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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

RHUAN NICOLAS DA SILVA SANTOS

MÃOS QUE VIRAM ARTE: PROPOSTA ARQUITETÔNICA DE UM PAVILHÃO


CULTURAL DE JUNQUEIRO/AL.

ARAPIRACA
2018
RHUAN NICOLAS DA SILVA SANTOS

MÃOS QUE VIRAM ARTE: PROPOSTA DE ARQUITETÔNICA DE UM PAVILHÃO


CULTURAL DE JUNQUEIRO/AL.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Alagoas – UFAL,
Campus de Arapiraca, como requisito parcial
para obtenção do título de Graduação.

Orientador: Prof. Me. Edler Oliveira Santos

ARAPIRACA
2018
A Deus, que é o autor da minha vida do
meu destino.
Aos meus pais, Rosa e Clênio, maiores
incentivadores, por todo amor e
dedicação.
AGRADECIMENTOS

A jornada foi árdua, mas cada momento vivenciado se tornou exemplo de


superação. Nesses momentos foram plantadas sementes, que hoje começam a dá
bons frutos.
A Deus, esse ser onipotente, que esteve e está ao meu lado me dando forças,
animo e estendendo suas mãos calorosas quando pensava que não iria dar conta. A
ele toda minha gratidão.
Ao meu alicerce, aos meus pais e minha irmã, por serem minha base, e fonte
de toda motivação, dedicação e cuidado para que nada me faltasse. Nada disso
poderia valer a pena sem o amor de vocês.
Aos familiares e amigos: família a vocês o meu obrigado por depositarem
confiança em mim. Aos amigos que sempre estiveram ao meu lado, compartilhando
cada momento e conquistas obtidas, vocês foram peças indispensáveis.
Aos meus professores do ensino regular por toda base de conhecimentos,
vocês foram responsáveis pela aprovação no vestibular, para quer a atual conclusão
fosse possível.
A estrutura desta jornada, meus mestres, que posso afirmar com toda a
certeza que foram os melhores, a minha admiração e respeito. Em especial ao meu
orientador, arquiteto e urbanista, e Mestre Edler Oliveira, por seus direcionamentos,
paciência, conhecimento transmitido e excelência profissional. Meu infinito respeito,
carinho e gratidão.
A Universidade Federal de Alagoas/Campus Arapiraca, pelo ambiente
pertinente e acolhedor, pela oportunidade de aprender e apresentar o presente
trabalho.
A todos que de forma direita ou indireta estiveram presentes, contribuindo
com a minha formação. Como disse o grande mestre da Arquitetura, Oscar
Niemeyer, “A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem”. Eis que o
sonho começa a se realizar.
“O passado não volta. Importantes são a
continuidade e o perfeito conhecimento de
sua história.”
(Lina Bo Bardi)
RESUMO

A cultura sendo um dos componentes que compreende as práticas do cotidiano,


crenças e outros aspectos, sendo estes passados de gerações para gerações de
várias formas, estando ligado as identidades de cada pessoa ou grupo, assim a
popularização da cultura, através de suas práticas e de espaços culturais, tendo
como finalidade produzir e manter viva a mesma, torna-se cada vez mais acessível.
Localizado no município Junqueiro, o Centro Cultural Manoel Pereira caracteriza o
único edifício para atender o setor e abrigar as manifestações culturais. Atualmente
o edifício está associado a falta de espaço adequado e que contemple a atual
demanda do setor, ou seja, estando sufocado para melhor atender as demandas.
Assim, há a necessidade de um novo espaço para abrigue as demandas do setor,
onde o mesmo seja funcional, com qualidade e que proporcione aos usuários e
visitantes um bem-estar comum. Para isso, será realizado um estudo teórico sobre
cultura, cultura popular e cultura de massa e a relação entre a arquitetura e a
cultura. Posteriormente será feito um estudo de referências projetuais de espaços
culturais que sejam referencias no segmento, com a finalidade de elaborar uma
proposta de anteprojeto arquitetônico de um pavilhão cultural para a cidade de
Junqueiro/AL.

Palavras-chave: Cultura. Cultura popular. Espaços públicos. Pavilhão.


ABSTRACT

Culture being one of the components that includes everyday practices, beliefs and
other aspects, being these passed down from generation to generation in several
ways, with the identities of each person or group being connected, thus the
popularization of culture, through its practices and of cultural spaces, with the
purpose of producing and keeping it alive, becomes more and more accessible.
Located in the municipality of Junqueiro, the Manoel Pereira Cultural Center is the
only building to serve the sector and host cultural events. Currently, the building is
associated with a lack of adequate space and meets the current demand of the
sector, that is, being suffocated to better meet the demands. Thus, there is a need for
a new space to accommodate the demands of the sector, where it is functional, with
quality and that provides users and visitors with a common well-being. For this, a
theoretical study will be carried out on culture, popular culture and mass culture and
the relationship between architecture and culture. Subsequently, a study will be
made of design references of cultural spaces that are references in the segment, with
the purpose of elaborating a proposal of architectural design of a cultural pavilion for
the city of Junqueiro / AL.

Keywords: Culture. Popular culture. Public spaces. Pavilion.


LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Primeira grande Exposição de Arte Popular do Nordeste. ...................... 16


Figura 02 - Obras da mostra “A mão do povo brasileiro”. ......................................... 18
Figura 03 - Tigela de barro, pintura vermelho e preto. .............................................. 20
Figura 04 - Acervo museológico do artesanato brasileiro. ........................................ 21
Figura 05 - Bule feito de uma lata de manteiga salgada. .......................................... 22
Figura 06 - Conjunto arquitetônico do Unhão. ........................................................... 23
Figura 07 - Roma, janeiro de 1964, Exposição Civilização do Nordeste. .................. 23
Figura 08 - Museu de Arte de São Paulo. ................................................................. 27
Figura 09 - SESC – Pompeia, Lina Bo Bardi, dia de visitação. ................................. 28
Figura 10 - Exposição de Arte Popular. ..................................................................... 29
Figura 11 - Centro Cultural El Tranque. .................................................................... 30
Figura 12 - Localização do Centro Cultural El Tranque. ............................................ 31
Figura 13 - Praça no centro do edifício. .................................................................... 32
Figura 14 - Planta – Térreo, sem escala. .................................................................. 32
Figura 15 - Planta – Primeiro Pavimento, sem escala............................................... 33
Figura 16 - Localização do Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas
(antiga feira de São Cristovão), em relação ao Museu do Amanhã. ......................... 34
Figura 17 - Antigo Pavilhão de São Cristóvão. .......................................................... 35
Figura 18 - Atual Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. .......... 35
Figura 19 - Mapa de localização do Museu do Cais do Sertão. ................................ 37
Figura 20 – Projeto Museu Cais do Sertão................................................................ 37
Figura 21 – Fachada Principal, sem escala............................................................... 37
Figura 22 – Planta Baixa – Térreo, sem escala......................................................... 38
Figura 23 - Planta Baixa – Primeiro Pavimento, sem escala. .................................... 38
Figura 24 - Planta Baixa – Segundo Paviemnto, sem escala. ................................... 39
Figura 25 - Planta Baixa – Coberta, sem escala. ...................................................... 39
Figura 26 – Trama de Cobogó. ................................................................................. 39
Figura 27 – Mapa de Localização do Município de Junqueiro - AL . ......................... 40
Figura 28 – Aglomeração de residências em volta da Igreja São Sebastião de
Junqueiro na década de 1960. .................................................................................. 41
Figura 29 – Igreja Matriz Nossa Senhora Divina Pastora, 1960. ............................... 42
Figura 30 – Guerreiro Tradição Junqueirense. .......................................................... 43
Figura 31 – Apresentação do Pastoril no coreto da cidade. ...................................... 44
Figura 32 – Mapa Educação. .................................................................................... 44
Figura 33 – Mapa Saúde. .......................................................................................... 48
Figura 34 – Mapa Cultura. ......................................................................................... 50
Figura 35 – Artesão Junqueirense, Sr. Joaquim. ...................................................... 52
Figura 36 – Mapa de localização do Centro Cultural Manoel Pereira Filho –
Junqueiro/AL. ............................................................................................................ 53
Figura 37 – Planta de Uso e Ocupação do Solo. ...................................................... 54
Figura 38 – Localização do Terreno Proposto........................................................... 55
Figura 39 – Planta de Uso e Ocupação do Solo da área de estudo.......................... 56
Figura 40 – Estudo esquemático da incidência solar e ventilação do terreno
proposto. ................................................................................................................... 58
Figura 41 – Programa de necessidade. .................................................................... 59
Figura 42 – Cesto de Junco. ..................................................................................... 60
Figura 43 – Processo de criação e forma geométrica com o trançado de junco. ...... 61
Figura 44 – Sequência do processo de criação do traçado arquitetônico. ................ 61
Figura 45 – Estudo de setorização e locação dos modulos. ..................................... 62
Figura 46 - Estudo da coberta do Pavilhão ............................................................... 62
Figura 47 – Estudo esquemático da incidência de luz natural e ventilação cruzada. 63
Figura 48 – Perspectiva da implantação. .................................................................. 64
Figura 49 – Perspectiva da implantação, estacionamento e Pavilão Cutural. ........... 65
Figura 50 – Perspectiva – Setor Comercial. .............................................................. 66
Figura 51 – Perspectiva - Auditório. .......................................................................... 71
Figura 52 – Perspectiva de uma das áreas destinada a eventos. ............................. 71
Figura 53 – Perspectiva – Setor Conhecimento. ....................................................... 75
Figura 54 – Perspectiva – Setor Conhecimento. ....................................................... 75
Figura 55 – Perspectiva – Setor Administrativo......................................................... 80
Figura 56 – Perspectiva – Setor Administrativo......................................................... 80
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
1.1 Objetivos ............................................................................................................. 13
1.2 Procedimentos Metodológicos ............................................................................ 13
2 CULTURA POPULAR............................................................................................ 15
2.1 Cultura e Não Cultura .......................................................................................... 17
2.2 A Riqueza Cultural do Brasil Encontra-se no Nordeste ....................................... 18
2.3 Entre a Cultura e a Arquitetura ............................................................................ 25
3 REFERÊNCIA PROJETUAIS DE ESPAÇOS CULTURAIS .................................. 30
3.1 Centro Cultural El Tranque .................................................................................. 30
3.2 Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas ................................. 34
3.3 Museu Cais do Sertão ......................................................................................... 36
4 CARACTERIZAÇÃO SOCIOCULTURAL DE JUNQUEIRO - AL ......................... 41
4.1 Localização e Caracterização do Município ........................................................ 41
4.2 Aspectos Históricos ............................................................................................. 42
4.3 Estudo dos Setores ............................................................................................. 45
4.4 Caracterização Projetual do Atual Centro Cultural Manoel Pereira Filho ............ 53
5 PROPOSTA ARQUITETÔNICA ............................................................................ 55
5.1 Condicionantes Projetuais ................................................................................... 55
5.1.1 Terreno ............................................................................................................. 55
5.1.2 Legislação ........................................................................................................ 56
5.1.3 Caracterização Climática de Junqueiro - AL .................................................... 58
5.2 Programa de Necessidade .................................................................................. 59
5.3 Diretriz Plástica e Espacial .................................................................................. 60
5.3.1 Setorização e Implantação ............................................................................... 62
5.3.2 Conforto Ambiental ........................................................................................... 63
5.3.3 Paisagismo ....................................................................................................... 64
5.3.4 Setor Comercial ................................................................................................ 65
5.3.5 Setor Eventos ................................................................................................... 70
5.3.6 Seto Conhecimento .......................................................................................... 74
5.3.7 Seto Administrativo .......................................................................................... 79
5.3.8 Seto Técnico .................................................................................................... 84
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 85
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 86
APÊNDICE A – Planta de Situação, Planta Baixa Implantação e Planta de Coberta
.................................................................................................................................. 88
APÊNDICE B – Plantas Baixa, Planta de Coberta, Cortes e Fachadas .................... 89
APÊNDICE C – Render ............................................................................................. 90
12

