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CARACTERIZAÇÃO MOFOMÉTRICA DA BACIA DO RIACHO

DOS MACACOS

Candida Eluiza Ferreira ALVES¹; Édila Regina da Costa FRANCELINO²;


Milenna Parente SENA³
Faculdade Paraíso do Ceará (FAPCE)
Rua da Conceição, 1228 – São Miguel – Juazeiro do Norte – CE – CEP.
63.000.000
candida.eloiza@aluno.fapce.edu.br¹; edilaregina18@gmail.com²;
milenna@aluno.fapce.edu.br³
Introdução
O conceito de Bacia Hidrográfica tem sido ampliado cada vez mais, pois
a água é um recurso natural essencial para todas as espécies do planeta. Em
uma perspectiva de um estudo hidrológico, bacia hidrográfica foi definido
Como um conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes,
formada nas regiões mais altas do relevo por divisores de água, onde
as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os riachos
e rios, ou infiltram no solo para formação de nascentes de do lençol
freático. Barrella (2001 apud TEODORO et al., 2007, p.139).
É primordial a delimitação de uma bacia hidrográfica para verificar a
ocorrência de enchentes e alagamentos, distribuição da água e sua escassez,
para que venha a ser evitado os problemas citados no decorrer dos anos.
O estudo morfométrico em microbacias hidrográficas apresenta índices
morfométricos que determina os riscos e potencialidades do solo de cada
microbacia e ainda avalia os impactos ambientais nelas gerados principalmente
pelas atividades antrópicas. Diretamente ligada ao processo de degradação do
solo pelo esgotamento de nutrientes, sendo mais conhecido os processos
erosivos e salinização. A erosão está associada a problemas de movimentação
de massas e desabamento de encosta, e salinização está relacionada com a
prática da irrigação que se utiliza de água com elevado teor de sais. Christofoletti
(1970) observou que que a análise de aspectos relacionados à drenagem, relevo
e geologia pode levar à elucidação e compreensão de diversas questões
associadas à dinâmica ambiental local.
O intuito deste estudo é a delimitação da bacia hidrográfica riacho dos
macacos localizada na região de Juazeiro do Norte-Ce, onde foi feita a sua
análise morfométrica através dos parâmetros: área da bacia, coeficiente de
compacidade, fator de forma, declividade média, densidade de drenagem,
sinuosidade, perfil longitudinal. Esses parâmetros podem revelar indicadores
físicos específicos para determinado local, de forma a qualificarem as alterações
ambientais (ALVES e CASTRO, 2003).

Métodos
Para a realização da análise morfométrica da bacia do riacho dos
macacos, localizada no município de Juazeiro do Norte, Ceará e abrange os
bairros do barro vermelho e Tiradentes, inicialmente, fez-se a delimitação
através do software Arcmap no laboratório da Faculdade Paraíso do Ceará e
para a retirada dos dados para morfometria utilizou-se o AutoCad.
Primeiramente, analisou-se as curvas de nível da área e, em seguida, iniciou-se
o delineado, cortando as curvas de nível, sempre perpendicularmente, buscando
entrar e sair do mesmo modo, com o fim de formar um ângulo de noventa graus,
e procurando cortar as curvas de nível de cotas mais altas, formando o divisor
de águas, definido no momento da precipitação para qual lado a água se dividirá.
Após delimitar toda a área, salvou-se a imagem da bacia já delineada com a sua
escala em quilômetros, para que os outros dados como comprimento dos rios
fossem analisados.

Imagem 1 - Bacia delimitada no software Arcmap


Para a caracterização geométrica da bacia, necessitou-se retirar alguns
dados do mapa já com a delimitação da bacia no Arcmap, antes de serem salvos,
como a área e o perímetro. A área da bacia representa a área de drenagem, que
está inclusa nos seus divisores de água, e é utilizada para calcular outras
características físicas. Com a área e o perímetro retirados do delineamento do
Arcmap, foi possível definir os fatores de forma, tais como o coeficiente de
compacidade (Kc) e o de forma (Kf). O coeficiente de compacidade relaciona o
perímetro e a área buscando determinar se a bacia em estudo é mais ou menos
circular, e o coeficiente de forma relaciona a área e o comprimento axial da bacia,
da foz ao ponto mais longe, o qual tal resultado indica a largura média da bacia.
(CARVALHO. D. F.; SILVA. L. D.). Para o cálculo do fator de forma utilizou-se do
AutoCad para traçar e definir o comprimento L axial da bacia.

