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FUNDAMENTOS DO

PRIMEIRO DIA

Seus primeiros passos


no caminho de perfeição
Roberto Santos da Silva - orobert.silva@gmail.com - CPF: 066.450.903-74
CAMINHO DE PERFEIÇÃO
Nesta primeira aula vamos tratar principalmente da nossa
imaginação, como imaginamos o mundo e o que, na nossa
imaginação, pode estar nos impedindo de crescer.
Se eu disser para você: “Imagine o universo”, qual é a visão que
você tem deste universo? Faça isso. Feche os seus olhos por um
instante e imagine todo o cosmos. Pela minha experiência, a
maioria das pessoas imaginam o universo descrito pela física
moderna, ou seja, o universo povoado de estrelas, galáxias,
objetos, cometas, meteoros, partículas atômicas, buracos negros,
etc. É um universo que de fato é enorme, mas puramente corporal.
Quando a gente imagina o universo, esse universo está vazio de
presenças, pelo menos na minha experiência — pode ser que no
seu caso não seja assim, que tenha imaginado anjos, santos,
demônios, forças desconhecidas e o próprio Deus.
Tem uma oração oriental para o Espírito Santo que diz: “Rei
Celeste, consolador, espírito da verdade, presente em toda parte
e ocupando todo lugar”. Deus está aqui, presente, no universo; o
universo está dentro de Deus. E no imaginário das pessoas
comuns, hoje em dia, em função da descrição feita pela mecânica
física no universo, tende-se a imaginar um universo só de forças
cegas. Este é um tema que eu desenvolvi nas primeiras aulas do
curso, e por isso é o tema de hoje, porque ele é fundamento para
tudo o mais. Digo para você: o universo que a gente imagina, em
geral, da física mecânica, descrito pelo Newton, é incompatível
com o cristianismo. Na verdade, ele é um universo abstrato. Ele
não existe. Eu não estou dizendo que as partículas não existem,
que as estrelas não existem, não é nada disso. Tudo isso existe,
evidentemente. Mas se você pega, por exemplo, São Tomás de
Aquino, ele diz que todo o movimento do universo físico, dos

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planetas, da terra, é resultado da ação dos anjos; para ele, e para
muitos outros santos, os anjos movem o universo corporal.
A gente aprende na escola que o mundo é o descrito por
Newton, Galileu, e depois Einstein, já na física do século xx. Mas
mesmo na descrição de Einstein, da relatividade universal,
continuam só havendo forças físicas. Eu não estou negando a
descrição da física, negando o Big Bang, mas dizendo que essa
descrição é parcial, ela só está falando de um aspecto do universo,
que é o jogo das forças cósmicas, físicas. Não estou negando a
realidade disso, eles é que negam a existência de outras dimensões
ontológicas do ser, que estão no universo mas não podem ser
captadas por instrumentos corporais, porque elas não são
corpóreas.
Então, o movimento dos astros, segundo São Tomás de
Aquino, e também Dionísio Areopagita, todos os movimentos
dos planetas, das estrelas, são feitos pela ação dos anjos, dos
arcanjos. Este é o primeiro ponto. Além disso, a doutrina católica
e, por consequência, os cristãos, acreditam também que existem
anjos que nos acompanham, anjos da guarda, arcanjos que
acompanham os governadores, etc. Os anjos estão presentes na
nossa vida. São Josemaria Escrivá, para lembrar dos anjos, sempre
que entrava numa sala e abria uma porta, esperava um pouco para
o anjo passar. É claro que é uma metáfora, uma ação poética,
porque anjo não tem corpo, mas nós precisamos dessas ações
poéticas, metafóricas, analógicas, para lembrarmos de realidades
que não estão ao alcance dos nossos sentidos corporais.
Há pouco a gente dizia que Deus está presente aqui. É, mas
não o vemos, porque não podemos ver a Deus nesta vida.
“Ninguém jamais viu a Deus” e permaneceu vivo, diz a Escritura.

