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gestãoescolar

CURSO

DESAFIO DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI

GESTÃO NA DIMENSÃO PEDAGÓGICA:


Avaliação de processos
e resultados
Casemiro de Medeiros Campos

5
FASCÍCULO
Copyright © 2016 by Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


Presidência
João Dummar Neto

Direção Geral
Marcos Tardin

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)


Coordenação Geral
Ana Paula Costa Salmin

INSTITUTO ALBANISA SARASATE (IAS)


Direção Geral
Cliff Villar

CURSO GESTÃO ESCOLAR


Concepção e Coordenação Geral
Cliff Villar

Coordenação de Conteúdo
Lucidalva Bacelar

Coordenação Pedagógica
Ana Paula Costa Salmin

Edição de Design
Amaurício Cortez

Editoração Eletrônica
Antônia Maria Coutinho
Welton Travassos

Revisão de Texto
Daniela Nogueira

Ilustrações
Rafael Limaverde

Catalogação na Fonte
Kelly Pereira

Produção Executiva de Projetos Especiais


Lucíola Vitorino
Rebeca Sousa

Este fascículo é parte integrante do Curso Gestão Escolar composto por 12 fascículos
oferecido pela Universidade Aberta do Nordeste (Uane), em decorrência do contrato
celebrado entre as prefeituras municipais de Camocim, Fortaleza, Itapipoca, São Gonçalo
do Amarante e Tauá e a Fundação Demócrito Rocha (FDR), sob no. 2016.05.10.001, 89/2016,
16.06.05/DP, 2016.05.20.001 e 1808.01/2016, respectivamente.

C939 Curso gestão Escolar: desafio da educação no século XXI / coordenação, Cliff Villar;
ilustração, Rafael Limaverde. – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha/UANE/Instituto
Albanisa Sarasate, 2016.
288p. il. color; (Curso em 12 Fascículos) Todos os direitos desta edição reservados a:

ISBN 978-85-7529-734-6
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
1. Curso – Gestão escolar I. Villar, Cliff. Rafael. II. Limaverde, Rafael. III. Título Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271
CDU 37.014.63(813.1) fundacaodemocritorocha.com.br
fundacao@fdr.com.br

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SUMÁRIO
1. Introdução........................................................................................................................................... 2
2. O gestor escolar na qualidade de dirigente do Projeto
Político-Pedagógico e do Regimento Escolar ................................................................................... 5
2.1 A docência........................................................................................................................................................6
2.2 Os desafios da gestão escola...........................................................................................................................8
2.3 Gestão pedagógica da escola .......................................................................................................................10
3. O gestor em ação conjunta com o coordenador pedagógico no acompanhamento
dos processos pedagógicos e dos resultados educacionais........................................................... 14
4. O aproveitamento significativo do tempo pedagógico................................................................... 17
5. Avaliação da aprendizagem e avaliações externas: como integrá-las............................................ 19
Síntese do fascículo.............................................................................................................................. 22
Perfil do Autor........................................................................................................................................ 22
Referências Bibliográficas.................................................................................................................... 23

OBJETIVOS:
Estudar as questões referentes à gestão
considerando a dimensão pedagógica
por meio da avaliação de processos
e os seus resultados.

Compreender a gestão da escolar a partir


da prática pedagógica;

Refletir sobre a função do diretor escolar e do


coordenador pedagógico na organização
dos processos pedagógicos na escola;

Analisar o fenômeno da gestão escolar


como prática exitosa para a reinvenção
de outra escola possível.

CURSO gestãoescolar 3
1.
INTRODUÇÃO
O paradigma da escola moderna nos trouxe
ao debate sobre a gestão da escola como re-
ferência para a qualidade da educação. Essa
possibilidade está relacionada com a dimensão
fundamental que se coloca como aspecto nu-
clear à aprendizagem dos alunos. A gestão da
escola deve propor como determinação o foco
no pedagógico. Para isso, é necessária a com-
preensão da aprendizagem de forma eficaz. Daí,
é preciso um modelo de gestão que permita o
envolvimento dos professores com o compro-
misso de concretizar em sala de aula a qualida-
de das aprendizagens.
A escola nos últimos anos tem passado por
transformações que exigem dos gestores uma
postura profissional – técnica e política – diante
dos desafios que são colocados para a educa-
ção. Se queremos uma nova proposta de escola,
não podemos continuar agindo como sempre
se fez há tempos, pois a acomodação nos impe-
de de vencermos as dificuldades. Se queremos
construir mudanças em nossas vidas, nas vidas
das pessoas e em nossas escolas, não podemos
fazer aquilo que é da nossa responsabilidade da
mesma forma como sempre foi feito. Fazendo
as nossas atividades como sempre foram feitas,
não podemos esperar resultados diferentes do que excelentes resultados são frutos de muito que sinalizem a centralidade da escola sobre o
que temos hoje. Daí, tão necessária a mudança! trabalho – trabalho coletivo. ensino e aprendizagem e a função das novas
Os gestores que conseguiram realizar um O ambiente em que as escolas públicas tecnologias, das mídias e da comunicação, prin-
projeto exitoso romperam o círculo da gestão estão situadas atualmente é marcado por um cipalmente, se considerarmos os interesses dos
comum e empreenderam, inovaram, soube- conjunto de fatores que são determinados pela alunos em vivenciarem experiências mediadas
ram incorporar de forma crítica novas tendên- nova ordem internacional. A globalização sob pela interatividade. Isso pede a nossa atenção
cias, recriaram no seu ambiente de trabalho a lógica neoliberal exige de nós que fazemos a para que a gestão da escola esteja preparada
um movimento, estimulando as pessoas sob educação uma posição muito lúcida frente à para os desafios que as novas gerações vão tra-
a sua liderança a vencer a crise sendo otimis- condição que estamos protagonizando. Essa zendo para o interior da escola.
tas no trabalho: definiram um planejamento, condição nos remete à gestão e aos cuidados As mudanças acontecem de forma muito
perseguiram metas, realizaram ações estratégi- que temos que tomar para o respeito ao ser veloz. Portanto, é preciso que a escola este-
cas... Erraram, receberam críticas, aprenderam humano. Isso pede um rompimento com os ja consciente para a sua responsabilidade e
e conseguiram atingir os objetivos propostos, modelos do passado que orientavam a gestão. aberta para a transformação. A gestão escolar
mas não como fins em si mesmos. Sabemos Temos como tarefa construir outros paradigmas será chamada cada vez mais para articular a

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instituição escolar e o seu papel na sociedade nômios são colocados para que possamos com- resultados educacionais.
contemporânea. Essa ação vai requerer uma preender as rupturas que podem ser realizadas: III – O aproveitamento significativo do
profunda revisão da organização pedagógica, - Qualidade e quantidade; tempo pedagógico.
que somente será possível se a escola possuir - Investimento e custos; e IV – Avaliação da aprendizagem e ava-
um rumo, um projeto que tenha sido produto de - Cultura e clima organizacional. liações externas: como integrá-las.
compromissos de todos que fazem a escola para As mudanças que a sociedade nos pede Esses tópicos foram estruturados para
o engajamento integrado a uma perspectiva co- precisam da nossa honestidade e inteireza. Sa- orientar a sua prática na gestão da escola e, a
letiva. É inadmissível que uma escola não tenha bemos que a qualidade e a quantidade têm sido partir das reflexões aqui sugeridas, você possa
uma proposta pedagógica ou mesmo um pro- ponto de grandes polêmicas. Mas, se não traba- verificar como aplicá-los à sua realidade na fun-
jeto político-pedagógico. Uma escola sem es- lharmos para o equilíbrio desta relação, como ção que exerce – de diretor, coordenador, supe-
sas ferramentas definidas coletivamente é uma vamos construir a equidade na vida social? A so- rintendente ou supervisor. O nosso propósito é
instituição que faltará com práticas estratégicas ciedade também nos solicita cuidado com os re- permitir-lhe a atualização, por meio da forma-
que guiarão a unidade escolar ao lugar onde se cursos que sempre são escassos para as nossas ção contínua de gestor, e contribuir para a defi-
deseja chegar. Mas é preciso definir para onde se necessidades. Como fazer o dinheiro que chega nição de que outra escola é possível.
quer levar a escola. Caso contrário, a escola não à escola render? Como diminuir os curtos e au- Boa leitura!
sairá do seu lugar-comum. mentar os investimentos numa época de crise

2.
Veja como é importante a função do gestor fiscal e falência do Estado? As mudanças pre-
escolar como líder. Tornar uma escola uma ins- cisam ter perenidade. Daí, é fundamental que
tituição aprendente pede uma liderança com- possamos alimentar a cultura da escola para a
promissada com a organização escolar, requer transformação, mas sem esquecer que a cultu-
a figura de um gestor, que exerça uma liderança
negociada entre os colaboradores. Gestores mal
ra da escola deve ser modificada. Somente em
um clima organizacional em que a colaboração
O GESTOR ESCOLAR
preparados, que não conhecem a ambiência, o
contexto, não saberão apontar horizontes. Por
mútua se faz presente é que podemos fazer as
coisas acontecerem.
NA QUALIDADE
isso, é necessária a formação dos que fazem Eis o legado da educação: promover uma DE DIRIGENTE DO
a gestão da escola, para que o líder possa esti- formação para radicalizar a humanidade no
mular a todos que fazem a escola ao exercício outro. Como colocar essa conceituação na práti- PROJETO POLÍTICO-
da sua função e atividade com compromisso
sabendo o lugar ao qual a escola quer chegar.
ca? De forma simples: educar. A educação pode
contribuir para a melhoria da vida das pessoas, PEDAGÓGICO E DO
O líder no presente tem que saber se antecipar
ao futuro. Assim, o líder deve ter uma excelente
tornando-as mais humanas.
Nesta caminhada, saiba que você contará
REGIMENTO ESCOLAR
formação, que o permita conhecer a realidade com o nosso apoio. Assim, queremos fazer parte “O que dava tranquilidade ao ensino...
e possibilitá-lo de fazer uma leitura da realidade da sua história de conquistas na gestão escolar. era não estar comprometido com o futuro,
em que a escola está situada, deve analisar as Pensamos este curso para você. Preparamos mas com o passado. Hoje a situação
referências da escola básica, dominar a legisla- neste Fascículo nº 5 – Gestão na Dimensão Pe- é polarmente oposta: todo saber foi
ção e normas, conhecer o currículo e interpretar dagógica: Avaliação de Processos e Resulta- transformado e se está transformando...”
as políticas públicas. Ou melhor, é preciso que dos um conjunto de conhecimentos que foram (Anísio Teixeira).
o gestor da escola, como líder, seja capaz de experimentados e modelados na forma de argu-
agregar valor à sua comunidade escolar e saiba mentos que você terá a oportunidade de estudá- A transformação que vivemos no mundo hoje
posicionar a sua escola no cenário que exige da -los, analisando os seguintes tópicos: nos remete ao desafio de compreender a nos-
escola pública o compromisso com a qualidade I – O gestor escolar na qualidade de sa realidade e como nos inserimos neste con-
das aprendizagens dos alunos. dirigente do Projeto Político-Pedagógico e texto de pluralidade tão complexa. O que os
Nos últimos anos, a escola está sendo cobra- do Regimento Escolar. especialistas apontam é que as sociedades do
da à sua contínua melhoria. Os resultados das II – O gestor em ação conjunta com o capitalismo periférico encontram-se no mo-
avaliações têm nos mostrado a lenta, mas gra- coordenador pedagógico no acompanha- vimento da passagem do modelo industrial
dual melhoria da escola pública. Porém, três bi- mento dos processos pedagógicos e dos para outra forma de sociabilidade denomi-