Imagem 2 – Delimitação no Autocad dos Imagem 3 – Delimitação topográfica das

cursos do rio. curvas de nível no Autocad.

O sistema de drenagem da bacia possui o rio principal e suas


ramificações. Ele é de extrema importância, pois indica a maior e a menor
velocidade com a qual a água deixa a bacia. (CARVALHO. D. F.; SILVA. L. D.)
Para determinar as características de drenagem, analisou-se a ordem dos
cursos d’água seguindo o método de Horton e Strahler, com o qual os afluentes
recebem ordem 1. Os que se unem e possuem ordem igual formam um de ordem
maior. Já os que se unem, mas possuem ordens diferentes, prevalece o de maior
ordem, a densidade de drenagem (Dd) que relaciona o comprimento total dos
cursos d’água e a área total da bacia e a sinuosidade do curso d’água principal,
que relaciona o comprimento do rio principal com o comprimento do talvegue da
bacia. Esses dados foram retirados do Autocad, transformando as medidas de
acordo com a escala da imagem que foi salva do Arcmap.

Imagem 4 - Rios delimitados e com ordem dos cursos definidas.

Por fim, para caracterizar o relevo da nossa bacia, que define a velocidade
de escoamento dentro da região, calculou-se a declividade média da bacia,
relacionando o produto entre o somatório do comprimento total das curvas de
nível, que foi possível inferir com ajuda do Autocad. Além disso, fez-se o
contorno de todas as curvas, com as distâncias entre as curvas de nível, o qual
foi definido por nosso orientador como 40m, e este produto foi dividido pela área
da bacia em km². Já o outro método utilizado para definir o relevo e velocidade
de escoamento foi o perfil longitudinal associa em forma de gráfico as cotas das
curvas de nível que corta o rio principal ao longo da sua extensão e relaciona
com a distância na qual foi cortada, partindo da desembocadura. Conjuntamente
relaciona no gráfico a declividade total da bacia feita por diferença de cotas, da
curva de nível da nascente ao exutório, dividindo pelo comprimento entre as
curvas. Para uma análise ainda mais abrangente foi feita a declividade por
diferença de cotas para cada curva de nível que corta o rio principal,
relacionando cada uma.

Variável Morfométrica Símbolo Fórmula Referências

Área da bacia A --------- ---------

Coeficiente de compacidade Kc 𝑃 Garcez; Alvarez -1988


𝐾𝑐 = 0,28 .
√𝐴

Fator de forma Kf 𝐴 ANDRADE. N.L.R. et al. -2008


𝐾𝑓 =
𝐿2

Tabela 1 - Variáveis para determinação das características geométricas.

Variável Morfométrica Símbolo Fórmula Referências

Declividade média Dm ∑ 𝐿 𝑐𝑢𝑟𝑣𝑎 𝑑𝑒 𝑛í𝑣𝑒𝑙 𝑥 0,02 Wisler; Brater -1964


Dm=
𝐴

Tabela 2 - Variáveis para determinação das características de relevo.

Obs: Na fórmula encontrada no (WISLER; BRATER. 1964) é utilizada a distância de 0,02 para
as curvas de nível, porém a distância utilizada foi de 0,04.

Variável Morfométrica Símbolo Fórmula Referências

Densidade de drenagem Dd Dd=


𝐿 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 Horton (1945)
𝐴

Sinuosidade Sin Sin=


𝐿 𝑟𝑖𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑛𝑐𝑖𝑝𝑎𝑙 Vilella e Mattos (1975)
𝐿 𝑡𝑎𝑙𝑣𝑒𝑟𝑔𝑢𝑒

Tabela 3 - Variáveis para determinação das características de drenagem.

Resultados e Discussões

Condensação das características físicas da bacia hidrográfica dos


macacos:
Características Físicas Resultados
Área 62,981481𝐾𝑚2
Perímetro 40,0869 𝐾𝑚
Coeficiente de Compacidade (Kc) 1,4143
Fator de Forma (Kf) 0,2833
Declividade média (Dm) 4,60%
Densidade de drenagem (Dd) 0,4199
Sinuosidade (Sin) 1,15

Tabela 4 - Características físicas da bacia hidrográfica dos macacos .

