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O CONTROLE SOCIAL COMO MECANISMO DE ACOMPANHAMENTO E

RACIONALIZAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA

RESUMO

A administração pública atualmente deve ser vista como uma atividade social de alta
relevância, visto que a sociedade dela depende para promover o crescimento e
desenvolvimento sustentável. Acompanhamos no momento o surgimento de novas
ferramentas de controle, novas leis, integração de diversos setores de fiscalização,
padronização de procedimentos e acompanhamento de gestão.
Essa pesquisa busca examinar os diversos meios de fomento à transparência e ao maior
controle social na administração pública, fornecer, descrever e compreender as formas de
implementação de controle social por parte dos gestores públicos e toda a sociedade. A
metodologia usada no estudo foi a análise bibliográfica e documental.
PALAVRAS–CHAVE: transparência, controle social, administração pública

SOCIAL CONTROL
AS MECHANISMS FOR MONITORING AND
RATIONALIZATION IN PUBLIC MANAGEMENT

ABSTRACT

Public administration today must be seen as a highly relevant social activity, since its
society depends on promoting growth and sustainable development. We are currently
monitoring the emergence of new control tools, new laws, integration of several inspection
sectors, standardization of procedures and management follow-up.
This research seeks to examine the various means of promoting transparency and
greater social control in public administration, providing, describing and understanding the
ways of implementing social control by public managers and society as a whole. The
methodology used in the study was the bibliographical and documentary analysis.
KEY WORDS: transparency, social control, public administration
1. INTRODUÇÃO

Diante dos seguidos casos de corrupção, apontados por toda mídia, e posse indevida
de recursos públicos, a preocupação com o controle e transparência na gestão em organismos
do poder público tem crescido rapidamente nos últimos tempos no nosso país. Diversos
mecanismos e instituições de controle social têm sido severamente criticados e questionados
quanto a sua eficiência e eficácia. Para tanto as diferentes esferas de governo buscam formas
de controle nas suas próprias máquinas administrativas visando a fortalecer meios de
prevenção e combate ao desvio. Nesse caminho, o controle social e a transparência pública
são temas que vêm ganhando ênfase por permitir um maior acompanhamento e se
constituírem mecanismos de fortalecimento da administração dos órgãos governamentais.
Nessa conjuntura, a temática desse trabalho é a tentativa de organizar informações
acerca do tema Controle Social e Transparência. A escolha do tema recai sobre a importância
do fortalecimento da transparência nas instituições públicas e para uma maior participação de
toda a sociedade na tomada de decisões. A partir do acesso e do domínio da informação, pode
ser gerado um processo de formação de um povo mais participativo na medida em que há o
acompanhamento da mudança no desempenho da ação do Estado.
Sabe-se que o Estado terá que desempenhar uma ação diferente do que tem exercido
até o momento atual, quando as economias eram menos desenvolvidas, mais fechadas, quando
a tecnologia era menos avançada e a informação mais difícil de ser obtida, nesse novo
contexto globalizado, o Estado terá que desempenhar inteligentemente seu papel de forma
planejada, ágil e transparente, como forma de resposta aos anseios da maioria dos cidadãos.
No presente estudo serão expostos os mecanismos e instrumentos de controle e
transparência na administração pública, o uso de ferramentas de Tecnologia da Informação
(TI), bem como a necessidade da maior participação popular nesse contexto através da
democratização da informação.