CURSO gestãoescolar 5
nada de pós-industrial. Essa nova relação faz sam a constituir um projeto uniforme. A escola que os alunos têm uma nova relação com o co-
suscitar a perspectiva de construção de pos- primariamente é determinada pelo sistema que nhecimento e que a função do professor passa
sibilidade que se abre para o futuro. Ou seja, constitui a base material da sociedade. Por isso, a ser organizar o conhecimento para eles apren-
diante da ausência de uma nova utopia, qual temos de afiar a nossa consciência diante da re- derem coisas novas. Daí, podemos perguntar: o
a possibilidade de termos por meio da edu- alidade e das práticas sociais, pois quase sempre que muda para a escola nessa nova relação que
cação, no campo da formação de recursos a instituição escolar reproduz a vida social, mes- os alunos têm com o conhecimento?
humanos, a reconstrução de outro projeto de mo quando favorável à transformação social. Fazer escola não é uma tarefa fácil. Os pro-
emancipação da humanidade? Para nós, que fazemos escola, uma certeza blemas na qualidade da escola exigem determi-
Essa questão nos leva a compreender a im- se evidencia com a realidade da sociedade atu- nadamente a necessidade de trabalhar o peda-
portância da função escolar como instituição e o al: temos, como cidadãos, a responsabilidade gógico e, neste caso, os sujeitos fundamentais
significado do trabalho docente. Mas qual esco- de acompanhar e exigir dos governos que as po- do processo ensino e aprendizagem são aluno e
la e para qual sociedade estamos a fazer? Qual líticas educacionais se realizem corretamente, professor. As pessoas apenas motivadas não é o
a função da escola para a formação de sujeitos? inclusive com a aplicação honesta dos recursos. suficiente para transformar a realidade escolar.
Qual a relevância do trabalho dos professores? Neste sentido, muitos avanços foram conquista- É preciso que os resultados da avaliação sejam
Essas questões são fundamentais para guiar a dos, temos como exemplo a edição de leis – a considerados para que se possam verificar os
nossa reflexão sobre a necessidade de ressignifi- Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei da “Ficha limites para a sua superação por meio do pla-
cação do trabalho dos gestores escolares. Limpa”. Esses mecanismos são instrumentos nejamento. Os resultados da avaliação podem
Numa sociedade do conhecimento, a edu- legítimos da democracia que possibilitam o gerar no mínimo consequências, mas também
cação escolar cumpre uma tarefa de grande acompanhamento da sociedade e o zelo dos podem produzir outras repercussões, como in-
significado, pois os níveis de escolarização que gestores na condução da coisa pública. tervenções mais graves na instituição escolar e
uma pessoa adquire passam a ser elemento Assim, as políticas de educação devem até mudanças nos sujeitos participantes.
diferencial para a qualidade de vida e condição garantir o acesso, a universalização e a per- A realidade humana requer o senso crítico
de possibilidade para a melhoria de vida. Aqui manência da criança na escola, mas também para que possamos sempre duvidar, questionar
reside a tarefa monumental de educar um povo: é tarefa do Estado, no caso da escola públi- e discordar, mas é importante que possamos
um povo educado tem a capacidade de cons- ca, promover as boas condições de trabalho qualificar o professor para exigir a melhoria per-
truir e implementar projetos que permitem a para que, investindo no professor, se possa manente da aprendizagem dos alunos, no seu
efetivação da mudança das relações sociais que garantir a aprendizagem das crianças na desempenho e no rendimento dos educandos,
impactam na sua realidade. idade “certa”. O ensino deve ter como foco o trazendo-lhes consequências positivas. Não há
Vivemos um mundo de mudanças, de mui- pedagógico, não se limita à melhoria da es- segredos: a base da mudança na melhora da
tas mudanças. Se a educação serve para formar, trutura física da escola, como a escola limpa qualidade da escola encontra-se na formação
temos como paradigma o desenvolvimento ple- e bem cuidada e a garantia das condições de dos professores e no acompanhamento do tra-
no do ser humano. Então, precisamos ressignifi- trabalho docente, mas é preciso assegurar a balho docente. Eis o nosso desafio: integrar na
car o papel da escola. Enquanto seres humanos, valorização dos professores com excelentes escola a gestão escolar e a docência!
a vida é diversa, porém a nossa realidade é ma- salários e garantir uma formação do mais
peada de forma a constituirmos uma uniformi- alto nível, tanto no âmbito da sua formação
dade. A lógica do sistema econômico determina docente inicial como na formação continua-
essa situação uniforme. O sistema econômico da, bem como dos gestores escolares.
e político quer impor algo diferente da nature- No entanto, é da nossa responsabilidade re- 2.1 A DOCÊNCIA
za humana e nos impõe a uniformidade como fletir seriamente sobre o que está acontecendo, O magistério é uma das profissões mais
se fosse algo próprio da nossa humanidade. compreender os novos fenômenos no mundo complexas. O seu conteúdo é a própria hu-
É dessa forma que a cultura e a educação pas- da socialização do conhecimento e entender manidade. A ação docente não se limita ao

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ensino, à sala de aula ou à escola. O seu conteúdo movido pela ação docente, que é situada, e a situa- 1
José Gimeno
é identificado com a própria humanidade. Ou seja, ção é marcada pela ação docente. A prática docente Sacristán:
fazer no outro a humanidade partilhando crenças, forja o conhecimento prático dos professores, que é Pesquisador e
emoções, afetos e valores, promovendo na pessoa aperfeiçoado ao longo da sua carreira no magisté- professor Catedrático
de Didáctica y
humana o sentido da vida. rio. É neste sentido que se interpreta a dimensão da Organización Escolar
A docência é uma prática carregada de sentido, reflexão da ação docente: é um conhecimento que na Universidad de
marcada por uma ambiência, situada numa realidade se gesta na relação entre o pensamento, a ação e o Valencia. Atuou
como profesor
em que se busca realizar, por um ato finito, o ser infi- pensamento sobre a ação. É aí que se gera o conhe- na Universidad
nito do humano. Assim, a razão que orienta o saber cimento que está implícito na ação docente e o co- Complutense
docente é constituída por uma racionalidade pedagó- nhecimento que se explicita como fruto da reflexão de Madrid e na
gica. O professor desenvolve pela sua experiência uma sobre a ação. A docência é uma arte que se faz para Universidad de
Salamanca - Espanha,
prática que, mediada pela reflexão, gera um conheci- além da técnica e se realiza como uma ação intelec- e como profesor
mento que lhe é específico. Não existe receita para se tual que requer autonomia do sujeito que a exerce. visitante em outras
formar um bom professor. No entanto, é daí que emer- Mas a ação docente dos professores no seu tra- universidades da
Espanha e no exterior.
ge a ambiguidade da docência. O que garante a do- balho é uma atitude profissional, pessoal e política. No ano de 2010,
cência? Qual o resultado do trabalho dos professores? O professor é sujeito que, desafiado pela responsa- recebeu o título de
Qual a certeza de se conseguir o que se planejou no bilidade frente às demandas da sociedade, deve ter Doctor Honoris Causa
por la Universidad
fim da atividade proposta pelos professores? Será que o seu compromisso com a utopia e a emancipação de Málaga. Nos
basta a formação numa licenciatura para ser um bom de uma tarefa ética de respeito incondicional à dig- anos seguintes,
professor? Se a formação universitária não assegura a nidade do ser humano. recebeu o mesmo
formação de um bom professor, de que vale a univer- Os professores precisam de incentivo no desenvol- reconocimiento
por la Universidad
sitarização da profissão? O que faz um bom professor? vimento do trabalho docente. Para a elaboração do de San Luis, na
No seu cerne, a docência é um ofício, que se faz designer didático, por meio do planejamento, a feitura Argentina. O Prof.
modernamente como uma profissão. Portanto, se de uma aula exige criatividade e conhecimento, sobre- Gimeno Sacristán
possui várias obras
aprende ser professor por uma conquista de ser hu- tudo mobilizados numa situação de ensino e aprendi- de referencia em
mano, fazendo no outro a própria humanidade; é pela zagem. A docência pede do professor que transforme educação publicadas
alteridade de reconhecer o outro que se faz a docên- informação em conhecimento, conhecimento ensina- no Brasil.
cia. Não é algo simples a formação de professor. É um do em aprendizagem. Aqui se aplica a máxima: não
desafio contínuo ser professor. É uma conquista que se ensina a quem não quer aprender. Não é suficiente
se faz dia a dia, em cada atividade, na aula, na sala de uma escola em que os alunos estejam matriculados,
aula, na escola, com os alunos, com os colegas pro- mas é necessário aprendermos a fazer uma escola dos
fessores e até com os pais dos alunos. O conteúdo de nossos sonhos, em que todos os alunos tenham opor-
uma aula não está apenas no conteúdo a ser ensina- tunidade de aprender. Os professores têm que desen-
do, mas na realização da formação do humano a outro volver um agir pedagógico que seja otimista confian-
ser humano, que se faz educando. do que os alunos podem aprender.
É sabido que o ensino é uma atividade prática. Portanto, a docência é uma profissão muito es-
A prática docente é uma ação concebida pelas cir- pecial. A valorização do professor e da professora
cunstâncias que marcam a nossa própria humani- deve contar com o reconhecimento de toda a so-
dade. Destaco que a experiência docente é consti- ciedade. Boas condições de trabalho, salário digno
tuída pela cultura social, fonte da prática educativa. que permita ao professor uma vida segura e con-
Como esclarece o Sacristán 1 (2000), o professor age fortável, que viabilize ao professor escolher as suas

CURSO gestãoescolar 7
leituras, que permita tempo de ócio para o
estudo, dedicado a sua atualização, lazer de
qualidade e até o consumo de produtos cul-
turais como livro, o CD, o teatro e o cinema
é fundamental para a ressignificação do pro-
fessorado. O magistério é um dos trabalhos
mais difíceis de realizar; não é fácil conseguir
êxito na ação docente. O aluno não vai para
a escola por vontade própria. Trata-se antes
de uma imposição social. A valorização do
magistério implica a melhoria da qualidade
da educação, da escola e do ensino e da so-
ciabilidade de forma ampla.
Por isso, educar é um fazer do impossível,
como afirma Kant, ou mesmo uma tarefa do
irrealizável, pois “ninguém educa ninguém,
ninguém se educa sozinho. Educar é um ato de
amor, é um ato de comunhão entre os homens”,
como nos ensina Freire 2 (1997).

