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FRATURAMENTO DINÂMICO DE ROCHAS POR EXPLOSÃO PELO

MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS ESTENDIDOS (XFEM)

Bendezu, Marko A. L.
Romanel, Celso
Roehl, Deane M.
markini@tecgraf.puc-rio.br
romanel@puc-rio.br
deane@tecgraf.puc-rio.br
Departamento de Engenharia Civil e Instituto Tecgraf, Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea, 3527-1188, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Resumo. O estudo de iniciação e propagação de fraturas em rochas devido à energia gerada
por explosões é de grande importância na engenharia, pois procura-se obter um plano de
fogo que produza um desmonte eficiente, seguro e econômico do material. Uma das técnicas
utilizadas para simulação deste processo pelo método dos elementos finitos consiste em
acompanhar a evolução de fraturas no tempo, com atualizações frequentes da malha de
elementos, o que torna as análises demoradas e complexas, com perda de precisão numérica
no processo de atualização dos valores calculados em pontos da malha antiga para os pontos
correspondentes da malha nova. O método dos elementos finitos estendidos (XFEM) permite
a incorporação de enriquecimentos locais, i.e. de um conjunto de funções de interpolação
enriquecidas que fornecem valores das variáveis de interesse (deslocamentos, tensões) com
maior precisão e eficiência computacional. Além disso, é importante ressaltar, que a
presença da fratura, e sua propagação no tempo através da rocha, não é geometricamente
modelada e a malha de elementos não precisa ser constantemente atualizada. Neste trabalho,
o método XFEM foi aplicado para representação do fenômeno do faturamento de rochas,
considerando o modelo constitutivo de zona coesiva para cálculo das deformações junto à
ponta da fratura. O carregamento dinâmico foi aplicado em um furo inicial feito no maciço
rochoso sob forma de pulso transiente de grande intensidade e curta duração, característico
de explosões, analisando-se pelo método dos elementos finitos estendidos a propagação das
fraturas na rocha e o consequente desmonte de blocos.
Palavras chave: método dos elementos estendidos, modelo de zona coesiva, análise dinâmica,
explosão em rocha.

CILAMCE 2013
Proceedings of the XXXIV Iberian Latin-American Congress on Computational Methods in Engineering
Z.J.G.N Del Prado (Editor), ABMEC, Pirenópolis, GO, Brazil, November 10-13, 2013
Fraturamento Dinâmico de Rochas por Explosão por XFEM

1 INTRODUÇÃO

Quando explosivos são usados para desmonte de rocha a fogo, a técnica mais comum é
perfurar a rocha e colocar explosivos no interior dos furos. Na detonação, a pequena massa de
explosivo químico é transformada em um grande volume de gás, com geração de altas
pressões e um grande aumento de temperatura. O resultado da detonação provoca o
fraturamento dinâmico da rocha pela interação de ondas de choque e da pressurização do gás
no interior dos furos e das fraturas à medida que estas se desenvolvem. O desmonte de rocha
é afetado pelas propriedades do maciço rochoso, pelas condições de carregamento e pela
geometria do problema, tais como a existência de bordas livres e descontinuidades.
A maioria dos modelos para previsão de desmonte em rocha é baseada em formulações
empíricas, dada à grande complexidade do problema. Os pesquisadores ainda hoje discutem
diferentes hipóteses para explicar os mecanismos fundamentais responsáveis pelo
fraturamento, apesar dos enormes esforços de pesquisas experimentais, teóricas e numéricas
feitas nos últimas cinco décadas para melhor entender o fenômeno.
Os rápidos avanços nos métodos de modelagem numérica e da atual disponibilidade de
recursos computacionais poderosos a um custo acessível fazem da simulação computacional a
ferramenta mais promissora para estudar os processos dinâmicos de fraturamento de rocha.
Uma dos métodos mais utilizados para simulação deste processo é o método dos elementos
finitos, que acompanha no tempo a evolução das fraturas, com atualizações frequentes da
malha de elementos para representar a nova geometria do material recém-fraturado. Esta
metodologia convencional, além de ser computacionalmente demorada e complexa pela
necessidade da reconstrução constante de malhas, também resulta na perda de precisão
numérica quando as variáveis de interesse (tensões, deslocamentos) são mapeadas e
interpoladas da malha antiga para os pontos de Gauss e pontos nodais da nova malha.
O método dos elementos finitos estendidos (Extended Finite Element Method - XFEM)
permite a incorporação de enriquecimentos locais, i.e. de um conjunto de funções de
interpolação enriquecidas que fornecem valores das variáveis de interesse com maior precisão
e eficiência computacional. Além disso, é importante ressaltar que a presença da fratura, e sua
propagação no tempo através do maciço rochoso, não é geometricamente modelada e a malha
de elementos não precisa ser atualizada, como nas aplicações tradicionais do método dos
elementos finitos neste tipo de problema.
No método convencional dos elementos finitos a descontinuidade é representada
geometricamente na malha de elementos finitos e um modelo constitutivo específico, bem
como elementos de interface, são utilizados para simulação da fratura (Figura 1a), enquanto
que no método dos elementos finitos estendidos não há necessidade da representação
geométrica da descontinuidade, com um único modelo constitutivo suficiente para
representação do comportamento mecânico do problema (Figura 1b).
O método dos elementos finitos estendido foi aqui aplicado para simular o faturamento
dinâmico de rochas por explosão, utilizando o modelo constitutivo de zona coesiva para
simular a propagação de fraturas através da rocha.