1 INTRODUÇÃO

A cultura compreende os comportamentos comuns e aprendidos de viver,


que são transmitidos pelas pessoas e grupos sociais de geração para geração,
através de várias formas, práticas artísticas, tradicionais ou de crenças religiosas,
que a caracterizam como uma grandeza da vida cotidiana.
Segundo Rattner (s/d) a popularização da cultura, através da criação de
espaços culturais acessíveis a massa desfavorecida, possibilita a criação de meios
de inclusão cultural. Para o autor, esses espaços desenvolvem uma extensa
variedade de atividades, que podem proporcionar o fortalecimento de identidade
local, pertinência e participação social. Os mesmos exercem atividades culturais
diversificadas, os espaços culturais permitem a descoberta do saber e possibilita a
ocorrência de atividades relacionadas a informação, discussão das práticas culturais
e criação de produtos.
Para Neves (2013) os centros/pavilhões culturais são organizações criadas a
fim de se produzir, elaborar, e definir as práticas culturais e bens simbólicos,
alcançando posição de local para praticas que dão subsídios às atividades culturais.
São espaços para se fazer cultura viva, em uma metodologia crítica, criativa, grupal
e dinâmica.
Sendo assim, esses espaços têm como finalidade reunir um público
heterogêneo, a fim de proporcionar atividades culturais, que estejam antenados com
as necessidades locais. Isto é, devem ser considerados com um local onde se tenha
centralidade de atividades diversificadas e que trabalhem de maneiras
interdependentes, simultâneas e multidisciplinares.
Junqueiro, município situado a 110 km da capital alagoana, conta com uma
população estimada de 25.093 habitantes. Foi realizada uma breve analise de três
setores do município: educação, saúde e cultura, procurando através desta análise
identificar qual dos setores encontra-se desestruturado. Sendo assim notória a
ausência de espaços para lazer, práticas esportivas e cultura.
Assim, o decorrente trabalho está dividido em cinco capítulos e as
considerações finais. O primeiro capitulo refere-se à introdução, expõe o tema e
questões essências de pesquisa, além de toda estruturação do trabalho.
13

O segundo capítulo compreende os conceitos sobre cultura com um


enfoque maior na cultura popular, desejando-se aborda a relevância da mesma para
a sociedade, relacionando e compreendendo a ligação da cultura com a arquitetura.
O terceiro capítulo é referente a três estudos de casos de espaços culturais,
o Centro Cultural El Tranque, em Lo Barnecha, o Centro Municipal Luiz Gonzaga de
Tradições Nordestina, no Rio de Janeiro-RJ, e o Museu Cais do Sertão, em Recife-
PE, como instrumentos na elaboração do anteprojeto.
O quarto capítulo é compreendido pela caracterização sociocultural do
município e da análise de três setores de Junqueiro, aqui já citados anteriormente,
afim de identificar qual encontra-se desestruturado.
O quinto capítulo compreende a elaboração da proposta arquitetônica
através das condicionantes projetuais; terreno, legislação e clima, e da diretriz
plástica e espacial da proposta.

1.1 Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é propor um anteprojeto arquitetônico, a fim


de fortalecer as manifestações culturais do município de Junqueiro/AL. Este trabalho
apresenta ainda os seguintes objetivos específicos:
• Compreender o conceito de cultura popular, com enfoque na cultura
popular brasileira;
• Investigar os aspectos físicos e sociais que caracterizam o município de
Junqueiro/AL;
• Desenvolver uma proposta arquitetônica de um pavilhão cultural para
Junqueiro/AL, do estudo de viabilidade ao anteprojeto do edifício em
questão.

1.2 Procedimentos Metodológicos

Antes de realizar os procedimentos descritos a seguir, foi feita uma pesquisa


bibliográfica para obter uma compreensão geral do significado de cultura popular.
Após a conclusão dessa etapa, este trabalho adota como procedimentos
metodológicos as etapas de projetos indicados pela NBR 13.531:2015.
14

• Levantamento de dados sociais, legais e físicos, a fim de identificar os


problemas e deficiências exposto pelo setor cultural, população local e reunir
dados gerais relevantes para o projeto;
• Elaboração do programa de necessidades, a fim de listar as demandas do
setor, através de organogramas e fluxogramas;
• Estudo de viabilidade, no intuito de analisar as possibilidades de configuração
e implantação da edificação;
• Estudo preliminar, a fim representar do conjunto de informações técnicas
iniciais sobre a configuração da edificação;
• Elaboração, a fim de representar das informações técnicas provisórias de
detalhamento da edificação e de seus elementos.
15

2 CULTURA POPULAR

A compreensão da palavra “cultura” refere-se dos costumes, crenças,


moral, técnica de um povo. No entanto, a palavra cultura popular sinaliza para várias
definições.
Para Chartier (1995) a cultura popular é um tipo de classe erudita, que
pretende somente relembrar os discursos em torno da definição da mesma, a fim de
obter um conceito que caracterizar nomear e delimitar hábitos que não são indicados
pelos seus autores.
Nesta perspectiva, o autor afirma que o conceito de cultura popular é
traduzido em suas múltiplas e contraditórias significações. Ele reduz essas múltiplas
e inúmeras definições da cultura popular a dois grandes esquemas:

O primeiro, no intuito de abolir toda forma de etnocentrismo cultural,


concebe a cultura popular como um sistema simbólico coerente e
autônomo, que funciona segundo uma lógica absolutamente alheia e
irredutível à da cultura letrada. O segundo, preocupado em lembrar a
existência das relações de dominação que organizam o mundo social,
percebe a cultura popular em suas dependências e carências em relação à
cultura dos dominantes. Temos, então, de um lado, uma cultura popular que
constitui um mundo à parte, encerrado em si mesmo, independente, e, de
outro, uma cultura popular inteiramente definida pela sua distância da
legitimidade cultural da qual ela é privada (CHARTIER, 1995, p. 179).

No entanto, Chartier (1995) demonstra que os dois esquemas não são


conflitantes, ocorrendo o uso de ambos por um mesmo autor, ou em uma mesma
obra. O importante para ele é identificar como se procede o relacionamento entre os
padrões impostos, e as técnicas utilizadas pelas classes desfavorecidas.
Hall (2003) associa a cultura popular às formas tradicionais de vida. Para
ele a cultura popular são as coisas que “o povo” faz ou fez. Segundo está
perspectiva, a mesma se aproxima de um conceito antropológico, ligado aos valores,
os costumes e mentalidades do povo, que definem seu modo característico de vida.
O autor reafirma o popular como sendo as formas e ações cujas raízes se situam
nas condições sociais e materiais, que estiveram incorporadas nas tradições e
práticas populares.
Burke (1989), seguindo a mesma linha antropológica de que a palavra
cultura é indeterminada, com diversas definições que se cruzam num ponto a definir
como um agrupamento de significados, atitudes e valores públicos, com as formas
que a compõem, tais como objetos artesanais. Ao tratar de cultura popular, Burke
16

também destaca o sentido negativo do termo, como sendo uma cultura não oficial,
ou seja, não reconhecida por uma parcela “dominante” da sociedade. Sendo assim,
Burke (1989) caracteriza a cultura popular como sendo problemática, pela existência
de muitas culturas populares ou variações da mesma. Ele acredita que a cultura é
um conjunto de limites indistintos, de modo que se torna impossível de afirmar onde
termina uma e começa a outra.
Bosi (1992, p. 319) define cultura popular como sendo o: “conjunto de
modos de ser, viver, pensar e falar de uma dada formação social”. Para ele, a
cultura popular é o agrupamento de práticas e modos, pensar e falar de um grupo ou
comunidade. Nessa concepção, Bosi (1992) traz duas reflexões, a primeira de que a
cultura não é sinônimo de arte, e a segunda de que não existe nenhum grupo social
que seja privado da mesma.
Lina Bo Bardi (1994) difundia sua visão de cultura popular não como
folclore, mas como práticas diárias. A cultura popular para Lina Bo Bardi pode ser
definida através de exposições próprias, projetos autorais, de expedições pelo
nordeste brasileiro, entre outros pontos. Para ela a cultura popular está no cotidiano,
em objetos como enfeites de casa, fifó de lâmpada queimada, utensílios de madeira,
boizinhos de barro, carrancas, jarros, vasos, tigelas, utensílios de cozinha, entre
outros tantos objetos, ver Figura 01. É neste contexto, com este amplo conjunto de
objetos, que é diverso entre si, que se encontra as mais distintas proporções de
agrupamento e de interpretação, a respeito da cultura popular.

Figura 01 - Primeira grande Exposição de Arte Popular do Nordeste.

Fonte: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi.


17

Bardi (1994) em Tempos de grossura: o design no impasse transmite de


forma clara sua concepção sobre cultura popular. Para ela, a população nordestina
era uma pureza interior diante da arte e da cultura, que encontrou nessa gente
capacidades imensa. Ao longo de sua intensa imersão na cultura brasileira, com
destaque para a valorização da cultura popular nordestina, Lina Bo Bardi constrói
uma relação íntima com a cultura, e uma concepção sobre a mesma.

2.1 Cultura e Não Cultura

A relação entre a cultura e a não cultura, ou cultura popular e cultura erudita,


seja ela qual for a expressão, passa e se cruzam entre seus particularidades e
semelhanças. Desse modo o cruzamento entre as culturas gera encontros e
reencontros, que não podem ser compreendidos de imediato. Lina Bo Bardi em seu
texto “Cultura e Não Cultura” reafirma o indispensável cruzamento entre a cultura
erudita e popular:

Salvaguardar ao máximo as forças genuínas do país (...) procurando, acima


de tudo, não diminuir ou elementizar os problemas, apresentando-os ao
povo como um alimento insosso e desvitalizado, não eliminar uma
linguagem que é especializada e difícil mas que existe, interpretar e avaliar
estas correntes e, sobretudo, será útil lembrar as palavras de um filósofo da
práxis, ‘não se curvem ao falar com as massas, senhores intelectuais,
endireitem as costas’ (RUBINO, 2009 apud ANTICOLI e ALMEIDA, 2016,
p.29).

