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1 NOÇÕES SOBRE ÉTICA

Este texto pretende introduzir noções rudimentares sobre a discussão ética e suas
vertentes. Também fará breve comentário da posição contratualista de Rawls.
Pode-se perguntar: o que exatamente a ética trata? A ética procura responder as
seguintes questões: como e por que julgamos que uma ação é moralmente errada ou correta?
Que critérios devem orientar esse julgamento? Resposta: cada escola filosófica dará uma
resposta.
A ética divide-se em: meta ética, ética aplicada e ética normativa.
A meta ética investiga a natureza dos princípios morais, indagando se são objetivos e
universais.
A ética aplicada trabalha com os princípios da ética normativa para resolver problemas
cotidianos e práticos. Exemplo: com os problemas relacionados à vida (bioética), aos negócios
(ética dos negócios) e questões referentes às atitudes trabalhistas (os códigos de ética).
A ética normativa, por sua vez, pretende responder às perguntas como: o que devemos
fazer para agir certo? Qual a melhor forma de viver bem? Esta ética divide-se em outras éticas,
que são. A ética teleológica (1) e a deontológica (2).
(1)A ética teleológica divide-se em: ética conseqüencialista e ética das virtudes. A
conseqüencialista, por sua vez, divide-se em: egoísmo ético e utilitarismo. No egoísmo ético, o
ser humano deve agir em seu próprio benefício. Já no utilitarismo ético, o ser humano deve agir
em função do interesse de todos. O egoísmo ético e o utilitarismo também têm suas
subdivisões. O egoísmo ético divide-se em três categorias, assim divididas:
a) alguém acha que as ações de todos deve convir com seu interesse individual;
b) alguém age com seu interesse sem preocupar-se com interesses alheios;
c) alguém crê que cada um deve agir apenas conforme seu interesse próprio (é o
egoísmo ético universal). Conclusão: a dificuldade do egoísmo ético é que tem
ideais que se contradizem, ou seja, seus interesses são excludentes, já que o
interesse de um pode contrariar os de outro, logo, é insustentável. Você concorda
com essa conclusão? Justifique.
O utilitarismo divide-se em utilitarismo de regras e utilitarismo de ação. No utilitarismo
de regras há a defesa que agimos segundo regras que determinem o maior bem ou maior
felicidade para todos os que a ação diz respeito. Por isso, esse tipo de utilitarismo define-se
como preceitos gerais que valem para todas as situações, exemplo: ‘não matar’, exceto em
autodefesa. Tais preceitos trariam benefícios gerais, evitando ações de interesses particulares.
O utilitarismo de ação defende que cada indivíduo deve analisar a situação particular
na qual se encontra e descobrir qual ação que trará o maior benefício para todos os envolvidos.
Como cada ação é única, não podemos determinar regras universais de ação.
A ética das virtudes1 dá ênfase no caráter virtuoso do ser humano, e não primeiro nos
atos ou conseqüências deles. Temos como exemplo clássico da defesa de uma ética dessa, a
Ética a Nicômaco, de Aristóteles. É a virtude de um indivíduo que vai lhes proporcionar uma
vida feliz, e pronto. Daí que a sociedade precisa cultivar pessoas virtuosas, com sentimentos
virtuosos, para que haja justiça e felicidade para todas as pessoas.
(2) Na ética deontológica, a conseqüência do ato não é critério para decidir o que é
moral. A ética deontológica divide-se em ética do dever, ética intuicionista, ética do
discurso e contratualismo moral.
O intuicionista moral acredita que temos conhecimento imediato quanto ao que é correto
ou não. Podemos saber o que é correto intuitivamente, não havendo discussão, já que não é pela
razão que justificamos nossas crenças.
Na ética do dever, a regra é moral se puder ser universalizada. Este modelo ético
pretende descriminar as regras morais. É necessário haver respeito pela lei moral. Isso exige
educação da vontade, já que se precisa de boa vontade, para agir assim. Emanuel Kant é o autor
precursor dessa posição ética.
Na ética do discurso, há a pretensão em determinar o que é correto a partir de uma
comunidade ideal de comunicação. (Jürgen Habermas). Também é discutido que tipo de
enunciado corresponde a um juízo moral. Ainda, como são empregados os termos morais.
(Ernest Tugendhat).
No contratualismo moral, as regras da justiça são as que regem as principais instituições
de uma sociedade. Essas regras decorreriam de um contrato hipotético em que os contratantes
ignorassem previamente a posição que ocupariam em sociedade.

