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Alain RUELLAN e Mireille DOSSO

SOLDIDAC 2003
Educagri éditions - AUF
Tradução: Alain Ruellan e Selma Simões de Castro

Módulo 2

As cores dos solos:


descrições e interpretações
Objetivos: saber descrever e interpretar as cores dos solos.

ƒ O solo, meio colorido (Dia. 2 a 7)

ƒ Descrição das cores (Dia. 8 a 11)

ƒ Significados das cores (Dia. 12 a 31)

ƒ Um exemplo (Dia. 32 a 42)

B ©
O solo, meio colorido
43
Î A cobertura pedológica é um meio muito colorido: quase todos os
solos apresentam variações verticais e laterais de cores, progressi-
vas ou rápidas (fotos 43, 44, 45).
Î Dentro de um horizonte, a cor pode ser homogênea (foto 46) ou
heterogênea (foto 47), com volumes de cores diversas (nódulos,
películas, redes, etc.).

Nota: frente a um corte vertical de solo, a gênese


deste solo se lê de baixo para cima, quer dizer desde
45 47
a rocha até a superfície. Entretanto, por razões
práticas, a descrição dos horizontes de um perfil de
solo se faz no sentido inverso, quer dizer de cima
Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

para baixo. Com efeito, quando preparamos um


perfil para observar, quer dizer quando trabalhamos
o perfil com a ponta da faca para descobrir as
principais estruturas, é necessário fazer isso a partir
do topo, de maneira que o trabalho pode avançar
sem destruir o que já foi feito.

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Módulo 2: as cores dos solos 2
Foto 43

Variações verticais de cores:


1
•Horizonte 1: a cor, mais escura de
baixo para cima, é ligada à presença de
matéria orgânica.
2
• Horizonte 2: a cor mais vermelha é
ligada à presença de argila e de ferro
oxidado (hematita).

3
•Horizonte 3: as manchas brancas são
nódulos de carbonato de cálcio.

•A transição de cor entre os horizontes


Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

1 e 2 é gradual.
•A transição de cor entre os horizontes
2 e 3 é rápida, nítida.
Brasil, Pantanal, clima tropical sub-úmido
Espessura do corte: 120 cm.
n° 47 p. 72
foto 6

Módulo 2: as cores dos solos 3


Foto 44

n° 46 p. 73 2
foto 7

Brasil, Planalto Central, clima tropical sub-úmido


Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

Variações verticais de cores:


• O horizonte escuro (1) é rico em matéria orgânica.
• Os horizontes cinzento claro (2) e manchado de verde- azul e ocre (3)
refletem excessos de água quase permanente (hidromorfia).
• As transições entre os horizontes são nítidas.
Espessura do corte: 100 cm.

Módulo 2: as cores dos solos 4


Foto 45

n° 128 p. 73
foto 8
Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

Brasil, Minas Gerais, clima tropical sub-úmido

Variações laterais de cores: horizonte vermelho


latossólico sobre horizontes de alteração de uma
rocha eruptiva.
Espessura do corte: uns dez metros.

Módulo 2: as cores dos solos 5


Foto 46

1 Aqui, os horizontes são de cor


muito homogênea e as
transições são muito
progressivas:
• Horizonte 1: sua cor escura é
2 ligada à presença de matéria
orgânica.
n° 129 p. 73 • Horizonte 2: sua cor clara é
foto 9
ligada à perda, vertical e
lateral, de argila e de ferro.
•Horizonte 3: sua cor vermelha
3
é ligada a presença de ferro
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oxidado (hematita).
Espessura do corte: 150 cm.

Camarões, clima tropical úmido

Módulo 2: as cores dos solos 6


Foto 47

n° 207 p. 73
foto 10

Portugal, clima mediterrânico úmido 10 cm

Horizonte muito manchado: esse horizonte é argiloso e está sujeito, regular-


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mente, a excessos de água (hidromorfia). As manchas cinzentas são empobre-


cidas em ferro, que está presente sob forma reduzida; as manchas cor-de-
ferrugem são enriquecidas em ferro, que está presente sob forma oxidada.
Aqui, a hidromorfia é temporária, com sucessão de fases de redução (que
permite a solubilização e a migração do ferro) e de fases de oxidação (que
provoca a precipitação e a acumulação do ferro): este é um pseudo-glei.

