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CURSO
DE
METODOLOGIA JURĺDICA
1
O AUTOR
Publicações
I – Livros e monografias.
II – Lições policopiadas.
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Vol. 12, 1996, pp.
148-160.
3
- “Olhar crítico sobre o Projecto de Revisão da Constituição; Questões
de método”, em, Contributo para o Debate Sobre a Revisão
Constitucional, Coordenação Gilles CISTAC, Universidade Eduardo
Mondlane, Ed. Faculdade de Direito 2004, pp. 7-43.
IV – Colectâneas.
4
INTRODUÇÃO
1. Definição
1
Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999, vide, método
2
MORIN E., La méthode, Tome 1. La nature de la Nature , Paris , Ed. du Seuil, 1977, p. 21.
3
Discurso do Método, Lisboa Guimarães Editores, Lda, 1997.
4
VIRALLY M., “Le phénomène juridique”, RDP 1966, pp. 5-64.
5
outras palavras, a concepção, a expressão, a compreensão e a aplicação do Direito
pressupõem “uma lógica mais ou menos rígida de conceitos, de categorias, de
classificações (...) que têm por objectivos de introduzir, na massa das regras, clareza
e praticabilidade”5. É este património intelectual específico que que faz com que o
jurista é e que o diferencia de uma pessoa que não é formada em Direito.
5
DABIN J., Théorie générale du droit, Dalloz, coll. “Philosophie du droit”, 1969, n.º 264.
6
GÉNY F., Science et technique en droit privé positif, Nouvelle contribution à la critique de la méthode
juridique, t. IV, n.º 302.
7
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, Ed. Presses Universitaires de France – 2001, p. 18.
8
Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999, vide, ciência
9
Vide, por exemplo, MORIN E., La méthode, Tome 1., op. cit., p. 14.
10
MORIN E., Ibidem
11
MORIN E., Idem
6
chegar os matemáticos e os físicos. Trata-se de uma ciência de índole diversa, mas
não menos legítima, nem menos necessária: uma ciência do espírito, cujo objecto é
esta matéria viva e palpitante – o Direito, essencialmente evolutivo, que representa
uma das mais importantes ordens normativas a que todos estamos subordinados” 12.
12
GALVÃO TELLES I., Introdução ao Estudo do Direito, Vol. II (10.ª ed. 2000), Coimbra Editora, n.º
225.
13
BERGEL J.L., “Ébauche d’une definition de la méthodologie juridique“, Cahiers de méthodologie
juridique, 1990, n.º 5, p. 716.
14
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. cit., p. 20.
15
GÉNY F., op. cit., t. IV, n.º 284 e seguintes.
16
BERGEL J.L., op. cit., p. 21.
7
ser do Direito, das suas origens, das suas finalidades em função de posições
essencialmente metafísicas, éticas, ideológicas, políticas e sociológicas 17; como
escreve Giorgio del VECCHIO: “A filosofia do Direito é a ciência que define o direito
na sua universalidade lógica, procura as origens e os caracteres gerais do seu
desenvolvimento histórico e apreciá-lo segundo o ideal de justiça sugerido pela
razão”18. Por exemplo, o filósofo do Direito perguntar-se-á se a segurança social é
uma instituição justa ou de progresso social. O jurista, diferentemente, estudará
quais são os mecanismos de pagamento das contribuições, quais são as prestações
oferecidas, quais são as ligações entre o Instituto de Segurança Social e o Direito do
Trabalho ou o Direito da família, os critérios de acesso às prestações, etc... Para
atingir esses objectivos, o jurista recorrerá a metodologia jurídica e ou seja, aos
métodos de qualificação, de interpretação de coordenação das diversas regras de
Direito.
17
Vide, Philosophie du droit, in, Dictionnaire encyclopédique de théorie et de sociologie du droit, Paris,
LGDJ, 2.ª ed., 1993, p. 442 e seguintes.
18
DEL VECCHIO G., Philosophie du droit, Paris, Ed. Dalloz, 2004, p. 16.
19
BERGEL J.L., Teoria Geral do Direito, Martins Fontes, São Paulo, 2001, n.º 3 ; «Théorie Générale du
Droit », in Dictionnaire encyclopédique de théorie et de sociologie du droit, p. 610.
20
BERGEL J.L., “Ébauche d’une definition de la méthodologie juridique“, op. cit., p. 712-713.
21
ATIAS C., Épistémologie juridique, Paris, PUF, 1985 ; "Épistémologie juridique", in Dictionnaire
encyclopédique de théorie et de sociologie du droit, p. 610.
22
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. cit., p. 23 e seguintes.
23
BERGEL J.L., idem
8
Não há dúvida sobre o facto de que os sistemas jurídicos são inspirados de
ideologias e objectivos diversos que têm uma influência sobre o seu próprio
conteúdo. Mas qualquer que seja a substância das normas jurídicas dos diferentes
sistemas jurídicos, o seu desenvolvimento, o seu funcionamento e a sua aplicação
são dominados por mecanismos, instrumentos, modos de pensamento, conceitos,
instituições que parecem comuns a todos.
24
BERGEL J.L., op. cit., p. 31.
25
BERGEL J.L., op. cit., p. 37.
9
estende parcialmente ao legislador, ao juiz e aos advogados. A metodologia
legislativa – feitura de leis – é negligenciada; a redacção dos acórdãos não é
plenamente satisfatório (incoerência, falta de fundamentação, contradições, etc...) e
os advogados têm fraquezas em termos de argumentação, de técnica de negociação
e redacção de contratos, por exemplo.
Assim, ser bom jurista26, não consiste em conhecer todas as regras duma
determinada ordem jurídica (dificilmente concebível na prática!). O conhecimento do
Direito não se reduz a uma boa memória. Sobre este aspecto, o homem não pode
rivalizar-se com o computador.
26
JEAN CARBONNIER defende que a função do jurista é constituída pela reunião de quatro ciências:
"ciência das sistematizações" ou ciência da classificação; "ciência da interpretação" ou hermeneútica,
"ciência da criação normativa" ou "ciência da legislação e "ciência sociológico ou estudo dos
fenómenos, citado por, LOUIS ASSIER-ANDRIEU, Le droit dans les sociétés humaines, op. cit., p. 10.
27
ASSIER-ANDRIEU L., op. cit., p. 10.
28
DELNOY P., Initiation aux méthodes d’application du droit , Presses Universitaires de Liège, 1989-
1990, Vol. I, p. 7.
10
Finalmente, dominar a coerência e a racionalidade do Direito e estudar a sua
lógica e as suas técnicas permite identificar melhor as regras de direito e interpretá-
las e aplicá-las com melhor segurança.
7. Os objectivos do curso
29
COHENDET M.A., Méthodes de travail. Droit Public, Ed. Montchrestien, E.J.A., 1994, p. 17 e
seguintes.
30
COHENDET M.A., op. cit., p. 17.
31
Por exemplo, situação em que a decisão de uma jurisdição não parece responder, por vários
motivos, à ideia que se pode esperar da Justiça.
11
Assim, a metodologia jurídica aparece ao mesmo tempo como uma disciplina
transversal, porque tem uma vocação de intervir em qualquer ramo do direito, e
permanente porque os juristas deverão utilizar as suas técnicas durante toda a sua
vida profissional.
8. O plano da obra
32
Vide, Cahiers de méthodologie juridique, 1990, n.º 5 – Regards sur la méthodologie juridique.
33
Avant-propos, Cahiers de méthodologie juridique, 1990, n.º 5 – Regards sur la méthodologie
juridique.
34
FEYERABEND P., Contre la méthode. Esquisse d’une théorie anarchiste de la connaissance , Paris,
Éd. du Seuil, 1979, p. 13. Como escreve o referido autor: “A minha tese é que o anarquismo contribui
para o progresso, qualquer que seja o sentido que se lhe atribui“, op. cit., p. 25.
35
FEYERABEND P., op. cit., p. 15. Alfred EINSTEIN utilizará os termos de “oportunista sem escrúpulo”
(citado por PAUL FEYERABEND, op. cit., p. 15) para caracterizar esta maneira de ser do investigador.
12
está-se apenas a operacionalizar no mundo da metodologia do Direito, os ensinos
daqueles que experimentaram este processo no âmbito da teoria do conhecimento36.
Bibliografia:
36
Para ser mais completo, pode-se realçar que alguns juristas foram até buscar na arte
cinematográfica alguns esquemas explicativos de fenómenos jurídicos. Vide, Luís filipe COLAÇO
ANTUNES, "A reforma do contencioso administrativo. O Último Ano em Marienbad", em O Direito
Administrativo e a sua Justiça no Início do Século XXI. Algumas Questões, Livraria Almedina –
Coimbra, 2001, pp. 97-121.
37
Sobre as especificidades dos principais « direitos », vide René DAVID, Os grandes Sistemas do
Direito Contemporâneo, São Paulo, Ed. Martins Fontes, 1988.
38
BERGEL J.L., “Ébauche d’une definition de la méthodologie juridique“, op. cit., p. 707.
39
ROULAND N., “Quelques réflexions sur la recherche en droit“, Sciences de l’homme et de la société,
n.º 54 – maio 1999 -, p. 21; LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., Méthodologie de la recherche
juridique, Université du Québec à Montréal, Département des sciences juridiques, 1997, p. 7.
13
- ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, Paris, Éd. Nathan, 1996.
- ATIAS C., Épistémologie juridique, Paris, PUF, 1985.
- BERGEL J.L., Méthodologie juridique, Ed. Presses Universitaires de France – 2001, pp. 17-43;
- BERGEL J.L., “Ébauche d’une definition de la méthodologie juridique“, Cahiers de
méthodologie juridique, 1990, n.º 5, pp. 707-719.
- CARBONNIER J., Sociologie juridique, Paris, PUF, "Quadrige", 1994.
- DESCARTES R., Discurso do Método, Lisboa Guimarães Editores, Lda, 1997.
- FEYERABEND P., Contre la méthode. Esquisse d’une théorie anarchiste de la connaissance ,
Paris, Éd. du Seuil, 1979.
- GALVÃO TELLES I., Introdução ao Estudo do Direito, Vol. II (10.ª ed. 2000), Coimbra Editora,
n.º 225 .
- LAPERRIÈRE R., "À la recherche de la science juridique", em Le droit dans tous ses états, (Ed.
R.D. BUREAU e P. MACKAY), Montréal, Wilson e Lafleur, 1987, pp. 515-526.