Nessa perspectiva, Lina propõe a superação da divisão entre cultura letrada


e da cultura iletrada, ou seja, que tende a desprezar a comunicação e interação
entre as diversas camadas culturais. Ainda em relação ao seu texto “Cultura e Não
Cultura”, Lina exaltava o popular e colocava o povo como parte fundamental nas
transformações culturais. É notável, em seu discurso que o erudito e o popular
podem caminhar juntos, assim se tornando peças importantes dentro da construção
cultural.
Segundo Anticoli e Almeida (2016), Lina Bo Bardi superou a escala
convencional de valores que definem a superioridade do erudito em relação ao
popular, assim valorizando a cultura popular brasileira. Esse cruzamento entre o
popular e o erudito pode ser corroborado quando Lina instituiu e dirigiu o Museu de
Arte Popular da Bahia (MAP), e com a extensão do Museu de Arte Moderna da
Bahia (MAMB) no Solar do Unhão, na capital do estado. Nesta concepção, a
18

finalidade da arquiteta, ao projetar o Museu de Arte Popular da Bahia, não era de


oferecer a arte-lazer, mas sim de documentar e expor o trabalho popular.
Outro exemplo do cruzamento entre o erudito e o popular, pode ser notado
através da exposição “A Mão do Povo Brasileiro” (Figura 02), uma mostra temporária
inaugural da sede do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Essa exposição se
tornou algo inusitado, por expor objetos da cultura popular em um museu dedicado à
arte erudita, segundo Bellesa (2017).

Figura 02 - Obras da mostra “A mão do povo brasileiro”.

Fonte: Disponível em: <www.agenciabrasil.ebc.com.br>. Acesso em: fev. 2018.

Lina Bo Bardi sempre esteve entre o público e o privado, a aristocracia e o


povo, o erudito e o popular. Com um posicionamento definido e repleto de críticas
sociais, culturais, possivelmente como contraponto à indagação entre o povo e as
classes médias, seja ela econômica ou intelectual. Segundo Silva e Medeiros (2014)
esta relação entre o erudito e o popular, foi marcante em suas obras e produções.

2.2 A Riqueza Cultural do Brasil Encontra-se no Nordeste

Na história da industrialização, portador de componente da pré-história e da


África, rico de seiva popular, o Brasil entra em último lugar. A industrialização
violenta não elaborada leva o país à experiência de um incontrolável acontecimento
natural, e não de um procedimento produzido pelos homens. Os limites irregulares
19

da especulação imobiliária, o não planejamento habitacional popular, dispositivos


eletrônicos, em sua maioria supérfluos, pesam no cenário cultural, impedindo o
desenvolvimento de uma verdadeira cultura nacional, de acordo com Lina Bo Bardi
(1994).
Com o passar dos anos, o Brasil se industrializou. Essa nova realidade
precisava ser aceita para ser explanada. Bardi (1994) frisa que é importante o
retorno a corpos sociais extintos, a criação de centros artesanais, o regresso a um
artesanato como antídoto de uma industrialização estranha aos princípios culturais
do país. Para ela nunca existiu no Brasil o artesanato como corpo social, o que
existiu de fato foi uma imigração rala de artesões ibéricos ou italianos, um pré-
artesanato doméstico.
O artesanato popular coincide com a forma peculiar da sociedade, ou seja, a
união de trabalhadores especializados agrupados por interesses comuns de trabalho
de mútua defesa em associações, chamadas posteriormente de corporações.
Por volta do século XVIII, as velhas estruturas econômicas mudaram em
consequência da Revolução Francesa e da substituição do trabalho manual (Figura
03), pelo trabalho mecânico. Além disso, as corporações foram abolidas, “Desde o
fim do século XVIII os artesões sobreviveram como herança do ofício, como
trabalho, não mais como parte viva de uma estrutura social” (BARDI, 1994, p. 16 e
17). Segundo Canclini (2007, p. 06) “consequentemente, o popular deixa de ser
definido por uma série de características internas ou um repertório de conteúdo pré-
industrial, como isso acontece nas doutrinas nacionais populistas e na maioria dos
estados populares.”
20

Figura 03 - Tigela de barro, pintura vermelho e preto.

Fonte: Bardi, 1994.

O artesanato popular é deslocado pelo corporativismo, quando se esgotam


as condições sociais que o preservam. Um exemplo típico desse “artesanato” foi o
corporativismo da Itália, uma forma artificial de associação entre senhor e
subordinado, em países de regime ditatorial da base nacionalista.
Bardi (1994) distingue nacional e nacionalistas, onde nacionais são os
valores reais de um país, à medida que os nacionalistas são as atitudes políticas
que visam ditar certas particularidades de um país com todos os meios,
ocasionalmente com a violência. “A violência é proporcional à operação imposta aos
vastos setores sociais” (CANCLINI, 2007, p. 5).
O folclore e a cultura popular surgem quando se reconhece intelectualmente
uma distância entre o comportamento de vida e saberes das elites e do povo,
reconhecendo a diferença e a particularidade, fortemente agregado ao nacionalista
europeu. Do ponto de vista romântico, de Lina Bo Bardi (1994), o universo da cultura
popular e do folclore acomoda nostalgicamente a totalidade ambientada da vida com
o mundo, rompida posteriormente no mundo moderno.
21

O movimento folclórico, implantado em diversas comissões estaduais,


atingiu seu apogeu com a criação da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro 1. A
campanha tinha emergência de atuação, os elementos culturais autênticos da nação
estariam sendo ameaçadas pelo avanço da industrialização e pela modernização da
sociedade. Por esses motivos, o folclore deveria ser de imediato conservado e,
fortemente conhecido. O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular2, com seu
rico acervo museológico, fotográficos, sonoros e bibliográficos, como pode ser visto
na figura 04, é o herdeiro institucional do movimento folclórico.

Figura 04 - Acervo museológico do artesanato brasileiro.

Fonte: Disponível em: <www.diariodoamapa.com.br.>. Acesso em: fev. 2018.

De acordo com Bardi (1994) o folclore estava fora de causa, ele servia
apenas aos turistas e às senhoras que acreditavam em sua beneficência. Para ela o
folclore era uma palavra que deveria ser eliminada da sua grande cultura central. No
tempo em que a produção cultural se petrificava em folclore, as verdadeiras raízes
culturais de um país secam o que é indício de que interesses internos tornaram o
poder central, e onde as possibilidades da cultura do lugar são substituídas por
frases feitas.

1 Surgiu do movimento que procurava implantar mecanismo para documentar e preservar as


tradições, através do decreto nº 43.178, de fevereiro de 1958. Disponível em: site www.cnfcp.gov.br.
Acessado em abr. 2018.
2 O centro Nacional de Folclore e Cultura Popular é a única instituição pública federal que desenvolve

e executa programas e projetos de estudo, pesquisa, documentação, difusão e fomento de


expressões dos saberes e fazeres do povo brasileiro. Disponível em: site www.cnfcp.gov.br.
Acessado em abr. 2018.
22

A personalidade dinâmica e contemporânea das expressões populares se


estabeleceu desde cedo. Apresentaram-se na abordagem do tema priorizado das
preocupações do Movimento Folclórico, os folguedos, nossas festas populares, em
uma denominação mais ampla. Os folguedos demonstravam a cultura popular como
um todo ambientado da vida cotidiana.
Arte popular é derivada da necessidade de cada dia, a possibilidade em
todos os sentidos. Lina Bo Bardi (1994) confirma que era preciso desmistificar
instantaneamente qualquer romantismo a respeito da arte popular. Precisava-se ver
com frieza, crítica e objetividade histórica dentro do painel cultural brasileiro. Nesta
mesma perspectiva Lina Bo Bardi, (1994) declara a não existência de um artesanato
brasileiro, o que se existia eram produções esporádicas. Em uma parte do país,
mais precisamente no Nordeste, existia um pré-artesanato, com uma produção
extremamente rudimentar. Segundo Lina Bo Bardi (1994, p. 26) “não existe um
artesanato brasileiro importante. Não existe um artesanato importante em nem um
país do mundo que esteja no estágio de civilização industrial, independente do grau
de desenvolvimento atingido.”
Lina Bo Bardi (1994) afirma que a provável produção de utensílios da vida
cotidiana, não é interpretada como instrumentos da crítica de arte, pois um dia todos
estes objetos desaparecerão. A glorificação começou com as cerâmicas e latarias,
como na figura 05, enfeitando as casas da classe média e alta.

Figura 05 - Bule feito de uma lata de manteiga salgada.

Fonte: Bardi, 1994.


23

A exposição que inaugura o Museu de Arte Popular do Unhão, situado à


beira mar, na Bahia, deveria ser chamado, de acordo com Bardi (1994) de
Civilização do Nordeste, como pode ser visto nas Figuras 06 e 07. Esta exposição
procurava, na época, apresentar uma civilização pensada em todos os detalhes, um
convite aos jovens para considerarem o problema da simplificação, como caminho
necessário para encontrar dentro do humanismo técnico uma poética.

Figura 06 - Conjunto arquitetônico do Unhão.

Fonte: Disponível em: <www.economia.uol.com.br>. Acesso em: fev. 2018.

Figura 07 - Roma, janeiro de 1964, Exposição Civilização do Nordeste.

Fonte: Bardi, 1994.


24

Uma outra exposição estava prestes a ser inaugurada, em 1965, na Galeria


de Arte Moderna, com peças procedentes de Salvador, onde seriam expostas
grandes fotografias da arquitetura. Mas ao invés disso, com uma ordem da
Embaixada Brasileira, a exposição foi revogada. Em um regime de generais a
diplomacia ficava intimidada e paralisa até mesmo as atividades culturais, segundo
Lina Bo Bardi (1994).
Para Lina Bo Bardi (1994) a produção emblemática nordestina era pré-
artesanal, que fazia jus à valorização em meio ao salto entre a cultura quase de
tradição oral e a era industrial. Os objetos de uso distante do folclore, produzidos em
diversos materiais como palha, madeira, páginas de revistas velhas, latas de
lubrificantes americanos, entre outros objetos variáveis, que puderam ser tomados
como o oposto da pop-art, pois nunca foram gestos de inclusão.
De acordo com Lina Bo Bardi (1994), jovens progressistas, economistas e
arquitetos convencidos de que o estudo das manifestações culturais serviria apenas
de incentivo a uma formação cultural da realidade do país, sendo necessário
recomeçar por onde a arte fundou-se. Esse recomeço implica em uma rejeição a
arquitetura racionalista, salta do improviso por Le Corbusier, mas a autora negava tal
posicionamento, e se aflige a aparência às bases urbanísticas e aos edifícios da
nova capital. “As questões de gosto são absolutamente secundárias; a arquitetura
nada tem a ver com isto, a não ser imediatamente” (BARDI, 1994, p. 48 e 49).
Os trançados de palha, os trabalhos de couro, a rica cerâmica, os traçados e
desenhos de rendas, entre outros. A interpretação conjunta desse artesanato levou
a reflexão da existência de organismos que defenderam o desaparecimento e
transformação de formas artísticas tão puras.

O amparo ao artesanato em si e ao artífice como ser humano capaz de


sobreviver na dignidade de seu trabalho é função dos órgãos que se erigem
em solucionadores dos problemas dos artesãos, cujo obras, em sua quase
totalidade, estão à vista neste retrato do Nordeste do Brasil (BARDI, 1994,
p.55).

