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ALIENAÇÃO PARENTAL E FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA:

ALIENAÇÃO PARENTAL E FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA:


um estudo
umumestudo sociojurídico
estudomultidisciplinar
sociojurídico

??

volume 1
volume 1
organizadores:
organizadores:álvaro
álvarodedeo.oliveira
azevedoneto,
neto,maria
mariaemilia
emilia
m.
m. de
de OLIVEIRA
OLIVEIRA
miranda de queiroz
queiroz
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andreia
andreia calçada
calçada
calçada
neto emaria
organizadores: álvaro de oliveira neto, mariaemilia
emilia
Coordenação:
mirandaRicardo
Coordenação: Ricardo
miranda
de Alexandre
Alexandre
queiroz de
de Oliveira
dee andreia
queiroz Oliveira Ciriaco
calçada Ciriaco
Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem, Recife/PE

A398 .
Alienação parental e família contemporânea: um estudo sociojurídico
/ organização de Álvaro de Oliveira Neto, Maria Emília Miranda de
Queiroz e Andreia Calçada; coordenação, Ricardo Alexandre de Oliveira
Ciriaco. -- Recife : FBV /Devry, 2015.
112 p. : il. v.1

Prefixo Editorial: 69035

Número ISBN: 978-85-69035-02-2

Título: Alienação parental e família contemporânea: um estudo sociojurídico


Tipo de Suporte: E-BOOK

Contém Bibliografia – Livro eletrônico

1. Alienação parental (Aspectos jurídicos). I. Queiroz, Maria


Emília Miranda de. II. Calçada, Andreia. III. Oliveira Neto, Álvaro.
IV. Ciriaco, Ricardo Alexandre de Oliveira. V.Título.

CDU 34
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367
PREFÁCIO

A Alienação parental é um tema ainda pouco discutido na academia jurídica, mas que tem repercussão drástica na formação
familiar e consequentemente no sistema judicial nacional, responsável pela contenção dos conflitos familiares.
Esse fenômeno é típico das novas formas de família, posto que tem como cenário principal um lar desfeito pelo divórcio,
separação ou qualquer outra forma de dissolução judicial ou fática do grupo familiar. Nesse momento, um dos genitores, geralmente
o que detém a guarda do menor, tem o potencial de denegrir a imagem do outro por campanha incisiva de imputação de fatos
negativos podendo se chegar ao ponto até de falsas acusações de abuso sexual.
Richard Gardner, psiquiatra norte americano, na década de 80 denominou esse fenômeno como alienação parental. No
Brasil entrou no sistema jurídico nacional em 2010, pela Lei específica que cuida da matéria, nº 12.318/2010 e ganha especial
menção no novo Código de Processo Civil. Entretanto, ainda existem barreiras atitudinais por parte dos operadores do Direito para
a efetiva aplicação do dispositivo e isso se deve em grande parte à falta de informação e material acadêmico que os fundamente.
Percebendo isso, a sociedade civil pernambucana sentiu a necessidade de contribuir mais efetivamente para sanar essa
lacuna. Foi assim que em 2014 a Associação Brasileira Criança Feliz (ABCF), da qual fui vice presidente, entrou com o pedido de
audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), para mostrar ao Poder Público o caos familiar que atinge
principalmente as crianças. A receptividade da Casa foi impressionante, principalmente na figura do então vice presidente da
Comissão de Direitos Humanos, Deputado Zé Maurício, que propôs a formação de um grupo contínuo de estudos sobre a alienação
parental, visando a produzir materiais para embasar possíveis políticas públicas.
Nesse contexto, temos a Faculdade Boa Viagem DeVry como propulsora dessa luta, conscientizando seus docentes e
discentes sobre a importância do combatimento à alienação parental, principalmente através da educação. Assim, promoveu ato
público no Marco Zero da cidade do Recife, no dia mundial da luta - 25 de abril, onde seus alunos agiram com responsabilidade
social ao distribuírem e explicaram a lei à população, além de realizarem o ato simbólico da campanha de soltar balões ao alto.
Promoveu ainda ciclos de discussões acadêmicas com palestrantes renomadas do eixo Rio de Janeiro, Minas Gerais e São
Paulo, que gentilmente cederam artigos para esta obra e atendimentos temáticos gratuitos, no seu Núcleo de Práticas Jurídicas.
Lançou edital público de chamada de artigos científicos sobre o tema. E esse foi o ponto de maior surpresa, pois foram
aprovados mais de 25 trabalhos muito criteriosamente, recebidos de várias partes do Brasil. Destaque-se nesse momento a
contribuição, além das já referidas, do Centro de Apoio Psicossocial do Tribunal de Justiça de Pernambuco (que também faz parte
do grupo de estudos da ALEPE) e de professores e alunos que formam o Programa Interno de Iniciação Científica e Tecnológica
da FBV DeVry. Foi assim que surgiram os dois volumes desta obra, que se faz urgir no mercado jurídico-acadêmico nacional. Os
artigos foram cedidos generosamente por seus autores e estarão disponíveis gratuitamente em plataformas on line, já que possuem
formato de ebook.
Agradecemos a contribuição dos autores, o apoio institucional da Alepe, da FBV DeVry, do CAP TJPE, da ABCF e de todos
os demais colaboradores.
Esperamos que os leitores tenham uma boa experiência, principalmente os operadores do Direito, para que efetivem a
aplicabilidade dos dispositivos legais sobre o tema, unindo-se assim a sociedade civil e o Poder Público para o combatimento à
alienação parental.

Profª. Msc. Maria Emília Miranda de Oliveira Queiroz


Coordenadora de Operações Acadêmicas da FBV DeVry
Professora da UNIFAVIP DeVry

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ALIENAÇÃO PARENTAL E FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA: Um estudo Sociojurídico

1. Igualdade Parental - O papel do Judiciário na busca pela pacificação social - Ana B. Gerbase..8

2. O Juiz e seu poder: comentários acerca da Lei 12.318 - Tamara Brockhausen..................................................13

3. A alienação parental como consequencia do paradigma patriarcal de família - Thais Medeiros e


Emília Queiroz..........................................................................................................................................................................26

4. Responsabilidade Civil Dos Pais Diante Da Prática De Alienação Parental Junto Ao Ordenamento
Jurídico Brasileiro - Kércia Karenina Camarço Batista Rodrigues Leal........................................................................41

5. Igualdade e dignidade: os dois sustentáculos constitucionais posto em xeque durante a alienação parental -
Álvaro de Oliveira Azevedo Neto e Jaqueline Maria de Vasconcelos.......................................................................................56

6. Alienação parental: porque não é crime? - Larissa Maria Caló Mesquita e Fernando Tasso de Souza Neto......68

7. Aspectos jurídicos e psíquicos da alienação parental - Patrícia Freire de Paiva Carvalho Rabelo.............79
8. Cárcere Familiar - Breves considerações sobre a alienação parental no Estado brasileiro -
Vanessa Alexsandra de Melo Pedroso e Daniela Madruga Rego Barros Victor Silva...............................................................88
9. Alienação parental. Avanços legislativos e análise dos aspectos processuais - Felipe Soares Torres
e Graciliano de Souza Cintra....................................................................................................................................................96

10. Aspectos da alienação parental e a ausência de norma penalizadora - Valéria Machado de Mello
Gomes....................................................................................................................................................................................106

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Apresentação
A alienação parental é um fenômeno típico da família contemporânea. Isso porque, o momento clássico de sua incidência é no do
desfazimento das relações conjugais. Consiste na campanha de um dos genitores em denegrir a imagem do outro diante do filho,
mas também pode ser cometida por avos e demais parentes envolvidos com a criança.
No Brasil, a a estrutura familiar patriarcal sempre foi estimulada pelo Estado, seguindo o rastro da da religiosidade herdada da
colonização europeia. Apesar das tentativas de laicidade do Estado, ainda na Constituição de 1934 ainda temos a menção a
indissolubilidade do casamento. O desquite vem como um grande avanço, mas ainda não possibilitava novas núpcias, que seriam
possíveis apenas em 1977, com a lei do divórcio, mas apenas por mais uma vez. Só a Constituição de 1988, nossa carta cidadã,
vem possibilitar o não limite a novas uniões, mas ainda obstaculizando o instituto divórcio, que só se decretaria após 2 anos de
separação de fato ou um ano de separação judicial. Mas, em 2010, temos a Emenda Constitucional 66, que facilita o procedimento,
expressando apenas que a sociedade conjugal se extingue pelo divórcio, o que gerou interpretações sobre o fim da separação
judicial (antigo desquite). Não adentrando na seara dessa polêmica, interessa-nos apenas ressaltar que esse dispositivo vem na
contramão da politica legislativa anteriormente adotada pelo Brasil, e isso se deve, provavelmente à punição que o país recebeu na
Corte Interamericana de Direitos Humanos, onde fui considerado negligente no combatimento à violência domestica contra a mulher
(no caso de Maria da Penha Maia Fernandes). Tal condenação internacional fez o Brasil tomar medidas enérgicas de mudanças
de política legislativa, como a edição da lei Maria da Penha, reforma processual penal e civil e, ao que parece-nos, a Emenda
Constitucional 66/2010, para facilitar a dissolução da sociedade conjugal e evitar situações onde a burocracia legislativa tornava a
situação na casa da família brasileira insustentável.
Ao passo disso, mediante muitas pressões sociais, as novas formas de família vêm paulatinamente sendo reconhecidas pelo Estado.
Foi assim com a família homoafetiva, por exemplo, que depois de legislações previdenciárias municipais de vanguarda garantirem
seus direitos, vem mencionada na própria Lei Maria da Penha, em 2006, e tem a equiparação à união estável heteroafetiva por
decisão do Supremo Tribunal Federal e posteriormente recebe a possiblidade dessa união ser convertida em casamento, ou de
celebração inicial de casamento, por diretriz do Conselho Nacional de Justiça em relação aos cartórios.
Assim, reconhecendo novas formas de família e facilitando a extinção das sociedades conjugais, temos a fixação do modelo
da família contemporânea brasileira, juridicamente livre das amarras medievais, mas socialmente ainda sofrendo resquícios do
paradigma patriarcal.
Um dos fenômenos que aflige essa nova construção familiar é o que foi descoberto na década de 80, nos Estados Unidos, pelo
psiquiatra Richard Gardner, a Alienação Parental.
No mesmo ano da emenda 66/2010, que implementou o “novo divórcio” no Brasil, temos uma lei específica sobre o tema, a nº
12318/2010, que traz inovações processuais e conteúdo vasto que enaltece a função das equipes técnicas multidisciplinares , o que
foi ratificado pelo texto do novo Código de Processo Civil, que entra em vigor em março de 2016.
Legislativamente já estamos armados contra esse fenômeno da família contemporânea que aflige os lares principalmente quando
da dissolução da sociedade conjugal, mas na pratica vemos ainda altos índices de violência doméstica, de crimes de maus tratos
e muitos ligados à alienação parental. Isso porque, apesar de a lei já não ser recente, ainda não esta sendo aplicada, seja por falta
de conhecimento por parte dos causídicos, seja por barreiras atitudinais dos magistrados e promotores de Justiça, que se justifica
pelo pouco empenho científico no estudo da temática.
Assim, cabe à academia produzir estudos científicos sobre o instituto para possibilitar sua divulgação responsável e o fim último de
pacificação familiar e bem estar do menor.
A presente obra destina-se exatamente a isso, a fornecer elementos colhidos sob o rigor da pesquisa científica para embasar novos
debates e desenvolvimento sobre a alienação parental.
O projeto teve início por iniciativa da Faculdade Boa Viagem DeVry, que abraçou a causa do combatimento à alienação parental
e cumprindo com a Lei Estadual nº 15009/2013, promoveu com seus professores e alunos um ato público com atendimento
multidisciplinar profissional e divulgação da Lei à comunidade. Promoveu ainda um talk show com grandes nomes do eixo sudeste
e lançou um edital de chamada de artigos científicos sobre o tema. Além disso, participou de audiência pública na Assembleia
Legislativa de Pernambuco, que culminou com a formação de um grupo multidisciplinar de estudos na comissão de Direitos Humanso,
que foi liderado pelo Deputado Zé Maurício.
Assim, essa trajetória de trabalho em equipe, principalmente pelos encontros de discussões na ALEPE, rendeu 26 artigos científicos
de altíssima qualidade sobre a alienação parental, sendo uns autores docentes e discentes (orientados) da Faculdade Boa Viagem
DeVry, outros membros do Centro de Apoio Psicossocial do Tribunal de Justiça, outros convidados renomados do eixo sudeste do
Brasil e outros colaboradores estudiosos do tema.
A obra final somou com mais de 450 páginas, o que motiva a divisão em dois volumes, um com a abordagem jurídica e outro com a
psicossocial sobre o tema e não tem qualquer fim lucrativo, sendo custeada pela IES a versão eletrônica em ebook.

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O PAPEL DO JUDICIÁRIO NA BUSCA PELA IGUALDADE PARENTAL

Ana B. Gerbase 1

Nos primórdios das civilizações romana e grega, a família era uma instituição que tinha base política
e, principalmente religiosa. O afeto não era seu esteio. A família ocidental existiu por um longo tempo sob o
modelo patriarcal.

No Brasil não há referência à família, como instituição, até a Constituição de 1934 e, nesta, seus
integrantes não tinham qualquer proteção enquanto pessoas. Somente em 1988 os familiares foram reconhecidos
e tratados como sujeitos de direitos e o enfoque principal passou a ser as relações unidas por laços de sangue
ou de afeto.

Uma mudança na sociedade leva os homens a participarem ativamente dos cuidados com os filhos.
Acabam descobrindo o prazer da paternidade e, a partir daí não aceitam mais ficar longe dos filhos quando da
separação. Querem igualdade de direitos e o pleno exercício da paternidade.
Diante das mudanças impostas pelos novos tempos, somos obrigados a deitar um olhar sobre nossas
atuações: Estão presas ao que aprendemos lá atrás? São eficazes na solução dos conflitos vividos nas relações
familiares de hoje?

As pessoas mudam, mudam suas relações e suas formas de relacionamentos. O que antes era
obrigação, hoje é escolha.

As famílias mudaram suas estruturas, mas não mudaram seu objetivo que é a felicidade ­– finalidade da
natureza humana, como já afirmava Aristóteles. A felicidade não se encontra, necessariamente, na manutenção
do casamento, mas, muitas vezes, com o seu fim e, quando o fim chega, tudo começa com o advogado de
família que hoje tem papel relevante, tanto na desconstituição da família atual, como na construção de novas
famílias.

O fim não significa a extinção familiar, mas, sim, uma nova chance de felicidade para ambos. Quando
existem filhos, este fim não é, e nem deve ser, absoluto. Os vínculos da parentalidade jamais serão rompidos
em vida. A criança e o adolescente precisam de uma convivência familiar saudável e da presença continua de
ambos os genitores, como referenciais na construção de sua personalidade e no desenvolvimento de uma vida
plena.

Após a separação, as pessoas estabelecem novas uniões, constituindo novas famílias. Temos, então,
as famílias se multiplicando e formando núcleos que agregam os teus, os meus e os nossos filhos. Claro que
diante destas novas configurações, também se multiplicam os conflitos, e o Judiciário já não dá conta desta
pluralidade familiar repleta de singularidades.

Diante do principio do pluralismo familiar trazido pelo art. 226 2 da Constituição Brasileira, os direitos
da criança e do adolescente e de sua família ajustaram-se aos princípios constitucionais 3 , destacando-se o
1 GERBASE, Ana Brúsolo – Advogada; Pós Graduada em Direito Civil e Processo Civil pela Universidade Gama Filho – RJ; Pós Graduada em Mediação de Conflitos com Ênfase em Direito de Família, pela Univ. Cândido Mendes – RJ; Mestranda em Métodos e Sistemas
de Resolución de Conflictos, Universidad Lomas de Zamora – Buenos Aires - AR.

2 Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988:

art. 226: A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


3 Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988:

art. 227 (...) §6. : Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

art. 5., I: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.

art. 226, § 5.: Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

art. 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

art. 226, § 7.: Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições

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principio da dignidade da pessoa humana, art. 1º, III; o principio da isonomia entre filhos, art. 227, § 6º; da
igualdade entre gêneros, art. 5º, I; entre os cônjuges e companheiros, art. 226, § 5º; o principio da prioridade
absoluta dos direitos da criança, art. 227 e o principio da paternidade responsável, art. 226, §7º, que diz
respeito à responsabilidade entre os pais, portanto, o principio da responsabilidade parental.

Importante destacar a integração ao direito brasileiro, da proteção integral e do principio do melhor


interesse da criança e do adolescente, previsto no art. 3º da Convenção Internacional dos Direitos da Criança 4 ,
aprovada em 20/09/1989, pela ONU, ratificada pelo Brasil através do decreto 99.710/1990, e expresso na
Constituição Brasileira de 1988 nos art. 227, § 3º, e 229. Proteção significa amparo, cuidado, ajuda, apoio,
acolhimento, orientação, respeito, tendo como objetivo maior o melhor interesse da criança, exatamente como
prevê a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.

O ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente alterou sua redação passando a enumerar princípios
relacionados aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes. Destacam-se por estarem diretamente
relacionados à importância do papel da família na formação dos filhos menores, o principio da responsabilidade
parental e o principio da prevalência da família, previstos em seu art. 100, § único, incisos X e XI 5 .

Diante da profunda revolução na maneira de perceber as relações familiares surgem necessidades,


como a mediação de conflitos, a conciliação e, sobretudo, a qualificação dos profissionais que atuam nesta
área.

As técnicas de autocomposição, objeto da Resolução 125 6 do Conselho Nacional de Justiça, vêm se


tornando uma realidade no âmbito jurídico, apesar de, ainda, alguma resistência por parte daqueles que se
mantêm ligados a uma tradição adversarial.

A multidisciplinaridade traz grandes contribuições, com estruturas conceituais e metodológicas


compartilhadas por várias disciplinas. Essa cooperação entre as diversas disciplinas é tão necessária e intensa,
que não dá mais para separá-las. Psicólogos e terapeutas atuam na questão subjetiva do conflito familiar,
interagindo com advogados na busca por uma resolução efetiva dos conflitos e na realização de acordos
sustentáveis.

Em sua palestra de abertura no III Congresso Nacional e I Internacional Alienação Parental, no Rio
de Janeiro, em abril de 2014, a Ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça disse que teria errado
menos em suas decisões, caso tivesse a seu lado a presença da pediatria. “Um trabalho multidisciplinar é o
caminho desejável e apropriado para as soluções dos conflitos familiares. (...) Sem dúvida, devemos olhar para
as maiores vítimas, que são as crianças. Nestes casos, a vítima é também a principal fonte de informação. Como
um magistrado, formado para ser prolator de sentenças, tem condições de obter de crianças as informações
precisas? Sustenta, ainda, a Ministra: (...) as  Varas de Família do Brasil não podem ser empregadas apenas
por juízes de direito. A multidisciplinaridade, mais do que desejável é imposição lógica. Apenas profissionais
oficiais ou privadas.

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Decreto no. 99.710 de 21 de novembro de 1990, promulga a Convenção sobre os direitos da Criança: art. 3: 1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos

legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança; 2. Os Estados Partes se comprometem a assegurar à criança a proteção e o cuidado que sejam necessários para seu bem-estar, levando em consideração os direitos e deveres de seus pais,

tutores ou outras pessoas responsáveis por ela perante a lei e, com essa finalidade, tomarão todas as medidas legislativas e administrativas adequadas; 3. Os Estados Partes se certificarão de que as instituições, os serviços e os estabelecimentos encarregados do

cuidado ou da proteção das crianças cumpram com os padrões estabelecidos pelas autoridades competentes, especialmente no que diz respeito à segurança e à saúde das crianças, ao número e à competência de seu pessoal e à existência de supervisão adequada.

5 Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei no. 8.069, de 13 de julho de 1990: art. 100, § único, X: prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na

sua família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua integração em família substituta; XI: obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou

responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa.

6 A Resolução nº 125 do CNJ institui a Política Pública de Tratamento Adequado de Conflitos, destacando entre seus princípios informadores a qualidade dos serviços como garantia de acesso à ordem jurídica justa, estabelecendo, para tanto, em seu anexo I,

conteúdo programático mínimo para cursos de capacitação de conciliadores e mediadores. Para alcançar esse objetivo mostrou-se necessário compatibilizar a formação mínima exigida para atuação dos mediadores e conciliadores com as diferentes realidades do

País. A formação mínima compõe-se de três módulos sucessivos e complementares. Todos aqueles que irão atuar nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania deverão cursar o módulo I, mesmo os já capacitados. Conciliadores e Mediadores deverão

cursar o módulo II, sendo que o módulo III será obrigatório para os mediadores. Haverá estágio supervisionado após os módulos II e III, sendo que o certificado só será expedido após a conclusão da referida etapa supervisionada. O Código de Ética de Conciliadores e

Mediadores Judiciais encontra-se no anexo III da Resolução no. 125, norteado por princípios que formam a consciência dos terceiros facilitadores, como profissionais, e representam imperativo de sua conduta. http://www.cnj.jus.br

5 Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei no. 8.069, de 13 de julho de 1990: art. 100, § único, X: prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou
extensa ou, se isto não for possível, que promovam a sua integração em família substituta; XI: obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos

motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa.


6 A Resolução nº 125 do CNJ institui a Política Pública de Tratamento Adequado de Conflitos, destacando entre seus princípios informadores a qualidade dos serviços como garantia de acesso à ordem jurídica justa, estabelecendo, para tanto, em seu anexo I, conteúdo programático mínimo
para cursos de capacitação de conciliadores e mediadores. Para alcançar esse objetivo mostrou-se necessário compatibilizar a formação mínima exigida para atuação dos mediadores e conciliadores com as diferentes realidades do País. A formação mínima compõe-se de três módulos sucessivos

e complementares. Todos aqueles que irão atuar nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania deverão cursar o módulo I, mesmo os já capacitados. Conciliadores e Mediadores deverão cursar o módulo II, sendo que o módulo III será obrigatório para os mediadores. Haverá estágio

supervisionado após os módulos II e III, sendo que o certificado só será expedido após a conclusão da referida etapa supervisionada. O Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais encontra-se no anexo III da Resolução no. 125, norteado por princípios que formam a consciência dos

terceiros facilitadores, como profissionais, e representam imperativo de sua conduta. http://www.cnj.jus.br

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especializados podem fazer indícios virarem fatos. (...) Atuar interdisciplinarmente implica reconhecer os óbvios
limites da área do conhecimento, o que exige humildade intelectual, exige deixar de ser o centro da ação
processual e dispor-se a entender o processo através do conhecimento coletivo. (...) O Estado confia aos
juízes um poder terrível que, mal empregado, pode fazer que a injustiça se torne justa e obrigar a majestade
da lei a defender o erro. O Brasil vive um momento especial, de decisões que definirão os rumos e o tipo de
país que queremos: uma nação desenvolvida, ou permitiremos que oportunidades de transformação sejam
desperdiçadas?”.

É imprescindível adotar maneiras de dissolver a velha cultura litigante. O marco legal da Mediação foi
decisivo para um sistema de Justiça, mais próximo da população brasileira. É no momento da separação onde
mais surgem os conflitos familiares, e, infelizmente, os filhos quase sempre estão envolvidos.

Coibir esse tipo de comportamento por parte dos pais é dever de todos os profissionais envolvidos.
Cada um deve estar devidamente capacitado para perceber indícios, ou não, de práticas abusivas, como a
alienação parental e, com responsabilidade, indicar as medidas necessárias desde o início, a fim de evitar que
se estabeleça um dano maior.

Muitos processos que hoje aguardam sentença poderiam ter sido resolvidos sem que precisassem
chegar ao Judiciário. Os métodos de negociação, conciliação e mediação surgem como socorro valioso nessa
tarefa.

O papel dos operadores do direito que intervêm na regulamentação das responsabilidades parentais,
deve ser de conciliador, de facilitador, atento às necessidades das crianças e jovens de pais separados e,
jamais, de um jurista a fundamentar a exclusão de um genitor em favor do outro. São os advogados das partes
que levam os fatos e fundamentos ao judiciário, para que sejam julgados ao final, por um magistrado alheio à
causa.

Neste sentido, o art. 2º do Código de Ética e Disciplina 7 que rege a advocacia, impõe o dever do
advogado de estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo a instauração de litígios, aconselhando o
cliente a não ingressar em aventura judicial, neste caso, sob o risco de ser considerada de má fé.

Na mesma linha, o art. 25 do Código de Ética da Magistratura Nacional 8 diz: “Especialmente ao proferir
decisões, incumbe ao magistrado atuar de forma cautelosa, atento às consequências que pode provocar”.

Quando as crianças passam a ser vitimas da má administração dos sentimentos e relacionamentos de


seus pais, se tornando um objeto de troca nas mãos deles, o judiciário precisa de soluções eficazes para lidar
com estas situações.

Muitas vezes os danos psicológicos são potencializados quando ocorre, por exemplo, a busca e
apreensão de uma criança para a garantia de um direito de convivência descumprido pelo genitor guardião,
principalmente nos casos de alienação parental, quando a criança já possui grande rejeição ao genitor alienado,
em razão de campanhas negativas ou implantação de falsas memórias.

Em muitos casos há necessidade de uma prática não judicial, mas avalizada e com a força deste. Uma
delas é um acompanhamento psicológico, ideal para a revinculação entre pais e filhos, atingidos pelos males
da alienação parental.

Para fundamentar esta decisão há vários dispositivos legais, como os artigos 1º e


3 o do ECA, que
garantem às crianças e adolescentes, proteção integral e um desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual
e social, em condições de liberdade e de dignidade 9 .

Quando os pais não conseguem gerir suas frustrações e usam os filhos para atingir o outro, cometem
uma agressão à saúde psicológica da criança. Neste caso, é dever de todos os profissionais atuantes em Direito
de Família e, principalmente do Estado, através do judiciário – a fixação de medidas para coibir tais danos,
conforme previsão do art. 70 do ECA “É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos
7 Código de Ética e Disciplina da OAB, de 13 de fevereiro de 1995, de publicação própria.
8 Código de Ética da Magistratura, de 6 de agosto de 2008, publicado pelo Conselho Nacional de Justiça.
9 ECA, art. 1. Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Art. 3.A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes,

por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

11
direitos da criança e do adolescente”.

