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ESCOLA TÉCNICA DE ENFERMAGEM “RAIMUNDA NONATA” 238

1. INTRODUÇÃO

Biossegurança, que significa Vida + Segurança, é


um conjunto de procedimentos, ações, técnicas,
metodologias, equipamentos e dispositivos capazes de
eliminar ou minimizar riscos inerentes as atividades de
pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico
e prestação de serviços, que podem comprometer a saúde
do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade
dos trabalhos desenvolvidos.

A biossegurança é de relevante importância nos


serviços de saúde, que visam não apenas abordar medidas
de controle de infecções para proteger os funcionários que prestam assistência e os usuários em
saúde, mas também por desempenharem papel fundamental na comunidade, onde atua na promoção
da consciência sanitária, na importância da preservação ambiental com relação à manipulação e
descarte de resíduos químicos, tóxicos e potencialmente infectantes, e também, na diminuição, de
um modo geral, de riscos à saúde e acidentes ocupacionais. É um processo progressivo, que sempre
deve ser atualizado e supervisionado.

É importante compreender que Biossegurança é diferente de Biosseguridade. Enquanto a


primeira expressão é utilizada para descrever os princípios de contenção, tecnologias e práticas que
são implementadas para prevenir uma exposição não intencional a agentes tóxicos e patogênicos ou
sua liberação acidental. Já Biosseguridade refere‐se a coordenação e regulação administrativa e
procedimentos de segurança física no ambiente de trabalho, com boas práticas de biossegurança, e
na qual as responsabilidades são claramente definidas.

O uso sistemático de princípios e práticas da biossegurança reduz os riscos de exposição


acidental e abre o caminho para a redução de riscos de perda, furto ou utilização indevida causada
por má gestão ou pouca defesa, irresponsabilidade ou pouca responsabilidade.

2. BREVE CONTEXTO HISTÓRICO

Ainda no século XVII, na Europa, época em que


a famosa Peste Negra dizimou milhares de pessoas na
Europa, mesmo sem os conhecimentos atuais sobre
doenças infecciosas, empiricamente eram
recomendadas vestimentas protetoras. O médico
particular do rei Luiz XIV, Charles Delorme, idealizou
uma vestimenta de couro, o precursor do jaleco,
completada por uma longa haste de madeira a fim de
evitar contato próximo e/ou direto com os enfermos.
Naquela época ainda não era conhecido o modo de
transmissão das doenças infecciosas.

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Em 1895 ocorreu o surgimento do uso de luvas em atividades cirúrgicas. O Dr. William


Halsted, médico muito criteriosos, exigia que sua equipe banhasse as mãos em solução preparada
por ele antes de cada intervenção cirúrgica, como forma de diminuir o risco de contaminação.
Como sua enfermeira auxiliar, que também era sua noiva, Miss Caroline Hampton era alérgica a
essa substância, ele encomendou um par de luvas de borracha a um fabricante para que ela
utilizasse. Em 1897 surge a máscara cirúrgica, inventada pelo Dr. Flügge, que notou que gotículas
provenientes as vias aéreas de pacientes e profissionais, podiam contaminar tanto a uns quanto a
outros.

Ainda no século XIX, através dos estudos de Semmelweiss, provando a importância da


lavagem de mãos na prevenção da febre puerperal, os estudos de Pasteur, Lister e a invenção do
microscópio por Koch é que a transmissão das infecções ganhou a atenção devida. Nesta mesma
época, Florence Nightingale registrava que pacientes com patologias semelhantes melhoravam mais
rapidamente se não fossem colocados no mesmo ambiente, com outros com patologias distintas. De
1890 a 1900 foram recomendadas as técnicas de separação de pacientes com patologias distintas em
publicações de enfermeiras sob recomendação do Sistema Nightingale.

Já no século XX, por volta de 1983, com o


surgimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(SIDA/AIDS), orientações específicas para sangue e
fluídos corporais foram divulgadas. No entanto o
surgimento da SIDA/AIDS motivou, um pouco mais tarde,
em 1985, a publicação de medidas preventivas específicas
para doenças transmitidas pelo sangue: as Precauções
Universais.

Por um lado poderia ser considerado um avanço a


atenção ao sangue como importante fator de transmissão, pois durante muito tempo pouco era
enfatizado, mesmo que a transmissão da Hepatite B através do sangue já fosse bem conhecida. Por
outro lado, o medo fez com que houvesse um retrocesso e um exagero em medidas como uso de
luvas, por exemplo. Pessoas entravam em elevadores ou em quartos de pacientes com provável
infecção pelo HIV quase sem respirar e com medo de tocar nos pacientes. O exagero no uso de
luvas, não apenas aumentava os custos, mas era responsável por surtos de infecções onde havia uso
inadequado. Os profissionais com falsa sensação de segurança, com as mãos enluvadas
contaminavam o ambiente. Talvez pensando em economia de tempo ou dinheiro, alguns
recomendavam a lavagem de mãos enluvadas, que não garante a remoção de micro-organismos
patogênicos do látex das luvas.

Em 1987 foi proposto e avaliado por um grupo da Universidade da Califórnia em San Diego
um novo esquema chamado Precauções com Substâncias Corporais. O cuidado básico era com a
matéria orgânica oriunda do organismo humano, considerando todos como potencialmente
infectantes.

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3. DEFINIÇÕES BÁSICAS

3.1. RISCO E PERIGO

Risco é a probabilidade ou chance de lesão ou morte, resultado medido do efeito potencial do


perigo. Já Perigo é uma condição ou um conjunto de circunstâncias que têm o potencial de causar
ou contribuir para uma lesão ou morte.Pode ser um agente químico, biológico ou físico
(incluindo‐se a radiação eletromagnética) ou um conjunto de condições que apresentam uma fonte
de risco mas não o risco em si.