2.2 OS DESAFIOS DA formal. A gestão


escolar se entende
GESTÃO ESCOLAR por gestão de seres
Assim como a docência, a gestão escolar é humanos, pessoas,
uma atividade das mais complexas. Não é indivíduos que se fazem
fácil a administração da escola. A escola é atores em uma ambiência
uma instituição social que se organiza de determinada. No entanto, a es-
forma muito especial, pois nela carrega o cola como instituição social requer o
sentido profundo do ato de educar: fazer planejamento, o ensino, a aprendizagem a
a humanidade no outro. A partir das pes- partir do contexto da avaliação que cons-
soas que a fazem, os seus gestores, pro- titui o foco nuclear da prática do professor tem por base a docência. O gestor escolar
fessores, técnicos, alunos e pais, a escola amparada no pedagógico. É muito impor- trabalha com processos, desenvolvendo pela
se define como locus específico do saber tante a experiência na gestão da escola. sua experiência uma prática que, mediada
científico e do próprio desenvolvimento Pesquisas têm revelado que o bom gestor pela reflexão, gera um conhecimento que lhe
do ser humano. em geral é fruto da exitosa docência. é especifico. Não existe receita para se formar
Desse modo, é uma instituição que se A gestão escolar é uma prática carrega- um bom gestor. Daí, um dos graves proble-
faz por uma racionalidade do sensível, da de sentido, marcada por uma ambiên- mas que estamos enfrentando nos sistemas
porque humana. O conteúdo da gestão se cia, situada numa realidade determinada de educação é a formação do gestor escolar.
constitui por um conjunto de ações que sócio-histórica e culturalmente. No entan- No Brasil, sobre a gestão da escola falta-nos
não se limita à administração e à burocra- to, a razão que orienta o saber do gestor uma “escola de formação”, uma tradição da
cia escolar, mas a ultrapassa para além do é constituída por uma racionalidade que formação de modelos para a gestão escolar.

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Em geral, os modelos de governan- 2
Paulo Freire: Nasceu no Recife (PE) em época processo de independência.
ça empresarial são adaptados para a 19 de setembro de 1921. Formou-se em No fim do ano de 1971 realizou sua primeira
Direito na Faculdade de Direito do Recife. visita à Zâmbia e à Tanzânia. Nos anos
gestão da escola. Mas sabemos que na Tinha grande preocupação com o número posteriores, passou a ter uma participação
escola os modelos aplicados na em- de adultos analfabetos. Daí desenvolveu mais significativa na educação de Guiné-
presa devem, no mínimo, sofrer uma uma proposta de alfabetização que Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe.
denominou de Método de Alfabetização Também influenciou as experiências de
séria adaptação para ganharem con- Angola e Moçambique.
Paulo Freire. As primeiras experiências
sistência e se tornarem ferramentas de de aplicação do Método Paulo Freire Nos anos de 1980, depois de cumprir
suporte para a instituição escolar. Por- aconteceram no Rio Grande do Norte, em 16 anos no exílio, retornou ao Brasil,
1963, quando alfabetizou 300 adultos, onde escreveu dois livros tidos como
tanto, assim como a docência, a gestão fundamentais em sua obra: “Pedagogia
ensinando-os a ler e a escrever em 45 dias.
da escola é difícil na definição racional Seu projeto educacional estava vinculado da Esperança” (1992) e “À Sombra
da sua especificidade, pois se realiza ao nacionalismo desenvolvimentista do desta Mangueira” (1995). Lecionou na
a sua função por uma ambiguidade: governo do presidente João Goulart, mas Universidade Estadual de Campinas
teve a sua carreira no Brasil interrompida (Unicamp) e na Pontifícia Universidade
como é possível assegurar os excelen- pelo golpe militar de 31 de março de 1964. Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1989,
tes resultados de processos quando se Após ser acusado de subversão, ele passou foi secretário de Educação no Município
tem a intersubjetividade como elemen- 72 dias na prisão e em seguida partiu para de São Paulo, durante a gestão da prefeita
o exílio. No Chile, trabalhou por cinco anos Luíza Erundina.
to central? As pesquisas têm apontado Recebeu título de Doutor Honoris Causa
no Instituto Chileno para a Reforma Agrária
que se torna gestor por uma conquista (ICIRA). Nesse período, escreveu o seu em 27 universidades. Paulo Freire foi
de compreender o ser humano, inseri- principal livro: “Pedagogia do Oprimido” condecorado com vários prêmios, tais
(1968). como: Educação para a Paz (das Nações
do no contexto educativo, fazendo no Unidas, 1986) e Educador dos Continentes
No ano de 1969, foi convidado a lecionar
outro a própria humanidade. na Universidade de Harvard (Estados (da Organização dos Estados Americanos,
Unidos), e nos anos de 1970, foi consultor 1992). Faleceu em São Paulo, no dia 2 de
do Conselho Mundial das Igrejas (CMI), em maio de 1997, deixando o seu legado para a
Genebra (Suíça). Nesse período, prestou construção da Pedagogia Libertadora.
consultoria internacional em educação a Para conhecer mais sobre Paulo Freire,
governos de países africanos, que viviam à visite: www.instituto paulofreire.org.br

Mas no Brasil nos falta uma escola, Mas a ação da gestão escolar é um trabalho O gestor escolar, seja da escola pública, seja
uma tradição de formação de gestores es- que exige a tomada de decisão como uma ati- da escola privada, tem em comum o processo
colares. Os gestores, por vezes, nunca tive- tude profissional e pessoal, política e técnica. O decisório. Para que o trabalho realizado na
ram, propriamente, uma formação especí- gestor é sujeito que, desafiado pela responsabi- gestão escolar possa ter êxito, é necessário um
fica nem adquiriram a experiência com a lidade frente às demandas da sociedade, tem o projeto que sirva como guia para as ações que
gestão escolar. A base teórica que alicerça seu compromisso centrado no ato de educar. precisam ser realizadas terem o devido enca-
a gestão da escola tem seus fundamentos Considerando a realidade da escola no minhamento e que se possa colher resultados
nas teorias da administração. Porém, aos Brasil, a gestão se faz ainda de forma comum. sobre todo o esforço em conduzir um conjunto
poucos estamos construindo um referen- Ou seja, o modelo de gestão dominante é a de ações educativas, posto que a responsabili-
cial próprio da racionalidade pedagógica gerência comum; o gestor faz a administração dade pelos resultados do trabalho pedagógico
da gestão escolar, fruto das circunstâncias da escola resolvendo problemas. Porém, muito é da direção da escola. Em ambas as escolas,
da própria escola e suas relações. do que é o dia a dia da escola é realizado sem públicas e privadas, a gestão deve acompa-
um anteparo que garanta a tomada de deci- nhar o pedagógico. O que aqui afirmo: é neces-
sões. Falta um alicerce que assegure a tomada sário foco no pedagógico.
de decisão sobre os problemas que afligem o A realidade que marca a escola pública e a
cotidiano da vida escolar. escola privada é muito bem demarcada na sua

CURSO gestãoescolar 9
função social e na legislação. São contextos di- Projeto Político-Pedagógico (PPP). Esses planos Compreende-se por missão a identidade
ferentes da sua atuação: a escola pública se faz (PNE, PEE e o PME), juntamente com o Projeto da instituição escolar. Ou melhor, a missão da
como uma prerrogativa do Estado. A Constitui- Político-Pedagógico de cada escola, possuem escola é visibilizada pelos sujeitos que a fa-
ção Federal de 1988, no Capítulo da Educação, uma unidade que se articula pelos princípios zem, mas também pela comunidade que faz
afirma que educação é dever do Estado. Mas, de humanização e cidadania. Humanização se uso dos seus serviços. Para elaborar a missão
mesmo sendo um dever do Estado, é permitido realiza à medida que a escola produz, socializa da instituição escolar, deve-se considerar que
que a educação escolar seja, como uma conces- e transmite a cultura geral da humanidade e a os gestores definam com os professores e a
são, objeto da iniciativa privada, haja vista as li- cidadania se realiza pela escola por inserir e es- participação da comunidade os objetivos da
mitações do Estado em assumir a oferta de edu- tabelecer o indivíduo como cidadão na partici- escola. Os objetivos são fins que determinam
cação escolar. Logo, a escola pública é mantida pação da vida social. Esse pressuposto define a o lugar a que se quer chegar com o projeto da
pelo Estado, enquanto a escola privada deve educação como direito subjetivo e direito social. escola. Neste sentido, os objetivos devem ser
ter a sua sustentação por meio de recursos pró- É direito da criança e do adolescente como ci- escritos de forma clara e devem ser realizáveis.
prios, o que se faz pela cobrança de mensalida- dadãos estarem na escola. É pelo Projeto Polí- Os objetivos gerais dizem respeito a situações
des. Nesse sentido, a estrutura da escola pública tico-Pedagógico (PPP) que atende às diferenças mais amplas que precisem ser atingidas pela
se faz como uma instituição que busca realizar socioculturais, considerando as singularidades, organização escolar. Os objetivos específicos
os princípios democráticos atendendo aos mais diferenças, unidades e diversidades no plano devem ser produzidos para orientar as ativi-
diferentes segmentos sociais. nacional, regional e local. dades mais restritas e, assim, contribuir para
E toda criança e adolescente são capazes de que se tenha o conhecimento de forma parti-
aprender na escola todas as coisas que lhes en- cular do que deve ser realizado.
sinamos. Mas a pedagogia tradicional introduzi- O passo seguinte é que o gestor possa de-
da no Brasil pelos missionários jesuítas deixou finir um plano de metas e ações. As metas po-
2.3 GESTÃO PEDAGÓGICA uma marca negativa e profunda que herdamos dem ser elaboradas considerando os objetivos.
DA ESCOLA em nossa tradição pedagógica. Como se não Quanto mais bem definidos os objetivos, mais
A gestão da escola requer, minimamente, bastasse as elites negarem a educação e a es- precisas serão as metas. A literatura no mundo
um plano que seja realizável. Daí, tão neces- cola, em síntese, o ratio studiorum determinava da administração nos ensina que as metas são
sário que os gestores tomem conhecimento que o máximo que a educação podia fazer era os objetivos colocados de forma quantificável.
e possam utilizar os instrumentos da gestão levar o educando à obediência, invocando que É importante para o gestor a definição, um
para a definição e a construção de um modelo isso era devido para elevar a glória de Deus. Mas esboço de um plano de trabalho para a gestão
de gestão que permita a instituição escolar ser historicamente, contrapondo a essa interpreta- escolar; deve a comunidade escolar definir os
guiada no que é guiada pelo seu planejamen- ção jesuítica, Rousseau (2004) afirma que não projetos e os planos de trabalho para que se
to. Ao gestor é preciso que se familiarize com o se deve educar os filhos limitados à obediência, possam desenhar as atividades específicas a
Plano Nacional de Educação (PNE) e conheça mas, se queremos formar cidadãos, os pais de- serem realizadas e o cronograma de ações. A
as metas e as estratégias que estão sugeridas vem ensiná-los o respeito. gestão deve contemplar a relação alunos, famí-
para o avanço da conquista de cidadania pela Diante do exposto, é importante que os lia e professores para o sucesso da aprendiza-
escolarização. Cada Estado da federação defi- gestores tenham clareza sobre a missão da sua gem e acompanhamento dos alunos.
escola. O planejamento estratégico da gestão Os saberes da gestão escolar não são en-
niu o seu Plano Estadual de Educação (PEE) sob
escolar tem como objetivo fazer com que os contrados apenas nos ambientes das organiza-
a orientação do Plano Nacional de Educação
gestores possam fixar o horizonte de possibi- ções. Na realidade, estes saberes são construí-
Educação (PNE) e os municípios, seguindo o
lidades para que sejam realizadas a visão e a dos ao longo do tempo e do amadurecimento
Plano Nacional de Educação e o Plano Estadu-
missão da escola. Como podemos orientar os promovidos pelas vivências que desafiam os
al de Educação, elaboraram e aprovaram o seu
gestores para o que sejam a visão e a missão de processos de tomada de decisão. A consistên-
Plano Municipal de Educação (PME). Os respec-
uma escola? A gestão escolar deve ter foco, ou cia da convivialidade na comunidade escolar
tivos Planos se tornaram leis e têm um prazo
seja, a definição de prioridade: qual a priorida- tendo como base o trabalho docente forja o
para terem o seu cumprimento por uma vigên-
de da escola? O pedagógico deve ser o elemen- saber da experiência, fundamental para a ges-
cia estimada em dez anos. O PNE, o PEE e o PME
to central para se ter a visão e, ao responder o tão da escola. A experiência refletida permite ao
são peças orientadoras do que cada escola tem
que move o desejo da escola, está elaborando gestor guiar as suas tarefas e atividades no co-
que eleger em suas prioridades por meio do seu
a sua perspectiva determinada da visão.