Em muitos casos, quando as práticas ordinárias não demonstram a eficácia almejada, imperiosa a busca
por métodos e sistemas capazes de atender às necessidades que surgem a cada dia abarrotando o judiciário.

No exercício da profissão, seguimos normas éticas e jurídicas. São elas que delimitam o nosso agir,
nos conduzindo a uma atuação equilibrada, em busca de justiça.

É preciso ajudar as partes a encontrarem a verdade, mesmo que a verdade seja a farsa criada por elas
próprias. Conscientizá-las dos riscos e possíveis prejuízos de uma causa temerária.

Uma falsa denúncia pode, inclusive, levar à inversão de guarda. Nem sempre este resultado será
positivo para os envolvidos e, principalmente para a criança. Aqui a relevância da equipe multidisciplinar -
psicólogos, psiquiatras, terapeutas, que devem participar do processo, desde o início.

Dentro desse novo paradigma da advocacia, surgem as práticas colaborativas, resgatando a função do
advogado como solucionador de conflitos e deixando para traz a imagem de um mero ajuizador de ação junto
ao judiciário.

As experiências de alguns tribunais, especialmente após a resolução nº 125 do CNJ 10 , vem se mostrando
muito salutares.

No Rio de Janeiro, podemos destacar o trabalho desenvolvido por duas Varas de Família que atuam
com audiências coletivas prévias. As partes são intimadas à audiência prévia e participam de uma palestra sobre
responsabilidade parental. Através de filmes e diversas projeções, são abordados os aspectos envolvendo o
divorcio, o poder familiar, a guarda compartilhada, a convivência e o respeito mútuo necessário entre todos.
Trechos do filme A Morte Inventada chama a atenção para os danos causados pela prática da alienação parental.

As partes também são convidadas e incentivadas a participarem dos projetos desenvolvidos por equipes
multidisciplinares do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, como o Projeto Bem Me Quer ou pelos Grupos de
Apoio Familiar.

O juiz, de ofício ou, a pedido do advogado, pode encaminhar as partes, além dos programas indicados,
aos Núcleos de Mediação visando a busca de soluções por elas próprias. Ainda, a pedido, pode determinar a
realização de acompanhamento terapêutico aos pais, a fim de se tornarem, na medida do possível, uma família
mais saudável e equilibrada, mesmo que separada, bem como, nos casos mais graves de afastamento entre
filhos e genitores, como de alienação parental e das falsas denuncias de abuso sexual, determinar terapia
familiar entre pais e filhos, possibilitando a revinculação parental.

A própria lei da Alienação Parental 11 , em seu artigo 6º prevê que diante de atos típicos de alienação
parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, o juiz poderá,
cumulativamente ou não, determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial.

É preciso enxergar além daquele que nos procura. Precisamos ir além das histórias que ouvimos e dos
processos que conhecemos. Por trás deles existem vidas humanas.

Trabalhamos com o mais humano de todos os direitos e devemos estar atentos às novas leituras e às
corretas interpretações do que nos é trazido. Precisamos estar constantemente atualizados e a par da nova
tendência na condução dos litígios envolvendo as famílias e suas necessidades.

A mediação de conflitos surge como prática ideal à busca da construção de consenso em conflitos
familiares. Dotada de diversas ferramentas e modelos que a torna flexível, se apresenta capaz de alcançar
10 A criação de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça que dispõe sobre a conciliação e a mediação partiu de uma premissa de que cabe ao Judiciário estabelecer a política pública de tratamento adequado dos conflitos de interesses resolvidos no

seu âmbito - seja por meios heterocompositivos, seja por meios autocompositivos. Esta orientação foi adotada, de forma a organizar, em todo território nacional, não somente os serviços prestados nos curso da relação processual (atividades processuais),

como também os que possam incentivar a atividade do Poder Judiciário de prevenção de demandas com as chamadas atividades pré-processuais de conciliação e mediação.

11 Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010, dispões sobre a alienação parental.

11 Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010, dispões sobre a alienação parental.

12
os mais diversos tipos de conflitos. A abundância de métodos e a criatividade humana permitem a criação de
instrumentos mistos que se adequam aos mais diversos tipos de controvérsias proporcionando sua resolução
de modo não beligerante, sempre privilegiando o diálogo como norteador da pacificação social.

Mal conhecemos a mediação e o mundo já caminha com novos modelos de resolução de disputas. Não
é possível se falar em este ou aquele modelo. É necessário um conhecimento amplo a fim de identificar e indicar
a melhor forma de atender aquele que busca ajuda, não se prendendo a modelos fechados e pré estabelecidos.

O ser humano é repleto de potencialidades que precisam ser estimuladas. A melhor maneira de se
ajudar alguém é acreditar na sua possibilidade de pensar, sentir, buscar e direcionar sua própria necessidade
de mudança.

Segundo Carl Rogers 12 , o ser humano tem uma tendência inata que lhe impulsiona a progredir, ou seja,
que dentro de si possui os mecanismos necessários para lidar consigo e com os outros. Assim, entende que a
melhor forma de ajudar o outro é lhe proporcionando condições adequadas para sua transformação.

E é exatamente neste sentido que o mundo caminha buscando instrumentos capazes de ajudar o ser
humano na resolução de seus conflitos: acreditando na sua potencialidade e capacidade de escolher o melhor
para si mesmo.

Toda mudança gera temor. O novo assusta. Nem todos se permitem um novo olhar, apegados ao modelo
litigante absorvido lá, nos bancos das faculdades que, até hoje, não abordam em suas grades, os diversos
métodos de resolução de conflitos, seus processos e suas práticas.

A sociedade hoje necessita, não apenas do advogado conhecedor das leis, mas de um profissional que
saiba utilizá-las como ferramentas auxiliares numa atuação não adversarial, pautado na ética e nos princípios,
buscando não só proteger o homem, mas construir um cidadão capaz de reestruturar sua vida.

O advogado de família, primeiro profissional a ser buscado pelas partes nos casos dos litígios familiares,
pode intensificar ou pacificar os ânimos diante de um conflito. Normalmente essa busca se dá em momentos de
muita raiva, desespero, frustração e decepção. Nesta hora em que as partes estão emocionalmente abaladas,
necessitam de equilíbrio e serenidade.

Muitos querem se vingar do ex-companheiro. Trazem uma narrativa rica e cheia de ódio. As alegações
são as mesmas: um acusando o outro de traição, de ter ido embora e se unido à outra pessoa, de não pagar
pensão, de impedir a convivência com os filhos, de representar risco alegando, muitas vezes, violência doméstica
e falsa denuncia de abuso sexual contra os filhos.

Neste momento cabe ao advogado esclarecer, orientar e informar à parte, os riscos das falsas acusações
e suas graves consequências. Informar, ainda, sobre as diversas possibilidades de se buscar uma solução
pacífica que possa atender a ambos e, principalmente, aos filhos envolvidos.

É do judiciário que a maioria das pessoas em litigio esperam justiça. Um judiciário sensível e
comprometido com a paz social, capaz de oferecer com segurança e imparcialidade, caminhos menos tortuosos,
menos sofridos do que as angustias daqueles que o procuram.

A paz social se constrói com sabedoria, tolerância, conhecimento e flexibilidade. Nem sempre uma
sentença será capaz de estabelecer harmonia e compromissos de respeito, de exercício da parentalidade de
forma igualitária entre ex cônjuges. Mas as atitudes pacificadoras, principalmente vindas dos operadores do
direito, certamente serão capazes de transformar guerras em paz.
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer
os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.” Fernando Pessoa.

12 Carl Rogers foi um psicólogo americano, que atuou como psicoterapeuta por mais de 30 anos e trouxe grandes contribuições para a prática clínica e para a educação. No Brasil suas ideias tiveram difusão na década de 70, em confronto direto com

as ideias do Comportamentalismo (Behaviorismo), que teve em Skinner um de seus principais representantes. Rogers é considerado um representante da psicologia humanista e da corrente humanista em educação. Teve grande atuação política, especialmente na

resolução de conflitos, a ponto do seu nome ter sido indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 1987.

13
O Juiz e seu poder: comentários acerca da Lei 12.318

Tamara Brockhausen

1. Introdução

Em palestra proferida juntamente ao desembargador Antônio Carlos Matias Coltro na AASP em 2011, este trouxe sua
preocupação quanto ao ganho de maior autonomia do magistrado promovido pela nova Lei de Alienação Parental. Assinalou que
esse aumento de poder ao Juiz para determinar ocorrência de tais atos e aplicar as medidas protetivas, decorre do fato de que,
segundo a Lei, não há necessidade de consulta a um perito. Advertiu ainda que, o tema, por ser complexo, poderia extrapolar o
conhecimento técnico, e deste modo, levar a atuações precipitadas e, por vezes, equivocadas.

Embora sua preocupação faça eco à minha pessoa, haja vista tais casos podem até mesmo se colocar como desafio diagnóstico
ao próprio psicólogo, profissional especialista, importante analisar como os juízes passaram a decidir após a promulgação da Lei
12.318. Não raro existe o entendimento de que somente com a confirmação diagnóstica pericial de Alienação Parental aplicam-se
as medidas protetivas. E, no caso da não confirmação pericial pode-se entender que não se devem aplicar os dispositivos previstos.

Uma problemática surge quando pergunta-se qual a frequência com que os laudos psicológicos confirmam diagnóstico de
Alienação Parental? Muitos poucos, até mesmo menos do que se deveria. A distinção quanto às diferentes definições de Alienação
dentro dos próprios campos Psicologia e Direito podem trazer algumas explicações para este fato, de forma que se compreenda a
razão da pouca frequência com que o magistrado pode contar com um diagnóstico de Alienação Parental a partir do estudo pericial.
Como este fato deve ser entendido e como o magistrado pode contornar este problema? Afinal, é sabido que, em situações de litígio,
não se deve esperar uma reaproximação natural dos filhos com o genitor não convivente sem que haja pressão institucional.

Importante ressaltar a diferença existente entre diversas abordagens e definições do termo Alienação Parental, para que o
magistrado possa atuar de forma mais autônoma, permitindo tomadas de decisões mais claras e se necessário, mais assertivas.

A Alienação Parental pode ser basicamente caracterizada de duas maneiras no campo psicológico. Enquanto prática parental
-abuso emocional promovido por um genitor em face do filho no sentido de prejudicar a relação da criança com o outro genitor
(ainda que a alienação não esteja instala na mente da criança); ou enquanto efeito psicológico no filho - quando a prática do abuso
emocional teve sucesso em alienar a mente da criança (quando rejeita contato ou afeto do outro genitor).

Além da abordagem psicológica da Lei 12.318, que tece sobre a interferência psicológica prejudicial aos vínculos parento-
filiais, outra definição, mais puramente jurídica, conceitua atos isolados de Alienação Parental e que podem ser identificados pelo
juízo, independente do perito especialista. Desse modo, para que o Operador do Direito tome medidas cabíveis, não há necessidade
de se identificar no estudo psicológico o uso dos termos “genitor alienador”, “criança alienada” ou “alienação parental”.

A definição da Lei brasileira oferece uma alternativa ao magistrado quando não encontra o termo Alienação Parental no
estudo pericial ou quando não deseja aguardar elaboração da avaliação para tomar providências. A nova legislação permite com
que o julgador reúna outras provas no sentido da Alienação Parental, para além da psicológica, para ajudar a regular o abuso
emocional que sofre a criança e a reinserção do genitor na vida do filho.

Estabelece-se, portanto, que não há necessidade de aguardar confirmação do diagnóstico psicológico de AP ou SAP para
que o Juiz apoie suas intervenções, decisões e determine ocorrência de Alienação Parental.

O abuso do Poder Familiar, anteriormente a promulgação da Lei 12.318, já contava com reguladores em nossa legislação
para coibir este tipo de prática, segundo discorre Simão (2005). A ideia do legislador, ao reunir os artigos dispersos nos códigos
brasileiros, tem por objetivo aumentar o conforto e o poder do juiz no tocante ao uso das sanções em Varas de Família, no sentido
de promover a medida protetiva à criança e ao adolescente, evitando maiores danos.

Deste modo, a Lei traz maior visibilidade à violência psicológica pela qual grande número de crianças e adolescentes passa
quando diante do litígio dos pais.

Entretanto, há que se ter em mente que, dependendo da definição de Alienação Parental da qual se utiliza o perito, pode-se
detectá-la ou não. O conceito de alienação enquanto SAP certamente não coincide com a definição da Lei 12.318. Esta última conta
com uma definição mais ampla e envolve casos mais amenos de alienação, por exemplo, aqueles em que ainda não se desenvolveu
14
estágio de alienação na mente da criança, ou aquele que a prática de alienação aparece na forma de atos isolados e não na forma
de inculcamento, lavagem cerebral ou programação sistemática praticada pelo alienador, até porque, uma pequena prática de
alienação na mente da criança pode surtir intensa rejeição.

Se para exame do caso parte-se da hipótese baseada na teoria da SAP, há possibilidade do perito não identificá-la na criança
se esta não estiver instalada. No entanto, tal fato não exime o alienador quanto à prática de alienação, a qual deve ser coibida. Um
filho emocionalmente abusado pode não estar alienado, mas a práxis clínica mostra que é uma questão de tempo até que a criança
ou adolescente passe a recusar o afeto ou contato com o outro genitor, razão pela qual a Lei estabelece uma definição mais ampla,
de cunho preventivo, que permite a atuação do magistrado antes tenha surta o efeito de rejeição nos pequenos.

Por vezes encontra-se, nos laudos periciais, a descrição de dinâmica semelhante a da Alienação Parental, sem que seja
cunhado no estudo o termo AP ou SAP. Tais descrições, se coincidirem com a prática de alienação segundo os preceitos da Lei em
tela, permitem com que o magistrado aplique os dispositivos, se entender que este é o caso. A Lei trata por alienação:

“Art. 2º (...) interferência na formação psicológica (...) para que repudie ou genitor ou cause prejuízo (...) à manutenção de
vínculos”.

A definição de vínculo pode tanto ser no sentido concreto, em termos de convivência, como no sentido de laço emocional.
Nesse sentido, a Lei demarca que não há necessidade de haver diminuição ou ruptura de convivência para que se identifique a
Alienação Parental, basta haver prejuízos no vínculo emocional, isto é, na relação afetiva do par, para se identifique tal dinâmica.

A Lei permite, portanto, desmistificar o entendimento equivocado de alguns Operadores do Direito de que a Alienação Parental
se define única e exclusivamente por obstacularização de convivência. Não raro encontra-se decisões baseadas na justificativa de
que como não existe impedimento de convivência, não há que se falar em Alienação Parental. Este tipo de entendimento de fato é
equivocado.

Desse modo, a definição de Alienação Parental não se aplica somente quando existe o impedimento de convivência entre
pai e filho. Existem formas mais graves de Alienação do que aquela mais concreta, direta e explícita. Corre-se o risco de interpretar
equivocadamente que, se não há prejuízo concreto na relação parento-filial (obstacularização ou rejeição da convivência), não há
Alienação Parental, embora Gardner (1998) tenha discutido que um dos principais objetivos de sua ferramenta interventiva, mas não
únicos, seja a de reestabelecer os laços familiares rompidos.

Este tipo de distorção do conceito de Alienação pode levar os Operadores do Direito a omissão diante do abuso emocional
sofrido pela a criança e pelo adolescente. Observa-se, portanto, que o uso e aplicação de forma incorreta das definições que
envolvem o tema têm consequências diretas na práxis jurídica.

Há também outro entendimento equivocado por parte dos Operadores de Direito de que a Alienação Parental somente se
caracteriza por atos conscientes, propositais e/ou deliberados. Essa definição estreita, já combatida pela definição da Lei, também
pode conduzir os profissionais à omissão diante do abuso emocional da prole. Gardner (1998) desmistifica esse entendimento ao
afirmar que:

“As contribuições e manifestações de um genitor programador podem variar desde inteiramente conscientes até
mesmo profundamente inconscientes” (p.130)

Ademais, quando se tem por foco o Superior Interesse da Criança e do Adolescente deve-se tomar por base os efeitos das
práticas parentais nos filhos, importando menos se são conscientes ou não. Os genitores, por sua vez, devem ser responsabilizados
pela posição de sujeito, pouco sendo produtiva a discussão quanto a consciência dos atos quando se trata de consequências
iatrogênicas na saúde mental da prole. Assim sendo, não há necessidade de provar que os atos de alienação sejam conscientes e
deliberados para se determinar a direção da intervenção do magistrado.

Se de um lado a Lei traz maior autonomia ao magistrado, de outro, o aumento desse poder de decisão ultrapassa o conforto
do Juiz. Com frequência se observa uma posição precavida, recuada, e não raro, de omissão. Não parece difícil imaginar a razão
quanto a este tipo de postura.

O dilema do qual sofre o magistrado pode ser complexo e angustiante, entretanto não pode ser utilizado como justificativa
para protelar decisões, cuja demora se liga menos ao excesso de trabalho, do que a crise interna que tais casos despertam nos
profissionais.

15
Há que se ter em mente que rapidez e determinação são elementos essenciais para se impedir a instalação de situação
familiar mais grave ou irreversível. O tempo está a favor daquele genitor que convive com a criança, não porque o outro genitor não
tente alienar, mas porque não obtém sucesso. O sentido da intervenção deve ser aquele de regular a convivência, independente do
fato que ambos possam tentar alienar.

O Juiz frequentemente se preocupa com as reações de um genitor contra o próprio filho quando este tem por objetivo
impedir tenazmente a participação do outro na vida da criança. E, nesse sentido, não parece difícil imaginar como, em casos mais
graves, uma medida jurídica mais radical, ou fora do seu tempo, pode incidir em deslindes mais sérios. Esta é uma das razões mais
frequentes que explicam a relutância dos juízes em se tomar medidas necessárias e até a inversão de guarda recomendada por
perícia. Uma conversa com o perito nestes momentos pode ser de grande valia.

Observo a frequência com que os magistrados recusam sugestões da equipe técnica ou relutam em decisões mais enfáticas
mesmo diante de problemáticas apontadas no laudo. Esta não receptividade dos Juízes muitas vezes se apoia na noção de que as
crianças não devem ser retiradas de suas mães, não importam quão perturbadas elas estejam. Entretanto, manter os filhos com o
genitor alienador nestas condições, muito possivelmente os levará a desenvolver sérias psicopatologias.

Outra razão por este tipo de resistência por parte dos magistrados deve-se ao fato de que crianças em estágio severo de
alienação possuem um medo tão intenso de seus pais que pode ser perigoso, e até letal, transferir a guarda.

A transferência de residência intermediária (para casa de algum familiar, por exemplo) deve ser considerada nestes casos,
até que seja possível inverter a guarda ao genitor alienado. Nesta fase, simples visitas ou telefonemas do genitor alienador podem
levar a situações de risco por parte dos filhos, como fuga da residência ou do carro em movimento, hetero ou autoagressões mais
sérias, etc. Importante destacar que o contato da prole com o alienador pode impossibilitar a inversão de guarda.

Outras vezes, o julgador não conta com estudos técnicos detalhados, aprofundados, assertivos ou conclusivos que ajudem
a sustentar uma medida mais radical. Não sem razão se preocupam quanto aos efeitos na vida da criança, razão pela qual, pode
ser preferível que magistrado utilize as sanções da Lei de forma progressiva, da mais branda a mais severa. O uso do “termômetro”
pode ser uma forma de agir com firmeza e segurança. Assim, têm-se tempo para que as partes possam elaborar, pouco a pouco, a
decisão judicial.

Na medida em que o genitor resiste em acatar as ordens do magistrado e ceder na prática da Alienação, passa-se a um grau
de sanção mais coercitivo. Evita-se assim uma medida extrema em primeiro plano.

Genitores alienadores do tipo leve recuam imediatamente, os moderados relutam em diferentes graus, necessitando muitas
vezes de medidas mais severas. Já os do tipo grave não acedem em hipótese alguma as determinações judiciais. Tais casos
estão associados a algum tipo de psicopatologia anterior ao processo que culmina em prejuízos da capacidade parental. Nestes
casos combinam-se os elementos da (1) alienação parental (2) problemáticas psíquicas e (3) dificuldades na parentalidade. Estes
genitores não reconhecem minimamente os prejuízos de suas atitudes na saúde mental dos filhos, razão pela qual não recuam
sendo necessário se pensar na inversão da guarda.

Desse modo, a ferramenta da Lei propicia ao julgador um diagnóstico quanto à gravidade da prática de Alienação e quanto
ao quadro de saúde mental daquele que aliena. Quanto maior a resistência do alienador à determinação judicial, maior a tenacidade
na prática de Alienação Parental, maior o prejuízo no exercício de sua função parental e maiores os riscos para a saúde mental da
prole.

A Lei tem por objetivo evitar a inversão de guarda toda vez que nos depararmos com impedimento de participação e convivência
de um dos genitores. Ao fazer o genitor recuar em face do abuso emocional, evita-se medidas mais radicais na vida da criança ou
do adolescente, como por exemplo, a inversão de guarda.

Há que se ter em mente que a gravidade do caso de Alienação está ligada à tenacidade do genitor em alienar e sua relutância
em recuar em face da intervenção do judiciário. Estes são dois balisadores importantes quanto à saúde mental do genitor. No
entanto, a resistência em recuar pode ser correlativa, não a doença mental, mas a falta de coerência entre os Operadores do Direito.
Quando a equipe não trabalha em harmonia, perde-se a efetividade das coerções. Casos graves são mais sensíveis a estas lacunas
e diferenças sentida na forma dos profissionais atuarem ao longo de um processo.

Cito um dos exemplos mais significativos que pude acompanhar, o caso de um menino de 10 anos que rejeitava veementemente
o contato paterno. O magistrado definira multa de mil reais a cada dia de convivência obstada, o que não resultou em mudança
qualquer da situação, até que tais multas passaram a ser executadas.

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De modo súbito, no primeiro final de semana após a genitora tomar ciência da execução da multa, a qual culminava em 30
mil reais, e depois de um ano e meio de falta de convivência com o pai, o menino passou a aceitar as visitas de forma alegre e
espontânea. Um quadro de rejeição acentuada, do dia para noite, se reverteu na medida em que a mãe recuou.

Tal quadro foi alterado assim que a genitora conseguira, através de agravo, a suspensão das multas. A criança novamente
passou, do dia para noite, a rejeitar ferozmente a companhia do pai. Este caso retrata como a resistência do alienador em aceder à
lei resulta, em parte, da ação desarmônica ou pouco assertiva dos Operadores do Direito.

A partir desta discussão, duas questões importantes não podem deixar de serem abordadas em face da preocupação do
magistrado ao utilizar as medidas protetivas previstas na Lei – a falta de amparo do corpo técnico, isto é, a baixa frequência com
que se depara com o diagnóstico literal da Alienação Parental nos estudos periciais e o receio do magistrado em utilizar seu poder
e produzir maiores danos à família.

2. Problemáticas que surgem no campo da Psicologia-Jurídica

Observa-se que os casos de Alienação são mais numerosos do que aqueles identificados nos estudos periciais. Muitas são
as razões pelas quais os especialistas em saúde mental relutam em utilizar o termo Alienação Parental. A divisão da classe quanto
ao tema foi discutida em artigo publicado em Revista do Conselho Federal de Psicologia (Brockhausen, 2012).

Em primeiro plano, pode-se afirmar que, em razão da natureza da formação do psicólogo, parte dos profissionais sustenta que
a mera explanação da dinâmica familiar seja suficiente para a regulação do conflito no sistema judicial, sem que haja necessidade
de cunhar o termo. Ocorre que, sem o amparo do seu perito, o juiz pode relutar em aplicar os dispositivos da Lei.

Encontram-se também outras razões por parte dos profissionais da área da saúde para a não utilização do termo AP.
Justifica-se que tal fato pode aumentar a lide entre as partes, e, portanto, trará maiores prejuízos as crianças. De fato, cunhar tal
termo, pode, inicialmente, levar ao empoderamento de uma das partes e ao aumento de conflito. Mas a possibilidade de aumento
da litigância justifica a não utilização do termo, quando de fato existe essa dinâmica na família? Há perigo de que este tipo de lógica
ou omissão autorize o aumento da Alienação Parental como resultado do não reconhecimento do judiciário.

Outras críticas centram-se no fato de que de que o conceito AP envolve uma explicação linear e pasteurizada das
questões psicológicas, que por sua vez, seriam mais complexas, podendo levar a responsabilização exclusiva um dos genitores e
desresponsabilização do outro.

Os profissionais também podem recusar utilizar o termo especialmente quando se deparam diante de deficiências pessoais
ou parentais do genitor alienado, acreditando que estas se equiparam a gravidade do abuso emocional praticado pelo alienador
contra a prole. Trata-se de analisar mais detalhadamente se tais deficiências são pequenas/insignificantes para justificar o intenso
grau de rejeição da prole, ou se de fato são problemáticas parentais que justificam as dificuldades relacionais entre o filho e seu
genitor.

Deficiências parentais menores não podem ser utilizadas como justificativas para a intensa rejeição, afastamento ou a
completa ruptura relacional dos filhos com seus pais, ainda que haja a corresponsabilidade do alienado na dinâmica familiar. Porém,
não se pode perder de vista que a produção do Laudo visa a intervenção judiciária e não o tratamento clínico, razão pela qual deve
ser levado em consideração o objetivo específico do trabalho psico-jurídico, que é iluminar o sentido da intervenção do magistrado.

Uma vez que o trabalho pericial tem objetivo diferente daquele clínico, há que se perguntar quais os efeitos processuais e
subjetivos nas partes aos se colocar em lente de aumento nas deficiências pessoais do genitor alienado? Para Brockhausen (2012,
p. 15):

“Trata-se de dar o acento correto a certas questões no campo psicojurídico. Pequenas dificuldades na parentalidade
do genitor alienado vêm sendo equiparadas à violência psicológica sistemática praticada pelo genitor alienador em relação à
prole, como dois elementos que influenciam igualmente a hostilidade dos filhos ante o genitor rejeitado”.

“A leitura da dinâmica psíquica de cada envolvido na situação familiar é importante desde que não encubra os diferentes
níveis de responsabilidades e dificuldades de cada genitor”.

Portanto, se existe o abuso emocional do lado do genitor alienador tal fato deve ser identificado em detrimento de se acentuar
pequenas deficiências do genitor alienado. A equiparação das dificuldades parentais do alienado e do alienador pode confundir a
17
direção da intervenção do magistrado.