2 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS ESTENDIDOS (XFEM)

O método dos elementos finitos estendidos (XFEM) foi introduzido pelos pesquisadores
Belytschko et al. (1999) e Moes et al. (1999). No caso de elementos para simulação de
descontinuidades (fraturas), funções de forma adicionais são utilizadas para enriquecer o
elemento finito e melhorar a representação do campo de deslocamentos.

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Modelo constitutivo A, Único modelo constitutivo,


da parte contínua válido tanto para a parte contínua
como para a interface descontínua



Modelo constitutivo B,
(a) da interface descontínua (b)
Figura 1. Modelagem numérica de descontinuidades: a) abordagem discreta b) abordagem continua.

2.1 Campo de deslocamentos enriquecidos


As funções enriquecidas consistem tipicamente de funções assintóticas para capturar a
singularidade ao redor da ponta da fratura e uma função de descontinuidade que represente o
comportamento do campo de deslocamentos através das superfícies da fratura. A aproximação
do campo de deslocamentos pode ser matematicamente expressa como:
N
 4

u   N i ( x) u i  H ( x)ai   F ( x)bi  (1)
i 1   1 
onde Ni(x) são as funções de interpolação convencionais do método dos elementos finitos
associadas aos graus de liberdade nodais ui, H(x) a função de descontinuidade através das
superfícies da fratura associadas aos graus de liberdade nodais enriquecidos ai, F(x) as
funções assintóticas ao redor da ponta da fratura associadas aos graus de liberdade nodais
enriquecidos bi.
Na simulação da propagação da fratura algumas restrições são impostas: a singularidade
na ponta da fratura não é considerada, i.e. F(x) = 0, e a fratura propaga-se totalmente através
do elemento finito, utilizando a técnica dos nós fantasmas, e o modelo constitutivo da zona
coesiva.
A técnica dos nós fantasmas foi proposta por Song et al. (2006) para representação de
descontinuidade em elementos finitos, consistindo na subdivisão de elementos e introdução de
nós fantasmas adicionais para modificar o processo de quadratura da matriz de rigidez.
Quando um elemento finito é cortado por uma fratura (Fig. 2) o mesmo é subdividido em dois
outros elementos formados por nós reais e nós fantasmas. Para obter um conjunto de funções
de interpolação para estes elementos, a parte real Ω0 é estendida para o domínio fantasma Ωp
e os deslocamentos no domínio real são interpolados utilizando os graus de liberdade reais e
fantasmas. A descontinuidade do campo de deslocamentos através da fratura é obtida
considerando-se a quadratura da matriz de rigidez apenas na área real de cada elemento, entre
a fratura e os nós reais (Ω0+ e Ω0-). Este método constitui uma abordagem eficaz e atraente
para simulação numérica de descontinuidades, tendo sido utilizado para a simulação da
iniciação e crescimento de múltiplas fraturas por Song et al. (2006) e Remmers (2008), entre
outros. Demonstrou-se também que os resultados obtidos tem pouca dependência da malha de
elementos finitos se esta for suficientemente refinada.
A vantagem deste procedimento é que o elemento descontínuo é substituído por dois
elementos com nós fantasmas conservando as mesmas funções de interpolação dos elementos
intactos não cortados por fraturas, facilitando a implementação computacional desta técnica
em programas computacionais de elementos finitos já existentes.