2. CONTROLE SOCIAL E TRANSPARÊNCIA

O controle Social e a transparência da administração pública determinam que a


administração deve tornar público todos os seus atos, são princípios que estão relacionados.
Ter uma administração transparente significa fortalecer as relações democráticas e aumentar o
compromisso mútuo entre cidadãos e governantes.
O modelo de Estado que foi construído ao longo da história sempre descartou qualquer
possibilidade de controle social, entretanto, ultimamente vê-se o surgimento de inúmeros
espaços institucionais de participação e a consequente pulverização do controle social e
transparência em vários canais. Dada a dificuldade no Brasil de fazer valer os direitos sociais,
existe grande demanda por novas leis que possam pressionar o poder público no sentido de
prover serviços públicos de qualidade, eficientes e transparentes, e permitir que os atos de
gestão sejam realizados de qualquer forma, esses devem ser controlados, economizados e
fiscalizados, pois a sociedade precisa saber onde e como é aplicado o dinheiro público. Nesse
sentido, a Constituição Federal exige que todos os órgãos das esferas federal, estadual e
municipal, implantem Sistemas de Controles, cuja finalidade é acompanhar o processo
anterior à prática do ato administrativo, prevenindo e detectando falhas, e sanando quaisquer
irregularidades que possa comprometer o processo. Esses sistemas devem ser instrumentos
que possibilitem acompanhar o processo de execução dos recursos, avaliando este processo à
luz da legislação, normas e procedimentos vigentes, aplicando também os princípios da
economicidade e efetividade dos resultados.
Com a implantação de um governo transparente, pretende- se não só compartilhar com
a sociedade informações sobre a exata destinação dos recursos públicos, permitindo-lhe
conhecer as prioridades de alocação e avaliar esse gasto, mas também estimular a participação
e o controle social sobre a aplicação desses recursos. Ademais, o objetivo é, também,
potencializar o conhecimento dos próprios gestores públicos sobre a execução de programas e
ações e a aplicação de seus recursos.
O controle social deve ser exercido para que a comunidade se cientifique de que o ato
do administrador público está sendo realizado de acordo com a lei, por isso, há que se
respeitar o direito à informação que cabe à população, a fim de que se efetive a completa
transparência nas atividades da administração e na aplicação de recursos públicos, promover a
participação na administração, fiscalização ou controle em organismos governamentais ou não
governamentais incumbidos de prestar serviços que antes cabiam ao Estado, participar na
execução de serviços e obras e a nas decisões políticas, através da iniciativa popular em
projetos de lei, referendo, plebiscito e outros.
Para exercer o controle social é necessário que os cidadãos tenham acesso à
informação sobre a gestão e as políticas públicas, participem de canais de debate público,
interfiram em todas as fases da política pública, sendo de fato ouvidos em suas propostas e
que disponham de mecanismos para apurar e punir irregularidades quando necessário.
O efetivo exercício desse acompanhamento depende não apenas da disponibilização
dos instrumentos necessários, mas especialmente da capacidade dos movimentos,
organizações, fóruns, grupos e outros atores da sociedade em debater com
qualidade as políticas públicas. É aqui que entra o papel insubstituível da sociedade em
suas diversas organizações autônomas para ocupar os espaços de diálogo e de partilha de
poder com o Estado.
Bugarin 2003, p. 17. já entende que o controle social, especificamente dos gastos
públicos, não deve ser apenas associado ao marco regulatório como forma de poderem
questionar e punir os que cometerem crime contra a Administração Pública, e sim possuir
uma política consistente e contínua para fortalecer os instrumentos de controle, participação e
transparência com uma fiscalização eficiente.
O esforço para combater à corrupção e os desvios de recursos públicos, deve receber
um tratamento sistêmico e ser alvo de políticas permanentes, consistentes, eficazes de
controle social, solidificar a cultura de transparência no setor público (...), nesse sentido, não
basta promover a multiplicação de normas ou códigos de conduta sem que haja a fiscalização
permanente e punição rigorosa pelos responsáveis pelos desvios (BUGARIN, 2003, p. 17).
Além de ser condição necessária para que os cidadãos possam exercer efetivamente a
fiscalização das contas públicas, a promoção da transparência pública pode evitar atos
indevidos e arbitrários por parte dos governantes e dos administradores públicos.

