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TESTADOS GOSPEL:

(E APROVADOS!) Nenê Santos

SAX&METAIS•2007•Nº 10•R$ 8,90


• Sax alto Condor e sua mistura
• Palhetas Vandoren harmoniosa
Java e V16 de ritmos

LEO GANDELMAN
Ele acumula mais de 20 anos de
carreira, prêmios e reconhecimento
no Brasil e no exterior

TOQUE MELHORGanc
com as aulas de David
nd (sax),
(flauta), Henrique Ba
e Michel
Rafael Velloso (sax)
Moraes (clarinete)

ABC DO BLUES
SUPERGUIA
com 16 exercícios para aprimorar sua técnica
CLARINETE,
FLAUTA, OBOÉ...
Tudo sobre o I Encontro
de Madeiras em Tatuí
E mais! Agenda de festivais em todo o Brasil
Entrevista exclusiva com o porto-riquenho David Sanchez
Esta revista apóia

Editor / Diretor
Daniel A. Neves S. Lima

Diretora de Redação
Regina Valente
MTB: 36.640

Editora Técnica
Débora de Aquino

Reportagem
Verena Ferreira

Revisão
Hebe Ester Lucas

Gerente Comercial
Eduarda Lopes

Administrativo / Financeiro
Carla Anne

Direção de Arte
Alexandre Braga

Impressão e Acabamento
Gráfica PROL

Fotos
Divulgação, Kazuo Watanabe,
Luis Garrido, Tiago Gracindo
EDITORIAL
Colaboradores

VIVA A DIVERSIDADE!
Deise Juliana, Marcelo Coelho, Marcio
Mazzi Morales (texto); César Albino

A
(teste saxofone); David Ganc,
Henrique Band, Michel Moraes
e Rafael Velloso (workshops)
cada edição de Sax & Metais, toda a equipe se reúne para definir as pautas que
Distribuição Nacional
levaremos até você. Discutimos a relevância dos assuntos, listamos nomes im-
para todo o Brasil
portantes para ilustrar nossas páginas e definimos o que entra ou não na sua
Fernando Chinaglia Distribuidora S/A
revista. É um trabalho de garimpo, avaliação e edição bastante complexo, porque nosso
Rua Teodoro da Silva, 907 • Grajaú
intuito é publicar o que há de melhor no meio musical e, especificamente, no de sopro.
CEP 20563-900 • Rio de Janeiro • RJ
Nesta edição não foi diferente. Posso afirmar, em nome de toda a equipe da revista,
Tel.: (21) 2195-3200
que fiquei muito satisfeita do começo ao fim dessas 52 páginas que você começa a ler
aqui. Primeiro, pela matéria de capa, realizada de forma magistral pela nossa editora Dé- Assessoria
bora de Aquino com Leo Gandelman, um saxofonista capaz de tocar, produzir, compor e Edicase Soluções para Editores
arranjar com a mesma maestria, e em diversas vertentes da música, do pop ao jazz. Sax & Metais (ISSN 1809-5410)
Na parte técnica, trazemos 16 exercícios para você entender e tocar melhor o blues, é uma publicação da
estilo musical tão difundido e cheio de macetes. Saiba sobre sua história, escalas e dicas Música & Mercado Editorial.
para se aperfeiçoar. Administração, Redação e Publicidade:
Trazemos também grandes nomes da música, como Rodrigo Bento, que após dez anos Rua Alvorada, 700 • Vila Olímpia
tocando com o ótimo Jota Quest, agora avança em carreira-solo, com muito sucesso; o CEP 04550-003 • São Paulo • SP • Brasil
estilo de Paulo Oliveira, e uma entrevista exclusiva com o porto-riquenho David Sanchez, Todos os direitos reservados.
um dos representantes da geração de young lions que, literalmente, abalou Nova York.
Temos ainda workshops, informações sobre festivais e análises de instrumentos e aces- Publicidade
Anuncie na Sax & Metais
sórios. Está imperdível. Aproveite cada pauta, ou melhor, cada página!
saxemetais@musicamercado.com.br
Um abraço,
Tel./Fax: (11) 3567-1940 • 3846-4446
www.saxemetais.com.br
Regina Valente e-mail: ajuda@saxemetais.com.br

4
SAX & METAIS

JULHO / 2007
ÍNDICE
SEÇÕES MATÉRIAS
4 Editorial 16 PERFIL Paulo Oliveira 26 Madeiras nas orquestras:
8 Cartas Com o wind-synth, o saiba tudo o que aconteceu no
10 Live! instrumentista utiliza a Encontro de Madeiras, realizado
Shows, projetos e novidades do tecnologia para uma pelo Conservatório de Tatuí, que
universo do sopro intensa produção recebeu músicos de renome
14 Vida de músico (e evolução) musical nacional e internacional
Edu Amaral
18 CAPA Leo Gandelman,
36 Análises
um dos mais versáteis
Sax alto Condor
saxofonistas da atualidade,
Palhetas Vandoren Java e V16
que ainda produz, compõe
40 Vitrine
e faz arranjos com maestria.
41 Reviews Confira entrevista exclusiva.
Lançamentos de CDs

20 Leo 28 Técnica: conheça 16 exercícios


para entender e aprimorar a forma

Gandelman de tocar o blues, com sugestões de


estudos para você treinar em casa

34 GOSPEL Nenê Santos: o músico


investe na carreira-solo e vem
despontando no cenário evangélico
mesclando jazz com suingue e pop

36 David Sanchez: em entrevista à


Sax & Metais, o porto-riquenho fala
sobre sua carreira em Nova York e
como passou de promessa a ícone
da nova geração de músicos

WORKSHOPS
42 Henrique Band (SAXOFONE)
Fusões rítmicas

44 Rafael Velloso (SAXOFONE)


Saxofone no choro

46 David Ganc (FLAUTA)


A construção da sonoridade

48 Michel Moraes (CLARINETE)


Efeitos sonoros no clarinete

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SAX & METAIS

JULHO / 2007
ÍNDICE
SEÇÕES MATÉRIAS
4 Editorial 16 PERFIL Paulo Oliveira 26 Madeiras nas orquestras:
8 Cartas Com o wind-synth, o saiba tudo o que aconteceu no
10 Live! instrumentista utiliza a Encontro de Madeiras, realizado
Shows, projetos e novidades do tecnologia para uma pelo Conservatório de Tatuí, que
universo do sopro intensa produção recebeu músicos de renome
(e evolução) musical nacional e internacional
14 Vida de músico
Edu Amaral
18 CAPA Leo Gandelman,
36 Análises um dos mais versáteis
Sax alto Condor saxofonistas da atualidade,
Palhetas Vandoren Java e V16 que ainda produz, compõe
40 Reviews e faz arranjos com maestria.
Lançamentos de CDs Confira entrevista exclusiva.

20 Leo 28 Técnica: conheça 16 exercícios


para entender e aprimorar a forma

Gandelman de tocar o blues, com sugestões de


estudos para você treinar em casa

34 GOSPEL Nenê Santos: o músico


investe na carreira-solo e vem
despontando no cenário evangélico
mesclando jazz com suingue e pop

36 David Sanchez: em entrevista à


Sax & Metais, o porto-riquenho fala
sobre sua carreira em Nova York e
como passou de promessa a ícone
da nova geração de músicos

WORKSHOPS
42 Henrique Band (SAXOFONE)
Fusões rítmicas

44 Rafael Velloso (SAXOFONE)


Saxofone no choro

46 David Ganc (FLAUTA)


A construção da sonoridade

48 Michel Moraes (CLARINETE)


Efeitos sonoros no clarinete

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SAX & METAIS

JULHO / 2007
CARTAS
Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para:
ajuda@saxemetais.com.br ou escreva para: Rua Alvorada, 700
Vila Olímpia • CEP 04550-003 • São Paulo • SP • Brasil

Surpreendente Revista nas bancas Anotamos aqui seu pedido e continue acompa-
O que dizer de uma revista que a cada mês Gosto muito da revista, que sempre traz nhando a revista, que em breve teremos novidades
vem surpreendendo com matérias inte- matérias úteis para o nosso dia-a-dia musi- a respeito. Abraços!
ressantes e relevantes para nós, músicos e cal. Continuem assim! Mas por que às vezes A redação
instrumentistas de sopro. Só tenho a dizer: ela demora para chegar às bancas?
meus parabéns! Paulo Antunes SAX & METAIS NO ORKUT
Tom Silva São Paulo, SP
São Paulo, SP Para saber informações da revista e trocar
Olá, Paulo idéias com outros músicos de sopro, parti-
Fora do eixo Obrigada pelos elogios. Quanto às bancas, de cipe da comunidade da Sax & Metais no
Fiquei muito feliz com a matéria sobre meu fato tivemos alguns atrasos, mas nossa equipe Orkut - http://www.orkut.com/Community.
trabalho e espero conhecer outros artistas que, já resolveu esse problema e pode ter certeza de aspx?cmm=12315174. Já são mais de 1.300
como eu, não são do eixo RJ-SP e têm uma que você encontrará sua revista nas bancas to- integrantes que enviam comentários sobre
produção fonográfica autoral. Tudo por meio dos os meses. Um abraço! instrumentos, músicas, críticas e sugestões
da revista. Vida longa e muito som! A redação para fazer a revista cada vez melhor. l
Márcio Menezes
Teresina, PI Série Harmônica
Gostaria de sugerir uma que a Sax & Metais
Lea Freire nos premiasse com uma série sobre progres-
Muito boa a entrevista com essa ótima musicis-
são harmônica e técnicas como vibrato, etc.
ta. Aprendi muito com tudo que ela relatou, e
Gilvane Rosa
toda experiência que ela passou por meio dessa
Angra dos Reis, RJ
reportagem. Obrigada à revista por nos presen-
tear com matérias assim! Olá,Gilvane
André Souza Obrigada pela sua sugestão, sem dúvida é um
Salvador, BA assunto que interessa a todos os músicos de sopro.

SAX & METAIS

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CARTAS
Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para:
ajuda@saxemetais.com.br ou escreva para: Rua Alvorada, 700
Vila Olímpia • CEP 04550-003 • São Paulo • SP • Brasil

Lea Freire trabalho e espero conhecer outros artistas que, ela demora para chegar às bancas?
Muito boa a entrevista com essa ótima musicis- como eu, não são do eixo RJ-SP e têm uma Paulo Antunes
ta. Aprendi muito com tudo que ela relatou, e produção fonográfica autoral. Tudo por meio São Paulo, SP
toda experiência que ela passou por meio dessa da revista. Vida longa e muito som!
Olá, Paulo
reportagem. Obrigada à revista por nos presen- Márcio Menezes
Obrigada pelos elogios. Quanto às bancas, de
tear com matérias assim! Teresina, PI
fato tivemos alguns atrasos, mas nossa equipe
André Souza Revista nas bancas já resolveu esse problema e pode ter certeza de
Salvador, BA Gosto muito da revista, que sempre traz que você encontrará sua revista nas bancas to-
matérias úteis para o nosso dia-a-dia musi- dos os meses. Um abraço!
Surpreendente cal. Continuem assim! Mas por que às vezes A redação
O que dizer de uma revista que a cada mês
vem surpreendendo com matérias inte-
ressantes e relevantes para nós, músicos e
instrumentistas de sopro. Só tenho a dizer:
meus parabéns!
Tom Silva
São Paulo, SP
Série Harmônica
Gostaria de sugerir uma que a Sax & Metais
nos premiasse com uma série sobre progres-
são harmônica e técnicas como vibrato, etc.
Gilvane Rosa
Angra dos Reis, RJ
Olá,Gilvane
Obrigada pela sua sugestão, sem dúvida é um
assunto que interessa a todos os músicos de sopro.
Anotamos aqui seu pedido e continue acompa-
nhando a revista, que em breve teremos novidades
a respeito. Abraços!
A redação

Fora do eixo
Fiquei muito feliz com a matéria sobre meu

SAX & METAIS NO ORKUT


Para saber informações da revista e trocar
idéias com outros músicos de sopro, parti-
cipe da comunidade da Sax & Metais no
Orkut - http://www.orkut.com/Community.
aspx?cmm=12315174. Já são mais de 1.300
integrantes que enviam comentários sobre
instrumentos, músicas, críticas e sugestões
para fazer a revista cada vez melhor. l

SAX & METAIS

JULHO / 2007 7
LIVE!
Aqui você confere a agenda de
shows e encontros de músicos
em todo o Brasil e fica
antenado com as novidades
do mundo do sopro

AMAZONAS NO CIRCUITO DE JAZZ


POR VERENA FERREIRA

TESTE

A s diversas manifestações
do jazz contemporâneo se
NOVIDADE

reúnem em Manaus de 25 a 29
de julho, durante o 2º Festival
Amazonas Jazz, uma promo-
ção do Governo do Estado.
ESTÚDIO TECNOLOGIA

Segundo o secretário de Cul-


tura, Robério Braga, o objetivo
do evento é promover o Ama-
zonas como destino cultural
e turístico, além de incluir a
capital no roteiro dos grandes
festivais internacionais do gê-
REVIEW

nero. A direção do festival está


sob a responsabilidade do ma- Festival em Manaus reunirá
estro português Rui Carvalho. grandes nomes da música
Graças ao sucesso da primeira instrumental brasileira
LIVE!

edição, este ano o evento ga-


nhou um dia a mais na programação, que inclui shows de artistas como workshops e oficinas sobre o universo do jazz, com o objetivo
nacionais e internacionais, como Mauro Senise Quarteto, Guinga de dar capacitação técnico-pedagógica a profissionais da música. Para
Grupo, Jeremy Pelt, Egberto Gismonti, Robin Eubanks, Spokfrevo mais informações, ligue para (92) 3232-1768 ou contate o e-mail
Orquestra, entre outros. O festival traz ainda alguns eventos paralelos, editar.am@uol.com.br. l

FÓRUM INÉDITO DE BANDAS E FANFARRAS PEDRO II EM FESTA

O I Fórum PlanetaBandas foi realizado de 1º a 3 de junho e teve apoio de vários maestros e re-
gentes de bandas e fanfarras. Cerca de 750 pessoas participaram do evento, que é inédito para
o segmento e que trouxe diversos debates culturais. Entre os principais estava uma palestra com
O Festival de Inverno de Pedro II rea-
lizou sua quarta edição entre os dias
7 e 10 de junho em Pedro II, que fica a
Rose Melsburguer sobre como formatar projetos para captação de recursos. O palestrante Nivaldo 195 quilômetros de Teresina, capital do
Percival também falou sobre os aspectos básicos da legislação de apoio à cultura. E na parte mais Piauí. Nomes como Derico, JJ Jackson,
prática do fórum, Márcia Helena Duque e os coreógrafos Alemão e Polini discorreram sobre os Yamandu Costa, Hamilton Holanda e
elementos coreográficos de linhas de frente e balizas. Para complementar a parte prática, Silvio Luiz Osvaldinho do Acordeon marcaram pre-
de Oliveira falou sobre as noções de arranjos, a escolha de repertório, a instrumentação e a formação sença no evento com shows gratuitos. Do
do grupo em fanfarras. E para falar sobre a Internet como meio de informação e marketing, o editor Piauí, os artistas Sérgio Mattos & Bumba
do site do PlanetaBandas, Marcio Mazzi Morales, também esteve presente. Para completar o I Fó- Trio, Ockteto, Italo e Renno e Trombone
rum PlanetaBandas, o público & Cia também deram um show no festi-
pôde conferir shows musicais val. Além da programação com os nomes
com o Coral Itaquaquecetu- do jazz e do blues, o clima agradável e o
ba e com o Grupo de Metais potencial turístico da cidade serrana ga-
da Banda Marcial Sênior do rantiram o sucesso do evento. Segundo a
Colégio Santa Isabel. Com o assessoria de imprensa do festival, estima-
sucesso da primeira edição do se que cerca de 10 mil turistas passaram
evento, a organização já mar- pelo local em decorrência do evento, que
cou a próxima para setembro trouxe também atrações do artesanato, da
de 2008 e promete novidades. gastronomia e da cultura, além dos sho-
Para mais informações, fique ws musicais. O IV Festival de Inverno de
atento ao site www.planeta- Pedro II é uma realização do Sebrae com
bandas.com.br. l apoio do Governo do Estado. l

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SAX & METAIS

JULHO / 2007
LIVE!

MÚSICA INSTRUMENTAL NA SERRA FLUMINENSE

O Quarteto Caixa Acústica vem se destacando no cenário mu-


sical do Rio de Janeiro. Em junho, o grupo abriu o Festival
Visa de Jazz, em Itaipava (RJ), com grande aclamação do público e
da organização. O Quarteto também foi convidado pelo segundo
ano consecutivo para integrar as atrações do Festival Sesc de Inverno
TESTE

do Rio de Janeiro. No dia 12 de julho o quarteto abriu o festival no


mesmo espaço em que Mauro Senise e seu quarteto fazem a festa da
música instrumental. Formado por Antonio Ribeiro (sax e flauta), O quarteto: Antonio Ribeiro (sax e flauta), Leonardo Miranda
NOVIDADE

Rodrigo Veiga (bateria), Henrique Branco (teclado) e Leonardo Mi- (baixo), Henrique Branco (teclado) e Rodrigo Veiga (bateria)
randa (baixo), o Caixa Acústica planeja vôos mais altos. “Recebemos
convites para tocar na França, Alemanha, EUA e Portugal. Estamos
vendo o que de melhor será possível fazer para conciliar todos os
ESTÚDIO TECNOLOGIA

eventos”, afirma Antonio Ribeiro, integrante do quarteto.


