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RESUMO
O trabalho descreve a síntese de nanocompósitos da polianilina/argila montmorilonita organofílica
por polimerização in situ, com objetivo de demonstrar seu efeito nas propriedades condutoras do
polímero. Inicialmente, a argila comercial montmorilonita K10 (MMT-K10) foi submetida ao
tratamento de organofilização através do uso do sal de brometo hexadeciltrimetilamônio
(CH3(CH2)15N(Br)(CH3)3). A polimerização da anilina ocorreu através da polimerização em emulsão
junto com a argila organofílica. Os materiais foram caracterizados através das técnicas de
espectroscopia de absorção na região do infravermelho (FTIR), espectroscopia de absorção na faixa
do ultravioleta-visível (UV-VIS) e difração de raios-X (DRX). Através da técnica de FTIR e DRX foi
possível identificar a organofilização da argila, e por meio do FTIR e do UV-VIS foi identificada a
polimerização da anilina no estado de sal de esmeraldina, formando o nanocompósito. Os
resultados mostram a formação do nanocompósito e a influência da argila modificada,
principalmente, na diminuição da condutividade da polianilina. Conclui-se que a perda de
condutividade foi irrelevante e que dependendo do tipo de material desenvolvido, fibras ou filmes,
por exemplo, poderemos obter um nanocompósito a base de polímero e argila com maior
condutividade.
Palavras-chaves: argila organofílica, nanocompósitos, polímero condutor.
ABSTRACT
The work describes the synthesis of polyaniline/organophilic montmorillonite nanocomposites by in
situ polymerization, in order to demonstrate it`s effect on the conductive properties of the polymer.
Initially, the commercial montmorillonite clay K10 (MMT-K10) was subjected to the organophilization
treatment through the use of the hexadecyltrimethylammonium bromide salt
(CH3(CH2)15N(Br)(CH3)3). Polymerization of the aniline occurred through the emulsion polymerization
together with the organophilic clay. The materials were characterized through the techniques of
infrared absorption spectroscopy (FTIR), ultraviolet-visible absorption spectroscopy (UV-VIS) and X-
ray diffraction (XRD). Through the FTIR and XRD technique it was possible to identify the
organophilization of the clay, and through FTIR and UV-VIS, the polymerization of the aniline in the
emeraldine salt state was identified, forming the nanocomposite. The results show the formation of
the nanocomposite and the influence of the modified clay, mainly, in the reduction of the conductivity
of the polyaniline. It is concluded that the loss of conductivity was irrelevant and that depending on
the type of material developed, fibers or films, for example, we can obtain a nanocomposite based
on polymer and clay with higher conductivity.
Keywords: organophilic clay, nanocomposites, conductive polymer.
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1. Introdução
Os materiais nanocompósitos vêm constituindo uma nova classe de
materiais que envolvem sua dispersão de forma nanométrica em uma matriz. Estes
materiais são combinações entre uma matriz e partículas que atuam como
enchimento (Lagaly, 1999). Nanocompósitos de polímeros são comumente
baseados em matrizes de polímeros reforçadas com nano-enchimentos tais como
sílica, esferolitas, zeólitas, entre outros. Estas apresentam uma fase ultrafina,
tipicamente na faixa de 1-100 nm, apresentam melhorias em suas propriedades
quando comparados com micro e macro-compósitos (Meneghetti & Qutubuddin,
2006).
A transição na utilização de partículas mili e micrométricas para
nanométricas proporcionou uma grande melhoria e até o surgimento de novas
propriedades físicas nestes materiais. Os nanocompósitos podem apresentar
propriedades como: módulo elástico (Xu et al., 2006), resistência a solvente e
ultravioleta, propriedade de barreira a gases e líquidos (Brody, 2007), estabilidade
dimensional e de resistência à chama (Hackman & Hollaway, 2006), superiores às
dos compósitos.