- “Méthodologie juridique“, in Dictionnaire encyclopédique de théorie et de sociologie du droit,
p. 373.
- MORIN E., La méthode, Tome 1. La nature de la Nature, Paris , Ed. du Seuil, 1977;
- Regards sur la méthodologie juridique, Cahiers de méthodologie juridique, n.° 5, RRJ, 1990,
4.
- VIRALLY M., “Le phénomène juridique”, RDP 1966, pp. 5-64.
14
PARTE I – O SABER DO DIREITO
40
Como escreve LOUIS ASSIER-ANDRIEU: “Como teoria, como maneira de considerar as relações
sociais, ele (o Direito) secreta quantidade de saberes apropriados”, Le droit dans les sociétés
humaines, op. cit., p. 5.
41
BERGEL J.L., “Ébauche d’une definition de la méthodologie juridique“, op. cit., p. 709.
15
CAPÍTULO I – O SABER JURÍDICO
Com efeito, o Direito é uma realidade social42. Ele é uma componente das
actividades humanas eminamente marcada pela cultura e pelas formas de
organização de cada sociedade. De uma certa forma, o Direito é o reflexo de uma
sociedade e, em mesmo tempo, “o projecto de agir sobre esta, um dado básico da
composição social e um meio de canalizar o desenrolamento das relações entre os
indivíduos e os grupos”43. Isto significa que o jurista deve adquirir uma sólida cultura
geral.
42
ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, op.cit., p. 5.
43
ASSIER-ANDRIEU L., Ibidem
16
Mas, dentro da cultura geral existe um bloco de conhecimentos, que sem
constituir um saber estritamente jurídico pode constituir um conjunto de informações
extremamente importantes pelo jurista que necessitará de um tratamento específico.
a) Os livros
1. Os códigos
Nos códigos estão reunidos os diplomas legais que regulam uma matéria. Por
outras palavras, encontra-se a “Lei”, no sentido lato da palavra.
44
São nessas situações que o jurista deve preparar e elaborar fichas e dossiers.
17
Penal45. Editores privados ou públicos tomaram a iniciativa de publicar o conteúdo
desses códigos46 ou reunir nos códigos um conjunto de leis regulando uma mesma
matéria47.
2. Os manuais
Regra geral, cada displina jurídica tem os seus manuais. Para se convencer
desta banalidade é suficiente tornar-se utente de uma biblioteca de uma faculdade
de Direito. Os manuais são obras cujos autores apresentam as diversas matérias do
Direito de forma sistemática e didáctica, isto é, com o objectivo de instruir o leitor.
45
Outros como o Código Tributário Autárquico ou o Código do Notariado são já diplomas mais
especializados.
46
Vide, por exemplo, a iniciativa do Ministério da Justiça de reeditar o Código Civil com o patrocínio
do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) em 2004.
47
Vide, por exemplo, Código Civil e Legislação Complementar (BACELAR GOUVEIA J., BRASIL DE
BRITO S. e FEIJÃO MASSANGAI A.), Maputo, 2000.
48
Discurso do Método, op. cit., p.25.
49
Vide, por exemplo, CISTAC G. Manual de Direito das Autarquias Locais, Imprensa Universitária,
2001 - 730 páginas.
18
satisfaz plenamente o jurista porque não reflete a ordem jurídica vigente. É preciso
sempre exercer um “controlo” entre a doutrina assim divulgada e o direito vigente,
para se evitar contradições ou mal entendidos.
3. As monografias
4. Os dicionários jurídicos
5. As enciclopédias
50
CISTAC G., O Tribunal Administrativo de Moçambique, Maputo, Ed. Faculdade de Direito da
Universidade Eduardo Mondlane, 1997 – 260 páginas.
19
As enciclopédias designam, geralmente, volumosas obras colectivas que
abrangem o essencial do Direito Positivo. Regra geral, as rúbricas, escritas por
diferentes autores, estão classificadas por ordem alfabética.
b) As revistas
Até hoje, existe apenas uma revista jurídica moçambicana: a “Revista Jurídica”
editada pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane.
c) As coletâneas
20
às autarquias locais ou ao meio ambiente 51 e as coletâneas de jurisprudência que
têm por finalidade sistematizar as decisões das jurisdições para dar a conhecer o seu
conteúdo. Geralmente, essas coletâneas têm vários índices para facilitar a pesquisa.
Se existe algumas coletâneas de legislação no mercado moçambicano 52, existe
apenas uma coletânea de jurisprudência em Moçambique53.
d) O Boletim da República
Na Segunda Série são publicados vários actos aprovados por órgãos das
administrações do Estado ou com personalidade jurídica distinta (despachos, actos
aprovados pelo Conselho Universitário da Universidade Eduardo Mondlane,
deliberações da Ordem dos Advogados de Moçambique, etc.).
a) Os espaços comums
51
Vide, por exemplo, WATY T.A., Autarquias locais : legislação fundamental, Maputo, W & Q editora,
1999; SERRA C., Colectânea de Legislação do Ambiente, Centro de Formação Jurídica e Judiciária,
Dezembro de 2003; Legislação de Terras, Editor, MozLegal Lda, 2004.
52
Vide, por exemplo, WATY T.A., Código do Imposto sobre o rendimento e legislação complementar ,
Maputo, W & W editora, 2001 ; VASQUEZ S., Legislação Económica de Moçambique, Lisboa, 1996.
53
Vide, CISTAC G., Jurisprudência Administrativa de Moçambique, Volume I (1994-1999), Maputo, Ed.
Tribunal Administrativo – 2003 - 900 páginas.
21
1. As bibliotecas
Regra geral, as bibiotecas são edifícios onde estão classicados livros para
consulta54. As bibliotecas jurídicas constituem, pela maior parte dos juristas,
instrumentos indispensáveis da acquisição do saber jurídico. As bibliotecas devem
tornar-se um lugar usual e habitual dos juristas. É de realçar a classificação
sistemática realizada pelo Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa dos arquivos,
bibliotecas e centros de documentação e informação existentes em Moçambique55.
54
A "biblioteca" é o "organismo ou parte de um organismo cujo objectivo principal é de criar
colecções organizadas de livros e de publicações seriadas ou quaisquer outros documentos
audiovisuais ou gráficos, mantê-los e facilitar, graças à existência de pessoal especializado, a
utilização de documentos que respondem às necessidades de informação, investigação, de educação
ou recreativas dos utilizadores", Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, Directório dos arquivos,
bibliotecas e centros de documentação e informação existentes em Moçambique , Maputo, 2003, p.
12.
55
Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, Directório dos arquivos, bibliotecas e centros de
documentação e informação existentes em Moçambique , Maputo, 2003.
56
Endereço: Avenida Kenneth Kaunda, n.° 960 - Caixa Postal 257 Tel.: 21 488883 ext: 203 Fax: 21
494630 lrbenzane@yahoo.com.br
57
Endereço: Avenida Ahmed Sékou Touté, n.° 21, 3° andar, flat 35 – Maputo Tel.: 21 494494 Fax: 21
491506
58
Endereço: Avenida 25 de Setembro, n.° 1348 – Caixa Postal 141 – Maputo. Tel.: 21 311905/6 Fax:
21 304040 E-mail: biblina@teledata.mz
59
Endereço: Avenida 24 de Julho, n.° 3773, r/c – Caixa Postal 1516 – Maputo Tel.: 21 400835;
400833 E-mail: armoz@sortmoz.com
22
As bibliotecas pressupõem um acesso público dos utentes o que constitui a
sua razão de ser: trazer o conhecimento e a informação para todos. Além desses
espaços de conhecimento jurídico universal e público existe outros espaços de
conhecimentos jurídicos mais restrito. Servem fundamentalmente e principalmente
como fonte de informação para uma instituição em particular (tribunais, ministérios,
bancos, etc...). Assim, a informação jurídica acumulada nesses organismos é
especializada e tem uma finalidade utilitária: constituir meio de informação à
disposição dos serviços da instituição onde estão localizados60. Todavia, pessoas que
não pertencem à instituição (por exemplos: estudantes ou docentes universitários)
podem ter acesso aos recursos informativos desses organismos com a autorização
expressa dos órgãos competentes da instituição.
3. Os arquivos
60
Como estabelece o Directório dos arquivos, bibliotecas e centros de documentação e informação
existentes em Moçambique, o Centro de Documentação é um "organismo que assume as funções de
reunião de um conjunto de documentos para fins específicos e de tratar e difundir a informação neles
contida, a diversos níveis", op. cit., p. 12.
61
Endereço: Avenida Vladimir Lenine n.° 103 – Caixa Postal: 278 – Maputo. Tel.: 21 321037 – ext:
235.
62
Endereço: Avenida Mateus Sanssão Muthemba, n.° 65 - Caixa Postal 254 – Maputo. Tel: 21
490170/1 – ext: 314 E-mail: sousa_massingue@yahoo.com.br
63
Endereço: Avenida Julius Nyerere, n.° 15 – Caixa Postal 282 – Maputo Tel.: 21 491011 E-mail:
avantina@pgrmoz.com
64
Centro de Estudos de Documentação e Formação de Moçambique (CEDIMO). Endereço: Rua da
Rádio Moçambique, n.° 112 – Caixo Postal – 4116 – Maputo. Tel.: 21 325982 Fax: 21 427574. E-mail:
Lourenço.chipenende@mae.gov.mz
65
Endereço: Avenida 25 de Setembro, n.° 1695, 1° andar – Caixo Postal 423 – Maputo. Tel.: 21
422014 Fax: 21 426704 E-mail: pam@bancomoc.mz Página Internet: http://www.bancomoc.mz
66
Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, Directório dos arquivos, bibliotecas e centros de
documentação e informação existentes em Moçambique , op. cit., p. 12.
23
Existe vários tipos de "arquivos": privado, público, técnico67 ou geral. No que
concerne a realização de investigação no âmbito do Direito aconselha-se, como
ponto de partida, a consulta do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM)68 que
integra uma biblioteca multisectorial. Este arquivo serve, ao mesmo tempo à
comunidade e aos investigadores e historiadores oriundos de vários campos
científicos.
67
Vide, por exemplo, arquivo técnico de Águas de Moçambique ou arquivo técnico as Alfândegas de
Maputo.
68
Endereço: Avenida Filipe Samuel Magaia, n.° 715, r/c – Caixa Postal 2033 – Maputo. Tel.: 21
421177/8 Fax: 21 423428 E-mail: jneves@zebra.uem.mz
69
Vide, sobre a informática jurídica, PANSIER F.J., Méthodologie du droit, Paris, Ed. Litec, 2002, n.°
267 e seguintes.