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Ωp+
Ω0 Ω0+

trinca
Ω0‐
Ωp ‐
nós reais
nós reais
elemento 1 elemento 2
nós fantasmas
nós fantasmas

Figura 2. Elemento finito é subdividido com utilização de nós fantasmas.


Para localização da fratura e o acompanhamento de sua propagação no tempo é utilizada
a técnica level-set, consistindo de duas funções Ф e Ψ (Fig. 3). A função Ф descreve a
trajetória de propagação da fratura e a função Ψ descreve uma superfície ortogonal que
localiza a ponta da fratura. Deve ser novamente lembrada que não é necessária a
representação geométrica da fratura por elementos especiais sendo a mesma inteiramente
definidos com base nos valores nodais dos elementos.

(a) (b) (c)


Figura 3. (a) Domínio  parcialmente cortado por uma fratura; (b) função level-set Ф descreve a
trajetória de propagação da fratura; (c) função level-set Ψ localiza a ponta da fratura.

2.2 Modelo constitutivo


Na análise numérica da propagação de fraturas é necessário adotar-se um modelo
constitutivo específico para a região próxima à ponta da fratura. Barenblatt (1959) e Dugdale
(1960) propuseram o modelo de zona coesiva para representação do comportamento de
materiais frágeis e dúcteis (Fig. 4), respectivamente, incluindo forças de coesão na região
típica do fraturamento. Barenblatt (op.cit.) assumiu que tais forças decrescem suavemente
(Fig. 5) enquanto que no modelo de Dugdale (op.cit.) estas forças se mantém constantes,
representando comportamento de um material elasto-perfeitamente plástico.
Nas últimas décadas várias versões do modelo de zona coesiva foram propostas na
literatura. A principal diferença entre elas se refere à forma da resposta tração versus
deslocamento e as constantes usadas para descrição do modelo. Os modelos bilineares de
zona coesiva podem ser descritos por dois parâmetros independentes, a energia coesiva GIC, a
resistência coesiva max ou a distância de separação das superfícies da fratura δsep. Em geral, a
energia coesiva é obtida a partir de ensaios de laboratório, sendo considerada equivalente à
energia de fraturamento. O modelo da zona coesiva é ativado por meio de um elemento
quando um critério de descoesão é atendido, p. ex., um critério de dano. Na Fig.6 o conceito
esquemático do modelo de zona coesiva com amolecimento é ilustrado.

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Figura 4. Comportamento do material: (a) frágil; e (b) dúctil.

Figura 5. Modelo de zona coesiva de Barenblatt (1959).


max elástico plástico

GI
C
δ
δd δsep
Figura 6. Modelo de zona coesiva bilinear com amolecimento.

3 SIMULAÇÃO NUMÉRICA

3.1 Tamanho máximo do elemento finito


Um dos aspectos da análise dinâmica por elementos finitos que requer cuidadoso
controle é a escolha do tamanho do elemento finito, principalmente nos casos em que efeitos
de altas frequências são importantes. Kuhlemeyer & Lysmer (1973) concluíram que o
tamanho do elemento na direção de propagação de onda tem grande influência nos resultados
da análise. Aqueles autores propuseram uma regra empírica pela qual o tamanho máximo do
elemento finito, para uma transmissão eficiente da onda através do domínio do problema,
deve ser igual ou menor do que um décimo a um oitavo do comprimento de onda mínimo
presente no problema analisado.
 
l  a (2)
10 8

onde λ é o comprimento de onda associado à frequência de onda máxima (frequência de


corte).

