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Lei Anticorrupção

Introdução
Existem duas versões sobre a aprovação da Lei 12.846/13:
 Versão “romântica”: Foi uma resposta do Poder Público às jornadas de
junho de 2013
 Pressão da comunidade internacional e um dos requisitos para o
ingresso do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico)
É mais uma ferramenta do Sistema Brasileiro de Combate à Corrupção
(juntamente com a Lei de Improbidade Administrativa, com os tipos penais).
O STJ admite a aplicação da Lei de Improbidade a pessoas jurídicas, mas as
sanções são majoritariamente pensadas para pessoas físicas. Ex: suspensão de
direitos políticos, perda da função pública. Por conta disso, sentia-se que havia
necessidade de um ato normativo que trouxesse penas mais duras para as PJs,
com sanções pensadas para PJs.
O principal destinatário da Lei Anticorrupção são as PJs. A lei também
abrange administradores e dirigentes, mas o grande foco é a PJ. Isso fica claro
no art. 2º da lei, que prevê a responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas
(na esteira de facilitar a punição de PJ que se envolve em corrupção). PJ não
tem dolo, quem tem dolo ou não é o administrador.1
Art. 2º: As pessoas jurídicas serão responsabilizadas objetivamente, nos
âmbitos administrativo e civil, pelos atos lesivos previstos nesta Lei praticados
em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não.
O art. 2º também deixa claro que a natureza da Lei Anticorrupção é civil
administrativa (não traz responsabilidades de natureza penal).
A responsabilidade do dirigente/administrador é subjetiva (art. 3º, § 2º).
Art. 3º, § 2º Os dirigentes ou administradores somente serão
responsabilizados por atos ilícitos na medida da sua culpabilidade.
Além disso, não há um litisconsórcio necessário entre PJ e dirigente (art. 3º, §
1º - a PJ pode ser responsabilizada sozinha).

1
Obs: Fábio Medina Osório possui entendimento minoritário no sentido de que essa responsabilidade objetiva
da PJ é inconstitucional.
Art. 3º: A responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade
individual de seus dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa
natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito.
§ 1º A pessoa jurídica será responsabilizada independentemente da
responsabilização individual das pessoas naturais referidas no caput.

Pontos relevantes *
Desconsideração da personalidade jurídica
É possível a desconsideração da personalidade jurídica para atingir os sócios
em caso de utilização abusiva da PJ.
Art. 14. A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada sempre que
utilizada com abuso do direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática
dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial,
sendo estendidos todos os efeitos das sanções aplicadas à pessoa jurídica aos
seus administradores e sócios com poderes de administração, observados o
contraditório e a ampla defesa.
Adotou-se a teoria maior, também presente no Código Civil, por exemplo.

Modificações societárias e responsabilidade da PJ


Em princípio, modificações societárias não alteram a responsabilidade da PJ
(art. 4º).
Art. 4º: Subsiste a responsabilidade da pessoa jurídica na hipótese de
alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão societária.
 Transformação – mudança de tipo societário (ex: A Ltda. se transforma
em A S.A.  A S.A. responde)
 Incorporação – uma ou mais sociedades são absorvidas por outra (Ex: A
é incorporada por B  B responde)
 Fusão – união de duas ou mais sociedades para formar uma sociedade
nova (Ex: A e B se fundem, formando C  C responde)

 Cisão – a sociedade transfere parte ou a totalidade de seu patrimônio


para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já
existentes; no caso de transferência da totalidade do patrimônio, a
sociedade cindida é extinta (Ex: A se divide em B e C  B e C respondem)

 Exceção: Fusão ou incorporação – a PJ que resulta da operação societária


somente responde pela multa e pela reparação integral do dano, exceto no
caso de simulação ou evidente intuito de fraude.
Art. 4º, § 1º Nas hipóteses de fusão e incorporação, a responsabilidade da
sucessora será restrita à obrigação de pagamento de multa e reparação
integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe
sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei decorrentes de atos e
fatos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação, exceto no caso de
simulação ou evidente intuito de fraude, devidamente comprovados.