70
PANSIER F.J., op. cit., n.° 316.
71
Vide, por exemplo en França, JURIS-DATA e LEXIS.
72
PANSIER F.J., op. cit., n.° 357 e seguintes.
24
and will inevitably involve some diminution of physical presence of students. Hence,
students will not be required to be physically present at the law school for the
extendend periods which we currently expect. Though it is likely that some
attendance will always be desirable the amount will always be desirable, the amount
will surely fall"73. Esta situação é já uma realidade em Australia e na Europa74.
Língua portuguesa
http://www.govmoz.gov.mz/index.htm
http://www.verbojuridico.net
http://www.dji.com.br
http://www.unimep.br/fd/ppgd/cadernosdedireitov11/00_Capa4.html
http://www.ambito-juridico.com.br
http://www.jus.com.br/doutrina/
http://conjur.uol.com.br
Língua francesa
http://www.precisement.org/internet_jur/droit_fr_revues.htm
http://www.laportedudroit.com
http://www.justiceintheworld.org
http://www.droit.umontreal.ca
Língua inglesa
http://www.journal.law.mcgill.ca
http://www1.umn.edu/twincities/index.php
73
HUNTER D., "Legal Teaching And Learning Over The Web", University of Technology, Sidney – Law
Review, em http://www.austlii.edu.au/au/journals/UTSLR/2000/8.html
74
HUNTER D., op. cit.
25
http://www.hg.org/index.html
http://www.loc.gov/law/public/law.html
http://www.loc.gov/law/guide/mozambique.html
http://jurist.law.pitt.edu/world/mozambique.htm
http://www.law.du.edu/naturalresources/Individual%20Countries/Moza
mbique.htm
http://www.austlii.edu.au/
http://www.stanford.eu
1. As aulas
A aula não deve ser percebida como simples horas destinadas a copiar
mecanicamente a informação transmitida pelo docente, pelo contrário, a aula é um
espaço dinámico de trocas de informação. Existe uma relação circular entre o
docente e a turma. A turma contribui na realização de uma boa aula. Em particular o
docente é atento às suas reacções e deve sempre verificar que existe uma certa
“densidade” entre ele e a turma capaz de favorecer o circuito da informação.
26
da informação organizando momento de repouso no caso em que a turma manifesta
momentos de cansaço (por exemplo: dar um exemplo ou relatar uma experiência
prática em relação com o tema desenvolvido) e aproveitando a boa disposição da
turma para desenvolver a parte mais técnica ou mais complexa da sua aula.
Finalmente, a assistência nas aulas permite utilizar o conjunto dos seus meios
de memorização.
75
MAZEAUD H. e MAZEAUD D., Méthodes de travail, Ed., Montchrestien, EJA, 1996, p. 35.
27
de trabalho com outros estudantes que serão muito úteis durante a fase de
assimilação da matéria76.
1.1.2.1. O suporte
76
Vide infra 1.2.
77
DEFRÉNOIS-SOULEAU I., Je veux réussir mon droit, op. cit., p. 23.
28
estílo será profundamente articulado para fazer perceber ao estudante que esta
parte do discurso é importante e, de facto, permitir ao estudante anotar a
integralidade do raciocínio. Caso o decurso for veloze, por exemplo, na exposição de
vários exemplos relacionados com o mesmo tema, o estudante deverá apenas anotar
um exemplo que ilustra, melhor a figura jurídica tratada na aula.
Regra geral, o estudante não deve tentar transcrever o conteúdo dos artigos
dos códigos que serão citados. O essencial é anotar a referência completa do artigo,
ele encontrará o texto da referência no respectivo código.
78
MAZEAUD H. e MAZEAUD D., Méthodes de travail, op. cit., p. 24 e seguintes.
29
EXEMPLOS DE ABREVIATURAS
Código Civil..........................................................................................................C.civ.
Código comercial .............................................................................................C. com.
Código Penal .....................................................................................................C. pen.
Código de Processo Penal ...........................................................................C. pr. pen.
Código de Processo Civil ..............................................................................C. pr. civ.
Lei ...............................................................................................................................L.
Artigo.........................................................................................................................art.
(exemplo: artigo 279 do Código Civil : art. 279 C. civ.)
Jurisprudênica ..........................................................................................................jur.
Direito..........................................................................................................................dir.
Tribunal Administrativo ...............................................................................................TA
Tribunal Supremo .......................................................................................................TS
Conselho Constitucional ............................................................................................CC
Assembleia da República ..........................................................................................AR
Revista Jurídica da Faculdade de Direito .......................................... Rev. Jur. da Fdir.
1.2.1. Entender
O que significa entender? Entender significa “ter ideia clara de”79. Por outras
palavras “Entender” as aulas é ter uma ideia clara sobre o conteúdo das mesmas.
Para concretizar esta norma várias técnicas são possíveis e podem ser
movimentadas.
79
Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999, vide, Entender
80
DEFRÉNOIS-SOULEAU I., Je veux réussir mon droit, op. cit., p. 11 e seguintes.
30
Os esclarecimentos podem ser pedidos durante as aulas, depois das aulas ou
na ocasião das sessões de trabalhos práticos.
81
Vide, supra 1.2.1. Entender
82
Vide SECÇÃO 2 infra.
31
Aprender o plano. É fundamental aprender o plano do curso por várias
razões83. Em primeiro lugar, permite melhor distinguir onde vai o docente e guiar o
estudante no programa estabelecido no princípio do ano lectivo. Em segundo lugar,
isto permite situar qualquer questão no conjunto da matéria. Na altura das
avaliações, na ocasião dos testes ou dos exames, o primeiro reflexo do estudante
será de identificar a informação útil para responder às questões colocadas. Esta
operação será facilitada a partir do momento em que o estudante conseguirá situar
no plano da disciplina as referidas questões. Com efeito, na fase das revisões ou
para responder a qualquer pergunta é preciso fazer um esforço de rememorização
dos conhecimentos adquiridos, e é possível atingir facilmente este objectivo se o
plano tiver sido bem assimilado. O cérebro funciona por associação de ideiais e
tenterá relacionar o tema ou a questão a tratar com um espaço onde se pode
conseguir identificar uma informação relacionada com ele ou ela.
83
DEFRÉNOIS-SOULEAU I., Je veux réussir mon droit, op. cit., p. 12 e seguintes.
84
Vide, supra a) do A ; do §1.
32
Em segundo lugar, a memoria visual deve também ser aproveitada. Por
exemplo, se pode sublinhar com cores as partes, os títulos, os sub-títulos, os
parágrafos e as passagens importantes das notas com o objectivo de atrair a
atenção do leitor.
Existem também técnicas para avaliar a sua memoria visual como “fotografar”
visualmente o contéudo de uma página com notas e depois tentar escrever numa
outra fólia o que foi “fotografado” e comparar no sentido de verificar se todos os
elementos importantes, em termos de contéudo, foram assimilados.
A linguagem jurídica não tem boa reputação. Esta linguagem aparece como
complexa e incompreensível ao cidadão comum. É só pensar na situação do
estudante do primeiro ano da Faculdade de Direito confrontado, pela primeira vez,
com os conceitos de “Direito positivo” e “Direito natural”. Será que existe um “Direito
artificial”? Será que existe um “Direito negativo”?
85
Vide, sobre as características da tradição jurídica occidental (a "ratio scripta"), ASSIER-ANDRIEU L.,
Le droit dans les sociétés humaines, op. cit., pp. 46-47.
86
BERGEL J.L., Teoria Geral do Direito, Martins Fontes, São Paulo, 2001, n.º 208.
87
SCHMIDT C., "La langue juridique: maux et remèdes", em http://www.uni-
trier.de/uni/fb5/ffa/lehrmaterialien.htm
88
BERGEL J.L., op. cit., n.º 208.
89
SOURIOUX J.L., "Pour l'apprentissage du langage du droit", in RTD civ. (2) avr-juin 1979, pp. 344.
33
Assim, dois tópicos permitem ordenar de forma racional as questões
relacionadas com a linguagem jurídica: o da terminologia jurídica (1.2.2.2.1.) e o da
fraseologia jurídica (1.2.2.2.2).
Com efeito, a regra de direito é uma proposição destinada a impor uma regra
de conduta sob a coerção social. Nesta perspectiva, esta regra deve ser precisa e
clara e por isso, esta regra deve ser constituída de termos que têm um sentido claro,
preciso e certo. Na hipótese em que esta regra comporta conceitos jurídicos
equívocos ou insuficientemente definidos, a regra fica incerta; então fica difícil prever
a solução de um eventual litígio porque “o sentido da noção evocada e o significado
da norma envolvida dependem da apreciação subjectiva do juiz”93. “A incerteza do
direito”, escreve JEAN-LOUIS BERGEL, “é um mal grave, pois aumenta a desordem
90
Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999, vide, Terminologia
91
BERGEL J.L., op. cit., n.º 209.
92
EISENMANN C., “Quelques problèmes de méthodologie des définitions et des classifications en
science juridique“, in APD, T. XI, La logique du droit, Sirey, 1966, p. 25 e seguintes.
93
BERGEL J.L., op. cit., n.º 211.
34
dos comportamentos que se querem evitar, a desordem na norma” 94. Assim, a
segurança do direito pressupõe um aparelho conceptual e uma terminologia
relativamente rígida e, algumas vezes, muita específica95.
94
BERGEL J.L., Ibidem
95
BATIFFOL H., "Observations sur la spécificité du vocabulaire juridique", em Mélanges dédiés à
Gabriel MARTY, Université des Sciences Sociales de Toulouse, 1978, p. 36 e seguintes.
96
BERGEL J.L., op. cit., n.º 212.
97
Sobre o relacionamento "Língua" e Direito", vide, SILVA ANTUNES PIRES C. (da), "Língua e Ciência
Jurídica. Da Formulação do Direito à Transposição Linguística. Dúvidas e Perplexidades", em
http://www.dsaj.gov.mo/macaolaw/pt/mag_display.asp?issue=5&offset=0
98
BERGEL J.L., op. cit., n.º 212.
99
BERGEL J.L., Ibidem
100
BERGEL J.L., Idem
35
O particularismo do vocabulário jurídico está ligado à diversidade da origem
do seu conteúdo. Com efeito, encontram-se na linguagem jurídica três tipos de
palavras: as extraídas do vocabulário corrente (por exemplo: "privilégio", "servidão",
"competência" ou "boa-fé"), as que são oriundas de outras disciplinas (por exemplo:
"crédito", "capital" ou "mercado") e os termos especificamente jurídicos (por
exemplo: "anatocismo" ou "anticrese").