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Módulo 2: as cores dos solos
Descrição e identificação das cores
Î A cor de um volume de solo é determinada por referência a uma tabela
internacional de cores: a tabela Munsell (Munsell Soil Color Chart) (fotos 48, 49, 50).

Foto 48 Foto 49

A tabela Munsell, fechada. A tabela Munsell aberta numa


página bruno-avermelhada.
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n° 130 p. 74
foto 11 Foto 50
n° 131 p. 74
foto 12

As sete páginas
n° 132 p. 74 principais da tabela
foto 13 Munsell.
Módulo 2: as cores dos solos Retorno ao sumário 8
Î Cada cor é anotada por três valores (ver a figura abaixo):
- o matiz (cor) (hue); Figura 51 vivo
Esquema da
- o valor (claridade) (value);
organização de
- o croma (pureza) (chroma). uma página da
claro tabela Munsell;
como exemplo, a
pálido cor indicada se
anota 7,5 YR 5/6
("bruno escuro").
Adição de
preto
n° 342 p. 74
figura 2
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escuro puro

Adição de cor

Módulo 2: as cores dos solos 9


52
Î A cor muda em função da umidade do solo: portanto,
devem ser feitas medidas nos estados seco e úmido
(foto 52).
Î Cada horizonte de solo se define por uma ou várias
cor(es). Se há várias cores (fotos 53 e 54), é necessário 53
descrever, para cada tipo de volume de cor, sua
abundância, sua extensão, suas formas, seus limites,
seu contraste em relação com os outros volumes de cor,
suas relações com os outros caracteres de organização
elementar do horizonte (agregados, poros, nódulos,
cerosidades, etc.) (fotos 55 e 56).

55 56 54
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Módulo 2: as cores dos solos 10


Foto 52

n° 134 p. 74
foto 14

Marrocos oriental, clima mediterrânico árido


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O horizonte superior desse solo é mais escuro porque ele


está mais úmido; o limite inferior desse horizonte escuro é
muito nítido e corresponde à frente de infiltração da água,
dentro de um solo muito seco, após uma chuva forte.
Espessura do corte: 30 cm.

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Módulo 2: as cores dos solos
Significados das cores

Î As cores do solo são interpretadas em termos de constituintes e de


mecanismos.

Atenção: é perigoso quantificar a presença de um constituinte a partir de uma


observação de cor; os raciocínios podem ser comparativos, dentro de um só
perfil ou entre dois perfis vizinhos, mas eles nunca devem ser traduzidos em
quantidades.
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Módulo 2: as cores dos solos 12
1 - Os principais constituintes que dão cor ao solo :
57

Î A matéria orgânica relaciona-se ao escuro


(preto, castanho, cinzento escuro, etc.)
(fotos 43, 44, 46, 53, 55, 57, 58, 59, 62, 63).

Î O carbonato de cálcio e os sais solúveis,


tais como os cloretos e os carbonatos,
relacionam-se ao branco (fotos 43, 56, 58,
59, 60, 63). 58

56 60
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Módulo 2: as cores dos solos 13


44

Î O ferro muda a cor em função do seu estado:


•O ferro ferroso, cuja presença é devida a um excesso de água,
relaciona-se ao cinzento e azul (fotos 44, 47, 61).
• O ferro férrico relaciona-se ao bruno, amarelo ou vermelho:

- A goetita (oxihidróxido, FeO(OH)) é - A hematita (óxido, Fe203) é conse-


conseqüência de um regime hídrico qüência de um regime hídrico muito
pouco contrastado: o solo encontra-se contrastado, com alternância freqüente
freqüentemente úmido mas sem exces- de uma umidade forte, mas arejada, e de
so e as fases de seca não são frequen- uma seca acentuada; a hematita
tes nem excessivas; a goetita relaciona- relaciona-se ao vermelho (fotos 43, 45,
se ao bruno e ao amarelo (fotos 59 e 46, 56, 58, 63, 64).
46 63
62). 59 62
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Módulo 2: as cores dos solos 14


2 - Os mecanismos que atribuem cor são os mecanismos que agem sobre a
presença e o estado dos constituintes