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Não vamos falar dos místicos, pois esse não é o nosso problema
agora. Nosso problema é muito mais simples: nós temos que nos
livrar de uma visão de mundo, de uma imaginação do mundo que
esvazia o mundo de presenças. Veja, não trata-se só de anjos,
Deus, demônios, seres incorpóreos. Quando a gente imagina o
universo, não colocamos seres vivos nesse universo. As pessoas, os
seres humanos, as plantas, os animais, parece que isso tudo não faz
parte do universo, que está só na Terra. Essa visão é contraditória,
abstrata e parcial; ela não dá conta do universo como um todo.

Antes de continuarmos, vou fazer uma pequena digressão. Muitas


pessoas me pedem para narrar a minha conversão. Confesso para
vocês que tenho um certo receio de fazer uma narrativa da minha
conversão assim, publicamente, mas eu já prometi, dentro da
plataforma do nosso curso — logo vamos descobrir um nome
melhor para isso —, dar um testemunho da minha conversão, sem
entrar nos meus pecados. Eu era ator e cheguei a ser ateu, o que
rima um pouco com ator, durante algum tempo. Antes disso,
ainda era muito indiferente em relação à religião. Em 1982 eu
comecei a estudar astrologia e, juntamente, porque sempre que eu
pego algum assunto eu tendo a entrar de cabeça nele até esgotar
não o assunto, mas o meu interesse pelo assunto, que às vezes leva
pouco tempo e às vezes leva muito tempo, comecei a estudar
astronomia também, observando o céu.
Assim, me dei conta que eu olhava muito pouco para o céu,
eu não conhecia o céu. E veja, essa é outra realidade,
especialmente de quem vive nas cidades modernas, nessa
realidade urbana — com tanta luz, aqui em casa mesmo, vemos
poucas estrelas. A perda dessa visão, que nas cidades grandes é

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fatal, já é um dos fatores que nos desconecta não só da realidade
do universo mas também da presença de Deus do universo, da
visão da maravilha da criação. Como diz o Salmo 18 de Davi, “Os
céus publicam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra
das suas mãos”. Quando a gente vê um céu estrelado acontece uma
espécie de conexão com o sublime, com o próprio Deus.
Mas enfim, o que quero contar para vocês é que comecei a
estudar astronomia e comprei uma luneta terrestre, porque a
luneta astronômica mesmo era muito cara, que aumentava, se não
me engano, 400 vezes. A minha decepção foi quando apontei a
luneta para uma estrela e não vi nada demais; era a mesma coisa.
E de fato, para uma estrela, é a mesma coisa. Veja como a nossa
visão do próprio universo corpóreo é muito reduzida; a gente não
medita sobre isso, a gente não lembra do céu. Veja como isso é
incompatível com o cristianismo. O céu é um dos símbolos
essenciais do cristianismo. Claro que não é este céu visível, mas se
você não lembra nem do visível, como é que você vai lembrar do
invisível? O visível é um sinal do invisível. O firmamento é
exatamente esta visão superior que a gente tem do céu.
E aí aconteceu o seguinte (veja como eu era idiota). Eu
coloquei a luneta e fiquei observando um planeta lá no horizonte.
E aí o que aconteceu? O planeta começou a subir, e eu tinha a
sensação de que era a luneta que estava descendo. Eu apontei para
Leste e as estrelas nascem no Leste, por causa da rotação da Terra,
se olharmos geocentricamente —nós não observamos isso a olho
nu, só se você ficar de tempos em tempos olhando para o céu. Nós
não captamos facilmente o movimento da abóbada celeste a olho
nu, mas quando você usa uma luneta, que delimita o céu a um
campo muito estreito do céu, aí você vê esse movimento, muito

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lento. Mas eu não percebi que era o movimento da esfera celeste,
achava que era a luneta. Então eu apertava a luneta e ela
continuava caindo, e caindo. Pensei que estava estragada. Eu fui
na loja reclamar. Olha como podemos ser imbecis. Reclamei para
o vendedor que a luneta não se fixava. Aí o vendedor me disse:
“Não, é o céu que está se movendo”. Pedi desculpas e fui para casa,
envergonhado e surpreendido com minha ignorância. Aí sim,
depois dessa experiência, nunca mais esqueci que o céu se move.