Responsabilidade solidária de consorciadas


Prevista no art. 14, § 2º:
Art. 14, § 2º As sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no âmbito
do respectivo contrato, as consorciadas serão solidariamente responsáveis
pela prática dos atos previstos nesta Lei, restringindo-se tal responsabilidade à
obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado.
Obs: No caso dos consórcios, a responsabilidade das consorciadas está limitada
ao respectivo contrato. Se, por exemplo, duas sociedades realizam uma joint
venture para explorar determinado serviço público e uma delas causa dano à
Administração por atividade estranha ao acordo, não há que se falar em
responsabilidade solidária.

Sanções
Âmbito administrativo Âmbito judicial
Multa Perdimento dos bens, direitos ou
valores
Publicação extraordinária da decisão Suspensão ou interdição parcial de
condenatória suas atividades
Dissolução compulsória da pessoa
jurídica
Proibição de receber incentivos,
subsídios, subvenções, doações ou
empréstimos

Âmbito administrativo

A publicação extraordinária da decisão condenatória está ligada às ideias de


accountability (responsividade – ideia de que as pessoas jurídicas são
responsáveis perante a sociedade pelos seus atos, a sociedade fica sabendo o
que a pessoa jurídica fez, podendo gerar queda das ações, boicote, protestos,
dano à imagem) e shaming (ideia de envergonhar a pessoa jurídica).
* Compliance como redutor de pena (art. 7º, VIII) – O termo “compliance”, no
meio societário, se refere à aderência de determinada sociedade a boas
práticas administrativas (governança corporativa; boas práticas de
regulamentação; princípios contábeis, de controladoria ou normativos do setor
em que atua).
Art. 7º: Serão levados em consideração na aplicação das sanções:
VIII - a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade,
auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de
códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica;
Obs: Aplicação das sanções de multa e publicação extraordinária da decisão
condenatória em âmbito judicial (art. 20).
Art. 20: Nas ações ajuizadas pelo Ministério Público, poderão ser aplicadas as
sanções previstas no art. 6º, sem prejuízo daquelas previstas neste Capítulo,
desde que constatada a omissão das autoridades competentes para
promover a responsabilização administrativa.

PGM/Niterói – 2ª fase (adaptada): É possível a aplicação da Lei Anticorrupção


contra empresa pública que tenha causado dano à Administração Pública?
Apesar de as empresas públicas integrarem a estrutura da Administração
Pública indireta, aplica-se a elas, conforme o art. 94 da Lei das Estatais (Lei
13.303/16), as sanções previstas na Lei Anticorrupção, exceto: suspensão ou
interdição parcial de suas atividades; dissolução compulsória da pessoa
jurídica; proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou
empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras
públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo de um e
máximo de cinco anos.