Î Atividades biológicas, animais e vegetais, que acumulam matéria orgânica: as


cores escurecem (fotos 43, 44, 46, 53, 55, 57, 59, 63, 65).
Î Migrações e acumulações de argila (e do ferro que quase sempre a acompanha),
do carbonato de cálcio, dos sais: os horizontes empobrecidos em argila e ferro
clareiam (fotos 46, 62, 66, 67) ; os horizontes enriquecidos em argila e ferro ficam
mais amarelos (fotos 62, 67), mais brunos (fotos 59, 66) ou mais vermelhos (fotos 43,
45, 46, 58, 63, 64); os horizontes onde o carbonato de cálcio ou os sais se acumulam
ficam brancos (fotos 43, 56, 58, 59, 60, 63).
Î Regimes hídricos: os horizontes com muito boa drenagem, que recebem bastante
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água mas secam rapidamente e freqüentemente, são comumente vermelhos (fotos


58, 63, 64); os horizontes com drenagem média são brunos ou amarelos (fotos 59, 62,
66, 67); os horizontes com drenagem fraca são cinzentos ou manchados (de
cinzento, de cor-de-ferrugem, de amarelo, de preto) (fotos 43, 44, 47, 54, 61).

Módulo 2: as cores dos solos 15


3 - A observação e a determinação das cores: são informações
preciosas

A observação e a determinação (com a tabela Munsell) das cores permitem,


portanto, começar a descobrir a constituição e o funcionamento do solo. A
partir disso, são possíveis deduções sobre a fertilidade do solo.
Os dados de fertilidade, que se pode deduzir dessas observações e medidas,
são aqueles que são ligados:

Î à presença de alguns constituintes : textura, matéria orgânica, carbonato


de cálcio, sais;
Î ao estado do complexo de adsorção, que se pode deduzir do reconhe-
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cimento de alguns mecanismos, como as migrações de argila;


Î à dinâmica da água.

Módulo 2: as cores dos solos 16


Foto 53

Volumes de cor escura,


muito bem delimitados:
na base de um solo,
dentro da rocha-mãe
alterada (que é aqui um
siltito de origem eólica
= loess), são volumes
n° 92 p. 75
foto 15
de terra rica em
matéria orgânica; essa
terra foi transportada
pela fauna do solo, do
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topo para baixo, em


profundidade do solo.
Espessura do corte:
100 cm.

Ucrânia, clima continental

Módulo 2: as cores dos solos 17


Foto 54

n° 135 p. 75
foto 16

Libano, clima mediterrânico úmido 10 cm


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Horizonte com variações difusas de cores. Nós vemos aqui


tons pastel ligados, nesse caso, aos excessos temporários de
água dentro de um meio rico em carbonato de cálcio. A
descrição das cores necessita determinar cada cor (com a
tabela Munsell) e descrever os contornos dos volumes
correpondentes a cada cor.

Módulo 2: as cores dos solos 18


Foto 55

n° 63 p. 75
foto 17
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Sibéria, clima continental frio 10 cm

Dentro de um horizonte muito fissurado, vertical e horizontalmente,


se observa películas pretas de matéria orgânica depositadas sobre
as paredes das fissuras: essas películas testemunham a migração
da matéria orgânica dentro do solo.

Módulo 2: as cores dos solos 19


Foto 56

n° 94 p. 75
foto 18
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Libano, clima mediterrânico semi-árido 10 cm

Os volumes brancos correspondem a nódulos calcários formados


por acumulação de carbonato de cálcio ao redor das raízes.

Módulo 2: as cores dos solos 20


Foto 57

•Horizonte organo-
mineral preto (1).
•Horizonte argiloso
1 bruno (2).
• Sienito alterado (3).

Temos aqui um solo


n° 55 p. 76
foto 19 ácido de montanha.

Espessura do corte:
2
120 cm.
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Portugal, clima mediterrânico úmido

Módulo 2: as cores dos solos 21


Foto 58

•Horizonte organo-
1 mineral escuro (1).
•Horizonte argiloso
vermelho (2) bem
2 drenado (presença de
hematita).
•Horizonte com muitos
n° 53 p. 76
nódulos de carbonato
foto 20
de cálcio (3).