Ribeiro trabalha ainda como produtor de eventos do Casarão
Produções, outro destaque da região serrana do Rio de Janeiro e que
apóia o Caixa Acústica. Além de Ribeiro, Leandro Leite e Viviane Al-
bacete trabalham como produtores e são proprietários do local. Lo-
calizado em Teresópolis, o Casarão funciona como uma produtora
de serviços em áudio e vídeo, sendo um excelente local de ensaio para
REVIEW

músicos. A produtora promove ainda eventos musicais que fazem


parte do Projeto Workshows, que reúne artistas para se apresentar.
Pela ampla oferta de eventos e serviços, o local acabou se tornando
um ponto de encontro de músicos de destaque, como Arthur Maia
LIVE!

(acompanhado de Josué Lopez no sax), Paulo Calasans, Carlos Balla,


Uma das salas
João Bani e Zeppa, entre outros. “Agora, com a construção da Lona
de gravação
Cultural, poderemos abrigar, em vez de apenas 50 seletos lugares,
em média 400 pessoas”, conta Ribeiro. A produtora também faz gravações
digitais de áudio e vídeo, além de autoração de DVDs. Há três anos em
atividade, o estúdio conta com uma sala de ensaio de 48 m2 e prepara-
ção acústica, com possibilidade de gravar ensaios de músicos em tempo
real. Os músicos podem, ainda, contar com toda a aparelhagem necessária
disponível, bastando apenas trazer o instrumento. Contato do Casarão
Produções: (21) 2642-3366 e www.casaraoproducoes.com.br. Contato do
Quarteto Caixa Acústica: (21) 2642-4217. l

AS NOVAS TRAVESSURAS
DE EINHORN

A Delira Música acaba de lançar o novo CD do gaitista Maurício


Einhorn. Com o nome de Travessuras, o álbum foi produzido e
dirigido por Ricardo Leão, com arranjos de César Camargo Mariano,
Ricardo Leão, Jessé Sadoc e Vittor Santos. O disco foi lançado no dia 12
de julho na Sala Cecília Meirelles, no Rio de Janeiro (RJ) e é uma realiza-
ção da Delira Música, com apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Einhorn é filho de gaitistas e tem mais de 60 anos de experiência no
instrumento. Seu primeiro disco foi gravado em 1949 com o conjunto
de harmônicas Brazilian Rascals. Em 1957, participava ativamente do
movimento bossa nova, com várias músicas gravadas por intérpretes de
renome, como Tom Jobim, Hubert Laws, Herbie Mann, Cannonball
Adderley e outros. Einhorn recebeu vários convites e viajou para os EUA
para representar seu ‘jazz samba’ com parceiros ilustres como Joe Carter,
Jim Hall, Ron Carter, Herbie Mann, Richard Kimball, David Sanborn,
Monty Alexander, Nina Simoni, Nilson Matta, Romero Lubambo. O
início de algumas das 12 composições do disco pode ser ouvido no site
da Delira Música – www.deliramusica.com.br. Lá você pode obter ainda
mais informações sobre o disco e sobre o artista. l

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SAX & METAIS

JULHO / 2007
Marcelo Coelho no Siena Jazz Imortalizados também
na Internet

A mania de publicar vídeos de todos os tipos na web torna tudo


mais fácil. Imagens que antes pertenciam apenas a colecionado-
res ou curiosos agora estão expostas em sites como o Youtube (www.
youtube.com) e estão ao alcance de qualquer usuário da Internet.
Instrumentistas de sopro e saxofonistas de renome também marcam
presença em vídeos na web. Ao buscar por Miles Davis, por exemplo,
você pode encontrar mais de 6 mil aparições do astro do trompete. No
caso de John Coltrane,
ao fazer a busca, é pos-
sível optar entre mais
de 1.400 opções de ví-
deos em que o saxofo-
nista se apresenta solo
ou com convidados.
Como Coltrane e Da-
vis, que inclusive estão

O saxofonista, líder do grupo MC4+, esteve no festival italiano


e participou do 17° Encontro Internacional de Escolas de Jazz
(IASJ). “Fui convidado pelo David Liebman, curador do festival,
juntos em vários víde-
os, instrumentistas como Freddie Hubbard e Charlie Parker e tantos
outros podem continuar presentes graças à Internet e suas faces multi-
para lançar o meu CD, colagens, e dar uma masterclass sobre o uso mídias. Para visualizar um dos vídeos mais requisitados da dupla Davis
da polirritmia no meu processo composicional”, conta o músico. O e Coltrane, clique em: www.youtube.com/watch?v=U4FAKRpUCYY.
encontro aconteceu na cidade de Siena, de 7 a 13 de julho, e contou Para conhecer um dos solos de Coltrane, clique em www.youtube.
com a presença de escolas e universidades de jazz de mais de 30 paí- com/watch?v=2pXWKwUYGKg. Ou busque em www.youtube.com/
ses, incluindo representantes brasileiros, como o Souza Lima Conser- watch?v=EnSYHzyjZcM um dos vídeos mais vistos de uma das belas
vatório de Música. O Brasil será a sede desse encontro em 2011. l performances de Freddie Hubbard. Vale a pena conferir. l

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SAX & METAIS

julho / 2007
Marcelo Coelho no Siena Jazz Imortalizados também
na Internet

A mania de publicar vídeos de todos os tipos na web torna tudo


mais fácil. Imagens que antes pertenciam apenas a colecionado-
res ou curiosos agora estão expostas em sites como o Youtube (www.
youtube.com) e estão ao alcance de qualquer usuário da Internet.
Instrumentistas de sopro e saxofonistas de renome também marcam
presença em vídeos na web. Ao buscar por Miles Davis, por exemplo,
você pode encontrar mais de 6 mil aparições do astro do trompete. No
caso de John Coltrane,
ao fazer a busca, é pos-
sível optar entre mais
de 1.400 opções de ví-
deos em que o saxofo-
nista se apresenta solo
ou com convidados.
Como Coltrane e Da-
vis, que inclusive estão

O saxofonista, líder do grupo MC4+, esteve no festival italiano


e participou do 17° Encontro Internacional de Escolas de Jazz
(IASJ). “Fui convidado pelo David Liebman, curador do festival,
juntos em vários víde-
os, instrumentistas como Freddie Hubbard e Charlie Parker e tantos
outros podem continuar presentes graças à Internet e suas faces multi-
para lançar o meu CD, colagens, e dar uma masterclass sobre o uso mídias. Para visualizar um dos vídeos mais requisitados da dupla Davis
da polirritmia no meu processo composicional”, conta o músico. O e Coltrane, clique em: www.youtube.com/watch?v=U4FAKRpUCYY.
encontro aconteceu na cidade de Siena, de 7 a 13 de julho, e contou Para conhecer um dos solos de Coltrane, clique em www.youtube.
com a presença de escolas e universidades de jazz de mais de 30 paí- com/watch?v=2pXWKwUYGKg. Ou busque em www.youtube.com/
ses, incluindo representantes brasileiros, como o Souza Lima Conser- watch?v=EnSYHzyjZcM um dos vídeos mais vistos de uma das belas
vatório de Música. O Brasil será a sede desse encontro em 2011. l performances de Freddie Hubbard. Vale a pena conferir. l

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SAX & METAIS

julho / 2007
FESTIVAL COMEMORA DEZ ANOS
LIVE!

D e 25 a 28 de julho, em Búzios, balneário fluminense, aconteceu a


décima edição do Búzios Jazz & Blues Festival. O evento comemo-
rou dez anos com uma edição que apresentou Leo Gandelman (confira
matéria especial com o músico na página 20), Blues Etílicos, João Dona-
to, Charlie Hunter, Celso Blues Boy, Phil Guy, Cindy Blackman, Idriss
Boudrioua e a big band Big Time Orchestra. Os músicos passaram pelos
TESTE

palcos do Chez Michou e do Pátio Havana. O evento foi criado e or-


Grupo Dixie Square ganizado pelo grupo Chez Michou e acontece desde 1997. Ao longo de
NOVIDADE

suas edições, o festival trouxe músicos importantes do cenário nacional e


internacional, como Stanley Jordan, Fito Paez, Vernon Reid, Eric Gales,
Kurt Brunus, Ray Moore, Bernard Purdie, Marcos Valle, Yamandu Costa
e Ed Motta. Para Márcio Rangel, integrante da Big Time Orchestra, a
ESTÚDIO TECNOLOGIA

participação no evento foi muito importante não só do ponto de vista


musical, mas também de divulgação do trabalho. “Já participamos de
festivais e de eventos grandes, mas no de Búzios foi a primeira vez, não
só pela importância e magnitude, mas principalmente porque sempre
aprendemos muito com grandes feras do cenário musical. Essa troca de
experiências é maravilhosa”, completa Rangel. Nesta edição, vale des-
tacar que a preocupação com o meio ambiente também foi atração. O
REVIEW

grupo Chez Michou, por exemplo, aderiu ao movimento Amazônia para


Sempre e durante o evento foram coletadas assinaturas para o manifesto
Blas Rivera Leo Gandelman contra o desmatamento da Floresta Amazônica. l

UM GUIA PARA CLARINETISTAS


LIVE!

M ax Ferreira, clarinetista e professor do Conserva- Max Ferreira em demonstração para


tório de Tatuí, Tatuí (SP) lançou o Guia Técnico alunos, no dia do lançamento do Guia
do Clarinetista, durante o Encontro Internacional de
Madeiras. O material foi pensado a partir das experiên-
cias do professor nas oficinas do Pró Bandas, programa
mantido pelo Governo de São Paulo e coordenado pelo
Conservatório. O guia aborda o tema da qualidade do
som, o que Ferreira considera uma das principais carên-
cias dos músicos instrumentistas, particularmente clari-
netistas. A publicação trata do processo de respiração,
que é parte essencial na produção de uma boa qualidade
sonora, sem deixar de lado aspectos básicos como a em-
bocadura. O Guia custa R$ 6 e pode ser encomendado
pelo telefone: (19) 3554-1746 ou pelo e-mail max.fer-
reira@itelefonica.com.br. l

HOMENAGEM – 40 ANOS DA MORTE DE COLTRANE (17/07/1967) Por David Liebman

F az exatos 40 anos que aterrissei em Estocolmo, na Suécia, e liguei para


o pianista Lars Wener, cujo número me havia sido passado pelo bai-
xista Cameron Brown. Depois dos cumprimentos tradicionais, Lars me
me fez perceber que havia algo a mais na existência
do que somos materialmente ou do que vemos em
nossa frente. Vale ressaltar que, durante quatro dé-
perguntou: “Você soube que John Coltrane morreu hoje?”. Imediatamen- cadas, a força da música de Trane só cresceu mais e
te comecei a chorar, enquanto Lars me apressava para pegar o trem de volta mais. Muito em função dos freqüentes lançamentos
à terra do mestre. de ‘novos’ materiais, mas é mais do que isso. Por iro-
Eu estava na hora e no lugar certos nos anos 1960, e pude ver Trane nia do destino, fui me tornando um músico melhor
tocar muitas vezes em Nova York. Foi algo totalmente espontâneo, mas nesse período, e minha admiração pelo talento e profundidade que Coltra-
mudou minha vida desde então. Eu não seria a mesma pessoa sem a mú- ne dedicava ao seu trabalho e ao mundo só poderia aumentar.
sica de John Coltrane. Qualquer palavra que eu escreva não vai expressar Essa realidade reforçou minhas convicções sobre o poder da arte na
meu apreço e privilégio de ter testemunhado sua grandeza. Sua música é elevação da vida humana. Se você tem um modelo como esse na mente e
quase uma crença em um poder superior, me fazia acreditar nisso. nos ouvidos diariamente, tudo fica muito claro em proporção, no mundo
Qualquer pessoa que me conheça, pessoalmente ou por meio da minha real e musicalmente. Sou um cara de sorte!
música, sabe o quanto Coltrane foi importante em minha vida. Sua música Obrigada, John, e que você continue a descansar em paz. l

12
SAX & METAIS

JULHO / 2007
JOVENS TALENTOS
Vida de Músico POR DÉBORA DE AQUINO FOTO: HENRIQUE SOUSA

EDU AMARAL
O
mais novo integrante da
banda Placa Luminosa se
prepara para o lançamento
do seu primeiro CD-solo
Sua trajetória musical começou em Vali-
nhos, interior de São Paulo, e não exatamente
JOVENS TALENTOS: POP, SMOOTH E JAZZ COM SWING BRASILEIRO

com o saxofone. Edu Amaral deu seus pri-


TESTE

meiros passos nos instrumentos de harmonia,


violão e piano, até que aos 14 anos conheceu
o sax e, por indicação de Léo Gandelman, foi
NOVIDADE

estudar com Wilson Teixeira em São Paulo.


Seis anos mais tarde, entrou no Conservatório
de Tatuí. Hoje é saxofonista da banda Placa
ESTÚDIO TECNOLOGIA

Luminosa, com quem gravou recentemente


um DVD ao lado de Milton Guedes e Filó
Machado. Já se apresentou em diversas casas
de shows em São Paulo e atuou em bandas de
vários estilos e formações.
Pop, smooth e jazz
Formação: “Depois de algum tem-
po tendo aulas com Wilson Teixeira, aos
com swing brasileiro
20 anos fui estudar no Conservatório Dr. rica graças à quantidade de informação fa- a Ébano Music, em São Paulo. Todos os
REVIEW

Carlos de Campos, de Tatuí, com Vinícius cilmente encontrada, mas alguns cuidados meus saxofones são revisados e regulados
Dorin. Mais tarde, em São Paulo, convivi devem ser tomados nesse sentido. Percebo lá. As palhetas que uso são específicas e
com o Manito, com quem adquiri muita muitos iniciantes tentando estudar sozi- não existem em outra loja no Brasil”.
presença de palco, graças às oportunidades nhos com o material que baixam em diver- Sideman: “Placa Luminosa é uma
LIVE!

que ele me deu”. sos sites, adquirindo, assim, muitos vícios e banda diferenciada das outras justamente
Influências: “Wilson Teixeira foi meu estudos avançados demais para o nível em pelo alto nível instrumental. Tenho muitas
espelho durante anos. Léo Gandelman foi que se encontram. O músico que possui possibilidades de solos, praticamente em
o caminho por onde tudo começou. Gosto um objetivo e procura orientação de bons todas as músicas, então revezo com o pia-
da forma rica e consciente com que ele de- profissionais tem a possibilidade de uma no do Eric Escobar ou a guitarra do Ribah
senvolve seus improvisos, encaixando frases formação mais sólida”. Nascimento. Existe muita liberdade de
de bom gosto nas harmonias. Manito foi a Endorser: “Sou amigo do João Cuca criação dentro dos arranjos. Muitas vezes
grande referência em meu lado sideman”. há muitos anos e endorser de sua empresa, transformamos músicas simples, como Es-
Estilo: “Gosto do som um pouco mais paço na Van, do Ed Motta, em um samba
escuro no sax, com mais graves. Tenho SETUP DE EDU AMARAL ou jazz totalmente instrumental, fazendo
uma influência direta do som do Grover com que sempre exista a interação entre o
Instrumentos
Washington Jr., do peso no timbre do sax. solista e o sideman”.
• Sax Alto Conn Lady Face 1935, boqui-
Ouço muito soul, smooth – esse estilo me CD-solo: “Meu CD foi gravado nos
lha Beechler custom #7 e Barkley S10S,
fascina – e procuro focar meus objetivos estúdios Sapo, em Valinhos. O repertório
palheta Légère 2¼”.
sem pensar em rótulos. Meus CDs de ca- foi todo autoral. Contei com a participa-
• Sax Tenor Conn Director 1960, boquilha
beceira têm Grover Washington Jr., Gary ção de diversos compositores, com exce-
Otto Link NY STM 8, palheta Alexander
Bias, do EW&F, Gerald Albright, Maceo ção da última faixa, uma regravação com
Superial 2¼”.
Parker. Tive uma fase Eric Marienthal tam- um arranjo mais atual. O álbum possui
• Sax Soprano Winstom customizado pela
bém. Gosto muito de um músico brasilei- dez faixas, entre elas, samba rock, shuffle,
Ébano, boquilha N modelo David Lib-
ro que é o Lincoln Olivetti. Um dos seus smooth e balada. Contei com a participa-
man 8, palheta Alexander Superial 2.
melhores CDs é o Robson Jorge e Lincoln ção dos músicos Eric Escobar, Ary Nas-
Olivetti, de 1982. É um som muito atual, Acessórios cimento, Ribah Nascimento e Luizão,
os arranjos dos naipes muito bem escritos, • Microfone AKG WMS 40 UHF, plugado todos do Placa Luminosa, além de Victor
harmonias complexas e muito bom gosto. num rack com um processador de efeitos Marcellus, Edu Longuin e Bruno Brito.
Se os americanos têm Quincy Jones, nós Behringer DSP2024 Pro e um processa- O disco está em fase de masterização,
temos Lincoln Olivetti”. dor de vozes Vocalist 2, controlados por realizada pelo Valter Lima nos estúdios
Música e Internet: Acredito que hoje a um foot controller Roland GF50 e um Mosh, com previsão de lançamento para
formação do músico brasileiro é muito mais pedal de volume FC100 Behringer. o próximo semestre”. l

14
SAX & METAIS

JULHO / 2007
Tecnologia e
procurasse perceber a estética e as demandas de cada estilo, e
me fez desenvolver uma grande versatilidade”, comenta.
Na música popular, atuou e gravou com diversos artistas,

diversidade de Ronnie Von e Wanderléa a Leandro e Leonardo e Zezé di


Camargo e Luciano, com quem participou das gravações do
DVD Acústico MTV.

musical Mas, com um espírito inquieto, sempre buscando no-


vidades, Oliveira não pára. Também arranja tempo para dar
aulas e gerenciar seu próprio home studio, onde trabalha com
O saxofonista desenvolve pequenas produções. Além do saxofone alto, do soprano e da
1

flauta, ele incorporou o wind-synth (controlador midi de so-


projetos em seu home studio e
2

pro) e alguns instrumentos étnicos.


