era o mapa que ajudou os soldados a saírem dos Alpes?
Não era um mapa dos Alpes, mas dos Pirineus; eles só se deram conta disso
uma vez que estavam seguros.
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Introdução
Todos os nossos documentos maristas estão repletos de referências
à importância da formação, um dos pilares sobre os quais se constrói o
presente e o futuro de nossa vida e missão como Maristas de Champagnat.
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I. Que formação?
Há muitos estudos que tentam analisar como o mercado de traba-
lho irá evoluir nos próximos anos, e há uma proliferação de listas de habi-
lidades que serão necessárias neste mercado, agora chamado de pós-Covid,
devido à influência óbvia da pandemia sobre ele. O Informe sobre o Futuro
dos Empregos do Fórum Econômico Mundial (2018), apresenta os resulta-
dos de seu estudo, destacando toda uma gama de habilidades pessoais que
devem ser promovidas, nos próximos anos, a fim de responder às exigências
do mercado de trabalho. Elas são as seguintes:
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Diversos formatos
O tempo de confinamento, que vivemos no último ano, nos obri-
gou a procurar soluções criativas em todos os nossos trabalhos educacio-
nais que, de um dia para o outro, tiveram que ser fechados para evitar a
proliferação de contágios. E o mesmo aconteceu com uma infinidade de
ações formativas e outros tipos de projetos em toda a geografia marista, que
foram obrigados a ser adiados ou cancelados por razões óbvias.
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E isso nos lembra que hoje, mais do que nunca, devemos aprender
com o que aconteceu, ... valorizando a inteligência coletiva das organiza-
ções ... para criar, através da aprendizagem e do conhecimento, uma nova
realidade.
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Referências
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Notas
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CAPÍTULO 22
A educação superior
marista na perspectiva
do serviço
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1. Introdução
Na obra A Tempestade, de Shakespeare (2002), as palavras são profe-
ridas por Próspero, no capítulo X. Ele está preso. Miranda, sua filha, e Fer-
nando, filho do Rei de Nápoles, então conversam com ele. Recorda-nos
que somos feitos do mesmo material usado para tecer nossos sonhos; somos
o que sonhamos ser. A identidade é definida mais pelos nossos projetos do
que por nossas realizações, mais pelos sonhos do que pela nossa realidade.
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3. Contexto de incerteza
O início deste século trouxe uma velha aspiração - aquela de que
os complexos problemas que assolam a humanidade podem ser resolvidos
por meio da educação, de modo especial, pelas instituições de educação
superior (Teixeira & Audy, 2006, p. 102).Vivemos um período de transição
e, de certo modo, segundo Emmanuel Wallerstein (2001), trata-se também
de um tempo de perturbação e incertezas, que exigirá muita criatividade
em prol da construção de uma boa sociedade.
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O livro A última grande lição, de Mitch Albom (1998), trata dos úl-
timos dias do Professor Morris Schwartz e traz algumas importantes lições
para todos os mestres. É bem verdade o que ele diz, observando alguns
de seus alunos: “Tanta gente anda de um lado para outro levando vidas
sem sentido. Parecem semiadormecidas, mesmo quando ocupadas em coi-
sas que julgam importantes. Isso acontece porque estão correndo atrás do
objetivo errado” (Albom, 1998, p. 42). E complementa: “É tudo o mesmo
problema... Colocamos os nossos valores em coisas erradas. Isso leva a uma
vida de desilusões” (Albom, 1998, p. 101). E lastima “Não importa onde
vivamos, o maior problema dos seres humanos é a miopia intelectual. Não
enxergamos o que podemos ser. Devíamos atentar para o nosso potencial e
nos esforçar para alcançar tudo o que podemos ser” (Albom, 1998, p. 126).
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REFERÊNCIAS
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