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OUTROS DANOS À SAÚDE

O U T RO S D A N O S À S A Ú D E

A Lei 31/95 de Prevenção de Riscos Laborais, com o objetivo de uma melhor


compreensão, desenvolve uma série de definições no artigo 4. Entre elas, define os
DANOS derivados do trabalho como as “enfermidades, patologias ou lesões sofridas
por motivo ou ocasião do trabalho”. Esta lei obriga os empresários a tomarem medidas
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preventivas oportunas para melhorar as condições de trabalho. Por isso, é necessário


avaliar todos os riscos de trabalho existentes, tanto os que possam provocar acidentes
de trabalho e enfermidades profissionais, como as situações de insatisfação, fadiga,
estresse e envelhecimento precoce.

Mario Abelló é bancário, trabalha há 10 anos no ramo de contabilidade. As condições


de trabalho mudaram muito nos últimos anos: todos trabalham no computador, a
informática controla os dados, os locais são espaçosos, geralmente um pouco
afastados do centro da cidade e quase sempre há uma cafeteria.
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Mario não está bem, às vezes, sente dor nas costas, nos olhos e, outras vezes, têm
insônia e, geralmente, acorda triste. Outros colegas também reclamam, sentem
saudades dos tempos anteriores em que as pessoas se relacionavam mais, em que os
locais eram antigos e estavam situados no coração da cidade, com lojas e cafés ao
redor onde podiam ir, na hora do café da manhã, trocar opiniões ou ver pessoas
diferentes com as quais cada dia se cruzavam na cafeteria.

As críticas começaram a surgir:

- O ar condicionado provocava as dores de cabeça.

- As telas de visualização de dados provocavam fadiga.

- E o bairro onde estavam era triste e perdia muito tempo para se deslocar.

- A cafeteria era muito monótona.

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Após um determinado período de temo, foi comprovado que o estado da instalação do


ar condicionado e das telas de visualização de dados estava bom: as telas estavam bem
reguladas, bem colocadas e utilizadas segundo as normas estabelecidas. A cafeteria não
era pior que outras. O ar condicionado funcionava corretamente desde que se fizeram
os reparos necessários. Então, o que estava acontecendo?

Mario falta, frequentemente, ao trabalho e diz que é difícil se sentir irresponsável porque
se aborrece muito em casa e, às vezes, vai ao trabalho apesar de não estar muito bem.
Mario toma antidepressivos e pratica um pouco de esporte. Não entende o que está
acontecendo. Sua médica diagnosticou esgotamento e um pequena depressão.

Um dia, enquanto está seguindo com o olhar as cifras que aparecem na tela de seu
computador, começa a dar-se conta das coisas.

Compreende que o ar condicionado e as cifras na tela não são a causa de seus


transtornos. Olha ao seu redor e observa que Mercedes respira forte e olha desconfiado,
um pouco inquieta. -vai ter uma crise- pensa Mario. Sua vizinha da direita não tira os
olhos da agendinha de telefones.

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Mais distante, Josefa, chefe do serviço, imersa em suas coisas, tosse. Outro colega
passa pelo corredor, silencioso. Mercedes sai, Josefa a olha com uma expressão
questionadora. Um lenço voa. Os dedos do Mario tremem. O ambiente é tenso no
departamento de contabilidade.

Mario lembra que, no mês passado, Luis solicitou sua transferência ao departamento de
caixa. Todos atribuem este mau ambiente a Josefa e esperam que ela se aposente no
próximo ano.

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Porém, Mario se questiona se o problema é só Josefa. É certo que ela não facilita as
boas relações por seu aspecto sério, mas possivelmente há outras coisas que também
influeciam no mau ambiente.

Por exemplo, os rumores que circulam no escritório sobre o futuro do banco. O que
acontecerá conosco? Vai haver reestruturações? Demissões? Desempregos?...

Todos se deram conta de que as pessoas aposentadas antecipadamente não foram


substituídas e o trabalho foi dividido entre outros e isso aumenta ainda mais as tensões.

-Fazemos um trabalho repetitivo- pensa Mario -com um ritmo cada vez maior. Além
disso, observo que as pessoas não se falam entre si. Só se olham com certa hostilidade,
o que torna o trabalho insuportável-.

Mario se sente aliviado, de repente compreendeu o motivo de sua fadiga, do


aborrecimento de suas oito horas de trabalho e da tensão no departamento.

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Caso comente ao médico da empresa, este lhe dirá que já conhecia essa situação,
assim como o especialista em ergonomia e psicossociologia e o diretor:

MÉDICO: Porque muitos trabalhadores estão como Mario, doentes e sem motivos
aparentes para estar.