PERFIL

incorporou o wind-synth em Gaúcho de Porto Alegre, Oliveira nasceu em 1958 e in-


3

gressou na faculdade de Composição e Regência da Univer-


seu setup
Tecnologia e diversidade musical
PAULO OLIVEIRA
POR DÉBORA DE AQUINO

sidade Federal do Rio Grande do Sul, aos 18 anos, em sua

D urante seus 30 anos de carreira, Paulo Oliveira já teve a


oportunidade de atuar em ambientes musicais muito
distintos. O saxofonista e flautista, que integra o grupo ins-
cidade natal. Mas o impulso e a vontade de morar e trabalhar
em São Paulo falaram mais alto e o saxofonista decidiu tentar
a sorte na capital paulista em 1981. “Apesar de não ter com-
trumental Zarabatana desde 2001 e gravou o CD Mistérios, pletado a graduação, o contato com o mundo acadêmico me
já passou por bandas de baile, orquestras sinfônicas, grupos de levou a uma convicção muito forte da necessidade do estudo”,
música judaica, pop, sertanejo, jazz, gospel, new age e instru- afirma. Essa visão da música ele aprendeu com seus professo-
mental brasileiro. Tantas experiências diferentes lhe renderam res, músicos do naipe de Eduardo ‘Lambari’ Pecci, Amilson
um ótimo jogo de cintura. “Não sou um grande expoente Godoy, Roberto Sion e Armando Albuquerque. Todos eles
em nenhum desses gêneros, mas essa diversidade fez com que deixaram marcas importantes em sua formação.
FOTOS: TIAGO GRACINDO
PERFIL PAULO OLIVEIRA FIM

Com a mudança para São Paulo, veio SETUP DE PAULO OLIVEIRA


também a chance de atuar na música eru-
dita. O músico integrou o quadro da Or- • Saxofone Alto Selmer Mark VII, boquilha Eugéne Rosseau Studio Jazz, palheta Bari
questra Sinfônica do Teatro Municipal de Star Medium
São Paulo, de Ribeirão Preto e da Sinfonia • Saxofone Soprano Yamaha 62, boquilha Bari 64, palheta Bari Star Soft
Cultura. Foi também sideman de diversos • Flauta Yamaha
artistas da música popular. • Flautim Büescher
• Wind-Synth Yamaha WX11 e WX5
CARREIRA Na internet: www.myspace.com/paulolliveira
INTERNACIONAL
Não é novidade que a qualidade da música das grandes lojas de música locais há um espaço
brasileira é muito respeitada no exterior e que a especial para a música brasileira, com revistas
recepção na Europa e nos Estados Unidos está especializadas editadas por lá. O saxofonista até
cada vez melhor. “Tom Jobim falava que a saída se arrisca a dizer que o público japonês conso-
para o músico brasileiro era o Galeão”, lembra me melhor música que os brasileiros, em ter-
Paulo. Hoje, o aeroporto ganhou o nome do mos qualitativos. “Tocamos no Festival de Jazz
mestre da música brasileira, uma forma de re- de Kutchan e, em Yokohama, fizemos uma
conhecer os talentos que fizeram e fazem suces- pequena temporada na casa de shows Motion
so aqui e lá fora. Mas Oliveira faz uma ressalva: Blue. Em poucas ocasiões tive a oportunidade
“Muitos grandes músicos brasileiros são mais de observar tanto carinho e respeito pela músi-
reconhecidos no exterior do que no Brasil”. ca brasileira”, destaca.
Há 19 anos, Oliveira decidiu sair pelo hoje
Aeroporto Tom Jobim em busca de reconheci- HOME STUDIO
mento fora do País. Sua primeira atuação em E WIND-SYNTH
terras estrangeiras foi em 1988, em Montreal, A idéia de ter um home studio que possi-
no Canadá. Engana-se quem imaginou que bilitasse a gravação de trabalhos musicais com
o saxofonista começou em bares ou tocando boa qualidade era um sonho antigo de Paulo.
em casas noturnas de pequeno porte. Ele deu Foi pensando nisso que estruturou seu estúdio
início à carreira internacional em grande estilo, em casa. O objetivo inicial era produzir traba-
participando do tradicional e respeitado Festi- lhos com suas composições, mas já fez alguns
val Internacional de Jazz da cidade canadense. demos, inclusive de seu grupo, o Zarabatana.
Nessa época, era integrante do quarteto do gui- Também produziu material didático e utiliza
tarrista Olmir ‘Alemão’ Stocker, que contava as gravações para documentar o avanço de seus
alunos. “O estúdio é um campo constante de
ainda com João da Paraíba na percussão e Zezo estudo, não só dos aspectos tecnológicos envol-
ESTRÉIA-SOLO Ribeiro no violão. No repertório havia sambas, vidos, mas também da interação desta lingua-
Oliveira agora se prepara para lançar seu chorinhos, baiões, ritmos do sul – todos parte gem com o ‘criar’ artístico”.
primeiro CD-solo. Trópico de Capricórnio do trabalho autoral de Alemão. Mas o saxofonista vai além do estúdio no
é o nome mais cotado para o álbum, em Com o mesmo grupo foi para Nova York, que diz respeito às questões tecnológicas. Des-
referência à localização geográfica da Los Angeles e voltou a Montreal, onde a recep- de 1989, vem fazendo experiências e utilizando
cidade de São Paulo. O disco trará oito tividade do público foi semelhante à primeira com freqüência o controlador midi por sopro,
passagem. “Isso me surpreendeu, porque não o wind-synth. É um instrumento eletrônico de
composições próprias de diferentes épo-
queria tocar igual a ninguém, mas sim pen- sopro que possui um sistema de chaves seme-
cas de sua vida. São músicas compostas
sando em suingar de um jeito bem brasileiro. lhante ao dos saxofones e que quando é ligado
de dez anos para cá e que documentam
E foi ali que percebi o valor da nossa música”, a módulos de som, possibilita o acesso a uma
o processo de implementação do home-
relembra. Mais tarde, com o acordeonista To- enorme paleta de sons sintetizados ou sample-
studio e da forma de compor utilizando
ninho Ferragutti e com a Orquestra Popular ados, além de uma extensão impensável para
meios eletrônicos. Mas, ao contrário do
de Câmara, com quem esteve na Europa, os os saxofonistas (sete oitavas) e até a execução
que possa parecer, houve a preocupação resultados positivos se repetiram. de intervalos harmônicos. Ao longo de 11 anos
de manter bem presente a linguagem e os Outra boa parada para a música brasilei- trabalhando com esse instrumento, Oliveira já
ritmos brasileiros. Neste trabalho, ele toca ra tem sido o Japão, uma nação de cultura tão o utilizou em apresentações ao vivo, no estú-
wind-synth, flauta, sax soprano, sax alto, rica e diferente, com um público capaz de re- dio, e até mesmo como ferramenta para edição
flautim, pife e algumas percussões. Estão verenciar diversos estilos de músicos do Brasil. de partituras por computador. “Posso assumir
com ele nesse álbum músicos como Guelo Oliveira vivenciou isso de forma muito con- funções diferentes numa banda e no estúdio
no pandeiro e na moringa, Edu Contreras tundente em 2002, quando esteve no país com acesso com facilidade o sequencer e o editor de
nas congas e na percussão, Zezinho Pito- a cantora Ana Caram. Tocaram um repertório partituras, tocando em tempo real o que quero
co na zabumba e no triângulo, o grupo composto basicamente de bossa nova, gênero ver escrito. O wind-synth é uma ferramenta de
Zarabatana e o pianista Beba Zanettini. que os japoneses adoram. Inclusive na maioria criação muito importante para mim.” l

17
SAX & METAIS

JULHO / 2007
Rodrigo
Bento
E
5
CINCO MINUTOS COM

le se consolidou como saxofonista versátil


CINCO MINUTOS COM: RODRIGO BENTO POR REGINA VALENTE FOTOS: DIVULGAÇÃO
1

acompanhando por dez anos o grupo de


2

pop mineiro Jota Quest. Sua vida musical co-


meçou na adolescência, aos 14 anos, quando
3

ainda morava em Salvador, sua cidade natal.


4

Apaixonado por música, Bento decidiu se


tornar músico profissional e partiu em busca
5

de uma formação acadêmica consistente, for-


Balanço pop no sax
RODRIGO BENTO

mando-se bacharel em saxofone pela Universi-


dade Federal de Minas Gerais. “Mas antes, em
Salvador, fiz muita coisa com música baiana,
com o Araketu, no disco Bom Demais, que
me marcou bastante, porque o álbum vendeu
muito. Não gravamos com metais, e sim com Por dez anos, ele
um quarteto de saxofones: Augusto Gomes no
soprano, eu no tenor, Teco Sartorelo no barí-
acompanhou a
tono, e o Raimundo Bents, o saxofonista do banda Jota Quest.
Araketu, no sax alto”, explica.
O trabalho de inserir o sopro na axé mu-
Hoje, trilha seu
sic rendeu muitos trabalhos para o músico. “A caminho de forma
música baiana tem grandes arranjadores de
sopro hoje. Tanto com a Ivete Sangalo quanto
independente, com
com a Daniela Mercury, principais expoentes, grande sucesso
é fácil perceber que há excelentes arranjos”,
comenta. Já em Belo Horizonte, conheceu os
integrantes do Jota Quest e viu sua carreira deslanchar. > Sax & Metais – Você se considera um músico
“Aprendi muito e, com isso, você se disciplina. Instru- autodidata?
mento de sopro não tem como deixar de pegar, estudar”, Em termos, sim. Meu irmão mais novo, Daniel Bento, que
relembra. A parceria com o grupo mineiro terminou em também é saxofonista e toca na banda Cheiro de Amor, com-
2005, após uma mudança da própria banda – que deixou prou métodos que eu acabei usando também. O primeiro
de lado o naipe de metais no mais recente disco. Hoje foi o do Amadeu Russo. Essa forma de aprender dá muito
ele se dedica a trabalhos com bandas de black music e trabalho, porque é tudo na base da observação, onde coloca
pop, além do seu próprio naipe de metais, o Magic Horns o dedo, que chave aperta. Pensei que mesmo sem professor
(veja box na próxima página). eu queria aprender de uma forma correta, não achava que
tocar 100% de ouvido fosse uma coisa ideal, mas sim 50%
INFLUÊNCIAS de técnica e teoria e 50% de musicalidade. Na verdade, eu
• Raul Mascarenhas – “Conheci-o rapidamente aqui queria tocar piano, mas vendo o sax em casa comecei a pegar
em Salvador, um mestre do saxofone”. e tirar um som, de maneira empírica, sem técnica nenhuma,
só olhando o método. Eu e meu irmão começamos a tocar
• Leo Gandelman – “Admiro o seu trabalho e escuto- na mesma época. Ele fez muita coisa em Salvador mais vol-
o sempre”. tada para o lado do axé, e eu na música erudita. Um ano
• Marcelo Martins – “Tem um timbre fantástico e im- depois, entrei para a Banda Sinfônica da Universidade. Era
provisa muito bem”. um grupo semiprofissional, porque a maioria dos músicos
fazia parte da Orquestra Sinfônica. Nesse grupo eram raros
• Vitor Assis Brasil – “Um marco, influenciou muita os músicos que não viviam de música. Cheguei achando que
gente. Tem um disco dele ao vivo no Rio de Janeiro, sabia ler tudo de primeira, mas não sabia. Estudava os méto-
Pro Zeca, que toquei com o Lula Nascimento, bateris- dos de divisão e cheguei a fazer uns bem difíceis, porém não
ta de Salvador”. havia tido contato, por exemplo, com compasso composto,
• Oberdan Magalhães, da banda Black Rio – 5/8, 7/8, essas coisas menos comuns. Foi na Banda Sinfôni-
“Um grande músico, que respeito muito”. ca que eu aprendi mesmo, lá foi a minha escola.
CINCO MINUTOS COM RODRIGO BENTO FIM

> Quantos anos você tinha? vamos. Isso por causa das execuções ao vivo, SOPRO MÁGICO
Comecei por volta dos 14, e com 15 para 16 de covers. Quando precisava de algum arran- Rodrigo Bento montou um naipe de sopros,
eu já tocava. jo, eu chegava com alguma coisa, o trompe- junto do ex-companheiro de Jota Quest, o
tista era o Paulinho (Paulo Márcio, hoje do trompetista cubano Jorge Seruto. “Temos
> Por que você foi para Belo Horizonte? Skank), que também escrevia. Ele acabou gravado muita coisa na área da música
Assim que saí de Salvador, prestei vestibular saindo e eu comecei a escrever mais por ne- gospel, apesar de não sermos evangéli-
para bacharelado em saxofone na Universidade cessidade mesmo. Com isso, ganhamos espa- cos”, conta. O nome surgiu inspirado no
Federal de Minas Gerais. Na época, só havia ço. Com o tempo, a porcentagem do naipe de que acontece nos Estados Unidos, em que
esse curso e outro em Brasília. O da UFMG fora que participava foi diminuindo. O disco os músicos batizam o conjunto de sopros,
era conduzido por um professor de técnica que Oxigênio (o penúltimo da banda) foi o divi- a exemplo do naipe de Phil Collins, o Phe-
até hoje está lá, o Dílson Florêncio, para mim, sor de águas: gravamos metade com o naipe nix Horns. “É uma maneira de identificar
um músico no mesmo nível dos grandes no- do Ed Motta, que era o Jessé Sadoc, o Lelê, um naipe que faz sempre trabalhos jun-
mes da música clássica mundial. o Audivas e o Vitor Santos, e a outra metade tos”, explica o saxofonista, que colocou o
era o Serginho do Trombone, o Bidinho e o nome Magic Horns no seu naipe por cau-
> Como conheceu o pessoal do Jota Quest? Zé Carlos. A partir daí, era só o naipe do Jota sa da tecnologia. “Somos em dois músicos,
Assim que cheguei a Minas, comecei a tocar Quest que gravava e escrevia os arranjos. mas na hora em que utilizamos recursos
muito na noite. Aliás, noite em BH é impres- de computador, tudo dobra e parecemos
sionante. Era a época em que o Skank estava > Que trabalhos tem feito atualmente? muitos, como uma mágica”, diz.
começando, tinha realmente muito trabalho. Toquei com a banda Black Rio durante uma
Eu tocava com muitos artistas locais, fazia co- temporada no Bleecker St., e com outros grupos a escrever mais. Utilizando a facilidade da tecno-
vers. Fiz também algumas peças eruditas como também e comecei a explorar mais o meu lado logia, aprendi que não é necessário ter um naipe
O Americano em Paris¸ Rhapsody In Blues, do de arranjador. Na Black Rio eu não fiz nada, os grande para fazer um ‘som grande’, basta ter um
G. Gershwin, com a Orquestra do Estado e arranjos já estavam prontos, eram do Willian bom arranjo e uma boa execução. A partir disso
também gravava muito. Aos poucos comecei a Magalhães. Mas, por influência disso, comecei dá para fazer dobras sucessivas e em cima des-
dar aulas. Fui para uma famosa escola america-
na chamada Pró Music e neste ano em que fui
para lá, eles queriam fazer um festival. Queriam
mostrar para o público o trabalho que era feito
lá dentro. Escolheram um lugar emblemático
de Belo Horizonte chamado Bar Nacional,
muito famoso na época. O Rogério Flausino,
do Jota Quest, foi tocar uma música com a
gente, chamada Fé Cega, Faca Amolada. Passa-
dos alguns dias, o guitarrista Marco Túlio me
ligou, falou que tinha me visto tocar no festival
e me perguntou se eu tinha interesse em tocar
com eles. Eles nem eram conhecidos ainda, fui
ao show, gostei. Na semana seguinte comecei a
tocar na banda. Seis meses depois eles assinaram O saxofonista vem
com a Sony Music, foi muito rápido. desenvolvendo um
trabalho que mescla
> Como era a sua participação? tecnologia com metais em
Nos primeiros discos, nós do naipe não gravá- seu naipe Magic Horns

sas dobras montar um naipe como se fosse bem


SETUP DE RODRIGO BENTO
grande. Quem escuta e não sabe que foi gravado
Instrumentos por duas pessoas, imagina que tinha um monte
• Saxofone soprano Weril Spectra II, boquilha Jaf (do sr. Andrade, luthier de de gente. Está aí a tecnologia a serviço da boa
Belo Horizonte) e palheta Vandoren 2 música, não é simplesmente utilizá-la para mas-
• Saxofone alto Weril Spectra II, boquilha B&N de massa e palhetas Vandoren carar um defeito. Outra coisa interessante é que
Java 2½ esses programas não têm limitações de canais,
• Saxofone tenor Weril Supremo, boquilhas Dave Guardala-Brecker e então, se precisarmos usar 15 canais para sopro,
Gary Sugal e palhetas Fibracell Medium Sof o programa vai abrindo e inserindo esses canais,
• Saxofone barítono Weril Spectra II, boquilha B&N 7 e palhetas Fibracell Medium Soft vai duplicando. É algo fantástico. l
Microfones
• Shure SM58 NA INTERNET
• Sennheiser 421 para performances ao vivo
Contato: magichorns@gmail.com

19
SAX & METAIS

JULHO / 2007
O que dizer de um músico que, até
2007, já vendeu mais de 90 mil
cópias de seu terceiro disco-solo? Estamos
falando de Solar, de 1990, que rendeu a
Leo Gandelman cinco indicações para
o Prêmio Sharp, marca histórica em se tratando
de música instrumental. Mas, para chegar aonde
chegou, o saxofonista trilhou um longo caminho.
Saxofonista, compositor, arranjador e produtor, iniciou
os estudos como a maioria dos músicos, ainda criança,
e tudo começou dentro de casa.