A cidade se descobria em seu viver, necessita que dela se fale, se pense se


diga e se faça. Durante a revolução brasileira, os problemas atuais se encontravam
na região nordeste, em sua infraestrutura mais complexa, sendo o retrato fiel do
país.
25

O Nordeste com toda a sua força cultural, com base no sofrimento e nas
solicitações da grande massa popular e na subida do movimento popular, refletindo
sobre as grandes lutas do passado, com a estabilidade de uma cultura que nunca
menosprezou os costumes, a alma nacional. O Nordeste é original.
Considerando a cultura e suas homenagens, as vestes de couro, as panelas
de barro, o carro de boi e os alimentos mais dignos como: a mandioca, mandacarus,
água, rapadura, milho, cajarana e tantos outros frutos e cereais que mal alimentam.
Piores habitações, choupanas de sopapo, palafitas e buracos na caatinga, e a casa
grande e a senzala, formavam a imagem do Nordeste.
O Brasil se industrializou, devidamente ou inadequadamente, mas o
importante é a continuidade e o notável conhecimento de sua história, e a defesa do
patrimônio cultural que não permite ter fraturas. A indiferença e o esquecimento são
características das classes médias e altas, que resulta nas fraturas culturais. O povo
não esquece, ele é capaz de se erguer numa continuidade histórica sem fraturas.

2.3 Entre a Cultura e a Arquitetura

Segundo Rosseti (2016), as atuações específicas de um arquiteto


caracterizam um quadro mais variado, expondo outros campos, como a
antropologia, psicologia, entre outros. A arquitetura de Lina Bo Bardi é admirável por
sua pluralidade com que se manifesta na cultura popular, construindo-se em
solucionar eventuais problemas de maneira simples.
Do ponto de vista técnico do projeto moderno e de sistematização da base
industrial da construção, seriam grandes indagações a serem discutidas nas
vanguardas brasileiras. O discurso em torno de um único argumento de conexão
com a tradição e a cultura popular elaborado na época por Lucio Costa se configura
com êxito, (ROSSETI, 2016)
Rosseti (2016) cita três instâncias em que a arquitetura de Lina Bo Bardi se
correlaciona com a cultura popular brasileira. Essas instâncias foram a partir de seus
trabalhos com a cultural popular e não diretamente o povo. A arquitetura de Lina Bo
Bardi, atuava nas regiões simples do modernismo e estabelecendo-se entre os
avanços tecnológicos. Assim, pode-se entender por moderno a escala das
preocupações, a conquista social, conexão projeto cidade, seu espaço contínuo, a
utilização de tecnologias inovadoras e a preocupação com a alterações dos meios
26

técnicos de produção. E que o popular é a metodologia de relacionar as coisas, os


materiais e instrumentalizar referências culturais, ou seja, é uma atividade prática e
de invenção plástica. “Popular é a digna vitalidade dos espaços e sua singela
materialidade, própria para espaços públicos” (ROSSETTI, 2016, p. 3).
A articulação da tensão moderno/popular foi organizada em três instâncias,
maturidade e invenção do projeto, espaço moderno e uso popular e a transformação
das escalas de produção, conforme Rosseti (2016).
Diante de uma simplicidade em espaços, que tenta entrever o que ela
ocupa, Lina Bo Bardi possuía mecanismos de invenção. Mas o importante na
metodologia da arquiteta, eram as suas operações e as relações que se
estabeleciam entre os materiais. A materialidade do trabalho da arquiteta se
configurava a partir das ações de mesclar materiais distintos, afirma Rosseti (2016).
Para o autor, a arquitetura de Lina Bo Bardi nos faz refletir em sua ampla
liberdade de criar soluções e elaborar algo concreto. Verifica-se uma alternativa de
escolhas no processo de elaboração de estilo de projeto que faz com que os
técnicas e materiais sejam conquistados com diferentes intensidades, operando de
modo consoante. Para Lina Bo Bordi é como se em cada projeto o problema se
repetisse novamente, onde tudo será reinventado.
Rosseti (2016) afirma que Lina Bo Bardi agencia seus projetos juntando,
contrapondo, aproximando, ou seja, estabelecendo conexão entre materiais
distintos. Desta forma a arquiteta uni telhado de palha com estrutura autoportante de
concreto, contrapõe esquadrias deslizantes em aço e vidro com esquadrias de
madeira, concreto bruto de estrutura arrojada do MASP, onde dialoga com as
gramíneas espontâneas que brotam no paralelepípedo, como na Figura 08.
27

Figura 08 - Museu de Arte de São Paulo.

Fonte: Disponível em: <www.osturistas.com.br>. Acesso em: fev. de 2018.

Os projetos de Lina Bo Bardi estabelecem um equilíbrio entre os materiais e


técnicas, transformando os lugares em referências urbanas efetivas, assim
consegue-se determinar a qualidade das conexões dos projetos com o tecido e a
vitalidade urbana. Assim, Rossetti (2016) afirma que o uso popular é capaz de
transcorrer em um espaço moderno, que pode receber e abrigar as manifestações
que podem ocorrer também em ruas ou em largos das igrejas.
Rosseti (2016) afirma que ao projetar um espaço é também redesenhar a
cidade, funcionamento, organizar novas relações com o traçado urbano, agindo
sobre seu fluxo. O vigor dessa arquitetura transcorre da fruição publica que as
diversas e diferenciadas ações potencializam, tornando-se substancial para a
cidade. Essa arquitetura moderna oferece uma infraestrutura completa à cidade, que
em muitos casos negligenciado pelo poder público, assumindo as incumbências
sobre o espaço urbano.
A apropriação de espaços por uma gama heterogênea de usuários também
necessita de expressões arquitetônicas, independentemente de seu uso. O SESC –
Pompeia, como pode ser visto na figura 09, é um caso emblemático desta instância,
já citadas anteriormente, assim a antiga fábrica foi ajustada como um lugar perfeito
para receber novas demandas, se transformando em um espaço público dinâmico.
“O sucesso do projeto está na plena apropriação de suas possibilidades espaciais,
incorporadas ao cotidiano dos usuários” (ROSSETTI, 2016, p. 6).
28

Figura 09 - SESC – Pompéia, Lina Bo Bardi, dia de visitação.

Fonte: Disponível em: <www.vivadecora.com.br>. Acesso em: fev. 2018.

A preocupação com a transformação das escalas de produção é um


problema que Lina Bo Bardi trazia desde quando trabalhou com Gió Ponti 3.
Inúmeras iniciativas foram desenvolvidas com interesse de debater o desenho
industrial.
A inserção da Escola de Desenho Industrial e Artesanato4 enfatizou a
importância social e a viabilidade econômica que a mesma teve, ao se preencher de
mão-de-obra disponível, com o uso de matérias primas, palha, barro, entre outras.
Assim, Lina Bo Bardi afirma a existência de um desenho industrial brasileiro.
Deste modo, se faz importante destacar a experiência da arquiteta, nas
transformações de sua postura profissional, com uma visão fortemente racionalista
na percepção de novos parâmetros arquitetônicos. Pode-se notar uma mudança
importante em projetos posteriormente realizados.
Conforme Rossetti (2016) o Solar do Unhão concentra as três instâncias, já
mencionadas anteriormente, da tensão moderno/popular, já que ao mesmo tempo
acomoda o procedimento de transformação das escalas, contém experiências
3 Gió Ponti (1891 – 1979) foi um arquiteto e designer italiano, que popularizou a cultura e interprete do
novo “gosto burguês”. Disponível em: <http://www.floornature.it/gio-ponti-62/> Acessado em abr.
2018.
4 PAULA, Tânia Cristina de. A Escola de Desenho Industrial e Artesanato, idealizado em 1962, por

Lina Bo Bardi, previa o resgate da herança cultural tradicional popular e a promoção de troca de
experiencias e integração entre alunos universitário e mestre artesões, em Salvador – BA. Disponível
em: site www.acasa.org.br. Acessado em abr. 2018.
29

significativas de linguagem, tornando-se um espaço público de uso popular


autêntico.
O solar do Unhão, tombado pelo então Serviço de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, na década de 40, foi reformado e transformado num Centro de
Documentação sobre Arte Popular e Centro de Estudos Técnicos do Nordeste. Uma
nova escada foi projetada e executada, com sistema de encaixes usados nos
antigos carros de boi, com uma estrutura em madeira de lei (Figura 10). Para Lina
(1993) o então Museu de Arte Popular do Unhão, não foi planejado como um Museu
Folclórico, ou seja, documentação estética da cultura popular considerada pela alta
classe, mas sim como ‘Arte’, em outras palavras, o ‘fazer’, relacionados às situações
do cotidiano.

Figura 10 - Exposição de Arte Popular.

Fonte: Disponível em: <www.silontheroad.blogspot.com.br>. Acesso em: fev. 2018.

A demanda da arquitetura contemporânea brasileira encontra-se


extremamente fértil, fornecendo outros parâmetros, projetando novas questões e
revelando valores ocultos desta produção. A capacidade de vincular valores e
linguagens de procedências diversas e de trilhar pelo meio da cultura popular
brasileira, evidencia como as oposições entre moderno e popular são insustentáveis.
Assim Rossetti (2016) afirma que com tanta pluralidade, as escolhas podem aguçar
a expectativa de pensar outros sentidos para a arquitetura construída no Brasil.
30

3 REFERÊNCIA PROJETUAIS DE ESPAÇOS CULTURAIS

Neste capitulo será apresentado uma breve análise projetual de três


espaços culturais, são eles: Centro Cultural El Tranque, Centro Municipal Luiz
Gonzaga de Tradições Nordestinas e Museu Cais do Sertão. A escolha destes
espaços como projetos de referência torna-se uma das ferramentas indispensáveis
para a elaboração do anteprojeto arquitetônico de um Pavilhão Cultural de
Junqueiro/AL, por suas qualidades que serão apresentados a seguir.

3.1 Centro Cultural El Tranque

O Centro Cultural El Tranque (Figura 11) está localizado na avenida El


Traqnue, Lo Barnecha, região metropolitana de Santiago do Chile (Figura 12), com
4,1 Km de distância do centro da cidade. O projeto dos arquitetos Pedro Bartolomé e
José Spichigar, foi entregue em 2015, e nasceu como parte do programa estatal de
centros culturais e infraestrutura para diversas comunidades do Chile, que não
possuíam infraestrutura pública, visto que o terreno proposto se encontra em um
zona residêncial em crescimento, com uma área de 1.400m², e que até 2012
possuía poucos equipamentos públicos e comerciais na região, com uma
diversidade tipológica construtiva, uma geografia de vales e montanhas, (BRANT,
2018).

Figura 11 - Centro Cultural El Tranque.

Fonte: Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acesso em: abr. 2018.


31

Figura 12 - Localização do Centro Cultural El Tranque.

Fonte: Google Earth, 2018.

Os arquitetos criaram um espaço vazio central, uma espécie de praça


pública, de transformação e integração, que fosse possível reunir os habitantes e o
os agentes culturais, a fim de proporcionar um lugar onde as diferenças fossem
esquecidas. Assim a praça no centro do edifício (Figura 13), assumiu caráter
integrador entre as atividades culturais e a vida cotidiana, permitindo a realização de
feiras, bazares e eventos, segundo Brant (2018).
A edificação está dividida em dois blocos interligados, que possuem
formato de “L”. Cada volume recebe programas diferentes, o térreo recebe
atividades públicas e de difusão como: auditório, sala de exposições, cafeteria
(Figura 14), entre outros, o primeiro pavimento é dedicado as atividades de
construção de conhecimento tais como: oficinas de artes musicais, plásticas,
cênicas, culinária (Figura 15), etc. O edifico se abre para a avenida onde o mesmo
se encontra localizado, reforçando assim a ideia de um espaço público.
32

Figura 13 - Praça no centro do edifício.