ERGÔNOMO: Porque se trata de um problema de algumas deficientes condições de


trabalho.

DIRETOR: Porque está consciente de que a taxa de absentismo, muito aumentada


ultimamente, reflete um grave problema.

Um mês depois, o Comitê de Segurança e Saúde aborda o problema desta fadiga geral.
Cada um dá sua própria visão dos fatos. A opinião de cada um deles é diferente. Para
alguns o mais importante é o aumento do absentismo. Para outros o aumento do mal-
estar.

Como se trata de abordar o problema do modo mais prático possível, propõe-se ao


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Comitê de Segurança e Saúde realizar uma pesquisa com os trabalhadores, com todas
as ajudas internas necessárias (Serviço de Prevenção, Recursos humanos...).
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A que conclusão chegará? Que ameaças pesam sobre o futuro da empresa? Por que é
melhor o ambiente de caixa que o de contabilidade? Quais são os riscos do trabalho
com telas?

A reunião ocorreu nos finais da semana passada. Mario sorri quando um representante
do Comitê, depois da reunião, comenta-lhe: -É possível que, pelo menos, tenhamos a
oportunidade de falar com sinceridade sobre os problemas da empresa.

A seguir, Mario diz antecipadamente: -Veremos.

Os acidentes de trabalho e as enfermidades profissionais são os efeitos mais negativos


do trabalho sobre a saúde, mas limitar a prevenção contra acidentes e enfermidades
significaria definir a saúde como ausência de dano ou enfermidade, abordando uma
parte, mas só uma parte da definição proposta pela OMS.

Para expor o trabalho preventivo de forma que seja uma maneira real de manter e
melhorar nossa saúde, deve-se considerar:

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- A concepção legal de enfermidade profissional não se corresponde com a
realidade, porque há enfermidades profissionais que afetam a saúde física do
trabalhador e não se contemplam como tais.

Do ponto de vista técnico-preventivo, denomina-se enfermidade derivada do


trabalho aquela deterioração provocada por uma exposição crônica a situações
adversas, sejam produzidas pelo ambiente em que se desenvolve o trabalho ou
pela forma em que este está organizado.

Quanto maior o número de sintomas e de enfermidades relacionadas com um

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produto tóxico ou com determinadas condições de trabalho, maior será a
probabilidade dessa enfermidade ser reconhecida, em um período de tempo não
muito longo, como enfermidade profissional.

Avalia-se, assim, a importância do conceito de enfermidade do trabalho como


um meio para aumentar o número de enfermidades profissionais reconhecidas
como tais.

Convém lembrar: este tipo de enfermidades que não está incluído no quadro de
enfermidades profissionais pode ser declarado como “acidente de trabalho”
desde que se prove que a enfermidade tem sua causa exclusiva na execução do
trabalho por conta alheia.

- Existem situações no trabalho que são suscetíveis de ocasionar transtornos


que, sem ser de natureza física, podem causar dano ao trabalhador. Estas
situações podem chegar a materializar-se em doenças de tipo somático ou
psicossomático, mas podem, sem chegar a este ponto, serem prejudiciais ao
equilíbrio mental e social das pessoas.

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- Entretanto, além de contemplar estes efeitos negativos que não tinham


capacidade na Segurança e Higiene tradicionais, também devemos considerar o
efeito positivo sobre a saúde, ou seja, o trabalho tem que favorecer a
aproximação progressiva a uma meta de “estado de bem-estar” que é a saúde.

Para atuar sobre estes danos à saúde, contamos com a Ergonomia e Psicosociologia
aplicada à prevenção de riscos trabalhistas, além da contribuição geral da Medicina do
Trabalho da mesma forma que se faz em relação aos acidentes de trabalho e às
enfermidades profissionais.

Globalmente, a Ergonomia pode ser definida como o conjunto de técnicas cujo objetivo
é a adequação do trabalho à pessoa.

Há outras definições da Ergonomia segundo o ponto de vista do autor que a estuda.


Destaca-se a definição do Clark e Corlett (1984): “A Ergonomia é o estudo das
habilidades e características humanas que afetam a concepção das equipes, sistemas e
tarefas... e seu objetivo é melhorar a eficiência, a segurança e o bem-estar”.
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Por outro lado, a Psicossociologia, aplicada à prevenção de riscos trabalhistas, estuda


os fatores de natureza psicossocial e organizacional existentes no trabalho, que podem
repercutir na saúde do trabalhador.
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