Julgado
Cabe compartilhamento de provas produzidas no acordo de leniência (Lei
12.846/13) para instruir inquérito civil para apurar atos de improbidade
administrativa?
É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das
provas obtidas no acordo de leniência, desde que sejam respeitados os limites
estabelecidos no acordo em relação aos aderentes. Assim, por exemplo, se
uma empresa celebra acordo de leniência com o MPF aceitando fornecer
provas contra si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções
que foram ajustadas no acordo. No entanto, nada impede que tais provas
sejam fornecidas (compartilhadas) para os órgãos de apuração para que sejam
propostas medidas contra as outras pessoas envolvidas nos ilícitos e que não
fizeram parte do acordo. STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 21/8/2018 (Info 913)
Simulado CERTO/ERRADO
1- A Lei 12.846/13 (Lei Anticorrupção) foi criada com o objetivo de punir
pessoas jurídicas que praticam atos contra a administração pública. Sendo
assim, pessoas físicas não podem ser responsabilizadas com base na referida
lei.
( ) Certo ( ) Errado
2- Com base na Lei 12.846/13 (Lei Anticorrupção), as pessoas jurídicas que
praticam atos contra a administração pública são responsabilizadas
objetivamente, nos âmbitos administrativo, civil e penal.
( ) Certo ( ) Errado
3- A pessoa jurídica que pratica atos contra a administração pública é
responsabilizada objetivamente com base na Lei 12.846/13 (Lei
Anticorrupção), enquanto seus administradores/dirigentes respondem
subjetivamente.
( ) Certo ( ) Errado
4- Nos termos da Lei 12.846/13 (Lei Anticorrupção), há litisconsórcio passivo
necessário entre a pessoa jurídica e seu dirigente.
( ) Certo ( ) Errado
5- A Lei 12.846/13 (Lei Anticorrupção) adotou a teoria menor da
desconsideração da personalidade jurídica, assim como o Código de Defesa do
Consumidor.
( ) Certo ( ) Errado
6- Nos termos da Lei 12.846/13 (Lei Anticorrupção), em princípio, modificações
societárias não alteram a responsabilidade da pessoa jurídica.
( ) Certo ( ) Errado
7- Nos termos da Lei 12.846/13 (Lei Anticorrupção), nas hipóteses de fusão e
incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de
pagamento de multa e reparação integral do dano causado, até o limite do
patrimônio transferido, exceto no caso de simulação ou evidente intuito de
fraude.
( ) Certo ( ) Errado
8- Nos termos da Lei 12.846/13 (Lei Anticorrupção), as sociedades
consorciadas, no âmbito do respectivo contrato, respondem solidariamente
pelos atos praticados contra a Administração Pública, restringindo-se tal
responsabilidade à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do
dano causado.
( ) Certo ( ) Errado
9- A Lei 12.846/13 dispõe sobre a responsabilização objetiva administrativa e
civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública
nacional ou estrangeira, desde que cometidos no Brasil.
( ) Certo ( ) Errado
10- Considera-se administração pública estrangeira, para fins da Lei 12.846/13,
os órgãos e entidades estatais ou representações diplomáticas de país
estrangeiro, de qualquer nível ou esfera de governo, bem como as pessoas
jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de país
estrangeiro.
( ) Certo ( ) Errado
11- As sanções aplicadas na esfera administrativa, com base na Lei 12.846/13,
são multa e publicação extraordinária da decisão condenatória e devem ser
aplicadas cumulativamente.
( ) Certo ( ) Errado
12- A Lei 12.846/13 prevê que o valor da multa estabelecida em âmbito
administrativo não poderá exceder o valor total do bem ou serviço contratado
ou previsto.
( ) Certo ( ) Errado
13- Nos termos da Lei 12.846/13, será levado em consideração, na aplicação
das sanções em âmbito administrativo, o grau de eventual contribuição da
conduta de servidor público para a ocorrência do ato lesivo.
( ) Certo ( ) Errado
14- Nos termos da Lei 12.846/13, a responsabilidade da pessoa jurídica na
esfera administrativa afasta a possibilidade de sua responsabilização na esfera
judicial.
( ) Certo ( ) Errado
15- Somente o Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação com
vistas à aplicação de sanções a pessoas jurídicas infratoras com base na Lei
12.846/13.
( ) Certo ( ) Errado
16- Conforme prevê a Lei 12.846/13, as sanções de multa e publicação