A recusa quanto ao uso do termo também pode surgir em face dos peritos evitarem uma tomada de posição mais assertiva
para protegerem-se de críticas ao seu trabalho, e até mesmo, de sofrerem representações éticas no conselho de classe.

O excesso de trabalho nos setores técnicos pode afetar a qualidade do estudo, por exemplo, quando as entrevistas são
realizadas em número reduzido, impedindo o necessário aprofundamento do caso. Como consequência diminuem as chances de
se identificar a Alienação Parental, especialmente naqueles casos em que surge de forma mais velada e articulada.

Não raro profissionais da área da saúde mental questionam a existência da SAP por conta do termo médico Síndrome,
razão pela qual não adotam essa teoria como pressuposta do estudo. Embora nos Estados Unidos tenha-se substituído SAP por
AP, os profissionais podem, sem maiores exames, descartar automaticamente outras definições de Alienação Parental que não a
sindrômica.

Por esta razão, a referência teórica do profissional para exame da hipótese no caso deve sempre ser apontada no estudo,
segundo define a resolução 07/2003 do CFP. Se há hipótese de Alienação Parental nos autos, o expert deve indicar qual a corrente
teórica utilizada para análise da dinâmica familiar do caso, ainda que não seja adepto de alguma corrente específica do conceito de
Alienação Parental.

Souza (2011) criticou o uso do termo SAP sugerindo outros autores, referências e correntes explicativas para esta dinâmica.
Embora a visão da autora forneça uma visão diferente, servindo a reflexão crítica do Operador, sustentei em minha dissertação de
mestrado como explicações alternativas ao termo AP podem se resumir a imprecisões e sobreposições de conceitos psicológicos
adjacentes.

Por exemplo, o famoso vínculo simbiótico entre mãe e filho não se confunde propriamente com Alienação Parental. A simbiose
pode ser utilizada ou não por uma mãe como fator operativo para fazer a criança rejeitar o pai, sendo, portanto, neste caso, uma
alienação parental. Trata-se de saber se a rejeição tem origem no uso que se faz da criança para se afastar do outro genitor.

2.1 Limites quando a aplicação do termo Alienação Parental

Abordei como pequenas deficiências parentais não podem ser utilizadas como justificativas para não identificação da prática
da Alienação Parental. Por outro lado, o magistrado também deve estar ciente de que, quando existem deficiências significativas
no exercício da função parental, ou que justifiquem o afastamento ou rejeição da prole, o termo Alienação Parental e a ferramenta
interventiva decorrente, não devem ser utilizados. Nesse sentido, sou solidária as preocupações do Des. Antônio Carlos Matias
Coltro.

Há que se ter clareza sobre a razão da rejeição dos filhos para saber quanto a direção da atuação. Um adolescente pode
rejeitar a um dos pais por questões próprias a idade. Uma criança pode rejeitar seu ente querido como forma de proteger-se de
conflitos despertados pela saída do genitor de casa com a separação. Outra criança pode rejeitar a um dos seus genitores devido
à fragilidade do laço ao longo da história relacional. Tais casos não devem ser tratados como Alienação Parental. Enfim, existem
inúmeras explicações do porque um filho pode rejeitar um de seus pais sem que seja devido a prática de Alienação Parental.

Pude discutir o projeto de Lei junto ao legislador, e, uma das críticas levantadas deve-se quanto ao fato da possibilidade de
sanção mediante a prática de qualquer ato isolado de Alienação Parental. Este ato, se não analisado junto a outras questões, pode
levar o magistrado a uma atuação precipitada, e até contrária a intervenção indicada à família.

Não raro pude acompanhar casos em que os atos da genitora foram interpretados como alienadores quando se tratavam de
atitudes protetivas. Se há o abuso sexual, atitudes obstrutivas não podem ser tomadas na vertente da retaliação, da alienação.

A convivência de uma criança com um genitor abusivo, embora monitorada, pode induzir a maiores níveis de confusão
e perturbação psíquica, como negação da realidade do abuso, aumento do pacto do segredo, sedução, retratação do abuso já
relatado, e até novos abusos sexuais, que podem surgir mesmo diante de visitação monitorada. O abuso psicológico que surge em
casos de abuso sexual infantil muitas vezes é desconsiderado pelos Operadores do Direito, que acreditam que, por serem vigiadas
as visitas, as crianças estejam salvas de quaisquer riscos. Há que se perguntar quão perturbador e contraditório poder para a
criança delatar o próprio pai, por exemplo, e ter de reavê-lo em visitação.

Portanto, o magistrado deve ter clareza quanto à hierarquia dos elementos que aparecem no caso na hora de definir o sentido

18
preventivo da intervenção. Gardner (1998) advertiu que, se houvessem quaisquer deficiências parentais significativas por parte do
Alienado, a ferramenta da SAP não deveria ser aplicada, razão pela qual diferenciou a Alienação Parental e Síndrome de Alienação
Parental. A ferramenta interventiva coercitiva somente fora indicada em casos de SAP, ou então, em casos de programação, quando
a SAP ainda não se instalou.

A visão fria da legislação, se não analisada mais profundamente, e conjuntamente à complexidade das questões psicológicas,
pode levar a uma intervenção iatrogênica ao grupo familiar. A existência da prática de Alienação Parental do lado de um, não
descarta automaticamente a hipótese de ocorrência de abuso sexual infantil do outro, nem de outras problemáticas, como outros
tipos de abuso, maus-tratos, negligência e outras dificuldades parentais.

Se medidas coercitivas são tomadas em face de um genitor que aliena, mas de fato existe algum tipo de abuso da parte do outro,
tal intervenção pode levar à maior desestruturação do sistema familiar e consequente desproteção da criança. Quando as atitudes
de um genitor protetivo são interpretadas como atos de Alienação, e este recebe advertências e sanções, está sendo desencorajado
a proteger os filhos. Nesse sentido, a Lei, quando aplicada fora do contexto indicado, pode levar a intervenções judiciais contrárias à
proteção e ao bem estar da criança, aumentando deste modo, os níveis de desestruturação familiar, prejudicando o suporte parental
necessário à recuperação psíquica da criança.

Em outras palavras, a presença de SAP ou da Alienação Parental, segundo as diferentes acepções das teorias explicativas,
sejam elas psicológicas ou jurídicas, não formalizam critério para diagnóstico diferencial de suspeita de abuso sexual ou outros tipos
de denúncias. E, ainda que pairem quaisquer dúvidas quanto à hipótese de atos isolados de Alienação Parental, segundo define a
Lei 12.318, Gardner, o criador do termo SAP, adverte:

“(...) a SAP é uma entidade separada do abuso físico, emocional e sexual. Isso não significa que a SAP não coexista
com abuso, um abuso pode causar a SAP ou ser adicionado a SAP (...). Isso não significa que a presença de um não afeta
o outro (...).” (1998, p. 114, grifo nosso).

Desse modo, há que se desmistificar quanto aos limites de classificações que podem se tornar artificiosas quando se faz
entendimento equivocado e simplificado da teoria da Alienação Parental. Tal entendimento pode levar os Operadores do Direito à
aplicação de medidas anti-terapêuticas, portanto, iatrogênicas ao sistema familiar. Brockhausen (2011) exemplifica:

“Da mesma forma que nem toda falsa alegação se fabrica a partir de motivos retaliativos, nem toda evidência de
Síndrome de Alienação Parental pode ser indicada como diagnóstico diferencial para falsas alegações de abuso sexual. Se,
por um lado, a SAP pode ser uma justificativa para a construção de uma falsa alegação, ela não pode ser indicada como
evidência inequívoca de que não houve abuso sexual infantil”.

Ou seja, a presença de SAP numa família não permite excluir automaticamente a hipótese de qualquer tipo de abuso, apesar
de sua presença diminuir as chances do abuso ser real. A SAP pode vir antes de um abuso ou se sobrepor a ele, razão pela qual
não pode ser tomada como sinônimo de falsa acusação. Do mesmo modo, nem toda falsa acusação é indicativa de SAP. Existem
diversos mecanismos que podem eliciar uma falsa acusação, como, por exemplo, o questionamento repetido e ansioso da criança
por seus pais, a má intepretação de um comportamento infantil ou de um sinal corporal, entre outros.

Não raro genitores abusivos se utilizam de acusações de Alienação Parental como estratégia de defesa e para encobrir
deficiências na parentalidade. O magistrado deve estar atento aos indicativos de problemáticas por parte daquele genitor supostamente
alienado. Uma vez que forem contundentes, não se deve aplicar a Lei 12.318, ainda que se observem atos de Alienação Parental.
Estes atos podem representar a tentativa de proteger a criança.

Outras generalizações perigosas podem surgir no campo como, por exemplo, tomar automaticamente um genitor como
apto e adequado no exercício de sua função quando se identifica a prática de Alienação Parental do outro. Se um aliena, tal fato
não exime o outro genitor de problemáticas maiores na parentalidade. A aplicação de um pensamento como este, causar linear,
pasteuriza a dinâmica psicológica familiar, que frequentemente se mostra mais complexa. Nesse sentido, o magistrado deve ter
claro quais balizadores deve se utilizar ao aplicar os dispositivos da Lei 12.318.

A medida deve ser aplicada naqueles casos em que houver um genitor alienado, vinculado de forma saudável e constante
aos filhos, com preservada função parental. O juízo pode pedir que seu perito elucide estes pontos capitais para que possa aplicar
a Lei de forma mais segura.

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2.2 Problemáticas que surgem em face da atuação do magistrado

Não raro se observam determinações de advertência a ambos os genitores no tocante à prática de Alienação Parental.
Embora a Lei permita este tipo de atuação, Gardner (1998) não deixou de ressaltar como este tipo de prática pode ser impotente e
ineficaz, induzindo ao aumento na prática de alienação.

Uma atuação ambígua dissipa o sentido da sanção, razão pela qual aumenta o empoderamento do alienador, que passa a
resistir mais fortemente à lei.

Há que se ter em mente que a Alienação Parental possui uma dinâmica altamente responsiva a intervenção dos Operadores
do Direito. Por vezes, a alienação pode se manifestar como algo pontual, que se produz apenas no curso de uma ação com a
finalidade de obter vantagens processuais. Por exemplo, ao alinhar o filho, o genitor promove uma vinculação afetiva exaltada e
artificiosa de forma a encobrir questões maiores e obter-se vantagens processuais.

Na mesma esteira das ordens ineficazes ou impotentes se colocam as advertências não cumpridas pelo juízo, tal como
multas não executadas. Ou então, algumas ordens inexecutáveis, como por exemplo, “não falar mal do genitor para a criança sob
pena de”, e outras decisões deste tipo.

A ideia das medidas protetivas previstas na Lei, ou da ferramenta coercitiva, não é a de eliminar completamente qualquer
ato de Alienação Parental, até porque tal medida absoluta não é executável. O objetivo da Lei deve ser o de criar a dispositivos que
ajudem a recuar o abuso emocional praticado contra a prole, promover maior equilíbrio do Poder Familiar, regular o convívio e a
participação na vida dos filhos com seus pais.

No entanto, quando se observa a frequência com que ambos os lados cometem atos de alienação, qual deve ser o sentido
interventivo da decisão do magistrado?

Ambos os genitores podem tentar Alienar os filhos, mas apenas um consegue, geralmente o guardião, por ser aquele que
goza de contato diário com a prole, sendo esta a pessoa sobre a qual deve recair a sanção. O sentido único da intervenção deve
ser aquele de regular o cerne da problemática familiar, geralmente o abuso do Poder Familiar.

A alta frequência com que os advogados alegam Alienação Parental nos processos, até mesmo de ambos os lados, tem por
efeito tornar o tema repetitivo, minimizando a gravidade destes casos.

O uso do termo sem critério pode ter ajudado os Operadores do Direito a criarem um rígido divisor de águas entre a existência
ou não da Alienação, deixando para trás, situações ou dinâmicas em que existe a Alienação Parental, mas por algum motivo, não
é facilmente identificada. Embora seja desconfortável ao magistrado tomar decisões mais firmes quando não apoiadas em um
diagnóstico de Alienação, a inação nestes casos, pode produzir um efeito perversor do próprio sentido da lei.

De outro lado, a Lei em questão tem sido utilizada como instrumento de poder, e pela minha experiência clínica, não parece
exagerado dizer que pode se tornar uma forma de agressão psicológica, se utilizada contra um genitor que não comete a Alienação
Parental. Genitores podem se utilizar da Lei para defenderem-se e para encobrir dificuldades pessoais, as quais explicariam as
problemáticas na relação com a prole e a rejeição dos filhos.

Portanto, tem-se que a acusação de Alienação Parental se tornou importante instrumento de litigância. Tanto pode aparecer
do lado de um genitor que possui dificuldades no exercício de sua função, como forma de se esquivar ou encobrir suas deficiências
parentais, como também, do lado de um genitor abusivo (alienador ou abusador), como forma de contra acusação para dissipar o
foco da questão central. Este tipo de manejo, lançar uma cortina de fumaça, não raro embaraça a visão do Operador do Direito.

A complexidade das relações pode ser tamanha que o magistrado receie quanto aos possíveis efeitos iatrogênicos à família,
se as medidas forem equivocadas em relação ao bem estar da prole. Se por um lado a Lei reafirma a importância da autonomia do
magistrado nestes casos, cabe também destacar as vezes em que existe a dependência do trabalho do técnico.

Abordou-se as decisões impotentes, ineficazes ou ambíguas. Por outro lado, o trabalho do magistrado sofre reflexos diretos
quando o trabalho do perito é pouco profundo ou inconclusivo. Observa-se não raro nos estudos periciais descrições imprecisas
do tipo “A briga entre pai e mãe está afetando a relação com os pais e saúde psíquica do filho das partes”, quando na verdade,
dever-se-ia ajudar a apontar ao magistrado o sentido de sua intervenção, isto é, se diante do conflito do casal parental, o guardião
convoca o filho das partes a uma aliança. No entanto, os peritos acreditam estar ajudando a amenizar o conflito não apontando

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maiores responsáveis.

Gardner (1998) diferenciou SAP e AP quanto às diversas razões pelas quais se pode justificar a rejeição de uma criança
ao seu ente querido, ferramenta criada para iluminar o sentido da intervenção do magistrado. O profissional perito, portanto, deve
fornecer um trabalho profundo e detalhado quanto às estes apontamentos. E o juiz, sabedor dos pontos centrais que necessitam
ser elucidados, pode dirigir/encaminhar pedidos ou perguntas específicas ao perito de sua confiança.

Embora o Juiz não seja técnico, não se pode deixar de perguntar quais conhecimentos psicológicos básicos o mesmo deve
ter como norte de sua prática. Em que medida o juiz pode contornar a dependência do trabalho pericial?

Costumo dizer que, deter a guarda de um filho pressupõe uma responsabilidade, no mínimo redobrada, na manutenção
dos laços afetivos do filho com o genitor não convivente. O afeto, cuidados e envolvimento permitidos pela vivência cotidiana, são
importantíssimos elementos propiciadores de identificações psíquicas profundas entre o par guardião-filho, chave central para
o entendimento de grande parte das situações que envolvem algum tipo de - resistência, recusa, rejeição, hostilidade, medo,
distanciamento afetivo em relação ao genitor não convivente.

Para psicanálise, pode-se dizer que, com a saída do genitor não convivente do lar, o guardião se torna o principal suporte
identificatório para o filho. Tal fato será problemático, em especial, se houver conflitos entre o casal parental e houve uma convocação
da criança ao alinhamento. Desse modo, a dinâmica familiar torna-se disfuncional, o que requer, independente do nome que se dê,
intervenção judicial com objetivo de proteger os laços afetivos.

O reforço identificatório entre o par genitor-filho, explica a razão pela qual a Alienação Parental sucede tão facilmente, como
também explica os entraves que podem surgir na relação com o genitor não convivente. Por isso, não há necessidade de ser
identificada a lavagem cerebral no filho por parte do guardião, para que de fato se identifique os efeitos da alienação e os prejuízos
na relação filho-genitor.

Diante deste tipo de Alienação Parental silenciosa, estabelecida primordialmente preponderantemente via identificação e
não via depreciatória, muitos peritos não identificam a SAP, pois procuram por uma programação ou lavagem cerebral deliberada
e não a encontram. Ora, se o guardião está magoado como ex-companheiro, frequentemente o filho se identifica com sua dor, pelo
fato de passar mais tempo com ele. Nesse sentido, pergunta-se – essa aliança entre o par, por assim dizer, merece ou não o título
diagnóstico de Alienação Parental? Ainda que não mereça esse título, o genitor deve ser responsabilizado pela convocação que faz
a prole, ainda que não seja inteiramente consciente?

Penso que este tipo de dinâmica (Brockhausen, 2011) merece a aplicação dos dispositivos da Lei, quando ensejar em prejuízos
na vinculação do filho com seu genitor e quando houver resistência a cooperação com a aproximação filho-genitor rechaçado. O
guardião precisa ser implicado e se responsabilizar por sua posição subjetiva e os consequentes efeitos no desenvolvimento dos
filhos, ainda que possa não receber o uso do termo.

Fato é que, os conflitos do pós divórcio entre os pais, explica, mas não justifica o prejuízo nas relações do filho com o genitor
não convivente, quando resguardada sua capacidade parental. Segundo Théry (1998), o parâmetro que deve orientar os genitores
separados, é o do interesse da criança, o mesmo que deve ser utilizado pelos Operadores do Direito, e principalmente pelo juízo - o
único com poderes reais de fazer valer o interdito.

Existem diferentes dinâmicas psíquicas que podem explicar o a aliança entre o par criança-guardião. Não há necessidade de
que se programe o filho de forma tenaz, tal qual a programação sistemática da SAP, para que o filho tenha dificuldades na relação
com o genitor não convivente.

Importantes autores nacionais e internacionais, antes mesmo do advento da Alienação Parental ou SAP, descreveram
dinâmicas familiares do pós divórcio que podem soar familiares quanto à descrição de práticas que envolvem a Alienação Parental.

Souza (2011) traz diversas referências como Gigoli (2009), que nomeia o cisma geracional, quando não há uma boa elaboração
da separação, levando ao prejuízo das relações parento-filiais e à exclusão de um dos genitores da relação com os filhos ou divisão
dos filhos entre os genitores.

Fedullo (2001), também citado pela autora, descreve a inversão de papéis parentais quando há divórcio conturbado, e os
filhos passam a ocupar lugar de companheiro de um dos pais, adotando uma posição marital, de responsabilidade pelo genitor e
pelos irmãos, para não sentir a ausência do cônjuge que partiu.

Brown (1995) aborda a questão do filho confidente do genitor, geralmente o mais velho, que pode se tornar depositário de

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responsabilidades do adulto.

Wallerstein e Kelly (1998) descreveram a modificação dos padrões de relacionamento entre guardião e filhos depois da
separação, levando ao maior apego e dependência emocional entre mães e filhos.

Hurstel (1999) tratou do desequilíbrio dos papéis de mulher e mãe depois do divórcio pode levar a uma regressão psicológica
da mulher e o consequentemente acoplamento com o filho.

Dolto (1988), psicanalista francesa, ao tratar sobre a problemática das visitas na questão da separação, desenvolveu sobre
como a imposição de limites aos filhos em face das visitas é um ato que não precisa ser justificado pelos pais aos filhos. A autora
enfatiza a dificuldade dos pais em dizer aos filhos que eles possuem deveres parentais e que devem ser cumpridos.

Nesse sentido, o juiz, no lugar do pai simbólico, da invocação da lei, chamado a reafirmar a autoridade dos pais, ordena
novamente a referência às normas e a abertura ao desejo, razão pela qual a palavra do juiz produz intervenções terapêuticas.

Se para embasar a decisão, o magistrado muitas vezes necessita contar com o suporte de um perito especializado, que
forneça elementos através de estudo, este deve ser suficientemente aprofundado e detalhado, para que possa proferir sua decisão
de forma segura e convicta.

È possível encaminhar os casos mais complexos nomeando àquele perito de sua confiança, ou àquele que reúna maior
especialidade na atribuição de um caso específico. A maior proximidade na relação com o perito, à consulta ao profissional nas
decisões intermitentes, bem como pedidos mais específicos na forma de elaboração do estudo pericial, podem ajudar a determinar
uma intervenção mais adequada, mais assertiva ao caso, e quais as medidas progressivas específicas mais efetivas.

Quanto à equipe de especialistas, estes não tem o poder real de intervir, mas o poder de informar ao magistrado quanto à
direção de sua conduta. Desse modo, a intervenção do magistrado sofre à medida que não conta com a qualidade de um estudo
detalhado a aprofundado, que toque todos os pontos necessários para a tomada de decisão.

Portanto, para ter maior clareza quanto à direção de sua conduta, o magistrado pode determinar o aprofundamento do estudo
através de pedidos específicos ao perito. O excesso de trabalho dos peritos pode levar a adoção de um procedimental enxuto que
impeça de trazer elementos mais detalhados e aprofundados daquele caso.

O magistrado pode fixar pontos que o ajudem ao esclarecimento do feito, como elucidar quais fatores envolvidos na dificuldade
relacional dos filhos com o genitor em questão, se (a) existe algum tipo de dinâmica interpsíquica do guardião que possa influenciar
na relação criança com o genitor não convivente; (b) se existe indícios de algum tipo de dinâmica relacional entre o par guardião-
criança que afete a relação com o outro genitor; (c) se existem outros familiares que influenciam na dinâmica de rejeição da criança
ao genitor não convivente; (d) se existe rejeição de outros membros familiares do genitor não convivente; (e) se a expressão de
recusa da criança ao genitor é genuína, saudável, protetiva ou artificiosa; (f) se existe algum outro fator envolvido que explique a
dificuldade ou resistência da criança ao convívio (longo afastamento de um dos genitores, outros fatos e eventos, etc.); (g) se a
(intensidade da) rejeição da criança justifica-se a partir de dificuldades do genitor rechaçado ou não.

Outro eixo de perguntas pode ser feito no sentido das dificuldades psíquicas, relacionais ou parentais por parte do genitor não
convivente que expliquem a dificuldade relacional (ou parte da rejeição) da criança.

Para embasar uma decisão convicta, o estudo psicológico deve incluir a descrição detalhada dos exercícios das funções
de cada um dos pais (histórico e grau vinculação com a criança, capacidade de priorizar os interesses dos filhos, capacidade de
percepção das necessidades infantis, disponibilidade, figura de referência primária, etc.). Este tópico ajuda o magistrado saber qual
sua margem de intervenção, isto é, sobre possibilidade de inversão de guarda, riscos envolvidos, aumento de convivência com
genitor não guardião.

Frequentemente, os pais, na maioria das vezes o alienador, pedem para que a criança ou adolescente sejam escutados
em audiência. Pedidos dirigidos ao juiz por parte dos pequenos também podem ser anexados nos autos como provas, deixando
evidente o envolvimento ativo da criança no processo.

Este tipo de pedido deve ser analisado com cautela uma vez que pode mascarar a manipulação dos filhos para que sejam
escutados, quando na realidade expressam a vontade daquele genitor mais forte de forma a instrumentá-lo na lide. Escutar uma
criança ou adolescente quando diante de casos de Alienação leva ao aumento da pressão na mente dos filhos. Assim, o aceite pela
oitiva pode levar ao aumento do abuso emocional na prole.

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Cabe uma ressalva quanto à resistência dos magistrados na atribuição da Guarda Compartilhada nas situações que envolvem
disputas judiciais, uma vez que este dispositivo pode representar importante regulador das situações que envolvem abuso do
Poder Familiar. A concepção mais frequente é a de que este dispositivo apenas torna-se viável quando os pais mantêm um bom
relacionamento. Ou seja, entende-se que para evitar conflitos maiores, é preferível que um dos pais detenha a guarda e resolva
tudo sozinho.

Porém, com a separação, os papéis parentais serão remodelados, resignificados, e neste sentido, o magistrado também deve
pensar nas repercussões na vida familiar, quando se atribui o tipo específico de modalidade da guarda. O dispositivo da guarda
produz nova subjetividade e pode induzir ao abuso do Poder Familiar. Brito (2005) analisa as justificativas dos magistrados para não
atribuição da Guarda Compartilhada quando envolve disputa entre o casal parental:

“É preciso enfatizar que o vínculo de filiação e o exercício parental não podem depender de critérios de negociação
entre os cônjuges: ao contrário, devem ser assegurados pelo Estado, como prevê a Convenção Internacional dos Direitos
da Criança (1989). Compreende-se, assim, que nem sempre é possível, nesses casos, buscar acordos, cabendo ao juiz –
como intérprete dos princípios que estruturam cada sociedade – a designação do exercício da paternidade e da maternidade,
negando o exercício unilateral de responsabilidades” (p. 61)

Para a autora, a Guarda Compartilhada, para além da divisão mais equilibrada do esquema de convivência, traz efeitos
simbólicos, e pode ser considerada uma forma de validação social para o exercício da maternidade e paternidade após o rompimento
do casal. Ela demarca que o guardião não é o único na relação de parentalidade com a criança.

Mais adiante afirma que manter a parentalidade após o divórcio é um desafio com conflitos iniciais aos pais, mas a procura do
equilíbrio é necessária para as crianças: “sendo contra-indicado o abandono do conflito pelo afastamento compulsório, ou voluntário,
de um dos pais” (Brito, 2005, p. 62). Tem-se, portanto, que, o dispositivo de guarda não pode atribuído às famílias seguindo a lógica
do que viria a regular, acabar ou apaziguar o conflito entre os adultos.

Há que se ter em mente que grande parte das lides que chegam ao judiciário estão relacionadas aos impedimentos de
convivência e participação do genitor não guardião na vida do filho, razão pela qual, grande parte dos pais, busca o judiciário como
forma de reafirmar seu Poder Parental. Desse modo, a condução unilateral da vida dos filhos pelo genitor guardião contribui para
que o quadro adversarial seja mantido.

2.3 Resistência do Alienador em aceder à lei

Existem diversas formas pelas quais o genitor pode resistir às normas, ordens e decisões judiciais. Se o magistrado
puder distinguir e discriminar estas situações, poderá agir de forma mais coerente e segura, aumentando a efetividade de suas
determinações.

