Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Autores:
Sérgio Batalha Soares , Alexandre
Segreto dos Anjos
Aula 04
16 de Maio de 2020
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
Sumário
Gabarito ....................................................................................................................................................40
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Convém destacar os percentuais de incidência dos assuntos previstos no nosso curso, Inspetor da Polícia
Civil do Estado do Rio de Janeiro. Levamos em consideração, na análise estatística, outros concursos
realizados pelo Instituto AOCP, beleza?
Grau de incidência em
Assunto concursos similares
AOCP
Princípios do Direito Processual Penal. Sistemas processuais. 1,72%
Provas 19,75%
Considerando os tópicos que compõem o nosso assunto, qual seja, " JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA",
possuímos a seguinte distribuição percentual:
% de cobrança
Tópico
AOCP
Aspectos gerais da competência 24,32%
Da competência pelo lugar da infração 24,32%
Da competência pelo domicílio ou residência do réu 10,81%
Da competência pela natureza da infração 5,40%
Da competência por distribuição 2,70%
Da competência por conexão ou continência 13,51%
Da competência por prevenção 2,70%
A ideia desta seção é apresentar um roteiro para que você realize uma revisão completa do assunto e, ao
mesmo tempo, destacar aspectos do conteúdo que merecem atenção.
Para revisar e ficar bem preparado no assunto, " JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ", você precisa, basicamente,
seguir os passos a seguir:
1. Característica da banca: A Banca AOCP costuma cobrar muito a literalidade dos dispositivos
constitucionais e legais. Muitas vezes, ela apenas troca ou acrescenta palavras para confundir o candidato.
Dessa forma, sugerimos a leitura atenta dos artigos 69 a 91 do Código de Processo Penal, bem como o art.
109 da CF/88 e o art. 9º do Código Penal Militar.
Leia e releia tais dispositivos, atentando-se aos seguintes pontos, buscando memorizá-los aos poucos (a
memorização virá com o tempo, não se preocupe em decorar de uma só vez tudo). Traremos abaixo um
resumo dos tópicos importantes:
2. Introdução. Em sucintas palavras, jurisdição significa aplicar o direito ao caso concreto, sendo essa uma
função exercida precipuamente pelo Poder Judiciário. De acordo com Renato Brasileiro de Lima, no âmbito
específico da jurisdição penal, em que, de um lado, há a intenção punitiva do Estado, inerente ao ius
puniendi e, de outro, o direito de liberdade do cidadão, o conteúdo da causa penal deve se limitar à
verificação da materialidade de fato típico, ilícito e culpável, à determinação da respectiva autoria, e à
incidência ou não da norma penal incriminadora.
Embora todos os juízes possuam jurisdição, nem todos podem julgar qualquer causa que lhes seja
apresentada. Isso porque, no âmbito interno do Poder Judiciário, a jurisdição encontra limite na
competência, de modo que cada órgão jurisdicional somente pode aplicar o direito objetivo dentro dos
limites que lhe foram conferidos nessa distribuição por meio da competência.
Diretamente atrelado à competência encontra-se o princípio do juiz natural, que, apesar de não ter
previsão específica em sede constitucional, pode dela ser extraído diante das disposições do art. 5º, incisos
XXXVII e LIII da CF/88, que versam, respectivamente, sobre a impossibilidade de haver um juízo ou tribunal
de exceção e sobre a garantia de que ninguém será processado ou sentenciado senão pela autoridade
competente. O princípio do juiz natural, nesse ínterim, deve ser compreendido como o direito que cada
cidadão tem de saber, previamente, a autoridade que irá processar e julgá-lo caso venha a praticar uma
infração penal, ou seja, é aquele constituído antes do fato delituoso a ser julgado, mediante regras taxativas
de competência.
Dito isso, você pode estar se perguntando, então, se a superveniência de uma norma processual
modificadora de competência teria o condão de colocar em xeque o princípio do juiz natural, na medida
em que possui aplicação imediata. Já adiantamos que não. É consolidado na jurisprudência o entendimento
de que uma norma que eventualmente modifique a competência de um juízo para processar e julgar
determinada matéria não faz nascer, diante da remessa dos autos a outro juízo, o que se denomina de juízo
ou tribunal de exceção, expressamente vedado pela Constituição Federal. Haverá, nesse caso, uma
redistribuição de processos diante de uma nova organização judiciária, objetivamente definida em lei, com
aplicação genérica e abstrata, e não uma remessa de autos determinada por critérios subjetivos, específicos
e direcionados a determinado processo.
3. Espécies de competência. A competência pode ser definida em razão da matéria, da pessoa ou do lugar,
bem como pode ser funcional. Tais competências, por sua vez, são qualificadas como absolutas ou relativas.
A competência absoluta, em termos práticos, é aquela que tem origem em norma constitucional e tutela
interesse público. Não admite modificações e é improrrogável. Um ato praticado por juiz absolutamente
incompetente estará dotado de nulidade absoluta, podendo, por isso, ser suscitada essa nulidade a
qualquer tempo, mesmo depois do trânsito em julgado, se for favorável ao réu. Atenção nesse ponto! Se a
nulidade absoluta prejudicar a situação do réu ou condenado, depois de transitada em julgado a decisão,
não poderá ser motivo para revisão criminal, já que não existe, em sede de processo penal, revisão criminal
pro societate. Assim, por exemplo, imagine que houve sentença absolutória proferida por juízo
absolutamente incompetente e essa decisão tenha transitado em julgado. Poderá, nesse caso, ser proposta
pelo órgão acusador uma revisão criminal sob a alegação de ter havido nulidade absoluta (feito processado
perante juiz absolutamente incompetente)? Não. Não há essa possibilidade e sequer também é possível
processar e julgar novamente essa pessoa pelos mesmos fatos diante do juiz verdadeiramente competente.
A competência relativa, por sua vez, segundo Renato de Lima Brasileiro, tem fixação pelas regras
infraconstitucionais que atendem ao interesse preponderante das partes, seja para facilitar ao autor o
acesso ao Judiciário, seja para propiciar ao réu melhores oportunidades de defesa. Por esse motivo, essa
espécie de competência admite prorrogação e modificação e gera uma nulidade relativa, sendo necessária
a comprovação do prejuízo dela advindo (pas de nullité sans grief).
É relativa a competência territorial (e as derivações dela, como, por exemplo, a competência por prevenção,
a competência por distribuição e a competência por conexão ou continência).
No CPP, o tema afeto à competência encontra-se regulado pelos artigos 69 a 91 e, para darmos início ao
estudo pormenorizado de cada uma delas, a norma introdutória do assunto:
I - o lugar da infração:
IV - a distribuição;
V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
Ex. houve um homicídio doloso dentro do Estádio Serra Dourada, em Goiânia/GO. O foro
competente, nesse caso, será a Comarca de Goiânia. O juízo competente, lado outro, será
o Tribunal do Júri da Comarca de Goiânia.
3. Competência territorial.
3.1. Competência em razão do lugar da infração. Essa competência leva em consideração a teoria do
resultado, isto é, tem-se como lugar da infração o local onde ocorreu a consumação do delito ou, no caso
de tentativa, no lugar em que foi praticado o último ato de execução.