Referência de onde foram tiradas essas idéias:


BORGES, M. de L.; DALL’AGNOL, D.; DUTRA, D. V. O que você precisa saber sobre
Ética. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

1
(Virtude é definida como sendo a excelência moral ou retidão de caráter).
2 UMA TEORIA DA JUSTIÇA EM JOHN RAWLS2

1.1 A POSIÇÃO ORIGINAL E O VÉU DA IGNORÂNCIA (p. 19- 24; 146- 153).

John Rawls procura construir uma teoria da justiça como equidade sustentando uma
concepção filosófica para a democracia constitucional. A concepção de justiça oferecida por ele
é uma concepção alternativa à teoria utilitarista, pois acredita que o utilitarismo não pode
explicar as liberdades e direitos básicos dos cidadãos como pessoas livres e iguais. Esses
direitos básicos garantem as condições sociais essenciais para o desenvolvimento adequado e o
exercício pleno e consciente do senso de justiça e a idéia de bem. “A característica
surpreendente da visão utilitarista da justiça reside no fato de que não importa, exceto
indiretamente, o modo como essa soma de satisfações se distribui entre os indivíduos assim
como não importa, exceto indiretamente, o modo como um homem distribui suas satisfações ao
longo do tempo”(RAWLS, 1997, p. 28). Rawls está interessado principalmente na forma como
podem ser distribuídos eqüitativamente os benefícios e bens sociais. Essa vai ser a base para o
desenvolvimento de sua defesa do conceito de justiça.

No utilitarismo, afirma Rawls, há a preocupação com a identificação solidária, no qual


é necessário que haja um observador imparcial canalizando os desejos diversos num único
sistema coerente de desejos. Cada sujeito racional assumindo o papel de observador imparcial
identifica-se com os desejos dos outros e os experimenta como se fossem seus. Desse modo, o
utilitarismo cria um sujeito modelo que depois é reordenado aos outros seres sociais, faltando a
consideração à individualidade (diferenças) de cada um em sociedade.

Só será possível alcançar o ponto máximo de justiça como equidade defendendo a


posição original para os indivíduos em sociedade. Essa posição é aquela que corresponde ao
estado de natureza na teoria tradicional do contrato social. É uma posição concebida como
situação puramente hipotética (não real). Aí, ninguém conhece seu lugar na sociedade, a
posição de classe ou status social, nem sua sorte na distribuição de dotes e habilidades naturais.
Nem suas próprias capacidades racionais, habilidades, sua sorte na distribuição de bens, suas
tendências psicológicas, a geração a que pertence sua posição econômica e política e nem as
contingências que colocam os indivíduos em oposição.

John Rawls foi filósofo político norte-americano e professor da Universidade de Harvard. Nasceu em
1921 e faleceu aos 81 anos (em Novembro de 2002). É tido como o principal teórico da democracia liberal da
atualidade. A primeira versão de Uma Teoria da Justiça foi escrita em 1971.
Fica claro que para alcançar a equidade é preciso superar as contingências nos quais
cada situação põe o sujeito social a rivalizar seus interesses particulares. Por isso é necessário
que cada pessoa não saiba como cada alternativa de comportamento possa alterar o seu
interesse particular. Isso faz cada um assumir posturas descomprometidas até certo ponto, isto
é, que não possa favorecer a si próprio. As partes na situação inicial são racionais e
desinteressadas. Isso significa que não há interesse nos interesses alheios.

Não obstante essas restrições anteriores, cada indivíduo conhece o que é melhor para o
social ser mais justo, conhece o funcionamento e organização social, econômico e político bem
como as leis que regem a psicologia humana. Em resumo, o cidadão conhece o que afeta a
escolha de princípios da justiça.

Rawls admite que os homens tendem a agir com justiça pelo desejo próprio dela. As
pessoas são vistas como sendo éticas, por possuírem o senso de justiça. Assim os princípios são
acordados numa situação inicial que é eqüitativa. Tal posição é a que as instituições sociais
devem adotar. E a partir do véu da ignorância nenhuma sociedade deverá ser levada a agir em
sua própria causa. “Não importa a posição de uma pessoa no tempo, cada uma é forçada a
escolher por todas” (RAWLS, 1997, p. 151). Cada cidadão não é levado por interesses
individuais, mesmo que o queira, pois o véu da ignorância o freia de tal atitude.

Para esse modelo ter sucesso cada indivíduo precisa ser autônomo, de modo que cada
obrigação é auto-imposta. “... Uma vez que decidimos buscar uma concepção da justiça que
impeça a utilização dos acidentes da dotação natural e das contingências de circunstâncias
sociais como trunfos na demanda de vantagens econômicas e políticas, somos levados a usar
esses princípios...” (RAWLS, 1997, p. 17). A justiça só será possível a partir das considerações
particulares não ter como imprescindível o conhecimento do interesse particular, o uso dos
‘dons naturais’ e o uso das próprias circunstâncias em favor próprio.

Vimos a partir do recorte acima, feito do livro: Uma Teoria da Justiça, que o ideal
preconizado por Rawls tem certa oposição ao ideal grego. Qual será?

Você, em seu dia a dia, tem se comportado dando maior ênfase em que ‘tipo’ de ética?
Em sua análise, esse seu comportamento tem se adequado em uma posição ética que seja mais
defensável? Também em relação ao modelo apresentado por Karl Marx. Qual é a oposição?

RAWLS, J. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 708 p.

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