10 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


tidiano das organizações escolares. O acúmulo escola. O que é o clima escolar? É o ambiente 3
Diretrizes Curriculares
das experiências como mentor de projetos ou escolar e as relações entre as pessoas. Nacionais Gerais da
mesmo como entusiasta de estratégias exige a Se os termos da escola que queremos rein- Educação Básica:
podem ser definidas como
humanidade do gestor para aprender com as ventar têm no seu núcleo a criança e o adoles- um conjunto de orientações
situações mais simples e também com as de cente, as vivências escolares têm que traduzir o curriculares que devem ser
maior complexidade. Para isso, o gestor deve sentido das representações por meio de expres- cumpridas como normas de
são de força, que denotam essas experiências caráter obrigatório para a
ser autêntico como pessoa e comprometido Educação Básica. Constituem-
como profissional. vivas em que somos responsáveis pelo acerto se como reguladoras do
Porém, para a construção de uma nova das pessoas e pelo bom desempenho dos alu- planejamento curricular
nos e das crianças. Nas Diretrizes Nacionais das escolas e dos sistemas
escola, temos que trabalhar estes elementos
de ensino. São concebidas
próprios da gestão, mas ter a clareza de que Curriculares3, temos explicitado o reconheci- e fixadas pelo Conselho
estes podem representar outra abordagem, mento do potencial da criança e do adolescente Nacional de Educação
pois os termos clássicos da administração como sujeitos de direito. Ou seja, a estes a esco- (CNE). Atualmente o CNE
determinou as diretrizes
têm a sua origem na ciência da guerra, e a la deve ter o compromisso em permitir-lhes o gerais para a Educação Básica,
linguagem militarista é transparente: missão, acesso ao processo de apropriação, renovação considerando cada nível e
estratégia... metas, tarefa! e articulação de saberes e conhecimentos como modalidade de ensino. As
forma de garantir uma formação humana para referidas Diretrizes buscam
O gestor pode fazer uso desta nomen- promover a equidade de
clatura, mas utilizando uma compreensão a participação cidadã na vida em sociedade. A aprendizagem, garantindo
mais humanizada para a sua aplicação na escola que verdadeiramente quer implementar que conteúdos básicos
outra pedagogia possível deve trazer para o seu sejam ensinados para todos
escola, como:
os alunos, considerando os
Visão – Horizontes universo didático-metodológico a gentileza, a diversos contextos nos quais
Missão – Perspectivas generosidade, a diversidade, a pluralidade e ter eles estão inseridos.
Metas – Propostas no seu interior palavras fortes que possam tra- 4
Base Nacional Comum
Ação – Vivências duzir as experiências em identidades de traba- Curricular (BNCC):
Resultados – Práticas Exitosas lho que valorizam o ser humano. é um documento que
A gestão da escola tem por responsabili- Lembro-lhes que a escola é uma prática busca a sistematização
social. Para acreditar na democracia, temos que dos conteúdos de ensino
dade fazer uma escola em que no centro dela nas escolas brasileiras na
estejam as pessoas, especialmente, os nossos vivenciá-la, como experiência viva e pulsante. Educação Básica. De modo
alunos. Portanto, os termos que denotam uma Acredito que a mudança na escola começa pelo geral, é uma relação de
professor, ou seja, para mudar a escola, temos objetivos orientados para a
dimensão humana devem aparecer na forma
aprendizagem considerando
da concepção da gestão, ou melhor, é poder- que fazer um esforço enorme de mudar as con- as grandes áreas dos
mos ter a orientação da gestão escolar influen- cepções que o professor carrega dentro de si. conteúdos disciplinares nas
ciando as práticas pedagógicas e alterando o Fazer acreditar nas velhas e arcaicas ideias nos áreas de Matemática, Ciências
da Natureza, Linguagens
vocabulário do modelo escolar que, até bem faz experienciar a cultura da acomodação quan- e Ciências Humanas. A
pouco tempo, foi dominado pelo autoritaris- do precisamos fazer emergir no interior da insti- BNCC é um importante
mo: delegacia de ensino, grade curricular, mis- tuição escolar vida, amor, acolhimento e apren- instrumento que tem como
dizagem. Uma pedagogia amorosa tem na sua função básica orientar o
são, estratégia e daí segue todo o marco beli- desenho curricular das
cista e militar pelo negativismo, recuperação, composição um ideário que é alicerçado na hu- escolas, sem desconsiderar
reprovação, fracasso... e o aluno é cercado por manização. Pesquisas têm nos ajudado a acre- as especificidades
ditar que uma nova escola é possível. Vejamos metodológicas, sociais,
controle e disciplina. Não temos mais tempo
regionais e locais. Desse modo,
a perder, está na hora de construirmos a es- a seguir pesquisa sobre a eficácia pedagógica a Base Nacional Comum
cola dos nossos sonhos em que o paradigma realizada a partir dos resultados das avaliações Curricular integrará, como
da educação foi completamente modificado, externas, denominada “Aprova Brasil: O Direito unidade, 60% do currículo
nacional da escolaridade
para que, assim, possamos viabilizar uma for- de Aprender – Boas Práticas em Escolas Públi- básica no Brasil.
mação cidadã para uma sociedade democráti- cas Avaliadas pela Prova Brasil de 2005” (MEC/
ca. O gestor escolar deve primar pelo clima na Inep/Unicef, 2ª ed, Brasília: 2007).

CURSO gestãoescolar 11
A referida pesquisa teve como universo os 5
Lei de Diretrizes e Bases - ensino contextualizado;
resultados da Prova Brasil de 2005 em que se da Educação Brasileira (LDB – - Implementação de novas formas de
trabalharam com 40 mil escolas, da 4ª série e 8ª Lei nº 9394/1996) é a lei que acompanhamento e avaliação da aprendi-
regulamenta o sistema educacional,
série; observando 33 escolas consideradas com público e privado do Brasil, desde zagem dos alunos;
boas práticas, buscou-se definir o Índice Efeito a educação básica até a educação - realização de atividades externas com
Escola (IEE). Para isso, foram ouvidas centenas superior. alunos;
Na história da educação brasileira, esta
de pessoas que fazem a escola: diretores, coor- é a segunda vez que a educação conta
- incentivo à prática de jogos e esportes.
denadores, funcionários, pais, alunos e mem- com uma Lei de Diretrizes e Bases da A gestão democrática tem o envolvi-
bros do Conselho Escolar. O objetivo desta pes- Educação, que normatiza todos os seus mento e a participação da comunidade ten-
quisa foi identificar os aspectos relacionados à níveis. A primeira LDB foi promulgada do como fonte:
em 1961 – Lei nº 4024/1961.
gestão escolar e ao funcionamento das escolas A LDB – Lei nº 9394/96 reafirma o direito - decisões colegiadas;
para a aprendizagem dos alunos. Os achados à educação, garantido pela Constituição - conselhos escolares;
da pesquisa aparecem logo no início, em que Federal de 1988. Estabelece os - integração família-escola;
princípios da educação e os deveres do
se verificou uma compreensão otimista sobre o Estado em relação à educação escolar - planejamento estratégico; e
processo escolar considerando: pública, fixando as responsabilidades, - eleição direta.
- a qualidade dos alunos; em regime de colaboração, entre a No entanto, a gestão democrática se re-
União, os Estados, o Distrito Federal e os
- alunos interessados em aprender; Municípios.
aliza também pelo respeito e pela participa-
- maturidades dos alunos e compromis- A referida Lei define a educação ção dos alunos:
so em aprender; brasileira em dois níveis: a Educação - valorização dos direitos das crianças;
- o próprio esforço dos alunos; Básica e a Educação Superior. - respeito aos valores da criança;
Compreende a Educação Básica:
- a crença no potencial das crianças; - A Educação Infantil: creches (de 0 a - incentivo aos grêmios escolares;
- os alunos são inteligentes; 3 anos) e pré-escolas (de 4 e 5 anos). - comunicação de todos na escola:
- a capacidade dos alunos; É gratuita, mas não obrigatória. É de - jornal mural; e
competência dos municípios.
- o empenho e dedicação dos alunos. - O Ensino Fundamental: Anos Iniciais - rádio-escola.
É interessante observar que os indicadores (do 1º ao 5º ano) e os Anos Finais (do A riqueza dessas experiências que esta pes-
de qualidade desenvolvidos pelo MEC, Inep, 6º ao 9º ano). É obrigatório e gratuito. quisa nos mostra é que não há um único mode-
Unicef, Pnud e Ação Educativa têm como refe- A LDB – Lei nº 9394/96 estabelece que,
gradativamente, os municípios serão
lo para que se tenha uma pedagogia do sucesso
rência os pontos abaixo relacionados: os responsáveis por todo o ensino e da gestão escolar, mas são muitas as variáveis,
- ambiente educativo; fundamental. Na prática, os municípios visto que as realidades são muito diferentes.
- práticas pedagógicas; estão atendendo aos anos iniciais e Mas o que temos em comum são as expressões
- avaliação; os Estados os anos finais do Ensino
Fundamental. de força que estas escolas conseguem promo-
- gestão escolar democrática; - Ensino Médio: Compreende o ver no seu dia a dia, tais como:
- formação e condições de trabalho dos pro- antigo 2º grau (do 1º ao 3º ano). É de - pedagogia do amor;
fissionais da escola; responsabilidade dos Estados.
- pedagogia de projetos;
- ambiente físico escolar; - projeto horário-aula;
- acesso, sucesso e permanência na escola. - projeto político-pedagógico;
Porém, o entendimento sobre estes indica- - trabalho de pesquisa e projetos;
dores se alicerçam na aprendizagem que traz no - planejamento estratégico;
seu bojo as dimensões em que se consideram: - projetos que envolvem a comunidade;
- as práticas pedagógicas; pedagogia na escola real? Não há segredos para - educação integral;
- a importância e a valorização dos pro- a gestão que faz a diferença. A pesquisa revela - educação de tempo integral.
fessores; que esses resultados exitosos são frutos de mui- (Fonte: “Aprova Brasil: O Direito de Apren-
- a inspiração no modelo da gestão demo- to trabalho amparado pela gestão democrática: der – Boas Práticas em Escolas Públicas Ava-
crática e a participação da comunidade; - trabalho coletivo, em equipe, compartilha- liadas pela Prova Brasil de 2005”, 2ª ed, MEC/
- a participação dos alunos e do e coordenado; Inep/Unicef, Brasília: 2007).
- as parcerias externas. - projeto de ensino; Aprender com a experiência requer o de-
Daí, pode-se questionar: como se faz esta - inovação e organização da escola; senvolvimento com o senso prático. Isso exige a