No entanto, é importante pontuar que em se tratando de crimes contra a vida (seja ele doloso ou culposo),
excepcionalmente, se os atos de execução ocorrerem em um lugar e a consumação se der em outro (ex.
suponha que uma pessoa desfira tiros em outra em um bar na cidade de Anápolis/GO e a vítima, levada ao
hospital de Goiânia/GO, venha aqui a falecer), a competência para julgar o fato será do local onde foi
praticada a conduta (Anápolis), adotando-se, nesse caso, a teoria da atividade. Isso porque, no local em
que se deu a execução é onde haverá a maior possibilidade de reunião de elementos de prova e informação
sobre a dinâmica do delito (STF, Informativo nº 715).
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
§ 2o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente
o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
resultado.
§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a
jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições,
a competência firmar-se-á pela prevenção.
Os parágrafos primeiro e segundo trazem hipóteses de crimes à distância, em que a ação ou a consumação
ocorrerão fora do território nacional.
O parágrafo terceiro, por sua vez, versa sobre crime plurilocal, isto é, quando a ação e a consumação se
dão dentro do território nacional, porém em locais diversos.
Vejamos algumas situações práticas (e confusas, que podem levar o candidato a incorrer em erro), que
foram sumuladas pelos tribunais superiores e são muito cobradas em diversos certames:
➢ Súmula 521, STF. O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o
do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
➢ Súmula 244, STJ. Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de
estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.
➢ Súmula 48, STJ. Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e
julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
ESTELIONATO
Competência do local em
Mediante CHEQUE SEM
que se deu a RECUSA do Súmulas 521 do STF e 244 do STJ
FUNDOS
pagamento
Competência do local em
que foi RECEBIDA A
Mediante FALSIFICAÇÃO VANTAGEM ILÍCITA (onde
Súmula 48 do STJ
de cheque conseguiu
“descontar”/sacar o
cheque)
Observação: Segundo entendimento dos tribunais superiores, além das hipóteses de estelionato praticado
mediante uso de cheque (regras de competência acima), referido crime, quando praticado por outros
meios, ocorrendo o prejuízo em um local diferente do da obtenção da vantagem, haverá a consumação
no local do efetivo prejuízo à vítima, sendo este o foro competente. Ex. Patrick, em Goiânia/GO, efetuou
uma ligação para Glória, no Rio de Janeiro/RJ, informando que para receber a restituição do imposto de
renda deveria ela depositar R$ 500,00 reais na sua conta. Passou-lhe os dados bancários e então Glória
compareceu à sua agência no Rio de Janeiro e efetuou o depósito em favor de Patrick. Local da obtenção
da vantagem = Goiânia/GO. Local do efetivo prejuízo = Rio de Janeiro/RJ. Foro competente para julgar e
processar o estelionato = Comarca do Rio de Janeiro/RJ. (STJ, CC 147.811/CE e AgRg no CC 146.524/SC)
3.2. Competência em razão da residência ou domicílio do réu. Regerá os casos quando não for possível
identificar o lugar da infração. Cuidado! Não se deve confundir que o foi dito agora com a hipótese do art.
70, §3º, em que a competência será firmada pela prevenção. No caso do art. 70, §3º, CPP, sabe-se onde foi
praticada a infração, mas não se sabe ao certo a que jurisdição pertence esse local (divisas ou limites entre
jurisdições). Já no caso de competência em razão da residência ou domicílio do réu, o local da infração
sequer é conhecido.
Ademais, será firmada a competência em razão da residência ou domicílio do réu nos casos de exclusiva
ação penal privada (e aqui não se fala em ação privada subsidiária da pública), ainda que conhecido o local
da infração. Trata-se de uma hipótese de foro de eleição, ou seja, da faculdade que o querelante tem de
eleger, escolher o foro para a propositura da ação.
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu.
§ 2o Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz
que primeiro tomar conhecimento do fato.
Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio
ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.
3.3. Competência em razão da natureza da infração. De acordo com o art. 74 do CPP, a competência pela
natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do
Tribunal do Júri.
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização
judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e
2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou
tentados. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
As leis de organização judiciária, por exemplo, podem definir uma vara para julgar apenas crimes
patrimoniais em uma determinada localidade, ou pode haver vara especializada para julgar crimes de
violência doméstica, vara de entorpecentes, entre outras. Entretanto, o legislador infraconstitucional não
pode subtrair do Júri a competência para processar e julgar os crimes dolosos contra a vida, já que a
competência do Júri é fixada constitucionalmente pelo art. 5º da Constituição Federal, sendo, inclusive,
uma cláusula pétrea.
Lado outro, o legislador infraconstitucional poderia aumentar a competência do Júri? Sim. Inclusive, isso já
foi feito pelo Código de Processo Penal no art. 78, I, quando dispôs que o Júri será competente para julgar
os crimes dolosos contra a vida e os que lhe forem conexos.
A competência do Tribunal do Júri já deu ensejo a duas importantes súmulas que são corriqueiramente
cobradas em provas:
Latrocínio é o crime de roubo seguido de morte e, ainda que o resultado morte advenha de dolo do agente,
o latrocínio continua sendo um crime contra o patrimônio, e não crime contra a vida, razão pela qual não
atrai a competência do Tribunal do Júri.
Como dito, a competência do Tribunal do Júri é fixada pela Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º,
XXXVIII. No entanto, a própria Constituição fixa também competência por prerrogativa de função em
determinados casos, segundo a qual as pessoas ocupantes de determinados cargos ou funções somente
serão processadas e julgadas criminalmente (não engloba processos cíveis) em foros privativos colegiados
(como STF, STJ e Tribunais).
Quando a competência por prerrogativa for prevista pela Constituição Federal, ela prevalecerá à do Júri.
Todavia, as constituições estaduais podem reproduzir normas da Constituição Federal. Caso uma
constituição estadual reproduza uma norma de prerrogativa de função da Constituição Federal (como a
que prevê que os prefeitos serão julgados perante o Tribunal de Justiça), prevalecerá a competência do
Tribunal de Justiça mesmo que a autoridade (no caso o prefeito) pratique um crime doloso contra a vida.
Agora, a Constituição Federal autoriza que as Constituições Estaduais fixem a competência de seus
respectivos tribunais (art. 125, §1º), donde é possível que em tais constituições haja criação de uma nova
hipótese de foro por prerrogativa de função para além daquelas previstas na Carta Magna Federal e
reproduzidas no bojo da Carta Estadual. Por exemplo, a Constituição do Estado de Goiás prevê que os
Secretários de Estado terão foro por prerrogativa no Tribunal de Justiça de Goiás (art. 46, VIII, d, CE/GO).
Não há essa previsão da CF/88 (não é norma de mera reprodução), de modo que se trata de uma
competência firmada exclusivamente pela CE/GO. Assim, se o Secretário de Estado praticar um crime
doloso contra a vida, ele deverá ser processado e julgado perante o Tribunal do Júri e não perante o Tribunal
de Justiça de Goiás. Nesse caso, como o foro por prerrogativa foi fixado exclusivamente pela Constituição
Estadual, há a prevalência do Tribunal do Júri, conforme entendimento estampado na Súmula Vinculante
nº 45 do STF.