3.2. INFECÇÃO E DOENÇA

É a entrada e permanência no organismo de um micro-organismo estranho (bactéria, fungo,


parasita ou vírus) capaz de se multiplicar e provocar doenças ou alterações patológicas de maior ou
menor gravidade, causando uma resposta imunológica. Entre outros tipos pode ser nosocomial,
endógena, microbiana, etc.

Já doença ou enfermidade é a alteração do estado normal de saúde de um indivíduo, que se


caracteriza por possuir sinais e sintomas em sua manifestação, que podem ou não ser perceptíveis.
Na linguagem corrente, a doença é considerada como sendo o oposto à saúde; aquilo que causa uma
alteração ou uma desarmonização no estado orgânico geral de um ser, seja a nível molecular,
corporal, mental, emocional ou espiritual.

3.3. FONTE DE INFECÇÃO E HOSPEDEIRO

A principal fonte de infecção é humana (paciente, pessoal da área da saúde e visitantes). Os


infectantes podem ser: doentes, doentes em período de incubação, ou portadores crônicos de
agentes infecciosos. Outras fontes de infecção incluem: flora endógena de pacientes ou de outras
pessoas que contaminam objetos inanimados, equipamentos e medicações pela transmissão indireta
ou direta.

O hospedeiro das infecções, aqui considerado, é o ser humano, o qual pode desenvolver
resposta imunológica variável frente à presença de patógenos. Os hospedeiros de infecções ou
colonizações podem desenvolvê-las durante ou logo após a hospitalização, quando condições
endógenas orgânicas são facilitadoras da infecção ou colonização. Outros fatores facilitadores do
estado infeccioso são: idade, doença de base, uso de antimicrobianos, corticosteroides, irradiação,
procedimentos invasivos, outras drogas imunossupressoras e a própria susceptibilidade do paciente
à infecção.

4. PRECAUÇÕES PADRÃO OU PRECAUÇÕES UNIVERSAIS

São precauções aplicadas ao cuidado de todos os pacientes, independente de seu diagnóstico


infeccioso, com o objetivo de diminuir a transmissão de microrganismos. São aplicadas quando se
antecipa o contato com sangue, fluidos corpóreos, secreções e excreções, pele não integra e
membrana mucosa. As precauções devem ser aplicadas mesmo que não haja risco de contato com
sangue, líquidos corporais ou secreções ou excreções corpóreas.

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4.1. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

Os Equipamentos de Proteção Individual – EPIs devem ser utilizados sempre que houver risco
de contato com secreções ou excreções oriundas do paciente. Os empregadores são obrigados a
fornecer os EPIs adequados ao risco a que o profissional está exposto e a realizar, no momento de
admissão do funcionário e de forma periódica, programas de treinamento dos profissionais quanto à
correta utilização. A adequação desses equipamentos deve levar em consideração não somente a
eficiência necessária para o controle do risco da exposição, mas também o conforto oferecido ao
profissional; se há desconforto no uso do equipamento, existe maior possibilidade de o profissional
deixar de incorporá-lo ao uso rotineiro. Os principais EPIs são:

 Luvas: Sempre que houver possibilidade de contato com sangue,


secreções e excreções, com mucosas ou com áreas de pele não
íntegra (ferimentos, escaras, feridas cirúrgicas e outros). É
importante ressaltar que o uso de luvas não elimina a necessidade
de lavagem das mãos.

 Máscaras, Gorros e Óculos de Proteção: Durante a realização de


procedimentos em que haja possibilidade de respingo de sangue e
outros fluidos corpóreos, nas mucosas da boca, nariz e olhos do
profissional.

 Capotes (Aventais ou Jalecos): Devem ser utilizados durante os


procedimentos com possibilidade de contato com material
biológico, inclusive em superfícies contaminadas.

 Botas: Proteção dos pés em locais úmidos ou com quantidade


significativa de material infectante (Centro Cirúrgicos, áreas de
necropsia e outros).

4.2. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA

Incluem todo e qualquer equipamento que possa ser utilizado pela equipe multiprofissional
para sua proteção, como por exemplo, lava olhos, descartex, chuveiro de emergência, etc. Esses
equipamentos devem ser mantidos nas condições ideais especificadas pelo fabricante e sofrer
manutenções preventivas, para evitar problemas quando houver necessidade de uso.

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4.3. HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS

A superfície da pele apresenta sulcos e saliências, particularmente acentuadas nas regiões


palmo-plantares e extremidades dos dedos e, dependendo do segmento corpóreo, variações e pregas
(articulações e musculares), orifícios pilossebáceos e sudoríparos. Do ponto de vista da flora
microbiana, existem duas populações:

 Flora Residente: Constituída de micro-organismos que vivem e se multiplicam nos


folículos da pele, podendo ser viáveis por longo período. As bactérias dessa flora são
facilmente removidas por escovação, entretanto, podem ser inativadas por antissépticos.
As bactérias mais comumente encontradas são as Gram-positivas. Essas bactérias
localizam-se em maior quantidade em torno e sob as unhas.

 Flora Transitória: É passageira e os micro-organismos que a compõem são viáveis por


apenas um curto período. Suas bactérias são mais fáceis de serem removidas, pois se
encontram na superfície da pele, junto com a gordura e sujidades. Essa flora é composta
pelos micro-organismos mais frequentemente responsáveis pelas infecções hospitalares,
sendo as bactérias Gram-negativas. Isso demonstra a importância das mãos como
veículo de transmissão.

A lavagem das mãos é, isoladamente, a ação mais importante para a prevenção e controle das
infecções hospitalares. Elas devem ser lavadas, tantas vezes quanto necessário, antes e depois de:

 Realização de qualquer técnica assistencial;


 Contato físico com paciente;
 Coleta de materiais para exame;
 Administração de medicamentos;
 Contato com fluidos e secreções corpóreas;
 Contato com materiais e equipamentos;
 Realização de atos fisiológicos pessoais e por outros motivos relativos à educação e
saúde.

