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Vida e Arte sublime

29/09/18 – Irará

Introdução
No Livro dos Espíritos (questões 10 a 13), Kardec pergunta sobre a natureza de Deus. Os
espíritos explicam que o ser humano, ainda com as capacidades limitadas, não tem condições
de compreender a natureza íntima de Deus, mas já pode formar ideia de algumas de suas
perfeições, e irá ampliar a sua compreensão à medida em que se eleva acima da matéria. Os
atributos de Deus, então, são descritos em 6: eterno; imutável; imaterial; único; onipotente;
soberanamente justo e bom.

Kardec era um homem de ciência. Logo, sua compreensão estava baseada no espírito científico
da época, com as suas características em contínua formação.

Leon Denis – O Espiritismo na Arte


Leon Denis, no livro “O Espiritismo na Arte”, nos ajuda a ampliar a nossa compreensão de
Deus, apresentado mais um atributo: a beleza.

A beleza é um atributo divino. E a arte é a busca, o estudo, a manifestação dessa beleza


eterna, da qual percebemos, na Terra, apenas um reflexo. A Doutrina Espírita nos permite a
compreensão da vida e nos faz perceber a harmonia e a beleza da Lei de Deus, que rege o
universo. O Espiritismo, oferece à humanidade tesouros de consolação e esperança, oriundos
da mina inesgotável de arte e beleza, que é Deus.

Desta forma, qual é o objetivo nosso na obra divina? Evoluir, é a resposta. E evoluir passa a ser,
então, encontrar e expressar a beleza divina que existe em nós. Somos obras de arte, criadas
por Deus. E a reencarnação se configura como o meio de adquiri, por esforços contínuos, um
sentido sempre mais preciso do bem e do belo.

Ainda em “O Espiritismo na Arte, Leon Denis busca nos oferecer uma visão global sobre como
a arte é sentida e praticada no Mundo Espiritual. Para tal, ele conta com a orientação do
espírito que se denomina “O Esteta” [do grego αισθητές (aisthetés) ("aquele que sente")], de
elevadíssima condição moral.

Lições de “O Esteta”
Todo espírito não possui somente uma centelha da inteligência divina, mas também uma
parcela do poder criador; este poder é mais intenso quanto mais o espírito se aprimora e a
matéria fluídica se sutiliza. (Ex: Arquitetura humana e espiritual)

A arte é de essência divina. Quando o espírito encarna e traz alguma noção do ideal estético
(desenvolvido por vidas passadas ou na vida espiritual), sua bagagem artística se exterioriza
sobre a forma de inspirações. Ele passa a estar em condições para trabalhar com a matéria. E
se ele exercita esse ideal, quando volta à erraticidade, ele libera de si uma série de
pensamentos artísticos que deseja concretizar, produzindo com muito mais facilidade no plano
espiritual. Com o tempo, outros espíritos, em processo evolutivo, recebem mais facilmente o
pensamento deste, gerando assim, o aprendizado e a inspiração, por meio da sintonia. Todos
temos em nós a semente do belo, e através dessa interação, fazemo-las germinarem.
Arte é um poderoso meio de elevação e de renovação. Quando sustentada por uma fé sincera,
um nobre ideal é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio incomparável de
civilização e de aperfeiçoamento. O pensamento de Deus, assim, é a fonte maior da nossa
inspiração artística. Quanto mais nos aproximamos dele, mais acrescentamos em nós o
sentimento e a noção do belo.

Mecanismos da inspiração artística


Na questão 459 do Livro dos Espíritos, nos é explicado que os espíritos influenciam nossos
pensamentos e ações muito mais vezes do que imaginamos. No que se refere à arte, não é
diferente. Quase todas as grandes obras tiveram colaboradores invisíveis, especialmente por
meio da inspiração.

A inspiração pode ocorrer de várias maneiras. Ora ela se introduz em nosso intelecto,
misturando-se ao nosso pensamento, ora ela irrompe subitamente, nos invadindo sobre
nossas frontes, e nos compelindo para a ação. Mozart, Michelangelo, Rafael, são apenas
alguns exemplos de artistas que relatam sentir essa forte inspiração em vários momentos de
suas vidas.

Lições de “O Esteta”, sobre a inspiração


O espírito “O Esteta”, ainda no mesmo livro, nos fala que a inspiração ‘é um procedimento de
transmissão da luz divina’. Ela se reproduz de várias formas, onde fluidos e ideias são
transmitidos, dando impulso à parcela de talento que já existe no artista. Essa inspiração tem
duas formas: uma que é pessoal, e outra que é mais ampla.

A inspiração pessoal é a mais comum. É aquela que é resultado do acúmulo de experiências


encarnatórias do espírito. Estas experiências ficam registradas no perispírito, e nas existências
seguintes, aparecem sob a forma de dom. Na questão 219 do Livro dos Espíritos, nos é
explicado que todo conhecimento adquirido em cada existência não se perde, mas pode ser
mantido adormecido momentaneamente, em parte, para exercitar outras áreas que ainda não
se desenvolveram.

Mas para tornar essa inspiração mais bela e mais elevada, é necessário impregná-la de energia
divina. Aí vem a segunda inspiração. Os espíritos superiores pressentem a pequena chama
criada pela inspiração pessoal. Com a permissão divina, através da prece, eles energizam essa
chama, tornando-a mais brilhante. Quando o espírito encarnado recebe esse fluxo, irá
expressá-lo com aquilo que já tem mais desenvolvido. A arte ideal é uma das formas mais
poderosas de prece, de ligação com o divino. Por isso que é necessário um certo recolhimento,
e um ambiente propício para a inspiração artística, pois esta ligação é muito frágil.

Esse mecanismo de inspiração também é efetuado no desenvolvimento científico, filosófico e


religioso da humanidade. Todo movimento humano, individual e coletivo, que é feito em
direção à verdade, em direção à justiça, em direção ao amor, em suma, em direção à Deus, é
em essência, inspirado pela espiritualidade. E essa inspiração é, em sua natureza, artística. Pois
a ciência é o movimento do humano em busca da compreensão da natureza; a filosofia é o
movimento do humano em busca da compreensão de si próprio; a religião é o movimento do
humano em busca de Deus; e a arte é o movimento de Deus, através do seu amor, e de toda a
sua obra, em direção à todo aquele que se faz receptivo à Ele.

Agora nós veremos mais como este movimento de Deus se faz presente, nas mais diversas
formas.

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