Temos aqui um solo de


3
planície mediterrânica
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semi-árida.

Espessura do corte: 200


cm.

Marrocos oriental, clima mediterrânico semi-árido

Módulo 2: as cores dos solos 22


Foto 59
•Horizonte preto (1), cor
devida à presença de matéria
1
orgânica, mas também a uma
drenagem relativamente fraca
(solo muito argiloso, com
muita argila expansiva:
2
esmectita).
•Horizonte bruno-avermelhado
n° 59 p. 76 (2): essa cor é ligada à
foto 21
presença de goetita e de um
3 pouco de hematita: a
drenagem do solo é pior do
que no exemplo da foto 58.
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•Horizonte branco (3) de


acumulação importante de
carbonato de cálcio:
encrostamento.
Marrocos atlântico, Espessura do corte: 180 cm.
clima mediterrânico semi-árido

Módulo 2: as cores dos solos 23


Foto 60

n° 136 p. 76
foto 22
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Marrocos (Sara), clima desértico

A cor branca da superfície desse solo é devida a uma


acumulação de sais solúveis (cloretos e carbonatos de
sódio). Os constituintes desses sais vêm de um nível freático
situado a pouca profundidade (1 ou 2 metros).

Módulo 2: as cores dos solos 24


Foto 61

A cor cinzenta desse


horizonte de solo é ligada
à presença de ferro
reduzido, conseqüência
de um excesso
permanente de água
(falta de oxigênio
n° 52 p. 77 resultando num solo
foto 23 hidromórfico): é um glei.

Esse horizonte está


situado entre 50 e 150 cm
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de profundidade.

Marrocos atlântico, 10 cm
clima mediterrânico semi-árido

Módulo 2: as cores dos solos 25


Foto 62

•Horizonte escuro, ligado a


presença de matéria orgânica (1).
1
•Horizonte claro (2) : essa cor é a
conseqüência de um
empobrecimento em argila e em
2 ferro (horizonte lixiviado).
•Horizonte amarelo, argiloso (3) :
n° 56 p. 77 a cor é ligada à presença de
foto 24
goetita, conseqüência de uma
umidade forte quase permanente,
mas sem falta de oxigênio; é um
3
horizonte freqüentemente úmido
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mas ele não é hidromórfico


(Latossolo Amarelo sob floresta).

Espessura do corte: 180 cm.


Camarões, clima equatorial

Módulo 2: as cores dos solos 26


Foto 63

•Horizonte escuro, rico em


materia orgânica (1).
1
4 •Horizonte argiloso vermelho
(2), bem drenado (presença de
hematita).
•Horizonte vermelho com
nódulos calcários brancos (3).
n° 62 p. 77
foto 25 • Calcário duro (4).
2

É um solo vermelho
mediterrânico (Chernossolo?)
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Espessura do corte: 150 cm.

Marrocos oriental,
clima mediterrânico semi-árido

Módulo 2: as cores dos solos 27


Foto 64

n° 64 p. 77
foto 26
Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

Líbano, clima mediterrânico úmido

Horizonte muito vermelho (1), muito bem drenado (presença


de hematita), sobre basalto alterado (2).
Espessura do corte: 100 cm.

Módulo 2: as cores dos solos 28


Foto 65

Chernossolo sobre loess:


1 •O horizonte escuro de
superfície (1) é rico em
matéria orgânica,
conseqüência da atividade
biológica, animal e vegetal,
na estepe sob clima
n° 137 p. 78
continental frio.
foto 27
3 •Abaixo, o horizonte claro (2)
2 é o loess com um pouco de
carbonato de cálcio, dentro
do qual a atividade biológica
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animal transporta terra preta


vinda da superfície (manchas
pretas = 3).
Espessura do corte: 180 cm.

Ucrânia, clima continental

Módulo 2: as cores dos solos 29


Foto 66

Latossolo, empobrecido na
1 superfície:
•O horizonte claro de
superfície (1) é pobre em
argila, em ferro e em matéria
orgânica (que escurece um
2 pouco a superfície do solo);
n° 51 p. 78 ocorreu uma lixiviação de
foto 28
argila (e do ferro junto).
• Abaixo, a cor bruna (2)
significa que o horizonte é
bem drenado mas fica
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freqüentemente muito úmido.