Nanocompósitos polímero/argila tem sido objeto de pesquisa com a
finalidade de verificar como a argila pode influenciar nas propriedades dos
polímeros e vice-versa. Esses são materiais compósitos, com matrizes
poliméricas, na qual a fase dispersa é o silicato, formada por partículas elementares
em que pelo menos uma de suas dimensões é nanométrica (Anadão et al., 2011).
A polianilina (PANI) vem sendo investigada e utilizada devido a uma série de
propriedades como: condutividade elétrica em condições ambientais, estabilidade
química, facilidade de polimerização e de dopagem, além do baixo custo do seu
monômero (Müller et al., 2011; Guimarães et al., 2012; Chen et al., 2013). Uma
característica relevante deste polímero condutor é a mudança em sua coloração
quando há alteração do pH ou do potencial elétrico a que está submetido.
Dependendo das condições aplicadas são obtidos diferentes estados de oxidação
como: leucoesmeraldina, esmeraldina e pernigranilina (Mattoso, 1996; Wallace et
al., 2002). A Tabela 1 mostra os principais estados de oxidação da PANI, estruturas
químicas e suas características em relação à cor e a condutividade elétrica.
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Sal de
Esmeraldina Verde Condutora
320, parcialmente
420, oxidada
800
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poliméricas, etc. (Kanatzidis, 1990; Mattoso, 1996; Bhadra et al., 2009; Gheno,
2010).
Dessa forma, a condutividade elétrica cresce com o aumento na massa
molar, temperatura, umidade, nível de dopagem e graus de cristalinidade e de
estiramento. Um crescimento no estiramento pode aumentar significativamente a
condutividade da PANI, por exemplo, uma condutividade de σ = 6x103 S/cm para
uma deformação ε = 600 %. A condutividade, geralmente, diminui com a
funcionalização da PANI e a formação de copolímeros entre a anilina e a anilina
funcionalizada, obtendo-se assim uma condutividade intermediária (Angelopoulos
et al., 1997; Wallace, 2002).
As argilas têm sido utilizadas desde a idade da pedra na agricultura (solos),
cerâmicas e como material de construção. O conhecimento da estrutura e
propriedades das argilas está acompanhando o rápido avanço em processamento
e modificação dessas para diversos usos comerciais (Zhou & Kelling, 2013).
Argilominerais, tais como caulinita (Cheng et al., 2012), montmorilonita (Liu et al.,
2012), vermiculita (Mouzdahir et al., 2009) vem sendo bastante utilizadas em
catálises, como adsorventes, em sensores, em biomateriais, como pesticidas,
como materiais antibacterianos, entre outros (Liu, 2007; Zhou & Kelling, 2013).
Alguns argilominerais possuem estruturas lamelares, sendo cada uma delas
formada pelo arranjo estrutural de dois tipos de organizações cristalinas em formato
de folhas: uma com arranjo de uma ou duas folhas de silicato tetraédrico (Si-O) e
uma ou duas folhas de óxido ou hidróxido de metal octaédrico (M-O ou M-OH). Os
diferentes grupos de argila são definidos de acordo com a organização da estrutura
cristalina, o formato 1:1, em que apenas uma estrutura cristalina no formato de folha
tetraédrica está ligada a outra estrutura cristalina no formato de folha octaédrica;
ou o tipo 2:1, na qual uma estrutura cristalina no formato de folha octaédrica está
sendo envolvida por duas estruturas cristalinas no formato de folhas tetraédricas;
ou ainda o tipo 2:2, que é composta por quatro folhas, sendo essas alternadas no
arranjo pelas folhas octaédrica e tetraédrica (Zhou & Kelling, 2013). No campo dos
nanocompósitos, as argilas mais utilizadas pertencem à família dos silicatos em
camadas 2:1, por exemplo, a montmorilonita, vermiculita e saponita.
Por volta de 1920 teve inicio o estudo e desenvolvimento de intercalação de
moléculas orgânicas em argilas, logo após a descoberta da técnica de difração de
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Figura 2. Troca de cátions por íons de sais quaternários de amônio em meio aquoso.
Fonte: (Barros, 2015).