A terminologia jurídica, muitas das vezes, tem origem grega ou latina. Parte
considerável do vocabulário institucional é oriundo do grego (democracia,
monarquia, oligarquia, política) ou do latim (República, Constituição, legislatura).
101
Artigo 560.º do Código Civil.
102
Artigos 1491 e seguintes do Código Civil.
103
Artigo 686.º do Código Civil.
36
A influência do direito romano foi determinante pelas ordens jurídicas dos países
de raíz romano-germánica; por exemplo, o Projecto de Código Civil (francês) de 1793
que vai influenciar quase todos os sistemas romano-germânicos seguiu a divisão dos
Institutes de Gaius104 e de Justiniano105. Tinha quatro livros: Das pessoas, Dos bens,
Dos contratos e Das acções106. O nosso Código Civil não foge muito desta
organização mesmo si a sequência é diferente: Livro I: Parte Geral, Livro II: Direito
das Obrigações, Livro III: Direito das Coisas e Livro IV: Direito da Família.
104
http://encyclopedia.laborlawtalk.com/Gaius
105
Emperador bizantino (527-565). Vide, http://buscabiografias.com/cgi-bin/verbio.cgi?id=4751
106
SAGNAC Ph., La législation civile de la Révolution française (1789-1804), Paris, 1898, citado in
Naissance du Code Civil, Paris, Flammarion, 1989, p. 14.
107
Do inglês lock out « fechar, deixando fora ». É o encerramento de um local de trabalho por
iniciativa patronal como forma de pressão face a reinvindicações dos trabalhadores ou face a um
movimento grevista.
108
Por exemplo: "A forfait": viagem organizada em conformidade com as especificações do cliente e
que cujo o preço inclui todos os serviços programados" (n.° 5 do Artigo 1 do Decreto n.° 70/99, de 5
de Outubro).
109
BERGEL J.L., op. cit., n.º 216.
110
CORNU G., Linguistique juridique, Paris, Ed. Montchrestien, 1990, p. 57 e seguintes.
37
- “ura”: candidatura, primogenitura (candidato (palavra-base) + sufixo – ura;
primogénito (palavra-base) + sufixo – ura);
- “ato”: concubinato (concubino (palavra-base) + sufixo - ato);
- “ário”: fiduciário; comanditário (fidúcia (palavra-base) + sufixo – ário;
comandita (palavra-base) + ário);
- "ivo": aquisitivo, legislativo (adquirir (palavra-base) + sufixo – ivo; legislar
(palavra-base) + sufixo – ivo).
111
BERGEL J.L., op. cit., n.º 216.
112
Artigo 1398.º do Código Civil.
113
Artigo 346.º do Código Civil.
114
Artigo 589.º do Código Civil.
115
Artigo 1226.º do Código Civil.
116
Artigo 630.º do Código Civil.
38
1.2.2.2.2. A fraseologia jurídica
117
Artigo 1060.º do Código Civil.
118
Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999, vide, Fraseologia
119
BERGEL J.L., op. cit., n.º 218.
120
BERGEL J.L., op. cit., n.º 219.
121
BERGEL J.L., op. cit., n.º 220.
122
Artigo 389.º do Código Civil.
123
N.º 1 do Artigo 836.º do Código Civil.
124
Artigo 6.º do Código Civil.
125
Artigo 85.º do Código Penal.
126
BERGEL J.L., op. cit., p. 306.
127
Vide, por exemplo, Artigo 510.º do Código Civil.
39
- uma obrigação; por exemplo: "O mandatário é obrigado a transferir para o
mandante os direitos adquiridos em execução do mandato"128;
- uma faculdade; por exemplo: "Dentro dos limites da lei, as partes têm a
faculdade de fixar livremente o conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes
dos previstos neste código ou incluir nestes as claúsulas que lhes aprouver"131.
128
N.º1 do Artigo 1181.º do Código Civil.
129
N.º 1 do 71 da Constituição da República.
130
Artigo 725.º do Código Civil.
131
N.º1 do Artigo 405.º do Código Civil.
132
BERGEL J.L., op. cit., n.º 221.
40
Diploma Ministerial n.º 213/2004
De 30 de Novembro
Por causa de seu carácter geral, a norma jurídica se expressa com a ajuda de
indefinidos como:
- "nenhum": "Nenhum cidadão pode ser julgado mais do que uma vez pela
prática do mesmo crime, nem ser punido com pena não prevista na lei ou com pena
mais grave do que a estabelecida na lei no momento da prática da infracção
criminal"135;
- "ninguém": "Ninguém pode ser condenado por acto não qualificado como
crime no momento da sua prática"136;
133
BERGEL J.L., op. cit., n.º 222.
134
N.º 1 do Artigo 40 da Constituição da República.
135
N.º 3 do Artigo 59 da Constituição da República.
136
N.º 1 do Artigo 60 da Constituição da República.
137
Artigo 167.º do Código Penal.
138
BERGEL J.L., op. cit., n.º 222.
41
- "A lei só dispõe para o futuro ..."139;
- "Obrigação é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita
para com outra à realização de uma prestação"140;
139
N.º1 do Artigo 12.º do Código Civil.
140
Artigo 397.º do Código Civil.
141
Artigo 352.º do Código Civil.
142
Citado por SILVA ANTUNES PIRES C. (da), "Língua e Ciência Jurídica. Da Formulação do Direito à
Transposição Linguística. Dúvidas e Perplexidades", op. cit., p. 7.
143
SOURIOUX J.L., "Pour l'apprentissage du langage du droit", op. cit., p. 343 e seguintes.
144
LERAT P., "La pratique terminologique dans le domaine du droit", Cahiers de linguistique sociale,
n.º 7, 1994, p. 22.
145
SOURIOUX J.L., "Pour l'apprentissage du langage du droit", op. cit., p. 346.
146
SOURIOUX J.L., Ibidem
42
Na primeira perspectiva, o docente terá o cuidado de apresentar o
constituição histórica do termo jurídico mas também a sua constituição recente. As
explicações históricas dependem da sua investigação etimológica. Por exemplo, a raíz
grega emphyteüse, isto é, "plantador" na palavra enfiteuse permite destacar o
aspecto rural da figura e explicar vários elementos fundamentais da sua constituição
e do seu regime juridico.
147
SOURIOUX J.L., op. cit., p. 347.
148
SOURIOUX J.L., Ibidem
149
Vide, por exemplo, SOURIOUX J.L., LERAT P., L'analyse de texte. Méthode générale et applications
au droit, Jurisprudence Générale Dalloz – 1986.
150
SCHMIDT C., "La langue juridique: maux et remèdes", em http://www.uni-
trier.de/uni/fb5/ffa/lehrmaterialien.htm
151
Vide, supra A., a), 4.
43
Depois, desta primeira fase de aprendizagem, pode-se pensar em organizar
(ao nível do quarto ano) sessões de iniciação à redacção de diplomas normativos 152 e
de actos jurídicos e jurisdicionais.
2. Os trabalhos práticos
152
Vide, infra, PARTE IV.
153
Reforma curricular, UEM, Faculdade de Direito, Maputo, Novembro de 2003.
44
2.2. O desenvolvimento das sessões dos trabalhos práticos
154
Sobre a técnica da exposição oral, vide, ???????????????
45
estudante/investigador, redigir fichas de leituras, o que servirá para a própria
elaboração da exposição oral, mas também para enriquecer as suas notas pessoais.
Só apenas se esse saber jurídico elementar for bem dominado e adquirido que
o jurista poderá reflectir melhor sobre um problema jurídico e saber quais são as
questões que devem ser levantadas e quais são as direcções que devem ser
exploradas e pesquisadas com mais profundidade para solucionar o problema em
causa ou atingir seu objectivo.
b) A pesquisa em direito
O que significa o termo “pesquisa” em Direito? (1) Qual é o seu âmbito prático
de actuação? (2) Quais são os seus objectivos? (3) Quais são os meios da
investigação jurídica? (4)
46
Regra geral, a ideia de pesquisa implica uma investigação metódica com o
objectivo de descobrir qualquer coisa.
Esta abordagem foi criticada com muita força por alguns autores porque "Este
objectivo de pesquisa pressupõe (...) um método extremamente restrito que se
relaciona com uma filosofia do Direito fraca, o positivismo jurídico, agregado com
uma prática tecnicista e professionalista do Direito. A hipertrofia deste tipo de
pesquisa jurídica explica-se historicamente pelos objectivos prosseguidos pelas
faculdades de direito, seja a formação e a reprodução das elites profissionais
(advogados, juizes, legisladores, funcionários) vocacionados principalmente à
conservação e à consolidação do direito e da ideologia veinculada em ele"157.
155
Vide, AMSELEK P., “Éléments d’une définition de la recherche juridique“, in APD, T. 24, Les biens et
les choses, Sirey, 1979, pp. 297-305; LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., Méthodologie de la recherche
juridique, op. cit., p. 5 e seguintes.
156
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op. cit., p. 7.
157
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op. cit., p. 7.
47
Nessas circunstâncias a análise científica e crítica do direito tem muito
dificuldade a se desenvolver.
158
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op. cit., p. 8.
159
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op. cit., p. 9.
48
actividade investigativa – mediante os organismos estatais160 - o que criou um
verdadeiro mercado da consultoria jurídico. Este tipo de pesquisa depende
principalemente das fontes de financiamento disponibilizadas e, pois, tem uma
finalidade utilitária ligada a objectivos políticos ou institucionais precisos.
160
Vide, por exemplo, os vários estudos encomendados pela Unidade Técnica da Reforma do Sector
Público (UTRESP) no âmbito da Estratégia Global da Reforma do Sector Público (2001-2011).
161
Infelizmente nem são todos difundidos e publicitados o que não permite avaliar objectivamente a
qualidade desses trabalhos.
162
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op. cit., p. 11.
163
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op. cit., p. 13.
49
A quem dirige-se a pesquisa?
4.1. O financiamento
164
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op. cit., p. 15.
165
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., Ibidem
166
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op. cit., p. 16.
167
LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., Ibidem
50
O financiamento da pesquisa jurídica tem um impacto directo ou indirecto
sobre o investigador. Mas, num país em desenvolvimento como Moçambique, a
dificuldade é ainda mais complexa porque a investigação jurídica não é uma
prioridade das instituições públicas mais preocupadas, regra geral, pela gestão das
necessidades básicas das populações. Deve-se bem reflectir sobre este desinteresse
para o Direito.