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3.2 Condições de contorno


Na análise de problemas de dinâmica pelo método dos elementos finitos requer-se
cuidados especiais para a representação de um semi-espaço através de um modelo com
tamanho finito, pois é essencial assegurar que a radiação de energia para o infinito seja
satisfeita. A introdução de contornos especiais, chamados de contornos silenciosos (silent
boundaries), é providência fundamental na simulação numérica de problemas dinâmicos. Para
isso, há várias técnicas propostas na literatura como a utilização de contornos de transmissão
imperfeita, contornos de transmissão perfeita, utilização de elementos infinitos, métodos
híbridos associando o método dos elementos finitos com o método dos elementos de contorno
ou combinando o método dos elementos finitos com soluções analíticas, etc.
Uma das técnicas mais populares é o uso de contornos de transmissão imperfeita
introduzido por Lysmer & Kuhlemeyer (1969). Esta técnica é baseada na consideração de que
contornos silenciosos podem ser representados por meio de uma superfície convexa conectada
a uma série de amortecedores viscosos cujas características são função das propriedades
elásticas do material (Fig. 7).
A grande vantagem deste esquema é que pode ser facilmente implementado em
programas computacionais operando tanto no domínio do tempo quanto no da frequência.
Amortecedores viscosos são adequados para absorção de ondas de corpo P e SV mas
funcionam de forma aproximada e imperfeita (daí a denominação de contornos de transmissão
imperfeita) no caso de ondas de superfície (ondas R), situação onde as constantes de
amortecimento variam com a frequência da excitação.
Outra técnica bastante versátil para análise de problemas envolvendo um semi-espaço é a
utilização de elementos infinitos. Elementos finitos e infinitos podem ser empregados
conjuntamente, sem a necessidade de esquemas numéricos especiais, pois satisfazem às
mesmas condições gerais (discretização do contínuo, escolha das funções de interpolação,
minimização do erro através de princípios variacionais ou por resíduos ponderados, solução
de um sistema de equações algébricas, etc.) preservando a flexibilidade do método
convencional dos elementos finitos.

Fonte excitante

Onda de tensão

Figura 7. Contornos de transmissão imperfeita.

3.3 Exemplo de validação


O primeiro passo antes de simulação do faturamento dinâmico de rocha, é verificar a
confiabilidade da modelagem implementada através da comparação de soluções analíticas
com resultados calculados numericamente.
Uma solução analítica publicada na literatura foi desenvolvida por Eason (1973)
relacionada com a propagação de ondas geradas em uma cavidade cilíndrica no interior de um

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semi-espaço linearmente elástico e isotrópico. A simulação numérica do problema consistiu


de um modelo 2-D, no estado plano de deformação, com a aplicação de uma pressão
constante Q na parede da cavidade cilíndrica (Fig. 8). O raio do furo cilíndrico é de 0,05m e o
raio da malha circular de elementos é de 5m, constituída por um total de 10.224 elementos
quadrilaterais de 4 nós. A rocha é representada por material elástico linear com razão entre os
parâmetros de Lamé = G/λ = 1/3.
A Fig. 9 ilustra a evolução da tensão radial r e da tensão tangencial  em relação a um
tempo normalizado (τ’=[τ-(r-a)]/a) onde r é a distância radial a partir do centro do furo e a o
raio do furo. As curvas mostradas na figura, representando as soluções analítica e numérica,
estão bastante próximas entre si, validando esta modelagem que combina elementos finitos
convencionais e elementos infinitos.

elementos 
rocha infinitos

furo
p(t) re

2ri

elementos 
padrões
Contorno infinito
(a) (b)
Figura 8. (a) Geometria do modelo; (b) malha de elementos finitos
com elementos convencionais (em amarelo) e infinitos (em laranja).

(σθ/Q)∙(r/a)½ ‐(σr/Q)∙(r/a)½
0.80 1.00

0.60  Eason
0.80
 MEF
0.40
0.60
0.20
0.40
0.00
 Eason
0.20
‐0.20
 MEF
‐0.40 0.00
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0
τ' τ'

Figura 9. Variação de σr e σθ com τ’ para ponto situado à distância normalizada r/a = 2.

3.4 Maciço de rocha com uma face livre e um furo de detonação


Na prática, a fragmentação de rochas por explosão é realizada próxima de contornos
livres (interface rocha / ar) para aumentar os efeitos da reflexão de ondas no contorno sobre o
fraturamento do material. Por esta razão, é analisado a seguir o comportamento mecânico de
um modelo de maciço rochoso delimitado por uma face livre (Fig. 10) sob carregamento
dinâmico provocado por um furo de detonação de 0,1m de diâmetro e situado a 1m de

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distância do contorno livre. A discretização é constituída por elementos quadrilaterais de 4


nós, sendo 6.768 elementos finitos e 180 elementos infinitos.
A rocha que constitui o maciço é granito isotrópico e homogêneo, com parâmetros
listados na Tabela 1. A iniciação da fratura teve como critério o valor da tensão principal
máxima e a propagação da fratura no maciço foi simulada com a incorporação do modelo
constitutivo da zona coesiva bilinear com amolecimento.
Contorno infinito
rocha
6m

4m 0.1m

furo

1m (b)
(a)
Face livre
Figura 10. (a) Geometria do modelo; (b) malha de elementos finitos e infinitos empregada.