2.1 CONTROLE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA

Na Administração Pública brasileira, a modernização do sistema de controle veio com


a denominada Reforma Administrativa, introduzida pela Constituição de 1967 e
designadamente através do Decreto-Lei No. 200, de 20 de fevereiro do mesmo ano. O novo
modelo permitiu, desde então, a utilização da prática de acompanhamento dos atos de gestão e
de administração de forma mais ágil, abandonando-se o modelo superado, que preocupava-se
mais com o aspecto formal, revelando-se, por isso, ineficaz e viciado, passou-se, então, a
adotar o processo de auditorias financeiras e orçamentárias.
Surge a pressão da sociedade, mesmo encontrando alguma resistência nos
administradores, torna-se provável o fato de uma ação casada de sensibilização e qualificação
dos gestores públicos (para aceitarem e mesmo estimularem essa participação), junto a uma
articulação e igual qualificação dos movimentos sociais, seja uma condição sine qua non para
tornar realidade o controle social e a transparência das gestões públicas, as organizações não
governamentais, as associações e movimentos civis e os meios de comunicação protagonizam
ações que visam monitorar a ação dos governantes e expor publicamente os atos lesivos ao
interesse público cometido pelos agentes públicos.
Mais importante ainda que assegurar eficácia e eficiência à Administração Pública, os
sistemasde controle devem eles próprios se mostrarem assim.
O desafios apontados para o exercício efetivo do controle social são bastante
conhecidos: falta de maior acesso a informações necessárias, o descomprometimento do poder
público com a participação, atitudes corporativistas entre os segmentos que impedem a
negociação e construção de consensos, a influência da lógica e de questões partidárias nestes
espaços, a linguagem inadequada dos documentos e debates, a falta de capacidade técnica e
política para a intervenção nos debates.
Atualmente o Controle encontra-se em um estágio já bem mais avançado e
estruturado, basicamente, sobre princípios de comprovada eficiência, já estamos em processo
de consolidação desses instrumentos de gestão pública e de controle, e já temos apresentados
alguns casos interessantes de como administrar de forma democrática e transparente.

2.2 TRANSPARÊNCIA E PARTICIPAÇÃO

No atual contexto, o Estado passa a exercer papel prepoderante para o exercício e


realização da cidadania, bem como de configurar um modelo de Administração Pública
Gerencial em substituição ao antigo modelo burocrático, criando a conscientização de que o
objetivo do Estado deve ser sempre o cidadão, oferecendo-lhe pleno controle sobre os
resultados das ações da máquina estatal.
Existe uma tentativa da ampliação e aperfeiçoamento de instrumentos que permitem
ao cidadão ter participação ativa no exercício da cidadania onde haja também a ação de
Administradores Públicos. No que diz respeito à gestão pública, observa-se um crescimento
cada vez maior no sentido de promover uma abertura e acesso às informações sobre as
finanças e orçamentos públicos.
Transparência e clareza são fundamentais num Estado Gerencial (voltado para o
controle dos resultados e descentralizado para poder alcançar um objetivo social) e num
momento de globalização como o que se vê, atualmente, e com a redução do Estado, alcança-
se uma situação em que a administração pública se vê com um espaço restrito para atuar na
vida do Estado e da sociedade, deixando para a iniciativa privada e organizações não
governamentais a tarefa de promover e fiscalizar determinadas atividades que até então
pertenciam à esfera estatal.
A participação da sociedade é uma forma de impedir que determinados atos da
administração pública estejam viciados ou mascarados, permitindo à população conhecer de
que forma seus representantes estão operando a “coisa pública”, e se estão obedecendo aos
princípios básicos de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade.
Uma vez que se verifica hoje uma maior parcela da sociedade e do setor privado
envolvendo-se em atividades de interesse eminentemente público, enquanto o Estado se afasta
da prestação de alguns serviços de forma direta e passa a exercer apenas a função reguladora e
fiscalizadora, torna-se necessário que a própria população exerça controle sobre o interesse
público que passou a gerir, compartilhando com o Estado essa responsabilidade.
A gestão transparente caracteriza-se pelo acesso às informações compreensíveis para
todo o cidadão e também pela abertura para a sua participação no governo, sendo esta um
direito constitucional, uma vantagem que a ampliação do acesso à informação apresenta sobre
outros processos de transformação do Estado é que dá origem a um fenômeno de auto-
alimentação, quanto mais informação é disponibilizada para a sociedade, mais cresce a
demanda por informação adicional, mais competentes são as contribuições vindas de fora do
Estado e mais informação e de melhor qualidade o governante tem à disposição para decidir.
É esse o melhor argumento pragmático para que os governantes sejam “transparentes”,
não porque isso seja politicamente correto, mas porque melhora a eficiência de sua gestão.
A participação e o controle social sobre o governo dependem fundamentalmente da
circulação de informação em que a transparência é um elemento-chave para a promoção
destes direitos. Entretanto, não se trata unicamente de uma questão de montante de
informação veiculado, mas também da forma de sua apresentação, de maneira a atingir um
público amplo(VAZ, 2003b), ser uma administração pública transparente significa,
primeiramente, declarar que a informação pública pertence ao público e, portanto, deve ser
disponibilizada em conformidade com esse direito.
O Poder Público deve afirmar o direito à informação do cidadão e criar meios para que
o cidadão possa ter acesso às informações de forma clara e o mais facilitado possível. Deve-se
propor que o cidadão possa conhecer suas estruturas e suas decisões. Deve haver uma
diminuição da capacidade administrativa, o governo não deve apenas promover a
transparência pela disponibilidade das informações, mas deve proporcionar que estas
informações cheguem aos cidadãos e sejam compreendidas.
Portanto, deve-se pensar cada vez mais na concretização de um modelo de gestão
pública que privilegie uma relação com a sociedade baseada na livre e transparente circulação
de informações, na publicização dos atos administrativos e no controle social das ações do
governo, o que exige a possibilidade de uma maior participação popular em todo o processo
de gestão, desde a formulação das políticas públicas, sua realização, monitoramento e
posterior avaliação dos resultados.