3.4. Competência em razão da distribuição. É preciso ter em mente que a competência em razão da
distribuição não se confunde com a competência em razão da prevenção. Na distribuição, não existe dúvida
quanto à competência territorial, porém, na comarca, existe mais de um juiz competente.
É importante salientar também, quanto a essa espécie de competência, que os atos praticados em regime
de urgência – como nos plantões – não se prestam a defini-la, porque possibilitaria à parte “escolher” o
juízo que melhor lhe aprouvesse.
3.5. Competência em razão da prevenção. Prevento será o juiz que primeiro praticar algum ato do
processo, ainda que anterior à denúncia.
Art. 70, § 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta
a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
3.6.1. Conexão. Como a conexão necessariamente engloba duas ou mais ações, certo é que entre elas há
um nexo lógico de ligação. Esse nexo, por sua vez, pode se dar pelo próprio fato ou pelas provas que dele
decorrerem.
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por
várias pessoas, umas contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou
para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir
na prova de outra infração.
➢ Por concurso: refere-se à segunda parte do inciso I do art. 76: “ocorrendo duas ou mais
infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, (...), por várias pessoas em
concurso, embora diverso o tempo e o lugar”. Aqui existe uma divisão de tarefas, existe
concurso de pessoas, ainda que as infrações não sejam praticadas ao mesmo tempo nem
no mesmo lugar. Ex. João subtrairá um banco à noite. Para tanto, Antônio oferece os
explosivos e Fernando o passaporte falso para que João saia imediatamente do país. Assim
que João pratica o crime, Gerson, que o aguardava no carro estacionado na rua paralela,
aguarda-o para levá-lo até o aeroporto. Note que as infrações não ocorrerão no mesmo
lugar e nem na mesma hora, porém todas estão interligadas por um nexo, que é o concurso
de agentes.
➢ Por reciprocidade: diz respeito à última parte do inciso I do art. 76: “ocorrendo duas ou
mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, (...), por várias pessoas, umas
contra as outras”. Ex. brigas entre torcidas.
OBSERVAÇÃO: Há posição que defende ser a rixa um caso de conexão por reciprocidade.
No entanto, o posicionamento majoritário refuta essa ideia porque considera a rixa um
crime único (não há a necessária pluralidade de infrações para se verificar a conexão –
Lembre-se! Conexão = duas ou mais infrações).
- Conexão objetiva (substantiva): trata-se da hipótese do inciso II do art. 76, trazendo consigo quatro
núcleos, subdivididos em duas linhas: consequencial e teleológica.
A conexão será objetiva teleológica quando se praticar uma infração com intuito de facilitar a prática de
outra. Ex. para estuprar a mulher, o agente desfere uma paulada na cabeça do namorado, que desmaia. No
caso, o agente cometeu o crime de lesão corporal para facilitar a prática do estupro.
Lado outro, a conexão será objetiva consequencial quanto uma infração for cometida para ocultar,
conseguir impunidade ou conseguir vantagem em relação a outra (ou a qualquer delas).
- Conexão probatória ou instrumental (processual): refere-se ao inciso III do art. 76, ou seja, quando a
prova de uma infração ou qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.
Nas conexões intersubjetiva e objetiva são também conexões substantivas, na medida em que apresentam
um nexo entre os fatos. No entanto, na conexão probatória não necessariamente haverá esse nexo entre
os fatos, pois o nexo será primordialmente entre as provas. Por esse motivo a conexão probatória é
também chamada de processual.
- Continência: como dito, a continência não se confunde com a conexão, porque se falará em continência
quando houver uma única infração, porém com pluralidade de agentes ou pluralidade de resultados.
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte,
e 54 do Código Penal.
- Continência por cumulação subjetiva: refere-se à previsão do inciso I do art. 77, isto é, uma única infração
com pluralidade de agentes (CUIDADO! Se houver duas infrações, será conexão).
- Continência por cumulação objetiva: diz respeito à previsão do inciso II do art. 77, quando uma única
ação apresenta uma pluralidade de resultados. Contudo, a redação do art. 77, II está com a redação
defasada, ainda não atualizada, pois faz remissão aos artigos do Código Penal antes da reforma de 1984.
Assim, aonde se lê arts. 51, § 1º, 53, segunda parte e 54 do CP, deve-se ler arts. 70 (concurso formal), 73
(erro na execução – aberratio ictus) e 74 (resultado diverso do pretendido) do CP.
O estudo da conexão e continência não se finda nesse ponto. Em ambos os casos devem ser observadas as
regras do art. 78, CPP, pois nem sempre as infrações cometidas serão da mesma categoria, ou da mesma
natureza. E até quando o forem, como nas hipóteses do inciso II, regras de prevalência de foro deverão ser
observadas caso os crimes sejam cometidos em localidades diversas.
Via de regra, a conexão e a continência importam reunião de processo e julgamento, mas nem sempre será
assim, por expressa previsão legal.
Num primeiro momento, não obstante a conexão ou continência, se forem instaurados processos
diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva (= sentença de mérito, não exigido o trânsito em
julgado). Neste caso, a unidade dos processos só se dará ulteriormente para o efeito de soma ou de
unificação de penas (art. 82 do CPP).
apenas questões criminais (Cuidado! Questões cíveis, como as de improbidade administrativa, não atraem
competência por prerrogativa de função).
A prerrogativa de função vincula também a fase pré-processual, de modo que a autoridade policial não
pode proceder ao indiciamento sem prévia autorização do Tribunal competente, sendo que essa
autorização também é necessária para a própria instauração do inquérito policial.
Inicialmente, acerca da competência por prerrogativa de função, o Supremo Tribunal Federal adotava a
regra da contemporaneidade, segundo a qual a competência por prerrogativa de função deve ser
preservada caso a infração penal tenha sido cometida à época e em razão do exercício funcional. Inclusive,
tal entendimento foi sumulado pelo STF, conforme enunciado nº 394: cometido o crime durante o exercício
funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação
penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício.
Tempos depois, esse entendimento foi diametralmente modificado, por causa da compreensão de que a
Constituição Federal não conferia tamanha extensão ao foro por prerrogativa, a ponto de incidir mesmo
quando a autoridade deixava de ocupar o cargo ou a função, por qualquer motivo que seja. Isso, a bem da
verdade, assemelhava-se mais a um privilégio do que à prerrogativa de função propriamente dita, fazendo
então com que o Supremo Tribunal abandonasse a regra da contemporaneidade e passasse a adotar a regra
da atualidade.
Pela regra da atualidade, de acordo com Renato Brasileiro, caso o agente tivesse cometido um delito antes
do exercício da função (ou da diplomação), a competência seria automaticamente alterada a partir do
momento em que o acusado ingressasse no exercício da função (ou fosse diplomado), ainda que o crime
não estivesse relacionado às funções por ele desempenhadas. Por força dessa regra, o agente fazia jus ao
foro por prerrogativa de função enquanto estiver exercendo a função. Cessada a função, cessa o direito.
No entanto, embora tenha vigorado por anos a regra da atualidade, no julgamento da Ação Penal 937 o
Supremo Tribunal Federal tornou a entender que a aplicação da competência por foro por prerrogativa
deveria ser limitada (interpretação restritiva das normas constitucionais que elencam as hipóteses de foro
por prerrogativa), retornando com a adoção da regra da contemporaneidade, com algumas adaptações.