12 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


capacidade de crítica frente à tomada de deci-
são. O tirocínio que implica a leitura correta da
situação, acuidade da interpretação e a perspi-
cácia do processo decisório são elementos que
o gestor escolar deve buscar qualificar em seus
saberes. O gestor precisa afiar o seu pensamen-
to para analisar e ponderar sobre qual a posição
adotar e como fundamentá-la.
A capacidade para solucionar problemas
pede a mobilização de habilidades que são
fruto das vivências empíricas evoluídas ao
longo das várias experiências na gestão da
escola. Na gestão, a experiência permite ao
gestor escolar o desenvolvimento de seus
talentos, de si próprio e da sua equipe. Daí,
tão importante a liderança para o bom gestor.
A visão sistêmica do gestor contribui para trans-
formar a equipe de colaboradores em um time,
que se joga junto e se protege para o fortaleci-
mento da instituição.
O Projeto Político-Pedagógico é um instru-
mento de gestão de grande relevância para o
trabalho do gestor escolar, posto que este docu-
mento é a própria identidade da escola. O Pro-
jeto Político-Pedagógico deve conter os pressu-
postos que orientam as ações mais amplas da
escola. É um guia que traz as concepções peda-
gógicas, sociológicas e epistemológicas que for-
talecem as definições didático-metodológicas e
avaliativas que são desenvolvidas no interior da
escola até a sala de aula. É preciso que os gesto-
res escolares, professores e a comunidade esco-
lar de forma geral participem da sua elaboração,
tendo a consciência de que se está por construir
um plano que deverá ser implementado sob a
responsabilidade de todos. A gestão democrá-
tica exige a participação da comunidade escolar
na sua elaboração, conforme nos aponta a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
Lei nº 9394/1996: 5
“Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as
normas da gestão democrática do ensino públi-
co na educação básica, de acordo com suas pe-
culiaridades e conforme os seguintes princípios:
I – participação dos profissionais da
educação na elaboração do projeto pe-
dagógico da escola;

CURSO gestãoescolar 13
II – participação da comunidade escolar e gestor deve usar a força do argumento, e não o disciplina de todos que fazem a escola, a pro-
local em conselhos escolares ou equivalentes”. argumento da força, para conversar e influenciar moção do suporte ao trabalho docente e até
Está explícita no artigo acima referido a au- os outros nas negociações estabelecidas coleti- a averiguação da estrutura e as providências
tonomia pedagógica para a elaboração do Pro- vamente. Aplica-se o Regimento Escolar diante para a manutenção da parte física e instala-
jeto Pedagógico da escola. Logo, é necessário o da impossibilidade do diálogo ou em casos de ções escolares.
compromisso de todos que fazem a escola com imposição de medidas disciplinares educativas. Sobre as instalações físicas, o diretor res-
o Projeto Pedagógico na forma de um planeja- ponde pelo patrimônio (material) da escola. O
mento participativo, mas vale destacar que o diretor escolar tem por obrigação observar se:
compromisso de todos que fazem a escola re- - a escola é limpa e bem cuidada;

3.
quer envolvimento, reflexão, debate e participa- - os espaços escolares são amplos e os
ção, considerando que a proposta pedagógica equipamentos são seguros;
da escola deve ser viva e promover a integração - existe manutenção contínua no forneci-
de todos para a eficácia do trabalho a ser rea- mento de eletricidade, água, esgoto e telefone;
lizado, comprometendo a todos diante de algo
que precisa sempre ser revisto, atualizado e
O GESTOR EM AÇÃO - a escola possui conexão estável de internet;
- o mobiliário é adequado ao trabalho
renovado. O Projeto Político-Pedagógico está CONJUNTA COM escolar;
sempre sendo aperfeiçoado. - há o material didático necessário para as
Outro documento importante é o Regimen- O COORDENADOR atividades pedagógicas.
to Escolar. É próprio das relações humanas o
conflito. O Regimento Escolar tem por finalida- PEDAGÓGICO NO O diretor escolar é investido de autoridade
pelo grau do comprometimento da sua res-
de fixar normas que devem servir para a regu-
lação das relações que ocorrem no interior da
ACOMPANHAMENTO ponsabilidade e dos seus atos. Nesse sentido,
ele é a representação da escola junto à comuni-
escola. O Regimento deve trazer informações
de identificação oficial da unidade escolar, suas
DOS PROCESSOS dade: alunos, professores, pais e funcionários. A
função de diretor escolar exige o cuidado com
finalidades, estrutura da organização escolar, os PEDAGÓGICOS E as ações para a implementação do projeto
direitos e deveres, as proibições e ações de ca- pedagógico da escola e o acompanhamento
ráter educativo de cada segmento que faz parte DOS RESULTADOS de forma mais ampla do trabalho docente. É
da comunidade escolar, estabelecendo o equi-
líbrio dos participantes e regrando o que pode
EDUCACIONAIS importante destacar que a direção escolar age
como instância final para solucionar as situa-
e o que não pode se efetivar no campo da con- “A vida só é possível ções de conflito no interior da escola.
vivência. Mas o melhor é pautar a gestão pela reinventada”. Para o bom desempenho das funções, o
convivialidade fraterna. O gestor escolar deve (Cecília Meireles) diretor escolar deve desenvolver a sua capaci-
conduzir o grupo de forma saudável, levando dade de liderança e pró-atividade na resolução
todos a uma integração salutar, evitando dispu- Na gestão da escola, a função de direção dos problemas cotidianos que afligem a escola,
tas desnecessárias e desgastantes de forma a le- tem a sua centralidade, basicamente, em mas sem perder de vista a realização do projeto
var as pessoas – professores, aluno e pais – para duas figuras: o diretor escolar e o coorde- político-pedagógico da escola. No dia a dia da
integração de laços de amizade utilizando a for- nador pedagógico. O diretor escolar é o res- escola, são muitas as situações que pedem a
ça do Regimento Escolar somente em situações ponsável por toda a escola e, especialmente, participação do diretor. Por um lado, o diretor
em que não se conseguiu estabelecer vínculos pelos resultados de todo o planejamento e não pode comprometer-se em participar de
de confiança para o bom relacionamento. organização do trabalho pedagógico. tudo o que acontece na escola. Mas, por outro
O exercício da liderança é imprescindível É da sua responsabilidade todos os enca- lado, a ausência não pode impedir o andamen-
para o gestor escolar, visto que a escola é uma minhamentos de caráter mais burocrático re- to geral das atividades da escola.
instituição de pessoas, formada por indivíduos ferentes à escola, como também o zelo pelas A gestão democrática pede que o ges-
que possuem interesses, desejos e necessida- normas escolares, a verificação das rotinas tor tenha uma ação descentralizadora, que
des, mas que deve respeitar as decisões cole- juntos aos que fazem a escola, o cumprimen- abre para ouvir, consultar e propor decisões
tivas e o consenso estabelecido em grupo. O to dos deveres e obrigações formais, ou seja, a colegiadas. Essa atitude não significa que o