2.3 DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO E TRANSPARÊNCIA DO ESTADO

O controle social, a transparência e a democratização da informação se reforçam


mutuamente, deve haver uma confluência entre o interesse do cidadão em acompanhar e
exigir uma boa qualidade do serviço prestado pelo poder público, com o interesse do serviço
em informar e ser informado sobre suas falhas e inadequações, no esforço de aprimorar, cada
vez mais, suas ações e possibilitar visibilidade e transparência no exercício da prática
cotidiana.
Os Estados democráticos contemporâneos têm enfrentado o desafio de desenvolver
mecanismos que obriguem a transparência dos negócios públicos, de forma que a opinião
pública possa estar inteirada dos atos e das decisões dos seus representantes políticos. O
exercício do controle e da crítica social depende de que os cidadãos estejam cientes das
transações e dos debates ocorridos nos círculos do poder político. Nas sociedades de massa, a
publicidade dos atos e das decisões estatais se realiza com o auxílio dos aparatos tecnológicos,
que estendem a informação para amplas audiências. A mediação tecnológica nos processos
de interação entre a esfera política e a esfera civil coloca o desafio de se alcançar um nível
excelente de publicidade, que se traduz em: a) disponibilidade do maior volume de
informações produzidas pelas instituições políticas; b) acesso de um maior número de pessoas
às informações políticas; c) participação de mais pessoas na produção da decisão política
(GOMES, 2007).
Toda forma de informação beneficia o controle social, e o Estado tem obrigação de
garanti-la como direito de cada um, inclusive amparado pela Constituição Federal de 1988,
uma vez que assumiu o compromisso de reformar sua estrutura e, assim sendo, deve procurar
incentivar cada vez mais este controle.
O sistema de informações à sociedade deve ser amplo, irrestrito, e deve ser
compreendido como todo um conjunto, variando desde normas, órgãos públicos até
equipamentos, recursos humanos e tecnológicos, cujo principal objetivo é garantir o exercício
da cidadania através do direito à informação.