Espessura do corte: 150 cm.

Austrália, clima tropical úmido

Módulo 2: as cores dos solos 30


Foto 67
Nesse solo lixiviado sobre arenito, tem-
se:
„acumulação de matéria orgânica na
superfície (1) (horizonte preto),
1 „lixiviação acentuada de argila e de ferro
(2) (horizonte claro),
2
„pequena acumulação de argila e de
ferro em meio úmido (3) (horizonte
amarelo).
n° 57 p. 79
foto 29 Atenção: nessa foto, só a parte do meio
do corte foi limpa antes da foto, com a
3
ajuda de uma faca; a mudança de cor é
nítida, principalmente no horizonte 3,
entre o que foi limpo e o que não foi.
Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

Essa observação é importante: antes de


descrever um corte, aberto há algumas
horas, é necessário limpar com a ajuda
do martelo e da faca.
Espessura do corte: 120 cm.

Marrocos Norte (Rif), clima mediterrânico úmido

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Módulo 2: as cores dos solos
Um exemplo
O perfil apresentado aqui é de um solo cultivado, situado no Sul de Portugal (fotos
68 e 69) (a foto 69 mostra um detalhe da foto 68).
A rocha mãe desse solo, que é visível na base do perfil, é um xisto calcário (5), quer
dizer uma rocha que contem minerais silicosos e carbonato de cálcio. A alteração
dessa rocha fornece areias, siltes, argilas e carbonato de cálcio.

68 69
A descrição das cores desse solo é a seguinte:
1 1
Horizonte 1 (de 0 a 5/10 cm) = 2,5 YR 5/4:
2 «bruno-avermelhado» (denominação Munsell).
2 Horizonte 2 (de 5/10 a 25/30 cm) = 2,5 YR 6/6 :
3
«vermelho claro » (denominação Munsell).
Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

Horizonte 3 (de 25/30 a 55/60 cm) = 2,5 YR 4/6 :


4 3 «vermelho» (denominação Munsell).
Horizonte 4 (de 55/60 a 80/90 cm) = 5 YR 8/4 :
«rosado» (denominação Munsell).
5
Horizonte 5 (> 80/90 cm) = xisto calcário.

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Módulo 2: as cores dos solos 32
Portanto, pode-se perceber os seguintes fatos, que podem ser assim interpretados:
. O horizonte 1, situado na superfície, é um pouco mais escuro que o horizonte 2,
situado imediatamente abaixo: isso quer dizer que o horizonte 1 contém matéria
orgânica, que é provavelmente ausente no horizonte 2. Visto que a cor é bastante
clara, é provável que o teor em matéria orgânica do horizonte 1 não seja elevado. Diz-
se que esse horizonte 1 é de acumulação de matéria orgânica. Sua transição para o
horizonte subjacente é progressiva.

68 69

H orizonte 1 1 1 H orizonte 1
2
Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

2
3

4 3

Módulo 2: as cores dos solos 33


. O horizonte 2 é nitidamente mais claro que o horizonte 3, imediatamente abaixo:
isso quer dizer que esse horizonte 2 é pobre em argila e ferro. Isso se verifica
facilmente tocando o horizonte com os dedos: pode-se constatar que a textura
(composição granulométrica = teores em argila, silte e areia) dos horizontes 1 e 2
tem pouca argila, é muito arenosa. Sua transição para o horizonte abaixo é rápida.

68 69

1 1

H orizonte 2 2

2
H orizonte 2
3
Ruellan & Dosso - Soldidac 2003

4 3

Módulo 2: as cores dos solos 34


horizonte 3 é o mais vermelho do perfil: isso é devido ao fato de que ele é o
izonte mais rico em argila e em hematita de todo o perfil. O alto teor em argila
verifica tocando o horizonte com os dedos: constata-se que sua textura é
to argilosa. Essa riqueza em argila e hematita tem duas origens: a alteração
minerais do xisto abaixo e a acumulação de partículas provenientes dos
izontes 1 e 2 que, como já vimos, são pobres em argila. Portanto, esse
izonte 3 é, ao mesmo tempo, um horizonte de alteração e um horizonte de
mulação de argila e de ferro, com boa drenagem. Por outro lado, pode-se
uzir que os horizontes 1 e 2 são horizontes empobrecidos, lixiviados em
la e ferro. A transição entre os horizontes 3 e 4 é progressiva.