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5. OUTROS TIPOS DE PRECAUÇÕES

5.1. PRECAUÇÕES EMPÍRICAS

São indicadas para os casos de pacientes sem diagnóstico definitivo, porém com indícios de
infecção por agentes que necessitem de precauções. Devem permanecer até que haja confirmação
ou esclarecimento do diagnóstico.
O profissional de saúde deve ter uma postura consciente da utilização destas precauções como
forma de não se infectar ou servir de fonte de contaminação. A adoção destas medidas é importante
para não adquirir doenças, tais como: Hepatites B e C, AIDS, Sífilis, Doença de Chagas, Influenza,
além de tuberculose e outras patologias respiratórias.

5.1.1. PRECAUÇÕES DE CONTATO

São indicadas para pacientes colonizados ou infectados por micro-organismos veiculados por
contato direto ou indireto (ex: objetos), que tenham grande importância epidemiológica - como
infecção por agentes multirresistentes. Os familiares devem ser orientados quanto aos cuidados a
serem tomados para evitar risco de contaminação.

Além das medidas de precaução-padrão, as precauções de contato envolvem:

 Medidas de uso de quarto privativo ou comum para pacientes que apresentem a mesma
doença ou micro-organismo;
 Uso de avental ou jaleco na possibilidade de risco de contato das roupas do profissional
com área ou material infectante (por exemplo, quando da realização de
higiene do paciente com diarreia aguda de etiologia infecciosa, incontinência
fecal/urinária e ferida com secreção não contida pelo curativo, que permite
extravazamento do exsudato);
 Manutenção do paciente no quarto/enfermaria, evitando sua saída, especialmente para
outros quartos/enfermarias;
 Uso exclusivo de artigos e equipamentos pelo paciente, impedindo que ele seja utilizado
por outras pessoas;
 Limpeza e desinfecção ou esterilização dos artigos e equipamentos de uso do paciente
mesmo após sua alta.

5.1.2. PRECAUÇÕES RESPIRATÓRIAS PARA AEROSSÓIS

São aquelas transmitidas pelo ar sob forma de partículas de


pequeno tamanho (menor que 5 micra).

Além das medidas de precaução-padrão; as precauções


respiratórias para aerossóis envolvem:

 Quarto privativo, sendo obrigatório manter a porta


fechada;
 Uso de máscara apropriada (tipo N95) ao prestar
cuidados a pacientes com suspeita ou doença confirmada de

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transmissão por vias aéreas (Tb, Sarampo, etc.);


 Manutenção do paciente no quarto, evitando sua saída - caso haja
necessidade de transportá-lo, colocar máscara comum tipo cirúrgica.

5.1.3. PRECAUÇÕES RESPIRATÓRIAS PARA GOTÍCULAS

São aquelas transmitidas pelo ar, porém alcançam curtas distâncias (partículas ou gotículas
maiores de 5 micra).

Além das medidas de precaução -padrão; as precauções respiratórias para


gotículas envolvem:

 Quarto privativo ou comum para pacientes com a mesma doença;


 Uso de máscara comum, tipo cirúrgica, por todas as pessoas que entrem no
quarto no período de transmissão da doença - sendo necessário desprezá-la à
saída do quarto;
 Manutenção do paciente no quarto, evitando sua saída - caso haja necessidade de
transportá-lo, colocar máscara comum tipo cirúrgica.

6. INFECÇÃO HOSPITALAR

Qualquer tipo de infecção adquirida após a entrada do paciente em um hospital, que não
estava em incubação quando da sua admissão, ou após a sua alta quando essa infecção estiver
diretamente relacionada com a internação ou procedimento hospitalar, como, por exemplo, uma
cirurgia. Ela pode manifestar-se durante a estadia no hospital ou após a alta do paciente.

A infecção é resultante da interação entre: os microrganismos, sua fonte de transmissão e o


hospedeiro. Em outras palavras, a infecção depende da quantidade de microrganismos que atinge o
indivíduo, da sua capacidade em causar infecção, do seu modo de transmissão e da resistência
imunológica do indivíduo (como ele responderá a esta agressão).

Os microrganismos podem ser transmitidos de pessoa para pessoa, especialmente pelas mãos;
por isso, é fundamental a higiene das mãos. Há também outras maneiras de transmissão: por meio
de água e alimentos contaminados; das gotículas que saem da boca quando falamos; ou pelo ar,
quando respiramos pó e poeira que contém microrganismos.

Os riscos de aquisição desta infecção podem ser agrupados em:

 Relacionados aos cuidados prestados: Associada aos microrganismos presentes nas


mãos dos profissionais de saúde, no ambiente ou no organismo do paciente. Geralmente
estão relacionadas a procedimentos invasivos (por exemplo, intubação para auxiliar a
respiração, passagem de cateteres venosos, cateteres no sistema urinário, cirurgias etc.).
Em algumas situações essas infecções, especialmente as que ocorrem após cirurgias,
podem ser prevenida com o uso de antibióticos.

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 Relacionados à organização: Sistemas de ventilação de ar e de água, disponibilidade de


profissionais (por exemplo, a relação entre número de enfermeiras dedicadas a atender
um determinado número de leitos), e estrutura física (mais de um leito no mesmo
quarto, a distância entre estes leitos, presença de pias, papel toalha, gel alcoólico para
higiene das mãos etc.).
 Relacionados à condição clínica do paciente: Infecção associada à gravidade da doença,
o comprometimento da imunidade do paciente, a tempo da internação etc.

O diagnóstico de infecção hospitalar envolve o uso de alguns critérios técnicos, previamente


estabelecidos:

 Observação direta do paciente ou análise do prontuário;


 Resultados de exames laboratoriais;
 Quando não houver evidência clínica ou laboratorial de infecção no momento da
internação no hospital, convenciona-se infecção hospitalar toda manifestação clínica de
infecção que se apresentar após 72 horas da admissão no hospital;
 Qualquer infecção manifestada antes de 72 horas da internação, quando associada a
procedimentos médicos realizados durante esse período;
 Pacientes transferidos de outro hospital são considerados portadores de infecção
hospitalar do seu hospital de origem;
 As infecções de Recém-nascidos são hospitalares, com exceção das transmitidas pela
placenta ou as associadas a bolsa rota superior a 24 horas.