4.2. O pessoal
4.3. A documentação
4.4. O tempo
168
Vide, por exemplo, as dificuldades encontradas no Canadá, LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., op.
cit., p. 16.
51
2. A estratégia da pesquisa em Direito
169
DEFRÉNOIS-SOULEAU I., Je veux réussir mon droit, Paris, Armand Colin, 1996, p. 61 e seguintes.
170
Citado por PAUL FEYERABEND, op. cit., p. 23.
52
fundamental é “Qual é o problema?” Esta questão não é de pura forma, pelo
contrário, ela determina o conteúdo de todas as fases subsequentes da pesquisa.
Regra geral, é preciso habituar-se a relizar uma lista de tudo o que procurado
e o que foi útil e relevante em relação à questão investigada.
53
Qualquer jurista armazena informações – livros, revistas, relatórios, extractos
de jornais, etc... – com o objectivo de as explorar em caso de necessidade.
RESERVADO
Por exemplo:
Este trabalho que pode aparecer como rotineiro, não é, pelo contrário. Em
primeiro lugar, para os investigadores de uma disciplina, isto permite sempre ter
uma informação actualizada sobre a ecologia da disciplina, o que permitirá situar
melhor a sua evolução na sociedade. Em segundo lugar, no que diz respeito a uma
questão jurídica em particular, a constitução de dossiers temáticos permite identificar
os dados práticos interligados com a questão de direito.
54
A organização das relações de trabalho contribui (§1), assim como a gestão
do seu tempo (§2), ao aumento do seu rendimento e em criar um ambiente
favorável ao seu crescimento.
a) Os docentes
55
é possível, até recomendado, fazer perguntas ao docente em particular durante o
intervalo ou no fim das aulas ou marcar com ele um encontro de trabalho na ocasião
de sessões previstas para este efeito.
Para estabelecer uma relação de trabalho produtiva é ser atendido nas seus
preocupações é preciso evitar qualquer agressividade nas relações com os docentes.
Numa relação recíproca o respeito e a cortesia são essenciais; como escreve MARIE-
ANNE COHENDET: “Les enseignants vous rendent le respect que vous leur donnez,
et réciproquement”171. Respeite os seus docentes e eles te respeitarão.
171
COHENDET M.A., op. cit., p. 63.
172
173
COHENDET M.A., op. cit., p. 63.
56
A técnica aconselhada é desde o início do ano académico constituir grupos de
trabalho, entre estudantes, por afinidades, cujo número não deveria ultrapassar
cinco ou seis estudantes – um número mais elevado poderia prejudicar o bom
rendimento do trabalho do grupo -, e estabelecer uma planificação das sessões de
trabalho semanal; por exemplo uma ou várias sessões por semana na Faculdade ou
no domicílio de cada membro do grupo.
57
Em primeiro lugar, o estudante deve bem conhecer – teoricamente – o tema
objecto da investigação. Sem este pressuposto seria um tempo perdido e o prático
ficaria aborecido.
O tempo atribuído pelo docente no quadro dos trabalhos práticos para uma
apresentação oral deve ser escrupolosamente respeitado. A duração é geralmente
entre 10 a 20 minutos. O objectivo não é de não deixar o estudante se exprimir e
desenvolver o tema mas avaliar a sua capacidade de síntese e de identificação dos
elementos essenciais do tema a desenvolver. Uma exposição oral breve e clara é
muito melhor que uma demonstração demorosa onde o público percebeu 10% do
conteúdo e onde a maior parte do referido público expressa sinais de consaço.
174
Adoptar-se-à a sequência proposta por MARIE-ANNE COHENDET, op. cit., p. 65 e seguintes.
58
Uma vez a exposição pronta, é preciso treino. O treino pode ser feito sozinho
falando várias vezes e cronometrando-se para não ultrapassar o tempo previsto. É
claro que o treino pode ser, também, realizado no grupo de trabalho com o apoio
dos membros deste. Caso o estudante verifique que demorou na apresentação de
alguns desenvolvimentos da sua exposição não é aconselhavél acelerar o ritmo da
exposição a consequência seria que a maior parte do público não poderá tomar
notas ou não entenderá o conteúdo da sua exposição, É melhor, nessas condições,
amputar a exposição oral dos desenvolvimentos considerados como não
indispensáveis. O ritmo deve prevalecer sobre o conteúdo para permitir a
transmitição de uma informação clara.
b) O tempo na prova
RESERVADO
Os testes e os examens
B. A curto prazo
C. A meio prazo
D. A longo prazo
Bibliografia:
Bibliografia geral
A pesquisa em direito
59
- AMSELEK P., “Éléments d’une définition de la recherche juridique“, in APD, T. 24, Les biens
et les choses, Sirey, 1979, pp. 297-305.
- LAPERRIÈRE R., "À la recherche de la science juridique", em Le droit dans tous ses états,
(Ed. R.D. BUREAU e P. MACKAY), Montréal, Wilson e Lafleur, 1987, pp. 515-526.
- LAPERRIÈRE R. e THOMASSET Cl., Méthodologie de la recherche juridique, Université du
Québec à Montréal, Département des sciences juridiques, 1997.
- THOMASSET Cl., "L'enseignement critique et le rôle social du professeur", in L'enseignement
critique du droit: Journée d'étude, Dir. LOUISe LANGEVIN, Publications du GEPTUD, Faculté
de droit, Université Laval, Ste-Foy, 1996, pp. 11-23.
A Linguagem jurídica
- ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, Paris, Éd. Nathan, 1996, p. 45 e
seguintes.
- BATIFFOL H., "Observations sur la spécificité du vocabulaire juridique", in Mélanges dédiés à
Gabriel MARTY, Université des Sciences Sociales de Toulouse, 1978, pp. 35-44;
- BERGEL J.L., Teoria Geral do Direito, Martins Fontes, São PAULo, 2001, pp. 289-315;
- CORNU G., Linguistique juridique, Paris, Ed. Montchrestien, 1990;
- EISENMANN C., “Quelques problèmes de méthodologie des définitions et des classifications en
science juridique“, in APD, T. XI, La logique du droit, Sirey, 1966, pp. 25- 43;
- MARINHO C., A linguagem no Direito. Análise semântica, sintática e pragmática da linguagem
jurídica, em http://cristianemarinho.vilabol.uol.com.br/16.html
- SILVA ANTUNES PIRES C. (da), "Língua e Ciência Jurídica. Da Formulação do Direito à
Transposição Linguística. Dúvidas e Perplexidades", em
http://www.dsaj.gov.mo/macaolaw/pt/mag_display.asp?issue=5&offset=0;
- SCHMIDT C., "La langue juridique: maux et remèdes", em http://www.uni-
trier.de/uni/fb5/ffa/lehrmaterialien.htm;
- SOURIOUX J.L., "Pour l'apprentissage du langage du droit", in RTD civ. (2) avr-juin 1979, pp.
343-353.
60
CAPÍTULO II – O SABER FAZER JURÍDICO
175
HUNTER D., "Legal Teaching And Learning Over The Web", op. cit.
61
Não se deve perder de vista que as técnicas apresentadas constituem a
aplicação e a implementação do pensamento jurídico e que elas devem respeitar a
sua exigência: rigor, objectividade, pensamento analítico e de síntese, prático,
teórico e crítico.
RESERVADO
RESERVADO
176
GORDON R.W., “A educação em direito nos Estados Unidos: origens e desevolvimento”, em
http://usinfo.state.gov/journals/itdhr/08202.htm
62
torno de duas ou mais ideias centrais a partir dos conhecimentos adquiridos nas
aulas.
B. Razão de ser
C. Técnica
a) A preparação
Em primeiro lugar é preciso ler várias vezes e com cuidado o tema de maneira
articulada, com atenção, e sem nenhuma a priori (Estudar o senso do tema :
observar tudo, cada vírgula, os singulares, os plurais, as conjunções de coordenação,
etc.).
Em terceiro lugar, localizar no plano geral das aulas, as noções por ele
tratadas.
b) O plano
63
Em segundo lugar, reagrupar as diversas observações em dois ou três blocos,
caracterizados cada um por um eixo director, de tal maneira que a composição trate
a matéria com coerência (escolher os grandes eixos e os grandes polos de
interesse). O essencial é conseguir estabelecer uma classificação dos elementos que
se deseja expôr, e ordenar assim o seu desenvolvimento em torno de duas ou três
noções ou ideias-matrizes cuja justaposição construirá um discurso claro. Em regra
geral, é o próprio tema e sobretudo a abordagem que temos, que vai impôr o plano.
c) A redacção
D: Definição do tema.
L: Limites do tema
A: Actualidade do tema
177
«A introdução, é a porta que permite o acesso à casa; à conclusão, é a janela que se abre e que
permite aperceber-se de outros horizontes», Professor JEAN-PIERRE LASSALE.
178
COHENDET M.A., op. cit., p. 118 e seguintes.
64
Cada vez que o tema o permite é desejável integrar na sua introdução
elementos de actualidade relacionados com o tema.
I: Interesse do tema
C: Direito Comparado
H: Histórico
P: Problemática
A: Anúncio do Plano
A. Definição
179
A problemática deve ser a conclusão lógica e necessária da introdução.
65
No exercício do comentário de texto, trata-se de demonstrar porquê e como o
autor do texto tem adoptado tal ou tal atitude e construir um juizo pessoal crítico e
argumentado sobre este. Por outras palavras, comentar um texto consiste em
adoptar um procedimento temático e sintético, acompanhando-se de uma
interpretação mais ou menos livre e mais ou menos pessoal de um texto. Noutros
termos, comentar é fazer um exame crítico do conteúdo e da forma de um texto.
Vários são os textos cujos comentários são fornecidos durante as aulas e nos
manuais (artigos da Constituição, disposições de leis ou de decretos, sentenças,
extraídas de obras de doutrina, etc...). O primeiro trabalho deve consistir em situar o
texto a comentar na materia e relacioná-lo com as questões tratadas no programa.