68 69

1 1

2
rizonte 3 3

4 3 H orizonte 3
horizonte 4 é nitidamente mais branco do que o horizonte 3, situado acima, e
que a rocha situada abaixo. A essa profundidade, sabendo-se que a rocha mãe
tém carbonato de cálcio, pode-se deduzir facilmente que essa cor é associada
ma acumulação de carbonato de cálcio proveniente da alteração da rocha e da
carbonatação dos horizontes 1, 2 e 3. Isso se verifica imediatamente
ocando um pouco de ácido clorídrico sobre cada horizonte: os horizontes 1, 2
não reagem (não têm carbonato de cálcio), o horizon 4 reage muito (tem muito
bonato de cálcio), o xisto reage um pouco (tem um pouco de carbonato de
cio). Portanto, os horizontes 1, 2 e 3 são horizontes empobrecidos, lixiviados
carbonato de cálcio; o horizonte 4 é, ao mesmo tempo, um horizonte de
ração e um horizonte de acumulação de carbonato de cálcio. A transição do
izonte 4 para a rocha mãe situada abaixo é progressiva.

68 69

1 1

2
3

orizonte 4 4 3
nalmente, a partir apenas da descrição das cores desse solo (confirmada por
stes concernentes à textura e o carbonato de cálcio), já se pode deduzir que os
ncipais mecanismos de evolução desse solo são os seguintes:
alteração do xisto calcário: essa alteração fornece carbonato de cálcio, argila,
rro, silte e areia;
enriquecimento em matéria orgânica no horizonte 1 (superfície do solo);
migração para baixo (lixiviação) de alguns dos elementos provenientes da
eração: o carbonato de cálcio migra dos horizontes 1, 2 e 3 para ir se acumular
horizonte 4; a argila e o ferro migram dos horizontes 1 e 2 para ir se acumular
horizonte 3. 68 69

1 1
- alteração das rochas e dos minerais
2
- acumulação de matéria orgânica
2
- migrações de matérias 3

esses três mecanismos,


que marcam sua presença por diferenciações
de cores, são os 4 3
70
possível até mesmo se deduzir as principais etapas do
envolvimento e da diferenciação desse solo (figura 70):
Organo-mineral
rimeira etapa: alteração do xisto calcário e acumulação Xisto calcário
alterado
perficial de matéria orgânica. O solo se diferencia em dois
izontes: um horizonte organo-mineral e um horizonte de Xisto calcário
eração. As transições, entre esses dois horizontes, e com a
ha mãe, são progressivas. O solo é pouco diferenciado.
Segunda etapa: continuação da alteração. O solo se
70
ofunda, a matéria orgânica continua a se acumular na
perfície. O carbonato de cálcio parte dos horizontes
perficiais e se acumula em profundidade. O solo se Organo-mineral

erencia em três horizontes : um horizonte organo-mineral


Lixiviado em
viado em carbonato de cálcio, um horizonte lixiviado em carbonato de cálcio

bonato de cálcio e um horizonte de acumulação de Acumulado em


carbonato de cálcio
bonato de cálcio e de alteração do xisto. As transições,
e alteração do xisto
re esses três horizontes, e com a rocha mãe, são
gressivas. O solo é medianamente diferenciado.
eira etapa: é aquela que estamos vendo hoje. A alteração
uou: o solo continuou a se aprofundar, a lixiviação e a
ulação do carbonato de cálcio aumentaram, a lixiviação e a 70
ulação da argila e do ferro se desenvolveram. A matéria
ca fica menos abundante na superfície, conseqüência do
Organo-mineral
brecimento em argila. O solo se diferencia em quatro Lixiviado em
carbonato de
ntes: um horizonte organo-mineral lixiviado em carbonato cálcio, argila e
ferro
lcio, em argila e em ferro; um horizonte lixiviado em Lixiviado em
carbonato de cálcio,
nato de cálcio, em argila e em ferro; um horizonte bem acumulado em argila
e ferro
do, lixiviado em carbonato de cálcio mas de acumulação de Acumulado em
carbonato de cálcio
e de ferro; e um horizonte de acumulação de carbonato de
e alteração do xisto
e de alteração do xisto. Todas as transições entre os
ntes são progressivas salvo aquela que separa os Xisto calcário

ntes 2 e 3 (horizontes de perda e de acumulação da argila e


ro, respectivamente). O solo torna-se muito diferenciado.