Após o diagnóstico de infecção hospitalar, o tratamento é feito sempre com antibióticos


injetáveis e por período de 14 a 30 dias. No entanto, a maior complicação da infecção hospitalar é o
fato de poder acarretar problemas médicos adicionais, como a necessidade de re-intervenção
cirúrgica ou a ocorrência de efeito colateral relacionado ao antibiótico administrado. Além disso,
pode ser necessária a re-internação do paciente no hospital ou seu tempo de permanência ser maior
do que o planejado inicialmente.

A prevenção de infecções hospitalares depende muito mais da instituição hospitalar e de seus


trabalhadores do que dos pacientes, já que ninguém se interna com intenção de contrair doenças
dentro do hospital. Os cuidados para não ocorrer elevado número de infecções e sua prevenção e
controle envolvem medidas de qualificação da assistência hospitalar, de vigilância sanitária e
outras, tomadas no âmbito do município e estado.

É importante lembrar que a prevenção pode reduzir o número de pacientes acometidos por
esta infecção e, com isso, diminuir o uso de antibióticos, o tempo de permanência destes pacientes
no hospital e os danos associados à infecção. Por isso, este deve ser um esforço de todos:
profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas etc.), visitantes e pacientes. A higiene
das mãos - que devem ser lavadas com água e sabão ou utilizando o gel alcoólico - é uma medida
simples, mas muito efetiva para reduzir este risco. Portanto, o paciente pode colaborar observando e
lembrando os profissionais e visitantes a realizarem este ato. Pessoas resfriadas, gripadas, crianças
com infecções próprias da infância não devem visitar pacientes internados.

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6.1. COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR (CCIH)

Para reduzir os riscos de ocorrência de infecção hospitalar, um hospital deve constituir


uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), que é responsável por uma série de
medidas como o incentivo da correta higienização das mãos dos profissionais de saúde; o controle
do uso de antimicrobianos, a fiscalização da limpeza e desinfecção de artigos e superfícies, etc. Essa
comissão deve:
 Desenvolver ações na busca ativa das infecções hospitalares;
 Avaliar e orientar as técnicas relacionadas com procedimentos invasivos;
 Participar da equipe de padronização de medicamentos;
 Prevenir e controlar as infecções hospitalares;
 Controlar a limpeza da caixa de água;
 Controlar o uso de antibiótico;
 Implantar e manter o sistema de vigilância epidemiológica das infecções hospitalares;
 Elaborar treinamentos periódicos das rotinas do CCIH;
 Manter pasta atualizada das rotinas nas unidades;
 Executar busca ativa aos pacientes com infecção;
 Fazer análise microbiológica da água.

Os profissionais que participam de uma CCIH devem, necessariamente, receber treinamento


para atuarem nessa área. Um dos regulamentos do Ministério da Saúde, é que é imprescindível a
manutenção de, no mínimo, um médico e um enfermeiro na CCIH de cada hospital. Outros
profissionais da saúde também participam da CCHI do hospital, como: microbiologistas,
epidemiologistas, farmacêuticos, representantes médicos da área cirúrgica, clínica e obstétrica.

7. RESÍDUOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE (RSS)

De acordo com a ANVISA, são definidos como geradores de RSS todos os serviços
relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência
domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para a saúde; necrotérios,
funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento, serviços de medicina legal,
drogarias e farmácias inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da
saúde, centro de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores,
distribuidores produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro, unidades móveis de
atendimento à saúde; serviços de acupuntura, serviços de tatuagem, dentre outros similares.

Os RSS são parte importante do total de resíduos sólidos urbanos, não necessariamente pela
quantidade gerada (cerca de 1% a 3% do total), mas pelo potencial de risco que representam à saúde
e ao meio ambiente.

7.1. CLASSIFICAÇÃO

Os RSS são classificados em função de suas características e consequentes riscos que podem
acarretar ao meio ambiente e à saúde, sendo classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E.

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 Grupo A - Engloba os componentes com possível presença de agentes


biológicos que, por suas características de maior virulência ou
concentração, podem apresentar risco de infecção. Exemplos: placas e
lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas (membros), tecidos,
bolsas transfusionais contendo sangue, dentre outras.
 Grupo B - Contém substâncias químicas que podem apresentar risco à
saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características
de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Ex:
medicamentos apreendidos, reagentes de laboratório, resíduos contendo
metais pesados, dentre outros.
 Grupo C - Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que
contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de
eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia
Nuclear - CNEN, como, por exemplo, serviços de medicina nuclear e
radioterapia etc.
 Grupo D - Não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à
saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos
domiciliares. Ex: sobras de alimentos e do preparo de alimentos, resíduos
das áreas administrativas etc.
 Grupo E - Materiais perfuro cortantes ou escarificantes, tais como
lâminas de barbear, agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas,
lâminas de bisturi, lancetas, espátulas e outros similares.

7.2. ACONDICIONAMENTO

Consiste no ato de embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes. A capacidade dos


recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a geração diária de cada tipo de resíduo.
Um acondicionamento inadequado compromete a segurança do processo e o encarece. Recipientes
inadequados ou improvisados (pouco resistentes, mal fechados ou muito pesados), construídos com
materiais sem a devida proteção, aumentam o risco de acidentes de trabalho. Os resíduos não devem
ultrapassar 2/3 do volume dos recipientes. As recomendações gerais incluem:

 Os sacos de acondicionamento devem ser constituídos de material resistente a ruptura e


vazamento, impermeável, respeitados os limites de peso de cada saco, sendo proibido o
seu esvaziamento ou reaproveitamento;
 Os sacos devem estar contidos em recipientes de material lavável, resistente a punctura,
ruptura e vazamento, com tampa provida de sistema de abertura sem contato manual,
com cantos arredondados e ser resistentes ao tombamento;
 Os recipientes de acondicionamento existentes nas salas de cirurgia e nas salas de parto
não necessitam de tampa para vedação, devendo os resíduos ser recolhidos
imediatamente após o término dos procedimentos;
 Os resíduos líquidos devem ser acondicionados em recipientes constituídos de material
compatível com o líquido armazenado, resistentes, rígidos e estanques, com tampa
rosqueada e vedante;

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 Os resíduos perfuro cortantes ou escarificantes - grupo E - devem ser acondicionados


separadamente, no local de sua geração, imediatamente após o uso, em recipiente rígido,
estanque, resistente a punctura, ruptura e vazamento, impermeável, com tampa,
contendo a simbologia.