Foi abordado como as decisões impotentes, ineficientes dos Operadores do Direito contribuem para a lapidação ou aumento
da dinâmica da Alienação. Do mesmo modo, a falta de harmonia entre a equipe multidisciplinar pode deixar lacunas que serão
exploradas tenazmente pelo alienador, o que indica que o trabalho dos Operadores do Direito pode tanto contribuir para aumentar,
como para coibir o abuso do Poder Parental.

A indução do filho ao fenômeno de independência pode ser uma das formas mais complexas do genitor alienador resistir à
ordem judicial. O filho, levado a sustentar nome próprio a decisão de rejeitar o genitor, protege o guardião de críticas em face do
judiciário, encobrindo a prática de alienação deste. Não raro, a determinação de obrigação de visitas a uma criança que rejeita seu
genitor, certamente é desconfortável ao juiz. O alienador, sensível a este fato, contará com a passividade do magistrado.

É preciso que o juiz compreenda a dinâmica envolvida neste fenômeno para que possa identificar e lidar com situações em
que, o discurso de um pai encobre a posição subjetiva de alienar. Nesta, a razão da recusa da prole é atribuída às dificuldades
parentais do outro genitor e tomada como genuína, quando, na realidade é artificiosa, induzida, cabendo ao magistrado apenas
“respeitar a vontade do menor”.

Na maioria dos casos, os filhos respondem à demanda do guardião, inconsciente ou não, para que rejeite o outro genitor.
Desse modo, o filho professa vontade de afastar-se para proteger o genitor guardião de críticas em face do processo. Em função
disto, muitos filhos alienados sentem-se aliviados quando obrigados a realizar as visitas, pois podem justificar ao alienador que
estão sendo obrigado a fazê-lo e que não desejam de fato essa convivência.

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Esses pais se utilizam da palavra dos filhos como sinônimo de desejo próprio, genuíno, e, nesse sentido, sustentam que a
vontade da prole deve prevalecer. Entendem a obrigação de visitas como um gesto abusivo, seja quando imposta pelo magistrado,
como pelo genitor rechaçado.

Observa-se que tais pais possuem dificuldades em relação à autoridade, inclusive de demonstrar aos filhos que possuem
deveres em relação ao outro genitor. Este tipo de manobra conta com a resistência dos Operadores do Direito em tomar medidas
mais enfáticas, por temer prejuízo à criança, ou em receio do alienador aumentar o nível de pressão na criança como forma de
resistir à obrigatoriedade das visitas.

Há uma tendência no judiciário em tomar a fala verbal da criança como indicativa de seu real desejo. Neste ponto, necessária a
escuta especializada que separe aquilo que é manifesto (consciente) do conteúdo atente por de trás do relato e demais manifestações
(inconsciente). Ao magistrado pode caber se recusar a extrair a verdade através da palavra da criança e para tal, as vezes cabe
rejeitar sua oitiva.

Para Brandão (2010) escutar os filhos diante da lide dos pais, torna-os reféns daquele mais forte, favorecendo o aumento de
pressão psíquica na criança e a instrumentalização por parte de um dos pais, como forma de obter vantagens no processo.

A suposta autonomia da palavra da criança mascara a manipulação de um ou ambos os pais, tornando-a refém daquele mais
forte, contribuindo para o aumento do abuso emocional, dada a oportunidade de que o filho seja escutado.

Tais pedidos devem ser negados e justificados por serem iatrogênicos à saúde psíquica da prole. Escutá-los pode colocá-los
diante da cisão do amor parental, da escolha entre um e outro, e consequentemente tornar maior a necessidade do filho defender
um de seus pais e excluir o outro, aumentando a disfuncionalidade familiar.

No caso de imposição das visitas, especialmente se houver resistência da criança e do alienador em cooperar, o magistrado
pode determinar que o guardião não esteja presente na retirada da criança, assim como outros envolvidos que não sejam neutros.

A retirada e devolução da criança diretamente na escola, por ser ambiente neutro, ou ainda através de terceiros, facilita o
momento de transição dos pequenos entre as duas casas e impede com que o alienador interfira negativamente nesse fluxo, além
de diminuir os conflitos de lealdade nos filhos, facilitando, portanto, o aceite da convivência pela criança. Em grande parte dos
casos, observa-se que, transcorrido pouco tempo de convivência da criança com o genitor alienado, esta passa a relacionar-se
naturalmente.

A inversão da obrigação de levar ou buscar pode ajudar em alguns casos quando há necessidade de demarcar que não é
um que tem que cativar a relação pai-filho, mas o outro (geralmente o guardião) quem tem de convencer o filho sobre a importância
na convivência com o genitor.

A terapia infantil com orientação de pais pode ser outra ferramenta interessante em casos de Alienação, desde que sejam
observados alguns pontos. Frequentemente observa-se o insucesso dos tratamentos no restabelecimento de vínculo, especialmente
pelo fato da terapia não estar diretamente atrelada ao judiciário e a escolha de terapeuta poder ser manipulada.

O pedido pelo magistrado quanto à comprovação de frequência de terapia e emissão de Laudo evolutivo do tratamento
ajudam a estabelecer os limites da intervenção. Algumas vezes, o tratamento terapêutico em instituição pode ter vantagens pois
ajuda a manter o enquadre do atendimento em casos de famílias disfuncionais.

Importante que a terapia não seja única medida judicial e não suspenda as demais intervenções. Neste caso, deve-se ter
clareza quando indicar tratamento psicológico porque pode ser utilizado pelo alienador como forma de ganhar tempo e protelar o
processo. A aproximação entre pai e filho através de terapia vincular deve incluir, além do alienado, o trabalho de orientação com o
genitor alienador. Ressalto que a sugestão de terapia deve ser feita em casos mais amenos de Alienação Parental, aqueles ainda
suscetíveis a algum tipo de tratamento e orientação.

A advertência tem importante papel antes do estabelecimento das medidas protetivas como o de alertar quanto ao recuo
nos atos de alienação, evitando-se outras medidas mais radicais, como a inversão de guarda ou estabelecimento da guarda
compartilhada, etc.

Há um difícil dilema diante do qual o magistrado pode ser colocado. Se existe indícios significativos de abuso sexual, a
convivência da criança com o genitor abusivo, ainda que vigiada, pode ser iatrogênica. De outro lado, se existe a Alienação Parental,
a ruptura da convivência pode levar a irreversão definitiva do quadro.

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Se, depois de revelado o abuso, a criança continua a conviver com o genitor agressor, tal fato pode levar ao reforço do pacto
do segredo da criança com o abusador, maior perturbação psíquica e intensificação das manifestações psicossomáticas infantis.

Embora a literatura aponte a alta frequência das falsas alegações de abuso sexual ligadas a separação e ao litígio, a mudança
da dinâmica familiar depois do divórcio, pode levar a criança a revelar os abusos sofridos anteriormente. Nestes casos, observa-se
que havia indícios de abuso infantil no passado, isto é, durante a vigência do casamento.

Nas situações que envolvem a Alienação Parental mas não há presença de doença mental por parte do alienador, a perturbação
psíquica de quem aliena pode ser do tipo transitória, temporária, isto é, um derivado/produto da disputa judicial envolvendo a criança.

A doença pode ser catalisada pelo próprio sistema judiciário e pela atuação desacertada dos Operadores do Direito,
magistrados, equipe de especialistas e especialmente pelos advogados, que podem potencializar nas partes traços histéricos,
paranoicos ou psicopáticos.

O sistema judicial produz nova subjetividade nas pessoas e por isso, pode também induzir a patologias. Se a decisão não
incidir no cerne do conflito, no interdito, poderá incrementar a Alienação Parental ou outros problemas conforme já explicado. Por
exemplo, há casos de abuso sexual real em que a mãe, ao ser interpretada equivocadamente como alienadora, fora levada a
aumentar suas praticas obstrutivas, as quais são protetivas e não alienadoras, ou, então, a afrouxar a proteção tão necessária a
criança.

2.4 O alienador e os fatores psíquicos envolvidos

A recusa em aceder à lei pode estar ou não associada à presença de psicopatologias, tais como, Transtorno de Personalidade
Antisocial, narcísica, paranoica, psicopatia, entre outras. Quanto maior a recusa do genitor em aceder à lei, mais se associa a
presença de patologias.

Para Gardner (1998), a recusa a lei associa-se ao grau de litigiosidade, frequencia de BO’s e queixas aos serviços de
proteção, frequência de violação de ordens judiciais e sucesso em manipular o sistema legal. Entretanto, para saber se de fato um
genitor resiste a lei, deve-se ter claro que aquele sentido buscado pelo Operador claramente representa a proteção da criança.

Um genitor que resiste a decisão judicial para proteger seu filho do risco, não pode ser interpretado, do ponto de vista
psicológico, como alguém que resiste a internalização da lei, mas como alguém que busca proteger a cria, razão pela qual casos
complexos em que pairam acusações graves desafiam os profissionais mais experientes.

A partir de suas observações clínicas, Gardner (1998) estabeleceu que a minoria dos casos existe indução leve e severa de
SAP. Nos casos leves, o fator que mais dispara a SAP é a necessidade de reafirmar a posição do genitor, em sua grande maioria
mulheres, e alcançar uma posição mais equilibrada na disputa de guarda. Isso, pois, geralmente desenvolveram os cuidados
primários com os filhos e um laço forte e saudável, os quais querem manter inabalados.

No caso dos homens que induzem a alienação do tipo leve, algumas manifestações de alienação podem aparecer com
objetivo de reafirmar sua posição na disputa na manutenção da guarda devido à motivação financeira.

As alienadoras do tipo leve acreditam que seria melhor que os filhos ficassem com ela, por outro lado, apresentam grau
de litigância relativamente baixo, pois são cientes dos prejuízos da programação na mente nos filhos. São pessoas capazes de
algumas atitudes conciliatórias em face dos pedidos do alienado em relação aos filhos.

A maioria dos casos envolve SAP no grau moderado. A raiva e a vingança são fatores mais comuns que disparam a indução
da SAP moderada pelas mulheres. Não raro apresentam algum tipo de perturbação que não formaliza um distúrbio psiquiátrico.
Possuem um laço saudável com seus filhos, porém, parcialmente comprometido por conta da raiva. Antes da separação costumam
ser boas cuidadoras, por isso, na sua grande maioria, podem continuar a ser a guardiãs.

Quando existe o grau moderado de programação não cooperam com ordens judiciais, apenas quando a decisão está atrelada
a algum tipo de sanção. A despeito da alienação envolvida, na sua grande maioria podem continuar a ser a guardiã, pois possuem
vínculo saudável com o filho, desde que haja esforços combinados entre a equipe que viabilize a efetividade das visitas. Nos
homens que induzem a SAP moderada, a motivação pode ser a pensão ou necessidade de poder.

No genitor que induz SAP severa, observa-se a alta frequência de psicopatologias, prejuízos na capacidade de cuidar dos
filhos ou exercer suas funções, presentes antes da separação, ou então, presença de um laço patológico com o filho. Observamos
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manifestações que indicam traços de rigidez mental, tal como fanatismo, paranoia e obsessão com o antagonismo em relação ao
ex-parceiro.

Esses genitores não respondem de forma lógica, racional quando confrontados com a realidade. Utilizam todos os mecanismos
legais ou ilegais os possíveis para evitar as visitas. Os profissionais que não acatam suas demandas acusatórias são incorporados
ao seu sistema paranoide, de forma que nada altera suas crenças ou reduz o grau de alienação.

Cabe destacar que o aspecto principal da paranoia é a projeção. A nocividade que enxergam no ex-parceiro são aspectos
projetados do seu próprio psiquismo, que podem indicar sua própria nocividade em relação aos filhos. A paranoia pode não existir
antes da ruptura do laço com o parceiro e ser um estado de deteriorização em face do contexto de litígio.

Em síntese, se o principal mérito do diagnóstico da alienação é o de permitir a rápida intervenção do juiz. Seu ponto frágil
coloca-se quando esta medida não é acompanhada por um ratificação diagnóstica por perito especializado.

Embora a relutância do alienador em aceder à lei seja um ponto capital que toca estes casos, a mudança de paradigma na
forma de pensar na Alienação Parental enquanto subproduto do trabalho dos Operadores de Direito, aumenta as chances de obter
sucesso nestes casos.

Ao determinar os diferentes fatores envolvidos na alienação, a intervenção torna-se mais precisa e efetiva, especialmente se
for reconhecido quão responsiva esta dinâmica se faz em face da atuação do profissional.

3.1 Referências
Brandão, E.P. (2009). Por uma ética e política da convivência: um breve exame da “Síndrome de Alienação Parental” à luz da
genealogia de Foucault. Recuperado em 15 de julho de 2011, de http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=555

Brito, L. M. T. (2004). Guarda conjunta: conceitos, preconceitos e prática no consenso e no litígio In R. C. Pereira (Coord.),
Afeto, ética, família e o novo código civil (pp.355-367). Belo Horizonte: Del Rey.

Brockhausen, Tamara Dias. (2011). SAP e Psicanálise no campo psicojurídico: de um amor exaltado ao dom do amor.
Dissertação de mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo.
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26
A ALIENAÇÃO PARENTAL COMO CONSEQUENCIA DO PARADIGMA PATRIARCAL DE FAMÍLIA
Thais Medeiros
Maria Emília Miranda de Oliveira Queiroz

1. 1. INTRODUÇÃO
O artigo faz um estudo sobre a evolução da família, mostrando as várias fases que a família passou até chegar em seu momento
atual, o poder familiar. Através deste estudo evolutivo, alguns problemas começaram a ser identificados e esse artigo se prende a
um muito importante, porém pouco conhecido que é a alienação parental, que pode ser tida como a campanha, feita geralmente por
um dos genitores, de denegrir a imagem do outro diante do menor, sem medir esforços nem temer consequências nesse processo.
A pesquisa tem como agente motivador a falta de produção bibliográfica sobre o tema, que se fez de interesse após o acesso ao
documentário “morte inventada”, que explicita a gravidade da prática da alienação parental para a estrutura familiar e pessoal dos
envolvidos.
Para estudar o tema vamos detectar seu cenário de incidência, ou seja, analisaremos pelo método histórico a evolução da família,
pela pesquisa bibliográfica centrada principalmente em John Gilissen e Gerard Vicent. Depois disso, contextualizaremos com a
realidade legislativa da nova família brasileira.
Tem como objetivos identificar como a evolução da família pode acarretar problemas que podem levar a alienação, no trabalho são
tratadas várias fases da família, tipos e momentos que a família passa durante o tempo.
Pretende assim detectar e descrever o cenário familiar da prática da alienação parental e apresentar o panorama atual da realidade
brasileira sobre o tema, focando nesse momento no contexto legsilativo.
Assim, pretende contribuir com a formação de material científico para estudo e combatimento da alienação parental.
2. Evolução histórica da família
A família representou sempre, ao longo da história da humanindade, um papel fundamental no desenvolvimento
da pessoa, não só enquanto ser individual, mas igualmente enquanto ser social e comunitário. De facto, embora
seja difícil definir e delimitar o conceito de família de forma clara e definitiva, à família sempre foi atribuido um
palel essencialmente pretector, sendo communmente aceite que os familiares sao verdadeiros ‘protectores
naturais’. (CARVALHO, 2011, p. 23)

O surgimento da família se deu a aproximadamente 4600 anos. E pode-se dizer que veio a partir da necessidade natural que
o homem tem de não viver sozinho, necessidade na qual fez com que o mesmo procurasse estabelecer laços afetivos com outras
pessoas. Família pode ser conceituada como um grupo de pessoas ligadas através da descendência, que pode ser demonstrada
através da existência de um ancestral, do matrimônio ou até mesmo da adoção. (ENGELS, 1884).

Ainda de acordo com Engels, o termo família tem origem a partir da palavra familus, que é oriunda do latim e que significa
servo da casa, ou até mesmo escravo doméstico, já que na Grécia Antiga, o pai era o responsável não só por sua família matrimonial
e descendente, como também era quem mandava nos servos, pois todos deviam respeitar o poder limitador e intimidador do pai.

Ressalte-se que essa vida familiar era pautada sobre o modelo patriarcal, assunto que elucidativamente nos é trazido por
Caetano (PEREIRA, 2001, p. 35), que critica a definição stricto sensu dada ao patriarcado, onde é: “sistema oriundo das legislações
greco-romanas onde o pater familias e tinha o poder absoluto sobre todos os membros da unidade familiar”, exatamente porque
essa definição despreza o período anterior à Antiguidade Clássica. O autor fundamenta a crítica em Gerda Lerner (apud PEREIRA,
2001, p. 35), para quem:
a dominação patriarcal dos cabeças da família sobre seus parentes antecede à antiguidade clássica; começa
no terceiro milênio a. C. e se encontra já bem estabelecida até a época em que se escreve a Bíblica hebraica.”

A dominação do feminino pelo masculino, típica do modelo patriarcal de família, é alicerçada em fatores diversos que colocam
a mulher em situação de subordinação ao homem. Caetano enumera essas razões como de natureza culturais (biológica, ontológica)
e de natureza religiosa.

Nas palavras do próprio Aristóteles, em Economia Doméstica, que nos traz Caetano (PEREIRA, 2001, p. 35):
Assim, a providência fez o homem mais forte e a mulher mais débil, de maneira que ele, em virtude de sua
valentia varonil, possa ser mais apto para defender a casa, e ela, em razão de sua natureza mais tímida, mais
apta para velar por ela; e enquanto ele se preocupa de trazer provisões frescas de fora, ela pode guardar,
a salvo, as que há dentro ; nos trabalhos manuais, por sua vez, foi dado à mulher uma paciência sedentária,
ainda que se lhe tenha negado a resistência para a dureza da vida ao ar livre, enquanto que o homem, ainda
que inferior a ela nos empregos ou trabalhos quietos, está dotado de vigor para todos os trabalhos ativos.

27
(grifei)

Gilissen (1995, p. 600/601),ressalta que havia poucas mulheres em Roma, remontando a polêmica se por uma lei de Romulus,
ou pelo costume (relatado por Dionísio e Halicarnasso), que só obrigava os pater familias a conservar as respectivas descendências
masculinas, e apenas a filha mais velha, as demais lhes sendo facultado o abandono ou a morte. Assim, remontando ao Direito
Romano, o autor declara: “na época da República, a mulher não era sujeito de direito: a sua condição pessoal, as suas relações com
os pais ou com o marido eram, na competência do direito da cidade, mas do da domus, cujo chefe onipotente era o pater familias”.

É assim que, ao analisar essa fase, Renato Janine Ribeiro (RIBEIRO, 2008), usa o termo “mulher desdenhada” para ilustrar
o lugar da mulher na República, que, segundo ele, “não é admirável”.

John Gilissen(1995, p. 600), apesar de considerar que “o princípio da igualdade absoluta do homem e da mulher é hoje
universalmente admitido”, enumera três grandes sistemas distintos nos diversos estatutos jurídicos de trato da mulher, tanto no
passado, como no presente, sendo eles:

Aquele em que a mulher, casada ou não, goza pouco mais ou menos dos mesmo direitos que o homem;
Aquele em que a mulher, casada ou não, é sempre incapaz, colocada sob a autoridade de um homem: o pai,
o marido ou um parente qualquer;
Aquele em que a mulher não casada goza da generalidade dos direitos de que goza o homem, mas em que a
mulher casada é incapaz, estando colocada sob a autoridade do marido.
Fonte: GILISSEN, John. Introdução Histórica ao Direito. Op. Cit. p. 600.

O autor passa então a narrar os períodos históricos, classificando-os pelos critérios acima expostos nesse quadro.
Seguiremos, além dos autores já propostos, essa classificação de John Gilissen ao longo de nossa abordagem histórica nesse item
do estudo.

O autor exalta a complementaridade do homem enquanto integrante da família e enquanto cidadão, e classifica isso como
inerente à visão de equilíbrio que se tem do mundo clássico.

A afirmação do equilíbrio acima mencionado, deve levar em consideração que o indivíduo era harmônico enquanto varão na
sua família e cidadão na ágora, mas vivia em função desses papéis, valendo aqui citar Saldanha (2005, p. 50): “O Estado e a família
primavam sobre o indivíduo, e este valia menos por si do que como elo de uma cadeia, dentro da família, ou como um componente
condicionado, dentro do Estado”.

Essa complementaridade, não contraposição entre vida pública e privada, guarda em si uma peculiaridade na Antiguidade
Clássica, fato que já foi alertado por Habermas, ao argumentar que, como se tratava de uma sociedade de economia escravagista,
não se pressupunha o trabalho produtivo ao cidadão, motivo pelo qual sua medida de participação na vida pública estava condiciona
a sua “autonomia privada como senhor da casa”. Habermas (1984, p. 16) conclui afirmando que:
A posição na polis baseia-se, portanto, na posição de déspota doméstico: sob o abrigo de sua dominação,
faz-se a reprodução da vida, o trabalho dos escravos, o serviço das mulheres, transcorrem o nascimento e a
morte; o reino da necessidade e da transitoriedade permanece mergulhado nas sombras da esfera privada.
(grifei)

Portanto, a importância da família na antiguidade clássica é fundamental, e como tal o modelo patriarcal tinha que ser
configurado no jardim para que fizesse efeito na praça.

Voltando à classificação de Gilissen, que expomos no início desse item, temos que a situação da mulher romana variava
em conformidade com seu estado civil e pelo tipo de casamento a que era submetida, não esquecendo que devido à escassez
de mulheres na República romana, o autor (GILISSEN, 1995, p. 601) afirma: “assim, as raparigas, pouco numerosas, casavam-
se provavelmente todas, e muito jovens, com cerca de 12 anos”. Segue enumerando as possibilidades de tratamento da mulher
romana, com relação ao estado civil e ao tipo de casamento.

28
CONDIÇÃO DA MULHER STATUS DA MULHER
Casada pelo casamento cum manu – até o século III Saída do núcleo originalmente familiar e transferência
a. C. da submissão do manus do pater familias para o do
seu marido. O marido lhe trata como um filha (loco
filiae), e o sogro como uma neta (loco nepotis).
Casada pelo casamento sini manu – a partir do século Não há transferência do manus do pater familias ao
III a. C. marido, e com a morte daquele, a mulher torna-se
sui iuris.
Sui iuris – Império Capacidade jurídica real (desde que seja sui iuris),
inclusive para adquirir bens. Mesmo assim, sua
inferioridade na família continua, e tem o dever de
fidelidade, só havendo a figura do adultério feminino.
O marido não tinha poder de correção, cabendo este a
um tribunal doméstico, formado pelos seus parentes
mais próximos. Mas, apesar de todo esse progresso,
não poderia exercer nenhuma função administrativa
ou judicial.
Fonte: Adaptado de GILISSEN, John. Introdução Histórica ao Direito. Op. Cit. p. 600/601

Sobre a representatividade da igreja medieval, temos em Franz Wieacker (1967, p. 20), que:
Neste novo mundo, a comunidade universal de súditos, centralizada burocraticamente e freqüentemente
explorada do império bizantino, pulverizou-se numa pluralidade de comunidades regionais, unidas não já pela
organização imperial, mas sim pela igreja, por uma nova consciência de direito e pelo sentimento de origem
comum por parte das classes dirigentes. (grifei)

Assim, por suas informações, podemos traçar o seguinte quadro representativo da situação da mulher na Idade Média:

MULHERES EM GERAL SOLTEIRAS, VIÚVAS...


Funções Públicas Em princípio, não podia exercê-las, nem ser advogada
ou procuradora. Exceção – cabimento da sucessão
feminina a certos feudos (de roca, em oposição aos
de espada), tal qual a função real pode ser exercida
por mulheres.
Maioridade Atingiam antes que os homens, por crer-se chegarem
mais cedo à puberdade.
Incapacidade para obrigar-se Em geral, era considerada de contratar sem a ciência
do marido, ou solteira, de um curador. Exceção –
proveniente do Direito Romano, podia constituir-se
fiadora de terceiro.
Sucessão Em relação a móveis e alódios, em geral houve
igualdade entre os sexos, mas quanto aos feudos e as
rendas, não, prevalecendo as regras do privilégio da
masculinidade.
MULHERES CASADAS -
Situação social Está sob o poder do marido
Fidelidade Exigida de ambos os sexos, mas o direito de matar
o cônjuge encontrado em adultério é cabe apenas ao
marido. Também a ele cabia o direito de correção
sobre ela, contanto que não lhe tirasse a vida.
Capacidade Incapaz. Não podendo nem obrigar-se, nem contratar,
nem dar, nem estar em juízo sem a autorização do
marido. Exceção – Mulher comerciante: a que tem
loja com conhecimento do marido pode obrigar-se,
pois se pressupõe uma autorização tácita dele. A
mulher também podia obrigar-se em relação àquilo
que dissesse respeito ao lar.
Poder sobre os filhos No oeste da Bélgica, era exercido conjuntamente
com o marido.
Fonte: Adaptado de GILISSEN, John. Introdução Histórica do Direito. Op. Cit. p. 602/604.

Apesar de séculos dividirem isso da Idade Média, parece ainda ter prevalecido na nossa contemporaneidade ideologias que
não fazem abismar pelo seguinte texto do século XIV, de uma cidade flamenga e que foi citado por Gilissen (1995, p. 604): “O marido
pode bater na mulher e cortá-la de alto a baixo e aquecer os pés no seu sangue, desde que a torne a coser e ela sobreviva.” (grifei)
É exatamente ai que toma fôlego a esfera pública literária, ao publicizar romances, redigidos em cartas, que inicialmente
eram restritos à família. Com o crescimento do gênero, não eram mais publicadas correspondências originais entre o casal, mas
surgiu um mercado de escritores que simulavam isso, formando romances com grande sucesso de público leitor. Era o surgimento
do romance burguês, característico da época, que, segundo Habermas(19984, p. 66), era a “descrição psicológica em forma de
autobiografia”.

29
Nesse contexto, Habermas cita o exemplo de Richardson, que reúne uma coletânea de cartas em sua primeira publicação:
Pamela. Dado o sucesso da obra, seguiu com Clarissa e o Sir Charles Grandisson. Cita ainda Rousseau, com La Nouvalle Heloise
e Goethe, com Werthers Leiden. Depois disso, o genro se fortaleceu e firmou-se a ficção, já que os romances tratavam como
realidade a ilusão.