A mãe, Saloméa Gandelman, pianista, di-


retora e fundadora da Pró Arte, escola
de música no Rio de Janeiro, foi a primeira
man não via um futuro na música erudita.
Por volta dos 12 anos, montou um conjunto
instrumental na escola, batizado de Pró Arte
professora. Aos 5 anos de idade, Leo começou Antiqua, que se apresentava semanalmente.
a tocar piano e flauta doce. Seu pai, maestro Tocava flauta doce, viola da gamba e kru-
e produtor, também exerceu forte influência, mhorn (instrumentos antigos, de época).
quando mais tarde o saxofonista enveredou “Desenvolvi-me muito bem na flauta doce,
para o mundo da produção musical. chegando a ser solista da Orquestra Sinfô-
Mas acredite: este músico que hoje soma nica Brasileira, na ocasião dos Concertos
30 anos de estrada – 20 de carreira-solo – para a Juventude, quando fui convidado
não tinha em mente seguir profissionalmen- pelo maestro Isaac Karabtchevsky para to-
te na música. Apesar de ter começado car o Concerto de Brandenburgo, de J. S.
bem cedo e de ter freqüentado as Bach”, ele relembra.
aulas na Pró Arte, Gandel- Passado o entusiasmo de adolescente com
a música, decidiu seguir profissionalmente
como fotógrafo, e até fez alguns trabalhos im-
portantes nessa área. Mas, quando foi ‘apre-
sentado’ ao saxofone por um amigo, o lado

21
SAX & METAIS

JULHO / 2007
LEO GANDELMAN

Artista da criação

musical falou mais alto. Conheceu o jazz e suas “A idéia de criar


artimanhas, foi estudar na Berklee College of o meu estilo me
cativou. Fico muito
Music e, quando voltou, definitivamente ini-
recompensado
ciou sua carreira. quando viajo pelo
Sua primeira idéia era trabalhar como Brasil e vejo uma
músico de estúdio, e foi assim que permane- nova geração
LEO GANDELMAN – ARTISTA DA CRIAÇÃO

que se espelha no
TESTE

ceu por dez anos, período em que participou


de mais de 800 gravações com a maioria dos meu trabalho, que
estudou minhas
grandes músicos e cantores brasileiros – Mil-
músicas.”
CAPA

ton Nascimento, Toninho Horta, Ricardo


Silveira, Djavan, Rita Lee, Lulu Santos, Gui-
lherme Arantes. Em 1987, gravou seu primei-
ESTÚDIO TECNOLOGIA

ro disco-solo, Leo Gandelman, e fez grande


sucesso com a música A Ilha. Mostrando a
que veio como solista, o sucesso foi se fazendo
à medida que novos trabalhos eram lançados.
Hoje já são dez discos-solo. A carreira de
produtor também seguiu de vento em popa,
REVIEW

e o saxofonista ganhou diversos prêmios nes-


sa área: disco de ouro com o CD Virgem,
de Marina Lima, Prêmio APCA de melhor
produtor do ano de 1991, além de assinar
LIVE!

as produções de Plural, de Gal Costa, e de


Berimbau, de Paula Morelembaum.

> Sax & Metais – Você começou como flau-


tista no Grupo Pró Antiqua e da Orquestra
Sinfônica Brasileira. Como foi essa época?
Era bem bacana, eu fazia música barroca com
minhas irmãs e colegas da Pró Arte e nos apre-
sentávamos semanalmente no Rio. Também
faziam parte do conjunto Jacques Morelem-
baum, Helder Parente e Marcelo Madeira,
entre outros. A música barroca me ensinou a
prática de tocar em grupo e sempre variando
de instrumentos, já que eu tocava flauta doce,
violas da gamba e krumhorn (tipo de instru-
mento de sopro da era medieval). Desenvolvi-
me muito bem na flauta doce, chegando a ser filme Dona Flor e seus Dois Maridos, atuei na pela frente. Foi amor à primeira vista! Como
solista da OSB. Já a flauta transversal veio bem revista Manchete, fiz vários trabalhos profissio- influências poderia citar Paulo Moura, Nivaldo
mais tarde. Hoje ainda toco flauta, tenho todas nais. A fotografia foi muito importante por ter Ornelas, Oberdan Magalhães, David Sanborn
elas, mas não me considero um flautista. Toco sido meu primeiro contato com o mundo pro- e mais tarde John Coltrane.
mais em estúdios para gravações, às vezes faço fissional. Também aprendi sobre a questão da
um solo, até desenvolvo algumas coisas nesse criação, do ‘papel em branco’. Como estudei > Foi aí que você conheceu o jazz?
instrumento, mas não é o trabalho principal. muito esse aspecto, do desenvolver idéias pró- Quando comecei a tocar sax e descobri o jazz,
prias por meio da fotografia, quando conheci o improviso, isso me fez retornar à música. A
> Mas você quase não seguiu na carreira de o saxofone, a arte da criação no jazz foi o que idéia de criar o meu estilo e o meu som foi
música e foi ser fotógrafo. me encantou. o que mais me cativou no saxofone. Hoje
A idéia não era ser músico profissional, eu não posso observar que consegui isso. Fico mui-
via um futuro para mim na música clássica. > Como se interessou pelo sax? to recompensado quando viajo pelo Brasil e
Por volta dos 15, 16 anos, parei com a músi- Certo dia um amigo apareceu com um sax, e encontro toda uma nova geração que se es-
ca justamente por isso. Passei a gostar muito só de experimentar o instrumento foi o sufi- pelha no meu trabalho, que estudou minhas
de fotografia e comecei a trabalhar. Fui still do ciente para perceber as possibilidades que teria músicas, transcreveu meus solos. Acho que eu

22
SAX & METAIS

JULHO / 2007
CAPA LEO GANDELMAN

estava no lugar certo na hora certa. Já encon- > Qual é a sua visão do saxofone na músi- esse ano pelo selo Rádio MEC. Saiu em CD
trei muita gente que se considera influenciada ca erudita? comercialmente em homenagem ao centená-
pelo meu trabalho e isso é uma grande recom- O sax é um instrumento moderno dentro rio do Radamés e fizeram um DVD também.
pensa para mim. da música erudita, e o repertório que existe Esse disco é composto por quatro concertos
não é muito extenso, principalmente o re- realizados no Teatro Municipal do Rio de Ja-
> Como foi sua trajetória até a grava- pertório com orquestra. É um instrumento neiro: tem a Sinfonia Popular, o Concertino
ção do primeiro disco-solo em 1987, Leo solista por excelência e os concertos que exis- para Sax Alto e Orquestra de Câmara, que eu
Gandelman? tem para ele são lindíssimos. Eu não tenho gravei como solista, o Concerto para Violino e
Em 1977 fui estudar sax, arranjo e composição condições de manter embaixo do dedo todo Orquestra, gravado pela Antonella Pareschi, e
na Berklee College of Music, em Boston. Re- o repertório que existe. Aos poucos vou de- o Concerto para Orquestra de Cordas.
tornei ao Brasil em 1979, quando iniciei mi- senvolvendo concertos e incorporando-os ao
nha carreira profissional. Como a maioria dos meu repertório. Hoje tenho a Fantasia para > A partir desses trabalhos surgiu a idéia
músicos, comecei em bailes na noite e depois Saxofone e Orquestra, do Villa-Lobos, a Rap- de gravar Radamés e o Sax, seu mais re-
acompanhando diversos artistas em gravações e sódia para Orquestra e Sax Alto, de Claude cente CD?
ao vivo. Tive a chance de trabalhar com estilos Debussy, o Concertino para Sax Alto e Or- O projeto surgiu por ocasião da comemoração
musicais variados e observar o funcionamento questra, do Radamés Gnattali – que, aliás, foi do centenário do nosso grande maestro Rada-
do meio. Trabalhei em naipe de sopros com gravado com a Orquestra da Petrobras, sob més Gnattali. O Henrique Cazes, diretor mu-
Serginho Trombone, Márcio Montarroyos, regência de Isaac Karabtchevsky e lançado sical do projeto, me apresentou uma série de
Zé Carlos Bigorna, Bidinho e Oberdan. Mais
tarde trabalhei também como solista, depois
arranjador e produtor. Como produtor, fiz o
disco Plural, da Gal Costa, Virgem, de Marina
Lima, Jogo de ilusões, de Nico Rezende, além de
todos os meus discos.

> Solar foi o seu terceiro disco e obteve mui-


to sucesso, rendeu prêmios e o projetou nos
Estados Unidos, onde fez várias temporadas.
Como foi essa repercussão?
Esse disco foi, sem dúvida, o meu trabalho
de maior sucesso comercial e me ajudou a
abrir portas. Foi muito executado pelas rá-
dios americanas e mais tarde, em 1995, as-
sinei contrato com a gravadora americana
Verve e fui morar por um período nos Es-
tados Unidos. Fiquei por lá quase sete anos,
mas sempre vindo ao Brasil para cumprir a
minha agenda. Toquei em vários clubes e
festivais de jazz, de costa a costa, com direi-
to a seis temporadas no Blue Note, de Nova
York, onde tive a chance de dividir o palco
por dois anos consecutivos com o grande
violonista Baden Powell!

> Depois de todo o sucesso com música po- SETUP


pular, a partir de 2001 você fez trabalhos na
música erudita com a Orquestra Sinfônica Instrumentos
Brasileira no Lincoln Center e no Central • Saxofones Selmer Mark VI (todos)
Park, depois com a Orquestra Sinfônica de
Brasília e da Bahia. Como foi esse retorno à Acessórios
música erudita? • Sax alto: boquilha B&N, palheta Vandoren Jumbo Java #3
Têm sido belos momentos de encontro com a • Sax tenor: boquilha Otto Link Metal #6, palheta Vandoren Jumbo Java #3
grande música, em que tenho o privilégio de • Sax soprano: boquilha Bar i#68, palheta La Voz Medium
entrar em contato e interpretar obras maravi-
lhosas de grandes mestres. Um verdadeiro enri- Shows
quecimento e crescimento musical no sentido • Microfone Shure Beta 58
técnico e interpretativo, em que cada vez me • Efeito TC Electronics
sinto mais seguro. • M_One

23
SAX & METAIS

JULHO / 2007
LEO GANDELMAN

Artista da criação
idéias e a partir daí fomos chegando às conclu- missos, concertos, projetos, shows. Então, ora
sões. Os arranjos são todos praticamente origi- estou estudando um concerto, ora jazz. Procuro
nais, com pequenas adaptações — o Radamés me desenvolver o máximo possível. Também
já dizia tudo! Foi um trabalho muito feliz. Ga- estou estudando harmonia, tendo aulas parti-
nhamos o Prêmio Tim 2007 de Melhor Disco culares com o Vittor Santos para melhorar esse
Instrumental e foi gravado no meu estúdio. É aspecto, que é fundamental para quem quer
um disco dividido em três momentos: sax alto, conhecer a música por inteiro. Não tenho uma
LEO GANDELMAN – ARTISTA DA CRIAÇÃO

TESTE

sax tenor e naipes. Fizemos um levantamento agenda muito metódica, não sou muito discipli-
das obras mais marcantes do Radamés escritas nado, mas procuro estar sempre estudando e me
para sax. No disco gravamos pela primeira vez a desenvolvendo. No momento estou me fixando
Brasiliana #7 com quinteto, porque até hoje só mais na questão harmônica para poder ampliar
CAPA

existiam duas gravações feitas em duo de sax e meu espectro de possibilidades.


piano. Essa peça é muito importante para qual-
quer saxofonista, é muito bem escrita, além de > Em se tratando de estilo, como é o seu pro-
ESTÚDIO TECNOLOGIA

ser um estudo espetacular para sax tenor. cesso de trabalho como compositor e como
arranjador?
> Além de todos os seus trabalhos, você ainda Não existe uma regra. Em composição, pode-
tem um estúdio? se começar por meio de uma levada rítmica,
Tenho um estúdio muito legal no Rio, o Zaga uma idéia harmônica ou uma melodia. A com-
Music. É um estúdio comercial, com cinco posição é trabalho, exercício. Como disse Stra-
salas. No site www.zagamusic.com.br dá para vinsky, 90% transpiração e 10% inspiração!
REVIEW

fazer um tour virtual bem completo, com a


descrição dos equipamentos. Tem um piano > Você também trabalha com aulas e
Yamaha C2, de cauda, três baterias, vários ins- workshops?
trumentos. É mais voltado para a música acús- Faço workshops sempre que possível, é uma
LIVE!

tica. As salas são interligadas e a idéia é fazer coisa de que gosto muito. Poder entrar em
gravações ao vivo. Há poucos estúdios assim. contato com os alunos, falar das minhas expe-
As pessoas estão cada vez mais limitadas a essa riências e da carreira. Também penso em dar
coisa de computador, eu vou no sentido con- aulas, estou me organizando para isso. Quero
trário. Acredito que o ‘ao vivo’ é o presente e o desenvolver meu próprio método, mas isso é
futuro da música, o trabalho fica pronto mais uma coisa que ainda estou internalizando.
rápido, e isso ajuda muito, já que os orçamen- Além do
tos não são elevados. Então, quanto mais rápi- domínio técnico > No momento está trabalhando em algum
do um disco for gravado, melhor. do saxofone novo projeto?
e da flauta, Tenho feito concertos clássicos divulgando
> O que o levou a trabalhar com produ- Gandelman é Radamés e o Sax. Com o meu trio, shows do
ção musical? reconhecido repertório do CD Lounjazz, meu primeiro
Isso foi algo natural. Comecei tocando em nai- pelo trabalho independente. Estou fazendo também a trilha
pes de sopro, depois fui me destacando como como incidental da novela Vidas Opostas, trilhas para
solista, depois como arranjador para sopros e produtor e o programa Globo Ciência e produzindo algu-
finalmente entrei para a produção. Meu pai era compositor mas faixas para o disco Berimbaum, da cantora
produtor de discos, tinha uma orquestra, a Se- Paula Morelembaum.
renata Tropical, gravou também um disco cha- DISCOGRAFIA
mado Saxambistas Brasileiros, era um conjunto > Apesar do caos cultural que vivemos no
Leo Gandelman (Polygram, 1987)
de sax. Desde pequeno convivo muito com País, como você avalia o espaço para a músi-
essa questão da produção. Quando comecei a Ocidente-Western World (Polygram, 1989) ca instrumental brasileira?
tocar, em 1987, o que eu queria era ser músico Solar (Polygram, 1990) Acho que o público não agüenta mais a mes-
de estúdio. Meus primeiros dez anos de carreira Visões (Polygram, 1991) mice e precisa de variedade. O Brasil é um país
foram voltados a isso. Fazia shows ao vivo tam- continental de cultura pluralista. Existe lugar
Made in Rio (Polygram, 1993)
bém, mas não era a principal atividade, o foco para tudo e a prova disso são os festivais que es-
era o estúdio. Tenho participações em mais de Pérolas Negras (1997) tão acontecendo até durante o Carnaval, como
800 CDs, parei até de fazer contas. Brazilian Soul (Dubas/Universal, 1999) o Goyaz Jazz Festival, em Goiânia, do qual par-
Leo Gandelman Ao Vivo – CD e DVD ticipei este ano, e o Guaramiranga Jazz&Blues,
> Você ainda tem uma rotina de estudo? (EMI, 2002/2003) em Fortaleza. Nem todos querem a mesma
Infelizmente não, porque viajo muito e não te- Lounjazz (Saxsamba, 2005) coisa. Sou a favor da democratização e da seg-
nho muita regra em minha vida. Vou estudando mentação do espaço cultural, bem como da
Radamés e o Sax (2006)
de acordo com a necessidade, com os compro- valorização da produção local.

24
SAX & METAIS

JULHO / 2007
O poder das madeiras
nas orquestras
Evento inédito atraiu pela
qualidade de palestras e concertos
e contou com a participação de
artistas internacionais, como o
MADEIRAS DE TATUÍ
ENCONTRO DE
POR DEISE JULIANA DE OLIVEIRA, DE TATUÍ

flautista italiano Raffaele Trevisani

A flauta, o oboé, o clarinete e o fagote foram as


estrelas da primeira edição do Encontro Interna-
cional de Madeiras de Orquestra, realizado entre os
dias 21 e 24 de junho. O evento atraiu nomes reco-
nhecidos no mundo todo e agradou aos mais de 270
participantes do evento. Eles vieram dos mais dife-
rentes pontos do país para acompanhar aulas, recitais
e concertos com um único objetivo: aprimorar seus
conhecimentos no instrumento.
O I Encontro Internacional de Madeiras de Orques-
Rafaelle Trevisani,
tra reuniu artistas de alto nível e com grande experiência
FOTOS: KAZUO WATANABE

da Orquestra
pedagógica. Segundo os coordenadores Juliano de Arru-
Sinfônica Paulista

da Campos, Lúcius Mota e Max Ferreira, foi uma “opor-


tunidade única para aprimorar conhecimentos, trocar ex-
periências, participar de masterclasses, palestras, concertos
e recitais”.