3. TRANSPARÊNCIA EM UM MODELO DE GESTÃO PÚBLICA

Manter a transparência na gestão pública é promover uma gestão fiscal e orçamentária


responsável. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) prevê, no art. 1o, § 1o: “A
responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se
previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas,
mediante o compromisso de metas e resultados entre receitas e despesas e a obediência a
limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da
seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive
por antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em restos a pagar”.
As possibilidades de acesso à informação governamental para maior democratização
dessa devem estar diretamente relacionadas ao conjunto de práticas desenvolvidas pela
administração pública no seu modelo de gestão, neste contexto, é possível construir um
presente que se pretenda, um compromisso com a ação coletiva do povo e de governo
enquanto política pública de gestão da informação e, fundamentalmente, deixar aflorar o
sentimento e a cultura da democratização da informação na gestão pública. A informação
produzida no âmbito dos aparelhos de Estado deixa de ser "do governo" passando a ser
pública, de toda a sociedade, fazendo prevalecer o princípio de que a informação e
transparência é dever do Estado e direito do cidadão.

3.1 INSTRUMENTOS DE TRANSPARÊNCIA FISCAL

A Lei de Responsabilidade Fiscal em seu capítulo IX tornou obrigatória algumas


práticas de transparência para viabilizar uma maior participação da população no controle dos
gastos públicos
Parte da lei comprova os argumentos de transparência:
Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla
divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de
diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório
Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões
simplificadas desses documentos.
Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante incentivo à
participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e
de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos.
São instrumentos de transparência fiscal:
1. Plano Plurianual
De acordo com a Constituição Federal, Art. 165, inciso I, o Plano Plurianual (PPA)
abrangerá as diretrizes, objetivos e metas para o período quadrienal da administração pública
dos entes federados para as despesas de capital relativas a investimentos e outras que dela
decorram e para as relativas aos programas de duração continuada conforme art. 165,
parágrafo 1º da CRFB/1988. Tendo sua validade de quatro anos, no Plano Plurianual devem
estar especificadas as obras que o gestor municipal pretende realizar dentro desse quadriênio.
2. Lei de Diretrizes Orçamentárias
Também de acordo com a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes Orçamentárias
prevista no art. 4º da lei complementar 101/00 c/c art. 165, parágrafo 2º da CRFB/1988,
destina-se a apontar as metas e prioridades da administração pública dos entes federados,
sendo estabelecidas as regras para elaboração do orçamento anualmente, a vigorar no
exercício financeiro seguinte, objetivando, dessa maneira, o controle do déficit público.
3. Lei do Orçamento Anual
Previsto nos artigos 5º, 6º (vetado) e 7º da lei complementar 101/00 c/c os artigos 165
e 167 da CRFB/1988, a Lei do Orçamento Anual destaca-se como sendo o mais importante
instrumento de gerenciamento financeiro e orçamentário da administração pública, pois a
remessa do projeto de lei orçamentário passa a ser antecipado, impondo às prefeituras a iniciar
sua discussão e elaboração com maior antecedência, principalmente porque deverá submeter
previamente as suas programações iniciais a discussões em eventos que contem com a
participação popular e audiências públicas.
4. Prestação de Contas
Outro importante instrumento de transparência fiscal, através da prestação de contas o
gestor público evidenciará a sua responsabilidade perante à sociedade.
A LRF em seu art. 58 definiu que prestação de contas evidenciará o desempenho da
arrecadação em relação á previsão, destacando as providências adotadas no âmbito da
fiscalização das receitas e combate à sonegação, as ações de recuperação de créditos nas
instâncias administrativa, e judicial, bem como as demais medidas para incremento das
receitas tributárias e de contribuições.
5. Parecer Prévio
O art. 71, I. da Constituição Federal determina que as chamadas Contas de Governo
sejam apreciadas pelos Tribunais de Contas que deverá emitir um Parecer Prévio. Esse
parecer deverá ser enviado ao Poder Legislativo que fará o julgamento dessas contas.
Verifica-se a importância do Parecer Prévio como fonte de informação mais
independente, elaborado por um órgão técnico e autônomo, que tem como incumbência de
auxiliar o Poder Legislativo na tarefa do controle externo, visando à fiscalização
orçamentária, financeira, contábil, operacional e patrimonial dos órgãos públicos.
6. Relatório Resumido de Execução Orçamentária.
Até trinta dias do encerramento de cada bimestre o Poder Executivo deverá publicar o
Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO), segundo a CF em seu art. 165 § 3º.
Esse relatório tem por objetivo demonstrar a situação orçamentária das receitas,
comparando com a previsão. Permite ao gestor corrigir de forma mais tempestiva quaisquer
desvios e prevenir, o mais rapidamente, possíveis riscos. Por outro lado a sociedade tem
oportunidade de observar de forma mais transparente e tempestiva a execução do
planejamento orçamentário.
7. Relatório de Gestão Fiscal
É um relatório quadrimestral instituído pela LRF, que deverá ser emitido pelos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e outros órgãos (Ministério Público e Tribunais de
Contas), expressa a situação quanto ao cumprimento dos diversos limites presentes na LRF. O
Relatório de Gestão Fiscal (RGF) evidencia o cumprimento dos gestores aos limites, com o
intuito de cobrar de todos que são dependentes de recursos governamentais o esforço
necessário para manter as contas públicas sempre equilibradas.
O art. 48 da LRF ordena que os instrumentos de transparência da gestão fiscal devem
ser também divulgados em versões simplificadas. A elaboração de uma versão simplificada
deve passar pela necessidade em diminuir as dificuldades existentes de compreensão desse
relatório permitindo o seu entendimento mesmo por parte do cidadão mais desprovido de
conhecimentos técnicos mais apurados.
Meios para realização da transparência fiscal:
✔ Ampla divulgação;
✔ Meios eletrônicos de acesso ao público;
✔ Incentivo à participação popular;
✔ Audiências públicas.
3.2 TRANSPARÊNCIA E TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A gestão pública pode ter implantado sistemas destinados a tornar públicas