B. Razão de ser
C. Técnica
a) A preparação
66
certos termos ou certas expressões do texto a comentar. Todos os elementos
importantes do texto devem ser evocados. De mesma maneira, explicaremos e
criticaremos o texto com rigor e prudência, fazendo prova de uma certa finesa na
análise.
b) O plano
Se o texto for curto e se tiver só uma frase, deve apoiar-se na sua estrutura
gramatical e lógica.
c) A redacção
67
A. Definição
B. Razão de ser
C. Técnica
x) As fases da resolução
180
DEFRÉNOIS-SOULEAU I., Je veux réussir mon droit, op. cit., p. 128 e sguintes; COHENDET M.A.,
op. cit., p. 156 e seguintes.
68
Nem todos os factos são relevantes e pertinentes para solucionar um
problema jurídico. Assim, é preciso seleccionar dentre dos factos do caso, os que
apresentam um interesse pela resolução do problema. São esses factos que deverão
ser qualificados juridicamente181. Por exemplo, se João compra um carro numa
empresa especializada e que depois de uma semana o motor do carro explode por
causa de um vício de fabricação do motor e que João pede o seu parecer para
responsabilizar a empresa vendedora; a cor do carro não é verdadeiramente
relevante para solucionar o seu problema jurídico. Pelo contrário, o vício de
fabricação do motor é um elemente pertinente num processo em responsabilidade.
Por exemplo, se João tem 23 anos de idade, isto significa, juridicamente, que
ele é maior de idade. Com efeito, ao abrigo do Artigo 122.° do CC: "São menores as
pessoas de um e outro sexo enquanto não perfizerem vinte e um anos de idade" ; se
Pedro compra um livro a João, isto é, juridicamente, um contrato de compra/venda.
Com efeito, nos termos do Artigo 874.° do CC: "Compra e venda é o contrato pelo
qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço".
181
MAZEAUD H. e MAZEAUD D., Méthodes de travail, op. cit., p. 61.
182
PANSIER F.J., Méthodologie du droit, op. cit., n.° 138.
69
O estudante deve explicar de maneira aprofundada os pontos de direito úteis
à solução.
d) As soluções
A. A preparação
183
MAZEAUD H. e MAZEAUD D., op. cit., p. 61.
184
MAZEAUD H. e MAZEAUD D., Ibidem
70
Tal como uma dissertação, uma exposição deve ser preparada com um estudo
aprofundado das questões a tratar. Ela deve ser bem elaborada e centrada no tema.
Mas o texto é destinado a ser apresentado oralmente, a ser compreendido
imediatamente pelos outros estudantes, e deve captivar a sua atenção.
B. A locução em público
Porque?
71
A educação em direito é fundamentalmente o reflexo do próprio sistema
jurídico. Os sistemas jurídicos anglo-saxónicos estabelecidos sobre os fundamentos
da Commun Law priviligiam, de facto, principalmente um estudo concreto do direito
e por razões óbvias, priviligiam em particular uma profissão a do advogado. Assim, a
reflexão teórica ficou, muito tempo, numa estado vegetativo. Além disso, a influência
da evolução política nesses países houve uma influência substancial sobre a evolução
do sistema jurídico-educativo; por exemplo, se se olha para o sistema dos Estados
Unidos de América, a educação em Direito espelha a evolução da democracia norte-
americana185. No princípio da República norte-americana (Século XVIII), os padrões
profissionais eram poucos e as profissões eram privilégio de homens brancos donos
de terras. Os adogados das pequenas cidades dos tempos pós-coloniais tinha apenas
uma educação em direito que se reduzia em alguns anos de aprendizagem em um
escritório de advocacia. É clara que esta educação evolui enormemente desde os
seus primórdios até hoje.
Nos Estados Unidos, ser advogado significa muitas coisas. Existem adogados
ques estão presentes nos tribunais e muito outros que nunca vêem um juiz. A
estrutura dos gabinetes de advogados é estremamente diversas. Há enormes
empresas de advocacia das grandes cidades que empregam de 500 a 1000
advogados que prestam trabalho muito especializado para empresas transnacionais e
advogados que trabalham sozinhos ou em pequenas empresas que ajudam famílias e
pequenos negócios com seus problemas legais como divórcios, testamentos,
transacções de bens ou falências. O Direito é também a carreira preferida para
entrar na política.
Completar 3 anos de uma faculdade de Direito aprovada pela ABA; e, por fim,
185
GORDON R.W., "A educação em Direito nos Estados Unidos: origens e desenvolvimento", em
http://usinfo.state.gov/journals/itdhr/08202.htm
72
Ser aprovado em um exame da ordem.
Na maoir parte dos Estados, 50 a 80% dos candidatos que prestam o exame
da ordem são aprovados. prática, este sistema torna o ingresso na faculdade de
Direito a etapa fundamental e mais difícil do ingresso na profissão.
Existem nos Estados Unidos, hoje em dia, 185 faculdades de Direito aprovadas
pela ABA, com cerca de 2 000 professores leccionando em tempo enteiro. As
faculdades são financiadas pelas mensalidades dos alunos, doações dos formados e,
no caso das faculdades públicas, dotações dos estados. A faculdade de Direito nos
Estados Unidos é pós-graduada, não subgraduada. Os ingressos são muito selectivos
e determinados por altas notas e em um teste padrão. A Faculdade de Direito de
YALE, por exemplo, possui 5 000 inscritos para 170 vagas na sua turma inicial. Os
custos são também uma alta barreira. Os alunos das faculdades privadas de Direito
pagam cerca de USD 30 000 por ano em taxas e mensalidades; mesmo nas
faculdades de Direito públicas, eles devem pagar de USD 15 000 a 20 000 por ano;
e, desta forma, muitos se formam com dívidas de USD 100 000 ou mais.
Por exemplo: o professor pode pedir a um aluno quais são os factos que
originaram o caso João contra Empresa Bolacha de Nova-York?
73
A Empresa bolachas de Mozambique afirmou que respeitou todos os padrões
técnicos de elaboração de bolachas que a legislação vigente impõe e que de facto as
máculas na barriga que aparecerem na barriga do Sr. João não são imputáveis a ela.
O aluno pode expor que o João recorreu ao tribunal de 1er instância e este
decidiu a favor do João. Mas que, a Empresa bolacha de Nova-York recorreu da
decisão do tribunal de 1er instância. O Tribunal Supremo confirmou a decisão do
primeiro juiz.
74
CAPÍTULO III – O SABER SER DO JURISTA
A. O rigor
186
No sentido de “estar ou ficar situado” (Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed.,
1999, vide, Ser) na sociedade.
187
Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999, vide, rigor. A precisão dos
termos é necessária para saber quais são os factos que serão subsumidos na norma aplicável e o teor
do seu comando, vide, BATIFFOL H., "Observations sur la spécificité du vocabulaire juridique", op.
cit., p. 40 e seguintes.
75
estilo do jurista. Assim, é necessário organizar e apresentar racionalmente a análise,
para que seja clara e séria.
B. A objectividade
O jurista pode considerar que uma regra de Direito é odiosa e que precisa
combate-lá mas o jurista, neste caso, deve agir, antés de tudo como cidadão e não
como jurista.
Na maior parte dos casos, várias concepções são aceitáveis, mas devem
respeitar, quaisquer que sejam, todas as exigências da cientificidade para ser válida.
188
Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999, vide, objectividade
189
COHENDET M.A., op. cit., p. 30.
190
76
avaliar cada argumentação antés de se pronunciar de maneira fundamentada para
defender aquela que parece pertinente no caso concreto.
O pensamento analítico (A) e sintético (B) são necessáros para conduzir uma
boa análise jurídica.
A. Um pensamento analítico
B. Um pensamento sintético
191
COHENDET M.A., op. cit., p. 31.
192
77
Assim, é preciso aprender a avaliar o que importante e o que não é isto é, o
que é acessório. Por outras palavras, é preciso encontrar o elemento fundamental ou
decisivo.
Um bom jurista é como uma palmeira alta: a cabeza nos nuevens e as raízes
bem ancoradas na terra. O que é difícil, mas essencial, é fazer a ligação entre os
elementos abstractos e os elementos muitos concretos de uma tema, isto é o
relacionamento entre a teoria e a prática.
Os dois pontos de visto são válidos mas podem ser combinados: observação –
teorização – aplicação ou seja, indução e depois dedução195.
193
A dedução é a consequência da aplicação de um raciocínio ou de um princípio (Dicionário da
Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999, vide, dedução).
194
A indução consiste a partir do particular e formular princípio geral ; observa-se um fenómeno
depois formula-se um princípio (Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Porto Editora, 8.ª. ed., 1999,
vide, indução).
195
COHENDET M.A., op. cit., p. 32.
78
A. O pensamento crítico
“Nenhum trabalho científico não poder ser sem um pensamento crítico”196, até
porque a crítica do direito vigente é indispensáveis pela realização das reformas197.
É claro que o cliente do advogado não espera dele uma dissertação abstracta
sobre a sua situação mas de analizar o seu problema e demonstrar qual é a solução
concreta que é mais adequada. Mas a solução mais pertinente nesta caso apenas
pode ser apresentada se a questão foi bem entendida, isto é equacionada com um
pensamento crítico. Assim, “o pensamento crítico exerce-se em primeiro lugar
quando trata-se do tema a investigar, e depois durante todo o tempo da análise”201.
B. Um pensamento crítico-jurídico
196
COHENDET M.A., op. cit., p. 33.
197
RIPERT G., Les forces créatrices du droit, Paris, LGDJ, 1955, p. 4.
198
RIPERT G., op. cit., p. 8.
199
RIPERT G., op. cit., p. 10.
200
CLAUDE LÉVI-STRAUSS, Le cru et le cuit, Plon, citado por COHENDET M.A., op. cit., p. 33.
201
COHENDET M.A., op. cit., p. 34.
79
As análises críticas devem ser jurídicas. Isto significa, fundamentadas sobre
argumentos relativos ao direito e a sua coerência. Por exemplo, uma situação de
incompatibilidade ou de contradição entre dois diplomas legais (entre duas leis ou
entre a Constitução e a Lei ou entre a Lei e um decreto do Conselho de Ministros).
Todavia, esta abordagem deve ser utilizado com muito cuidado sob pena de
se afastar do direito positivo sobretudo quando se trata-se de críticas relacionadas
com a vida política. É preciso distinguir claramente entre as críticas que têm uma
relação directa e necessária com a regra de direito e as que são simples alegações
de politiquice. As primeiras podem ser admitidas; as segundas são absolutamente
proibidas do ponto de vista científicas.
Em segundo lugar, o crítico deve ser humilde porque é muito mais fácil
demonstrar inépcias que verdades. Isto não impede que o pensamento crítico
necessita de coragem na defesa das sua ideiais.