Com a “febre” pelos romances de ficção, tendo se firmado em hábito de leitura, foi fundada a primeira biblioteca pública, que
fomenta círculos de discussão, como nos “cafés” de outrora, só que agora com a mediação da imprensa. As pessoas privadas se
reúnem em locais públicos para compartilharem e discutirem sobre suas leituras dos romances. Sobre isso, Habermas (1984, p. 68)
comenta que: “constituem a esfera pública de uma argumentação literária, em que a subjetividade oriunda da intimidade pequeno-
familiar se comunica consigo mesma para se entender a si própria”.

Depois dessas considerações sobre o núcleo familiar burguês, cabe-nos agora abordarmos a questão específica da mulher
nesse período, e para isso usamos Gilissen (1995, p. 605), que aponta que “a Revolução Francesa não foi muito favorável à
mulher”, e cita Napoleão: “a natureza fez das nossas mulheres nossas escravas.”

Já esclarecemos que a subordinação da mulher ao homem foi base para seu reconhecimento social, fortalecendo o
patriarcado, e trazemos então um exemplo que ilustra bem a situação da mulher nesse período é o apresentado por Gilissen,
de que só em 1900, na França, a mulher pôde exercer a função de advogada, antes disso, houve um caso emblemático, de
Marie Popelin, de 1888, que requereu o juramento prévio de advogada, tendo sido a primeira mulher diplomada em Direito pela
Universidade de Bruxelas. Do caso, o autor nos propõe a leitura de um parecer e da decisão.

Parecer do procurador-geral Van Schoor (apud GILISSEN, 1995, p. 605):


Percorrei o code civil. A inferioridade da mulher em relação ao homem é aí afirmada a cada instante... E é a
esta mulher, em certa medida condenada a uma menoridade perpétua, incapaz de estar em juízo e de dispor
de seus bens, incapaz de dar, pelo seu testemunho, a autenticidade de um acto, excluída, salvo algumas
excepções, das tutelas e dos conselhos de família, que o legislador do ano XII, autor do code, teria concedido o
poder de aparecer no foro, a coberto das imunidades do advogado, para aí representar os interesses e defender
os direitos de outrem?! Contradição chocante de que a memória do legislador não pode ser acusada... No dia
em que a mulher entrar na Ordem, a Ordem dos Advogados terá deixado de existir.

Negativa da Cour d’appel de Bruxelas (apud GILISSEN, 1995, p. 606):


Considerando que a natureza particular da mulher, a fraqueza relativa a sua constituição, a reserva inerente
a seu sexo, a proteção que lhe é necessária, a sua missão especial na humanidade, as exigências e as
sujeições da maternidade, a educação que deve a seus filhos, a direção do lar doméstico confiada às suas
mãos, a colocam em condições pouco conciliáveis com os deveres da profissão de advogado e não lhe dão
nem os ócios, nem a força, nem as aptidões necessárias às lutas e fadigas do foro.

Portanto, também na família burguesa, a mulher continuou a ser desdenhada!

A família contemporânea é marcada, principalmente no ocidente, por uma mobilidade e uma incerteza que levaram alguns
sociólogos a não acreditar ser possível a definição exata do termo, a exemplo de L. Roussel (apud ARNAUD, 1999, p. 338).

Sobre isso, se pronunciou André-Jean Arnaud (1999, p. 338):


Segundo numerosos sociólogos, a diversidade de formas de organização da vida privada para os adultos e os
filhos – celibato, concubinato, casamento, família monoparental, família recomposta – é o sinal da multiplicidade
dos modelos familiares.

É essa afirmação reflete bem a realidade brasileira de hoje. O caminho que foi aberto pela Constituição Federal de 1988
e trilhado timidamente pelo Código Civil de 2002, foi concretizado formalmente pela Lei 11340/2006 – Lei Maria da Penha, como
trataremos especificamente mais adiante.

O critério atual para a aferição da categoria família é estabelecido pelo artigo 5º, II, da Lei 11340/2006, qual seja, o volitivo.
Isso porque o dispositivo considera como família a “comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados,
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa”.

Assim, houve nítida evolução jurídica na forma da família brasileira. É o público legitimando o privado. Ou seja, apesar de
não reconhecida pelo Estado, não pode se negar que já existia na dimensão privada a família eudemonista – considerada por Souza
e Kümpel (2008, p. 30) como a firmada predominantemente apenas por vínculo de afetividade (ex. filiação socioafetiva – onde
mesmo sem adoção há laços entre o adulto que cria e a criança assistida por ele), a família anaparental – constituída apenas por
irmãos, a família homoafetiva – de que trataremos logo mais abaixo, a família paralela, que também merece especial comentário.

30
Sobre as mudanças no conceito de família, na atualidade, Maria Berenice Dias (2010, p. 62) conclui que:
Não há como deixar de reconhecer que o conceito de família trazido pela Lei Maria da Penha enlaça todas as
estruturas de convívio marcadas por uma relação íntima de afeto, o que guarda consonância com a expressão
que vem sendo utilizada modernamente: Direito das Famílias.”

Isso reafirma o que foi dito inicialmente no sentido da variedade de modelos de família contemporânea e nos faz dar razão
em parte a L. Roussel quando acha dificuldades na definição de família contemporânea, exatamente por essa multiplicidade e
mobilidade de modelos, mas a Lei 11340/2006 (art. 5º, II) encontrou uma solução oportuna para isso, determinando a definição
baseada no critério sócio-jurídico matriz que, no caso, é o elemento volitivo. Isso fez a família brasileira contemporânea avançar de
uma exclusão que lhe restringia ao privado e adentrar numa publicização que lhe garante proteção estatal.

3. 3. A MULHER NA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

Fixado o critério jurídico de família que adotaremos a partir daqui, passemos à abordagem sócio-cultural do instituto,
principalmente no que tange à situação da mulher, por ser a família o pano de fundo da violência doméstica e familiar, salientando
que não nos prenderemos nesse momento aos modelos já tratados anteriormente, mas utilizaremos o padrão já utilizado pelos
autores que ora pesquisamos e ainda prevalecente na sociedade brasileira, o patriarcal.

Sobre a família, vale citar Saldanha (2005, p. 20):


Amor e ódio se situam como formas de estar diante do próximo e as armas sempre se classificaram conforme
seu alcance em termos de espaço. Os laços de parentescos, tão caros a certos antropólogos como estruturas
reveladoras, compreendem-se como linhas que interligam pessoas e grupos, aproximando/afastando, como
que em termos de espaço.

Assim, Saldanha (2005, p. 20) aplicou seu conceito de crise à família, da seguinte forma:
Ao falar na “vida com a família”, será interessante pisar um pouco no terreno da crise do conceito de família,
atingida pelo lado privado e pelo lado público de sua estrutura, alcançada na parte em que se ligava às
tradições religiosas pelo processo histórico chamado de dessacralização da cultura.

A mulher obteve com o movimento feminista grandes conquistas trabalhistas, saiu de casa para o mercado de trabalho, mas
não houve substituição no seu papel familiar, ficando o lar carente de ajustes, que adaptem pacificamente a família à nova situação.

Um dos motivos da crise na família foi exatamente a emancipação profissional das mulheres, conquistada a duras penas
pelo movimento feminista, como abordaremos adiante. Mas, suas conquistas sociais não significaram necessariamente conquistas
humanitárias.

Culturalmente, foi incutida nas famílias a ideia que a mulher é naturalmente responsável pelo trabalho doméstico da casa, sem
que por isso tenha qualquer reconhecimento ou gratificação. Inclusive, Gérard Vicent (2009, p. 277), ao tratar da “socialização das
meninas”, identifica os brinquedos como colaboradores para a diferenciação dos sexos. É assim que as meninas são estimuladas
a brincar de casinha, com miniaturas de utensílios domésticos como panelinhas, vassourinhas ou e avental de cozinha, o que soa
mórbido, se comparado aos brinquedos destinados aos meninos, que são predominantemente armas. O próprio Gérard (VICENT,
2009, p. 277) afirma que “os pais, temendo que o filho dê atenção demais às bonecas da irmã, tentam orientá-lo para brincadeiras
agressivas e competitivas.”

Ainda em relação ao trabalho das mulheres, não é raro ouvir-se de uma criança ao se referir sobre a profissão de sua mãe a
frase: “minha mãe não faz nada não, só cuida da casa”. Essa função de cuidar da casa, quando exercida pela mulher que é membro
da família e não é, não tem sequer carga horária definida, quiçá outros direitos que desfrutariam um terceiro estranho à família que
cumprisse com as mesmas tarefas. A figura típica para “cuidar da casa” é uma mulher. Se essa mulher for a esposa (ou afins), não
percebe qualquer direito respectivo à atividade, mas se essa mulher for pessoa alheia à família nuclear, contratada profissionalmente
com esse fim específico, fará jus a vários direitos trabalhistas e reconhecimento da atividade como “trabalho”.
Sobre essa realidade, já se pronunciou C. Delphy (VICENT, 2009, p. 276),
O casamento é um modo de produção doméstico, que se caracteriza pela extorsão de um trabalho gratuito de
uma categoria da população, as esposas. O contrato de casamento constitui uma forma particular de contrato
de trabalho, não explicitado como tal, pelo qual o marido se apropria da força de trabalho de sua esposa.

Tendo acesso à formação acadêmica e trabalho remunerado fora do lar, a mulher não depende mais de nenhum homem para
subsistência e só se manterá no casamento por motivos outros que lhe impulsionem à vida em família.

Caetano (PEREIRA, 2001, p. 40/41) nos trata do assunto, trazendo a citação de Alicia Puleo:

31
No patriarcado contemporâneo, o amor é um pilar da dominação masculina, já que, estatisticamente, a inversão
amorosa da mulher é maior: dá mais do que costuma receber. Isto acarreta conseqüências no âmbito público.
Os homens se posicionam com um reconhecimento e uma autoridade maiores gerados por esse plus de amor
que recebem.

O autor recorre a Manuel Castells (PEREIRA, 2001, p. 42) para enumerar fatos, além da emancipação educacional e
profissional das mulheres, que ameaçam o patriarcado, são eles o avanço tecnológico que não restringem a mulher a possíveis
limitações biológicas ligadas à maternidade; a conscientização pelo movimento feminista mundial; e a globalização que difunde
rapidamente as idéias questionadoras de estruturas de dominação, como o patriarcado.

Vale lembrar que, conforme Caio Mário da Silva Pereira (2013), nos tempos antigos, mais especificamente em Roma e Grécia
antigas, ao pai, além do papel de chefe da família e sacerdote responsável pelos cultos domésticos, no que tangia da abrangência
do direito civil, cabia o poder absoluto sobre os filhos, que deveria durar para sempre, só sendo extinto pela morte, diminuição do
poder do pai, elevação do filho a certas dignidades maiores, ou mediante emancipação voluntária, nunca o pai poderia deixar de ser
responsável por seu filho sem que o mesmo o pedisse de maneira voluntária.

Nesse sentido, temos que “a cidade tinha sua religião, com seus ritos e símbolos, suas festas, seu calendário; a família tinha
seu culto, com sua alusão aos mortos, seu fogo sagrado, seus altares.” (SALDANHA, 2005, p. 20)

Mulher não tinha valor algum, até mesmo a etimologia do se nome lhe desvalorava, já que o termo usado para designar
sexo feminino assemelhava-se a Mulier, que lembrava Mollitia, que do latim significava fraqueza, flexibilidade, simulação. Já os
homens, a palavra latina usada para designar-lhes era Vir, que assemelhava-se a Virtus, traduzida como força, retidão. Isso foi dito
pelo historiador José Rivair Macedo, em Repensando a história. A mulher era um ser passivo, que não tinha posse nem de sua
propriedade herdada de sua família, devia ser submissa e obediente aos seus maridos, para assim ser considerada virtuosa. Cabia
a mulher o dever de cuidar da casa e dos filhos, além de prover assistência moral para a família.(CALÇADA, 2014)

A verdadeira situação da mulher era de uma total exclusão social, a primeira forma de inserção social da mulher foi a
integração, como o expurgo da diferença entre os sexos. Mas, com isso, a mulher foi forçada a masculinizar-se para ratificar a
alegada igualdade. Com a falência do processo, a família cotidiana entrou em crise. A tendência atual de inserção não só da mulher,
mas dos demais excluídos, é a inclusão, que não despreza as diferenças, mas valoriza-as numa visão conjuntural, onde cada
membro da sociedade é determinante na formação do todo.

Os processos sociais de trato da mulher em relação ao mundo fixam-se em: Exclusão - Onde está à margem da sociedade,
pela inferioridade de gênero; integração, onde a mulher é integrada à sociedade, pela desconsideração da diferença, e, como igual,
terá que adequar-se à sociedade patriarcal; e inclusão, onde é considerada como parte essencial da sociedade, respeitada sua
diferença de gênero, e, assim a sociedade que terá que adaptar-se a ela e não mais vice e versa. (QUEIROZ, 2011)

No Brasil, o direito civil começou a limitar o poder dos pais sobre os filhos através da resolução de 31 de outubro de 1831, que
fixou em 21 anos como a idade para deixar a menoridade e para a aquisição da capacidade civil plena. No código de 1916, era de
exclusiva responsabilidade do marido o pátrio poder sobre os filhos menores, salvo em momentos de sua ausência ou impedimento,
que fazia com que a esposa torna-se a responsável por tal incumbência, e ela se tornaria a chefe da sociedade conjugal. Em 27
de agosto de 1962, através da Lei nº. 4.121, foi criado o Estatuto da mulher casada e foi dada a emancipação da mulher casada
e o reconhecimento da igualdade dos cônjuges, com essa modificação o pátrio poder sobre o filho passou a ser exercido pelo pai,
mas com grande colaboração da mãe. A Constituição Federal, no seu artigo 226 parágrafo 5º, consagrou o princípio da igualdade
e assegurou ao homem e a mulher os mesmos direitos e deveres dentro do casamento, fez com que as discriminações deixassem
de existir, e também fez com que não só a vontade masculina fosse predominante dentro do casamento.

A lei vem sempre após o fato e acaba por congelar a realidade, por isso a família juridicamente regulada nunca corresponde
por inteiro a família natural, que preexiste ao Estado e está acima do direito. Também é que a família é uma construção cultural,
que dispõe de estruturação psíquica, na qual todos ocupam um lugar e possuem uma função, sem a necessidade de serem ligados
biologicamente. (DIAS, 2010)

Ainda na antiguidade, as famílias ainda não compartilhavam do verdadeiro significado da palavra LAR, que em seu aspecto de
maior valor quer dizer Lugar de Afeto e Respeito (DIAS, 2010). A relação entre os membros das famílias se resumiam aos objetivos
de preservação da honra, que era algo muito significativo naquela época, preservação da vida de seus membros, conservação
de bens, já que as crianças não viviam a infância por inteiro, pois ao adquirirem certo porte corporal, se juntavam aos adultos e
começavam a trabalhar e partilhar dos afazeres domésticos.(ENGELS, 1884)

32
O poder passou de pátrio para poder familiar, e no pátrio o poder era de exclusividade do pai, só passando a ser da mãe em
casos citados acima, e neste o poder é subdividido e a responsabilidade passar a ser tanto do pai, quanto da mãe e os dois são os
responsáveis legais pelos filhos.

A evolução da sociedade levou as mulheres a buscarem suas melhoras, a se inquietarem com sua total submissão aos
maridos e procurarem seus direitos e levou as mulheres a começarem a trabalhar fora. Com a mulher trabalhando fora, o homem
começou a participar mais dos afazeres e tarefas domésticas. Isso fez com que o conceito de família se alterasse, e o poder sobre
a família, que antes era chamado de pátrio poder, por emanar do pai, passou a ser chamado de poder familiar, fazendo com que a
mulher adquirisse poderes jurídicos sobres os filhos, explica a psicóloga Andreia Calçada.

De fato, o conceito de família se alterou bastante com o passar do tempo. Em períodos mais antigos, família se resumia a pai
e mãe casados, e como resultados desta união, os filhos. Contemporaneamente, o conceito de família abrangeu e passou a aceitar
outros modos para que se forme uma família. A partir de então são aceitos pais solteiros, mães solteiras, dois pais do mesmo sexo,
geração de filhos sem o casamento e assim vão surgindo e sendo aceitas novas formas de família.

“Mesmo sendo a vida aos pares um fato natural, em que os indivíduos se unem por uma relação biológica, a família é muito
mais um grupo cultural. Existe antes e acima do Direito. Dispõe de uma estruturação psíquica em que cada um ocupa um lugar,
possui uma função. Lugar do pai, lugar da mãe, lugar dos filhos, sem, entretanto, estarem necessariamente ligados biologicamente,
segundo Rodrigo da Cunha Pereira, que alerta ser essa estrutura familiar que interessa investigar e trazer para o Direito.” (DIAS,
http://mariaberenice.com.br/uploads/1_-_casamento_-_nem_direitos_nem_deveres%2C_s%F3_afeto.pdf)

O papel da mulher é determinante no paradigma patriarcal, e qualquer movimentação de localização dela acarreta em quebra
da lógica cruel legitimadora do machismo. Foi assim que Felipa Daniela Ramos de Carvalho (CARVALHO, 2011, p. 25/26) afirma
que:

Ademais, importa termos bem presente que, para além da mudança de mentalidades, nomeadamentefruto da entrada
da mulher/mãe no mercadod e trabalho, assumindo um papel cada vez mais activo fora do âmbito familiar e com assunção de
núcleos familiares mais restritos, o Direito da família assite actualmente a um questionar constante dos seus regimes tradicionaos,
nomeadamente no que diz respeito à relação de filiação e à relação matrimonial.

Assim, passemos à explanação dos institutos que têm mudado modernamente no tocante à filiação e matrimônio.

3. 4. MOBILIDADE FAMILIAR

4.1 Divórcio

A igreja católica não aceitava e continua não aceitando o divórcio, usando de argumentos bíblicos para se justificar, como por
exemplo o versículo “Aos casados mando {não eu, mas o Senhor} que a mulher não se separe do marido.”, que se encontra em 1
Coríntios 7: 10(Versão católica), além de outros versículos, e acaba por prender pessoas que não se amam mais em um casamento.
Atualmente, normalmente são dois os tipos de casamentos, o religioso, que é realizado pela igreja católica, no caso dos católicos
e o casamento civil, que é o registrado em cartório e que atualmente, caso aja comum acordo do casal, o divórcio pode acontecer,
e é bem menos complicado.

O casamento civil foi instituído no Brasil em época de Império, e em 24/01/1890 o Decreto 181, que não veio para tratar da
dissolução do vínculo conjugal, ou divórcio como comumente é chamado, mas sim da separação de corpos. Porém, essa separação
de corpos só era possível em casos de adultério, abandono voluntário do domicílio conjugal por dois anos ou mais, injúria grave e
mútuo consentimentos dos conjugues caso fossem casados a mais de 2 anos. Após isso, ao código civil de 1916 foi introduzido o
desquite, como forma de pôr fim à sociedade conjugal.

Em um primeiro momento, o casamento era indissolúvel. Depois de muitas lutas, temos a Lei do desquite, que possibilitava
a dissolução do casamento, mas nao possibilitava novas núpcias. A Lei do Divórcio passou a chamar de separação o que antes se
chamava de desquite, situação sui generis que faz cessar os ônus matrimoniais, mas, por não dissolver o vínculo do casamento,
impede o separado de casar novamente. Com essa lei, de 1977, e que ainda tem vigencia em alguns pontos, havia a possibilidade
do divorciado contrair novas núpcias por mais uma vez. Com a Constituição Federal de 1988, nao houve mais limitação a quantidade
de novas núpcias para divorciados, mas o divórcio teria que ser antecedido de separação de fato há mais e 2 anos ou separação
judicial há mais de um ano. Apartir de 2007, temos ainda a possibilidade de divórcio extrajudicial, em cartório, desde que não haja
filhos menores, e haja acordo sobre partilha e demais pontos.

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Hoje, no Brasil, temos a figura do “novo divórcio”, implementado pela Emenda Constitucional 66, que simplifica o processo
e permite o divórcio não antecedido por separação. Isso fez com que as famílias se dissolvam mesmo sem motivação, de forma
rápida.

O Novo Código de Processo Civil, que está em vacatio legis, dedica capítulo específico para ações de família, assim, o
divórcio litigioso passa a ter, como o consensual, rito especial, justificando-se pelo exaurimento das possibilidades de mediação e
conciliação. Além disso, o procedimento de divórcio extrajudicial vem tratado no corpo do novel código.

Com isso, vemos que o desfazimento das famílias está sendo sendo facilitado pelo Estado atraves de suas leis, ainda que
tratemos do desfazimento formal.

4.2 Adoção

Filiação é a ligação de um ser humano a outro através do reconhecimento da maternidade e paternidade dos mesmos, é a
ligação que o filho tem com os pais, sejam eles filhos biológicos ou filhos adotados.

A prática da adoção não é recente, povos como os hindus, egípcios, persas, hebreus, entre outros, já a praticavam antes
mesmo de um reconhecimento jurídico para tal prática. Um bom exemplo de adoção feita por povos antigos é a história de Moisés,
que foi encontrado e adotado pela filha do faraó do Egito. Outra prova da antiguidade da adoção é que o código de Hamurabi
dispunha de 10 artigos que tratavam da relação dos adotantes com o adotados, falando quando era possível que os filhos fossem
reclamados pelos pais naturais, e quando esse filho poderia voltar a casa paterna, caso desejasse fazer tal coisa.

Código de Hamurabi:

XI - ADOÇÃO, OFENSAS AOS PAIS, SUBSTITUIÇÃO DE CRIANÇA

185º - Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como filho, este adotado não poderá mais ser reclamado.

186º - Se alguém adota como filho um menino e depois que o adotou ele se revolta contra seu pai adotivo e
sua mãe, este adotado deverá voltar à sua casa paterna.

187º - O filho de um dissoluto a serviço da Corte ou de uma meretriz não pode ser reclamado.

188º - Se o membro de uma corporação operária, (operário) toma para criar um menino e lhe ensina o seu
ofício, este não pode mais ser reclamado.

189º - Se ele não lhe ensinou o seu ofício, o adotado pode voltar à sua casa paterna.

190º - Se alguém não considera entre seus filhos aquele que tomou e criou como filho, o adotado pode voltar
à sua casa paterna.

191º - Se alguém que tomou e criou um menino como seu filho, põe sua casa e tem filhos e quer renegar o
adotado, o filho adotivo não deverá ir-se embora. O pai adotivo lhe deverá dar do próximo patrimônio um terço
da sua quota de filho e então ele deverá afasta-se. Do campo, do horto e da casa não deverá dar-lhe nada.

192º - Se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz diz a seu pai adotivo ou a sua mãe adotiva: “tu não és
meu pai ou minha mãe”, dever-se-á cortar-lhe a língua.

193º - Se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz aspira voltar à casa paterna, se afasta do pai adotivo e da
mãe adotiva e volta à sua casa paterna, se lhe deverão arrancar os olhos.

194º - Se alguém dá seu filho a ama de leite e o filho morre nas mãos dela, mas a ama sem ciência do pai e
da mãe aleita um outro menino, se lhe deverá convencê-la de que ela sem ciência do pai e da mãe aleitou um
outro menino e cortar-lhe o seio.

195º - Se um filho espanca seu pai se lhe deverão decepar as mãos.

Para os Romanos, a adoção não era apenas de uma pessoa, era da família toda, ou seja, quem fosse parte da família
adotada viria junto, fosse de filhos e até mesmo escravos. Essa adoção foi a primeira a ficar conhecida entre os Romanos e era
chamada de “ad-rogação”. Nessa adoção os juiz só tinha a função de cumprir o que a sociedade queria, a autorização para que a
adoção acontecesse era dada pela sociedade, cabendo ao juiz apenas a conclusão do que a sociedade decidia.

No Brasil, a adoção chegou através do Direito Português, porém os direitos do adotante eram muito restritos, tanto que ele não
detinha nem o pátrio poder sobre o filho que adotasse. Foi a partir do código de 1916 que a adoção começou a ganhar mais espaço
através das primeiras regras formais sobre ela, mas ainda assim com muitas dificuldades para os adotantes e como novidade, veio
a transferência do pátrio poder ao adotante. O caráter da adoção era meramente contratual, e o parentesco se resumia a apenas o

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adotante e ao adotado. A constituição Federal de 1988 veio para fechar e determinar regras na relação entre os pais adotivos com
os filhos, e em seu artigo 227, ela estabeleceu a igualdade entre os filhos legítimos e os filhos adotivos.

Atualmente, o CNJ tem criado inúmeros programas para incentivar a adoção. A intenção, por assim dizer, pode ser vista
como uma tentativa de cumprir o direito a convivência familiar que é assegurado como prioridade absoluta pela constituição federal
de 1988, em seu artigo 227. No entanto, o que se tem visto nos processos de adoção é um grande número de pré-requisitos que
acabam por atrapalhar o processo de adoção, causando frustação e dificultando ainda mais a garantia da convivência familiar para
essas crianças e adolescentes, fazendo com que as pessoas interessadas na adoção acabem desistindo da adoção.

Após preenchidos os requisitos e autorizada a adoção, o juiz deverá determinar o período de estágio probatório, que é na
verdade, um período para adaptação entre o adotante e o adotado, período de adaptação com a nova família. Esse prazo pode
ser dispensado de acordo com o que está exposto no art. 46 do Estatuto da Criança e do Adolescentes(ECA), em casos quando a
criança tiver idade inferior a 1 ano e entre outros.

4.3 Guarda dos filhos

O desfazimento da sociedade conjugal dos pais não pode significar uma separação ou quebra na relação que estes pais têm
com seus filhos. O cuidado com os filhos era e ainda é visto como responsabilidade da mulher, e exisnte uma tendência de seguri-se
isso quando da separação/divórcio, sendo improvável que uma mulher perca a guarda do menor.

Umas das questões que faz com que os casais recorram a uma decisão judicial após a separação é a guarda dos filhos, que
entra em mérito judicial quando o divórcio dos pais é litigioso, ou seja, os dois não entram em um acordo que os agrade em relação
à guarda dos filhos, neste caso, isso quando os pais são casados e resolvem se separar. Além desta hipótese, há outras que levam
a individualização da guarda dos filhos, que até o momento era conjunta e de igual valor de competência para os dois lados.