14 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


diretor perde a sua função – pelo contrário, a - gerenciamento em ambiência complexa; ção pedagógica deve ser a mais integrada pos-
dimensão democrática requer a participação - competências comunicacionais; sível. Diretor e coordenador devem ter uma uni-
de todos os segmentos que fazem a escola - uso de tecnologias; dade na organização do trabalho pedagógico. A
no processo decisório e compromisso com os - responsabilidade por resultados; tarefa do coordenador pedagógico é qualificar o
acertos tratados de forma coletiva. Porém, é - atualização contínua. ensino para assegurar a aprendizagem dos alu-
fundamental ao diretor escolar o exercício da Mas, para que o trabalho na direção escolar nos. Em síntese: a qualidade da educação reside
liderança. A característica do líder que sabe ne- atenda às necessidades de fazer uma escola de na aprendizagem dos alunos. Ou melhor, o pla-
gociar, fazer acordos e encaminhar soluções, qualidade, o diretor escolar deve responder às nejamento pedagógico articula o trabalho do-
dedicando atenção às pessoas e aos pleitos seguintes questões: cente em sala de aula. A gestão da sala de aula
que lhe chegam, agindo de forma flexível, as- - qual o referencial para a gestão escolar? emerge a partir do trabalho do coordenador pe-
sertiva e criativa conjugando as decisões da - quais os fundamentos da gestão escolar? dagógico em mobilizar os professores para ela-
gestão num ideário em que prevalecem con- - em que consiste a proposta pedagógica da borar os seus projetos de ensino considerando
sensos, forja uma compreensão de exercer a escola que dirijo? os conteúdos previstos no currículo, por meio
autoridade de diretor sem ser autoritário. Sa- - os professores conhecem a missão da das Diretrizes Curriculares Nacionais e da
ber se conduzir nesta linha não é tarefa fácil escola? Base Nacional Curricular Comum4. Seguindo
para o bom gestor escolar. É uma linha tênue - os objetivos da escola podem ser comparti- essa lógica, o ambiente da escola deve ser estru-
o exercício do poder: dirigir sem coagir! lhados com todo o grupo? turado e organizado visando ser produtivo para
Assim, seguem abaixo algumas caraterísti- - existe coesão entre os participantes que fa- a aprendizagem dos alunos.
zem a escola?
cas para o gestor como líder: A gestão da sala de aula deve combinar o
- o que faz uma boa escola?
- visão; contrato didático com a dimensão afetiva. Os
Essas questões podem ajudar a orientar o
- flexibilidade; professores, por meio da ação mediadora da
diretor escolar a conduzir uma reflexão que o
- decisão; coordenação pedagógica da escola, devem
coloque diante da realidade da gestão da esco-
- direção; assumir uma postura disciplinar preventiva a
la. Mas o referencial do trabalho do diretor esco-
- poder; fim de estimular nos alunos a concentração e a
lar é o pedagógico. Logo, a gestão escolar deve
- autoridade; atenção, fazendo aulas atraentes e guardando
eleger prioridades no âmbito do planejamento
- disciplina (pessoal e intelectual); observando se: a devida coerência entre o planejamento do
- empreendedorismo. - o projeto pedagógico é amplamente ensino e a execução da aula.
O diretor é líder, porque exerce influência compartilhado e definido por todos que fa- É rotina do coordenador pedagógico acom-
intelectual sobre o grupo e os professores o re- zem a escola; panhar a gestão da sala de aula e verificar como
conhecem por atribuírem a ele uma condição - a escola tem clareza na sua visão, missão e se desenvolve o trabalho docente na sala de
diferenciada. Portanto, o exercício da liderança objetivos, estratégias e ações; aula: se o que foi planejado foi executado e
para uma gestão democrática deve permitir ao - existe a definição de plano de ação com quais os resultados – se houve ou não êxito na
diretor escolar guiar o grupo para a realização responsáveis e prazos; ação docente junto a aprendizagem dos alu-
de propósitos comuns exercendo a sua influ- - há definição de plano de investimento; nos. No entanto, a definição da proposta didá-
ência sobre os outros. - há definição de um plano de avaliação; tico-metodológica da escola, apesar de ser uma
O diretor escolar tem que desenvolver uma - há definição de plano para inclusão. decisão coletiva, deve ser objeto do trabalho
perspectiva crítica na gestão, sabendo que vi- A função de coordenação pedagógica en- pedagógico da coordenação. Dessa maneira, o
vemos numa sociedade em que a ambiência carna o espírito da escola. O coordenador pe- coordenador pedagógico desenvolve ativida-
que a escola está situada é complexa e cobra dagógico é, por assim dizer, a alma da escola, des de acompanhamento e suporte pedagó-
do gestor a sinergia para a mobilização da ca- o seu núcleo central de articulação entre a alta gico aos alunos e professores, promovendo o
pacidade de trabalho em equipe. Assim como direção e os professores e demais segmentos atendimento a situações diversas na escola.
nas organizações, o perfil ideal do diretor pode que formam a escola como espaço institu- Não se faz necessário ao coordenador
conter várias exigências, mas, para uma nova cional. Podemos afirmar que a coordenação pedagógico o domínio dos conteúdos dis-
proposta de gestão, temos que atentar para as pedagógica exerce uma função estratégica na ciplinares, mas são da sua competência os
seguintes capacidades: gestão da escola. saberes pedagógicos e curriculares para
- capacidade de trabalho em equipe; A relação entre direção escolar e coordena- manter um diálogo profícuo com os profes-

CURSO gestãoescolar 15
sores em atuação, prestando-lhes suporte submetido para a melhoria contínua da qua-
e acompanhando o desenvolvimento das lidade do ensino;
suas atividades junto aos alunos. - tomar conhecimento das novas orien-
Mas é importante esclarecer que a concep- tações didáticas e aplicá-las na organização
ção do ensino requer o entendimento da gestão curricular das disciplinas;
da sala de aula e o ensino como inseparáveis. - dominar a compreensão da legislação
O planejamento e a ação docente em sala de do ensino, sabendo interpretar a propositu-
aula devem ser compreendidos de forma en- ra da norma legal;
trelaçada, ou mesmo, integrada. A seguir, apre- - promover a integração dos saberes do-
sentamos um conjunto a rotinas pedagógicas centes, articulando-os ao processo decisó-
– rotinas administrativas, de situações específi- rio na sala de aula;
cas e interativas, que se constituem próprias do - levar o professor a autoconhecer-se
trabalho da coordenação pedagógica: como docente para o fortalecimento do do-
- abordar o professor sobre a sua atuação mínio do seu autocontrole emocional;
em sala de aula, revelando a centralidade da - articular a relação teoria e prática na
sua ação na aprendizagem dos alunos; ação docente;
- discutir com cada professor o seu de- - trabalhar com o professor individual-
sempenho e definir metas com prazos, tendo mente e em grupo;
em vista os critérios definidos para aprendi- - analisar os diários, registros, notas de
zagem e para a avaliação; aula e os instrumentos de avaliação utiliza-
- trabalhar com o professor, orientando-o dos pelos professores;
na atividade de intervenção em sala de aula; - propor instrumentos diferenciados de ava-
- orientar o professor na organização da liação, adequando-os ao processo didático;
aula, na escolha da metodologia, no proces- - sugerir ao professor modelos de aulas di-
so didático da disciplina; ferenciados, considerando a especificidade da
- contribuir, quando possível, na elabo- disciplina e do conteúdo a ser estudado;
ração do material didático a ser utilizado - proporcionar ao corpo docente o uso de
pelo professor; recursos (vídeo, CDs, DVDs, filmes, programas,
- incentivar o professor à reflexão da me- equipamentos e laboratórios) para facilitar o
lhoria contínua do seu trabalho, analisando processo ensino-aprendizagem;
com ele a integração dos objetivos, do conte- - promover a formação em serviço e a for-
údo, da metodologia, dos recursos, da carga mação continuada dos professores; da avaliação e do planejamento. A avaliação
horária e da avaliação, tendo como foco a - receber e atender aos pais, além de or- orienta o planejamento. Os resultados da ava-
aprendizagem do aluno; ganizar reunião ou encontro com os pais ou liação podem contribuir para o acompanha-
- valorizar a produção dos professores, responsáveis pelos alunos, buscando envol- mento do ensino e a articulação da aprendi-
seja do ponto de vista do conteúdo, da ma- vê-los junto à escola. zagem dos alunos. Veja o quadro a seguir:
téria, da disciplina, seja do ponto de vista do No âmbito da gestão escolar sobre o Para que se realize esse conjunto de roti-
processo didático-metodológico; trabalho da coordenação pedagógica, a ex- nas, a coordenação pedagógica deve organizar
- pesquisar e estudar as metodologias periência tem mostrado que a intervenção uma agenda de trabalho e promover o aten-
e didáticas específicas, buscando construir pedagógica deve ter como referencial os dimento a situações diversas demandadas na
processos ativos de aprendizagem; resultados da avaliação. A coordenação pe- escola. Isso pede fazer registros, elaborar rela-
- fazer devolutivas das observações, das dagógica deve fazer a gestão do pedagógico tórios para as devidas devolutivas, particular-
auditivas e da avaliação a que o professor foi considerando a partir do desenvolvimento mente, junto aos professores e pais dos alunos.

16 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


de 800 horas ou 200 dias letivos. O calendário
letivo é definido considerando essa carga ho-

4.
rária geral em que se deve excetuar os períodos
de avaliação aplicados pela escola, além dos
feriados. Conforme esses parâmetros, a escola
regula o horário dos professores e funcionários,
a entrada dos alunos, o horário das aulas, os in-
O APROVEITAMENTO tervalos, o recreio e outras atividades. A gestão
do tempo escolar é realizada pela direção da
SIGNIFICATIVO DO escola, que faz o planejamento segundo a carga
TEMPO PEDAGÓGICO horária de cada disciplina. Assim, as aulas dia-
riamente são planejadas levando em conta a
“A vida é uma peça de teatro que não distribuição do conteúdo nos dias oficialmente
permite ensaios. letivos. Os professores devem gerir esse tempo
Por isso cante, chore, ria e viva escolar de forma pedagógica.
intensamente. Por um lado, o compromisso do professor
Antes que a cortina se feche e a peça fica no limite do intervalo do que se considera a
termine sem aplausos”. maximização das oportunidades para assegurar
Charles Chaplin a aprendizagem dos alunos e, por outro, busca
minimizar os ruídos que possam atrapalhar o
O tempo na educação tem as dimensões bom uso desse tempo na gestão da sala de aula.
antropológica, cultural e cognitiva. Os gre- A aula deve ter a medida do tempo pela hora/re-
gos na antiguidade entendiam que o tempo lógio de 60 minutos. Pesquisas têm revelado que
se faz na forma de Chrónos, que é o tempo o tempo dedicado pelos professores ao ensino
do cronômetro, do relógio, das horas do em sala de aula não corresponde ao mesmo
dia. Mas o tempo é também Kairós e Airón. tempo que os alunos dedicam ao processo de
Kairós é o tempo oportuno, o que denomi- aprendizagem. O tempo de aprendizagem dos
namos de o momento certo! Airón é o tem- alunos é algo que temos que considerar. No qua-
po de viver, viver intensamente, ou seja, é o dro a seguir, relacionamos como esse tempo de
tempo de ser. Porém, o tempo está presente aprender deve ser considerado para uma aula:
no radical da palavra Sholé, que deu origem A participação dos alunos na aula depen-
à terminologia do que se tem por escola. de de muitas variáveis, inclusive do formato
Sholé é o tempo do ócio, o tempo livre. Na da aula elaborada pelo professor, que pode
Coordenação sociedade contemporânea, o tempo passou ou não prever a participação dos alunos. Mas
Pedagógica
a ser medida de todas as coisas: segundos, há que se considerar também a condição do
minutos, horas, dia, mês e ano passam a de- professor em fazer a administração do tempo
Desenvolve na sala de aula, posto que há muitas situações
terminar a medida do cotidiano e, assim, a
a Avaliação
Articula a Orienta o medida da nossa vida. Qual o nosso tempo que cabe ao docente administrar para condu-
aprendizagem planejamento na escola para que se tenha que enxertar a zir as atividades planejadas. Mas é importante
Acompanha vida e se fazer um ser humano melhor? registrar que a disciplina, o horário e até o dia
o ensino Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- da semana em que a matéria é encaixada em
cação Nacional (LDB – Lei nº 9394/1996), a esco- cada turma determina uma situação particular
la no Brasil tem o tempo pedagógico ou escolar que interfere na ação docente e no aprendiza-