7.3. ARMAZENAMENTO

7.3.1. ARMAZENAMENTO TEMPORÁRIO

Consiste na guarda temporária dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados, em


local próximo aos pontos de geração, visando agilizar a coleta dentro do estabelecimento e otimizar
o deslocamento entre os pontos geradores e o ponto destinado à disponibilização para coleta
externa.

Dependendo da distância entre os pontos de geração de resíduos e do armazenamento externo,


poderá ser dispensado o armazenamento temporário, sendo o encaminhamento direto ao
armazenamento para coleta externa. Não poderá ser feito armazenamento temporário com
disposição direta dos sacos sobre o piso ou sobrepiso, sendo obrigatória a conservação dos sacos em
recipientes de acondicionamento.

No armazenamento temporário não é permitida a retirada dos sacos de resíduos de dentro dos
recipientes coletores ali estacionados. Os resíduos de fácil putrefação que venham a ser coletados
por período superior a 24 horas de seu armazenamento devem ser conservados sob refrigeração e,
quando não for possível, ser submetidos a outro método de conservação.

7.3.2. ARMAZENAMENTO EXTERNO

O armazenamento temporário externo consiste no acondicionamento dos resíduos em abrigo,


em recipientes coletores adequados, em ambiente exclusivo e com acesso facilitado para os veículos
coletores, no aguardo da realização da etapa de coleta externa.

O abrigo de resíduos deve ser dimensionado de acordo com o volume de resíduos gerados,
com capacidade de armazenamento compatível com a periodicidade de coleta do sistema de
limpeza urbana local. Deve ser construído em ambiente exclusivo, possuindo, no mínimo, um
ambiente separado para atender o armazenamento de recipientes de resíduos do grupo A juntamente
com o grupo E e um ambiente para o grupo D. O local desse armazenamento externo de RSS deve
apresentar as seguintes características:

 Acessibilidade: o ambiente deve estar localizado e construído de forma a permitir


acesso facilitado para os recipientes de transporte e para os veículos coletores;
 Exclusividade: o ambiente deve ser utilizado somente para o armazenamento de
resíduos;
 Segurança: o ambiente deve reunir condições físicas estruturais adequadas, impedindo a
ação do sol, chuva, ventos etc. e que pessoas não autorizadas ou animais tenham acesso
ao local;

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 Higiene e saneamento: deve haver local para higienização dos carrinhos e contenedores;
o ambiente deve contar com boa iluminação e ventilação e ter pisos e paredes revestidos
com materiais resistentes aos processos de higienização.

8. CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS HOSPITALARES

8.1. ÁREA CRÍTICA

São as áreas de maior risco para a aquisição de


infecções, devido à presença de pacientes mais
susceptíveis ou pelo número de procedimentos
invasivos realizados. São também considerados como
críticos os locais onde os profissionais manipulam
constantemente materiais com alta carga infectante.
São exemplos de áreas críticas: UTIs, Centros
Cirúrgicos, Centros Obstétricos e de Recuperação
Pós-Anestésica, Isolamentos, Setor de Hemodiálise,
Bancos de Sangue, Laboratórios de Análises Clínicas,
Bancos de Leite, dentre outros.

8.2. ÁREA SEMI CRÍTICA

São as áreas ocupadas por pacientes que não


necessitam de cuidados intensivos e de isolamento.
São exemplos de áreas não críticas: Enfermarias e
Ambulatórios.

8.3. ÁREA NÃO CRÍTICA

São todas as áreas que não são ocupadas por pacientes. São exemplos de áreas não críticas:
Áreas Administrativas e Almoxarifado.

9. CLASSIFICAÇÃO DOS ARTIGOS HOSPITALARES

9.1. ARTIGOS CRÍTICOS

Referem-se aos artigos ou produtos utilizados em


procedimentos invasivos em penetração em pele e mucosas
adjacentes, tecidos subepiteliais e sistema vascular, incluindo
todos os materiais que estejam diretamente conectados com
essas regiões. São exemplos de tais artigos: as agulhas, os
cateteres intravenosos, os implantes, o instrumental cirúrgico e
as soluções injetáveis. A esterilização é o processo básico para
que o uso desses produtos satisfaça os objetivos propostos.

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9.2. ARTIGOS SEMICRÍTICOS

Dizem respeito aos artigos ou produtos que entram em contato com a


pele não íntegra, embora ficando restritos às suas camadas, ou com
mucosas íntegras, a exemplo de sonda nasogástrica e equipamentos
respiratórios. Requerem desinfecção de alto nível ou esterilização para que
a qualidade de seu múltiplo uso seja garantida.

9.3. ARTIGOS NÃO CRÍTICOS

Incluem artigos ou produtos destinados ao contato com pele


íntegra e mesmo aqueles que nem sequer contatam diretamente o
paciente, como é o caso de termômetros e comadres, só para citar
alguns. Requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou médio nível,
dependendo de sua finalidade ou da última utilização realizada.

10. ASSEPSIA, ANTISSEPSIA E DEGERMAÇÃO

Assepsia é o conjunto de medidas adotadas para impedir a penetração de micro-organismos


(agentes patogênicos) no organismo. Logo, um ambiente asséptico é aquele livre
de infecção.