Também pode ser chamada de custódia, e pode ser definida como direito e dever dos pais de ter em sua companhia os filhos
nas diversas circunstâncias previstas na lei civil. A lei dispõe de duas formas distintas no que tange sobre a guarda dos filhos. Nos
artigos 1611 e 1612 do código civil, ela trata do reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento, e nos artigos 1583 e 1590,
também do código civil, ela trata da proteção dos filhos e determina que a guarda é unilateral ou compartilhada.

Além de todos os direitos individuais assegurados pela Constituição nos artigos 5º, 6º e 7º, crianças e adolescentes tem
direitos distintos do dos adultos. Ela declara que para crianças e adolescentes a convivência familiar é prioridade absoluta e direito
fundamental da criança, isso está previsto no artigo 227, que também garante a convivência familiar como dever da família.

Explicando o que Andreia Calçada diz em seu livro “Perdas irreparáveis”, antes da atual situação dos homens com relação
a criação dos filhos, que teve que passar da simples responsabilidade com o sustento da casa e da prole para algo mais próximo,
já que a mãe, que antes era responsável apenas pela criação dos filhos e cuidados com a casa, agora resolveu trabalhar fora, era
comum que a guarda dos filhos ficasse unilateral com a mãe. O homem não tinha tanta proximidade dos filhos, e de acordo com o
costume da época, um pai com a guarda dos filhos era algo praticamente impensável, então historicamente e comumente, a guarda
dos filhos após separação era unilateral da mãe.

Historicamente os filhos ficavam sob a guarda materna, pela não habitualidade dos homens de desempenhar as funções de
maternidade. Sempre foi proibido aos meninos brincar de boneca, entrar na cozinha. Claro que não tinham como adquirir qualquer
habilidade para cuidar dos filhos. Assim, mais do que natural que essas tarefas fossem desempenhadas exclusivamente pelas
mães: quem pariu que embale! Maria Berenice Dias em Guarda compartilhada, uma novidade bem-vinda!

No geral existem dois tipo de guarda, a unilateral e a compartilhada. A unilateral, é a guarda atribuída a apenas um dos
genitores. São vários os motivos para atribuição da guarda unilateral, como por exemplo, quando apenas um dos pais reconhece
o filho, aí sem dúvidas, a guarda ficará com aquele que reconheceu, porém a lei fala em dado momento que se a genitora a quem
a guarda foi atribuída for casada, o filho só poderá na mesma residência dela se o marido atual aceitar. Mesmo que a guarda seja
unilateral, o genitor que não é guardião não deixa de ter obrigações com os filhos, é lhe concedido o direito de fiscalizar a manutenção
e educação dos filhos, isso é provado a partir do momento em que a escola tem o dever de informar aos dois genitores sobre a
frequência e o rendimento da criança, o artigo 1.589 regulamenta tais práticas, dando maior poder a genitor que não é o guardião.

A guarda compartilhada, que é a preferida dos legisladores, é a mais comum em decisões judiciais, pois nela há uma maior
participação de ambos os pais na crescimento e desenvolvimento da prole. Guarda compartilhada significa que as crianças terão
dois lares, duas residências, que é admitido pelo artigo 71 do código civil, ficando livre a transitação do filho pelas duas residências
quando ele quiser e tiver vontade. E vai além disso, nao devendo ser confundida unicamente com a visitação, posto que pela guarda

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tem-se o poder de direcionamento da vida do menor, entao, um menor com guarda compartilhada pelos pais terá sua vida decidida
por ambos, como em qual escola estudará, quais atividades físicas desenvolverá, quais opções de lazer desfrutará etc. A guarda
compartilhada passou a ser regra no Brasil pela Lei 13058, de 2014. E destaca-se por tentar diminuir casos de alienação parental,
e até mesmo a quantidade de pais que ficam sem pagar as pensões. A guarda compartilhada acaba por proporcionar uma maior
convivência dos pais com os filhos, e isso acaba que cada um passa a sentir mais o peso das despesas que terão com o filho, e
acabam tendo maior interesse em ajudar o outro genitor.

Uma questão que entrou em foco após uma análise mais profunda de como ficou a relação entre os pais e filhos depois da
separação, quando a guarda foi decidida como unilateral foi o abandono parental. Abandono parental seria o fato de os pais não
irem visitar os filhos, se limitando ao fato de dar a pensão alimentícia e pronto. Após a observação desse fato, a visita que antes
era um direito do pai, passou a ser uma obrigação, e caso não fossem feitas poderiam acarretar em multas ou prisão para o pai.
Quem pesquisou sobre o assunto chegou a conclusão que era melhor o pai visitar o filho por obrigação, do que deixar que o filho
crie um sentimento de abandono, podendo ficar com sequelas que podem atrapalhar seu crescimento e desenvolvimento. Mas
essa obrigação não podia se limitar ao pai que não tinha interesse em visitar os filhos, tinha que chegar as mães medeias, que são
aquelas mãe que como vingança contra o pai pelo abandono e fim do casamento, acabam dificultando o relacionamento do pai com
os filhos.

Outra questão importante é que o pedido de guarda não se resume a genitores, ele também pode ser feito pelos parentes,
como por exemplo os avós. Não é comum que outros parentes entre com um pedido de guarda, mas quando pedem, normalmente
é em decorrência de morte de um dos genitores, e para evitar que esta criança perca o contato com a família do genitor que falecer,
um parente pode pedir a guarda compartilhada da criança.

3. 5. ALIENAÇÃO PARENTAL

A alienação parental está prevista na Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. O artigo 2º desta lei define como “a interferência
na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que
tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. No parágrafo único do artigo 3º, ela especifica e exemplifica formas de
alienação parental:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive
escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar
a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou
adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Alienação parental é um distúrbio que remete em crianças e adolescentes que estão envolvidas em situações de disputas
de guarda entre os pais, assim define o psiquiatra norte-americano Richard Gardner em seu artigo O DSM-IV tem equivalente para
o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)?. Ele ainda a remete à lavagem cerebral ou programação feita por um
dos genitores, no caso o alienador, que acaba por difamar e acabar com a imagem que o filho tem sobre o outro genitor, causando
afastamento entre os filhos com o pai ou até mesmo repúdio da parte do filho em relação ai pai.

A alienação em sua maior parte é realizada pela mãe, não é por uma questão de gênero, não se pode generalizar que só as
mulheres cometem a alienação, e sim uma questão do poder dado, já que em sua grande maioria ainda são as mães que obtêm a
guarda unilateral dos filhos. Esse poder que é dado a mãe, faz com que ela utilize o filho como instrumento de barganha ou para
agredir de alguma forma o ex-cônjuge, caso esta mãe ainda não tenha superado o fim do casamento.(CALÇADA, 2014)

Vale lembrar que o despertar destas mães para a alienação se deu por motivos já citados anteriormente, como por exemplo
a descoberta do homem sobre como é prazeroso ser pai, e como consequência, o fato de não querer se afastar dos filhos mesmo
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com o fim do casamento. Essa tentativa de aproximação do pai, deu ideia para a mãe de se vingar do pai pelo fim do casamento o
afastando do filho, o impedindo de se relacionar com o filho, que é algo que ele passou a querer cada vez mais.

O filho passou a ser utilizado como instrumento de ataque ao outro genitor. Através de implantação de falsas memórias nas
crianças, que por sua própria natureza não consegue discernir o que é real do que não é, as mães acabam por afastar os pais dos
filhos, e também fazer com que esses filhos tenham medo do não guardião, devido as falsas lembranças implantadas pela genitora.
(DIAS, 2010)

Importante ressaltar que não só o genitor guardião pode cometer alienação, parentes também podem fazê-la. Alienação
parental, como o próprio nome já diz, pode ser acometida por parentes como avô, avó, tios, tias, ou até por alguém que conviva com
a criança após a separação dos pais ou enquanto eles estão casados ainda. Além que também não é necessário que o alienador
seja aquele a quem a guarda da criança pertence, o alienador pode ser o não guardião, caso ele se aproveite do tempo que passa
com a criança para denegrir a imagem do outro pai para essa criança. A alienação também ainda pode ser feita quando o casamento
ainda existe, o que pode acontecer é que um dos genitores toma para si todas as responsabilidades na criação desta criança, não
dando nem espaço nem um real valor ao que o outro está fazendo.

Pode-se dizer que ao alienar uma criança, o adulto esta infligindo o direito da personalidade desta criança, esses direitos
são intransmissíveis e irrenunciáveis, e não pode ser desfeito nem voluntariamente. Os direitos da personalidade estão vinculados
de forma inseparável ao reconhecimento da dignidade humana, que é uma qualidade necessária para o desenvolvimento das
capacidades psíquicas, morais e físicas de uma pessoa. O fato do alienador não deixar que esta criança tire suas próprias conclusões
e crie suas lembranças pode afetar seu desenvolvimento psíquico e até mesmo moral.

São algumas formas de incentivar a criança a se afastar do genitor que é vítima da alienação: impossibilitar a visita deste pai
as crianças, criar armadilhas pra denegrir a imagem do pai para a criança, como por exemplo dizer que o pai não quer saber dela e
não vem visitá-la mesmo que ele esteja procurando e tentando ter contato com esta criança. Com um tempo ouvindo coisas ruins e
se afeiçoando ao pai que aliena, por ele ser o único genitor que tem contato, a criança passa a não querer mais ver o pai e acaba
inventando desculpas para não sair com esse pai. No documentário a morte inventada, um caso retratado nele é o de um pai que
após a separação tentava contato com os filhos e a mãe estava a impossibilitar, tanto que um certo dia ela armou um mal entendido
para que tanto o pai, tanto os filhos afastassem ainda mais, o que aconteceu foi que ela chegou para os filhos e disse que o pai
viria buscá-los em casa para um jantar, e para o pai falou que iria levar os filhos em um certo ponto de encontro, daí o que acabou
acontecendo foi que o encontro não aconteceu e os dois ficaram com a impressão que o outro não queria vê-lo e isso acabou por
afastar pai e filhos por muito tempo.

A criança é induzida a afastar-se de um dos pais, pelo qual ama bastante e que também a ama, e isso acaba por gerar
uma destruição do vínculo que existe entro os dois, só sobrando o alienador para amar e confiar, o que faz com que essa criança
comece a aceitar como verdadeiro tudo que esse genitor diz, assim diz Maria Berenice em um de seus artigos sobre alienação
(DIAS, DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental e suas consequências. Disponível em: http://www.mariaberenice.com.br/uploads/
aliena%E7%E3o_parental_e_suas_consequencias.pdf).

Com essa confiança adquirida pelo genitor, ele começa a manipular a criança e, caso ache necessário, se por exemplo o outro
genitor resolve procurar a justiça pois tem interesse em se reaproximar do filho, implanta falsas memórias na criança que podem ser
tanto pelo lado de maus tratos, quando pelo abuso sexual. Essa criança, pela confiança inocente que tem em seu genitor, toma para
si as inverdades ditas pelo mesmo e então o alienador usa isso como forma de afastar ainda mais o outro genitor do próprio filho.

Com esta implantação da falsa memória vem a denúncia, que se quando recebida pelo juiz, o mesmo pode decretar o
afastamento imediato do genitor denunciado, porém essa tomada de decisão deve ser muito cautelosa, pois a denúncia pode ser
falsa, e acabar prejudicando esse relacionamento da criança com pai ainda mais do que já está prejudicado.

Antes do conhecimento e identificação das síndromes, tanto a de alienação parental, quanto a de implantação de falsas
memórias, bastava a denúncia ser feita para que um processo por abuso sexual fosse aberto, e o contato com o possível abusador
cessasse. Mas graças a estudos de vários psicólogos, agora um cuidado maior é tomado para evitar deixar mais sequelas do que
as que já estão cotadas a existir.

Com a descoberta dessas síndromes, tanto a alienação parental quanto a da implantação de falsas memórias, os profissionais
que lidam com tais situações tiveram que se especializar ainda mais no assunto, para assim poder discriminar, diferenciar as
acusações falsas e verdadeiras. No livro perdas irreparáveis, Andreia Caçada (2014) faz uma citação utilizando estabelece alguns
indicadores para facilitar a identificação por parte do profissional responsável. Alguns dos principais indicadores são:

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- Quanto mais inquéritos com a criança mais seu relato será distorcido. Os pais repetem o questionamento procurando a
verdade e podem invalidar o trabalho posterior do profissional.

- O acesso a memória dos eventos é um processo complexo. A forma como a criança é entrevistada é tão importante quando
o que ela diz.

- É necessário investigar a coerência do relato da criança, se é plausível ou absurdo.

- A criança alienada fazendo uma falsa acusação normalmente não tem medo das consequência.

- Geralmente, as crianças que fazem falsas acusações de abuso sexual não hesitam em contar a história. As verdadeiras
vítimas de abuso frequentemente têm medo de contar a história, ficam envergonhadas.

- Crianças que acusam falsamente necessitam de apenas uma ou poucas entrevistas para falar. Crianças vítimas de abuso
precisam de mais sessões para desenvolver confiança.

- Crianças maiores que relembram fatos de quando eram bem pequenas, podem ter fabricado tais memórias.

Assim, as a alienação parental tem várias modalidades de configuração, mas sempre o mesmo propósito de denegrir a
imagem de um dos genitores diante do menor.

5.1 Punindo a alienação

O artigo 6 da lei nº 12.318 trata do que deve ser feito após a identificação da alienação, que deve ser feita através de perícia
psicológica ou biopsicossocial, o juiz, sem correr o risco de ser responsabilizado cível ou criminalmente, poderá determinar as
seguintes ações:

1- Em casos iniciais e que não tenham chegado a um nível de urgência, quando a demonstrações de alienação são raras e
fracas, onde a reaproximação do genitor com a criança não chega a ser difícil. É a alienação no estágio leve: declarar a ocorrência
de alienação parental e advertir o alienador;

2- Como tentativa de reaproximar e reparar o dano sofrido pelo genitor vítima da alienação, ainda pode ser considerada na
alienação em primeiro grau ou estágio: ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

3- Estipular multa ao alienador. Pode-se entender que multa é uma forma de constrangimento a quem sofre esta sanção,
pois seu patrimônio será afetado. O que se espera com a aplicação de multa em casos de alienação é que por medo de receber tal
sanção, e ter seu patrimônio prejudicado, ele pare de praticar tal ato;

4- Determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial: esta sim deve ser uma alternativa para a resolução de
casos de alienação parental. O alienador em alguns casos, nos mais graves, deve ser considerado um sociopata. O fato de estar
alienando seu filho e o afastando do amor da parte do outro genitor, já caracteriza que uma falta de capacidade de entender suas
ações, e por isso, deve ser determinado o acompanhamento psicológico tanto para ele, quanto para a criança. E a depender das
condições financeiras do alienador, esse tratamento deve totalmente pago por ele. Este tema será mais aprofundado no próximo
tópico;

5- Determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão: essa pode ser uma alternativa caso o
tratamento psicológico não consiga encerrar a alienação. Se depois de testadas todas as hipóteses para resolução da alienação, o
alienador continuar a praticar atos de alienação, essa deve ser a medida a ser tomada pelo juiz, como forma de proteger até mesmo
a criança ou adolescente de sequelas mais graves;

6- Determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

7- Declarar a suspensão da autoridade parental: Essa medida punitiva deve ser tomada apenas em casos extremos. Quando
forem esgotadas todas as medidas de conciliação do conflito.

Logo, apesar de nao haver tipo penal específico para a alienação parental, esta conduta pode adequar-se a tipos como
constrangimento ilegal, calúnia, maus tratos etc. Então, o legislador ocupou-se na lei específica em cuidar das penalidades civis
para a prática da alienação parental, com as peculiaridade processuais respectivas.

5.2 Consequências da alienação

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A primeira consequência a aparecer é a destruição do vínculo afetivo entre o genitor vítima da alienação e a criança, essa
consequência atinge os dois, mas como todos as outros, tem mais força na criança. Após isso, como já foi dito, o alienador acaba
sendo o único refúgio desta criança, o que faz com que ela acredite em tudo que for dito pelo mesmo. Essa confiança inquebrável
facilita na implantação de falsas memórias, que em muitos casos é o próximo passo dado pelo alienador na tentativa de acabar com
todo vínculo entre a criança e o outro pai. É através dessas falsas memórias que as mães acusam falsamente os pais de cometerem
falsos abusos contra seus filhos.

Quando uma denúncia de abuso sexual é feita, não resta nenhuma alternativa ao juiz a não ser a de decretar o afastamento
do acusado pelo abuso. Esse afastamento acaba por afastar ainda mais essa criança do pai alienado, pois até que seja provado o
contrário muito tempo vai ter passado, e muitas fases do crescimento desta criança serão perdidas por esse genitor.

Inúmeras são as sequelas deixadas pelo afastamento abrupto de um pai e um filho. No entanto, além dessas sequelas
deixadas como herança, também deve ser contado como consequência o constrangimento que a criança é submetida através vários
testes que são feitos com o intuito de saber quem esta com a verdade, já que em muitos casos a denuncia de abuso não passa de
uma mentira implantada na cabeça da criança, por um genitor que deseja vingar-se do outro.

A modificação da guarda ou ampliação do período de convivência são práticas indicadas para a diminuição e até mesmo
extinção da prática de alienação parental são instrumentos mais adequados para casos que o litígio não é tão alto, casos em que a
conduta alienadora não é tão grave.

Para casos mais graves a terapia familiar deve ser um meio de saída para que se chegue a uma resolução, além, é claro,
das punições merecidas pelas condutas de cada genitor sendo as denúncias de alienação falsas ou não. E caso o genitor continue
alienando a criança, medidas como as expostas nos últimos incisos do artigo 6º da Lei nº 12.318, que são inversão de guarda e
suspensão da autoridade parental para o que comete alienação, as punições mais graves para casos de alienação parental.

Como tentativa de tornar os pais propiciadores de uma família mais saudável para as crianças, o juiz poderá determinar a
realização de terapia compulsória. Essa terapia tem como objetivo conscientizar os pais que embora não estejam mais casados,
não deixaram de ser pais e por isso devem atender aos interesses dos filhos, os respeitando e deixando para resolver seus litígios
sem envolver o desenvolvimento moral e psicológico destas crianças.

É necessário que vários profissionais como assistentes sociais, psicólogos trabalhem juntos com o poder judiciário, para
evitar que mais danos acometam essas crianças, pois são vário exemplos de que as medidas tomadas através do direito, mesmo
que sejam para a proteção da criança, acabam por gerar outras problemas além dos que já existem no desenvolvimento dela.

3. 6. CONCLUSÃO

A família passou por vários momentos ao longo da história. A marca presente que notamos pelo estudo aprofundado de sua
estrutura é a do patriarcalismo como paradigma de construção social. Nesse modelo, a mulher e a criança são inferiorizadas em
detrimento da figura do chefe de família. Outra marca da familia patriarcal é o casamento indissolúvel.

A familia contemporanea, ainda patriarcal, traz algumas novidades, como o reconhecimento de novos tipos de familia, como
ahomoafetiva ou a formada unicamente pela mae e seus filhos. A figura da facilitação do divórcio vem ocmo marco desses novos
tempos, mas traz consigo uma nova realidade, a da alienação parental, pois é nesse momento, classicamente, que se incide o
instituto.

A alienação aprental é a campanha feita, fgeralmnte por um dos genitores, para denegrir a imagem do outro diante do menor
e pode se operar até sob a forma de imputação de falsas acusações de abuso sexual.

Alienação parental é um distúrbio que remete em crianças e adolescentes que estão envolvidas em situações de disputas
de guarda entre os pais, assim define o psiquiatra norte-americano Richard Gardner em seu artigo O DSM-IV tem equivalente para
o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)?. Ele ainda a define como uma lavagem cerebral ou programação feita
por um dos genitores, no caso o alienador, que acaba por difamar e acabar com a imagem que o filho tem sobre o outro genitor,
causando afastamento entre os filhos com o pai ou até mesmo repúdio da parte do filho em relação ai pai.

A alienação em sua maior parte é realizada pela mãe, não é por uma questão de gênero, não se pode generalizar que só as
mulheres cometem a alienação, e sim uma questão do poder dado, já que em sua grande maioria ainda são as mães que obtêm a
guarda unilateral dos filhos. Esse poder que é dado a mãe, faz com que ela utilize o filho como instrumento de barganha ou para
agredir de alguma forma o ex-cônjuge, caso esta mãe ainda não tenha superado o fim do casamento.(CALÇADA, 2014)

39
Hoje no Brasil nós temos um alei que torna regra a guarda compertilhada, exatamente para evitar situações de conflito de
guarda unilaterial, onde apenas um dos genitores decide sobre a vida da criança. Temos ainda uma leie specífica para regular a
questao da alienação aprental, mas que nao tipific aa conduta, pois pode ser aproveitada por outros tipos epnasi já existents no
nosso sistema penal pátrio, mas prevê punições cíveis como aprópria perda da guarda e figuras processuias específicas, como a
reversão imediata de guarda.

Vemos que o Brasil preocupa-se com o combatimeto à alienação parental pelas marcas legislativas que imprime, porém, nao
detectamos políticas públicas respectivas, estudo que será alvo de um próximo trabalho científico.

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41
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS DIANTE DA PRÁTICA DE ALIENAÇÃO PARENTAL JUNTO AO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASLEIRO

Kércia Karenina Camarço Batista Rodrigues Leal13

1 ASPECTOS GERAIS DA ENTIDADE FAMÍLIA

A instituição família ao longo dos tempos vem sendo vista de formas diferentes conforme ocorram modificações na sociedade,
segundo ensina Venosa (2004, p. 17):

Entre os vários organismos sociais e jurídicos, o conceito, a compreensão e a extensão de família são os que mais se alteraram
no curso dos tempos. Nesse alvorecer de mais um século, a sociedade de mentalidade urbanizada, embora não necessariamente
urbana cada vez mais globalizada pelos meios de comunicação, pressupõe e define uma modalidade conceitual de família bastante
distante das civilizações do passado.

O autor destaca a globalização como responsável pela mudança na visão do que vem a ser a família, haja vista, que o
conceito de família antes do fenômeno da globalização se difere muito dos formulados pós globalização.
Corroborando com esse entendimento preceitua Carli (2009, p. 16):
A evolução do conhecimento científico, político e social ocorrida no século passado, como o fenômeno da globalização, o declínio do
patriarcalismo e os novos ideais de igualdade, liberdade e solidariedade, dentre outros fatores, acarretou profundas mudanças na
estrutura da família e nos ordenamentos jurídicos no mundo todo.

Percebe-se que a autora também cita as mudanças na sociedade com enfoque na globalização como responsáveis pelas
alterações na entidade familiar.
Ademais, com todas essas mudanças por qual passou o instituto família torna-se difícil definir sua origem já que esse instituto
nunca foi imóvel além de não se ter como comprovar como conviviam as famílias nas civilizações mais remotas. Alguns estudiosos
se arriscaram a identificar como era a formação das famílias nas culturas mais remotas, mas sem muito êxito. (ARRUDA, 2011)
No entanto é possível decifrar a convivência familiar em civilizações de maior importância é o que se vê do que ensina Venosa
(2004, p. 17):
No curso das primeiras civilizações de importância, tais como a assíria, hindu, egípcia, grega e romana, o conceito de família foi de
uma entidade ampla e hierarquizada, retraindo-se hoje, fundamentalmente, para o âmbito quase exclusivo de pais e filhos menores,
que vivem no mesmo lar.

Percebe-se com o ensinamento do autor que nas sociedades antigas o conceito de família alcançava mais membros do
mesmo núcleo familiar o que se difere da visão atual que é bem mais restrita.
Ademais, o marido era a maior autoridade da família cabendo a ele o poder de decisão sobre todas as pessoas e todo o
patrimônio que compunha o núcleo familiar, porém, essa realidade é modificada coma chegada do cristianismo conforme apregoa
Pereira (1999 apud ARRUDA, 2011, P. XX):

Com o cristianismo a unidade e coesão da família Romana, que tinha seu fundamento somente na autoridade marital, ficaram
acrescidas de caráter sacramental, ou seja, o casamento passa a ser o “sacramento do matrimônio”. Esse caráter sacramental da
união vem a modificar a concepção de autoridade absoluta do esposo.

Nota-se que o cristianismo trouxe a divisão do poder autoritário da família que antes ficava monopolizado na figura do marido
passando a ser exercido também pela esposa que antes só obedecia aos comandos de seu esposo.
Assim, a partir do século XX começa a nascer a noção de família pautada no afeto de acordo com que preleciona Arruda
(2011, p.02):
Em meados do século XX, o casamento deixa de ser tão formalista, não ligando as pessoas apenas por laços consaguíneos ou
patrimoniais. Sendo atualmente a família constituída nas suas mais diversas formas, dando-se importância acima de tudo aos laços
afetivos. Passando desta forma, a família a ser a base emocional do indivíduo.

Vê-se que a família saiu de uma perspectiva materialista passando para uma visão subjetiva, emocional, as pessoas passam
a formar uma família pautada no sentimento e não mais exclusivamente no patrimônio como era antigamente. Os laços afetivos
passam a prevalecer em detrimento do sanguíneo e do patrimônio.
Deste modo as pessoas que compõe a família não se encontram mais subordinadas umas as outras segundo Carli (2011,
13 Mestre em Direito. Professora universitária.

42
p. 17) “Essa função moderna da família, é essencialmente, uma instituição estruturante do indivíduo, e cada membro da família
exerce funções dentro desta estrutura de acordo com o ciclo vital de cada membro familiar.” Percebe-se que os membros da família
passaram a ter uma importância maior dentro dessa entidade passando de simples subordinados quando do poder concentrado no
pai a pessoas com funções para exercer dentro do seu núcleo familiar.
1.1. A FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE

A família passou a ser codificada a partir do século XIX, porém, era nítida a presença do machismo nas letras da lei é
o que se vê do que apregoa Venosa (2004, p. 28):
Os códigos elaborados a partir do século XIX dedicaram normas sobre família. Naquela época, a sociedade era eminentemente rural
e patriarcal, guardando traços profundos da família da antiguidade. A mulher dedicava-se aos afazeres domésticos e a lei não lhe
conferia os mesmos direitos do homem. O marido era considerado o chefe, o administrador e o representante da sociedade conjugal.
Nosso Código Civil de 1916 foi fruto direito dessa época. Os filhos submetiam-se à autoridade paterna, como futuros continuadores
da família, em uma situação muito próxima da família romana.