CURSO gestãoescolar 17
do dos alunos. Se a aula é germinada ou não, a seu limite e encontram-se desatentos. devem ter uma explicação em que o professor
primeira aula da segunda-feira ou a última aula O professor frente a esta situação deve re- explicita aos alunos as alterações no conteúdo.
na sexta-feira bem como aula no início do dia compor o seu trabalho e redefinir a estratégia Essa atitude ajuda os alunos ao entendimento
pela manhã e a aula no período da tarde ou à da sua aula, mudando a metodologia e alteran- sobre o que se ensina para que eles não se des-
noite podem interferir no aproveitamento do do a condução da aula para que seja retomada viem do conteúdo e o professor possa monito-
conteúdo objeto de ensino. Pesquisa da TALIS/ a atenção dos alunos. O professor pode utilizar rar a aprendizagem da turma e acompanhar o
OCDE (2013) nos revela que os professores na uma dinâmica como forma de estimular os alu- progresso de cada aluno.
escola brasileira gastam 19,8% do tempo da nos a prestarem atenção à sua aula, retomando Para melhor administrar o tempo na sala de
aula para manter a classe em ordem. Se obser- o comando a atividade proposta. O tempo da aula, ao professor são fundamentais as rotinas,
varmos esse percentual considerando a hora aula depende da condução pelo professor e o estabelecendo, sistematicamente, horário para
aula, temos que um consumo de 12 minutos ritmo dele ou dos alunos. Aulas lentas e frag- exposição do conteúdo, passar tarefas, receber
de cada aula é dedicado pelo professor para mentadas tornam o melhor dos conteúdos algo e corrigir trabalhos em sala de aula, passar exer-
a manutenção da disciplina em sala de aula. maçante e a aula para quem assiste parece não cícios de fixação, fazer registros e deixar a tarefa
Mas, se calcularmos esses 12 minutos no tem- ter fim. A boa pedagogia afirma que a aula deve de casa. Se o professor assume essa postura,
po pedagógico de 800 horas, chegaremos ao ter um ritmo crescente, uma cadência de enca- não estará perdendo tempo.
comprometimento de um número significativo deamentos lógicos de conteúdos que se articu- Essas ações fazem parte do acompanha-
de dias do ano; ou seja, os professores dedica- lam e se complexificam, abrindo descobertas e mento da aprendizagem dos alunos de forma
riam 40 dias letivos exclusivamente ao trabalho entusiasmando os alunos. a permitir que se faça o monitoramento do pro-
de manter a classe em ordem. Desse modo, o professor envolve os alunos gresso dos alunos. O coordenador deve sugerir
Mas há outras experiências que nos mos- no seu planejamento e afasta comportamen- aos professores como trabalhar com o tempo
tram a utilização na escola do aumento do tem- tos inadequados da postura dos alunos. O ao seu favor, de tal forma que a gestão da sala
po escolar, inclusive aumentando o tempo pe- aproveitamento do tempo da aula é da inteira de aula tenha um aprendizado produtivo, que
dagógico das disciplinas em que se tem maior responsabilidade do professor, que deve agir se faça um trabalho significativo com os alunos
dificuldade com o aprendizado ou baixo de- para que não haja tempo para a ociosidade e estes possam assegurar a apropriação, a com-
sempenho escolar. No entanto, nada substitui a na sua sala de aula. A aula deve ter início, de- preensão e a aprendizagem sobre o conteúdo
autonomia do professor ao administrar o tem- senvolvimento e conclusão. Durante a aula, ensinado. O tempo na sala de aula deve ser utili-
po da sua aula focando na aprendizagem dos quando o professor muda o conteúdo que está zável o máximo possível e menos fragmentado.
alunos. Porém, o professor deve ter sensibilida- trabalhando, deve sinalizar para os alunos essa A seguir, para ilustração prática, sugerimos
de para o momento em que chegou a fadiga nos alteração para que eles possam seguir e com- como a aula pode ser estruturada para melhor
alunos em sua aula. Daí, não adianta prolongar preender o encadeamento e as orientações do organizar o plano de aula:
a exposição, visto que os alunos chegaram ao professor. Essas trocas no decorrer das aulas - Introdução: definição dos objetivos, cum-
primentar os alunos, criar clima de cordialida-
de e fazer a chamada;
Tempo estimado para aprendizagem/ - Iniciar a aula com uma dinâmica para mo-
Faixa etária tivação: aquecimento ou sensibilização;
Concentração
- Conferir as tarefas de casa, receber tra-
Crianças com 3 anos de idade 2 a 4 minutos balhos ou fazer a devolução de atividades de
classe;
Crianças no 1º ano de ensino Fundamental 5 a 7 minutos - Desenvolvimento: a aula em si;
- Aplicação dos procedimentos didáticos;
Adolescentes no Ensino Médio 16 a 18 minutos - Uso de material didático para ilustrar a aula;
- Aplicação de exercício ou tarefa de classe;
Adultos na Educação Superior 20 a 30 minutos - Avaliação da aula;

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- Sistematizar síntese sobre o conteúdo escola, da sala de aula, e os danos aos alunos cer, e a velha escola se esvai por não conseguir
de ensino e podem ser irreparáveis em um ano letivo. uma renovação na forma de organizar o seu
- Concluir a aula no tempo previsto. É recomendável ao professor que a gestão conteúdo que mudou, transformando-se. Hoje
A coordenação pedagógica deve ter clare- do tempo para a aprendizagem seja realizada temos claro que o funcionamento da produção
za que a ação didática do professor deve ser por meio da definição de rotinas diárias, sema- do conhecimento na criança já não acontece
alicerçada na pedagogia. É preciso que o pro- nais e mensais. No entanto, lembro que o tem- como no passado. Acreditávamos que as crian-
fessor, como sujeito epistêmico, saiba o que po de aprendizagem deve ser compatível com ças aprendiam sob a lógica do velho método
ensina, domine o conteúdo e conheça em pro- o tempo pedagógico e, conforme as Diretrizes cartesiano em que se aprendia do mais simples
fundidade as unidades e os tópicos do progra- Nacionais Curriculares, a escola tem que res- para o mais complexo. Na sociedade contem-
ma de disciplina. peitar o tempo da criança, especialmente na porânea, temos presenciado que as crianças
Mas também fazer a aula implica conhecer educação infantil, para aprender e brincar. nem sempre aprendem dessa forma.
os alunos. É interessante o professor promover Avaliar a aprendizagem na educação bá-
adaptações do conteúdo considerando a re- sica não pode se limitar a dar notas ou sim-

5.
alidade dos seus educandos. Manter um tom plesmente se resumir a uma atividade de
amistoso, ser agradável com a turma, apresen- aplicar e corrigir provas e de forma mecânica
tando um semblante de tranquilidade, sendo e formal, ou mesmo aplicar uma formula-
sereno e se dirigir à turma passando confiança ção estatística e gerar uma média entre tes-
são atitudes que podem entusiasmar os alunos, tes, trabalhos e arguições junto aos alunos.
estimulando-os para a aprendizagem. AVALIAÇÃO DA A avaliação não é apenas medida. Quando
O docente deve assumir uma abordagem
que leve o aluno a habituar-se a vencer dificul- APRENDIZAGEM abordamos a avaliação da aprendizagem,
temos que buscar assegurar no contexto es-
dades, superar obstáculos, deve estimular a
criatividade e a sua curiosidade, animando-o
E AVALIAÇÕES colar informações relativas ao desempenho
dos estudantes ao longo de uma determi-
para o gosto nos estudos. Os alunos devem ser EXTERNAS: COMO nada trajetória, seja semanal, mensal, bi-
motivados, para fortalecer a sua autoestima. A mestral, trimestral ou anual, em relação aos
docência requer bom humor, alegria, comu- INTEGRÁ-LAS conteúdos previstos no programa de ensino.
nicação e vivacidade. A escola e a sala de aula Estamos numa encruzilhada. A pedagogia tra- A avaliação da aprendizagem depende
devem ser um espaço de trabalho, mas essen- dicional já não responde às necessidades da das condições, do contexto e da vida dos alu-
cialmente de transformação das pessoas. prática pedagógica em que o conhecimento nos. Uma nota 5 (cinco) é um indicativo, pois,
Esse tempo pedagógico de que tratamos normativo fixado pela escola se realizava por se olharmos as condições da vida do aluno,
não considera a ausência do professor. Quando meio de um currículo prescritivo. O desafio de esse 5 (cinco) pode ser 10 (dez)! A avaliação
o professor falta, não vindo à escola para o exer- termos a possibilidade de acolher as diferen- da aprendizagem é diferente de verificação.
cício do trabalho docente, efetivamente, não ças tão comuns no âmbito da vida social nos Avaliar pede uma correspondência coerente
existe aula, o que deixa a desejar no ensino e leva a construir um profundo questionamento entre os objetivos propostos no programa de
compromete a aprendizagem dos alunos. A falta sobre a escola que fazemos. A pedagogia da ensino e o que efetivamente se deseja avaliar.
do professor na sala de aula, também denomi- transmissão tem o seu valor, mas está no seu A avaliação deve ser capaz de oferecer um
nada de absenteísmo docente, causa imensos esgotamento para a realidade que a vida pede diagnóstico ao professor para que ele possa
problemas à gestão escolar. Se a falta do profes- a formação de novas consciências críticas para antever com os resultados daquilo que foi
sor traz prejuízo em uma sala de aula para um produzir a transformação do novo tempo. Urge ensinado e compreender a dinâmica da ação
grupo de alunos, imagine numa rede escolar o a compreensão que outra pedagogia deve da turma e de cada aluno individualmente,
número de professores que faltam em um dia orientar a transformação da prática pedagógica considerando suas potencialidades e dificul-
letivo. São muitos professores e muitos alunos do professor para outra escola possível. A nova dades, sobre o conteúdo objeto da aprendi-
sem aula. É grave a ausência do professor da escola, a escola dos nossos sonhos deseja nas- zagem. E o que deve ser ensinado na escola?