Já antissepsia consiste no conjunto de medidas propostas para inibir o


crescimento de micro-organismos sobre a pele ou mucosa, com o objetivo de
reduzi-los em sua superfície, podendo ou não destruí-los. Para tanto, há a
utilização de produtos (microbicidas ou microbiostáticos), os chamados
antissépticos ou desinfetantes. O PVPI degermante é muito utilizado como
antisséptico degermante, porém, só deve ser utilizado em pele íntegra, antes de
procedimentos invasivos e nas mãos dos profissionais da equipe cirúrgica, com
um tempo residual de 2 a 3 horas. O Clorexidine aquoso faz a antissepsia antes
de procedimentos invasivos, com um tempo de ação residual de 5 a 6 horas. Já o
Álcool à 70% tem ação imediata e faz a antissepsia de procedimentos que não
necessitam de efeito residual por serem de curta duração. É importante que, ao se
utilizar o PVPI degermante ou Clorexidine não se utilize Álcool à 70% imediatamente após, pois
este inativa a ação residual dos outros dois. O PVPI é contraindicado em RNs e grandes queimados,
devido a absorção transcutânea de iodo, podendo provocar hipertireoidismo. Já o Clorexidine deve
ser utilizado em caso de pacientes ou profissionais alérgicos a
iodo.

Degermação é a remoção de sujidades, detritos, impurezas e


microbiota transitória da pele por meio do uso de sabão e
detergentes sintéticos. Visa remover a flora transitória e parte da
flora permanente da pele, reduzindo o risco de infecções.

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11. PROCESSAMENTO DE ARTIGOS

11.1. LIMPEZA

Consiste na remoção da sujidade visível – orgânica e inorgânica – de um artigo e, por


conseguinte, na retirada de sua carga microbiana. Portanto, trata-se de uma etapa essencial e
indispensável para o reprocessamento de todos os artigos, sejam críticos, semicríticos ou não
críticos.

Esse processo deve sempre preceder a desinfecção e a esterilização. O emprego da ação


mecânica e de soluções adequadas aumenta a eficiência da limpeza. Se um artigo não for
adequadamente limpo, os processos de desinfecção e de esterilização ficarão dificultados. A matéria
orgânica impede que o produto esterilizante ou desinfetante entre em contato com o instrumenta.
Dessa forma, resíduos de matéria orgânica podem estimular pontos de corrosão e favorecer reações
cruzadas com os produtos usados nesse processo, reduzindo a vida útil dos artigos. A limpeza
eficiente diminui a carga de micro-organismos em 99,9%.

O processo de limpeza deve atingir os seguintes objetivos:

 Reduzir a carga microbiana natural dos artigos;


 Extrair contaminantes orgânicos e inorgânicos;
 Remover a sujidade dos artigos.

A limpeza de qualquer artigo precisa ser feita de maneira rigorosa e meticulosa, devendo-se
desenvolver, para cada tipo de item, a melhor forma de executar essa tarefa. É necessário selecionar
o método que seja mais adequado ao artigo utilizado, de acordo com as demandas e como os
recursos disponíveis no serviço. Uma vez que esse requisito seja atendido, a limpeza pode ser de
três tipos:

 Limpeza Manual: Processo executado por meio de fricção com escovas (sob a água) e
do uso de soluções de limpeza, de preferência enzimáticas. Esse tipo de limpeza deve se
restringir aos artigos delicados que não possam ser processados por métodos mecânicos.
O profissional deve utilizar os EPIs adequados.
 Limpeza Mecânica: Desenvolvida por meio de máquinas. Esse tipo de limpeza
minimiza o risco de acidentes com material biológico, pela redução do manuseio dos
artigos contaminados. Mesmo assim, o profissional deve utilizar os EPIs adequados.

11.2. DESINFECÇÃO

É o processo de eliminação e destruição de micro-organismos, patogênicos ou não, em sua


forma vegetativa, que estejam presentes nos artigos e objetos inanimados, mediante a aplicação de
agentes físicos ou químicos, chamados de desinfetantes ou germicidas, capazes de destruir esses
agentes em um intervalo de tempo operacional de 10 a 30 minutos. Pode ser de três tipos:

11.2.1. DESINFECÇÃO DE ALTO NÍVEL

Destrói todas as bactérias vegetativas - mas não necessariamente todos os esporos bacterianos
-, as micobactérias, os fungos e os vírus. O enxague deve ser feito preferencialmente com água

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estéril e a manipulação precisa seguir o uso de técnica asséptica. Esse tipo de desinfecção é
indicado para artigos como lâminas de laringoscópio e equipamentos de terapia respiratória.

Os agentes mais comumente utilizados incluem o glutaraldeído e o ácido paracético, além do


processo de pasteurização. O germicida usado para obter uma desinfecção de alto grau deve ser
preparado em conformidade com as instruções do fabricante.

11.2.2. DESINFECÇÃO DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO

Tem ação virucida e bactericida para formas vegetativas, inclusive contra o bacilo da Tb,
porém não destrói esporos. Os compostos mais utilizados por esse processo de nível intermediário
são o cloro, os iodóforos, os fenólicos e os alcoóis.

11.2.3. DESINFECÇÃO DE BAIXO NÍVEL

Consegue eliminar todas as bactérias na forma vegetativa, porém não age contra esporos,
vírus não lipídicos e o bacilo da Tb. Tem ação apenas relativa sobre os fungos. O composto mais
comumente utilizado nesse tipo de desinfecção é o quaternário de amônia.

11.3. MÉTODOS DE DESINFECÇÃO

O método de desinfecção deve ser escolhido de acordo com as características do artigo,


podendo ser de dois tipos:

 Desinfecção por Processo Físico: Compreende a exposição a agentes físicos, tais como
temperatura, pressão e radiação eletromagnética, calor úmido ou, preferencialmente,
sistemas mecânicos automáticos, com pressão de jatos d’água a uma temperatura entre
60ºC e 90ºC, durante 15 minutos.
 Desinfecção por Processo Químico: Envolve a utilização de produtos químicos cujos
princípios ativos são: aldeídos, fenólicos, quaternário de amônia, compostos orgânicos e
inorgânicos liberadores de cloro ativo, alcoóis e peróxidos.