Dessa forma, atualmente entende-se que o foro por prerrogativa de função deve ser aplicado
exclusivamente aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções
desempenhadas, havendo prorrogação da competência após o final da instrução processual, com a
publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais. Passado esse momento, a
competência para processar e julgar ações penais não mais deverá ser afetada em razão de o agente público
vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
Estabelecida essa premissa, cumpre pontuar duas outras observações acerca do foro por prerrogativa:
a) Quanto ao local da infração. Esse pouco importa em se tratando de foro por prerrogativa. A
competência será do Tribunal designado mesmo que o local do crime não esteja dentro dos
seus limites territoriais de ação. Em suma, a competência penal por prerrogativa de função
exclui a regra da competência pelo lugar da infração. Ex. suponha que um juiz do TJGO pratique
um crime em São Paulo: o Tribunal competente para julgá-lo será o TJGO. A competência pelo
lugar da infração é definida pelo CPP, ao passo que o foro por prerrogativa de função dos juízes
é norma constitucional, devendo esta prevalecer.
b) Continência por cumulação subjetiva – única infração com pluralidade de agentes, quando um
deles detém foro por prerrogativa de função. Haverá atração pelo foro por prerrogativa (por
ser mais graduado)? Essa questão é polêmica. O STF vem oscilando quanto a essa resposta, ora
admitindo a vis atractiva, ora determinando a separação dos processos. Quando admite a
atração, justifica-se pela observância da regra de conexão e continência determinada pelo art.
78, III do CPP. Lado outro, quando se determina a separação dos processos, a justificativa é
que a regra constitucional (do foro por prerrogativa) deve prevalecer à regra do art. 78, III, CPP,
na medida em que a conexão e a continência funcionam como critérios de alteração da
competência, só podendo incidir sobre hipóteses de competência relativa. A competência
absoluta (definida pela CF/88, como a competência funcional e em razão da matéria ou da
pessoa) não pode ser modificada, é inderrogável.
Crime propriamente militar É aquele que só pode ser praticado por militar, pois consiste
na violação de deveres restritos, que lhe são próprios, sendo
identificado por dois elementos: a qualidade do agente
(militar) e a natureza da conduta (prática funcional). Ex.
Deserção (art. 187, CPM).
Crime impropriamente militar Crime acidentalmente militar ou crime militar misto, é a
infração penal prevista no CPM, não sendo específica e
funcional, ou seja, pode ser praticada também por civil. Com a
vigência da Lei 13.491/17, pode-se extrair quatro espécies de
crimes impropriamente militares:
Crime militar de tipificação direta Não estão previstos na legislação comum, ou seja, dispostos
apenas pelo CPM. Podem ser praticados tanto por militar
quanto por civil, razão pela qual não podem ser qualificados
como sinônimo de crime propriamente militar.
Crime militar de tipificação indireta Estão previstos tanto no CPM quanto na legislação penal,
igualmente podendo ser praticado tanto por civil quanto por
militar.
Crimes militares extravagantes Inovação promovida pela Lei 13.491/17. Antes do advento da
lei, os crimes militares eram apenas aqueles previstos no CPM.
Após, são agora considerados crimes militares os previstos
tanto no CPM quanto na legislação penal comum, quando
praticados no contexto do art. 9º, II, CPM.
A Justiça Militar brasileira encontra-se estruturada em Justiça Militar da União e Justiça Militar dos Estados.
No âmbito da União, a Justiça Militar é competente para processar e julgar apenas crimes militares. Dessa
forma, ela não possui competência para julgar questões cíveis, como os atos disciplinares militares (estes,
se praticados por militares incorporados às Forças Armadas, serão julgados pela Justiça Federal). Além do
mais, a Justiça Militar da União é competente para julgar tanto militares quanto civis. Cuidado com isso!
Por essa razão, diz-se que a competência da Justiça Militar da União é fixada tão somente em razão da
matéria (crimes militares), pouco importando a condição pessoal do acusado.
Por outro lado, a Justiça Militar dos Estados (apenas três Estados da Federação possuem Justiça Militar
estruturada – Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul) é competente para julgar os crimes militares e
os atos disciplinares militares. No entanto, não possui competência para julgar civis. O civil não pode ser
processado e julgado perante a Justiça Militar Estadual e, caso pratique delito contra as instituições
militares estaduais, será processado na Justiça Comum se os fatos encontrarem definição na lei penal
comum (se não existir delito correspondente na legislação penal comum, não haverá responsabilidade
criminal para esse civil). Assim, como a competência da Justiça Militar dos Estados é fixada não somente
com base em razão da matéria – crimes militares –, mas também com base na condição pessoal do acusado,
diz-se que sua competência é também em razão da pessoa.
O órgão de primeira instância da Justiça Militar é o Conselho de Justiça. O Conselho de Justiça é composto
por um juiz togado (concursado em certame de provas e títulos) e por mais quatro juízes militares, os quais
são sorteados dentre oficiais de carreira. Esse Conselho subdivide-se em Conselho Especial de Justiça,
responsável por processar e julgar os crimes militares praticados por oficiais, mesmo que no processo
figurem também praças. Já o Conselho Permanente de Justiça promove o julgamento de militares que não
sejam oficiais.
Até a entrada em vigor da Lei 13.774/18, os crimes de competência da Justiça Militar da União eram
julgados pelo Conselho de Justiça, pouco importando se fora praticado por civil ou por militar (lembre-se
que apenas a Justiça Militar da União pode julgar civis). Com o advento desse diploma normativo, quando
o crime militar for praticado por um civil, ou por um militar em conjunto com o civil, a competência passa
a ser monocrática do Juiz Federal da Justiça Militar (juiz togado). A competência do Conselho, portanto,
fica restrita aos casos de crimes militares cometidos exclusivamente por militares.
Já em relação à Justiça Militar dos Estados, o Juiz de Direito do Juízo Militar ficará competente para julgar
monocraticamente os crimes militares praticados contra civil (e não crimes militares praticados POR civil,
porque a Justiça Estadual Militar não julga civis) e as ações judiciais contra atos disciplinares militares e os
Conselhos de Justiça, os demais crimes militares.
O órgão de segunda instância, por sua vez, será o Superior Tribunal de Justiça Militar, em se tratando de
Justiça Militar da União (não há um Tribunal Regional Militar) e, na esfera estadual, o Tribunal de Justiça
Militar – nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul – ou o Tribunal de Justiça do Estado
nos demais Estados da federação.
Não só a Lei 13.774/18 promoveu mudanças quanto à estrutura da Justiça Militar, como também a Lei
13.491/17 estabeleceu um importante acréscimo quanto à competência da Justiça Militar, na medida em
que passou a determinar ser de competência dessa Justiça não apenas o processamento dos crimes
militares previstos exclusivamente no Código Penal Militar ou previstos neste de forma diversa da lei penal
comum, mas também os crimes dispostos pela lei penal comum quando praticados nas circunstâncias do
art. 9º, II e III do CPM, senão vejamos:
Por fim, em se tratando de crimes dolosos contra a vida praticados por militares contra civis, ficou assim
expresso no texto legal (art. 9º, §§ 1º e 2º do CPM):
- Justiça Militar da União: os crimes dolosos contra a vida cometidos por militares das
Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se
praticados no contexto delineado pelos incisos e alíneas do art. 9º, §2º do CPM.