CURSO gestãoescolar 19
Segundo Nóvoa6 (1998), tudo o que une e, simultaneamente, fornecer por meio dos seus 6
Antonio Nóvoa: Pesquisador e professor.
é tudo o que liberta. Temos que construir um resultados, servindo de alicerce ao trabalho do É doutor. Nasceu em 1954, em Valença do
Minho. Cursou o ensino básico em escolas
caminho da pedagogia unidirecional para professor. Dessa maneira, a avaliação é informa- públicas de Portugal e, em 1972, entrou na
uma pedagogia da cooperação. A avaliação da ção. Quando se avalia, produz-se um conjunto Universidade de Lisboa para estudar Ciências
aprendizagem deve considerar as diferentes e de informações que são úteis à gestão do pro- da Educação. Lecionou na Universidade de
Genebra (Suíça) entre 1978 e 1986, enquanto
complexas formas de organização da aprendi- cesso de ensino e aprendizagem.
fazia mestrado e doutorado sobre o processo
zagem. Não basta uma escola para todos, mas A avaliação deve ser útil e confiável. O prin- de profissionalização docente em Portugal.
é preciso fazermos uma escola em que todos cípio é de avaliar para se ter melhor clareza so- Tornou-se professor catedrático da Faculdade
aprendam. A escola e a sala de aula se consti- bre os resultados dos esforços e até dos inves- de Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade de Lisboa - Portugal. Nos
tuem em um locus no qual se manifesta a nossa timentos promovidos por uma escola ou uma anos de 1993 e 1994, atuou como professor
humanidade, com suas diferenças, pluralidade rede de ensino; no entanto, os resultados cap- convidado em universidades norte-
e diversidade de uns e de outros. Nós, profes- turados pelos instrumentos de avaliação devem americanas. Foi presidente da Associação
Internacional de História da Educação nos
sores, temos de estar abertos a acolher e fazer conter elementos fidedignos a situação real de anos de 2000 e 2003. Em 2006, foi eleito reitor
cada aluno sentir-se acolhido. É preciso promo- cada aluno, sendo autenticados pela própria da Universidade de Lisboa. É autor de mais de
ver o sentimento de pertencimento na escola. realidade. Isso requer um planejamento da 100 trabalhos científicos na área pedagógica
e tem se destacado como organizador de
Veja o resumo a seguir e analise no esquema o avaliação pelo professor e a definição de uma
grandes debates internacionais sobre o
delineamento da nova ordem para uma peda- metodologia rigorosa que impeça distorções ensino e formação de professores.
gogia da emancipação: nos resultados. Porém, temos que registrar que
efetivamente, para garantir a aprendizagem dos
alunos, o professor deve observar na sua prática
DESNORMATIZAR
docente em sala de aula e na sua ação didática
do que ele faz no planejamento e se realiza na
ACOLHER
prática o que assegura ao aluno aprender. Mas
é interessante que os gestores observem a práti-
INTEGRAR
ca docente e percebam o que é necessário para
que o apoio da gestão possa ajudá-lo no seu tra-
DIFERENCIAR
balho na sala de aula.
Na escola básica, sejam públicas, sejam
INDIVIDUALIZAR
privadas, tem prevalecido a avaliação de forma
empírica. Por vezes, a avaliação se torna uma
CUIDAR
prática arbitrária em que o professor a utiliza
como instrumento de poder e não a utiliza em
SINGULARIZAR
favor do processo de aprendizagem do conhe-
cimento. Não se permite negociar sobre os re-
ACOMPANHAR
sultados previamente alcançados. O que temos
percebido é uma abordagem tradicional do
AVALIAR
modo de avaliar. O professor comumente, ao
aplicar uma avaliação, usa um único instrumen-
MONITORAR
to (a prova), e a corrige utilizando-se de critérios
os mais diferenciados. A medida da correção se-
INCLUIR
gue o padrão da somatória dos acertos. No fim,
soma as questões acertadas pelo aluno e con-
PERTENCER
sidera apenas a “nota bruta” segundo as ques-
A avaliação deve constituir-se, fundamental- tões corretas acertadas pelo aluno na prova. A
mente, em uma ferramenta imprescindível para questão considerada errada é descartada, e o
o acompanhamento do desempenho do aluno aluno não pontua na prova.

20 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


O perigo nesta lógica é que se perde a di- consiste na concepção arbitrária que se toma res e olhar para as demais escolas, e comparar
mensão pedagógica do erro e pouco se questio- para compreender a avaliação. Nesse modelo, os seus resultados com as demais instituições
na sobre a fragilidade do instrumento utilizado os resultados da avaliação pouco se prestam a escolares que fazem o sistema no qual está in-
para avaliar. Encontramos, por vezes, falhas nos retroalimentar o processo pedagógico servindo serida. A avaliação externa não deve servir para
enunciados dos itens, se a prova está atenden- para que o professor reoriente as suas ações na premiar ou punir escola com os seus resultados,
do ou não à cobertura geral do conteúdo minis- condução do trabalho pedagógico tendo como mas contribuir para que o sistema tenha melho-
trado e sugerido para estudo, e se tem pouco ênfase a aprendizagem do aluno. res resultados, observando a aprendizagem dos
interesse pela superação das limitações dos Nesse sentido, a avaliação não pode servir alunos, o desempenho exitoso dos professores,
alunos. Nesta referência, a avaliação ratifica a apenas para aplicar uma prova e lançar uma e até observar a produtividade do sistema e
prática docente baseada numa pedagogia tra- nota em função de um único resultado do alu- qualidade dos investimentos requeridos pela
dicional, e o que vale é a nota pela nota. Con- no. O caráter transformador da avaliação se sociedade para a melhoria contínua da escola,
seguiu a média, o aluno está aprovado. Se não configura ante os resultados e como devemos especialmente, a escola pública.
conseguiu, vai para a recuperação ou é reprova- potencializar a sua utilização para contribuir Em avaliação, não podemos afirmar que
do. Esse modelo de avaliar contribui para a pro- com as conquistas na aprendizagem e no de- chegamos lá! A avaliação nos mostra que esta-
dução do fracasso escolar e, por vezes, o profes- sempenho dos alunos, na sua motivação para mos sempre chegando... Ou seja, é importante
sor não é consciente dessa prática que promove novos desafios. Porém, os resultados da avalia- sabermos se estamos no caminho e se o cami-
a exclusão. O equívoco dessa prática de avaliar ção coloca nas mãos do professor um conjunto nho que estamos fazendo está gerando coisas
de ricas informações das quais ele poderá fazer boas, oportunidades e o que nos ameaça e pre-
uso para melhor organizar as suas aulas, cons- cisa ser corrigido. Assim, diante das circunstân-
truir outros percursos junto aos seus alunos e cias colocadas pelo contexto em que a escola
reelaborar o seu planejamento didático ade- está inserida, a avaliação se torna um poderoso
quando a sua metodologia de ensino. instrumento para a gestão da escola ou da rede.
A avaliação externa é um momento em Desse modo, considero que estamos evoluin-
que o sistema das redes escolares é avaliado. do, mas a avaliação atualmente precisa de uni-
Avalia-se a rede escolar, avaliando o desempe- dade; portanto, estamos no caminho e nos falta
nho dos alunos em cada escola. A avaliação é uma organicidade para que a avaliação se faça
como uma fotografia, nos mostra uma situa- como sistema e não se reproduza como avalia-
ção que é passível de mudança. Daí, a riqueza ções externas pontuais.
da avaliação que permite olhar a caminhada O que vejo hoje é que a melhor avaliação é
realizada e rever os objetivos. Se os objetivos aquela que responde às necessidades da esco-
foram atingidos, deve-se refletir como podem la ou do sistema. Porém, entendo que deve ter
ser renovados e, se ainda não se atingiu, deve- a avaliação, a autoavaliação e a meta-avaliação.
-se analisar o que houve e retomar as estraté- Na sala de aula, a avaliação requer o domínio
gias para chegar aos objetivos pactuados. sobre a aprendizagem dos alunos. As avaliações
A escola tem pelos resultados da avalia- externas buscam avaliar o sistema, as escolas
ção externa uma excelente oportunidade de como um todo e, por extensão, o desempenho
analisar os seus percursos formativos, as suas dos alunos de uma rede. O ideal seria que a ava-
estratégias, o seu projeto pedagógico e até os liação acompanhasse o trabalho docente na
professores devem verificar como está o seu sua imediaticidade. Ou seja, o professor pode-
desempenho em sala de aula. Acredito que o ria utilizar a avaliação para ter o domínio sobre
mais importante na avaliação externa é ter um o que ele ensinou e foi aprendido. E sobre o que
quadro de como está a aprendizagem dos alu- não houve a aprendizagem, o professor ter cla-
nos, o seu desempenho e como está a supera- reza do que faltou e como ele pode rever as suas
ção dos desafios. A escola pode, a partir desse estratégias, a metodologia e a didática para que
resultado, comparar a sua caminhada em rela- se permita ao aluno a aprendizagem respeitan-
ção a si própria, revendo os resultados anterio- do o seu ritmo e o seu tempo.

CURSO gestãoescolar 21
SÍNTESE DO PERFIL DO
FASCÍCULO AUTOR
O Fascículo Gestão na Dimensão Pedagógica:
Avaliação de Processos e Resultados foi desenvol-
Prof. Dr. Casemiro
vido tendo como principais temas a gestão esco- de Medeiros Campos
lar, a avaliação, o ensino e a aprendizagem. Essas É doutor em Educação, mestre em Educação/
categorias foram tematizadas buscando levar até UFC, professor, pesquisador na área de formação
você uma discussão atualizada sobre as questões de professores, gestão escolar, currículo, avalia-
que repercutem do âmbito da gestão de classe e ção e família. É conferencista, gestor, consultor
movem o trabalho docente. Produzimos uma re- em educação e editor chefe da Editora Caminhar.
flexão fruto do estado da arte da gestão e a sua di- Atualmente, é professor visitante da Universida-
mensão objetiva para a instituição escolar. Assim, de do Porto – Portugal e coordenador do Projeto
a formação do gestor escolar é estratégica para a de Intercâmbio Cultural com a Universidade do
qualidade do ensino. Ilustramos as abordagens Porto – Portugal. Tem prestado serviços na área
aqui sugeridas com pesquisas que apontam as da formação de professores e gestão em diversas
tendências para o trabalho que sinalizam o rumo instituições, prefeituras, secretarias municipais e
de renovação da escola. Portanto, somente a ex- estaduais de educação no Ceará e fora do Estado.
periência não garante êxito da boa gestão, mas é Publicou, pela Editora Vozes, “Saberes Docentes
necessário que o gestor escolar estude, analise e e Autonomia dos Professores”, 7ª edição, 2014, e
busque de forma criativa a inovação como fonte pela Editora da UFC “Educação: Utopia e Emanci-
de inspiração para a definição de um modelo de pação”, 2008. Participou da organização dos livros
gestão escolar que qualifique as aprendizagens e lançados pela Editora da UFC “Gestão Escolar: Sa-
leve aqueles que fazem a escola à conquista do ber Fazer”, 2009, e “Da Teoria à Prática: A Escola
sucesso escolar. dos Sonhos é Possível”, 2010. Pela mesma editora,
é coautor de “Ética e Cidadania: Educação para a
Formação de Pessoas Éticas”, 2010. Pela Editora
Paulinas, publicou “Gestão Escolar e Docência”,
4ª ed, 2014 e, pela Editora Melo, “Gestão Escolar
e Inovação”. Em 2011, publicou pela Editora Cami-
nhar “Educando Filhos que fazem a Diferença” e foi
um dos organizadores do livro “Filosofia em onze
atos”. É coautor de “Técnica e Existência – Ensaios
Filosóficos”, da Editora Caminhar e Universidade
Vale do Acaraú, 2012. Em 2015, publicou pela Edi-
tora Caminhar “Didática – Ferramenta para o Tra-
balho Docente em Sala de Aula”. Mantém a home
page www.casemiroonline.com.br
Email: casemiroonline@casemiroonline.com.br
Facebook: Casemiro Campos

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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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