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Etimologia
Portanto, o presente estudo pretende esclarecer dois pontos que temos por fundamentais:
a prática de ouvir a voz de Deus e falar por Ele e a função daqueles que são convocados
para falar por Ele. Trata-se da dinâmica oracular judaica.
Em hebraico o termo usado para designar profeta é nãbî, e o mesmo pode ser traduzido
por porta-voz ou orador. Quanto a sua origem, existem quatro teorias diferentes, sendo a
primeira de origem árabe naba’a que significa “anuciar”, a segunda é que venha do
verbo hebraico nãbã que significa “borbulhar” o mesmo que dizer “extravasar
palavras”, a terceira é que tenha raiz acadiana nabû significando “chamar” e a ultima é
que o termo vem de uma raiz desconhecida.
Em certas ocasiões e contexto israelita, o profeta era chamado de rō’eh que significa
“vidente”, por considerar que através de visões e sonhos ele consegue ver coisas
divinas. Para além destes dois termos, existe um outro, hōzeh usado como sinonimo de
rō’eh, como vem em I Cr 29:29. Entretanto importa notar que há uma distinção entre o
primeiro em relação com os dois últimos pelo étimo destes. Enquanto nãbî está
vinculado à ideia geral de um intermediário ou porta-voz de Deus, os termos rō’eh e
hōzeh estão vinculados à forma como o profeta (nãbî) recebe a mensagem de Deus, ou
seja, se é por meio de visão ou sonho.
Outro termo utilizado para referir ao profeta embora num contexto meio diferente do
que já se viu é mal’ãk. Em II Cr 36:15, é traduzido por mensageiro, porem mais do que
um mensageiro, mal’ãk servia como representante daquele que o enviou, para além de
que melã’kim traduz-se por humanos e sobrenaturais. Em outros textos mal’ãk traduz a
ideia de um anjo com a função dos demais anjos, enviar mensagens boas ou de ameaca,
segundo Gn 16:10-13 e Jz 5:23 respetivamente. Outra particularidade do mal’ãk residia
no aspecto de que ele era o único anjo que poderia interceder a “Deus em favor dos
homens (Zc1.12; 3.1-5).
Na antiga Grécia usava se o termo μα/ντιϕ para referir o profeta. O sentido desta palavra
está ligado à “arte de predizer o futuro”. Já na tradução do hebraico ao grego a que se
chamou de Septuaginta, o termo nãbî foi traduzido por prophêtes (προφητηϕ). Já para o
português presume-se que traduziu o termo προφητηϕ desde o prefixo προ (pro), que
significa “ante”, “para a frente” e o verbo φεμι (femí) que significa “falar”, “dizer” o
que implicaria numa tradução do termo prophêtes como aquele que faz predição, que
diz antes de algo acontecer ou que fala daquilo que está por vir, ou simplesmente,
aquele que fala antes. De referir que é insuficiente traduzir nãbî, rō’ehe e hōzeh por
Prophêtes, visto que o termo προφητηϕ desde antiguidade refere-se à pessoa ligada com
os oráculos de Apolo e Zeus, e ter designado alguém que profere ou proclama a cerca da
divindade e interpreta a palavra divina para pessoas que buscam oráculos. Outro termo
da Septuaginta com o sentido de profeta é αγγελοι, (anjos, mensageiros), o qual em
hebraico é mal’ãk. Entretanto, como obra de muitos tradutores alega-se que dependendo
do contexto entenderam como προφητων ou αγγελουϕ.
Quando se fala da autoria, composição e datação dos livros do Antigo Testamento, isso
constitui um dilema pois não trazem o seu autor e quando o trazem é bastante
questionável a informação. Pela tradição, o Pentateuco é da autoria de Moisés, exceto os
últimos capítulos de Deuteronómio, pelo facto de tratarem da sua morte.
A partir do seculo XVII, os estudos mostraram não podia existir duplicações e exerções
como é o caso da narrativa de criação e o uso dos termos Elohim e o tetragrama YHWH
(Yahweh) para se referir mesmo Deus, se o autor fosse Moisés, dando assim a origem da
hipótese documentaria. Estes estudos culminaram na existência de quatro fontes, Javista
(o mais antigo de todos e patente por volta de 850 a.C.), Eloista (pertencia ao período da
monarquia por volta de 750 a.C.), Deuteronomista (durante o reinado de Josias, 621 a.C.
– 550 a.C.) e Sacerdotal (entre o final do século IV e o V a.C.).
As diferenças existentes que levam-nos para um dilema de perceber a autoria,
composição e datação dos livros do Pentateuco sãos justificados pelo objectivo, pois foi
criado para dar um sentido de identidade étnica do surgimento da comunidade judaica
por meio da criação de um passado compartilhado.
No primeiro período da narrativa bíblica, não havia profeta se não a própria divindade
que falava diretamente com o receptor através de dialogo ou oraculo. É provável que
Adão seja quem recebeu de Deus o primeiro oraculo referente a ordenança ao homem:
“De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente
morrerás” (Gn2:16-18). Posteriormente, Deus fala com Caim, prevenindo-o das
consequências do mal que estava para cometer e convocando-o a não praticá-lo. É
certamente um oráculo proferido diretamente a Caim, um oráculo de aconselhamento e
advertência: E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu
semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado
jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar (Gn4:6-8). E o
terceiro é dirigido a Noé. Deus o avisa de que irá destruir o mundo através de um
Dilúvio e o orienta a construir uma arca a fim de que Noé e sua família fossem salvos da
calamidade que estava por vir. Além dele e sua família, Deus ordenou que ele colocasse
nela dois animais de cada espécie para que continuasse existindo após o Dilúvio (Gn6.1-
7.24).
. Nos diversos momentos da história da profecia judaica foi possível notar as atividades
da divindade, dos profetas e dos intermediários, bem como da força do teor das
profecias. Em suma, tais relações aparecem na literatura judaica e revelam a
importância das profecias para a construção da identidade nacional. Essa identidade é
construída pela visão profética.