MERCADO DE TRABALHO
O foco do encontro foi a formação do instrumen-
tista de madeira e sua preparação para o mercado de
trabalho. Músicos profissionais e amadores e estudantes
de todos os níveis estiveram presentes. Integrantes de
bandas, orquestras, cameristas e solistas tiveram espaço
para desenvolver seus talentos. Dentro das salas de aula,
a troca de informações foi constante. “Consegui dicas
importantíssimas para a minha formação”, disse Julio
Almeida, um dos fagotistas participantes do encontro.
Além das masterclasses tradicionais, o evento contou
com aulas do pouco convencional Leonardo Fuks. O
carioca PhD em Física ensinou sobre a fabricação de
instrumentos simplificados e mostrou, de forma diverti-
da, como um simples cano de construção pode se trans-
formar num ‘instrumento’. Foi interessante também
porque, durante as aulas, ele fez demonstrações.
No palco, as atrações superaram qualquer expecta-
tiva. O Quinteto Villa-Lobos, reconhecido pela sim-
patia e qualidade, abriu o show. O Quinteto Madeira
de Vento mostrou o melhor da música brasileira e o
Cristiano Alves, trio formado por profissionais da Osesp – Peter Apps,
da Orquestra Sérgio Burgani e Francisco Formiga – mostrou alta ca-
Sinfônica Paulista pacidade técnica.
ENCONTRO DE MADEIRAS DE TATUÍ O PODER DAS MADEIRAS NAS ORQUESTRAS FIM

A Orquestra de Flautas Brasileira João Masterclass


Dias Carrasqueira, uma das poucas no País Rogério Wolf
a manter-se em ensaio constante, recebeu
como convidado o grupo de choro Que-
brando Galho, em um encontro especial
regido por Fernando Penha.
O encerramento do evento foi primo-
roso, contando com a presença de Raffaele
Trevisani, Alexandre Ficarelli e Cristiano
Alves à frente da Orquestra Sinfônica Pau-
lista. Foi uma oportunidade única de rever
o talento reconhecido mundialmente do
italiano Raffaele Trevisani e de surpreender-
se com o verdadeiro show do jovem Cristia-
no Alves e seu clarinete.

TALENTO ITALIANO
Para os artistas, o encontro foi impor-
tante pela variedade de profissionais e ama-
dores da música que estiveram presentes.
“Fiquei fascinado. Tenho alunos de 8 anos Toninho
de idade até profissionais que tocam há bas- Carrasqueira,
tante tempo. Fico impressionado com o in- da Orquestra de
teresse”, disse Phillip Doyle, integrante do Flautas Brasileira
Quinteto Villa-Lobos.
Uma das principais atrações, o italiano
Raffaele Trevisani, ressaltou o estilo pe-
culiar dos brasileiros como ‘fundamental’
para o sucesso do evento. “Um encontro
como este só tem a acrescentar, tanto aos
alunos quanto aos professores”, comentou
o flautista.
Para Max Ferreira, um dos coordena-
dores, o encontro de instrumentos original-
mente construídos de madeira e com menor
projeção sonora dentro de um grupo or-
questral é rico pelos timbres diversificados.
“Eles exploram repertório de diversas épo-
cas e são instrumentos com menor poder

Orquestra de de som dentro da orquestra, mas que apre-


Flautas Brasileira sentam bastante versatilidade e repertório.
e convidados No encontro, trouxemos peças modernas e
os alunos extraíram informações positivas e
úteis”, afirmou o músico que, durante o en-
contro, lançou o Guia do Clarinetista.
Segundo o flautista Juliano de Arruda
Campos, que também coordenou o even-
to, a constância de encontros como este é
um marco importante para o Conservató-
rio de Tatuí. “Acho que este novo concei-
to de realizar encontros junto com outros
instrumentos é sempre proveitoso. Quan-
do se faz apenas de um único, excluem-se
outras oportunidades de relacionamento.
Este primeiro encontro foi muito impor-
tante para a união dos instrumentos de
orquestra”, concluiu. l

27
SAX & METAIS

JULHO / 2007
16
Por Débora de Aquino

exercícios para
entender
o blues
A palavra blue, em inglês, significa tristeza e lamento. Tem,
realmente, tudo a ver com a origem desse estilo musical, que
surgiu por volta de 1600, quando os primeiros navios negreiros norte-ame-
ricanos saíram para trazer mão-de-obra escrava da África para os Estados Unidos.
Ao chegar à costa americana, os escravos foram trabalhar nas mais próximo da forma que conhecemos hoje. No início, era uma
lavouras de algodão, milho e tabaco, enquanto outros se dirigi- música essencialmente vocal, que falava justamente das tristezas de
ram para a região do delta do Mississippi. A saudade que eles um povo, seguindo a própria tradução da palavra. Depois, os instru-
sentiam de sua terra natal, aliada à forte cultura folclórica africa- mentos pouco a pouco foram incorporados: primeiro, o banjo, que
na, deu origem aos chamados cantos de trabalho ou worksongs, acompanhava a voz, e instrumentos de percussão, como o djembe.
em inglês. Nada mais eram do que versos de lamento, vocais O banjo foi então substituído pela guitarra e por instrumentos capa-
entoados por uma voz e respondidos em coro pelas demais. zes de reproduzir as características da voz humana, caso da harmôni-
Passado um século dessa primeira manifestação, e com certa ca (gaita) e da própria guitarra ‘chorada’, que utiliza recursos que se
assimilação e influência da cultura branca, começa a surgir o blues aproximam do som de um gemido humano.

PARTE 1
FÓRMULA BÁSICA DE BLUES
Para expressar suas emoções por meio das letras das mú- não tinham qualquer noção de teoria musical, ela encontrou,
sicas, os escravos utilizavam versos muito simples que lhes em si, uma estrutura harmônica baseada em progressões de
permitiam improvisar enquanto faziam as melodias. Assim, acordes sempre fixas, e bem conhecidas dos bluseiros, que são
o blues foi assumindo uma forma de 12 compassos, dividi- capazes de tocá-la de maneira quase automática. Em sua for-
dos em três versos de quatro compassos cada um. Como esse ma original, a fórmula de blues possui somente três acordes, o
padrão se originou de maneira nada formal, por pessoas que I, o IV e o V graus de uma tonalidade. A progressão básica é:

Com base nessa progressão de acordes, o blues pode ser mais tradicionais e, em uma jam session, fatalmente al-
tocado em qualquer tonalidade, mas algumas tornaram-se guém irá sugerir um blues em Fá.

28
SAX & METAIS

JULHO / 2007
Fórmula básica de blues em Fá maior:

A esses acordes da fórmula básica, acrescentamos a sétima bora não estejam funcionando como tal, já que não resolvem
menor, transformando todos eles em acordes dominantes, em- em um acorde de tônica. Então, a fórmula básica passa a ser:

Em Fá maior:

PARTE 2
VARIAÇÕES HARMÔNICAS A PARTIR DA FÓRMULA BÁSICA
Com o passar do tempo, os músicos de jazz se apropria- é conhecida como jazz blues para ser diferenciado do blues
ram do blues e passaram a modificar sua estrutura básica, so- tradicional praticado pelos bluseiros. A seguir, a estrutura har-
fisticando a harmonia. Essa mudança na estrutura, por vezes, mônica de um jazz blues:

Em Fá maior:

Podemos criar uma série de novas estruturas a par- standards. Se fizermos uma análise harmônica, iremos
tir da fórmula básica. Essas progressões aceitam mui- descobrir que essas alterações nada mais são que as
tas substituições de acordes; a primeira variante cita- mesmas progressões com o uso de extensões de cadên-
da acima é a mais comum, e serve para uma série de cias e acordes substitutos.

PARTE 3
ESCALA DE BLUES
Depois da escala maior (jônica), as escalas de blues mos com cada mudança de acorde.
são as mais indicadas para a iniciação à improvisação. A Para construir a escala de blues, vamos nos basear em uma
grande sacada dessa escala é que ela pode ser tocada sobre escala maior natural e respeitar a seguinte seqüência de notas:
os 12 compassos da estrutura do blues, sem ter de evitar primeiro grau, terceiro grau menor, quarto grau, quarto grau
nenhuma nota. Poder ‘ignorar’ a harmonia é uma das fa- aumentado, quinto grau e sétimo grau menor, portanto: I,
cilidades que essa escala oferece, sem que nos preocupe- IIIb, IV, IV#, V e VIIb.

A partir dessa escala, é possível criar muitas linhas me- sonoridade, toque essa escala para sentir como, por si só,
lódicas, e o mais interessante é que essas melodias soarão apenas melodicamente, ela já tem uma forte característica,
muito bem dentro da estrutura do blues. Uma das carac- um jeito de blues.
terísticas melódicas mais atraentes desse estilo musical é o Aqui, vale a pena falar sobre a escala pentatônica. Ela
fato de podermos tocar a terça menor e a quarta aumentada pode ser maior ou menor e possui, como o próprio nome diz,
sobre os acordes maiores da progressão. Isso gera um ‘cho- apenas cinco notas. A pentatônica maior é derivada da escala
que’ melódico que caracteriza o blues: essas notas (3ª menor maior natural, e os graus IV e VII são eliminados. A menor, a
e 4ª aumentada) são as chamadas blue notes. Se você já está que mais nos interessa em se tratando de blues, é derivada da
acostumado a ouvir blues, ou se tem alguma noção de sua escala menor natural, eliminando-se os graus II e VI.

29
SAX & METAIS

JULHO / 2007
16 exercícios para entender o blues
BLUES

A escala de blues é muito parecida com ela. Observe que é (IV#) acrescentado. Assim, também podemos usar as escalas
uma escala pentatônica menor com o quarto grau aumentado pentatônicas menores em nossos improvisos em blues.
DÉBORA DE AQUINO - 16 EXERCÍCIOS PARA ENTENDER O BLUES

TESTE

Por isso, a escala de blues também é conhecida por pentablues.


TÉCNICA

PARTE 4
COMEÇANDO A IMPROVISAR
ESTÚDIO TECNOLOGIA

Para começar a sentir o blues, é importante ter no ouvido Dó (sem transposição), instrumentos transpositores em Bb e
a sonoridade de suas progressões. Para isso, sugiro que você Eb, e ainda instrumentos em clave de Fá.
comece tocando apenas as tônicas dos acordes, depois as trí- Exercícios:
ades. É muito interessante que esses exercícios sejam pratica- 1 Com o playback base, na tonalidade de Fá maior, toque
dos tendo um playback como base. Como material de apoio, apenas os primeiros graus (I) dos acordes.
indico o Volume 42 – Blues, da coleção Jamey Aebersold, 2 Quando entender a evolução dos acordes, passe a tocar
que vem com CD e pode ser utilizado para instrumentos em as tríades.
REVIEW
LIVE!

Seja honesto consigo mesmo nessa fase inicial de estudos, e 1 Utilize repetição de notas brincando com o aspecto rítmico.
tenha consciência de passar para a próxima etapa quando a so- 2 Pense em frases com poucas notas, de preferência usando mí-
noridade das progressões estiver bem aprendida. Então, é hora nimas e semínimas.
de começar a trabalhar com a escala de blues. Comece a tocar 3 Aos poucos, tente fazer frases com colcheias e tercinas.
somente a escala, nota a nota, em cima do playback base. 4 Use repetição de padrões rítmicos utilizando a escala nos sen-
1 Sinta a sonoridade dessa escala. tidos ascendente e descendente.
2 Ouça como ela soa bem em toda a extensão dos 12 5 Não saia tocando qualquer coisa. Pense na métrica e procure
compassos. fazer frases de dois ou quatro compassos; dessa forma, suas
3 Experimente também tocar a escala pentatônica menor des- idéias terão começo e fim.
crita acima para sentir a diferença entre elas. Todos os exemplos a seguir estão na tonalidade de Fá maior.
Escolha alguns para transportar e praticar em outras tonalida-
Exercícios: des. Com a prática, você conseguirá criar os seus próprios pa-
A seguir, alguns exemplos de licks (patterns, frases) de blues drões. Tente escrevê-los, é um ótimo exercício, depois transpor-
e algumas dicas para que você crie os seus próprios. te-os para outras tonalidades.

30
SAX & METAIS

JULHO / 2007
BLUES DÉBORA DE AQUINO FIM

6 Tente montar todas as escalas de blues. Para isso, observe a


configuração que foi dada no começo desta matéria. Depois,
confira com as 12 escalas a seguir.

RESUMO
1 O blues possui uma estrutura métrica invariável de 12 compassos. 3 Uma mesma escala pode ser tocada ao longo dos 12 com-
2 As progressões harmônicas também não variam, utilizando os acor- passos da progressão. Essa escala possui a terça menor e a
des I7, IV7 e V7. No jazz blues podemos fazer substituições e exten- quarta aumentada (blue notes), tocadas em acordes maio-
sões de cadências, mas tendo como base a estrutura-padrão. res, o que dá a sonoridade característica do blues.

CONCLUSÃO
A facilidade de se utilizar a escala de blues é muito grande. dades que podem ser usadas no blues para termos uma gama
Se tentar fazer linhas melódicas baseadas no que leu até aqui, maior de fraseados, assim como outras fórmulas, com har-
o retorno será positivo, já que quase tudo soará bem. Mas é monias substitutas. Lembre-se de que as escalas são o nosso
preciso tomar algum cuidado para não se limitar a essa escala. vocabulário, e que quanto maior ele for, mais interessantes
Voltaremos a falar nesse assunto, e veremos outras possibili- serão nossos improvisos.

31
SAX & METAIS

JULHO / 2007
CINCO MINUTOS COM:
1
2
3
4
5

5
NENÊ SANTOS
Sax, R&B e Jazz Fusion
NENÊ SANTOS

CINCO MINUTOS COM

Nenê Santos
POR DÉBORA DE AQUINO

Ele passou por alguns instrumentos antes


de chegar ao saxofone, e vem construindo
uma carreira de sucesso influenciado por
FOTOS: DIVULGAÇÃO

muito R&B e Jazz Fusion

N enê Santos é saxofonista e compositor. Gravou seu


primeiro disco em 2004, Dreams, que ele próprio de-
fine como forte influência do R&B, jazz fusion e pop. Sua
principal referência foi o irmão mais velho, Eliezer, que tocava
violão, e foi através desse instrumento que a música começou
a fazer parte de sua vida.
A primeira vez em que subiu em um palco foi no festival
de música de sua escola, acompanhando ao violão um amigo
saxofonista. Tocaram Unchained Melody, tema do filme Ghost,
e é claro que o centro das atenções foi o colega saxofonista. A
partir de então foi surgindo a identificação com o saxofone,
desejo que se tornou mais forte no ano de 1997, em um even-
to evangélico muito conhecido no meio, chamado Marcha
para Jesus. Nesta oportunidade, Nenê teve o prazer de ouvir
um dos grandes nomes da música evangélica no País, o pastor
e músico Esdras Gallo, que mais tarde passou a ser seu grande
incentivador musical e espiritual.
Nascido em São Paulo, logo mudou-se para Paulínia,
no interior do estado, e lá teve oportunidade de estudar mais
profundamente. Indicado por um amigo, soube que na cida-
de havia uma banda que ensinava música de graça, a Banda
Municipal de Paulínia. Foi nesse conjunto que Nenê teve as
primeiras lições de teoria até conseguir um lugar como ins-
trumentista, mas a trajetória não foi fácil até chegar onde
queria. “Levei cerca de cinco meses estudando teoria e solfe-
jando o Bona para poder emprestar um instrumento na ban-
da. Como precisavam de um tubista, o maestro logo me deu
CINCO MINUTOS COM NENÊ SANTOS FIM