informações sobre as diversas ações do governo, os serviços públicos ou outros assuntos de
interesse dos cidadãos, dessa forma, não só o acesso aos serviços é facilitado, como é possível
democratizar o acesso à informação. Os efeitos multiplicadores, do ponto de vista do
desenvolvimento da cidadania, podem ser consideráveis, à medida em que se consiga
caminhar para uma rede de informações da qual os cidadãos e suas entidades podem
participar, obtendo e compartilhando informações.
É preciso, para tanto, elevar as possibilidades de acesso dos cidadãos aos sistemas
informatizados que lhes forneçam informações sobre a administração, possibilidades de
instalação de terminais em equipamentos como escolas, postos de saúde, terminais de ônibus
e a viabilização de acesso através de conexão de computadores devem ser levadas em conta
para facilitar o acesso aos sistemas informatizados.
Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), como a internet podem
aumentar a eficácia e a eficiência na transparência da gestão pública. As TICs podem ser
utilizadas para: divulgar as ações desenvolvidas pelos diferentes órgãos públicos, inclusive
para a prestação de contas dos gastos e investimentos realizados; dar mais velocidade à
tomada de decisão; na prestação de serviços de melhor qualidade, com a implantação de uma
Intranet, que possibilita a informação integrada e disponível em toda a rede; oferecer serviços
on-line, como a marcação de consultas, emissão de certificados, recebimento de tributos,
realização de matrículas escolares, entre outros; realizar leilões e licitações eletrônicas,
comprar e fornecer serviços.
Os sistemas de informações à sociedade, devem ser amplos, irrestritos, e devem ser
compreendidos como todo um conjunto, variando desde normas, órgãos públicos até
equipamentos, recursos humanos e tecnológicos, cujo principal objetivo é garantir o exercício
da cidadania através do direito à informação. Ainda segundo este, a tecnologia da informação
deve ser vista como uma grande aliada do cidadão nesse processo, oferecendo inúmeras
possibilidades de facilitar o acesso à informação.
Para CASTELLS, ( 1999, p. 58) e Brennand (2002) são características das
Tecnologias de Informação na administração pública:
 A convergência das tecnologias da computação (microeletrônica e computadores
com as tecnologias de comunicação, possibilitando a integração das capacidades de
processamento e disseminação da informação em um patamar nunca visto anteriormente;
 A utilização da informação como recurso econômico condicionante da
produtividade e competitividade no mercado;
 A penetração da informação e das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC’s) nos outros setores da sociedade, em destaque neste trabalho, no campo das
instituições públicas.