11.4. ESTERILIZAÇÃO

É o processo pelo qual os micro-organismos são mortos a tal ponto que não se possa mais
detectá-los no meio padrão de cultura em que previamente os agentes haviam proliferado. Um
artigo é considerado estéril quando a probabilidade de sobrevivência dos micro-organismos que o
contaminavam é menor que 1:1.000.000. A esterilização pode ser realizada por meio de processos
físicos, químicos ou físico-químicos.

11.4.1. PROCESSOS FÍSICOS

11.4.1.1. ESTERILIZAÇÃO POR VAPOR SATURADO SOB PRESSÃO

É o processo mais utilizado em hospitais e o mais econômico para a esterilização de artigos


termorresistentes. O equipamento utilizado nesse tipo de esterilização é a Autoclave. O processo de
esterilização baseia-se na transformação das partículas de água em vapor sob a mesma temperatura.
A atividade esterilizante da autoclave tem como princípio, a morte celular pela coagulação das
proteínas bacterianas por meio do calor, de modo que o micro-organismo perca suas funções vitais.
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As principais vantagens desse tipo de esterilização


são: a facilidade de uso; custo acessível; eficácia; rapidez
e ausência de toxicidade. As desvantagens incluem: não
serve para esterilizar pós e líquidos; causa oxidação em
determinados artigos de aço inoxidável.

11.4.1.2. ESTERILIZAÇÃO RÁPIDA (FLASH


STERILIZATION)

A esterilização ocorre por meio do vapor saturado sob pressão em um equipamento ajustado
para efetuar o processo em um tempo reduzido diante de situações de urgência, como em
contaminação acidental de instrumental cirúrgico do procedimento em curso. A atividade
esterilizante é a mesma da autoclave (que tem como princípio de morte celular), a termocoagulação
das proteínas bacterianas, de modo que o micro-organismo, em razão do calor, perca suas funções
vitais e morra.

11.4.1.3. ESTERILIZAÇÃO POR CALOR SECO

Esse tipo de esterilização é gerado por resistências elétricas, para destruir os micro-
organismos, sendo equipada com termostato, contactor, resistência, lâmpada piloto, termômetro e
interruptor. O principal equipamento utilizado nesse tipo de
esterilização é a estufa. Caiu em desuso devido a pesquisas
que puseram em dúvida sua validade.

O princípio que rege a ação do calor seco como agente


esterilizante se baseia em sua irradiação das paredes laterais e
da base da estufa para todo o artigo. No entanto, o calor seco
tem baixo poder de penetração, diferentemente da autoclave
a vapor, pois se faz de forma irregular e vagarosa,
necessitando de longos períodos de exposição.

A destruição dos micro-organismos ocorre por oxidação e dessecação celular, ou seja, as


células dos micro-organismos expostos ao calor seco são desidratadas e morrem.

11.4.1.4. ESTERILIZAÇÃO POR COBALTO 60

O Cobalto 60 é utilizado como fonte de radiação gama para a esterilização de artigos críticos.
A eficácia das radiações ionizantes depende da interação com DNA. Ação biocida básica ocorre por
meio da formação de radicais livres aquosos, após a interação física primária da radiação com o
material biológico. Esses radicais são extremamente reativos e o DNA pode sofrer ação de radiólise
da água. Enfim, a capacidade antimicrobiana da radiação ionizante de dá principalmente por
modificações no DNA da célula-alvo. As vantagens incluem capacidade de esterilizar uma
variedade grande de artigos e alto poder de penetração nos materiais. Entre as desvantagens estão o
custo elevado e a disponibilidade dificultada no mercado.

11.4.2. PROCESSOS FÍSICO-QUÍMICOS

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11.4.2.1. ESTERILIZAÇÃO POR VAPOR DE BAIXA TEMPERATURA E FORMALDEÍDO


GASOSO (VBTF)

É realizado em autoclaves por meio da combinação de solução de formaldeído com vapor


saturado, a uma temperatura entre 50ºC e 78ºC. O formaldeído age por aniquilação das proteínas e
dos ácidos nucleicos microbianos, impedindo que esses componentes vitais cumpram suas funções
celulares. Entre as principais vantagens desse tipo de esterilização estão a ausência de impacto
ambiental e possibilidade de utilização imediata dos artigos após o término do processo. Entre as
desvantagens estão a incapacidade desse tipo de esterilização não se aplicar a artigos que absorvem
grande quantidade de formaldeído.

11.4.2.2. ESTERILIZAÇÃO POR ÓXIDO DE ETILENO (ETO)

Consiste em um processo que utiliza o gás óxido de etileno, sendo realizada em autoclave a
uma temperatura entre 50ºC e 60ºC. Entre as principais vantagens desse tipo de esterilização estão
seu uso diversificado, podendo ser usado para vários tipos de artigos e sua excelente capacidade de
penetração. Entre as desvantagens estão seu custo elevado e a necessidade de pessoal técnico
especializado.

11.4.2.3. ESTERILIZAÇÃO POR PLASMA DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO

É realizado por meio de autoclave própria, que gera plasma por meio do substrato de peróxido
de hidrogênio bombardeado por ondas de radiofrequência. O efeito letal é produzido por radicais
livres reativos, que mata os micro-organismos, incluindo os esporos. Entre as vantagens desse tipo
de esterilização estão a rapidez no ciclo e a facilidade de instalação do equipamento. Já entre as
desvantagens estão o investimento inicial elevado e o custo de manutenção do equipamento, além
da necessidade de invólucros específicos para o agente esterilizante.