Fonte: Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acesso em: abr. 2018.

Figura 14 - Planta – Térreo, sem escala.

Fonte: Disponível em: <www.archdaily.com.br> Acesso em: abr. 2018.


33

Figura 15 - Planta – Primeiro Pavimento, sem escala.

Fonte: Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acesso em: abr. 2018.

A tipologia construtiva do Centro Cultural tem como embasamento o


concreto armado revestido em pedras da região, onde o volume suspenso é um tipo
de ponte constituído por uma estrutura metálica e laje pós-tensionada.
Assim, o projeto é a própria justificativa de se criar uma praça central, que
se caracteriza pela relação entre os dois volumes opostos, um com o princípio de
convidar e acolher o usuário, o outro configurando e delimitando a praça, formando a
fachada urbana do edifício. Assim o Centro Cultural El Tranque se torna um ponto
de referência cultural e turístico para a região de Lo Barnecha, conforme Brant
(2018).
Dessa forma, pode-se destacar um ponto importante da edificação, a
proposta de integração da comunidade com o edifício através de uma praça aberta,
onde a mesma oferece outras funcionalidades como a exemplo de um espaço que
permite a realização de uma feira, se tornando um espaço público, pontos relevantes
que serão incorporados ao produto final deste trabalho.
34

3.2 Centro Municipal Luiz Gonzaga de tradições Nordestinas

Este Centro Cultural está localizado na Rua Campo de São Cristóvão, no


Bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro (Figura 16), com 6,8 Km de distância do
Museu do Amanhã, um dos cartões postais da cidade carioca. O projeto é do
arquiteto Sérgio Bernardes, que tem como concepção o contorno da praça no lago
de São Cristóvão, com forma elíptica que preserva os arruamentos e arborização
existente, que tem uma área de 30.000 m², segundo informações do site do próprio
arquiteto.

Figura 16 - Localização do Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas (antiga feira de
São Cristovão), em relação Antigo ao Museu do Amanhã.

Fonte: Google Earth, 2018.

Segundo Bernardes (2018) o espaço foi originalmente projetado para


abrigar exposições nacionais e internacionais, feiras e eventos culturais. O edifício
de 1960 foi reformado em 2005 pelo poder municipal, passando a se chamar de
Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. Dentre as mudanças
feitas na reforma, se destaca a retirada da coberta do antigo pavilhão,
descaracterizando assim o espaço consolidado, como pode ser visto nas Figuras 17
e 18. A antiga coberta tinha 250 m x 150 m, sendo considerada arrojada para a
época de construção, por sua dimensão e material utilizado em lona e cabos de
tração, de acordo com Bernardes Arquitetura (2018).
35

Figura 17 - Antigo Pavilhão de São Cristóvão.

Fonte: Disponível em: <www.bernardesarq.com.br>. Acesso em abr. 2018.

Figura 18 - Atual Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas.

Fonte: Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acesso em: abr. 2018.

De acordo com o portal Feira de São Cristóvão, o espaço atualmente


oferece ao visitante artesanato, comidas tipicamente nordestina, bebidas e muita
música (ver figura 19), além de um estacionamento para mais de 800 veículos. O
visitante pode desfrutar e conhecer a diversidade de produtos comercializados nas
centenas de barracas e lojas que oferecem o melhor da cultura do norte e nordeste.
Além disso, o espaço ainda contempla dezenas de restaurantes, tornando a
gastronomia um dos setores principais do edifício.
36

O espaço físico foi alterado e as antigas barracas que se encontravam no


lado exterior do antigo pavilhão, foram realocadas para o interior do Centro
Municipal. Algumas dessas reformas arquitetônicas foram criticadas por profissionais
da área, a exemplo do arquiteto da UFRJ, André Luiz Carvalho, que em sua fala
durante entrevista ao portal da Feira de São Cristóvão, afirma que o espaço não é
mais considerado como uma feira, mas sim como um centro de lazer, mas se
mantendo vinculado a cidade do Rio de Janeiro, ligada a identidade nordestina e
também identidade carioca. Assim, o centro oferece ao visitante uma diversidade de
produtos que a região nordeste possui, pois em suas quase setecentas barracas, os
mesmos podem desfrutar das riquezas tradicionais e dos ritmos diversificados como
forró, baião, xaxado, arrasta-pé, maracatu e outros ritmos genuínos.
Assim, é nítido a setorização do espaço em questão, se tornando
organizado e funcional, ponto importante em projetos arquitetônicos, que será
levado para a proposta final deste trabalho. Um outro ponto importante que se pode
levantar em relação ao Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas e a
sua importância cultural na identidade da cidade do Rio de Janeiro, que através do
espaço é transmitido a grande riqueza cultura popular do Nordeste.

3.3 Museu Cais do Sertão

O Museu Cais do Sertão está localizado na porção histórica do Recife


Pernambuco, no antigo armazém 10, vizinho ao centro de artesanato e ao marco
zero (Figura 19). Projeto de autoria do escritório Brasil Arquitetura, faz parte de uma
série de requalificações realizada na zona portuária da cidade. O espaço tem como
objetivo apresentar a cultura sertaneja a partir da vida de Luiz Gonzaga, a fim de
proporcionar ao visitante uma imersão na acultura popular nordestina, segundo
Anticoli e Almeida (2016).
37

Figura 19 - Mapa de localização do Museu do Cais do Sertão.

Fonte: Google Earth, 2018.

O espaço é um empreendimento de economia criativa5, com uso de


recursos de tecnológicos inovadores, automação e interatividade. A edificação está
dividida em dois volumes, ver figura abaixo, o primeiro é uma alusão volumétrica a
um galpão, e o segundo um prisma com traços contemporâneos. Mas a forma
prismática e a escala adotada geram uma relação contrastante do edifício com o
entorno, segundo informações do site do Museu Cais do Sertão (2018).

Figura 20 - Projeto Museu Cais do Sertão.

Fonte: Disponível em: <www.brasilarquitetura.com.br>. Acesso em: abr. 2018.

5 Segundo o Sebrae Nacional a economia criativa é o conjunto de negócios baseados no capital


intelectual e cultural e na criatividade que gera um valor econômico, abrangendo ainda os ciclos de
criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam criatividade, cultura e capital intelectual
como insumos primários. Disponível em: Site www.sebrae.com.br. Acessado em mai. 2018.
38

As atividades desenvolvidas no Museu do Cais do Sertão são variadas e


se distribuem ao longo das edificações. O acesso principal as edificações se dão
pela Praça do Juazeiro, elemento simbólico e de extrema relevância para identidade
do projeto (Figura 21). No térreo estão localizadas as exposições, praça, bar, loja
entre outros espaços (Figura 22), de acordo com Alves (2014).

Figura 21 - Fachada Principal, sem escala.

Fonte: Anticoli e Almeida, 2016.

Figura 22 - Planta Baixa – Térreo, sem escala.

Fonte: Alves, 2014.

De acordo com Alves (2014) o primeiro pavimento é dedicado as


atividades lúdicas como: sala de karaokê, salas de mixagem, discoteca, oficinas,
entre outros (Figura 23). No segundo pavimento o visitante pode desfrutar de
biblioteca multimídia, salas multiuso, galeria, entre outros espaços (Figura 24). Na
coberta do prisma fica localizado um terraço jardim, importante elemento de
equilíbrio térmico no interior do edifício, se apropriando da beleza natural do lugar a
fim de oferecer ao visitante uma visão geral do entorno, funcionando com um
mirante. Na cobertura ainda há um restaurante, como ser visto na figura 25.
39

Figura 23 - Planta Baixa – Primeiro Pavimento, sem escala.

Fonte: Alves, 2014.

Figura 24 - Planta Baixa – Segundo Pavimento, sem escala.

Fonte: Alves, 2014.

Figura 25 - Planta Baixa – Cobertura, sem escala.

Fonte: Alves, 2014.

Conforme Anticoli e Almeida (2016) a volumetria do edifício extrai


elementos simbólicos das raízes do sertão, nos quais foram transformados na trama
geométrica de cobogós em grande escala que revestem o volume, desenvolvidos a
partir da matriz do desenho formado entre os galhos contorcidos das arvores e pelas
fissuras presentes no solo seco do sertão, ver Figura 26.
40

Figura 26 - Trama de Cobogó.

Fonte: Anticoli e Almeida, 2016.

Segundo Alves (2014), o Museu Cais do Sertão é alvo de grandes elogios


e duras críticas, a respeito de sua implantação em desarmonia com o contexto
histórico, legal e urbano, com a utilização de técnicas construtivas de estilo
contemporâneo em uma área patrimonial.
Mesmo assim, o projeto tem grande relevância cultural e econômica para
a cidade do Recife, aliando o passado ao futuro, o passado seriam as heranças
culturais e de identidade do povo sertanejo, e o futuro as formas como essas
heranças são transmitidas e preservadas, através das novas tecnologias, uma das
qualidades da edificação, e que serão levadas em consideração durante o projeto.
Desta forma os três objetos analisados foram importantes para uma
melhor compreensão e entendimento acerca de espaços culturais públicos em seus
aspectos arquitetônico, econômico, social e cultural. Foram notórias as intervenções
urbanas nas áreas de implantação, que em alguns casos estavam degradados e
esquecidos pela sociedade. Esses pontos levantados anteriormente serão levados
em consideração durante a elaboração da proposta de anteprojeto arquitetônico
deste trabalho.
41

4 CARACTERIZAÇÃO SOCIOCULTURAL DE JUNQUEIRO - AL

Neste capítulo é apresentada a localização de Junqueiro dentro do estado


de Alagoas assim como o resultado de um estudo prévio do perfil de três setores do
município: Educação, Saúde e Cultura, com o objetivo de detectar o setor que
atualmente se encontra com deficiências sem o devido reconhecimento das suas
potencialidades e reais demandas.

4.1 Localização e Caracterização do Município

Junqueiro, município localizado na região centro-sul do estado de Alagoas,


limita-se com os municípios de Limoeiro de Anadia, Campo Alegre, Teotônio Vilela,
São Sebastião e Arapiraca, distanciando-se à 110 Km da capital Maceió, como pode
ser visto na figura 27. Junqueiro conta com uma população estimada em 25.093
habitantes, segundo a estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE (2017). O município apresenta 1.2% de domicílios com esgotamento sanitário
adequado, 70% dos domicílios urbano em vias públicas com arborização e 6.1% dos
domicílios em vias públicas com urbanização adequada, que compreende a
presença de bueiros, calçadas, pavimentação e meio fio, segundo senso de 2010.

Figura 27 - Mapa de Localização do Município de Junqueiro.

Fonte: Disponível em: <www.wikipedia.org/wiki/Junqueiro>. Acesso em: mai. 2018.