Tabela 1: Parâmetros do maciço rochoso

Parâmetro Valor
Velocidade da onda P, Cp (m/s) 5000
Velocidade da onda S, Cs (m/s) 2890
3
Massa especifica, ρ (kg/m ) 2700
Coeficiente de Poisson, ν 0.25
Modulo de elasticidade, E (GPa) 56.4
Energia da fratura, G f (Pa·m) 300
Resistência à compressão máxima, σc (MPa) 75
Resistência à tração máxima, σt (MPa) 5

Sharpe (1942) e Duvall (1953) apresentaram uma expressão analítica muito utilizada na
literatura para descrever a variação da pressão na parede do furo com o tempo de detonação.
A forma geral do pulso aplicado à parede do furo é dada por

P  P0· e  t  e   t  (3)

onde P é a pressão de detonação no furo no tempo t, P0 indica o valor da pressão de pico,  e


são constantes de decaimento, positivas, relacionadas com a forma dos pulsos de tensão e de
deformação radiais à medida que a onda de tensão se propaga no tempo e no espaço. Estas
constantes influenciam tanto a atenuação da amplitude quanto a dispersão da forma de onda.
Estimativas das constantes de decaimento para vários tipos de rocha foram feitas por diversos
pesquisadores (Starfield, 1966; Starfield & Pugliese, 1968; Aimone, 1982; dentre outros),
ajustando-se os valores previstos de deformação elástica no modelo de Duvall (1953) aos
medidos nas detonações de campo.

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Para gerar várias pressões e representar as fases de subida e decaimento, duas constantes
são definidas:   1 / ( e0 t0  e0  t0 ) e t0  (1 / (  /  )) log(  /  ) , com a Eq. (3) sendo reescrita
como:

P  P0· · e  t  e   t  (4)

A Eq. (4) foi usada por Cho & Kaneko (2004) para estudar a influencia das fases de
subida e decaimento no processo de fratura dinâmica de um maciço rochoso. A Fig. 11 mostra
as formas dos pulsos de pressão aplicados na parede do furo, gerados pela detonação de
explosivos ANFO, considerando a razão das constantes de decaimento β/α=1,5 e 100 (Fig.
11a) e tempos t0 para atingir a pressão de pico iguais a 10, 100, 500 e 1000 s (Fig. 11b). O
valor da pressão de pico de 100 MPa é mantido constante.
De um ponto de vista prático, um pulso curto tem uma maior amplitude do que um pulso
extenso. No entanto, ao comparar os processos de fratura para diferentes taxas de
tensão/carregamento é necessário ter em conta o mesmo pico de tensão induzida para todas as
análises.
Dois cenários de fragmentação da rocha por explosão foram considerados. No primeiro
cenário foi analisado o comportamento de um furo sem fissuras preexistentes, enquanto que
no segundo foram admitidas 8 fissuras preexistentes, com comprimento inicial a0/3 = 1,7 mm,
caso estudado anteriormente por Lima (2001) com o método convencional dos elementos
finitos.
p(t) [MPa]
1.20
p(t)/p 0 120
β/α = 1.5
1.00
β/α = 100 100

0.80 80

0.60 60
t10 ‐ t0 [ms]
0 = 10 s
0.40 40 t100 ‐ t0 [ms]
0 = 100 s

t500 ‐ t0 [ms]
0 = 500 s

0.20 20 0 = 1000 s
t1000 ‐ t0 [ms]

0.00 0
0 10 20 30 40 50 0 500 1000 1500 2000
t/t0 t [s]