Compreende-se da explanação do autor que a família era sempre chefiada pelo homem, ou seja, todos eram submetidos aos
seus comandos o filho devia total obediência ao pai, a esposa ao marido, desse modo a mulher não tinha voz já que passava da
autoridade do pai para submissão ao marido característica inerente a sociedade patriarcal.
Nesse contexto histórico o Estado já vinha retirando da igreja o poder de direção da família conforme leciona Venosa (2004,
p.29):
O Estado, não sem muita resistência, absorve da igreja a regulamentação da família e do casamento, no momento em que esta não
mais interfere na direção daquele. No entanto, pela forte influência religiosa e como conseqüência da moral da época, o Estado não
se afasta muito dos cânones, assimilando-os nas legislações com maior ou menor âmbito. Manteve-se a indissolubilidade do vínculo
do casamento e a capitis deminutio, incapacidade relativa, da mulher, bem como a distinção legal de filiação legítima e ilegítima.

Nota-se do que é retratado acima que a igreja era titular de muita influência na sociedade inclusive no que diz respeito à
família, porém, o Estado passou a assumir o papel de regulamentador das relações familiares, mas sem excluir por completo a
participação religiosa no comando desta instituição mantendo a coerência com os ensinamentos religiosos inclusive em relação à
subordinação feminina e descriminação dos filhos havidos fora do casamento.
Entretanto a partir do século XX essas descriminações foram sendo superadas segundo ensina Venosa (2004, p. 29):
No direito brasileiro, a partir da metade do século XX, paulatinamente, o legislador foi vencendo barreiras e resistências, atribuindo
direitos aos filhos legítimos e tornando a mulher plenamente capaz, até o ponto culminante que representou a Constituição de 1988,
que não mais distingue a origem da filiação, equiparando os direitos dos filhos, nem mais considera a preponderância do varão na
sociedade conjugal.

Vê-se do exposto pelo autor que a Constituição Federal de 1988 veio para ratificar o que a sociedade já clamava que era a
igualdade entre todos os filhos independente da origem e a igualdade entre homens e mulheres.
A Constituição de 1988 ampliou significativamente o conceito de família segundo Lenza (2009, p. 859):
O conceito de família foi ampliado pelo texto de 1988, visto que, para efeito de proteção pelo Estado, foi reconhecida como entidade
familiar também a união estável entre homem e a mulher, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Nesse sentido,
nos termos do art. 226, 4º ,entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes.

É possível compreender do exposto pelo autor que a outras relações foram reconhecidas pela Carta maior como entidade
familiar já que esse conceito se restringia as entidades formadas pelo matrimônio.
Essa mudança pode ser vislumbrada nos comentários doutrinários é o que se vê dos ensinamentos de Diniz (2004, p.10):
[...] é a família não só o conjunto de pessoas unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, unicamente os cônjuges e a
prole (CC, arts. 1.567 e 1.716), mas também a comunidade formada por qualquer dos pais e descendentes, como prescreve o art.
226, 3º e 4º, da Constituição Federal, independentemente de existir vínculo conjugal, que a originou (JB, 166: 277 e 324).

Percebe-se que a autora traz uma visão atual de família retirada do próprio texto constitucional, pois, a atual constituição
brasileira é conhecida como constituição cidadã, portanto está sempre se adaptando as mudanças sociais, haja vista, que somente
deste modo se faz possível a garantia dos direitos fundamentais.
Destaca-se, portanto como fator configurador da entidade familiar o afeto conforme Lenza (2009, p.860) “Prioriza-se, portanto,
a família socioafetiva à luz da dignidade da pessoa humana, com destaque para a função social da família, consagrando a igualdade
absoluta entre os cônjuges (art. 226, 5º.) e os filhos (art.227, 6º.).”
Entretanto o conceito constitucional não se faz suficiente para abranger todas as relações passiveis de serem caracterizadas
como familiares, é o que lecionam Tartuce e Simão (2011, p. 55)“É imperioso ainda verificar que há uma tendência de ampliar
o conceito de família para outras situações não tratadas especificamente pelo Texto Maior”. Segundo os autores a constituição
apesar de ter inovado tornando o conceito de família mais amplo não trata de modo expresso de situações que já são realidade na

43
sociedade brasileira.
A família em sua roupagem atual está fundamentada em novos pilares conforme Dias (2007, apud, TARTUCE; SIMÃO, 2011,
p.55):
o novo modelo de família funda-se sob os pilares da repersonalização, da afetividade, da pluralidade e do eudemonismo, impingindo
uma nova roupagem axiológica ao direito de família [...] A família instituição foi substituída pela família-instrumento, ou seja, ela
existe e contribui tanto para o desenvolvimento da personalidade de seus integrantes, como para o crescimento e formação da
própria sociedade, justificando, com isso, a sua proteção pelo Estado.

Da exposição acima resulta o entendimento de que a família, nessa nova fase, não se limita aos indivíduos que a compõem
esta exerce influência além do âmbito familiar, pois, os indivíduos que a integram irão conviver em sociedade por isso é de grande
importância a formação que estes receberam de sua família e é por esse motivo que o Estado dispensa cuidados a esta entidade.
Outros estudiosos compartilham desse entendimento com se vê do que apregoa Carli (2009, p. 17):
A nova feição da família fundada em afeto e solidariedade e o reconhecimento da pluralidade de entidades familiares revelam novo
momento de inclusão da pessoa humana, e as pessoas inseridas em núcleos familiares possuem especial proteção, conforme
previsão do art. 226 da Constituição Federal de 1988. O objetivo é assegurar a integridade física e psíquica dos membros das
famílias e os efeitos protetivos contemplando no sistema jurídico vigente, que devem alcançar todos os componentes da família,
independentemente de sua origem, cor, raça, posição social e religiosa.

A autora expõe seu entendimento que segue a mesma linha de raciocínio do que foi exposto anteriormente que traz a família
com uma imensurável importância para a sociedade já que esta é responsável pela formação da personalidade de seus integrantes,
ou seja, se a base familiar do indivíduo for desestruturada provavelmente este apresentará um comportamento condizente com o
que teve contato em seu âmbito familiar e por esse motivo o Estado deve dedicar total atenção a essa entidade para que formem
pessoas melhores e conseqüentemente se terá uma sociedade equilibrada.
Esse entendimento defendido pelas autoras acima foi ratificado pelo STJ, no julgamento do REsp 57.606/MG, Rel. Min. Fontes
de Alencar, 4ª Turma, onde reconheceu que duas irmãs que moram juntas formam uma entidade familiar portanto o imóvel em que
elas residem seguindo esse entendimento caracteriza um bem de família. A entidade familiar reconhecida nesse julgado não está
prevista no texto constitucional em seu art. 226, o que vem a comprovar que o rol desse dispositivo é meramente exemplificativo.
(TARTUCE; SIMÃO, 2011).

1.2 DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA


Os princípios constitucionais fundamentam a validade das demais normas conforme lecionam Rosa, Carvalho e Freitas (
2012, p. 93):
Os princípios constitucionais assumem em nosso ordenamento uma posição nuclear, irradiadora de validade para todas as demais
normas, sejam constitucionais ou infraconstitucionais [...] A principiologia constitucional possui importantíssima função jurídica em
nosso ordenamento, servindo como vetor interpretativo, integrativo e limitador da atuação legislativa.

Os autores defendem o caráter de parâmetro legal que os princípios constitucionais possuem além de sua função limitadora
exercida sobre os legisladores.
Constitucionalizar significa estudar o direito de família sob a luz da constituição e o contrário também conforme ensinam
Tartuce e Simão (2011, p. 33):
[...] O Direito civil Constitucional pode ser encarado como um novo caminho metodológico que procura analisar os institutos de
Direito Privado, tendo como ponto de origem a Constituição Federal de 1988. Não se trata apenas de estudar os institutos privados
previstos na Constituição de 1988, mas sim de analisar a Constituição sob o prisma do direito Civil, e virse-versa. Para tanto, deverão
irradiar de forma imediata as normas fundamentais que protegem a pessoa, particularmente aquelas que constam nos arts. 1º a 6º
do Texto Maior.

Percebe-se do supracitado que a constitucionalização do direito privado é uma tendência natural já que a constituição está
no topo do ordenamento jurídico, sendo esta o parâmetro para validade das normas infraconstitucionais esse fenômeno não se
restringe a estudar o que já está previsto expressamente no corpo da carta maior e sim em aprofundar o entendimento tomando
como base a essência dessa norma maior.
Desta forma, se faz necessária a harmonia entre o direito civil e a Constituição Federal é o que ensina Carli (2009, p.
16):
A nova orientação desse avanço no sistema jurídico é o da aplicação de uma norma familiarista, que deve estar em sintonia com as
garantias e finalidades dos institutos solidários da Constituição Federal de 1988, do Código Civil e de uma atualíssima função social
da família ora mundializada.
É possível constatar a despeito do que a autora leciona que o direito de família deve ser analisado amparado pelo o

44
que garante a constituição federal.
O direito de família constitucionalizado traz uma força maior para suas normas é o que se percebe dos ensinamentos
de Dias (2007, apud Tartuce ; Simão, 2011, p. 33):
Sem dúvidas, deve-se reconhecer também a necessidade da constitucionalização do Direito de Família, pois grande parte do direito
civil está na constituição, que acabou enlaçando os temas sociais juridicamente relevantes para garantir-lhes efetividade.

Percebe-se que a constituição vem abarcando os temas relevantes socialmente para que estes tenham uma eficácia maior
já que a força que exerce a carta maior sobre a sociedade é bem maior que outra norma qualquer.
A constitucionalização do direito de família é a grande responsável pela valorização do afeto e solidariedade no âmbito
familiar, pois igualou homens e mulheres e deu importância a cada membro da família, conforme Cardin (2012,p.68):
Em que pese a sistemática familiar até então vigente, promulgou-se a Constituição Federal de 1988 dissipando quaisquer divergências
sobre o assunto, equiparando homem e mulher em direitos e obrigações e conferindo à mulher o exercício da chefia da sociedade
conjugal em igualdade de condições com o marido. Como conseqüência dessa nova mentalidade sociocultural, passou-se a dar
importância aos aspectos afetivos da convivência familiar, valorizando cada um dos seus membros, que passaram a ter mais
autonomia e liberdade de ação. Mediante esse novo enfoque constituicional-familiar, deu-se início À valorização do vínculo da
afetividade e solidariedade entre as pessoas envolvidas (paternais, filiares ou conjugais), e passou-se a exigir responsabilidade entre
esses entes por atos cometidos em detrimento dos outros, em especial por dano moral.

Nota-se do exposto que a constitucionalização do direito de família permitiu o reconhecimento dos direitos dos demais
membros da família, haja vista que em momento anterior a esse processo somente o pai de família possuía essa característica, pois
a mãe e os filhos eram subordinados à sua vontade não podendo questionar suas ordens, mas com as mudanças advindas com a
constituição de 1988 essa realidade ficou no passado e passou a aplicar a igualdade de condições a todos os membros da entidade
familiar todos passaram a ser detentores de direitos e obrigações e como consequência passaram a ser responsabilizados pelo
descumprimento dessas obrigações para com os demais componentes da família.
Deste modo, resta clara a importância da interpretação do direito de família sob a ótica da constituição federal, pois a exemplos
de outros princípios consagrados na constituição responsáveis pela realização individual dos indivíduos os princípios que pautam o
direito de família podem ser reconhecidos e respeitados com maior efetividade quando analisados com base na constituição federal
É o que se vê do que ensina Lobo (2008, apud Tartuce ; Simão,2011, p. 33):
Liberdade, justiça, solidariedade são os objetivos supremos que a constituição brasileira (art. 3º, I) consagrou para a realização da
sociedade feliz, após duzentos anos da tríade liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa. Do mesmo modo, são
valores fundadores da família brasileira atual, como lugar para a concretização da dignidade da pessoa humana de cada um dos
seus membros, iluminando a aplicação do direito.

Entende-se com o exposto pelo autor que a constitucionalização da norma privada permite uma maior concretização desta,
haja vista, tratar-se da carta maior e está no topo do ordenamento jurídico brasileiro e por isso tem essa força superior, portanto, o
direito de família só tem a ganhar com esse processo podendo vislumbrar uma maior efetivação dos seus preceitos.
Em relação aos princípios constitucionais podem-se citar alguns princípios de norteiam o direito de família como o princípio
da dignidade da pessoa humana se encontra disposto no artigo 1º, III, da Constituição Federal (1988):
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do distrito federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]III - a dignidade da pessoa humana.

Percebe-se do texto do artigo supracitado que o princípio da dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República
Federativa do Brasil, portanto trata-se de princípio basilar do ordenamento jurídico do Brasil.
Nesse sentido leciona Nunes (2010, p. 59):
[...] no atual Diploma Constitucional, pensamos que o principal direito fundamental constitucionalmente garantido é o da dignidade da
pessoa humana. É ela, a dignidade, o primeiro fundamento de todo o sistema constitucional posto e o último arcabouço da guarida
dos direitos individuais. A isonomia serve, é verdade, para gerar equilíbrio real, porém visando concretizar o direito à dignidade. É a
dignidade que dá a direção, o comando a ser considerado primeiramente pelo intérprete.

Nota-se que a dignidade humana está acima dos demais princípios sendo o direito mais protegido atualmente pela carta
maior, desta forma a dignidade dos membros da família tem que ser respeitada e garantida pelos demais integrantes.
A dignidade da pessoa humana é vista sobre dois prismas segundo Nunes (2010, p. 64):
Percebe-se, então, que o termo dignidade aponta para, pelo menos, dois aspectos análogos mas distintos: aquele que é inerente à
pessoa, pelo simples f ato de ser , nascer pessoa humana; e outro dirigido à vida das pessoas, à possibilidade e ao direito que têm
as pessoas de viver uma vida digna.

Vê-se diante do exposto que existe a dignidade que o indivíduo já possui a partir do momento que é considerado gente e a

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que está relacionada à maneira que essas pessoas irão viver, ou seja, são dignas por serem humanos e por viverem com dignidade.
O princípio da dignidade da pessoa humana é atualmente o mais importante princípio aplicado ao Direito de família conforme
leciona Alves (2007, p. 08):
No tocante ao Direito de Família, a Constituição de 1988 traça antes mesmo do capítulo destinado a ela (artigo 226 e seguintes),
alguns princípios genéricos. Primordial é o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, consubstanciado no inciso III do
artigo 1º, basilar da despatrimonialização do conceito de família, agora entidade familiar, comunidade de entre ajuda e afeto, onde
seus membros estão envolvidos por um laço muito mais psicológico, de busca do prazer e da felicidade.

Nota-se do exposto, que o princípio da dignidade da pessoa humana é o responsável por esse novo modelo de família
pautada no afeto na busca do bem estar de todos os seus membros, este não é princípio específico do direito de família e sim
passível de aplicação a todos os ramos do direito.
Além do princípio supramencionado, pode-se citar outro princípio aplicado ao direito de família que está presente no art. 3º,
I, da CF/1988, é o princípio da solidariedade familiar, in verbis:
Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária; [...]

Vê-se que a solidariedade é um objetivo fundamentar da República brasileira, portanto a solidariedade familiar tem que ser
vista como um dos princípios fundamentais do direito de família.
Nesse sentido dispõe Tartuce e Simão (2011, p. 39):
A solidariedade social é reconhecida como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil pelo art. 3.º, I, da CF/1988,
no sentido de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Por razões obvias esse princípio acaba repercutindo nas relações
familiares, eis que a solidariedade deve existir nesses relacionamentos pessoais [...] Ademais, a solidariedade familiar justifica, entre
outros, o pagamento dos alimentos no caso da sua necessidade, nos termos do art. 1.694 do atual Código Civil.

Percebe-se do exposto que a solidariedade tem que estar presente entre os membros da família um deve ajudar ao outro nos
momentos de necessidade como é o caso da prestação de alimentos.
Ainda estudando os princípios que fundamentam o direito de família vale ressaltar  o princípio da afetividade considerado
alicerce das relações familiares é o que se vê do que prelecionam Tartuce  e Simão (2011, p. 50):
O afeto talvez seja apontado, atualmente, como o principal fundamento das relações familiares. Mesmo não constando a expressão
afeto do Texto Maior como sendo um direito fundamental, pode-se afirmar que ele decorre da valorização constante da dignidade
humana.

Nota-se que do supracitado que a CF/88 não prevê expressamente o princípio da afetividade, porém este decorre do princípio
da dignidade da pessoa humana princípio basilar da República Federativa do Brasil.
Compartilhando desse entendimento apregoa Sousa (2008, p. 03):
Decerto o princípio da afetividade, entendido este como o mandamento axiológico fundado no sentimento protetor da ternura,
da dedicação tutorial e das paixões naturais, não possui previsão legal específica na legislação pátria. Sua extração é feita de
diversos outros princípios, como o da proteção integral e o da dignidade da pessoa humana, este também fundamento da República
Federativa do Brasil.

Percebe-se que a autora corrobora da opinião de que o princípio da afetividade é a base da família na atualidade que se pauta
no amor, carinho, cuidado. Além disso, não possui previsão expressa, mas deriva do princípio da dignidade da pessoa humana e em
outros princípios constitucionais.
Ainda nesse sentido leciona Lôbo (2000, p. 08):
O princípio jurídico da afetividade faz despontar a igualdade entre irmãos biológicos e adotivos e o respeito a seus direitos
fundamentais, além do forte sentimento de solidariedade recíproca, que não pode ser perturbada pelo prevalecimento de interesses
patrimoniais. É o salto, à frente, da pessoa humana nas relações familiares.

O autor cita alguns princípios constitucionais em que a afetividade se faz presente como o princípio da igualdade entre os
filhos e da solidariedade familiar.
Desse modo, o pai que se omite em dar afeto ao filho está ferindo o princípio da afetividade o que não pode acontecer
conforme preleciona Sousa ( 2008, p. 03):
Compreender, pois que o termo “abandono” vai além do aspecto material, para alcançar o aspecto moral entre os pais e sua prole,
pode até configurar uma exegese revolucionária ou audaciosa, mas é acima de tudo é uma reverência a lei que a exprime. Portanto,
os pais são obrigados a absterem-se de abandonar afetivamente os filhos. O abandono afetivo, expressão de sentido bastante
elástico, significa mais que privar os filhos de amor, carinho e ternura. Ela representa acima de tudo, privação de convivência, a
omissão em sua forma mais erma e sombria. O mesmo que inclinar a mente infanto-juvenil a entender seus genitores como meros
personagens da reprodução, figuras estanques e frias que a deixam por muito tempo ou mesmo por toda a vida a mingua de uma
amizade pura, exilando-a a um desenvolvimento indigno, vulnerável e solitário.

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O autor defende que admitir o abandono imaterial pode soar inovador, porém é algo que está previsto em lei por meio dos
princípios basilares do direito de família, assim os pais não podem se omitir em dar afeto aos filhos, pois estão violando a lei.
Abandonar afetivamente significa negar ao filho o convívio situação de difícil compreensão para as crianças e adolescentes o que
pode ter como consequências indivíduos introspectiva tendentes a vulnerabilidade.

2. ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

2.1 CONCEITO

A Alienação Parental é um conceito amplo e ocorre quando um dos genitores ou quem detém a guarda da criança ou adolescente
interfere na formação psicológica destes, para que os mesmos repudiem o genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vinculo com este.

A figura do alienador pode ser tanto um dos genitores, ou também avós ou pessoas que tenham a criança ou adolescente sob
sua autoridade, guarda ou vigilância.

A prática da Alienação Parental Alienação Parental e da Síndrome da Alienação Parental afronta questões éticas, morais,
humanitárias, e também bloqueia ou distorce valores e o instinto de proteção e preservação dos filhos. Agride também, frontalmente
o dispositivo constitucional, disposto no artigo 227 da Carta Maior, que versa sobre o dever da família em assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito constitucional a uma convivência familiar harmônica e comunitária, além de protegê-
los de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, como consta no artigo 3º do Estatuto
da Criança e Adolescente.

O tema da Alienação Parental surgiu no Brasil com mais intensidade quase simultaneamente com a Europa, em 2002, e, nos
Tribunais brasileiros o assunto vem sendo discutido desde 2006.

Já o conceito da Síndrome de Alienação Parental foi delineado em 1985, pelo médico e professor de psiquiatria infantil da
Universidade de Columbia Richard Gardner nos Estados Unidos da América (EUA). A partir de 2001, passou a ser difundida na
Europa por François Podevyn, despertando, mais tarde, um interesse da Psicologia e do Direito, por tratar-se de uma problemática
que afeta as duas áreas. A mesma é considerada como uma forma grave de abuso contra a criança, estando esta fragilizada pelos
conflitos entre os pais e está suscetível de influência de um deles. O guardião tenta romper o vinculo de convívio filial com o outro
genitor.

Para Gardner (2008, p.1), a SAP é identificada como um distúrbio que surge inicialmente no contexto das disputas em torno
da custódia infantil. Sua primeira manifestação verifica-se numa campanha que visa denegrir a figura parental perante a criança,
uma campanha que não tem justificação. Esta síndrome resulta da combinação de um programa de doutrinação dos pais (lavagem
cerebral) juntamente com a contribuição da própria criança para envilecer a figura parental que está na mira desse processo.

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) ocorre quando os pais se separam e um deles, geralmente que obtém a guarda,
manipula e condiciona a criança a romper com os laços afetivos com o outro genitor, criando sentimento de ansiedade, medo, raiva
em relação ao ex- companheiro ou companheira. Dessa forma, a criança passa a enxergar a realidade de forma distorcida.

O genitor alienador tenta enfraquecer, controlar ou excluir o contato com o outro genitor através de comportamentos tais
como: retira a criança da proximidade física do outro genitor, reforça a exclusão do outro, queixa-se dele ao filho, enfraquece o
vínculo da criança com o outro genitor, desqualifica o outro perante o filho, denigre sua imagem, coloca-se como vítima fragilizada
fazendo com que a prole fique somente ao seu lado.

Afirma Dias (2010, p.1) que “O filho é utilizado como instrumento de agressividade; é induzido a odiar o outro genitor.”
A SAP é considerada uma patologia, quando, de alguma forma, a alienação parental se instalou trazendo os danos e sequelas
que a criança ou o adolescente vem a sofrer devido a manipulação de quem geralmente detém a guarda.
Cabe ressaltar que, tecnicamente, a Síndrome não se confunde com a Alienação Parental, pois que aquela geralmente
decorre desta, ou seja, ao passo que a AP se liga ao afastamento do filho de um pai através de manobras da titular da guarda, a
Síndrome, por sua vez, diz respeito às questões emocionais, aos danos e sequelas que a criança e o adolescente vêm a padecer.

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De acordo com Priscila Maria Fonseca (2007), a alienação parental é o afastamento do filho de uns dos genitores, provocado pelo
outro, via de regra, o titular da guarda. Já a síndrome da alienação parental, diz respeito às sequelas emocionais e comportamentais
de quem padecer a criança vítima daquele alijamento.

Para o desembargador Andrade a SAP:

Consiste no ato de um genitor que tem a guarda do filho e vale-se de manipulações, induzindo a criança, por meio de técnicas e
processos, a criar uma má imagem do outro genitor (não guardião), e visando ‘puni-lo’ e expulsá-lo por completo da vida dos filhos.
Com o tempo, o filho, consciente ou inconscientemente, passa a colaborar com essa finalidade, situação altamente destrutiva para
ele e para o genitor alienado. Comportamento cada vez mais comum nas relações dos tempos modernos, segundo dados do IBGE
(2002), cerca de 1/3 dos filhos de pais divorciados perdem contato com seus pais, sendo privados do afeto e convívio com o genitor
ausente, o que tem consequências trágicas no seu desenvolvimento psicossocial. (ANDRADE apud ZARDO, Claudia).

Para Lélio Braga Calhau (2010, p.6) o “Bullying é um assédio moral, são atos de desprezar, denegrir, violentar, agredir,
destruir a estrutura psíquica de outra pessoa sem motivação alguma e de forma repetida”

A Síndrome de Alienação Parental é considerada, muitas vezes, como o Bullying Familiar ou Bullying nas Relações Familiares,
pois, o agressor acaba colocando o filho e o ex-cônjuge em constante estado de tensão, trazendo grande sofrimento a ambos.

3 RESPONSABILIDADE CIVIL NA ORDEM JURÍDICA INTERNA

O presente artigo tem como finalidade trazer as concepções gerais da responsabilidade civil buscando o conhecimento de
seus diversos aspectos desde a origem etimológica do termo a outras características mais específicas deste instituto.
O termo responsabilidade surgiu de um verbo latino, possuindo também raiz latina na fórmula através da qual se vinculava o
devedor nos contratos verbais, no Direito Romano, conforme lecionam Gagliano e Pamplona Filho (2004,p. 2):
A palavra “responsabilidade” tem sua origem no verbo latino respondere, significando a obrigação que alguém tem de assumir com
as consequências jurídicas de sua atividade, contendo, ainda, a raiz latina de spondeo, fórmula através da qual se vinculava no
Direito Romano, o devedor nos contratos verbais.

Os autores trazem a origem da palavra sendo possível através do conhecimento desta extrair-se uma breve compreensão do
que vem a ser a responsabilidade.
A Responsabilidade surge de toda atividade que tenha como consequência um dano a outrem, gerando com isso o dever de
reparação, na acepção de Venosa (2012,p. 1) “O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa,
natural ou jurídica, deva arcar comas consequências de um ato, fato, ou negócio danoso.” Quando do surgimento do dever de
responder pelos danos causados a alguém se está diante de um exemplo de responsabilidade.
A existência da responsabilidade no âmbito jurídico encontra amparo no fato de não ser permitida a ofensa ao outro. Nesse
sentido dispõem Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 2):
O respaldo de tal obrigação, no campo jurídico, está no princípio fundamental da “proibição de ofender”, ou seja, a idéia de que a
ninguém se deve lesar - a máxima neminemlaedere, de Ulpiano -, limite objetivo da liberdade individual em uma sociedade civilizada.
Os autores trazem justificativa pela qual a obrigação encontra-se no ordenamento jurídico, afirmando está pautada no princípio
de que ninguém pode ofender e ninguém pode ser lesado.
No ordenamento jurídico brasileiro a responsabilidade civil encontra-se respaldada principalmente pelo artigo 186 do Código
Civil conforme apregoa Rodrigues (2002, p. 13):
7. Regra geral da responsabilidade civil – Princípio geral de direito, informador detoda a teoria da responsabilidade, encontradiço
no ordenamento jurídico de todos os povos civilizados e sem o qual a vida social é quase inconcebível, é aquele que impõe a quem
causa dano o dever de reparar. Tal princípio se encontra registrado, entre nós, no art. 186 do Código Civil. Aí se diz: aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.