O município apresenta uma topografia bastante íngreme, na zona urbana,


com altas elevações. Os problemas existentes estão relacionados a questão de
42

drenagem urbana, se fazendo essencial sistemas preventivos de inundações em


áreas mais baixas sujeita a alagamentos. Em seu território urbano, o município
abrange edifícios, em vários seguimentos como tais: educação, saúde, instituições
religiosas, assistência social, segurança, tele centro, espaços públicos e privados
para esporte e lazer, entre outros.

4.2 Aspectos Históricos

A abundância de junco, utilizado largamente pelos moradores na fabricação


de utensílios domésticos e outros, às margens da antiga lagoa em frente da igreja,
onde se formou o primeiro aglomerado populacional, como pode ser visto na
imagem a seguir, originou diretamente o nome do município. A exploração cresceu e
os que passavam em direção à lagoa comentavam: “Vamos para o Junqueiro”,
expressão usada pelos anciões, referindo-se ao lugar onde eles extraiam a matéria
prima, o junco, conforme o Plano Municipal da Cultura (2017).

Figura 28 - Aglomeração de residências em volta da Igreja São Sebastião de Junqueiro na década de


1960.

Fonte: Disponível em: <www.cidades.ibge.gov.br/brasil/al/junqueiro/historico>. Acesso em: mar. 2018.

Isabel Ferreira e sua família constam na história do município como os


primeiros habitantes. Uma de suas filhas casou-se com um mulato chamado Tomaz,
43

vindo de Sergipe, que mais tarde ficou conhecido como pai Felix. Seu nome é
apontado como um dos destaques no desenvolvimento de Junqueiro, segundo
informações do site da Prefeitura Municipal de Junqueiro (2018).
De acordo com o Plano Municipal de Cultura (2017) contava os mais antigos
que no tronco do ingazeiro foi encontrado uma cruz com um pequeno desenho da
Divina pastora em um dos braços. Mais tarde foi transformado numa capela e após
algum tempo, na igreja matriz, como pode ser visto na figura 29, que tem hoje como
padroeira, Nossa Senhora Divina Pastora.

Figura 29 - Igreja Matriz Nossa Senhora Divina Pastora, 1960.

Fonte: Disponível em: <www.cidades.ibge.gov.br/brasil/al/junqueiro/historico>. Acesso em: mar. 2018.

Segundo informações do Plano Municipal de Cultura (2017), Junqueiro era


habitada por brancos, negros, pardos, descendentes de quilombolas e índios da
tribo caetés, que formavam pequenos grupos ribeirinhos, onde se situavam os
primeiros engenhos que funcionavam de forma artesanal, movidos pela força animal.
Com o cultivo da mandioca, foi surgindo também as casas de farinhas, um
importante meio de subsistência daquela pequena comunidade. Estes primeiros
habitantes deixaram grandes heranças culturais, a exemplos das manifestações,
folguedos, culinária, artesanato, como pode ser visto nas Figuras 30 e 31.
44

Figura 30 – Guerreiro Tradição Junqueirense.

Fonte: Acervo Sr. Natalício Ferreira, 2013.

Figura 31 - Apresentação do Pastoril no coreto da cidade.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.

Anos mais tarde, o município que até então pertencia a Limoeiro de Anadia,
passou a ser totalmente independente governada por um prefeito interino, enquanto
se providenciava uma eleição oficial que ocorreria no ano de 1948. Assim o
município foi sendo construído, culturalmente e politicamente.
45

4.3 Estudo dos Setores

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Junqueiro, em 2010, foi de


0,575, e segundo informações coletadas em 2017 na Secretaria Municipal de
Educação de Junqueiro, o setor conta com 38 edificações, como pode ser visto no
Mapa - Educação, sendo 10 na zona urbana e 28 na zona rural, para assim atender
toda a demanda do setor educacional. Nesse setor, a população junqueirense é
atendida com 4 escolas de Educação Infantil Municipais, 29 escolas de Educação
Fundamental Municipais, 01 escola de Ensino Médio Estadual, 01 escola de Ensino
Infantil e Fundamental Privada e 03 edificações de apoio, sendo elas, sede da
Secretaria Municipal de Educação, sede do Conselho Municipal de Educação e
Indústria do Conhecimento (SESI).
46

Figura 32 – Mapa Educação.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


47

No setor da saúde, os junqueirenses são abastecidos por 33 edificações,


como pode ser visto no Mapa - Saúde, sendo 12 na zona urbana e 21 na zona rural,
distribuídos de uma forma que tenta atender a toda a demanda do município. As
edificações estão divididas em: 14 Postos de Saúde, 09 Unidades Básicas da Saúde
(UBS’s), 01 Laboratório Regional de Prótese Dentária, 01 Centro de Apoio
Psicossocial (CAPS), 01 Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), 01 academia
de saúde, 01 Hospital com um anexo para o centro médico e laboratório municipal,
Sede da Secretaria Municipal de Saúde com um anexo para o centro de
abastecimento farmacêutico e 01 Clinica Medica Privada.
48

Figura 33 - Mapa Saúde

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


49

O setor cultural é atendido através de 01 Centro Cultural que abriga as


atividades e demandas do município, comtemplando em seu espaço a Secretaria
Municipal de Cultura e Turismo, entre outros ambientes. Existem outras edificações
de apoio a cultura local, são elas: Associação Luz Divina, com sede alugada, Coreto
Seresteiros, Praça Multieventos, Teatro São José pertencente à igreja católica,
Teatro ao ar Livre que pertence a Associação luz divina e 01 Engenho de produtos
orgânicos, como pode ser visto no Mapa - Cultura.
50

Figura 34 - Mapa Cultura

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


51

A cultura junqueirense é fomentada pela comunidade, escolas, grupos,


associações e pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, motivados pela
difusão da cultura local, revitalização da memória e resgate das manifestações
artístico-culturais.
A secretaria, através de projetos municipais e de uma pequena parcela
federal, valoriza a produção artística local e o patrimônio cultural, incentivando e
apoiando oportunidades de sustentabilidade para a inclusão de jovens e agentes
culturais na economia local.
O setor conta com um extenso panorama cultural, que está organizado
através das festas e eventos permanentes como carnaval, encenação da Paixão de
Cristo, festa junina, festa de emancipação política, encontro cultural dos filhos da
terra, semana natalina e festa da padroeira, os folguedos como pastoril, coco de
roda, guerreiro, quilombo, chegança, os quais enfrentam uma grande resistência na
valorização de identidade cultural local.
Na parcela cultural, o município é munido por outros campos como o
audiovisual, com grande referência de artistas cinematográficos, a exemplo Pedro
Rocha e Jair dos Santos, no cenário alagoano, artes visuais, etc.; atualmente nesta
área é possível encontrar mais trabalhos da cultura no município.
Nas artes cênicas, possui segmento com grandes inciativas da comunidade.
Na música, possui um segmento mais representativo devido à quantidade de
músicos, a exemplo de Evandro, Robson e do grupo musical Os Geniais. Na
literatura, possui escritores com destaques por suas obras e pelo trabalho
desenvolvido em favor da literatura em outros estados, como exemplo Zuleidina
Aguiar.
No segmento do artesanato tem uma grande referência local, a exemplo de
Sr. José Vital, Joaquim (Figura 35), Gaspar Ferro, entre outros. No entanto, a sua
produção hoje não está ligada as culturas de raízes. Atualmente o artesanato
produzido em Junqueiro é fruto de um conhecimento isolado que não
necessariamente era produzido como antigamente. Um dos grandes obstáculos
nesse campo é a preservação das expressões artesanais tradicionais ou a
renovação/inovação de linguagens, materiais e tecnologias, que contribuam para
sua sobrevivência. Outra grande necessidade é a implantação de um espaço que
ofereça uma infraestrutura de qualidade aos artesãos. Desse modo fica explicito a
existência de uma lacuna referente ao segmento artesanato.
52

Figura 35 - Artesão Junqueirense, Sr. Joaquim.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Junqueiro, 2014.

O município não possui nem uma legislação própria referente ao patrimônio


local, tais patrimônios recebem certa atenção por parte da comunidade e do poder
religioso. Esse e outros segmentos enfrentam inúmeros obstáculos que impedem o
desenvolvimento dos mesmos, que vão desde a falta de investimentos e incentivos,
até a falta de infraestrutura adequada que abrigue todos os segmentos.
53

4.4 Caracterização Projetual do Atual Centro Cultural Manoel Pereira Filho

Com poucos espaços para as manifestações culturais locais e tendo um


único edifício que abriga as mesmas, o município de Junqueiro apresenta carências
no setor cultural, onde pode ser identificado apenas o Centro Cultural Manoel
Pereira Filho como exemplo desses espaços (Figura 36). É importante ressaltar que
desde 2009, ano de sua inauguração, até o presente momento, o prédio não passou
por nenhuma reforma em seu espaço.

Figura 36 - Mapa de localização do Centro Cultural Manoel Pereira Filho – Junqueiro/AL.

Fonte: Google Earth, 2018.

O Centro Cultural está implantado em um uma área residencial, comercial e


institucional (Figura 37), e seu o edifício abriga todo apoio as atividades culturais do
município. O mesmo é dividido por ambientes, que são eles: recepção, sala de
direção e coordenação de projetos, biblioteca pública, sala de informática,
desativada no momento, sala de vídeo, que serve como um mini auditório, sala de
oficina de música, sala de apoio aos contadores de estórias, área de exposições,
pátio coberto, despensa para material, sala de apoio aos folguedos, sala que
atualmente abriga um pequeno acervo da história do município, três salas de apoio a
banda de fanfarra.
54

Figura 37 - Planta de Uso e Ocupação do Solo, sem escala.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

É notório a falta de ambientes adequados às atividades oferecidas pelo


centro cultural, a exemplo de uma pequena sala que serve de apoio às
manifestações do município, além da falta de organização dos mesmos. Pode-se
levantar algumas problemáticas críticas como: ausência de ambiente que abrigue os
artesãos, espaço este que possibilite a produção e comercialização de suas peças,
salas de oficinas de artesanato, de literatura, dedicados a troca de conhecimentos,
espaços livres para apresentações, onde este tenha uma relação direta com a
comunidade, se tornando um espaço atrativo a todos, entre outros. Sendo assim o
atual centro cultural encontra-se sufocado pela atual demanda de suas atuais
atividades, anteriormente citadas.
55

5 PROPOSTA ARQUITETÔNICA

Este capítulo apresenta o desenvolvimento do anteprojeto arquitetônico


como produto deste trabalho, a fim de fortalecer e oferecer um novo espaço público
para o município de Junqueiro, através da concepção de um Pavilhão Cultural.

5.1 Condicionantes Projetuais

5.1.1 Terreno

O terreno escolhido para implantação do Pavilhão Cultural está localizado no


bairro João José Pereira, como pode ser visto na Figura 38, uma área residencial,
comercial e institucional (Figura 39). Atualmente o terreno é usado como local de
descarte de veículos e peças velhas, com uma área total de 8.290,81m²,
confrontando ao oeste com a Rua Frei Pascácio, ao norte e sul com lotes
residenciais e ao leste com a rua João Barbosa dos Santos.

Figura 38 - Localização do Terreno Proposto.

Fonte: Google Earth, 2018.