A bacia hidrográfica do Riacho dos Macacos apresentou uma área de 62


km² e um perímetro de 40 km, onde classifica-se como uma bacia com formato
mais oval, que pode ser verificado pelo seu coeficiente de compacidade (kc) de
1,41 o qual representa uma baixa tendência a enchentes. Segundo
(CARVALHO. D. F.; SILVA. L. D.) para os valores de compacidade sempre se
encontra valores maiores que 1, que representa uma bacia circular.

Seu fator de forma (kf) de 0,28 por ser baixo, apresenta uma bacia
comprida e menos sujeita a picos de enchentes. Para valores menores ou iguais
a 0,5 a probabilidade de enchentes na bacia é baixa, pois por conter forma mais
alongada uma chuva não abrange toda a área. Já em bacias com fatores maiores
que 0,75 a tendência de enchente é grande.

Quanto maior a declividade em uma bacia, menor o tempo de


concentração fazendo com que aumente os picos de enchentes na mesma. No
riacho dos macacos a declividade média é de 4,6%, no qual verificando na
imagem 4 pode-se determinar como relevo suave ondulado, no qual implica em
uma baixa declividade e baixa tendência para enchentes. Porém segundo
(TONELLO, K.C. et al. 2006) a vegetação que prevalece no local também
influencia nos picos de enchentes, pois com a ausência da vegetação aumentará
a velocidade de escoamento e diminuirá a quantidade de água infiltrada, fazendo
assim que a tendência de enchentes cresça.
Imagem 4 - Classificação do relevo segundo a EMBRAPA (1979)

As chuvas dentro da bacia têm impacto direto na densidade drenagem,


uma vez que em uma área de má drenagem as chuvas são em maiores
quantidades, diferente de áreas que possuem uma boa drenagem. Porém
existem outros fatores mais importantes, como a capacidade de armazenagem
e a resistência inicial do solo, são fatores de extrema importância para a
determinação da densidade de drenagem (HORTON,1945).
Uma bacia é pobremente drenada se o índice de drenagem for menor
que 0,5; entre 0,5 e 3,0 será medianamente drenada e maior que 3,0 é ricamente
drenada, de acordo com Villela e Mattos (1975 apud GOEHR et al., 2015, p.4).
Partindo da análise dos resultados encontrados e comparando com as definições
de drenagem de (CARVALHO. D. F.; SILVA. L. D.) a nossa bacia por possuir
uma densidade de drenagem de 0,4199 km/km² a mesma possui uma pobre
capacidade de drenagem.

Bacias com drenagem pobre Dd < 0,5 km/km2


Bacias com drenagem regular 0,5 ≤ Dd < 1,5 km/km2
Bacias com drenagem boa 1,5 ≤ Dd < 2,5 km/km2
Bacias com drenagem muito boa 2,5 ≤ Dd < 3,5 km/km2
Bacias excepcionalmente bem drenadas Dd ≥ 3,5 km/km2

Tabela 5 - Definição de densidade de drenagem segundo (CARVALHO. D. F.; SILVA. L. D.)

De acordo com (TEODORO et al., 2007) O índice de sinuosidade


indicará se os canais tendem a ser retilíneo, tortuoso ou transicional, regular e
irregular. Índices próximos a um (1) apontam que os canais propendem a serem
retilíneos, já valores superiores a dois (2) denotam que os canais tendem a
serem tortuosos, já para valores intermediários indicam formas transicionais,
regular e irregular. A bacia apresentada possui um valor de 1,15 de sinuosidade,
indicando estar próxima de 1 implicando que os canais se aproximam a ser
retilíneos. A sinuosidade influencia diretamente na velocidade de escoamento,
quanto menor a sinuosidade, mais retilíneo o curso d’água, maior a velocidade.

O perfil longitudinal de uma bacia define o relevo da bacia, relacionando


as declividades nela possuintes. Segundo (VILLELA, S.M.; MATTOS, A. 1975) a
velocidade em que a água escoa depende da declividade dos cursos de água,
quanto maior a declividade maior a velocidade e os hidrogramas de enchentes
serão mais estreitos. O perfil traçado na imagem 5 relaciona apenas a distância
a partir da desembocadura que o rio principal corta cada curva de nível.