- Justiça Militar dos Estados: os crimes dolosos contra a vida cometidos por militares
contra civis serão de competência do Tribunal do Júri.
3.9. Competência da Justiça Federal. A competência da Justiça Federal vem delineada pelo art. 109 da
Constituição Federal, sendo, portanto, taxativa, e aquilo que não for de sua competência, será, então, da
Justiça Estadual. Por isso é que se diz que a competência da Justiça Estadual é residual quando comparada
à competência da Justiça Federal, ambas pertencentes ao gênero Justiça Comum.
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados
os casos de competência dos tribunais federais;
A Justiça Federal, por expressa previsão constitucional, não é competente para julgar contravenções penais
(art. 109, IV), independentemente de elas terem sido praticadas por agentes federais ou em detrimento
das pessoas elencadas no art. 109, I da CF/88.
APOSTA ESTRATÉGICA
A ideia desta seção é apresentar os pontos do conteúdo que mais possuem chances de serem cobrados em
prova, considerando o histórico de questões da banca em provas de nível semelhante à nossa, bem como
as inovações no conteúdo, na legislação e nos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais 1.
Assim, a aposta estratégica é muito importante na sua reta final de estudos. Vamos ao conteúdo da nossa
aposta?
Tenha bastante atenção! Sugerimos que você leia os pontos destacados antes da prova, beleza? E tente
memorizar o máximo de informações que conseguir das tabelas abaixo:
ESTELIONATO
Competência do local em
Mediante CHEQUE SEM
que se deu a RECUSA do Súmulas 521 do STF e 244 do STJ
FUNDOS
pagamento
Competência do local em
que foi RECEBIDA A
Mediante FALSIFICAÇÃO VANTAGEM ILÍCITA (onde
Súmula 48 do STJ
de cheque conseguiu
“descontar”/sacar o
cheque)
Observação: Segundo entendimento dos tribunais superiores, além das hipóteses de estelionato praticado
mediante uso de cheque (regras de competência acima), referido crime, quando praticado por outros
meios, ocorrendo o prejuízo em um local diferente do da obtenção da vantagem, haverá a consumação
no local do efetivo prejuízo à vítima, sendo este o foro competente. Ex. Patrick, em Goiânia/GO, efetuou
uma ligação para Glória, no Rio de Janeiro/RJ, informando que para receber a restituição do imposto de
renda deveria ela depositar R$ 500,00 reais na sua conta. Passou-lhe os dados bancários e então Glória
1
Vale deixar claro que nem sempre será possível realizar uma aposta estratégica para um determinado assunto, considerando
que às vezes não é viável identificar os pontos mais prováveis de serem cobrados a partir de critérios objetivos ou minimamente
razoáveis.
compareceu à sua agência no Rio de Janeiro e efetuou o depósito em favor de Patrick. Local da obtenção
da vantagem = Goiânia/GO. Local do efetivo prejuízo = Rio de Janeiro/RJ. Foro competente para julgar e
processar o estelionato = Comarca do Rio de Janeiro/RJ. (STJ, CC 147.811/CE e AgRg no CC 146.524/SC)
conexos de competência federal e estadual, não se contravenção penal, ainda que praticada em
aplicando a regra do art. 78, II, ‘a’ do CPP. detrimento de bens, serviços ou interesse da União.
Súmula 528, STJ. Compete ao juiz federal do local Súmula 522, STF. Salvo ocorrência de tráfico com o
da apreensão da droga remetida do exterior pela via exterior, quando, então, a competência será da
postal processar e julgar o crime de tráfico Justiça Federal, compete a justiça dos estados o
internacional. processo e o julgamento dos crimes relativos a
entorpecentes.
QUESTÕES ESTRATÉGICAS
A ideia, aqui, não é que você fixe o conteúdo por meio de uma bateria extensa de questões, mas que você
faça uma boa revisão global do assunto a partir de, relativamente, poucas questões.
1. 2019. AOCP. PC-ES. Perito Oficial Criminal – Área 8. A respeito das competências por prevenção e
prerrogativa de função, assinale a alternativa correta.
A) Caso um juiz decida um habeas corpus impetrado contra delegado que estaria constrangendo
ilegalmente algum suspeito, torna-se ele prevento para decidir o processo futuramente instaurado.
B) Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes
igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na
prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento
da denúncia ou da queixa.
C) Competirá, originariamente, aos Tribunais Regionais Federais o julgamento dos advogados públicos
dos Estados ou Territórios.
E) A competência pela prerrogativa de função é tão somente dos tribunais superiores (STF, STJ, TST,
STM e TSE), relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de
responsabilidade.
Comentários
A - Incorreta. As decisões proferidas por magistrados de plantão, em dias não úteis ou relacionadas ao
julgamento de habeas corpus interposto contra ato praticado pelo delegado na fase de IP não firmam o juízo
prevento para o julgamento da ação principal.
Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais
juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos
outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao
oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3o, 71, 72, § 2o, e 78, II, c).
C - Incorreta. O STF entendeu que o foro por prerrogativa de função pode ser previsto nas constituições
estaduais, desde que seja respeitado o princípio da simetria com a Constituição Federal. Isso significa dizer
que a autoridade, em âmbito estadual, que receber o foro por prerrogativa na Constitução Estadual, deve
corresponder (ser equivalente) a uma autoridade federal que tenha foro por prerrogativa na Constituição
Federal. No caso em tela, não há previsão na Constituição Federal de foro por prerrogativa para Procuradores
Estaduais, Procuradores da Assembleia Legistlativa, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. Logo,
qualquer previsão de foro por prerrogativa na Constituição Estadual sem equivalência na Constituição
Deferal é inconstitucional (Informativo 940, STF).
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais
Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante
tribunais;
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior
Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns
e de responsabilidade.
2. 2019. AOCP. PC-ES. Perito Oficial Criminal – Área 8. Jurisdição é o poder atribuído, constitucionalmente,
ao Estado para aplicar a lei ao caso concreto, compondo litígios e resolvendo conflitos. Sobre a temática
da competência jurisdicional, assinale a alternativa correta.
A) Continência significa o liame existente entre infrações, cometidas em situações de tempo e lugar que
as tornem indissociáveis, bem como a união entre delitos, uns cometidos para, de alguma forma,
propiciar, fundamentar ou assegurar outros, além de poder ser o cometimento de atos criminosos
de vários agentes reciprocamente.
C) Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e
para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente
a separação.
Comentários
A - Incorreta. Nos casos de continência há apenas uma infração com pluralidade de resultados ou uma
infração com pluralidade de pessoas. Lado outro, nos casos de conexão, necessariamente há duas ou mais
infrações. A alternativa fala em pluraridade de infrações e, portanto, em conexão (e não em continência).
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por
várias pessoas, umas contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na
prova de outra infração.
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas
em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de
acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz
reputar conveniente a separação.
D - Incorreta. A competência do júri prevalece em face da competência de outro órgão da jurisdição comum.
E - Incorreta. Havendo concurso entre a jurisdição comum e a de menores, não háverá reunião de processos.