56

Figura 39 - Planta de Uso e Ocupação do Solo da área de estudo.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

Os pontos que levaram a escolha desse terreno foram a sua própria


localização na avenida principal da cidade, Frei Pascácio, sendo uma área
movimentada por fluxo de pedestres e veículos, estando em um ponto
estrategicamente central na área urbana. Além disso possui infraestrutura com rua
asfaltada, sistema de drenagem, abastecimento de água e energia, coleta de lixo,
entre outros pontos positivos. Dessa forma, o local para a implantação passa a se
tornar um espaço público, a fim de fortalecer a cultura local.

5.1.2 Legislação

De acordo com o Código de Obras do Município de Junqueiro – Al (2005),


Lei Nº 0446/05:
Art. 185 – As edificações destinadas a reuniões culturais e recreativas
deverão satisfazer às seguintes condições de exigências contidas neste código para
edificações em geral.
57

III – possuir duas saídas, no mínimo, para logradouros ou para corredores


externos ou galerias, de largura não inferior a 3,00 m (três metros) sendo proibida a
abertura de portas sobre o passeio;
IV – ser dotada de instalação de renovação de ar;
VI – dispor de instalações e equipamentos necessários ao combate auxiliar
de incêndio.
A fim de traçar parâmetros mais detalhados foi analisado o Código de
Urbanismo e Edificações de Maceió (2007), Lei Municipal Nº 5.593, sobre os artigos
451 e 485, que tratam de edificações para reunião de público. O “Art. 485 – As
edificações ou locais destinados à reunião de público, como cinemas, teatro,
templos religiosos, centros de convenções, estádios, salões de eventos, casas de
espetáculos e similares, observarão às seguintes exigências:” descritos nos incisos
deste artigo.
Art. 451 – Toda edificação de uso não-residencial obedecerá às seguintes
condições:
I – As edificações horizontais, com até 2 (dois) pavimentos, seguirão os
mesmos parâmetros urbanísticos estabelecidos para o Uso Residencial 1 (UR-1),
salvo as restrições especificas previstos no zoneamento.
O zoneamento urbano está subdividido em oito zonas: residenciais,
residências agrícolas, interesse turístico, expansão, especiais de preservação
cultural, interesse ambiental e paisagístico, especiais de interesse social e industrial.
Desse modo serão tomadas diretrizes da zona de preservação cultural sob o Art. 55,
que subdivide está zona em três setores, preservação rigorosa 1 (SPR-1),
preservação rigorosa 2 (SPR-2) e entorno cultural (SPE-2), que tem as seguintes
diretrizes:
a) verticalização permitida até 8 (oito) pavimentos, compatível com a
preservação do patrimônio cultural;
b) atividades comerciais, de serviços e industriais, até o grupo III,
compatibilizados com a preservação do patrimônio cultural.
Segundo informações do Código de Urbanismo e Edificações de Maceió
(2007), referente aos parâmetros urbanísticos da zona e corredor urbano – centro,
contido no quadro 1 do código, o setor de Preservação do Entorno Cultural 2 (SPE-
2) é permitido uma taxa de ocupação máxima do terreno de 70%.
58

De acordo com Norma Brasileira 9050 (2015), referente a acessibilidade a


edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, será estabelecido critérios
e parâmetros técnicos a serem aplicados no anteprojeto arquitetônico, visando
possibilitar à maior quantidade possível de usuários a utilizar de maneira autônoma
e segura o espaço edificado.

5.1.3 Caracterização Climática de Junqueiro - AL

Com adequação aos condicionantes ambientais, é possível melhorar a


qualidade de vida do usuário no ambiente construído e consequentemente se obter
um ganho em eficiência energética.
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (2018), o município de
Junqueiro apresenta as seguintes características climáticas: temperatura do ar
mínima de 21Cº e máxima de 30Cº; com umidade mínima de 35% e máxima de
90%, e com ventos predominantes do leste e sudeste (Figura 40).

Figura 40 – Estudo esquemático da incidência solar e ventilação do terreno proposto.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


59

Diante da breve análise dos condicionantes, pode-se traçar uma setorização


dos espaços da proposta do Pavilhão Cultural, a fim de oferecer conforto e bem-
estar aos usuários, orientando assim as áreas de convívio prolongado para a face
leste, nascente, e as áreas de rápida permanência para a face oeste, poente.

5.2 Programa de Necessidades

O programa de necessidades do Pavilhão Cultural, apresentado a seguir


(Figura 41), foi elaborado com base no atual Centro Cultural do município e suas
demandas apontadas no Plano Municipal de Cultura de Junqueiro (2017), além de
uma breve análise de outros espaços que possuem a mesma função (ver Capítulo
3). Tomando como base essas duas referências, foi possível construir um programa
de necessidades simplificado que possa atender as demandas do município.

Figura 41 - Programa de Necessidade.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

O atual programa de necessidades foi elaborado através de setores, a fim de


organizar os espaços e os fluxos dos usuários, além de distribuir as atividades
oferecidas pelo futuro pavilhão cultural.
60

5.3 Diretriz Plástica e Espacial

Segundo Cabral (s/d) o artesanato é uma técnica manual usada para


produzir peças a partir de matéria-prima natural, a exemplo da palha, barro, madeira
entre outros. Para a autora, tais peças são produzidas por famílias em suas próprias
residências ou em pequenos espaços que servem de sedes comunitárias.
O artesanato brasileiro, em especial o nordestino, é considerado e
reconhecido como um dos mais ricos do mundo, pelos seus variados tipos,
revelando assim seus usos, costumes, tradições e características de cada lugar.
Pode-se aqui destacar alguns desses tipos de artesanato como cerâmica, renda,
entalhado em madeira, cestas e trançados entre outros, de acordo com o site Fuchic
(2018).
O partido plástico da proposta arquitetônica do Pavilhão Cultural de
Junqueiro/Al, adotado neste trabalho, tem referência no artesanato local, mais
especificamente no cesto feito com junco6 (Ver Figura 42), na técnica de trançar e no
do movimento feito pelas mãos dos artesãos que produzem esse tipo de arte
popular.

Figura 42 - Cesto de junco.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

6 Junco planta marginal de crescimento rápido, de folhas afiladas e cilíndrica, em forma de lanças de
verde intenso, contudo, se plantada juntamente com outras plantas ou em solo com pouca umidade,
pode não se desenvolver satisfatoriamente. Disponível em: <https://www.jardineiro.net/plantas/junco-
juncus-effusus.html>. Acessado em: 01 mai. 2018.
61

Com base na forma estrutural do cesto considerado na presente proposta,


formada a partir do movimento feito pelo trançado do junco, obtém-se uma malha
com linhas ortogonais horizontais, que fazem o trançado, e o verticais, que servem
de base para o mesmo (Figura 43).

Figura 43 - Processo de criação e forma geométrica com o trançado de junco.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

Dessa forma, incorpora-se como estratégia de projeto, durante o processo


de criação do Pavilhão Cultural, os eixos que formam a trama do cesto de junco, que
serviu como traçado geométrico para implantação do projeto. Uma vez sobreposta
ao terreno, essa trama orientou a articulação entre os principais setores do projeto
(Figura 44).

Figura 44 - Sequência do processo de criação do traçado arquitetônico.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

Sendo assim, a forma primária do trançado de junco irá compor toda coberta
do pavilhão, utilizando-se o aço, como material dos componentes estruturais, e do
bambu, nos elementos de vedação, elemento natural que simbolicamente
representará o junco.
62

5.3.1 Setorização e Implantação

A concepção arquitetônica do Pavilhão Cultural será orientada pela


modulação de 18m x 36m, que configura uma malha disposta ao longo do eixo
vertical na direção leste – oeste. Estes módulos definem setores independentes,
aglutinados por uma grande coberta independente dos mesmos. Os módulos ou
blocos são o setor comercial, setor de eventos/exposições, setor do conhecimento e
setor administrativo, como pode ser visto nas imagens a seguir abaixo (Figuras 45 e
46).

Figura 45 - Estudo da setorização e locação dos módulos.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

Figura 46 - Estudo da coberta do Pavilhão.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


63

Desse modo, obtém-se como resultado um Pavilhão que se caracteriza


como um espaço permeável e urbano, que estabelece relação de continuidade com
as práticas diárias e culturais, como foi pensado no Centro Cultural El Tranque. Além
disso, possibilita usos simultâneos, tais como a realização de diversos eventos no
espaço livre sobre a coberta, que podem acontecer indecentemente dos usos
abrigados nos quatro setores principais do edifício, portanto atendendo tanto as
demandas socioculturais da população local.
Além disso, as especificidades do terreno, tais como a localização em área
residencial do bairro, e a proximidade do terreno do centro da cidade, fizeram com
que tivesse um cuidado com a implantação e definição da escala urbana do projeto.

5.3.2 Conforto Ambiental

O jogo modulável entre os setores e a coberta contribuíram também para


integração do meio interno e externo, permitindo que se tenha uma ventilação
cruzada e ligação direta com os elementos paisagísticos. Para valorização das áreas
abertas do pavilhão, optou-se pela implantação dinâmica dos quatro volumes e seus
respectivos setores, organizados ao longo do eixo do projeto materializado pelo
espaço sob a coberta. Esse jogo de volumes entre os blocos, aliado ao
prolongamento da coberta e brises verticais, proporcionará sombreamento
adequado nas fachadas que recebem maior incidência de luz solar ao longo do dia.
O uso da iluminação natural no interior, proporcionada pelo uso de materiais de
vedação tais como o vidro, além da ausência de elementos de vedação em grandes
porções do edifício, também adquire a mesma importância do sombreamento e da
ventilação cruzada (Figura 47).

Figura 47 – Estudo esquemático da incidência de luz natural e ventilação cruzada.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


64

5.3.3 Paisagismo

O agenciamento do pavilhão configura-se por um paisagismo que respeita a


escala do bairro criando uma grande praça urbanizada, essencialmente pública e
acessível, que poderá abrigar pequenos e médios eventos, oferecendo ainda a
possibilidade de implantação de estruturas efêmeras como extensão e continuidade
das atividades abrigadas no edifício.
Assim, foram criadas áreas verdes, destacadas na implantação, e caminhos
marcados por um único tipo de piso, sendo proposto o uso do megadreno na cor
cinza claro, que se adequam ao perfil topográfico plano do terreno, como pode ser
visto na Figura 48. As vagas de estacionamentos, sendo um total de 48 vagas,
foram locadas no entorno do pavilhão, as mesmas serão marcadas pelo uso de piso
grama (Figura 49).

Figura 48 – Perspectiva da Implantação.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


65

Figura 49 – Perspectiva da implantação, estacionamento e Pavilhão Cultural.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

A seguir será apresentando um breve memorial descritivo de cada setor que


compõe este pavilhão, os quais farão referência simbólica a manifestações culturais
presentes no município de Junqueiro.

5.3.4 Setor Comercial

O progresso da economia das famílias alagoanas pode ser contado através


dos velhos engenhos de açúcar, que com seus conjuntos arquitetônicos exploram a
referência histórica de uma das técnicas produtivas mais importantes do estado e do
país, segundo Alves (2016). Em Junqueiro, o Engenho Brejo dos Bois, com
instalações rústicas, é um dos principais engenhos de produtos orgânicos extraídos
da cana de açúcar, como a tradicional cachaça envelhecida, a rapadura, mel de
engenho e o açúcar mascavo.