Imagem 5 – Perfil de cotas e distância.

Para analisar com uma melhor precisão foi feito o cálculo da declividade
total da bacia, utilizando a cota final de 360 m no exutório e a inicial de 440 m e
o comprimento total de 16,7867 km entre as cotas, resultando em uma
declividade total de 4,7657 m/km para toda a bacia. Utilizando o método de
diferença de cotas o valor encontrado foi aproximado da porcentagem
encontrada para toda a bacia pelo método da declividade média utilizado por
(WISLER, C.O.; BRATER, E.F., 1964).
Imagem 6 – Perfil com cotas e distância e declividade de toda a bacia pela diferença de cotas.

Para uma melhor análise da declividade no perfil longitudinal foi feita o


cálculo declividades por diferença de cotas para todas as curvas de nível da
bacia. A diferença de cotas analisada é igual para os dois trechos, no primeiro
trecho foi feito para as cotas de 440 m e 400 m com uma distância entre as duas
de 6,4185 km, encontrando assim uma declividade de 6,2320 m/km. No segundo
trecho paras as cotas de 400 m e 360 m com uma distância entre as duas de
10,3682 km, encontrando uma declividade de 3,8579 m/km. Segundo
(ANDRADE. N.L.R. et al. 2008) a bacia do Rio Manso, ao ser analisada suas
declividades por trechos, foram observadas características de planície, com
valores de declividade entre 0,83 m/km e 6,16 m/km e, o mesmo classificou a
bacia com declividade elevada ao ser comparado com a declividade outros rios.
Assim comparando os resultados da bacia do rio manso com os obtidos da do
riacho dos macacos, pode-se considerar também com características planas
com poucas elevações, devido as curvas de nível estarem em menor quantidade
na bacia e distantes como mostra na imagem 01.

Conclusão
Com base nos resultados obtidos, e uma avaliação bibliográfica de todo
o material estudado, é possível concluir que a bacia hidrográfica do município de
Juazeiro do Norte possui a forma mais oval devido ao seu baixo valor de
coeficiente de compacidade, e que ao ser analisado o fator de forma foi possível
perceber que a probabilidade de haver enchentes na bacia é muito baixa,
acrescentando também que a ordem dos cursos d’água no valor de 3, implica
num rio com poucas ramificações.

Partindo do resultado da declividade média classificou a bacia com um


relevo suave ondulado e, com os cálculos do perfil longitudinal para toda a bacia
foi possível classificar também como uma bacia com baixas inclinações, sendo
composta por superfícies mais planas. De acordo com tais resultado, imolavam-
se em um maior tempo de concentração da água, possibilitando maiores
infiltrações no solo fazendo com que a velocidade da água diminua,
consequentemente diminuindo as chances de enchentes dentro da bacia.

Com a densidade de drenagem foi possível confirmar a velocidade baixa


devido a baixa declividade da bacia, com seu fraco fluxo de água nos cursos, a
bacia estudada foi classificada com drenagem pobre. Analisando o valor da
sinuosidade foi definido o curso do rio como retilíneo. Por fim ao analisar os
dados em conjunto conclui-se que a bacia do riacho dos macacos possui um
baixo índice para enchentes na sua extensão.
Referências

WISLER, C.O.; BRATER, E.F. Hidrologia. Tradução e publicação de Missão


Norte-Americana pela Cooperação Econômica e Técnica no Brasil. Rio de
Janeiro: Ao Livro Técnico S.A., 1964.

HORTON, R.E. Erosional development of streams and their drainage basins;


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VILLELA, S.M. & MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do


Brasil, 245 p., 1975.

ANDRADE. N.L.R. et al. Caracterização Morfométrica e Pluviométrica da Bacia


do Rio Manso - MT., São Paulo, UNESP, Geociências, v. 27, n. 2, p. 237-248,
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GARCEZ, L. N.; ALVAREZ, G. A. Hidrologia. - 2. ed. rev. e atual. - São Paulo:


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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA.


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Acesso em : 21 de abril de 2019.

TONELLO,K.C. et al. Morfometria da Bacia Hidrográfica da Cachoeira das Pombas,


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