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A quase totalidade das moedas é consti sitam sobre os metais). Se deixamos que o pó
tuída de metais. depositado sobre a superfície de uma moeda
O problema que mais interfere na conser permaneça sobre ela durante muito tempo, ele
vação dos metais é a corrosão, um processo poderá formar células galvánicas1 muito pe
acelerado de oxidação causado pela presença quenas que estimularão a corrosão. Os metais
de oxigênio, de cloretos ou de dióxido de en devem, por isso, ser mantidos limpos e secos.
xofre no ar. Esse processo é intensificado pela Por outro lado, se dois metais diferentes
umidade e por poeira (impurezas que se depo permanecem em contato prolongado e um
eletrólito2 se forma pela ação da umidade, de
sais minerais ou de impurezas, uma corrente
(*) Este texto constitui parte do tema desenvolvido na
elétrica circulará, e o metal menos nobre será
comunicaçãò “Estrutura e conservação do acervo numis corroído, enquanto o mais nobre será preser
mático do Museu Histórico Nacional“, apresentada no I vado, mas poderá ficar coberto pelos resí
Encontro de Numismática (Sociedade Brasileira de Estu duos da corrosão do outro metal.
dos Numismáticos/UNI-Rio), em novembro de 1990. Na ordem da série eletroquímica, os ele
Tem como objetivo divulgar para colecionadores e pro mentos mais nobres vêm no final. Essa ordem
fissionais de museus preocupados com a conservação de é a seguinte: alumínio (Al), zinco (Zn), ferro
moedas e medalhas um trabalho bem sucedido, desenvol
vido por técnicos do MHN com recursos limitados. Foi
escrito com a colaboração da restauradora Angela Maria
de Oliveira Paiva e do pesquisador Adler Homero de (1) Células galvánicas — células que, por uma ação quí
Castro, do MHN. As etapas do processo nele descrito e mica ou pelo contato de dois metais diferentes, com um
os produtos a serem utilizados foram estabelecidos por liquido interposto, ocasionam a formação de uma corrente
Rosmary Otterbach, antiga chefe do Laboratório de Con elétrica sobre um corpo determinado.
servação e Restauração do Museu. (2) Eletrólito — substância que, em fusão ou em solução,
(**) Departamento de Numismática do Museu Histórico pode sofrer eletrólise, i.e., decomposição química pela
Nacional, Rio de Janeiro. passagem de uma corrente elétrica.
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VIEIRA, R. M. L. Alguns princípios gerais de conservação de moedas e o processo de limpeza mecânica adotado
no Museu Histórico Nacional. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, S. Paulo, 2:133-136, 1992.
(Fe), estanho (Sn), chumbo (Pb), cobre (Cu), lhas poderia ser um recurso adequado à sua
prata (Ag) e ouro (Au). Assim, se forem guar conservação, mas somente se fosse permanen
dadas em contato direto durante um certo tem te (dia/noite). A interrupção da climatização
po sem limpeza ou proteção prévia uma moe por períodos causaria o mesmo efeito das mu
da de alumínio e uma de zinco, a de alumínio danças naturais de temperatura e umidade at
será corroída, enquanto a de zinco provavel mosféricas. E uma climatização permanente
mente ficará coberta e seguramente marcada seria muito dificilmente viável devido ao alto
pelo produto de sua corrosão. Portanto, deve- custo de sua manutenção. Portanto, outras for
se evitar tanto quanto possível guardar lado a mas de conservação de acervos de moedas
lado moedas de metais diferentes em uma continuam a ser buscadas, e se chega a algu
mesma lâmina ou gaveta de medalheiro sem mas conclusões.
uma proteção adequada. Observamos, no MHN, que os medalhei
No caso de moedas folheadas — ou for ros ingleses, com sua estrutura de comparti
radas —, cujo núcleo tem uma composição mentos estanques para cada uma das gavetas
diferente da camada externa (cobre forrado de e de pequenas hastes móveis formando esca-
prata, como em moedas romanas antigas, por ninhos isolados para cada moeda, proporcio
exemplo), pode ocorrer um processo eletrolí- nam ao acervo neles armazenado muito boas
tico entre a parte interna e a extema de uma condições para a conservação das peças.
mesma moeda, levando à destruição do nú Em relação aos medalheiros brasileiros,
cleo. que não oferecem as mesmas condições, um
Alguns pontos se tomam claros a partir procedimento que começou a ser utilizado há
desses dados: quatro anos parece estar produzindo resulta
1) que as moedas devem ser limpas antes dos satisfatórios. Esse procedimento tem três
de serem guardadas; etapas: a limpeza mecânica das peças, sua pro
2) que se deve evitar a guarda de moedas teção com cera microcristalina, e sua guarda
de metais diferentes em contato direto; em envelopes. Existem diversos outros méto
3) que se deve evitar também, o máximo dos de limpeza de moedas, como a limpeza
possível, a exposição prolongada de química, a limpeza por redução eletrolítica e
moedas à umidade e ao ar (que, como a limpeza ultra-sônica, mas o processo mecâ
mencionado acima, contém oxigênio, gás nico adotado foi o único considerado suficien
carbônico e dióxido de enxofre, acelera temente seguro e, sobretudo, economicamente
dores do processo de corrosão). viável para a instituição.