Os quiosques que compõem esse setor foram inspirados no engenho, mais


nitidamente dos elementos construtivos rústicos, tais como o tijolinho adobe (Figura
50). Desse modo, o setor oferece um espaço aberto, confortável e interativo para o
usuário, compondo-se de dois tipos de quiosques diferenciados por sua divisão
interna, como pode ser visto nas pranchas a seguir. Esses quiosques possuem
66

formas simples construídas com tijolinho adobe e uma coberta simples de telha de
fibra vegetal, priorizando a funcionalidade do espaço.
Um dos acessos ao setor é marcado com uma escultura de madeira que, de
forma simbólica, também remete ao antigo engenho. Cada tipo de quiosque abrigará
um segmento do setor comercial: o quiosque tipo 1 será destinado à alimentação, e
quiosque tipo 2, à comercialização de produtos variados. O conjunto dos mesmos
formam uma espece de feira gastronômica, assim como acontece no Centro
Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. O espaço ainda pode contemplar
pequenas apresentações musicais ao vivo e outras atividades referentes às
manifestações populares. O setor ainda conta com um bloco de banheiros e o seu
entorno contém mesas e bancos de madeira de alpina, possibilitando aos usuários
uma permanência agradável.

Figura 50 – Perspectivas – Setor Comercial.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


69
70

5.3.5 Setor Eventos

Esse setor fará referência a um dos segmentos da cultura popular


junqueirense, a fabricação de utensílios domésticos, tais como balaio, cestos,
esteiras de cangalha, dentre outros itens que fazem parte da história do município e
refletem a abundância de junco como matéria prima artesanal.
Neste setor foi proposto um auditório destinado as atividades culturais que
necessitem de um espaço fechado (Figura 51), mas que ao mesmo tempo pode se
abrir através de seu palco reversível voltado a faixa central do pavilhão. A parede
côncava arremata a forma do volume e se configura, ao mesmo tempo, como
elemento divisor entre o espaço interno e o externo. Esse espaço se configura em
um único sólido de estrutura de concreto aparente com revestimento intercalado de
painéis ripados em madeira, que representa, metaforicamente, o processo
interrompido de fabricação do cesto. Esse volume edificado também contempla dois
banheiros, depósito para equipamentos e cabine de som, na sua parte superior,
como pode ser visto nas pranchas a seguir.
O setor ainda abrange um amplo espaço para exposições fixas e/ou
temporárias em um ambiente totalmente aberto a população (Figura 52). O mesmo
ainda pode servir de espaço multiuso que permite acontecer mais de um evento ou
apresentação simultâneos, além de possibilitar que os organizadores possam
instalar estruturas efêmeras perpassando por toda extensão do pavilhão,
conectando assim todos os setores e possibilitando múltiplas formas de apropriação
pelos usuários.
O eixo que ordena os quatro volumes encontra-se marcado por uma
paginação composta de piso megadreno em três cores, grafite, ocre e palha, se
diferenciando de todo resto do edifício. Esse grande espaço de caráter
multifuncional e de circulação estabelece uma conexão direta com a cidade,
conduzindo os usuários até o pavilhão.
71

Figura 51 – Perspectiva - Auditório.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

Figura 52 – Perspectiva de uma das áreas destinada a eventos.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


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5.3.6 Setor Conhecimento

Esse setor faz alusão ao pastoril, um dos mais difundidos folguedos


populares em toda região nordeste que integra o ciclo dos festejos de fim de ano. O
folguedo representa uma dramatização natalina com diferentes personagens e dois
cordões formados por pastoras, o cordão encarnado e o cordão azul. Entre os dois
cordões, configurando um elemento neutro, baila Diana, com seu vestido metade
encarnado, metade azul, segundo Valente (2009).
Segundo informações do Plano Municipal de Cultural de Junqueiro (2017), o
município conta atualmente com dois grupos de pastoril, um na cidade, desenvolvido
pela própria secretaria de Cultura e Turismo, e outro no povoado Retiro Velho, que
tem como nome Pastoril de Santo Antônio, sendo este reconhecido pela Secretaria
Estadual de Cultura.
Partindo da sua organização em duas filas de pastoras, se projetou dois
volumes simétricos (Figuras 53 e 54), que abrigarão oficinas de artesanato, música,
dança, artes cênicas, entre outros, configurando-se como setor que abrigará
diversas atividades. Esses volumes se configuram em planta e em volume da
mesma forma, em dois blocos sólidos construídos com concreto pigmentado, um na
cor azul e outro na cor terracota, em platibanda com telha de fibra vegetal, como
pode ser visto nas pranchas a seguir. Cada volume conta com baterias de
banheiros, atendendo às normas de acessibilidade e parâmetros dimensionais
previstos na NBR 9050.
Assim como no folguedo, existe um elemento neutro entre os dois
cordões/volumes desse setor, representado pelo espelho d’água que passa no meio
dos dois volumes se estendendo até a via principal do terreno. Tal como foi utilizado
no Museu Cais do Sertão, este espelho d’água surge como um elemento de projeto
que faz referência a um dos famosos rios que passa no município, o Rio Piauí.
75

Figura 53 – Perspectiva – Setor Conhecimento.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

Figura 54 – Perspectiva – Setor Conhecimento.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


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5.3.7 Setor Administrativo

O volume edificado do setor administrativo remete ao Guerreiro, grupo


multicolorido de cantores e dançadores considerado como irmão do reisado, fazendo
parte, assim como o pastoril, do ciclo de festejos natalinos. Tem sua origem no
estado de alagoas, faz homenagem aos três Reis Magos e se caracteriza
principalmente pelas vestes dos personagens enfeitadas com espelhos, fitas e
outros elementos, além dos grandes chapéus com formas que lembram fachadas de
igrejas. Os personagens se organizam em duas filas e entre elas vêm o mestre que
comanda toda brincadeira, de acordo com Gaspar (2011).
Em Junqueiro já existe um grupo de guerreiro que tem como nome Guerreiro
Tradição Junqueirense, que se apresenta durante os festejos de fim de ano. Na
definição da geometria desse setor, o formato do chapéu do mestre, que representa
o personagem central e que comanda toda a brincadeira, foi tomado como
referência arquitetônica. Sua estrutura é formada de concreto aparente na parte
externa, visto que espaços públicos demandam a utilização de materiais de baixa
manutenção. Sua fachada principal é constituída de uma grande área envidraçada,
referenciando os elementos usados nas vestes dos personagens. O volume tem
uma coberta discreta com telha de fibra vegetal em tonalidade escura que se
harmoniza com o concreto aparente.
Além de abrigar as atividades administrativas, esse setor do projeto abriga
um espaço para associação dos artesões e o grupo dos filhos da terra que
desempenha uma relevante função na promoção da cultura popular do município.
Assim, o bloco contempla uma recepção com espaço de espera e lounge, sala
administrativa, sala de coordenação de projetos culturais, sala de reunião, sala para
a associação dos artesões, sala para o NatJunco, copa, depósito de material de
limpeza e banheiros que atendem aos requisitos prescritos pela NBR 9050 (2015),
como pode ser visto nas pranchas a seguir.
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Figura 55 – Perspectiva – Setor Administrativo.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.

Figura 56 – Perspectiva – Setor Administrativo.

Fonte: Autor deste trabalho, 2018.


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5.3.8 Setor Técnico

Este setor, localizado na parte posterior do terreno, onde há maior incidência


de sol ao longo do dia, foi criado a fim de se reservar um espaço dedicado aos
equipamentos que darão suporte ao funcionamento dos blocos dos demais setores
do projeto. Para isto, foi projetado uma área para um reservatório inferior, cujo
fornecimento de água fria ficará a cargo da concessionária.
Nesse setor também foi previsto um espaço dedicado a um gerador de
energia elétrica, contendo equipamentos para a transmissão e distribuição de
energia, além de equipamentos de proteção e controle de eventuais descargas
elétricas. A subestação, cujo dimensionamento e instalação ficará sob
responsabilidade da concessionária local, funcionará como suporte à rede elétrica.
Foi previsto também um espaço destinado a brigada de incêndio, como pode
ser visto nas pranchas 01 e 02, no apêndice desse trabalho, que servirá de apoio
para uma equipe de pessoas previamente treinadas para realizar atendimento em
situação emergencial, já que o espaço prevê um grande aglomerado de pessoas.
Em relação ao tratamento de esgoto doméstico, como o município ainda não
conta com uma rede pública, será previsto a utilização de fosse séptica e sumidouro.
Já em relação a coleta de resíduos sólidos, todo lixo produzido no espaço será
previamente selecionado em contêineres localizados próximos a via principal do
terreno. Por fim, o sistema de drenagem de toda área do pavilhão usará piso
drenante, facilitando a absorção de águas pluviais sobretudo nos meses em que
ocorrem chuvas mais intensas.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Explorar a problemática cultural do município onde reside o autor deste


trabalho, de maneira prática em um anteprojeto arquitetônico capaz de agregar valor
ao cotidiano das pessoas, foi o ponto de partida para a elaboração deste trabalho. O
Pavilhão Cultural, do modo como foi concebido, pode se tornar parte viva da cidade,
contribuindo diretamente com a qualidade dos espaços públicos. Além disso,
buscou-se soluções arquitetônicas que proporcionassem um fortalecimento da
cultura popular assim como o bem-estar dos seus usuários, atendendo às atuais
demandas desse setor do munícipio.
A cultura popular existe em nosso meio e é carregada nos costumes e
comportamentos cotidianos. Entendendo que a cultura popular faz parte de uma
prática que também está ligada às questões sociais, públicas e econômicas no qual
os indivíduos estão inseridos, o projeto do Pavilhão visa fomentar e valorizar a
identidade local e as manifestações populares, direcionando-as a um equipamento
público e democrático.
A etapa de pesquisa que antecedeu o desenvolvimento da proposta
arquitetônica, especificamente a análise dos três setores principais do município –
saúde, educação e cultural – revelou o quanto a cultura foi e ainda se mantém como
referência histórica na origem e desenvolvimento do município, embora algumas
manifestações, talvez por falta de um local adequado ao seu acontecimento,
perderam força ao longo do anos tendendo a cair no esquecimento.
O pavilhão que abrigará todas as manifestações e atividades ligadas à
cultura do município de Junqueiro, distingue-se pela sua forma originada a partir de
um traçado regulador que transmite a simplicidade do seu partido. Em contrapartida,
a diversidade de materiais utilizados contrasta com o entorno onde está inserido,
tornando-se um ícone na paisagem, atraindo o usuário não somente por suas
atividades, mas também por sua inserção arquitetônica e urbanística de forma
democrática.
Assim, por meio do resultado alcançado, este trabalho fortalece a
necessidade de propor uma arquitetura voltada para as especificidades locais,
fundamentada, sobretudo, no fortalecimento da cultura popular.
86

REFERÊNCIAS

ALVES, André William Carvalho. Anteprojeto arquitetônico de um centro cultural


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ALVES, Andressa. Engenhos de AL garantem turismo de experiencia para fugir


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