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: (...)
3. 2019. AOCP. PC-ES. Perito Oficial Criminal – Área 8. Sobre jurisdição e competência, assinale a
alternativa integralmente de acordo com o que prescreve o Código de Processo Penal.
A) A distribuição dos autos jamais será determinante para a fixação da competência jurisdicional.
B) A competência será, de regra, determinada pela natureza da infração, ou, no caso de tentativa, pelo
lugar em que for praticado o último ato de execução.
C) Compete ao Tribunal do Júri o julgamento de todos os crimes contra a vida previstos no Código Penal,
consumados ou tentados.
D) Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pela prerrogativa de função.
Comentários
IV - a distribuição;
B - Incorreta. A competência será, de regra, determinada pelo lugar onde a infração se consumou e, em caso
de tentativa, pelo lugar em que cometido o último ato de execução (ATENÇÃO! É o lugar do ÚLTIMO ato de
execução).
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração,
ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização
judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e
2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou
tentados. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu.
4. 2019. AOCP. PC-ES. Escrivão de Polícia. À luz do Código de Processo Penal, assinale a alternativa que
NÃO determinará a competência jurisdicional.
A) A natureza da infração.
B) O lugar da infração.
C) A prevenção.
E) A prerrogativa de função.
Comentários
I - o lugar da infração:
IV - a distribuição;
V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
D - Correta. A competência jurisdicional pode ser determinada pelo domicílio ou residência do RÉU (e não
do ofendido). Vide inciso II acima.
5. 2018. AOCP. TRT – 1ª Região (RJ) – Técnico Judiciário – Segurança. Um magistrado, titular da Vara do
Trabalho de Macaé/RJ, foi denunciado por crime de corrupção passiva no exercício de sua função.
Entendendo não haver justa causa para o oferecimento da denúncia criminal e tencionando trancar o
processo, a Defesa do magistrado deve cogitar trancar o processo perante o
D) Tribunal Regional Federal da 2ª Região (seções judiciárias de Rio de Janeiro e Espírito Santo).
Comentários
A - Incorreta. A competência para processar e julgar juízes, nos crimes comuns e de responsabilidade, é dos
Tribunais. No caso em tela, do Tribunal Regional do Trabalho.
6. 2019. VUNESP. TJ-AC. Juiz de Direito Substituto. Assinale a alternativa correta quanto à competência e
o seu regramento previsto no Código de Processo Penal.
A) Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
B) Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por
ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência
firmar-se-á pelo princípio da extraterritorialidade.
D) Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência
do réu, salvo conhecido o lugar da infração.
Comentários
Art. 70, § 1o - Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a
competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de
execução.
Art. 70, § 3o - Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta
a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições,
a competência firmar-se-á pela prevenção.
C - Incorreta. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência será definida pelo domicílio ou
residência do réu.
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou
residência do réu.
D - Incorreta. A escolha do foro nos casos de exclusiva ação penal privada independe se conhecido ou não o
lugar da infração. Trata-se de verdadeiro foro de eleição, de faculdade do ofendido.
Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou
da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.
7. 2018. VUNESP. MPE-SP. Analista Jurídico do Ministério Público. Sobre competência no processo penal,
assinale a alternativa correta.
A) Havendo crime militar conexo a crime comum, prevalece a competência da justiça castrense, a qual
deverá julgar ambos os crimes.
B) Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro do lugar da infração, ainda
quando conhecido o domicílio do réu.
E) Compete ao foro do local da emissão do cheque processar e julgar o crime de estelionato mediante
cheque sem provisão de fundos.
Comentários
A - Incorreto. Há a prevalência da justiça castrense. No entanto, não haverá reunião dos processos, de modo
que incumbirá à justiça militar julgar o crime militar e, à justiça comum, o crime comum.
Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou
da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.
C - Incorreto. A competência da Justiça Federal é taxativa, prevista no art. 109 da CF/88, ou seja, ela só atuará
nos casos ali delieados. Para todos os demais casos, a competência será da Justiça Estadual, sendo esta
considerada, portanto, residual.
D - Correto. Jurisdição comum é gênero do qual são espécies a Justiça Federal (competência taxativa) e a
Justiça Estadual (competência residual).
E - Incorreto. A emissão dolosa de cheque sem fundos para a prática do crime de estelionato atrai a
competência do lugar em que se deu a RECUSA do pagamento (Súmulas 521, STF e 244, STJ).
8. 2014. VUNESP. TJ-PA. Oficial de Justiça Avaliador. Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de
duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pelo(a)
B) prorrogação. ==13882c==
C) conexão.
D) continência.
E) prevenção.
Comentários
Art. 70, § 3o - Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta
a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições,
a competência firmar-se-á pela prevenção.
E - Correto. Vide justificativa da alternativa A, isto é, corresponde à previsão do artigo 70, § 3º, CPP.
São questões um pouco mais desafiadoras, porque a redação de seu enunciado não ajuda na sua resolução,
como ocorre nas clássicas questões objetivas.
O objetivo é que você realize uma auto explicação mental de alguns pontos do conteúdo, para consolidar
melhor o que aprendeu ;)
Além disso, as questões objetivas, em regra, abordam pontos isolados de um dado assunto. Assim, ao resolver
várias questões objetivas, o candidato acaba memorizando pontos isolados do conteúdo, mas muitas vezes
acaba não entendendo como esses pontos se conectam.
Assim, no questionário, buscaremos trazer também situações que ajudem você a conectar melhor os diversos
pontos do conteúdo, na medida do possível.
É importante frisar que não estamos adentrando em um nível de profundidade maior que o exigido na sua
prova, mas apenas permitindo que você compreenda melhor o assunto de modo a facilitar a resolução de
questões objetivas típicas de concursos, ok?
Perguntas
3. Há diferença entre "foro competente" e "juízo competente"? Como se resolvem os conflitos entre eles?
4. A competência em razão do lugar possui algumas nuances, como a teoria que a embasa, sua hipótese
de flexibilização, bem como questões atinentes aos conceitos de crime à distância e crime plurilocal. Ciente
disso, disserte sobre cada um desses pontos mencionados quanto a essa espécie de competência.
5. O crime de estelionato, previsto pelo Código Penal em seu artigo 171, apresenta variações de
competência a depender da forma como é praticado. Disserte sobre elas.
6. A competência do Tribunal do Júri é definida pela natureza da infração, conforme dispõe o art. 74 do
CPP. Nesse caso, qualquer crime que envolva a ceifação da vida será de sua competência? O Tribunal do
Júri tem competência para julgar outros crimes que não os dolosos contra a vida? Sua competência é
prevalente em relação às demais espécies?