11.4.2.4. ESTERILIZAÇÃO POR PASTILHAS DE PARAFORMALDEÍDO

Utiliza pastilhas de paraformaldeído, cujo princípio ativo é o


formaldeído, que se polimeriza em temperatura ambiente, dando
origem a um precipitado branco que conserva o odor e as
propriedades irritantes do gás. Embora seja reconhecidamente
esterilizante, esse processo constitui um recurso obsoleto, pois além
de trazer riscos ocupacionais, apresenta dificuldades de controle e
validação.

11.4.3. PROCESSOS QUÍMICOS

11.4.3.1. ESTERILIZAÇÃO POR ÁCIDO PERACÉTICO

Seu mecanismo de ação bactericida é similar ao do peróxido de hidrogênio. Por ser livre de
aldeídos, não possui padrão de exposição ocupacional, diminuindo, assim, os riscos de evaporação
para os sistemas respiratórios e para a mucosa ocular.

11.4.3.2. ESTERILIZAÇÃO POR GLUTARALDEÍDO

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Tem ação bactericida, virucida, fungicida e esporicida. A atividade biocida decorre da


alquilação dos grupos sulfidrila, hidroxila, carboxila e amino, que altera o DNA, o RNA e a síntese
proteica dos micro-organismos. Já a atividade esporicida se deve às reações com a superfície
externa dos esporos, as quais provocam o enrijecimento da parede e, consequentemente, a morte
dessa forma microbiana.

12. LAVANDERIA HOSPITALAR

A lavanderia hospitalar é um dos serviços de apoio ao atendimento dos pacientes, responsável


pelo processamento da roupa e sua distribuição em perfeitas condições de higiene e conservação,
em quantidade adequada a todas às unidades do hospital.

A eficácia de seu funcionamento depende da eficiência do hospital, refletindo-se


especialmente nos seguintes aspectos:

 Controle das infecções;


 Recuperação, conforto e segurança do paciente;
 Facilidade, segurança e conforto da equipe de trabalho;
 Racionalização de tempo e material;
 Redução de custos operacionais.

A lavanderia deve estar localizada preferencialmente no pavimento térreo, junto à área de


serviços gerais. Para conferir-lhe a mais correta e adequada localização, deve-se considerar alguns
aspectos, tais como: transporte e circulação da roupa (vertical ou horizontal); demanda das unidades
do hospital; distâncias, levando em conta, entre outras coisas, ruídos, vibrações, odores, calor e
localização das caldeiras. Deve ser dada ênfase especial à direção do vento, para que não haja
corrente de ar do ambiente contaminado para o limpo. O mesmo cuidado deve ser observado quanto
à orientação solar. A face do prédio mais exposta ao sol, por permanecer mais aquecida, atrai o ar
dos ambientes mais frios.

O controle das infecções relacionadas com o processamento da roupa hospitalar exige uma
série de medidas perfeitamente coordenadas em todos os locais de trabalho, sendo a barreira de
contaminação e o controle do fluxo de pessoas e roupas as medidas mais importantes contra as
infecções. Além destas, recomendam-se as seguintes:

 A roupa suja deve ser manuseada e sacudida o menos possível, devendo ser transportada
ao serviço de lavanderia em sacos resistentes e bem vedados;
 Os cobertores devem ser de tecido lavável, do tipo algodão;
 A roupa suja nunca deve ser contada, portanto o rol de roupa suja deve ser
definitivamente abolido;
 A roupa de isolamento deve ser conduzida à lavanderia em sacos nitidamente
identificados, sendo desinfetada numa pré-lavagem;
 Todas as janelas devem ser providas de tela;
 Os carros de transporte de roupa suja devem ter identificação para diferenciá-los dos
carros usados para o transporte de roupa limpa, a fim de se evitar uma troca acidental;

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 Todos os locais e carros usados no processamento devem ser diariamente lavados e


desinfetados com produtos germicidas;
 As máquinas de lavar devem ser regularmente desinfetadas, térmica e quimicamente, ao
final da jornada de trabalho;
 O pessoal do serviço de lavanderia deve usar uniformes lavados na própria lavanderia;
 O pessoal da área suja deve usar uniforme de cor diferente, máscara, gorro, luvas e
botas (borracha). Essa indumentária deve ser de uso exclusivo deste setor;
 Funcionários que apresentem foco de infecção não devem trabalhar no recinto da
lavanderia;
 Periodicamente, a CCIH deve providenciar exames bacteriológicos para controlar os
processos de lavagem, desinfecção e limpeza das áreas de processamento e dos carros
de transporte de roupas;
 As infecções no ambiente hospitalar provém de funcionários, acompanhantes, visitantes
e dos próprios pacientes, portanto uma das medidas de controle é o conhecimento, pelo
pessoal, da relação existente entre a roupa, os microrganismos e a doença.

Fluxograma Operacional da lavanderia hospitalar

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REFERÊNCIAS

HIVATA, M. H.; MANCINI FILHO, J. Manual de Biossegurança. Guanabara


Koogan. Rio de Janeiro, 2002.

LHGDC – Laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças Hematológicas.


Manual de Biossegurança. UNESP. Ribeirão Preto, 2007.

MASTROENI, M. Biossegurança Aplicada a Laboratório e Serviços de Saúde.


Atheneu. Rio de Janeiro, 2002.

POSSARI, J. F. Centro Cirúrgico: Planejamento, Organização e Gestão. 3 ed. Iátria.


São Paulo, 2007.

SOBECC. Práticas Recomendadas. 4 ed. SOBECC. São Paulo, 2007.

TEIXEIRA, P.; VALLE, S. Biossegurança: Uma Abordagem Multidisciplinar.


Fiocruz. Rio de Janeiro, 2002.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Biossegurança

http://www.bvsde.ops-oms.org/bvsacd/cd49/manualbiossegurancaa.pdf

http://www.opas.org.br/gentequefazsaude/bvsde/bvsacd/cd49/Bioseguranca.pdf

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ANOTAÇÕES

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