um sousafone. Mas mal agüentava aquele


SETUP DE NENÊ SANTOS recida à música. Mas amo tocar, isso é o mais
instrumento enorme...”. Passados dois me- • Sax Alto Selmer Mark VII de 1973 importante. O pouco tempo que tenho com o
ses, Nenê conseguiu mudar de instrumento. • Boquilha Beechler Bellite Metal 7 sax eu aproveito ao máximo.
Foi “promovido” à requinta, um pequeno • Palhetas Vandoren 2 ½, Laz Voz
clarinete em Eb. Por caprichos do destino, a Medium ou Rico Jazz 2 ½ > Como foi chegar à gravação do seu primei-
banda acabou e o aspirante a músico teve de ro disco, Dreams, de 2004?
• Sax Soprano Yamaha YSS-675 Com o passar dos anos, senti a necessidade de
continuar seus estudos sozinho, e apesar das
• Boquilha Bari 70 gravar composições minhas. Conheci uma pes-
muitas barreiras que precisou superar, man-
• Palhetas Vandoren 2 ½, Laz Voz soa fantástica que produziu o meu disco e me
teve-se firme em seu propósito.
Medium ou Rico Jazz 2 ½ ensinou muito sobre música, o Erik Escobar.
> Sax & Metais - Não havia músicos na • Microfone AKG C-419 s/fio UHF Foi um trabalho experimental que resultou
família, até seu irmão Eliezer decidir es- • Módulo de efeitos Alesis Nanoverb nesse primeiro disco. Há participações interes-
tudar violão. santes que enriqueceram o trabalho, além de
Nenê Santos - No começo me interessei pelo ajudarem a abrir muitas portas para a divulga-
violão, em pouco tempo eu já estava tocando ção da minha música.
algumas coisas, mas meu irmão estava tocan-
do muito melhor, havia se desenvolvido muito > Qual é o estilo do seu trabalho?
mais do que eu. Mesmo assim continuei que- O CD possui um estilo de R&B, jazz fusion,
rendo aprender, e o interesse geral pela músi- pop... É uma mistura das minhas referências
ca começou a surgir e dura até hoje. Não me musicais e dos estilos que estudo e aprecio. Já
recordo muito bem, mas acredito que nessa se passou bastante tempo desde a concepção
época eu tinha entre 13 e 14 anos. do disco até hoje. Muita coisa mudou, idéias,
técnica, coisas novas. O disco permanece e é
> Depois do violão, sousafone e requinta veio muito bem-aceito.
o saxofone. Como aconteceu?
O desejo de tocar saxofone já existia, quando > Seu álbum é essencialmente instrumental
entrei na Banda Municipal de Paulínia, mas mas há músicas com vocais, como Awesome
fiquei desanimado, quando me foi dado um foi abandonado pela prefeitura local, já que a God. Por quê?
sousafone. Dois meses depois, pedi novamen- música não era considerada algo importante na Sempre gostei muito de cantar, minha noiva
te o saxofone, e desta vez recebi uma requinta, cidade. Eu, no fundo, não acreditava que teria é uma cantora excepcional. A idéia de utilizar
achei que já estava me aproximando do saxofo- um futuro brilhante como músico, por esta ra- arranjos vocais nas músicas foi dela, inclusive
ne. Tempos depois o homem que me ensinou zão dividia meus estudos de música com os de nesta que você citou. Montamos um pequeno
os primeiros passos na música instrumental, química, em uma escola profissionalizante em coral e gravamos. Sempre que posso coloco isso
o magnífico maestro João Chagas, faleceu e a Paulínia, em período integral. em prática nas gravações.
banda fechou por um período.
> E dava para conciliar com a música? > Você deve ter muitas composições novas es-
> Foi nessa época que você ganhou um saxo- Graças a Deus, essa outra profissão permitiu perando uma oportunidade, não?
fone de seus pais? que eu trabalhasse e pudesse ganhar dinheiro, Sem dúvida. Estou preparando a gravação de
Sim, ganhei um Weril Brasil caindo aos peda- assim pude investir meus ‘salários’ na música, mais um disco, que está com uma pitada de
ços. Graças ao aprendizado de música e leitu- comprando instrumentos, CDs, DVDs. música brasileira, mas sem perder minhas influ-
ra, consegui estudar muito por conta própria. Posso garantir que todo o ma- ências. É um trabalho que também irá contar
Precisei de algumas adaptações para mudar da terial que tenho eu já ouvi, com grandes participações. Posso adian-
requinta para o saxofone, mas foi rápido, acre- li e assisti várias ve- tar que está ficando muito legal.
dito que o desejo supera as barreiras... Com- zes, não aprendi Tenho uma banda, e sempre
prei muitas videoaulas, métodos, CDs, VHS nem um terço procuramos realizar
e DVDs. Já gastei muito dinheiro com isso, de tudo que te- apresentações ao
tenho uma coleção gigantesca, com mais de nho, mas aju- vivo com a for-
3 mil itens. dou muito a mação completa,
ter referência que conta comigo,
> Você seguiu autodidata desde então? e contribuiu Leandro Pacce na ba-
Após dois anos, um novo maestro, muito com- para o desenvolvimen- teria, Ernandes Araújo
petente, Dailton Lopez, assumiu a direção da to do meu estilo de tocar. no baixo, Emerson Nas-
Banda Municipal de Paulínia, então retornei Com o tempo, as coisas come- cimento na guitarra e Gi-
com muitos ‘vícios musicais’. Aprendi muito çaram a se complicar porque leade Philip no piano.l
com esse maestro e também sou muito grato trabalhando, fazendo faculda-
a ele pela paciência e dedicação aos estudos. de de engenharia e tocando, NA INTERNET
Um ano e meio depois, o projeto dessa banda deixei de dar a atenção me-
www.nenesantos.com

33
SAX & METAIS

JULHO / 2007
A versatilidade de
David Sanchez
ENTREVISTA ESPECIAL

Da percussão, ele migrou para o sax e se tornou


um dos principais nomes da geração young lions,
que despontou na cena musical nova-iorquina
como nova promessa do jazz. Hoje é um grande
expoente da música instrumental mundial
DAVID SANCHEZ
POR MARCELO COELHO*

N a década de 1990, as gravadoras de jazz americanas es-


tavam à procura dos chamados young lions, jovens ins-
trumentistas que despontavam na cena musical de Nova York
como as novas promessas do jazz. Dentre os jovens que vinga-
ram o termo, podemos citar os pianistas Marcus Roberts e Joey
Calderazzo, os trompetistas Roy Hargrove e Terence Blanchard,
o contrabaixista Christian McBride, e os saxofonistas Joshua
FOTOS: DIVULGAÇÃO

Redman e David Sanchez. Nascido em Porto Rico, Sanchez


se interessou primeiro pelos instrumentos de percussão, e o
sax ficou como segunda opção. Foi o contato com o jazz que
o fez mudar de direção, assumindo o saxofone como instru-
mento principal. Em pouco tempo, Sanchez já atuava profis-
sionalmente nos principais grupos de salsa e música folclórica
de Porto Rico. Após completar os estudos
de saxofone erudito na Escola Livre de Mú-
sica de Porto Rico, ele ganhou uma bolsa
integral para estudar na Rutgers Univer-
sity em Nova Jersey, Estados Unidos. Em
pouco tempo já estava trabalhando com
o pianista Eddie Palmieri, o trompetista
Cláudio Roditti e o saxofonista Paquito
D’Rivera, que o apresentou a Dizzy
Gillespie. A partir de então, a carrei-
ra de Sanchez deslanchou de forma
meteórica, e aos 21 anos já era requi-
sitado pelos grandes nomes do jazz,
como Kenny Barron, Roy Haynes e
pelo legendário baterista do quarteto de John
Coltrane, Elvin Jones.
Com sete discos gravados e cinco indicações ao Grammy
– o último disco Coral ganhou o Grammy Latino de 2005
como o Melhor Álbum de Música Instrumental, Sanchez de-
marcou território na competitiva cena do jazz e não se deixou
influenciar pela glamourização do music business. Nos dias em
que esteve no Brasil, Sanchez aproveitou para conhecer mais

SETUP DE DAVID SANCHEZ


• Sax tenor Selmer Super Balanced Silver, série 39.xxx
• Boquilha François Louis de madeira, nº. 8
• Palhetas Roberto Reeds, modelo Rigotti, nº. 5
ENTREVISTA ESPECIAL DAVID SANCHEZ

a música brasileira freqüentando todas as noites


o Ó do Borogodó, bar paulistano de chorinho,
samba de raiz e outros ritmos afro-brasileiros.

> Sax & Metais – Quando você começou a se


interessar por música?
David Sanchez - Meu irmão tocava instru-
mentos de percussão típicos de Porto Rico e
aos 8 anos de idade comecei a me interessar
por percussão. Minha iniciação musical for-
mal teve início aos 12 anos, na Escola Livre de
Música de Porto Rico, voltada para o estudo
da música clássica. Queria estudar percussão,
mas não havia vaga. Então, tive de me decidir
entre o oboé e o saxofone. Preferi o saxofone
por causa do som, mas meu plano era trocar
para percussão. Isso nunca chegou a acontecer,
mas mesmo assim eu freqüentava as aulas de
percussão e naquela época estudava mais conga
do que saxofone.

> Quando você decidiu abandonar a percus-


são e assumir o saxofone?
Quando tinha 15 anos, minha irmã trouxe para
casa uns discos de jazz. Era muito difícil encon-
trar esse material em Porto Rico naquela época:
um disco da Billie Holliday e um do Miles Da-
vis, que se chamava Basic Miles, uma compilação
das principais gravações dele. Foi com este disco todas as segundas, terças e quartas-feiras. Vários muitos discos de lá. Foi com ele que a minha
que eu ouvi pela primeira vez um saxofone to- músicos que tocavam nos navios sabiam desse irmã conseguiu os primeiros discos de jazz. Ele
cando jazz (Cannoball Adderley e John Coltra- lugar e quando estavam de passagem por Porto me sugeriu muitos discos e os que mais me
ne). Antes disso, tudo o que eu tinha ouvido de Rico iam ao The Place. Foi ali que aprendi vários marcaram foram os do Dexter Gordon e os do
saxofone eram peças de música clássica e música standards, All the things you are, Have you met Sonny Rollins.
folclórica de Porto Rico. A partir daí, comecei Miss Jones, Confirmation. Quando não conhecia
a ouvir mais jazz e a estudar mais saxofone, e a algum, perguntava o nome e o preparava para > Como foi a sua ida para os Estados Unidos?
percussão começou a ficar em segundo plano. a semana seguinte. Sempre preferi aprender os Depois que eu me graduei na Escola Livre de
Aos 17 anos eu já tocava sax com os principais standards de ouvido, transcrevendo dos discos, Música de Porto Rico, decidi parar com a música
grupos de música folclórica de Porto Rico, Ro- isso me ajudava na hora de improvisar. Também para estudar psicologia. Apesar de já estar tocan-
berto Rohena, Jesus Cepeda e outros. aprendi sobre improvisação, escalas e arpejos do profissionalmente, o curso de psicologia era o
com um saxofonista de Porto Rico chamado que mais me interessava na época. Depois de um
> Como você aprendeu a tocar jazz tocando Victor Payano. Se você quiser aprender alguma ano de curso, tive de repensar a minha decisão e
em bandas de salsa? coisa em qualquer linguagem, precisa saber ouvir cheguei à conclusão de que eu realmente queria
O que me atraía na música caribenha era o as inflexões e os rudimentos desse idioma. Cada fazer música. Fiz testes para a Berklee College of
ritmo e não o saxofone. Foi o jazz que me fez linguagem tem uma cadência, um fraseado e Music, em Boston, e para a Rutgers University,
querer ouvir e tocar mais saxofone. Eu ouvia uma inflexão diferente. Eu transcrevia muito e em Nova Jersey, e acabei indo para Nova Jersey.
e transcrevia muitos jazzistas, tocava com os a minha percepção era mais avançada do que o
discos e tentava improvisar paralelamente. Foi meu conhecimento, o que me deixava um pou- > Por que você preferiu a Rutgers University e
dessa forma que aprendi a tocar jazz. Foi uma co frustrado. Não conseguia saber exatamente o não a Berklee College of Music?
fase de transição muito importante, pois percebi que estava tocando quando improvisava, mas A principal razão foi porque a Rutgers Univer-
que a linguagem jazzística estava presente nas sabia que funcionava. sity ficava muito próxima de Nova York. Eu
minhas performances com os grupos de salsa, queria estar em Nova York com mais freqüência,
influenciando inclusive o meu estudo clássico > Quais foram suas principais influências? poder freqüentar as jam sessions e conhecer os
de saxofone. Aos 16 anos, minha mãe me levou a uma loja de músicos. Eu sabia também que não encontra-
discos que se chamava Dom Pedro, que ficava ria muitos músicos de Porto Rico lá, e poderia
> E como você aprendeu a improvisar? no porão de uma casa em San Juan. O proprie- vivenciar melhor a cultura daquele país. Outra
Havia um jazz club em San Juan, capital de Por- tário, Ramon, era um sujeito muito excêntrico razão foi que eles me deram uma bolsa de estu-
to Rico, chamado The Place, com jam sessions que vivia entre Nova York e Porto Rico e trazia dos integral. Foi um período muito importante,

35
SAX & METAIS

JULHO / 2007
ouvi muito jazz, eles tinham uma biblioteca fantástica. Foi nessa sou disso. Eu me arrependo muito de não ter tocado com o
época que percebi que precisava voltar à tradição, transcrever Elvin como gostaria.
Coleman Hawkins, Lester Young, os pilares do sax tenor. Meu
professor deveria ser o Frank Foster, mas ele teve um semestre > Quando surgiu seu interesse pela música brasileira?
sabático e nunca mais voltou, o que me deixou muito desapon- Foi na mesma época em que comecei a me interessar por
tado. O substituto foi o saxofonista John Purcell. Eu também jazz, também por influência da minha irmã, que ouvia muita
estudei com Kenny Barron, que mais tarde veio a ser o meu música brasileira, como Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal
conselheiro, quando deixei a universidade sem me graduar, Costa, Elis Regina, Tom Jobim. De alguma maneira, a música
porque comecei a tocar muito com Eddie Palmieri, com quem brasileira sempre esteve nos meus ouvidos, as melodias sempre
ENTREVISTA ESPECIAL

eu já havia tocado antes em Porto Rico. Depois com Cláudio estiveram na minha cabeça e, à medida que o tempo foi pas-
Roditti, Danilo Perez, Paquito D’Rivera, até que um dia o Di- sando, me sentia cada vez mais próximo dessa música. No meu
zzy Gillespie me ligou para excursionar com Mirian Makeba. recital de formatura do colegial, em Porto Rico, toquei uma
Por causa das gigs, não estava conseguindo freqüentar as aulas, peça do Brahms, um standard de jazz, e uma redução para
então fui conversar com o Kenny Barron para saber o que ele piano e saxofone da peça Fantasia para saxofone e orquestra,
achava, e ele me disse: “A escola estará sempre aqui!” Logo de- de Heitor Villa-Lobos, um grande desafio para mim. No meu
pois fiz a minha primeira turnê pela Europa, com 21 anos, para primeiro disco, gravei Cara de palhaço. No quarto disco, Obses-
DAVID SANCHEZ

o Montreux Jazz Festival, abrindo para o grupo do Miles Davis. sion, gravei Esta mulher e Morro não tem vez. No disco Melaza,
Foi inacreditável! que é quase inteiro original, incluí na última faixa a música
Veja esta canção, do Milton Nascimento. Em Travessia, gravei
> Muitos dos chamados young lions que despontaram como Pra dizer adeus, e, no meu último disco, Coral, gravei Eu sei que
novas promessas do jazz não conseguiram se estabelecer ar- vou te amar e Matita Per, ambos do Tom Jobim. Desde então,
tisticamente. A que você atribui isso? sempre incluo alguma canção brasileira no
Talvez a uma clareza quanto ao desenvolvimento de um concei- meu repertório. É muito importante
to musical, que vem com o amadurecimento. Muitos talvez se para mim, faz parte do meu desen-
perdem nesse processo. Na época, as gravadoras estavam atrás volvimento musical, é algo que está
de gente nova e a minha aparição com o Dizzy Gillespie abriu comigo, naturalmente. l
várias portas. Várias gravadoras me procuraram, Blue Note,
Sony Music. Eu não me sentia preparado para gravar, precisava * Marcelo Coelho é saxofonista,
aprender mais sobre a tradição. Mas entendi que aquela opor- compositor e líder do grupo MC4+.
tunidade talvez fosse vital para me estabelecer na cena, então to- E-mail: musikness@gmail.com
mei muito cuidado com a produção do disco. O meu primeiro
álbum, The Departure, pela Sony, teve uma excelente aceitação
de crítica, mas foi a partir do meu quarto disco, Obsession, pro-
duzido pelo Branford Marsalis, que me senti maduro, com
um conceito mais definido. O disco foi muito bem
aceito pelo público e pela crítica, e foi indi-
cado ao Grammy. Aprendi a lidar com o
music business, e consegui fazer com que
os meus discos refletissem o meu amadu-
recimento musical.

> Como foi o seu contato com o bate-


rista Elvin Jones?
Ele me viu tocando num festival de
jazz com o Roy Hargrove. Depois do
festival, me ligou e convidou para
tocar com ele. O meu disco tinha
acabado de ser lançado e a grava-
dora estava me pressionando para
Foi a partir do
não me comprometer com outros
quarto disco que
trabalhos. Então ele me convidou
Sanchez sentiu que
para ir a casa dele. A esposa dele
havia definido um
fez um grande almoço, ele me
conceito e um estilo
mostrou todas as baterias que usa-
para sua música
va, tudo para me convencer a tocar
com ele, mas infelizmente não pude
aceitar. Fiz algumas gigs com ele na
Blue Note de Nova York, mas não pas-
ANÁLISES

Envelhecido, mas com vigor

SAX ALTO CONDOR


S urgem no mercado várias marcas que não
sabemos se irão se estabelecer. O fato é
que elas estão se superando cada vez mais e
outros acessórios comuns, como correia,
flanela especial, e até um par de luvas
brancas de algodão para tocar em bandas.
Para ter uma idéia mais aprofunda-
da, também testei com minha boquilha,
uma Meyer #6. O grave do instrumento
SAX ALTO CONDOR– BOA SONORIDADE

fazendo bons instrumentos a preços altamen- Apesar de não ter numeração, a boqui- é poderoso, muito fácil de tocar e com
TESTE

te competitivos. Por isso, não me assustei ou lha é boa, fechada e tem boa sonoridade, muito volume e cor. Pena que esse tim-
me surpreendi ao ver o estojo do instrumento ideal para um iniciante. O sax vem em- bre não se mantenha em toda a extensão
NOVIDADE

que recebi para testar: um saxofone alto da balado em um saco de do sax. Acima do Sol da segunda oitava,
Condor. A empresa de Brasília, conhecida tecido leve, evitando o som começa a perder o brilho e ficar
pela importação de instrumentos de corda, o acúmulo de poeira um tanto pastoso.
está investindo pesado em sua linha de sopro. e/ou riscos no estojo. Na região aguda, o brilho volta um
ESTÚDIO TECNOLOGIA

Interessante tam- pouco, mas ainda se mantém pastoso.