10. Atualmente, qual é a abrangência da competência por foro por prerrogativa de função segundo o STF?
O princípio do juiz natural, não explicitamente previsto no texto da Constituição Federal de 1988, mas dela
extraído a partir da disposição do art. 5º, incisos XXXVII e LIII (proibição de juízo de exceção e garantia de
que ninguém será processado ou sentenciado senão pela autoridade competente), deve ser compreendido
como o direito que cada cidadão tem de saber, previamente, a autoridade que irá processar e julgá-lo caso
venha a praticar uma infração penal, ou seja, é aquele constituído antes do fato delituoso a ser julgado,
mediante regras taxativas de competência. Isso, contudo, não é afastado ou violado quando uma norma
legal eventualmente muda a competência do juízo e determina a remessa dos autos a juízo diverso. É
consolidado na jurisprudência o entendimento de que uma norma modificadora de competência em razão
da matéria não faz nascer, diante da remessa dos autos, o denominado juízo de exceção, expressamente
proibido constitucionalmente. Nesse caso, haverá uma redistribuição de processos diante de uma nova
organização judiciária, objetivamente definida em lei, com aplicação genérica e abstrata, e não uma remessa
de autos determinada por critérios subjetivos, específicos e direcionados a determinado processo.
A competência absoluta é aquela que tem origem em norma constitucional e tutela o interesse público. Não
admite modificações e é improrrogável, sendo presumido seu prejuízo, ensejador de nulidade absoluta. São
absolutas as seguintes competências: em razão da matéria, em razão da pessoa e funcional. Já a competência
relativa tem fixação pelas regras infraconstitucionais que antendem ao interesse predominante das partes,
seja para facilitar o autor o acesso ao Judiciário, seja para propiciar ao réu melhores oportunidades de defesa.
Por esse motivo, essa espécie de competência admite prorrogação e modificação e gera uma nulidade
relativa, sendo necessária a comprovação do prejuízo dela advindo (pas de nullité sans grief).
3. Há diferença entre "foro competente" e "juízo competente"? Como se resolvem os conflitos entre eles?
Sim, as expressões são diferentes. "Foro competente" diz respeito à competência territorial. Assim, havendo
mais de um foro competente para processar e julgar a demanda, como no caso do art. 70, §3º, CPP, o conflito
será resolvido pela prevenção. Já a expressão "juízo competente" refere-se ao órgão jurisdicional que será
responsável pelo processo e julgamento da infração penal praticada. Desssa forma, havendo mais de um
juízo competente na mesma comarca, o conflito será resolvido pela distribuição.
4. A competência em razão do lugar possui algumas nuances, como a teoria que a embasa, sua hipótese
de flexibilização, bem como questões atinentes aos conceitos de crime à distância e crime plurilocal. Ciente
disso, disserte sobre cada um desses pontos mencionados quanto a essa espécie de competência.
A competência em razão do lugar leva em consideração a teoria do resultado, ou seja, tem-se como lugar da
infração o local onde ocorreu a consumação do delito ou, no caso de tentativa, no lugar em que foi praticado
o último ato de execução. No entanto, essa teoria não é de aplicação irrefutável. É importante pontuar que,
em se tratando de crimes contra a vida (doloso ou culposo), excepcionalmente, se os atos de execução
ocorrerem em um lugar e a consumação se der em outro, a competência para julgar o fato será do local onde
foi praticada a conduta, adotando-se, nesse caso, a teoria da atividade. Isso porque no local mem que se deu
a execução é onde haverá a maior possibilidade de reunião de elementos de prova e informação sobre a
dinâmica do delito (STF, Informativo 715).
Não suficiente, a matéria da competência pelo lugar da infração é regulada pelo art. 70 do CPP. Em seus
parágrafos primeiro e segundo, há a previsão de fixação de competência nas hipóteses de crime à distância,
isto é, crimes em que a ação ou a consumação ocorrem fora do território nacional. Nesse caso, se, iniciada a
execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo
lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. Ou então, quando o último ato de
execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora
parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
Em relação ao parágrafo terceiro, por sua vez, é tratada a hipótese de crime plurilocal, isto é, quando a ação
e a consumação se dão dentro do território nacional, porém em locais diversos (diferentes foros
competentes), sendo a questão da competência resolvida pela prevenção.
5. O crime de estelionato, previsto pelo Código Penal em seu artigo 171, apresenta variações de
competência a depender da forma como é praticado. Disserte sobre elas.
Se o estelionato é praticado por meio de emissão dolosa de cheque sem fundos, STF e STJ convergem o
entendimento de que a competência para processar e julgar o delito será o local em que se deu a recusa do
pagamento (Súmulas 521 do STF e 244 do STJ). Lado outro, caso o meio de prática do delito seja a falsificação
de cheque, a competência passa a ser do local em que foi recebida a vantagem ilícita (local em que o cheque
foi sacado), de acordo com a Súmula 48 do STJ. Ademais, para além das hipóteses de estelionato praticado
pelo uso do cheque, referido crime, quando cometido por outros meios, ocorrendo prejuízo da vítima em
um local diferente do da obtenção da vantagem pelo agente, a competência será do local do efetivo prejuízo
da vítima (onde o crime se consumou).
6. A competência do Tribunal do Júri é definida pela natureza da infração, conforme dispõe o art. 74 do
CPP. Nesse caso, qualquer crime que envolva a ceifação da vida será de sua competência? O Tribunal do
Júri tem competência para julgar outros crimes que não os dolosos contra a vida? Sua competência é
prevalente em relação às demais espécies?
De acordo com o art. 74 do CPP, a competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri, porque a competência do Júri é
fixada constitucionalmente no art. 5º, XXXVIII, 'd' (competência para julgar crimes dolosos contra a vida). No
entanto, em que pese a competência para julgar crimes dolosos contra a vida (o homicídio culposo é de
competência do juiz singular, e não do Júri), nem sempre a prática de um delito que implique em morte
dolosa da vítima será necessariamente julgada pelo Júri. Exemplo clássico disso é o crime de latrocínio (art.
157, §3º, CP), em que há a morte da vítima. Nesse caso, a competência será do juiz singular e não do Júri,
porque o latrocínio é crime contra o patrimônio e não crime doloso contra a vida (súmula 603, STF). Não
suficiente, a competência do Júri não se restringe ao julgamento de crimes dolosos contra a vida caso haja
conexão desse delito com outro de natureza diversa. Havendo conexão, o caso não é de separação dos
processos, cabendo ao Júri julgar tanto o crime doloso contra a vida quanto o crime conexo a ele.
Por fim, a competência do Júri, por ter matriz constitucional, prevalece sobre a competência da jurisdição
comum (art. 78, I, do CPP) e sobre a competência por foro por prerrogativa de função previsto
exclusivamente em constituiçao estadual, consoante dispõe a súmula vinculante 45 do STF. No entanto, em
se tratando de competência por prerrogativa de função prevista na Constituição Federal, esta prevalecerá
mesmo quanto à competência do Júri, porque mais específica e de igual hierarquia.
Na esfera do direito processual penal, haverá conexão quando se estiver diante de duas ou mais infrações
(na conexão é exigida a pluralidade de infrações), praticadas nas condições do art. 76 do CPP, ou seja,
infrações que apresentam entre si um nexo lógico de ligação, que pode estar tanto relacionado com o próprio
fato quanto relacionado com as provas que dele decorrem. Já na continência, haverá uma única infração,
porém com pluradade de pessoas ou de resultados, nos termos do art. 77 do CPP.