De acordo com alguns manuais europeus O processo de limpeza mecânica adotado
de conservação, os medalheiros deveriam ter no MHN consiste no seguinte:
aberturas para uma aeração adequada de seu — A limpeza da moeda é feita através de
interior. Outros manuais, em geral norte-ame fricção da peça em flanela de algodão
ricanos e canadenses, dizem exatamente o com uma pequena quantidade (uma pita
contrário, chegando a propor a guarda de moe da) de carbonato de cálcio — um produ
das muito delgadas, como as bracteatas e ou to neutro, em pó, com uma granulação
tras moedas medievais, dentro de blocos com muito fina para não arranhar a peça
pactos de resina sintética transparente molda (aproximadamente a mesma granulação
da, solúvel, para impedir por completo qual do talco de toalete). O carbonato de cál
quer contato da peça com o ar. cio pode ser usado em qualquer metal.
O Brasil é em grande parte um país de — A lavagem da moeda em água cor
clima tropical, com oscilações bruscas de tem rente, com detergente neutro (Detertec
peraturas e umidade relativa do ar. Por outro 7, fabricado pela Vetee) e escova de cer
lado, as maiores coleções de moedas se con das naturais, tendo-se o cuidado de en
centram em grandes áreas urbanas, cuja at xaguar bem a moeda.
mosfera é permanentemente carregada de ga — A secagem em flanela de algodão se
ses e impurezas. guida da imersão da peça em acetona
A climatização de áreas destinadas ao ar pura (que deve ser trocada periodica
mazenamento de coleções de moedas e meda mente). A retirada da moeda do recipien-
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VIEIRA, R. M. L. Alguns princípios gerais de conservação de moedas e o processo de limpeza mecânica adotado
no Museu Histórico Nacional. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, S. Paulo, 2:133-136, 1992.
te com acetona pode ser feita com pinça com papel desacidificado, tendem a se
de bambu com ponteiras de borracha, do acidificar com o tempo, devendo então
tipo usado para a revelação de negativos ser substituídos. O papel acidificado
de fotografías. pode ser visualmente reconhecido por
A acetona pura, muito volátil, promo manchas amareladas em sua superfície.
ve uma secagem mais rápida e completa
da peça. Colocando-se a moeda sobre te Cuidados Adicionais
cido de algodão, pode-se também usar —Limpar sempre uma moeda manuseada
um secador de cabelos portátil para asse antes de guardá-la. Os ácidos graxos das
gurar o processo de secagem. mãos, que contêm também ácido úrico,
— Depois da moeda bem seca, procede- um meio ideal para a proliferação de
se ao seu enceramento com cera micro- fungos, se recompõem rapidamente,
cristalina. A cera micro-cristalina, que é mesmo após a lavagem com sabão. Além
comercializada em blocos, é diluída em disso, as peças manuseadas e guardadas
nafta ou em querosene desodorizado até sem limpeza prévia podem ficar marca
tomar-se pastosa, e deve ser aplicada das por impressões digitais, que só são
com um pincel flexível, como os de de removidas com certa dificuldade.
senho, feitos com pelos de marta. Apli- — Utilizar uma flanela para essa limpeza
cá-se, em primeiro lugar, a cera no rever rápida. Em museus e coleções maiores, é
so, deixando que seque. Depois, no aconselhado o uso de luvas de algodão
anverso e, por último, no bordo. para o manuseio de moedas e medalhas.
Quando a cera micro-cristalina seca, — Evitar o contato de moedas com
o aspecto da moeda é um tanto opaco. A quaisquer instrumentos ou ferramentas
fricção em tecido de algodão (a flanela metálicas, que poderão produzir nelas ar
pode deixar felpas nessa etapa) retira o ranhões indeléveis.
excesso de cera e devolve à moeda uma — Proteger as peças quando houver ne
aparência polida. cessidade de transportá-las.
O enceramento com cera micro-cris-
talina veda os “poros” do metal, prote Quanto à limpeza:
gendo a moeda através de uma película — Durante todo o processo de limpeza
inerte e inócua. O enceramento tem sido as peças devem ser protegidas do contato
usado em lugar do envemizamento, hoje direto com as mãos através do uso de
desaconselhado. luvas de plástico ou borracha.
— O envelopamento das peças tem sido — A pátina esverdeada sobre moedas an
feito em envelopes comuns para moedas, tigas de cobre e bronze é inerte, propor
mas podem ser usados o papel cristal, ciona à peça uma cobertura protetora e
mais transparente, ou, preferencialmente, atraente e não deve ser removida.
papéis de Ph neutro (6-61/2), desacidifi — Nenhuma cobertura de superfície em
cados (como o papel Salto, fabricado uso corrente é completamente eficaz em
pela Arjomari do Brasil, ou papéis seme impedir o ataque por agentes corrosivos
lhantes produzidos pela Pirahy). ou pela umidade da atmosfera. Seu em
As moedas guardadas em envelopes de prego deve ser associado às melhores
vem sofrer um controle periódico, por condições possíveis de armazenamento
que os envelopes, mesmo aqueles feitos ou exposição.
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VIEIRA, R. M. L. Alguns princípios gerais de conservação de moedas e o processo de limpeza mecânica adotado
no Museu Histórico Nacional. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, S. Paulo, 2:133-136, 1992.
VIEIRA, R. M.L. Some general principles o f coin conservation and the mechanical
cleaning process adopted by the Museu Histórico Nacional. Rev. do Museu de
Arqueología e Etnología. S. Paulo, 2:133-136, 1992.
A B S T R A C T : T h e tex t d e sc rib e s te c h n ic a l p ro c e d u re s re la te d to th e
clea n in g an d c o n se rv atio n o f m e ta llic c o in s, w h ic h re su lte d fro m s u c
cessfu l e x p e rim en ts p e rfo rm e d a t th e M u se u H istó ric o N a c io n a l, R io
de Jan e iro , in v o lv in g its co llectio n .
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