PRIMEIRAS bém que o instrumento vem com Essa é uma observação que não impor-
IMPRESSÕES um pad-saver (escova secadora) e ta muito para um estudante e sim para
Notei que o estojo é bem elegante, leve e, que o sax é bem pesado. Para um quem tem pretensões mais ambicio-
ao mesmo tempo, robusto. Gosto desse tipo iniciante, principalmente uma sas, o que me parece fora da proposta
de case. O estojo do meu sax, por exemplo, é criança, pode ser um proble- do fabricante. Os harmônicos, com
tão pesado que evito utilizá-lo. Leveza é um ma. Mas, para quem gosta de uma boquilha melhor, saem também
ponto forte, principalmente para quem não som, isso é essencial. A correia com muita facilidade, o que comprova
REVIEW

tem carro, o que é realidade para muitos estu- é boa, porém a parte que vai a qualidade do material utilizado. A
dantes. Por outro lado, como o estojo é mui- ao pescoço é muito fina. Se- afinação é quase perfeita, apenas senti
to bonito, chama um pouco a atenção e não ria ainda melhor se fosse mais dificuldade ao tocar acompanhado por
é muito recomendado andar a pé com ele. larga e acolchoada na altura um piano. Talvez tenha faltado um
LIVE!

Nada que uma capa mais velha não resolva. do pescoço. pouco mais de tempo para que eu
O acabamento do instru- me acostumasse com o timbre. É
ACESSÓRIOS E mento é impecável. Na ver- sempre complicado tocar saxo-
ACABAMENTO dade, o sax se parece com o fone com piano, os harmônicos
Ao abrir o estojo, encontrei duas pa- Yamaha 62 com o desenho de não casam bem, leva tempo para
lhetas boas para o setup, além de todos os palma na campana. As chaves ajustar os timbres.
frontais, como no Yamaha, A anatomia e a mecânica do
SAX ALTO MICHAEL WASM 47 têm pequenos parafusos para instrumento são excelen-
a regulagem, o que é muito tes e ele é bem con-
Importador: Condortech prático e não tão comum. fortável. Pedi para
Prós: acabamento e excelente timbre Mais um ponto a favor. alguns alunos de
vários níveis ex-
nos graves
QUALIDADE perimentarem o
Contra: a qualidade do timbre não SONORA Condor e as res-
se mantém nas regiões média e aguda Na hora de tirar um postas foram mui-
som, utilizei a boquilha to positivas.
Preço médio: R$ 1.100,00 que acompanha o sax e to-
quei com facilidade em to- CONCLUSÃO
Garantia: 4 meses
das as regiões. É uma boqui- É um instrumento
Afinação ••••••••• 9 lha limitada na abertura e apropriado para um es-
Sonoridade ••••••••• 9 construção, e não é ideal tudante, mesmo de nível
Mecânica •••••••••• 10 para um profissional, mas médio. Serve até mesmo
Custo-benefício ••••••••• 9 é perfeita para quem está para quem está pensando
começando. Com uma em fazer um upgrade de seu
Utilização recomendada boquilha melhor é possí- equipamento ou para quem
❏ Estudo vel perceber mais nuances quer um segundo instru-
❏ Apresentações ao vivo com relação à sonoridade do mento e não deseja investir
❏ Gravação em estúdio instrumento. tanto capital. l

Quer falar com o autor dessa matéria? César Albino é professor da Faculdade de Música Carlos Gomes, em São Paulo. Contato: cesaracalbino@yahoo.com.br
Tire suas dúvidas com o importador: Condortech (61) 3629-9400 ou www.condormusic.com.br

38
SAX & METAIS

JULHO / 2007
ANÁLISES
Embalagem conserva qualidade

PALHETAS VANDOREN JAVA E V16


O s fabricantes de palhetas pro-
curam agradar músicos de
diferentes categorias e estilos e,
observar ao escolher uma palheta na loja,
já que não podemos experimentá-la. Em
termos de sonoridade, a V16 também tem

PALHETAS VANDOREN JAVA E V16 – EMBALAGEM CONSERVA QUALIDADE


para isso, preocupam-se com o

TESTE
mais brilho que a Tradicional, mas menos
cultivo das canas, o corte e a den- do que a Java. Por ser um pouco mais dura,
sidade. A última novidade é me- se comporta melhor nos agudos, mas para

NOVIDADE
lhorar também as embalagens. Já os graves é preciso um pouco mais de es-
se sabe que, mantidas a um nível forço. No geral, é bem gostosa de tocar.
de umidade entre 40% e 60%,
apresentarão um melhor desem- DIFERENÇAS

ESTÚDIO TECNOLOGIA
penho. Mas o que fazer para man- Java – Esta palheta foi desenvolvida
ter essas qualidades higrométricas para música popular e jazz. Sua ponta é
constantes? Essa foi uma das pre- mais grossa que a tradicional, mas a densi-
ocupações da francesa Vando- dade da cana é menor, o que faz com que
ren com a nova embalagem flow vibre mais, por ter maior flexibilidade. JA
pack, saquinhos de celofane que refere-se a jazz, e VA, a variety e Vandoren.
embalam cada palheta, para con- A Java tem o corte em U já saindo direto
trolar a umidade. Assim, é possí-

REVIEW
de sua base.
vel oferecer o máximo de proteção V16 – Muito semelhante à Java, indi-
contra agressões exteriores, como embaladas uma a uma cada para músicos de jazz e popular. Tam-
mudanças na umidade do ar, alte- em pacotinhos. A caixa bém tem a ponta mais grossa que a tra-
rações de temperatura ambiente,

LIVE!
para tenor vem com cin- dicional, mas maior densidade de cana do
poeira, entre outros problemas co unidades, peguei uma que a Java, portanto vibra menos. A V16,
decorrentes das dificuldades de boa logo de cara. Sor- como a Java, também possui o corte em
armazenamento. te? Pode ser. Mas então U saindo direto da base, mas o talão (par-
dei muita sorte, pois das te onde prendemos a abraçadeira) é mais
VARIEDADE cinco que vieram, gostei grosso que a da Java, demonstrando, por-
Quando comecei a estudar de quatro e a que sobrou tanto, maior quantidade de cana. l
saxofone, me recomendaram as não estava de todo ruim.
palhetas Vandoren Tradicionais, As outras estavam com o
da caixinha azul. Nesse modelo timbre de que gostei mais, PALHETAS VANDOREN
permaneci por muitos anos. Com uma questão bastante pes- JAVA E V16
o passar do tempo, conheci a soal. Essa palheta apresenta
Vandoren Java (desenvolvida em mais brilho no som do que Importador: Musical Izzo
1983), gostei bastante da sonori- a Tradicional, tem bom Fabricante: Vandoren
dade e mudei para ela. Depois, equilíbrio nos graves por
testei a Vandoren V16, e não é a ser mais macia, mas sofre Contra: válvulas um pouco lentas
minha preferida. Passados alguns um pouco nos harmônicos
anos, optei pelas palhetas sintéti- Preço médio: R$ 18,00
agudos. A resposta em arti-
cas, mas, recentemente, voltei às culações rápidas também é Garantia: 3 meses
‘canas’ naturais e senti a mudança de sono- menor que na Tradicional.
ridade para melhor, apesar de haver muitas
controvérsias de que as palhetas de cana VANDOREN V16
não têm padrão, e que de uma caixa não O controle de qualidade da fábrica
são todas as que conseguimos aproveitar. francesa de palhetas é bom, mas com es-
Mas isso é uma outra história. tas já não tive a mesma ‘sorte’, e das cinco
testadas, gostei de três. Aqui também veri- Utilização recomendada
VANDOREN JAVA fiquei defeito no corte em U, que em duas ❏ Estudo
Foi uma surpresa abrir a caixinha de palhetas não estava simétrico. A simetria ❏ Apresentações ao vivo
palhetas Java para tenor e encontrá-las do corte é um dos fatores que devemos ❏ Gravação em estúdio

Quer falar com o autor dessa matéria? Débora de Aquino (saxofonista e flautista): (11) 3567-3022 ou ajuda@saxemetais.com.br
Tire suas dúvidas com o importador: Musical Izzo (11) 3797-0100 ou www.musicalizzo.com.br

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SAX & METAIS

JULHO / 2007
VITRINE

Sax & Metais recomenda

VITRINE
Confira sugestões de instrumentos e acessórios
que estão chegando às prateleiras das lojas e
prometem fazer sucesso entre os músicos.

Trombone WTBM35
Ideal para músicos iniciantes, os trombones de vara da Michael
PRODUTOS NOVIDADE
SUGESTÕES DE INSTRUMENTOS E ACESSÓRIOS

têm afinação em Sib, acabamento laqueado e garantia de seis


meses para banho. Acompanham estojo de fibra superluxo.
Preço sob consulta. (31) 2102-9270 – vendas@michael.com.br. Sax Soprano Curvo
O SP 508 da Eagle traz
chaves ergonômicas, ajustadas
manualmente, que oferecem
maior conforto, respostas rápidas
ESTÚDIO TECNOLOGIA

e afinação precisa. Afinado em


SiB, tem acabamento laqueado
e parafusos em aço inoxidável.
Acompanha estojo extraluxo.
Preço sugerido de
Boquilhas Claude Lakey R$ 1.922,00. Contato
pelo (11) 6931-9130 ou
As boquilhas importadas
REVIEW

www.eagleinstrumentos.com.br
pela Musical Express
possuem som
encorpado, consistência
de timbre, entonação
LIVE!

e projeção em todos os
modelos. As medidas
da Claude Lakey são 4*3 e 5*3, produzindo um som
quente, enquanto as 6*3, 7*3 e 8*3 oferecem projeção
necessária para a maior parte das performances ao
vivo. Sua dinâmica, resposta e custo x benefício fazem
destas boquilhas as mais procuradas do mercado.
Contato pelo telefone (11) 3159-3105.

Cornetões Captain
A Captain, marca especializada em
instrumentos para bandas e fanfarras,
aumentou sua linha de produtos com os
cornetões em Fá e em Sib. Distribuídos
pela Arwel Instrumentos Musicais, o preço
médio dos instrumentos é R$ 350,00. Mais
informações pelo telefone (11) 3326-3809 ou
pelo site www.arwel.com.br.

Informações cedidas pelas empresas em julho de 2007. A revista Sax & Metais não se responsabiliza
por qualquer alteração nos produtos apresentados pelos fabricantes e/ou distribuidores.

40
SAX & METAIS

JULHO / 2007
REVIEWS

REVIEWS CDs POR DÉBORA DE AQUINO

Arapuca CD
compositor em quatro faixas autorais. Desta Samba de Latada
Artista: Gabriel Grossi vez escolheu o forró, tradicional gênero mu- Artista: Josildo Sá & Paulo Moura
Delira Música sical nordestino, como fonte de inspiração Rob Digital CD

(www.deliramusica.com) para o seu trabalho instrumental. O disco (www.robdigital.com.br)


traz também homenagens ao mestre da san-
PRODUTOS NOVIDADE
LANÇAMENTOS E SUGESTÕES DE CDS

fona, Sivuca, falecido em dezembro de 2006,


além de Hermeto Pascoal. A música que dá
título ao CD, composta por Rossi, poderia
ser encarada como uma ‘armadilha’ para o
músico desavisado, tamanha a dificuldade de
sua melodia, se o músico ganhasse por nota
executada! Festa em Olinda é outro bom mo-
ESTÚDIO TECNOLOGIA

mento do disco – a música é de autoria de


Toninho Horta, e de intensa sensibilidade.
Ainda aparecem composições de João Lyra,
Toninho Ferragutti e Egberto Gismonti, com
o tema Sete Anéis. A produção fica a cargo do
O jovem gaitista esbanja sensibilidade e próprio Gabriel Grossi e de Daniel Santiago,
virtuosismo em sua gaita cromática, desen- que assina os arranjos, além de tocar guitarra.
REVIEW

volvendo um estilo muito próprio em suas Também participam do trabalho Amoy Ri- Antigamente, no Nordeste, forró e samba
interpretações e improvisações. Em seu novo bas (percussão), Thiago Espírito Santo (bai- tinham o mesmo significado. Era uma festa
CD Arapuca, ele mostra seu talento como xo) e Durval Pereira (zabumba). em que se tocava de tudo, do baião ao cho-
ro. Com o passar do tempo, foram surgindo
Reunião de amigos para fazer boa música
LIVE!

as diferenças entre esses dois gêneros mu-


Performance sicais, e o samba carioca se consolidou no
CD
Artista: Fabinho Costa Brasil. No Nordeste, esse gênero foi adap-
Independente tado e a ele foram incorporados a sanfona,
O primeiro trabalho autoral do trompetista o triângulo, a zabumba e o violão. Passou
recifense Fabinho Costa, também compo- a ser chamado de ‘samba de latada’, título
sitor e arranjador, traz claras influências de do novo CD de Josildo Sá e Paulo Moura,
nomes como Miles Davis, Dizzy Gillespie, que traz de volta a mistura desses gêneros.
Chet Baker e Freddie Hubard. A primei- Josildo Sá é um dos destaques da música
ra faixa, Funk Davis, a princípio poderia pernambucana atual. O artista, compositor
ser mais um tema de jazz. Mas, após uma e cantor une as tradições da música nordes-
breve introdução-solo do trompete, vem tina sertaneja com a modernidade da capi-
o funk anunciado, de autoria de Fabinho, tal. Suas letras falam do sertão, das festas,
com apoio do sax tenor de Gilmar Black. dos amores. O encontro entre Josildo Sá e
Em Dizzy, mais uma homenagem, desta Paulo Moura aconteceu graças à insistência
vez a Gillespie e com solo de Júnior Xanfer, e cheio de convenções e contracantos de de Sá, que sempre gostou da música do ma-
dobra uma parte com solo vocal. Ao longo teclado respondendo às frases do trompete estro. Em 2002, Sá foi a um hotel no Recife
do disco, o trompetista vai mostrando cla- de Costa. Nessa música, há a participação onde Paulo estava. Levava uma fita cassete e
ramente suas influências através do jazz, do especial de Arthur Maia, com solo de baixo as recomendações de Bethânia e Jorge Ho-
funk e do blues. Baião Cubano é uma salsa fretless. O encerramento do CD não pode- pper. Em seguida, convidou Moura a ir a
também escrita por Fabinho que abusa das ria ser mais delicado. Com apenas flugel e uma casa de forró da cidade. Resultado: o
frases alteradas, destacando o teclado de violão, Costa e Júnior Xanfer fecham com maestro se encantou e o trabalho e a par-
Kleyton Wanderley e o sax de Gustavo Ana- categoria em Simplesmente Ana, de autoria ceria começaram ali. Paulo Moura assina a
cleto, que tem um belo timbre de soprano. de Junior. O disco tem muita gente boa direção musical e ‘costura’ com seu clarine-
Fabinho está muito bem acompanhado: – cada faixa uma formação, para não esque- te as melodias apresentadas pela voz caris-
em Vida Maria, uma balada, ele toca um cer ninguém: Fábio Valois, Edílson Prodí- mática de Sá. O resultado é a mistura da
suave flugelhorn, cujo tema é do guitarrista gio e Matheus Guerreiro, teclados; Jean El- música de raiz pernambucana com a gafiei-
Jubileu Filho, que participa da faixa e dá ton, Jackson Junior, baixo; Júnior Primata, ra carioca. Na única faixa instrumental do
espaço para o tecladista Eduardo Taufic. baixo fretless. Na bateria: Marcelo Pereira, CD, Pro Paulo, o clarinetista dá um show.
Spião é um ‘tema jazz’ que toma ares de sal- Hito, Di Stéffano, Enoque Souza, Misael É um disco em que se tem a sensação de
sa e retorna ao jazz, de autoria do tecladista Barros e Delbert Lins na percussão, além que tudo foi feito de improviso, tamanha a
Marquinhos Diniz, muito bem construído do trombone de Nilsinho Amarante. espontaneidade apresentada. l

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SAX & METAIS

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REVIEWS CDs POR DÉBORA DE AQUINO

Arapuca CD
compositor em quatro faixas autorais. Desta Samba de Latada
Artista: Gabriel Grossi vez escolheu o forró, tradicional gênero mu- Artista: Josildo Sá & Paulo Moura
Delira Música sical nordestino, como fonte de inspiração Rob Digital CD