Figura 11. Curvas da variação do pulso gerado pela detonação na parede do furo para:
(a) β/α = 1.5 e 100; (b) β/α = 1.5 e tempos de pico t0 = 10, 100, 500 e 1000 s.
Para o caso de fissuras preexistentes, estas foram consideradas igualmente distanciadas
entre si ao longo do perímetro do furo de detonação. Não há indicações claras na literatura
sobre o número de fraturas radiais principais que se desenvolvem em torno de um furo de
detonação, embora evidências experimentais com explosivos de alta energia indiquem de 8 a
12 fraturas radiais principais (Ghosh & Daemen, 1995), enquanto que estudos numéricos
(Song & Kim, 1995) sugiram o desenvolvimento de 10 a 12 fraturas dominantes.
A Fig. 12 mostra o campo de deslocamentos no caso do furo sem fissuras preexistentes
para a razão das constantes de decaimento β/α=1,5. O padrão das fraturas é aleatório neste
cenário para todas as análises, com algumas das fraturas mudando muito a direção de
propagação. Verifica-se também a influência do tempo t0 para atingir a pressão de pico de
100 MPa, pois quanto maior o seu valor também maiores são os deslocamentos e tensões
resultantes (caso d).

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A Fig. 13 mostra campo de deslocamentos no caso do furo com oito fissuras


preexistentes para tempo de decaimento β/α=1,5. Neste cenário, a propagação das fraturas
segue a direção das fissuras preexistentes, exceto após o término do pulso transiente nos casos
(a) e (b). Também se observou que para o caso (d) os deslocamentos na face livre geram um
desmonte de rocha apreciável.
A Fig. 14 mostra a distribuição da tensão principal máxima para o cenário com fissuras
preexistentes (β/α=1,5 e t0 =1000 s) no instante t=2000 s, quando o desmonte da rocha já é
um fato mas ainda continua o crescimento das demais fraturas. Nesta figura também podem
ser observada as zonas com tensão de compressão na rocha, assim como a alta concentração
de tensões nas proximidades das pontas das fraturas. São 4 as fraturas, com direção
fortemente radial. As fraturas tendem a modificar as direções de propagação à medida que o
desmonte de rocha acontece.

4 CONCLUSÕES

Neste trabalho o método dos elementos estendido (XFEM) foi empregado para análise do
fraturamento de maciços rochosos por explosão (desmonte de rochas). O conceito do método
foi brevemente explicado, no qual se agregam funções de enriquecimento nos elementos
finitos cortados pela fratura para melhor representar os campos de deslocamentos através das
superfícies da fratura (descontinuidade) e nas proximidades da ponta da fratura (região de alta
concentração de tensões). A vantagem do XFEM é que o elemento descontínuo é substituído
por dois elementos com nós fantasmas, conservando as mesmas funções de interpolação dos
elementos intactos não cortados por fraturas, facilitando assim a implementação
computacional desta técnica nos programas de elementos finitos já existentes.
Adicionalmente, a geometria da fratura também não é fisicamente modelada, sem a
necessidade de constantes e ineficientes atualizações de malha. Um exemplo de aplicação
para o caso de desmonte de rochas foi apresentado, evidenciando a potencialidade deste
método para simulação deste complexo problema dinâmico, com resultados bastante
satisfatórios, tanto em tempo de simulação computacional quanto em comparação com
resultados numéricos gerados pela aplicação do método convencional dos elementos finitos.

AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Tecgraf/PUC-Rio e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) por ter possibilitado a realização desta pesquisa.

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200s 200s

400s 400s

600s 600s

(a) (b)
200s 200s

600s 600s

1200s 2000s

(c) (d)
Figura 12. Campo de deslocamentos gerado pela propagação de ondas geradas em furo de detonação sem
fissuras preexistentes para β/α=1.5: (a) t0=10 s; (b) t0=100 s; (c) t0=500 s e (d) t0=1000 s.

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200s 200s

400s 400s

600s 600s

(a) (b)
200s 200s

600s 600s

1200s 2000s

(c) (d)
Figura 13. Campo de deslocamentos gerado pela propagação de ondas geradas em furo de detonação com
oito fissuras preexistentes para β/α=1.5: (a) t0=10 s; (b) t0=100 s; (c) t0=500 s e (d) t0=1000 s.

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Proceedings of the XXXIV Iberian Latin-American Congress on Computational Methods in Engineering
Z.J.G.N Del Prado (Editor), ABMEC, Pirenópolis, GO, Brazil, November 10-13, 2013
Bendezu, Marko A. L.; Romanel, Celso; Roehl, Deane M.

Figura 14. Furo de detonação com 8 fissuras preexistentes no tempo t=2000 s ilustrando a distribuição
da tensão principal máxima para β/α=1.5 e t0=1000 s.

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