202
COHENDET M.A., op. cit., p. 34.
203
COHENDET M.A., op. cit., p. 35.
80
A verdade no Direito é relativa, “o essencial é sempre respeitar as exigências
científicas explicando claramente as diferentes opções e escolhendo, de maneira
muita argumentada, aquela que parece mais convincente”204. Assim, a incerteza
prévia é aparente. Pelo contrário, a diversidade é um signo de riqueza na reflexão
jurídica. Os juristas devem ser preparados em enfrentar uma variedade de situações.
204
205
Vide, supra ??????????????????????
81
ou tal diploma novo. Todos esses elementos deverão ser apreciados a respeito dos
objectivos do autor do diploma, até os seus interesses206.
206
COHENDET M.A., op. cit., p. 38.
207
Vide os trabalhos publicados na Revista Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo
Mondlane.
82
Nesta perspectiva, acontece que os juristas podem não ter a mesma concepção do
Direito. É claro que a escolha de uma concepção em relação com outra tem uma
consequência no que diz respeito ao método escolhido.
208
Documento do Curso, Maputo, Julho de 2002 – policopiado.
209
Documento, p. 4.
210
Documento, p. 10.
83
84
PARTE II – O MÉTODO DO DIREITO
Nesta perspectiva, é preciso pois estudar o método jurídico geral que integra
um conjunto de instituições, instrumentos e mecanismos que constituem a base de
qualquer ordenamento jurídico (CAPÍTULO I – O MÉTODO JURÍDICO GERAL).
211
JEAN CARBONNIER, citado por LOUIS ASSIER-ANDRIEU, Le droit dans les sociétés humaines ,
op.cit., p. 10. A este agregado de "ciências", JEAN CARBONNIER acrescenta a "ciência sociológica".
Esta "ciencia" por seuobjecto e seus métodos não foi contemplada na delimitação
85
CAPÍTULO I – O MÉTODO JURÍDICO GERAL
Essas situações que podem aparecer como diferentes não as são por
natureza. A actividade dos juristas situa-se fundamentalmente num relacionamento
entre o Direito e os factos. É sempre aplicar o Direito aos factos ou elaborar o Direito
em função dos factos. É por concretizar esta finalidade que os juristas utilizam
diversos métodos jurídicos para aproximar o Direito dos factos. Por exemplo, pela
qualificação jurídica dos factos ou o silogismo judicial. Esta submissão dos factos
sociais às normas jurídicas será o objecto de uma primeria Secção (SECÇÃO 1).
212
Vide, ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, op. cit., p. 37.
213
PERELMAN C., Logique juridique. Nouvelle rhétorique, Paris, Dalloz, 2.ª ed., 1979, n.° 33.
214
ASSIER-ANDRIEU L., op. cit., p. 29.
86
Assim, pode-se distinguir três espaços susceptíveis de caracterizar esta
operação de tratamento dos factos pelo Direito.
O sistema jurídico para realizar a sua função e suas finalidades uza de vários
instrumentos que os juristas devem conhecer e saber implementar: “Melhor sabe
utilizar, melhor é o jurista”215.
Seria um erro considerar o Direito como uma simples sequência de regras sem
ligações e sem interacções. As regras jurídicas são o fruto da associação de conceitos
mais ou menos numerosos. Assim, uma construção intelectual é necessária para
elaborar os conceitos e realizar a coerência da ordem jurídica.
De uma certa forma, os conceitos jurídicos constituem “as bases racionais das
realidades humanas concretas”216. Será pois necessário estudar esses instrumentos
conceptuais (A). Mas além dos instrumentos conceptuais, a implentação do Direito
pressupõe instrumentos técnicos (B) necessários para a sua efectividade. Finalmente,
a implementação do Direito necessita também instrumentos operacionais (C).
A. Os instrumentos conceptuais
215
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. cit., p. 49.
216
BERGEL J.L., op. cit., p. 50.
217
LOBO A., Dicionário de Filosofia, Lisboa, Plátano Edições Técnicas, 1999, vide Conceito
218
ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, op. cit., p. 54.
219
“1. A morte ou incapacidade do declarante, posterior à emissão da declaração, não prejudica a
eficácia desta, salvo se o contrário resultar da própria declaração ...” (o sublinhado é nosso).
87
Agostol220) ou conceitos já construídos e elaborados, por exemplo, as modalidades
da declaração negocial (Artigo 217.º do Código Civil221), as associações (Artigos
167.º e seguintes do Código Civil) ou a sociedade comercial222 que representam já
um conjunto extremamente complexo de regras e de instituições jurídicas. Mas, por
natureza, todos os conceitos jurídicos são conceitos abstractos223.
Todavia, isto não significa que todos os conceitos têm um alto grau de
precisão. A maioridade, por exemplo, é um conceito jurídico muito preciso. Por
exemplo, o Artigo 73 da Constituição da República (1990) precisava : “Os cidadãos
maiores de dezoito anos têm o direito de votar”; mas existe outros conceitos menos
preciso ou indeterminados como os bons costumes ou a ordem pública (Artigo 280.º
do Código Civil) ou a imoralidade (Artigo 128 do Código Civil) que permitem
abranger uma infinidade de situações previsíveis. Os conceitos são, pois, os
instrumentos pelos quais o direito ordena o realidade. Assim, a metodologia jurídica,
sem ser a ciência dos conceitos, caracteriza-se, por tanto, por seu
“conceptualismo”224. P. 51 p. 52
a) As normas jurídicas
220
“O momento da concepção do filho é fixado, para os efeitos legais, dentro dos primeiros cento e
oitenta dias dos trezentos que precederam o seu nascimento, salvas as excepções dos artigos
seguintes” (o sublinhado é nosso).
221
“1. A declaração negocial pode ser expressa ou tácita: é expressa, quando feita por palavras,
escrito ou qualquer outro meio directo de manifestação da vontade, e tácita, quando se deduz de
factos que, com toda a probabilidade, a revelam ...”.
222
223
BERGEL J.L., Teoria Geral do Direito, op. cit., n.º 180 e seguintes.
224
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. cit., p. 51.
225
RIPERT G., Les forces créatrices du droit, op. cit., p. 1.
88
Uma norma, no sentido lato da palavra, é um modelo concreto ou abstracto,
geral ou individual226, do que deve ser ou não deve ser, que se caracteriza por o seu
efeito obrigatório o que pode implicar, em alguns casos, a intervenção do Poder
Público. Todavia, este modelo tem um conteúdo muito específico; como escreve
MICHEL VIRALLY: “a norma jurídica ... (define-se) como uma proposta exprimindo
direitos e obrigações bem como as relações que lhes unem”227. Por outras palavras,
trata-se de uma “proposta” integrando poderes e deveres. É o instrumento básico do
Direito228.
Todavia, a norma jurídica é diferente das outras normas que organizam a vida
social como as normas morais, religiosas, de cortezia ou estéticas. Distingue-se das
outras normas sociais principalmente por suas fontes (autoridades públicas), suas
finalidades (organização da vida social), suas sanções (objectivas estabelecidas pelos
órgãos do Poder público) e pela sua enunciação que é, regra geral, expressa e
precisa.
Toda regra de direito integra um dever. Este pode revestir várias formas
negativa ou positiva: ordens positivas, proibições, obrigação de fazer,
reconhecimentos de faculdades ...229. Todavia, nem apenas as normas jurídicas
estabelecem obrigações; por exemplo, as normas morais estabelecem, também,
obrigações. Neste caso o que faz com que se pode distinguir uma obrigação jurídica
de uma obrigação que não tem este carácter? O que faz com que uma norma
jurídica é obrigatória? A “sanção”, como defendem alguns autores 230? MICHEL
VIRALLY fiz uma crítica muita interessante deste fundamento para chegar à
conclusão de que “Os traços próprios à obrlgação jurídica parecem assim resultar
não das características da sanção que em regra geral accompanha-lá, mas do
método específico pelo qual é estabelecido a sua validade, isto é, a validade da
norma jurídica que a expressa”231.
226
JEAMMAUD A., “La règle de droit comme modèle”, D. 1990, Chronique. – XXXI, pp.199-210.
227
VIRALLY M., “Le phénomène juridique”, RDP 1966, p. 11.
228
BERGEL J.L., op. cit., p. 54.
229
VIRALLY M., “Le phénomène juridique”, op. cit., p. 19.
230
231
VIRALLY M., op. cit., p. 25.
89
lhe transferir bens. Regra geral, este tipo de direito abrange todas as situações em
que um sujeito de direito é habilitado a obter uma prestação de um outro sujeito de
direito232.
Todavia, a norma jurídica não pode ser definida, exclusivamente, pelo seu
carácter obrigatório. Ela tem, também, um carácter “constitutivo”, isto é, “a sua
capacidade a conferir habilitações, a definir direitos ou poderes e a atribuir-lhes”233.
Com este poder constitutivo, “as normas”, escreve MICHEL VIRALLY, “estão
habilitadas a, não só de estabelecer uma hierarquia social, mas, também de criar
autoridades e, de maneira geral, estabelecer instituições. Atribuindo o poder de criar
novas normas jurídicas, o direito adquire, finalmente, esta capacidade (...) de
regulamentar a sua própria criação e mais ainda: de se criar ele-próprio”234. Este
poder constitutivo do Direito, é um elemento essencial e específico do fenómeno
jurídico: “nada de comparável encontra-se em outros sistemas normativos”235.
232
VIRALLY M., op. cit., p. 26.
233
VIRALLY M., op. cit., p. 27.
234
VIRALLY M., op. cit., pp. 27-28.
235
VIRALLY M., op. cit., p. 28.
236
Por exemplo, em Direito Público, essas regras consubstanciam nas normas que estabelecem
funções ou instituem órgãos.
237
HART H.L.A., The concept of law, Oxford, 1961, p. 77 e seguintes.
238
BERGEL J.L., op. cit., p. 56 e seguintes.
90
Além disso, a norma jurídica é um instrumento de política jurídica e de técnica
jurídica. A norma jurídica é um instrumento de política jurídica no sentido de que
essa integra julgamentos de valores que pressupõem escolhas de sociedade e,
portanto, de escolhas políticas. Todavia, para concretizar essas escolhas definidas
nesta política jurídica, a ordem jurídica construi procedimentos e regras técnicas para
permitir a aplicação e realização do direito. Essas elementos são igualmente
consagrados sob a forma de normas. Essas duas componentes susceptíveis de
integrar a norma são interligados; como escreve JEAN-LOUIS BERGEL: “... a política
jurídica apenas pode ser implementada graça à técnica jurídica e, pelo contrário, as
medidas técnico-jurídicas bebem dos condicionalismos da política jurídica”239.