Então a minha sugestão hoje é: primeiro observe o céu. A maioria


das pessoas que eu conheço não sabem para onde está o leste,
oeste, norte e sul, ou seja, estão desorientadas e depois vêm me
dizer que estão desorientadas na vida de estudos, de oração. Meu
filho, você está desorientado no mundo concreto, corporal; você
não sabe nem onde estão os pontos cardeais. Uma coisa não está
desconectada da outra. Você precisa se orientar. Oriente é onde
nasce o sol, não é isso? Então minha primeira sugestão é: observe
o céu.
O Nelson Rodrigues tinha uma piada sobre Dom Helder
Camara, bispo comunista, que só pensava em termos de luta
política, onde ele dizia: “Dom Helder só olha para o céu para saber
se vai chover”. É a situação da maioria de nós. As pessoas só olham
para o céu para saber se vai chover, se vai fazer frio, mas elas não
têm intimidade com a esfera celeste. O céu que vemos é um
símbolo do Céu que queremos ver e que, se Deus quiser vamos,
depois de morrermos e sairmos desta terra de exílio. O céu tem
uma dimensão simbólica! Não se esqueça disso.
Como ser cristão se você vê o mundo apenas como forças
físicas que não fazem sentido nenhum? Se você pegar os

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Evangelhos, verá que Jesus Cristo utiliza as realidades corporais
como símbolos o tempo todo. Veja os pássaros do céu, olhai os
lírios do campo, a figueira, a montanha, e assim por diante.
Alguns desses elementos, como a água, foram transubstanciados
em sacramentos. A água, o vinho, que vem das uvas, a videira, que
é o Cristo. Então, nós cristãos, e não só cristãos, mas os homens
que buscam transcender essa geração materialista em última
instância, temos que recuperar a dimensão simbólica do mundo,
do mundo como um todo, das estrelas, dos planetas, dos vegetais,
dos animais. Deus criou o mundo e, portanto, toda realidade está
apontando para Deus, toda realidade é como que um símbolo de
um aspecto de Deus.
Portanto, cultive isso, comece a ver o mundo com outros
olhos e, aos poucos, eu garanto para você, que se mesmo eu, que
estudando astronomia não percebia o movimento de rotação da
Terra, da esfera celeste, foi conseguindo fazer isso, você vai
conseguir com certeza. Comece a olhar as coisas como símbolo de
realidades mais altas. Nós fizemos também já alguma aulas no
Curso A Tradição Cristã, sobre simbolismo, para recuperar essa
dimensão simbólica. Se você pegar a Bíblia, ela é puramente
símbolo. Você tem aqueles quatro níveis tradicionais, que o
próprio Dante Alighieri fala, de leitura simbólica da realidade
física, e isso sempre esteve presente na Tradição cristã. O que nós
estamos buscando é tentar recuperar mesmo, como a gente coloca
na nossa divulgação, esse tesouro que está um pouco esquecido
hoje em dia por nós, cristãos. Nós não lemos mais os Santos
Padres, que são o fundamento da tradição cristã. Eu conheço
muitos tomistas que conhecem muito pouco as referências e os
mestres de São Tomás. O Angélico está sistematizando um

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ensinamento que já tinha mais de mil anos, e que foi feito pelos
Santos Padres, em seus ensinamentos orais. Esses ensinamentos
estão enraizados em simbolismo. O simbolismo não é semiologia,
não: o simbolismo faz parte da própria estrutura da realidade. No
Gênesis se diz que Deus nos criou à sua imagem e semelhança.
Nós mesmos somos um símbolo de Deus.
Bom, nos encontramos na próxima aula, com o iconógrafo
Walter Wellington, um grande amigo meu, apesar de não termos
nos encontrado ainda presencialmente. É um irmão na vida não
só artística, mas na vida espiritual também. É um católico
admirável. Nós vamos falar amanhã sobre os ofícios, como se
chama tradicionalmente.
Até a Revolução Industrial, todos os ofícios, ou pelo menos a
grande maioria deles eram artesanais, então eram ofícios que
eram feitos com a mão humana, carregados da nossa carne e da
nossa alma; faziam parte da vida humana como um todo. Não
havia essa divisão que depois da Revolução Industrial se tornou
comum. As pessoas acham que existe o mundo do trabalho e o
mundo real. Essa distinção para um artista não existe, mas todos
os homens são naturalmente artistas; todos os homens produzem
obras, e esse é o sentido original da arte. Então é sobre isso que
vamos falar amanhã!

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