história não tem nada de original: é a história comum da formação dos solos e da
nciação deles. Voltaremos a falar disso mais adiante. Mas, é bom já assinalar que
raro achar, dentro de uma só paisagem, em posições específicas, as três etapas
avaliar a fertilidade desse solo, temos que nos apoiar no que 68
ecemos sobre o papel da matéria orgânica e das argilas na
ção dos elementos nutritivos para as plantas, na dinâmica da 1
na agregação, na atividade biológica: 2

horizontes 1 e 2 sendo pobres em matéria orgânica e argila (o


3
onte 1 é mais rico, mas pouco espesso), significam que:
seu complexo de adsorção é fraco: os elementos nutritivos são
o retidos, rapidamente esgotados; 4
a reserva de água é fraca: a água é pouco retida, rapidamente
tada;
a atividade biológica é fraca; 5
a estruturação em agregados é fraca e instável.
o melhora no horizonte 3 que, além disso, é bem drenado: complexo de
ção e reserva de água são nitidamente mais elevados e há possibilidade de
boa agregação estável. Entretanto, deve ser ressaltada a dificuldade
sentada pela mudança brusca de textura entre os horizontes 2 e 3: isso pode
alhar a circulação da água e a penetração das raízes. Por outro lado, esse
onte melhor encontra-se profundo demais para poder ser bem utilizado por
mas plantas que tem raízes superficiais.

lmente, a presença do horizonte 4, rico em carbonato de cálcio, é uma fonte de


; ela é distante, mas convém guardar essa informação na memória quando nós
oto 68 Foto 69

1
1

2
3

4
3

5
0

Organo-mineral Organo-mineral 1 : Organo-mineral

Xisto calcário 2 : Lixiviado em


alterado Lixiviado em
carbonado de cálcio,
carbonado de cálcio argila e ferro

Xisto calcário Acumulado em 3 : Lixiviado em


carbonado de cálcio, carbonado de cálcio,
acumulado em argila e
e alteração do xisto ferro

4 : Acumulado em
Xisto calcário
carbonado de cálcio,

e alteração do xisto

Xisto calcário

As principais etapas da diferenciação do solo desse exemplo (fotos 68 e 69):


(1) solo pouco diferenciado, (2) solo medianamente diferenciado,
e é um curso sobre a descrição e a interpretação das cores dos solos.
possível avançar diapositivo por diapositivo utilizando os botões de ação

ançar" e "voltar" (em baixo à direita):


ligações em hipertexto para as fotografias e figuras ilustrando o curso que está
do visto; as fotos e figuras podem também acompanhar o texto sob a forma de
hetas, sobre as quais é possível clicar para ampliar. Nos dois casos, para voltar
texto inicial, o botão "retorna para o diapositivo anterior" está situado embaixo à

uerda:
a vez chegando ao último diapositivo, é possível retornar ao sumário usando o
ão "retorno":
lado de cada imagem (figura e fotografia) são fornecidas as indicações para
ar a imagem no CDROM Solimage e no livro Regards sur le sol (pois que todos
n° 343 p. 82
figura 3
s tratam do tema):
ras e publicações citadas

MUNSELL COLOR, 1975. Munsell soil color charts, Munsell Color, Baltimore.

UELLAN, A., DOSSO, M., 1993. Regards sur le sol, Foucher-AUF, Paris.

UELLAN, A. et al., 1998. Solimage, cederom, Éducagri éditions-AUF, Dijon-Paris.


Créditos das ilustrações

• Fotografias
RUELLAN, A.

• Figuras
Figuras extraídas de RUELLAN, A., DOSSO, M., 1993, Regards sur le
sol, Foucher-AUF, Paris: 70

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