extraordinária da decisão condenatória somente poderão ser aplicadas em
âmbito administrativo.
( ) Certo ( ) Errado
17- Prescrevem em 5 (cinco) anos as infrações previstas na Lei 12.846/13 (Lei
Anticorrupção), contados da data da ciência da infração ou, no caso de
infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado.
( ) Certo ( ) Errado
18- A celebração do acordo de leniência interrompe o prazo prescricional dos
atos ilícitos previstos na Lei 12.846/13.
( ) Certo ( ) Errado
19- Para a celebração de acordo de leniência com base na Lei 12.846/13, é
necessário, dentre outros requisitos, que a pessoa jurídica admita sua
participação no ilícito.
( ) Certo ( ) Errado
20- A celebração do acordo de leniência com base na Lei 12.846/13 isentará a
pessoa jurídica da sanção de publicação extraordinária da decisão
condenatória, bem como da sanção de proibição de receber incentivos,
subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de órgãos ou entidades
públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder
público e reduzirá em até 2/3 (dois terços) o valor da multa aplicável.
( ) Certo ( ) Errado
21- É possível o compartilhamento das provas obtidas no acordo de leniência
firmado com base na Lei 12.846/13 para outros órgãos e autoridades públicas
com vistas à punição de outras pessoas envolvidas nos ilícitos e que não
fizeram parte do acordo.
( ) Certo ( ) Errado
22- O acordo de leniência firmado com base na Lei 12.846/13 exime a pessoa
jurídica da obrigação de reparar integralmente o dano causado.
( ) Certo ( ) Errado
23- A Lei 12.846/13 prevê o sigilo nas negociações do acordo de leniência.
( ) Certo ( ) Errado
24- Os efeitos do acordo de leniência firmado com base na Lei 12.846/13
serão estendidos às pessoas jurídicas que integram o mesmo grupo
econômico, de fato e de direito, ainda que não firmem o acordo em conjunto.
( ) Certo ( ) Errado
25- A celebração de acordo de leniência entre a Administração Pública e
pessoa jurídica responsável pela prática de ilícitos previstos na Lei 8.666/93
pode gerar a isenção das penalidades previstas na referida lei.
( ) Certo ( ) Errado
26- Aplica-se a Lei Anticorrupção às estatais, com exceção de algumas sanções,
como o perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem
ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o direito
do lesado ou de terceiro de boa-fé.
( ) Certo ( ) Errado
27- Com base na Lei Anticorrupção, podem ser aplicadas na esfera
administrativa as sanções de multa, publicação extraordinária da decisão
condenatória e declaração de inidoneidade da pessoa jurídica envolvida nos
ilícitos. (VUNESP - 2015 - TJ-SP - Juiz Substituto)
( ) Certo ( ) Errado
28- As punições previstas na Lei Anticorrupção somente poderão ser aplicadas
após regular processo administrativo, no âmbito do qual seja possível o
exercício da ampla defesa com todos os meios e recursos a ela inerentes, e
conduzido por comissão integrada por, no mínimo, dois servidores estáveis.
(VUNESP - 2015 - TJ-SP - Juiz Substituto)
( ) Certo ( ) Errado
29- A competência para instauração e julgamento do processo administrativo
de responsabilização por atos de corrupção pelos envolvidos caberá à
autoridade máxima de cada órgão ou ente público do respectivo poder,
vedada a delegação desta competência. (VUNESP - 2015 - TJ-SP - Juiz
Substituto)
( ) Certo ( ) Errado
30- Conforme previsto na Lei Anticorrupção, a autoridade máxima do órgão ou
entidade pública, com a anuência do Ministério Público, poderá celebrar
acordo de leniência com as pessoas físicas ou jurídicas responsáveis por atos
de corrupção desde que esta identifique os demais envolvidos na infração,
forneça com celeridade provas e documentos, seja a primeira a se manifestar e
cesse completamente seu envolvimento. (VUNESP - 2015 - TJ-SP - Juiz
Substituto)
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito:
1- Errado
2- Errado
3- Certo
4- Errado
5- Errado
6- Certo
7- Certo
8- Certo
9- Errado
10- Certo
11- Errado
12- Errado
13- Errado
14- Errado
15- Errado
16- Errado
17- Certo
18- Certo
19- Certo
20- Certo
21- Certo
22- Errado
23- Certo
24- Errado
25- Certo
26- Errado
27- Errado
28- Certo
29- Errado
30- Errado

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