Estudos realizados por Barbosa et al. (2007) mostram que após a
incorporação da argila modificada ao polímero, algumas propriedades deste são
aperfeiçoadas como as propriedades térmicas, óticas, de resistência a solventes e
inflamabilidade. A diminuição da difusão das moléculas de oxigênio para o interior
do nanocompósito, devido à barreira formada pelas partículas de argilas, causa
maior estabilidade térmica. Esta modificação na difusão do polímero pela argila
reduz também a entrada de oxigênio, que é o principal fator de sua deterioração.
Desta forma o nanocompósito modificado torna-se mais resistente à degradação
oxidativa.
Nanocompósitos do tipo argila montmorilonita organofílica e polianilina
possuem alta rugosidade, permitindo uma área de superfície maior para interagir
com o vapor de moléculas, tornando estes materiais atraentes para aplicações em
sensores. No entanto, mesmo que a síntese e caracterização de vários compósitos
inorgânico-orgânicos deste tipo tenham sido descritas, pouca atenção tem sido
dedicada para a utilização destes materiais como sensores de presença de
compostos voláteis (Gao, 2004; Paiva et al., 2008; Bober et al., 2010).
Na polimerização in situ, a argila é dispersa em um monômero ou uma
solução do mesmo, para que o monômero penetre no espaço interlamelar,
causando a delaminação. Depois dessa etapa é iniciado o processo de
polimerização através da ativação do catalisador por calor ou radiação. Com esse
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2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.2. Métodos
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Figura 5. Espectro na região do infravermelho (FTIR) para a (a) argila MMT-K10, (b) a
argila MMTO e (c) do compósito PANI/MMTO.
A técnica de FTIR é muito importante no estudo de argilas organofílicas, pois
fornece informações detalhadas sobre a estrutura interlamelar e a fase de
alquilamônio entre as galerias da argila. Os resultados revelam as variações de
frequência nos estiramentos e deformações angulares de grupos CH 2 dos sais
orgânicos como função da densidade de empacotamento, comprimento da cadeia
e temperatura. A intercalação de cátions hexadeciltrimetilamônio na montmorilonita
foi avaliada através da comparação dos espectros de FTIR da montmorilonita
natural e da montmorilonita modificada quimicamente.
Para a MMT-K10, a banda localizada em 3622 cm-1 (Fig. 5) está relacionada
às vibrações de estiramento das ligações OH. As bandas localizadas em 3453 cm-
1 e 1642 cm-1 são devidas as vibrações de estiramento e de deformação da hidroxila
das moléculas de água entre as lamelas da argila. Por sua vez, as bandas em 1051
cm-1, 527 cm-1 e 469 cm-1 são relacionados as ligações de silício, as quais são
vibração de estiramento das ligações Si-O, e vibrações de deformação das ligações
Si-O-Al e Si-O-Si, respectivamente (Gao, 2004; Brancifortti et al., 2009).
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Figura 6. Espectro de absorção da região do UV-VIS para (a) o polímero PANI e para (b)
o nanocompósito PANI/MMTO.
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4. CONCLUSÃO
Os resultados da caracterização confirmam a realização do processo de
organofilização da argila MMT-K10 e da polimerização in situ. Desta forma, foi
possível obter nanocompósitos PANI/MMTO. Uma dispersão estável e de
coloração verde foi obtida indicando um estado de oxidação condutor da PANI na
forma de sal de esmeraldina. A adição da argila ocasionou uma leve diminuição na
condutividade do nanocompósito, como era esperado, devido à presença de cargas
isolantes entre as cadeias poliméricas. Porém, pode-se afirmar que os
nanocompósitos continuam com uma excelente condutividade elétrica. Ainda
assim, a argila promove uma maior área superficial no compósito, propriedade esta
que torna este compósito polímero condutor/argila um material promissor em
aplicações na área de sensores. Além disto, a depender do tipo de material
desenvolvido, fibras ou filmes, por exemplo, podemos obter nanocompósitos destes
materiais com maior condutividade, além de reduzir o custo final do produto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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