3.3 PROPOSTAS DE MUDANÇAS PARA MELHORIA DO CONTROLE E DA


TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO FISCAL.

Em um contexto de mudanças aceleradas, os governos e a sociedade como um todo,


necessitam de aparelhamento e ações diversas para enfrentar problemas de acesso e
tratamento de informações. Para tanto, algumas medidas são cabíveis, como por exemplo:
➢ Promoção da educação fiscal no ensino médio e superior;
➢ Apresentação do Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) por
órgãos e fundos especiais;
➢ Apresentação do RREO e RGF por fontes de recursos;
➢ Capacitação dos servidores públicos e agentes políticos para uso e geração de
informações para usuários internos e externos;
➢ Reuniões abertas ao público para criação de formas de consultas ao público antes
da tomada de decisões, respeito às opiniões e às decisões tomadas pela população;
➢ A Informação para a Cidadania: a informação adequada, bem organizada e
disseminada constitui um elemento essencial para: a transparência, o exercício da cidadania
ativa e o fortalecimento da democracia (participativa e representativa);
➢ Orçamentos mais transparentes, como diz o economista João Sucupira, do IBASE,
“Buscar a transparência dos orçamentos não é um fim em si mesmo, mas um meio para
termos uma sociedade mais justa. Quanto mais transparência, quanto mais veracidade nas
informações sobre os orçamentos públicos, mais democracia e justiça social teremos. E,
quanto maior for à participação da sociedade e dos legislativos, quanto maior for o grau de
apropriação das informações, mais justas serão as políticas públicas” ;
➢ Melhoria do nível de politização do brasileiro;
➢ Maior participação de entidades técnicas representativas da sociedade e de
associações não-governamentais no processo de formulação de políticas pública;
➢ Melhoria da compreensão da linguagem complexa inerente aos assuntos fiscais e
orçamentários e que tornam as informações produzidas e divulgadas pouco acessíveis aos
cidadãos;
➢ Combate ao analfabetismo digital que funciona como elemento restritivo à ampla
participação social;
➢ Diminuição das disparidades regionais que afetam negativamente a transparência e
o controle da sociedade sobre os recursos públicos, já que parcela significativa de alguns entes
apresenta estrutura administrativa e institucional bastante precária.
Essas propostas apresentadas apontam para a necessidade de mudanças e sugerem
implementação de novos mecanismos para tornar mais evidente o controle e a transparência.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao contrário do que se poderia pensar a partir de uma análise mais ligeira, a falta de
transparência das gestões não pode ser somente atribuída ao arcabouço institucional nacional,
especialmente às disposições legais sobre a contabilidade pública e as licitações. Também não
se pode deixar que toda a culpa caia sobre os ombros da "cultura política" ou à má fé dos
governantes, os exemplos na presente pesquisa mostram que há possibilidades concretas de
ação dos governos para promover a transparência e o maior controle social de suas ações. A
transparência dos atos de governo pode ser parte constitutiva do modelo de gestão pública,
materializar-se em decisões e práticas de governo que não só promovam mudanças imediatas
no relacionamento entre governo e sociedade, como antecipem e fomentem mudanças de mais
largo espectro no contexto político de todo nação.
Será necessário ainda algum tempo de trabalho para conseguir o real controle social e
transparência na administração pública, para isto, é necessário vencer a falta de cultura do
povo e fazê-lo participar ativamente, dando-lhe educação para que possa entender todos os
mecanismos. A participação popular no planejamento público e a transparência pública serão,
a longo prazo, um instrumento de educação política e cívica, capaz de formar um cidadão
consciente da grandeza de participar das decisões que direcionarão o destino do seu
Município, seu Estado e o seu País.
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