Os direitos subjectivos são poderes concedidos pela ordem jurídica para tutela
de um interesse ou de um núcleo de interesses de uma ou mais pessoas
determinadas240. Por outras palavras, “trate-se de prerrogativas individuais,
atribuídas a pessoas pela satisfação de interesses pessoais e garantidos pelos meios
do Direito”241; como escreve H. COING: “A ordem jurídica reconhece a uma pessoa o
livre gozo de um bem: é isto a essência do significado da concepção do direito
subjectivo”242.
91
Os direitos subjectivos de uma pessoa são na sua totalidade a base da
liberdade desta pessoa no Estado e na sociedade. Tal é a sua função social
específica246.
c) A ordem jurídica
a) O formalismo jurídico
246
COING H., op.cit., p. 8.
247
BERGEL J.L., op. cit., p. 61.
248
BERGEL J.L., op. cit., p. 62.
92
Por outras palavras, esta-se face ao formalismo quando um elemento de
forma exterior determinado pela ordem jurídica condiciona o efeito jurídico produzido
ou desde que a eficácia jurídica de um acto é alterada porque as formas prescritas
não foram cumpridas.
b) As ficções
Porque?
249
RAYMOND G., "Da necessidade do Direito do Consumidor", Rev. Jur. da Faculdade de Direito, Dez-
2002.- Vol. V, p. 104 e seguintes.
250
BEAUCHARD J., "Qual Direito do Consumidor?", Rev. Jur. da Faculdade de Direito, Dez-2002.- Vol.
V, p. 116 e seguintes.
251
BERGEL J.L., Teoria Geral do Direito, op. cit., n.° 282.
93
Em algumas situações, é necessário conciliar a estabilidade da construção
lógica, necessária à segurança jurídica, e as exigências da sua adaptação às
realidades sociais. Com este objectivo, o Direito altera a “verdade verdadeira” para
justificar soluções socialmente adequadas.
C. Os instrumentos operacionais
O Contrato
Para analisar uma questão e caracterizar áreas ### o sistema jurídico utiliza vários
instrumentos muito diversificados que todos os juristas devem conhecer.
O Direito não pode apenas ser um sismples ### de regras. No caso de não evitar
mecanismos para ligar em diversos elementos um conjunto coerente o Direito ficará
impraticável.
Para conseguir isso, é preciso ### intelectual fundamentado como concreto/que
qpermite realizar ou atingir uma ordem;
Contrato:
Para permitir a realização das operações jurídicas ( ### o direito) o sistema jurídico
utilioza mecanismos, trata-se sempre da comunicação de regras, de elementos,
meios técnicos e actos materiais ou jurídicos com ### de obter um resultado
determinado:
94
O contrato ( a prova, a reformularidade, a representação) são técnicas jurídicas,
procedimentos destinados a produzir alguns efeitos particulares cujas questões têm
necessidade por actuar ### do Direito.
As Funções do Contrato
95
O contrato tem por função execencial de produzir identificações solicitações jurídicas
estabelecidas criando-se modificando folhas ### ou anulando Direitos patrimoniais
meios e mais obrigações.
É uma ficção, porque o representado presume-se ter agido ele próprio enquanto que
na realidade ele não agiu directamente.
252
ASSIER-ANDRIEU L., Le droit dans les sociétés humaines, op.cit., p. 7.
253
ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 9.
96
A ideia é de que "exercício de um Direito pode ser ### de um gozo ou um direito
pode ser exercido pela intromediação de um terceiro como se era efectivamente
exercido pelo seu titular.
Ficção: ANDRIEU p. 56
FUNÇÕES
Por outras palavras para determinar a solução jurídica em relação a uma situação de
facto, é preciso traduzir os factos da língua jurídica, isto é dar um rótulo aos actos e
as coisas.
É preciso traduzir em Direito uma situação de facto, para fazer isto a primeira
operação consiste os factos na linguagem do Direito.
Por outras palavras, para entrar no mundo do Direito os factos precisam de ser
conceptualizados assim, é preciso subssumir nos termos da Lei, isto é, uma certa
forma de confrontar os factos aos conceitos jurídicos estabelecidos pela ordem
jurídica para conhecer aqueles que se identificam aos factos e deduzir as regras
jurídicas que devem ser aplicadas.
97
a) Conceitos e Categorias Jurídicas
b) Conceitos Jurídicos Indeterminados
Conceito jurídico deve representar um modelo que permite uma comparação para
pemitir estabelecer uma ligação entre situações concretas e o Direito.
254
255
ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 55.
256
HERMITTE M.A., "Les concepts mous de la propriété industrielle: passage du modèle de la
propriété foncière au modèle du marché, em EDELMAN B. e HERMITTE, L'Homme, la Nature et le
Droit, Paris, Christian Bourgois, 1988, p. 85 e seguintes, citado por ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 55.
256
256
ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 55.
256
HERMITTE M.A., "Les concepts mous de la propriété industrielle: passage du modèle de la
propriété foncière au modèle du marché, in EDELMAN B. e HERMITTE, L'Homme, la Nature et le Droit ,
Paris, Christian Bourgois, 1988, p. 85 e seguintes, citado por ASSIER-ANDRIEU L., op.cit., p. 55.
98
É preciso realçar o facto de que a tarefa do ### é de estabelecer definições
cientificamente corretas, mas elaborar regras aplicáveis (###).
Situações:
O raciocínio jurídico tem sempre por objecto confrontar uma situação de facto
às regras de Direito e tem por finalidade procurar a solução jurídica mais adequada.
99
Assim, pelo raciocínio, o jurista deve procurar, na base de um conjunto de
conhecimentos, o meio de atingir um objectivo. Com efeito, o raciocínio jurídico
apresenta-se portanto como um conjunto de argumentos cujo número, a qualidade e
a organização têm por objectivo de convencer. Mas, neste processo intelectual, o
raciocínio lógico ocupa um lugar relevante. Ele tem por objectivo de garantir a
consistência da ordem jurídica e a segurança na aplicação do Direito. Por outras
palavras, os raciocínios lógicos no Direito permitem dar uma melhor previsibilidade
do Direito o que contribui para constituir uma garantia de segurança jurídica.
100
Pelo contrário, a síntese é mais importante na obra doutrinal. Neste caso, a
operação intelectual consiste em reagrupar um conjunto de elementos dispersos do
sistema jurídico para propôr uma visão geral do conjunto. Mas isto é apenas possível
depois de uma actividade de análise das situações de facto ou de regras de Direito.
Pode aparecer que os factos susceptíveis de refutar uma teoria apenas podem
ser evidenciados com a ajuda de uma “alternativa incompatível” para parafrasear
PAUL FEYERABEND258. Nesta perspectiva, pode-se pensar em criar situações de
factos que não correspondem ou que contradizem o modelo factual que decorre da
aplicação de uma teoria fundamentada empiricamente. O objectivo desta abordagem
foi evidenciado por PAUL FEYERABEND quando ensina que “Um científico que deseja
alargar no máximo o conteúdo empírico das suas concepções, e que quer
compreender-las tanto claramente como possível, deve consequentemente introduzir
outras concepções: isto é que este deve adoptar uma metodologia pluralista”259. O
257
FEYERABEND P., op. cit., p. 26 e seguintes.
258
FEYERABEND P., op. cit., p. 26.
259
FEYERABEND P., op. cit., p. 27.
101
jurista deve comparar as ideias com outras ideias e deve tentar melhorar mais do
que rejeitar as concepções que foram vencidas. Essas “contra-concepções” actuarão
como testes das concepções dominantes para medir a sua “resistência” a novas
representações/contestações e, finalmente, avaliar o seu sucesso e sua perenidade.
Assim, a contra-indução como “uma medida da crítica”260 e permite, assim, comparar
os conceitos.
Fazendo isto, o jurista pode descobrir que a teoria do acto administrativo não
é tão boa como se admite geralmente para explicar toda a acção da Administração
Pública e que é preciso, ou acrescentar outros dados a este teoria, ou mudar de
teoria explicativa. Ainda como escreve o referido autor: “O conhecimento assim
concebido não é constituído por séries de teorias coerentes que convergem para
uma concepção ideal; não é uma marcha progressiva para a verdade. É antes m
océano sempre mais vasto de alternativas mutualmente incompatíveis ...”261.
No caso da indução, isto significa que é preciso demonstrar até que ponto o
método contra-indutivo pode ser defendido por argumentação.
260
FEYERABEND P., op. cit., p. 69.
261
FEYERABEND P., Ibidem
102
Fundamentalmente, nas decisões de Justiça, o silogismo exprime a sujeição
do juiz à regra de Direito.
262
103
De facto, este modo de raciocínio existe em Direito. É nas discussões, nos
debates e nas controvérsias que se encontram a crítica e a refutação que
caracterizam qualquer reflexão e particularmente a reflexão jurídica.
Um sistema jurídico deve ser completo significa que este sistema deve ser
apto a regular todas as situações que podem surgir concretamente nessa ordem; ser
ecocómico significa que o sistema jurídica deve ser desprovido de coisas inúteis e
finalmente, o sistema jurídico deve ser coerente significa que este pressupõe a
existência de métodos de coordenação apropriados para permitir escolher entre as
regras da ordem jurídica as que são aplicáveis e as combinar.
104
3. Os métodos fundamentados sobre a coerência do sistema jurídico
B.
Bibliografia:
Bibliografia geral
263
Vide, em particular, HAURIOU M., Précis de droit constitutionnel, Paris, Sirey, 2.ª., 1929, p.34.
264
BERGEL J.L., Méthodologie juridique, op. cit., p. 203 e seguintes.
105
CAPÍTULO II – O MÉTODO JURÍDICO APLICADO
106
PARTE III – OS MÉTODOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
APLICADAS AO DIREITO
Do ponto de vista prático, é preciso de realçar que as ciências sociais ……..p. p. 716
BERGEL
Conclusão
Importantes mais limites ligadas ao próprio objecto que éo dirieto. Pois necessidade
de dominar o metodo do dirieto
265
Professor Catedrático da Universidade Aix-Marseille III (França).
266
ROULAND N., "Quelques réflexions sur la recherche en droit", Sciences de l’Homme et de la
Société, n.º 54, p. 21.
267
BERGEL J.L., Ibidem
107
BIBLIOGRAFIA GERAL
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