A conexão, que envolve pluraridade de infrações ligadas por um nexo lógico quanto ao fato ou à prova,
apresenta espécies. Será conexão intersubjetiva (substantiva) na hipótese do inciso I do art. 76, subdividindo-
se em: a) conexão intersubjetiva por simultaneidade, quando há uma pluraridade de pessoas, sem, contudo,
um ajuste prévio de vontade entre elas (não é caso de concurso de pessoas, não há liame subjetivo), de
modo que, diante de uma situação fática, várias pessoas, ao mesmo tempo, simultaneamente, praticam
infrações penais, como ocorre nas depreciações, nos saques; b) conexão intersubjetiva por concurso, quando
há pluraridade de infrações praticadas por mais de uma pessoa, porém em concurso, com divisão de tarefas,
mesmo que não sejam praticadas ao mesmo tempo e nem no mesmo lugar; c) conexão intersubjetiva por
reciprocidade, quando duas ou mais infrações são praticadas ao mesmo tempo por várias pessoas, umas
contra as outras, tal como ocorre em brigas de torcida.
Além disso, haverá conexão objetiva (substantiva), que pode ser teleológica, quando se praticar uma infração
com intuito de facilitar a prática de outra; ou pode ser consequencial, quando uma infração por cometida
para ocultar, conseguir impunidade ou vantagem em relação a outra infração. Ainda, pode haver conexão
probatória ou instrumental (processual), quando a prova de uma infração ou qualquer de suas circunstâncias
elementares inluir na prova de outra infração.
Via de regra, a conexão e a continência importam reunião de processo e julgamento, mas nem sempre será
assim, por expressa previsão legal. Num primeiro momento, não obstante a conexão e a continência, não
haverá a reunião processual se um dos processos já estiver com sentença de mérito proferida. Nesse caso, a
unidade de processos só se dará ulteriormente para o efeito da soma ou de unificação das penas. Ademais,
também poderá haver a quebra da unidade processual e de julgamento tanto por uma imposição legal
(separação obrigatória) quanto por uma faculdade do juiz em determinadas hipóteses.
A separação será facultativa quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de
lugar diferentes ou quando, pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão
provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação (art. 80, CPP). Por outro
lado, será obrigatória quando: a) houver concurso entre a jurisdição comum e a militar (art. 79, I, CPP); b)
quando houver concurso entre a jurisdição comum e o juízo de menores (art. 79, II, CPP); c) quando sobrevier
doença mental em relação a um corréu (art. 79, §1º c/c art. 152, CPP); d) quando houver corréu foragido que
não possa ser julgado à revelia (art. 79, §2º c/c art. 366, CPP) e, e) quando não houver número mínimo de
jurados no Tribunal do Júri (estouro de urna, art. 469, §1º, CPP).
10. Atualmente, qual é a abrangência da competência por foro por prerrogativa de função segundo o STF?
A competência por prerrogativa de função é estabelecida não em virtude da pessoa que exerce determinada
função, mas sim como instrumento que visa resguardar a própria função exercida pelo agente (não se trata
de privilégio). Fixada essa premissa, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Penal 937, restringiu
o alcance da competência por prerrogativa de função, entendendo que o melhor nesse caso é a adoção da
1. 2019. AOCP. PC-ES. Perito Oficial Criminal – Área 8. A respeito das competências por prevenção e
prerrogativa de função, assinale a alternativa correta.
A) Caso um juiz decida um habeas corpus impetrado contra delegado que estaria constrangendo
ilegalmente algum suspeito, torna-se ele prevento para decidir o processo futuramente instaurado.
B) Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes
igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na
prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento
da denúncia ou da queixa.
C) Competirá, originariamente, aos Tribunais Regionais Federais o julgamento dos advogados públicos
dos Estados ou Territórios.
E) A competência pela prerrogativa de função é tão somente dos tribunais superiores (STF, STJ, TST,
STM e TSE), relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de
responsabilidade.
2. 2019. AOCP. PC-ES. Perito Oficial Criminal – Área 8. Jurisdição é o poder atribuído, constitucionalmente,
ao Estado para aplicar a lei ao caso concreto, compondo litígios e resolvendo conflitos. Sobre a temática
da competência jurisdicional, assinale a alternativa correta.
A) Continência significa o liame existente entre infrações, cometidas em situações de tempo e lugar que
as tornem indissociáveis, bem como a união entre delitos, uns cometidos para, de alguma forma,
propiciar, fundamentar ou assegurar outros, além de poder ser o cometimento de atos criminosos
de vários agentes reciprocamente.
C) Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e
para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente
a separação.
3. 2019. AOCP. PC-ES. Perito Oficial Criminal – Área 8. Sobre jurisdição e competência, assinale a
alternativa integralmente de acordo com o que prescreve o Código de Processo Penal.
A) A distribuição dos autos jamais será determinante para a fixação da competência jurisdicional.
B) A competência será, de regra, determinada pela natureza da infração, ou, no caso de tentativa, pelo
lugar em que for praticado o último ato de execução.
C) Compete ao Tribunal do Júri o julgamento de todos os crimes contra a vida previstos no Código Penal,
consumados ou tentados.
D) Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pela prerrogativa de função.
4. 2019. AOCP. PC-ES. Escrivão de Polícia. À luz do Código de Processo Penal, assinale a alternativa que
NÃO determinará a competência jurisdicional.
A) A natureza da infração.
B) O lugar da infração.
C) A prevenção.
E) A prerrogativa de função.
5. 2018. AOCP. TRT – 1ª Região (RJ) – Técnico Judiciário – Segurança. Um magistrado, titular da Vara do
Trabalho de Macaé/RJ, foi denunciado por crime de corrupção passiva no exercício de sua função.
Entendendo não haver justa causa para o oferecimento da denúncia criminal e tencionando trancar o
processo, a Defesa do magistrado deve cogitar trancar o processo perante o
D) Tribunal Regional Federal da 2ª Região (seções judiciárias de Rio de Janeiro e Espírito Santo).
6. 2019. VUNESP. TJ-AC. Juiz de Direito Substituto. Assinale a alternativa correta quanto à competência e
o seu regramento previsto no Código de Processo Penal.
A) Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será
determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
B) Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por
ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência
firmar-se-á pelo princípio da extraterritorialidade.
D) Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência
do réu, salvo conhecido o lugar da infração.
7. 2018. VUNESP. MPE-SP. Analista Jurídico do Ministério Público. Sobre competência no processo penal,
assinale a alternativa correta.
A) Havendo crime militar conexo a crime comum, prevalece a competência da justiça castrense, a qual
deverá julgar ambos os crimes.
B) Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro do lugar da infração, ainda
quando conhecido o domicílio do réu.
E) Compete ao foro do local da emissão do cheque processar e julgar o crime de estelionato mediante
cheque sem provisão de fundos.
8. 2014. VUNESP. TJ-PA. Oficial de Justiça Avaliador. Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de
duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pelo(a)
B) prorrogação.
C) conexão.
D) continência.
E) prevenção.
Gabarito
1. Letra B
2. Letra C
3. Letra E
4. Letra D
5. Letra D
6. Letra A
7. Letra D
8. Letra E
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. ed. rev., amp. e atual. Salvador:
Ed.JusPodivm, 2017.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmulas do STF e STJ anotadas e organizadas por assunto. 2. ed. rev.,
atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2017.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Vade Mecum de jurisprudência dizer o direito: 2018. Salvador: JusPodivm,
2018.