(www.deliramusica.com) para o seu trabalho instrumental. O disco (www.robdigital.com.br)


traz também homenagens ao mestre da san-
fona, Sivuca, falecido em dezembro de 2006,
além de Hermeto Pascoal. A música que dá
título ao CD, composta por Rossi, poderia
ser encarada como uma ‘armadilha’ para o
músico desavisado, tamanha a dificuldade de
sua melodia, se o músico ganhasse por nota
executada! Festa em Olinda é outro bom mo-
mento do disco – a música é de autoria de
Toninho Horta, e de intensa sensibilidade.
Ainda aparecem composições de João Lyra,
Toninho Ferragutti e Egberto Gismonti, com
o tema Sete Anéis. A produção fica a cargo do
O jovem gaitista esbanja sensibilidade e próprio Gabriel Grossi e de Daniel Santiago,
virtuosismo em sua gaita cromática, desen- que assina os arranjos, além de tocar guitarra.
volvendo um estilo muito próprio em suas Também participam do trabalho Amoy Ri- Antigamente, no Nordeste, forró e samba
interpretações e improvisações. Em seu novo bas (percussão), Thiago Espírito Santo (bai- tinham o mesmo significado. Era uma festa
CD Arapuca, ele mostra seu talento como xo) e Durval Pereira (zabumba). em que se tocava de tudo, do baião ao cho-
ro. Com o passar do tempo, foram surgindo
Reunião de amigos para fazer boa música as diferenças entre esses dois gêneros mu-
Performance sicais, e o samba carioca se consolidou no
CD
Artista: Fabinho Costa Brasil. No Nordeste, esse gênero foi adap-
Independente tado e a ele foram incorporados a sanfona,
O primeiro trabalho autoral do trompetista o triângulo, a zabumba e o violão. Passou
recifense Fabinho Costa, também compo- a ser chamado de ‘samba de latada’, título
sitor e arranjador, traz claras influências de do novo CD de Josildo Sá e Paulo Moura,
nomes como Miles Davis, Dizzy Gillespie, que traz de volta a mistura desses gêneros.
Chet Baker e Freddie Hubard. A primei- Josildo Sá é um dos destaques da música
ra faixa, Funk Davis, a princípio poderia pernambucana atual. O artista, compositor
ser mais um tema de jazz. Mas, após uma e cantor une as tradições da música nordes-
breve introdução-solo do trompete, vem tina sertaneja com a modernidade da capi-
o funk anunciado, de autoria de Fabinho, tal. Suas letras falam do sertão, das festas,
com apoio do sax tenor de Gilmar Black. dos amores. O encontro entre Josildo Sá e
Em Dizzy, mais uma homenagem, desta Paulo Moura aconteceu graças à insistência
vez a Gillespie e com solo de Júnior Xanfer, e cheio de convenções e contracantos de de Sá, que sempre gostou da música do ma-
dobra uma parte com solo vocal. Ao longo teclado respondendo às frases do trompete estro. Em 2002, Sá foi a um hotel no Recife
do disco, o trompetista vai mostrando cla- de Costa. Nessa música, há a participação onde Paulo estava. Levava uma fita cassete e
ramente suas influências através do jazz, do especial de Arthur Maia, com solo de baixo as recomendações de Bethânia e Jorge Ho-
funk e do blues. Baião Cubano é uma salsa fretless. O encerramento do CD não pode- pper. Em seguida, convidou Moura a ir a
também escrita por Fabinho que abusa das ria ser mais delicado. Com apenas flugel e uma casa de forró da cidade. Resultado: o
frases alteradas, destacando o teclado de violão, Costa e Júnior Xanfer fecham com maestro se encantou e o trabalho e a par-
Kleyton Wanderley e o sax de Gustavo Ana- categoria em Simplesmente Ana, de autoria ceria começaram ali. Paulo Moura assina a
cleto, que tem um belo timbre de soprano. de Junior. O disco tem muita gente boa direção musical e ‘costura’ com seu clarine-
Fabinho está muito bem acompanhado: – cada faixa uma formação, para não esque- te as melodias apresentadas pela voz caris-
em Vida Maria, uma balada, ele toca um cer ninguém: Fábio Valois, Edílson Prodí- mática de Sá. O resultado é a mistura da
suave flugelhorn, cujo tema é do guitarrista gio e Matheus Guerreiro, teclados; Jean El- música de raiz pernambucana com a gafiei-
Jubileu Filho, que participa da faixa e dá ton, Jackson Junior, baixo; Júnior Primata, ra carioca. Na única faixa instrumental do
espaço para o tecladista Eduardo Taufic. baixo fretless. Na bateria: Marcelo Pereira, CD, Pro Paulo, o clarinetista dá um show.
Spião é um ‘tema jazz’ que toma ares de sal- Hito, Di Stéffano, Enoque Souza, Misael É um disco em que se tem a sensação de
sa e retorna ao jazz, de autoria do tecladista Barros e Delbert Lins na percussão, além que tudo foi feito de improviso, tamanha a
Marquinhos Diniz, muito bem construído do trombone de Nilsinho Amarante. espontaneidade apresentada. l

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WORKSHOP
Saxofone

FUSÕES RÍTMICAS Henrique Band é arranjador,


compositor e saxofonista.
Henrique Band Mora no Rio de Janeiro e
produziu diversos CDs. Para
saber mais, acesse www.
myspace.com/henriqueband.
FUSÕES RÍTMICAS

TESTE

A pesar de algumas melodias sugerirem o gênero musical de forma


evidente, o reflexo imediato de um saxofonista é quase sempre o
Na música que apresento aqui, Seleção Nota 11, de minha autoria
e que faz parte do CD da 1ª Mostra Brasil Instrumental – Conserva-
NOVIDADE

de se preocupar com passagens, afinação e respiração, sem considerar tório de Tatuí (SP), temos um exemplo de mistura de ritmos. A acen-
a importância da origem do ritmo como um fator interpretativo. É tuação do samba transita entre o jazz e o funk sem perder a identidade,
justamente por meio de acentuações e de determinadas articulações gerando as fusões chamadas de samba-funk e samba-jazz. Repare que
que podemos evidenciar ritmos como o samba, o baião, o frevo, o jazz nesta música o suingue já é sugerido na própria partitura por meio de
ESTUDO

e a salsa, entre outros. acentuações em que o tempo forte é deslocado.


Pelo fato de o saxofone ser um instrumento, acima de tudo, meló- Podemos observar também que o ciclo harmônico se repete em
dico, temos de estreitar o contato com instrumentos que fazem parte toda a primeira parte da composição, de maneira que o resultado
TECNOLOGIA

da base rítmica (bateria e percussão). Dessa maneira, a visão do sa- rítmico da base enriquece e complementa o deslocamento do tempo
xofonista ficará mais voltada para o ritmo, fazendo com que a sua forte sugerido pela melodia. Na segunda parte, a interpretação é um
compreensão musical aumente independente do instrumento que ele pouco mais melódica em determinados trechos, possibilitando uma
esteja tocando (sax soprano, alto, tenor ou barítono). execução mais lírica (ou cantabile) do intérprete.
REVIEW

SELEÇÃO NOTA 11
LIVE!

(Homenagem ao “11 Cabeças”)

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WORKSHOP
Saxofone

SAXOFONE NO CHORO
Rafael Velloso Rafael Velloso é saxofonista, arranjador e compositor, bacharel
em saxofone pela Universidade Estácio de Sá (RJ) e mestre em
Etnomusicologia pela Escola de Música da Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Tem um CD-solo lançado (Sax Chorando) e
SAXOFONE NO CHORO

atualmente toca com a Orquestra Popular Céu na Terra


TESTE

L uis Americano, natural de Aracaju, nasceu em 1900 e começou


seus estudos no clarinete, seguindo a tradição familiar de seu
dade para manter a afinação, já que a melodia alcança rapidamente as
notas mais agudas do instrumento e volta igualmente rápida para as
NOVIDADE

pai, Jorge Americano, mestre de banda da cidade, antes de se tor- notas graves, fazendo com que o saxofonista tenha de manter a embo-
nar um ícone do sax. Foi um músico muito importante na história cadura e utilizar a dinâmica para não ocorrerem os famosos guinchos.
do choro, fazendo parte dos principais conjuntos da época, como A dinâmica que sugiro pelos sinais eruditos tradicionais p (piano),
a Velha Guarda liderada por Pixinguinha e a American Jazz Band, pp (pianíssimo), mf (mezzo forte) e < (crescendo), é uma possibilida-
ESTUDO

que reuniu os melhores instrumentistas do período. Sua discografia é de dentre várias, pois na execução de um choro é sempre possível haver
enorme, tendo participado de inúmeros conjuntos que acompanha- variações tanto melódicas quanto expressivas. A harmonia encontra-se
vam os principais cantores do rádio, como Orlando Silva, Francisco no mesmo tom do tema escrito e também pode ser modificada pelo
TECNOLOGIA

Alves e Carmem Miranda. instrumentista acompanhante. No caso dos violões de seis e sete cor-
O maxixe Atraente, composto pelo saxofonista, foi gravado pela das, o acompanhante deve procurar sempre as frases do baixo, típicas
primeira vez pelo próprio autor em março de 1934, e lançado no mes- do gênero, ao final e no início de cada parte.
mo ano pela gravadora Odeon, no “lado A”, sob o número 11140, em Dessa forma, este tema, pouco conhecido, apresenta muitas op-
REVIEW

um disco de 78 rpm. Esta era a única referência que tínhamos desta ções de ornamentos e dinâmicas, além de uma melodia muito rica
música, cuja gravação pertence ao acervo do jornalista José Ramos Ti- que possibilita ao instrumentista de sopro um prazeroso estudo de
nhorão e que hoje pode ser facilmente ouvida pelo site do Instituto interpretação. Podem-se utilizar as técnicas tradicionais do instrumen-
Moreira Salles (www.ims.com.br). to, como as articulações e dinâmicas já mencionadas, pensando sem-
LIVE!

A melodia está transcrita para o saxofone alto em Eb e apresenta pre em adaptá-las à execução deste repertório, considerando as suas
três partes: A, B e C. Sua forma segue AABBACA, e C está no tom da particularidades, que, por isso, não são bem traduzidas nas notações
subdominante. Este tema possui uma grande extensão melódica, do Si tradicionais. A partitura deve ser tomada apenas como um guia rítmi-
grave ao Mi agudo, explorando toda a escala do saxofone. co-melódico, tendo como referência principal as gravações e a própria
O desafio na execução deste tema está justamente em sua extensão experiência musical, extraindo delas a liberdade, a alegria e a descon-
melódica. Um instrumentista iniciante pode enfrentar certa dificul- tração, características marcantes deste gênero.

ATRAENTE
Mesquita e Luis Americano

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WORKSHOP
Flauta e saxofone

A CONSTRUÇÃO
David Ganc é flautista e saxofonista,
do Rio de Janeiro. Formado em música
erudita (flauta) pela UFRJ e em música

DA SONORIDADE popular (saxofone) pela Berklee College


of Music (Boston - Massachusetts,
David Ganc EUA). Tem quatro CDs-solo lançados.
Site: www.davidganc.com
U ma vez adquirido o tônus muscular da embocadura e uma sólida
A CONSTRUÇÃO DA SONORIDADE

TESTE

coluna de ar, o músico pode correr atrás de sua própria sonorida-


de, já que a sua assinatura musical é seu som, aliado ao fraseado. QUINTAS JUSTAS
Como grande parte dos músicos populares faz a dobra de flauta Após as já conhecidas notas longas – nosso aquecimento diário
NOVIDADE

e sax, este workshop serve tanto para os flautistas como para os saxo- –, podemos fazer o exercício de quintas justas, com o professor sus-
fonistas, resguardando as diferenças de embocadura dos dois instru- tentando a nota pedal e o aluno fazendo a quinta, a oitava e voltando
mentos. Para esses músicos, recomendo começar o estudo diário da à tônica, sempre bem ligado e bem lento, primeiro diatonicamente e
sonoridade pela flauta, já que exige relaxamento dos lábios. depois cromaticamente.
ESTUDO
TECNOLOGIA
REVIEW
LIVE!

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SAX & METAIS

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A dinâmica pode variar de mp a mf, e as notas devem ter sempre o afinação alta (instrumento todo aberto) e do D4 com som opaco (instru-
mesmo volume. Você pode usar como referência o piano, utilizando a mento fechado). Você deve estar atento e saber compensar com a coluna
tônica e apertando o pedal, um sintetizador ou gravar a seqüência de notas de ar esses ‘degraus’ de som.
pedais de D3 a G4 bem longas, e usá-las como base de afinação. Além de
construir e fortalecer a embocadura e a sonoridade, esse exercício faz um Elasticidade dos lábios
check-up sonoro no instrumento, tendo em vista que cada um tem suas O exercício seguinte é para a elasticidade dos lábios. Tomamos por
características, e você deve estar ciente das qualidades e deficiências de seu base o D3 como nota pedal e seguimos cromaticamente de forma ascen-
instrumento. Lembre-se sempre da fragilidade do C# 4, com tendência de dente em duas oitavas, depois de forma descendente.

Lembre-se sempre de que as notas devem ter rigorosamente a mes- Ao dominar o exercício dentro de uma oitava, estenda para duas.
ma dinâmica. Não deixe que as agudas soem forte, e as graves, piano. Isso lhe dará boa elasticidade e você também poderá variar a nota pedal.
Force para que todas as notas soem em mf. E não se esqueça: pratique o quanto puder, o som vem com o tempo!

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WORKSHOP
Clarinete

EFEITOS SONOROS Michel Moraes é integrante do

NO CLARINETE
Quinteto Madeira de Vento e
professor do curso de bacharelado em
clarinete da FAAM-FMU. Contato:
Michel Moraes michelmoraes@clarinetemania.com ou
www.clarinetemania.com
EFEITOS SONOROS NO CLARINETE

TESTE

M uitas vezes, ao ouvir um clarinetista tocar rhythm & blues, jazz,


choro ou peças de música contemporânea, podemos perceber
afinação impecáveis. Os negros começaram a introduzir efeitos que imita-
vam a fala, como som ‘rouco’ (frullato), pequenas desafinações para cima
NOVIDADE

efeitos sonoros que nos remetem à voz humana. Frullatos, glissandos, ou para baixo (bendings), deslizes grandes (glissandos), bem como notas
bendings e ghost notes (notas fantasmas) trouxeram uma nova gama de fantasmas. Essa nova maneira de tocar imitando efeitos da voz humana
expressividade à música erudita e popular. pode ser ouvida desde as primeiras gravações de dixieland no início do sé-
Esses efeitos começaram a ser desenvolvidos por músicos negros de culo XX, passando pelo blues, swing, bebop, etc., e acabaram influencian-
ESTUDO

New Orleans no fim do século XIX. Até então, os instrumentistas de so- do a escrita para sopros de grandes compositores de música erudita, como
pro que seguiam a tradição européia visavam o som limpo, com precisão e Ravel, Stravinski, Gershwin, Copland e Villa-Lobos, dentre outros.
TECNOLOGIA

FRULLATO língua no céu da boca. Ele vai sair um pouco mais agressivo, à maneira
Do italiano frullare, significa ‘fazer rumor’. Muitos clarinetistas me dos cantores de blues e soul. Porém, é preciso ficar atento à afinação,
perguntam como produzir esse efeito no clarinete. Conheço duas for- porque pode ficar baixa. Talvez isso aconteça porque há a tendência em
mas. A primeira é emitindo um som com a garganta enquanto toca. deixar um maior espaço na cavidade bucal para a língua vibrar.
REVIEW

Cante um ‘uuuuu’ grave assoprando o clarinete. Isso fará com que saia O frullato no clarinete também é usado para imitar o trêmulo de
um frullato suave, com passagens agudas e rápidas. A desvantagem é repetição dos instrumentos de cordas. Na partitura, pode ser indicado
que se você for gravar e o trecho for muito exposto, há grande chance de com traços em cima da nota, ou simplesmente escrevendo frullato sobre
aparecer a sua voz na gravação. Outra forma de produção é vibrando a o trecho a ser executado.
LIVE!

BENDING original. Basta relaxar ou apertar o maxilar contra a palheta para


Do inglês to bend, curvar. Como o próprio nome diz, trata-se conseguir o efeito desejado. É muito usado no blues, negro-spirituals
de desafinar a nota para cima ou para baixo e retornar à afinação e choro. É indicado na partitura com um pequeno traço curvo.

GLISSANDO furos do clarinete escorregando lateralmente, um a um, em seqüência.


Do italiano glissare, significa ‘deslizar sobre’. Consiste em tocar co- No registro médio e agudo a partir do Ré5, é necessário também relaxar
meçando numa nota e terminando em outra mais grave ou aguda, sem bem a garganta e a embocadura, em sincronia ao movimento de dedos.
que se notem as quebras entre elas. É um efeito muito utilizado por Depois, vamos ajustando até chegar à nota desejada. Pode ser anotado
instrumentistas de cordas e cantores. No registro grave, tire os dedos dos na partitura com o termo gliss sobre as notas ou com um traço.

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Ghost notes o som. É necessário ter uma boa sensibilidade para fazer isso, pois
São as ‘notas fantasmas’, muito utilizadas no jazz, principalmente como a palheta do clarinete é pequena, dependendo do modo que
a partir do swing do fim da década de 1930, como um recurso para se faz pode cessar o som. Depois de praticar, você já poderá atacar
dar mais balanço à melodia. Para fazê-las, encoste bem levemente a mantendo a língua na palheta. É indicado na partitura como uma
língua na palheta enquanto toca uma nota longa. Isso vai ‘abafar’ nota para percussão.

Conclusão com dificuldade, bem como mostrar uma nova maneira para quem já
Cada instrumentista tem seu modo de tocar esses efeitos, não existe conhece o assunto. Agora é só praticar, e note que cada registro apresenta
verdade absoluta. Abordando o meu jeito, espero esclarecer quem esteja uma dificuldade. Bons estudos!

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Arwel 11 3326-3809 www.arwel.com.br

Bends 11 3064-1909 www.bends.com.br

Black Bug 11 4362-2047 www.blackbug.com.br

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Choro Music 11-3881-8400 www.choromusic.com.br

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Florence Music 11 2199-2900 www.florencemusic.com.br

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