Para o autor, o princípio geral de direito é quem informa toda a teoria da responsabilidade e sua inexistência tornaria a
convivência em sociedade inviável, no ordenamento jurídico brasileiro este se faz presente no Código Civil em seu artigo 186.
A responsabilização civil tem o intuito de alcançar o status de equilíbrio patrimonial e moral que foi prejudicado por uma
atividade danosa de acordo com Venosa (2012, p. 1) “Os princípios da responsabilidade civil buscam restaurar um equilíbrio
patrimonial e moral violado. Um prejuízo ou dano não reparado é um fator de inquietação social.” A finalidade da responsabilidade
civil é trazer ao status quo o patrimônio e a moralidade de alguém violado por atos de outrem evitando, com isso, o sentimento de
insatisfação da sociedade.

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3.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

Para uma melhor compreensão do instituto responsabilidade civil é necessário o conhecimento do termo responsabilidade
que na visão de  Pereira (2012, p.68):
O termo responsabilidade é utilizado para designar várias situações no campo jurídico. Em sentindo amplo, encerra a noção em
virtude da qual se atribui a um sujeito o dever de assumir as consequências de um evento ou de uma ação. Nessa ocasião, importa
encarar a responsabilidade como fato ou ato punível ou moralmente reprovável, que viola direitos de outrem e acarreta reflexos
jurídicos.

Percebe-se do exposto que o termo responsabilidade tem uma abrangência ampla no campo jurídico e desta forma pode
ser compreendido como o dever de arcar com as consequências dos atos praticados e que seja sujeito à punição ou não tenha a
aprovação moral.
Compartilhando desse entendimento outros autores expõem seus conceitos de responsabilidade é o que se vê de Venosa
(2012, p.01):
O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa , natural ou jurídica , deva arcar com as
consequências de um ato, fato, ou negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de
indenizar. Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e normas que regem a obrigação
de indenizar.

Nota-se do supracitado que a pessoa física ou jurídica que causar dano a outrem tornar-se obrigado a repará-lo deixando
claro que todos estão suscetíveis a ter que indenizar outrem desde que o tenha causado prejuízo.
A responsabilidade civil é uma obrigação de reparação de prejuízo causado a outra pessoa, segundo Savatier (1939, apud
RODRIGUES, 2002, p. 6) “A responsabilidade civil vem definida por SAVATIER como a obrigação que pode incumbir uma pessoa
a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam”. Nesse diapasão é
possível compreender que a reparação se dar não só por fato da pessoa responsabilizada como também por fatos alheios, porém,
ligados a esta por um vínculo de dependência existente com quem deu origem ao fato.
O conceito do instituto da responsabilidade civil para o direito privado surge com a agressão de um interesse particular que
deverá ser reparado visando proporcionar o retorno ao status quo em relação aquele direito violado.
Conforme apregoam Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 9):
A responsabilidade civil deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando, assim, o infrator, ao pagamento de
uma compensação pecuniária à vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior das coisas.

Percebe-se que a obrigação que dar origem a responsabilidade civil tem o afã de repor ao lesado o que lhe foi retirado pelo
ato danoso cometido, já que o interesse lesado pertence somente ao ofendido, e não sendo possível realizar a reparação de uma
natural trazendo as coisas para seu status de origem pode-se utilizar-se de um valor em pecúnia corresponde ao dano causado.

3.1.2 Elementos da responsabilidade civil

Os elementos da responsabilidade civil são extraídos de uma análise ao artigo 186 do código civil que é a base
fundamental deste instituto. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2004)
Os pressupostos gerais ou elementos da responsabilidade civil resumem-se em três: a conduta humana, dano e o
nexo de causalidade. De acordo com o que lecionam Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 29):
A culpa, portanto, não é elemento essencial, mas sim acidental, pelo que reiteramos nosso entendimento de que os elementos
básicos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil são apenas três: a conduta humana (positiva ou negativa), o dano ou
prejuízo, e o nexo de causalidade.

O elemento culpa não se inclui dentre os demais pressupostos da responsabilidade civil por ausência do caráter de
generalidade, característica essencial para enquadrar-se como um pressuposto geral.
Entretanto, há quem discorde com a exclusão da culpa como pressuposto da responsabilidade civil é o que se vê do
que ensinam Rosa, carvalho e Freitas ( 2012, p. 41) “Os elementos ou pressupostos gerais da responsabilidade civil são: conduta
humana (positiva ou negativa), o dano ou prejuízo e o nexo de causalidade. Outro elemento indispensável para a caracterização da
responsabilidade civil é a culpa.” Percebe-se que o autor corrobora em parte do entendimento dos autores anteriormente citados,
porém estes divergem claramente no que diz respeito a culpa já que este a reconhece como pressuposto geral para caracterização
de responsabilidade civil.
Nesse sentido, se faz importante conhecer os elementos que compõem a culpa o que é possível constatar do que

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prelecionam Rosa, carvalho e Freitas (2012, p. 42):
Como visto, a culpa é elemento essencial na responsabilidade civil subjetiva e que, segundo a doutrina tradicional compõe-se
dos seguintes elementos: a voluntariedade do comportamento do agente que pode ser definida como o ato voluntário do agente
causador do dano, sem ser motivado ou obrigado por outrem a realizar o ato ilícito como, por exemplo, a coação, para que assim se
possa reconhecer sua culpabilidade; a previsibilidade, de onde será responsabilizado o agente causador do dano se tal bem violado
era previsível em lei e não apenas um caso fortuito; e a violação de um dever de cuidado, em que a culpa implica nesta violação e
se for intencional, teremos o dolo.

Percebe-se que para caracterização da culpa se faz necessário o preenchimento de algumas características, pois o
ato tem que ter sido voluntário, o ato praticado tem que estar positivado como ilícito, além da inobservância de um dever quando
não seja intencional.
Outro elemento de notável importância para concretização da responsabilidade civil é a conduta humana, pois, aos
animais não seria concebível aplicar qualquer sanção, haja vista, tratar-se de seres irracionais.
Conforme o que apregoam Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 31):
Apenas o homem, portanto, por si ou por meio das pessoas jurídicas que forma, poderá ser civilmente responsabilizado. Nesse
contexto, fica fácil entender que a ação (ou omissão) humana voluntária é pressuposto necessário para a configuração da
responsabilidade civil. Trata-se, em outras palavras, da conduta humana, positiva ou negativa(omissão),guiada pela vontade do
agente, que desemboca no dano ou prejuízo. Assim, em nosso entendimento, até por um imperativo de precedência lógica, cuida-se
do primeiro elemento da responsabilidade civil a ser estudado, seguido do dano e do nexo causalidade.

Os autores colocam a ação humana como o principal elemento da responsabilidade civil, pois, sem este não haveria
os demais, por isso, frisam que este deve ser o primeiro a ser estudado. A conduta humana seja positiva ou negativa trata-se de
elemento essencial para a configuração da responsabilidade civil, haja vista, que somente ao homem é possível atribuir o dever de
reparação civil.
Nesse sentido lecionam Rosa, carvalho e Freitas (2012, p. 41):
A conduta humana é o primeiro elemento da responsabilidade civil, tal conduta tem como núcleo fundamental a voluntariedade,
resultante da vontade do agente imputável, ou seja, daquele que possui discernimento e consciência dos seus atos.

Os autores também colocam o elemento conduta humana em destaque entre os requisitos necessários à caracterização
da responsabilidade civil além de destacar a necessidade da dessa conduta seja voluntária.
A vontade do agente tem que se fazer presente para que se tenha caracterizada a conduta humana como elemento
da responsabilidade civil, conforme Gagliano e Pamplona Filho (2004, p.31) “O núcleo fundamental, portanto, da noção de conduta
humana é a voluntariedade, que resulta exatamente da liberdade de escolha do agente imputável, com discernimento necessário para
ter consciência daquilo que faz.” Portanto, não é qualquer conduta humana que se enquadra como elemento da responsabilidade
civil e sim somente as pautadas na vontade do agente.
No entanto, a responsabilidade civil não está vinculada somente a conduta do responsabilizado, pois, este pode
receber esse status por conduta de outras pessoas que a ele estejam subordinados segundo Rodrigues (2002, p.15):
A responsabilidade por ato de terceiro ocorre quando uma pessoa fica sujeita a responder por dano causado a outrem não por ato
próprio, mas por ato de alguém que está de um modo ou de outro, sob a rejeição daquele. Assim, o pai responde pelos atos dos
filhos menores que estiverem em seu poder ou sua companhia; patrão responde pelos atos de seus empregados, e assim por diante.

Segundo o autor uma pessoa que em nada contribui para que surja um dano a alguém pode vir a ser responsabilizado
civilmente se o agente da conduta danosa for alguém por quem ele responda por seus atos. Isso pode ocorrer com os pais, tutores
curadores e outros. Ou seja, não vão está presentes os elementos culpa ou dolo do agente responsabilizado o que vai definir se este
é ou não o responsável civilmente é se mantém ou não um vínculo de subordinação ou submissão com o agente da conduta danosa.
Outro elemento essencial para a responsabilidade civil é o dano que segundo Gagliano e Pamplona Filho (2004, p.40)
“Nesses termos, poderíamos conceituar o dano ou prejuízo como sendo a lesão a um interesse jurídico tutelado – patrimonial ou
não- causado por ação ou omissão do sujeito infrator.”
Conforme os autores citados o dano existe quando o agente viola um interesse de outrem, por conduta comissiva ou
omissiva, seja de cunho patrimonial ou não.
O que vai ser importante para definir o cabimento ou não da reparação não é se a conduta é omissiva ou comissiva e
sim o consequente dano conforme lecionam Cavalieri Filho (2000, apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2004, p.40):
O dano é, sem dúvida, o grande vilão da responsabilidade civil. Não haveria que se falar em indenização, nem em ressarcimento, se
não houvesse o dano. Pode haver responsabilidade sem culpa, mas não pode haver responsabilidade sem dano. Na responsabilidade
objetiva, qualquer que seja a modalidade do risco que lhe sirva de fundamento – risco profissional, risco proveito, risco criado etc. -,
o dano constitui o seu elemento preponderante. Tanto é assim que, sem dano, não haverá o que reparar, ainda que a conduta tenha
sido culposa ou até dolosa.

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Os autores trazem nas palavras de Sérgio Cavalieri Filho que o dano é essencial para concretização da responsabilidade
civil, pois, se este não existir consequentemente não existirá a obrigação de reparar, ou seja, não surgirá a responsabilidade.
O dano poderá ser patrimonial ou moral segundo Gagliano e Pamplona Filho (2004, p.45) “Tradicionalmente, a doutrina
costuma classificar o dano em patrimonial ou moral.” Portanto, os autores trazem o entendimento tradicional da doutrina quanto
aos tipos de dano existente.
Dano patrimonial ocorre quando a lesão recai sobre um bem do titular que possui um valor econômico. De acordo com
Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 45) “O dano patrimonial traduz lesão aos bens e direitos economicamente apreciáveis do seu
titular. Assim como ocorre quando sofremos um dano em nossa casa ou em nosso veículo.” Segundo os autores a lesão que origina
o dano patrimonial pode se dar tanto a bens como a direitos desde que tenham valor econômico.
Já o dano moral ocorre quando é violado direito de conteúdo não pecuniário conforme a visão de Gagliano e Pamplona
Filho (2004, p.61):
O dano moral consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras
palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade),
violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente.

Os autores esclarecem que o dano moral vai além do prejuízo meramente financeiro atingindo os direitos de
personalidade do ofendido o que desencadeia o dano moral, pois, não foi atingindo o patrimônio do ofendido, mas, foi lesionada a
personalidade da pessoa que merece reparação tanto quanto os prejuízos de cunho patrimonial.
Com as mudanças trazidas pela constituição federal de 1988 colocando o homem como o centro do ordenamento
jurídico brasileiro consagrando a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito
Brasileiro, esta deu ao dano moral uma nova feição com uma dimensão maior, pois, a dignidade humana é a base de todos os
valores morais. (CAVALIERI FILHO, 2009).
Com base na atual constituição brasileira pode-se aferir-se dois aspectos distintos do dano moral em sentido estrito e
amplo de acordo com o que leciona Cavalieri Filho (2009, p. 80):
Á luz da Constituição vigente pode-se conceituar o dano moral por dois aspectos distintos. Em sentido estrito, dano
moral é violação do direito à dignidade. E foi justamente por considerar a inviolabilidade da intimidade, da vida privada da honra e
da imagem corolário do direito à dignidade que a constituição inseriu em seu art. 5º, V e X, a plena reparação do dano moral [...] Os
direitos da personalidade, entretanto, englobam outros aspectos da pessoa humana que não estão diretamente vinculados à sua
dignidade. [...] Em suma, os direitos da personalidade podem ser realizados em diferentes dimensões e também podem ser violados
em diferentes níveis. Resulta daí que o dano moral, em sentido amplo, envolve esses diversos graus de violação dos direitos da
personalidade, abrangem todas as ofensas à pessoa, considerada esta em suas dimensões individual e social, ainda que sua
dignidade não seja arranhada.
Na visão do autor o dano moral em sentido estrito ocorre quando a dignidade da pessoa é violada e a constituição
prevê a reparação do dano moral exatamente por trazer alguns direitos, como a inviolabilidade da honra, como consequência do
direito à dignidade. Já em sentido amplo os direitos da personalidade não estão ligados somente à dignidade humana abrangendo
todos os ataques à pessoa humana abrangendo tanto a dimensão pessoal como social. Para verificar a ocorrência de dano moral
não será, em sentido amplo, levado em consideração, apenas, a existência de ofensa a dignidade humana, mas serão relativizados
toda e qualquer ofensa à pessoa tanto em âmbito da sociedade como o eu interior do ofendido.
O terceiro elemento da responsabilidade civil a ser examinado é o nexo causal de acordo com a visão de Cavalieri
Filho (2009, p. 46) “O conceito de nexo causal não é jurídico; decorre das leis naturais. É o vínculo, a ligação ou relação de causa
e efeito entre a conduta e o resultado”. Conforme entendimento do autor o conceito do elemento nexo causal é oriundo das leis
naturais e trata-se do liame entre a conduta danosa e o resultado.

3.3 ASPECTOS PROCESSUAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL


A indenização é o ato de ressarcir o prejuízo sofrido por alguém em detrimento de ato danoso praticado conforme
leciona Diniz (1998 apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2004, p.390):
INDENIZAÇÃO. 1. Ato ou efeito de indenizar. 2. Reembolso de despesa feita. 3. Recompensa por serviço prestado. 4. Reparação
pecuniária de danos morais ou patrimoniais causados ao lesado; equivalente pecuniário do dever de ressarcir o prejuízo. 5. Vantagem
pecuniária que se dá a servidor público sob a forma de ajuda de custo, diária ou transporte (Othon sidou). 6. Ressarcimento de dano
oriundo  de acidente de trabalho ou de rescisão unilateral de contrato trabalhista sem justa causa.”
Os autores trazem diversos conceitos de indenização sendo esta a reparação em pecúnia de danos tantos morais
como patrimonial sofrido por alguém prestada por quem os tenham dado causa.
Quanto ao método de fixação da indenização lecionam Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 391) “Reconhecido o

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direito à indenização, a sua liquidação se faz da mesma maneira que as obrigações em geral.” Conforme os autores a indenização
é fixada tomando com base as regras aplicadas as demais obrigações.
Existem situações em que não há um parâmetro normativo pra liquidar a indenização de acordo com a visão de
Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 392)
“Em algumas situações, inexistem parâmetros normativos, aferíveis objetivamente, para fixar o valor da indenização.
Nessas situações, a prova da extensão do dano é fundamental para a quantificação da reparação.” Segundo os autores nos casos
de inexistência de normas aplicáveis à quantificação da indenização esta será feita usando-se como base a extensão do dano
causado ao lesado.
Já para a quantificação de indenização por danos morais ensinam Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 397)“Dois são
os sistemas que a dogmática jurídica oferece para a reparação pecuniária dos danos morais: o sistema tarifário e o sistema aberto.”
Conforme os autores existem dois sistemas passiveis de serem adotados para fixação de indenização por danos morais.
Estes sistemas diferenciam-se entre si, principalmente, no que tange ao nível de liberdade que é consentida ao juiz,
segundo apregoam Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 397):
No primeiro caso, há uma predeterminação, legal ou jurisprudencial, do valor da indenização, aplicando o juiz a regra
a cada caso concreto, observando o limite do valor estabelecido em cada situação. Segundo nos informa ORLANDO TEIXEIRA DA
COSTA, é o que ocorre nos Estados Unidos da América do Norte. Já pelo sistema aberto, atribuir-se-ão juiz a competência para fixar
o quantum subjetivamente correspondente à reparação/compensação da lesão, sendo este o sistema adotado no Brasil.
Nota-se dos ensinamentos dos autores que os países podem adotar um dos dois sistemas disponíveis para a fixação
da indenização por danos morais. Se optar pelo sistema tarifário já existe um limite pré-estabelecido para cada situação, nesse
caso, o juiz irá apenas adequar ao caso concreto adotando uma postura mais objetiva, entretanto, o país que adota o sistema
aberto permite ao juiz uma margem bem maior de liberdade no processo de quantificação desta indenização aplicando, assim, mais
subjetividade na quantificação.

3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL NO ÂMBITO DO DIREITO DE FAMÍLIA FRENTE A PRÁTICA DE ALIENAÇÃO PARENTAL

O direito de família sofreu mudanças em sua abrangência, pois antes não gozava de princípios específicos o que não
permitia o alcance dos direitos individuais dos integrantes da entidade familiar conforme Venosa (2012, p. 298):
O pensamento jurídico tradicional do passado sempre entendeu que os princípios gerais da responsabilidade civil
aquiliana são suficientes para socorrer as hipóteses de dolo ou culpa no âmbito da família. Mais que isso, apenas recentemente
a doutrina preocupou-se com situações específicas que podem gerar dever de indenizar entre membros da família, cônjuges,
conviventes, pais e filhos. Quando determinada área do direito atinge certo patamar de sofisticação e passa a gozar de princípios
próprios, é natural que seja cercada de especificidade para as soluções do dever de indenizar. É o que ocorre com o direito de
família.
Nota-se do exposto que o direito de família quando era baseado em princípios gerais da responsabilidade civil não
atentava para as questões mais específicas referentes à obrigação de indenizar no âmbito da família o que não é mais realidade na
atualidade já que este já possui princípios próprios o que permite em todos os ramos do direito resguardar situações específicas de
obrigação de indenizar. Desta forma, o direito de família está deixando de preocupar-se somente com questões amplas e passando
a preocupar-se com situações específicas envolvendo o pedido de indenização entre membros da família.
Desta forma, como consequência da especificidade de hipóteses de indenização no âmbito familiar a responsabilidade
civil nas relações familiares passou a ser objeto de calorosas discussões. Questiona-se essa possibilidade nos vários tipos de
relacionamento e grau de parentesco segundo Pereira (2012, p.68):
A responsabilidade civil no âmbito do Direito de Família é questão que vem sendo amplamente debatida. Há exaltados
discursos em torno da possibilidade de responsabilização por fatos provenientes das relações familiares, sejam elas relacionamentos
homoafetivos, de casamento, união estável, relacionamentos extraconjugais, parentesco, filiação, dentre outras.
Percebe-se do que defende a autora que estudiosos já pesquisam o tema em comento, e expõe suas opiniões a
respeito, analisando a viabilidade de responsabilizar as pessoas por seus atos que resultem em prejuízo nas diversas formas de
relações familiares.
Nesse sentido nota-se que as relações entre familiares vêm sendo alvo de mensuração econômica conforme Carli
(2009, p.17):
Pois bem, nesse mundo globalizado, o essencial é a parte econômica em qualquer relação, e o que se vê atualmente,
no Direito de Família, que é tradicionalmente fundamentado no afeto e nos laços familiares, é que a família e seus componentes
não mensuravam valor econômico nas relações parentais. A legislação atual, porém, aventa essa possibilidade de caracterização
de um ato ilícito em uma relação familiar que pode ser certa e indiscutível.

52
Entende-se do exposto pela autora que a valoração econômica das relações familiares não era comum, pois sempre
foram priorizados os laços afetivos em detrimento do lado econômico, porém com a globalização essa visão vem sendo deturpada
admitindo-se a prática da quantificação monetária nessas relações.
Os Estudiosos que defendem a possibilidade de reparação nas relações familiares pautam suas teses principalmente
na Constituição Federal de 1988, principalmente no princípio da dignidade da pessoa humana como se pode ver do que leciona
Nader (2010, p. 349):
O Estado contemporâneo, alicerçado no princípio da dignidade da pessoa humana, desconstituiu a hierarquia nas relações entre
cônjuges e nas uniões estáveis e organizou o instituto do poder familiar como núcleo de formação moral fundado no princípio do
dever de criar, educar e orientar os filhos em um ambiente sadio e propício ao seu pleno desenvolvimento. Se os cônjuges, bem
como os conviventes, possuem deveres jurídicos entre si, implícita está a responsabilidade de cada qual por seus atos e omissões.
É que na vida jurídica a responsabilidade é corolário do dever e sempre que houver quebra deste o seu titular responde perante
o credor, seja nos termos do negócio jurídico ou na forma da lei.Os pais, além de presumidos laços de afeição, mantêm vínculos
jurídicos com os filhos, por força dos quais devem a estes prestações de ordem moral e material. O não cumprimento dos deveres
pode caracterizar danos e, em consequência, a responsabilidade civil.
O autor apregoa que com o princípio da dignidade humana como alicerce do Estado Democrático pai e mãe passaram
a ter direitos e obrigações na mesma proporção, portanto tornaram-se passíveis de responderem civilmente por descumprirem suas
responsabilidades na medida em que ambos possuem um vínculo jurídico entre si, destarte os cônjuges que não atenderem suas
obrigações um com o outro poderão arcar com as consequências na seara cível assim como quando não observarem seus deveres
como pais já que possuem além do laço sentimental estabelecem também vínculo jurídico com seus filhos. Vale ressaltar que o
Autor frisa que os pais poderão responder não só por danos materiais como morais também.
Além da Constituição Federal de 1988 os autores baseiam seus entendimentos também nos artigos do código civil que
fundamentam as demandas de pedido de indenização nesse sentido apregoa skaf (2011, p.21):
[...] imprescindível concluir primeiramente, que é possível se admitir, sim, a indenização por danos morais nos casos
envolvendo o Direito de Família, independentemente do modo como esta foi constituída. Isso porque a reparação civil encontra-
se inserida no Direito como um todo, podendo ser aplicada no âmbito familiar, tendo em vista a interligação dos ramos do Direito
que devem estar em harmonia, principalmente com a própria Constituição Federal, regedora das demais leis, a qual em seu artigo
5º assegura o direito à indenização por danos morais, a qualquer cidadão, conferindo então à reparação civil a possibilidade de
adentrar em qualquer ramo. Todavia, a fim de conceder a indenizar por danos morais no caso de abandono afetivo, necessário
preencher alguns requisitos como a presença do dolo/culpa, o dano efetivamente comprovado principalmente por perícia técnica a
fim de constatar sua profundidade com o intuito de se averiguar a potencialidade do abalo na dignidade humana da vítima, capaz
de obstar sua vida; omissão voluntária; nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado dano psicológico, de acordo
com os artigos 186 e 927 do Código Civil, devendo todos restar comprovados.
Corroborando com o entendimento supracitado leciona Nader (2010, p. 349):
Em nosso país, os danos no Direito de Família estão subordinados ao regula- mento geral da responsabilidade extracontratual,
embora com particularidades que devam ser consideradas na apreciação de cada quaestio facti. Haverá dano se a conduta do
agente enquadrar-se no figurino do art. 186 ou 187 da Lei Civil. Caberá ao juiz, diante do caso concreto e à luz destes dispositivos,
aferir a presença de dano indenizável, seguindo a orientação do art. 944, caput, ou seja, o valor da indenização deve ser proporcional
à extensão do dano. Todavia, as questões familiares devem ser analisadas com temperamentos, conforme as peculiaridades da
pequena sociedade, onde, apesar dos desencontros, costuma prevalecer o sentimento de solidariedade e a desunião de hoje pode
ser o fortalecimento dos laços de amanhã. Uma vez que os danos no Direito de Família se subordinam aos princípios dos arts. 186
e 187 do Código Civil, igualmente a pretensão de reparação civil se sujei- ta ao prazo prescricional ditado pelo art. 206, § 3o, V, ou
seja, três anos.

O Autor concorda com a tese anteriormente defendida de que o repara por danos morais no direito de família é possível,
mas desde que preencha os requisitos presentes em todas as demais modalidades de danos indenizáveis acrescentando que o Juiz
irá definir o valor a ser pago de acordo com o caso concreto analisando o dano verdadeiramente sofrido e que essa modalidade de
indenização também irá obedecer aos prazos estabelecidos no código civil para situações semelhantes.
Percebe-se do exposto que os Autores também defendem o caráter pedagógico da indenização que apesar de não
suprir a lacuna deixada servirá fator inibitório da conduta comissiva nas relações familiares.
Destaca-se também que ao ter dificuldades de convivência em coletividade não será apenas o filho que irá sofrer
com esta situação, mas a sociedade também conforme lecionam Cardin (2012, p. 239)“A questão moral envolve valores que se
não forem repassados faz com que o indivíduo não saiba se relacionar com as demais pessoas, tampouco tenha limites para viver
na sociedade, causando prejuízos aos outros.” Compreende-se do exposto que os pais ao abandonarem afetivamente seus filhos
podem trazer prejuízos não só para o abandonado como também para a sociedade, haja vista, que estes poderão sentir dificuldades
em conviver com as outras pessoas e até mesmo em assumir uma postura correta para com os demais indivíduos o que pode
acarretar a prática de crimes.

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Ainda nesse sentido leciona Skaf (2011, p.21):
Ressalta-se, além do mais, que o argumento utilizado por alguns juristas de que o suprimento alimentar basta, com todo o respeito,
não merece prosperar. Ora, prestar alimentos a fim de suprir necessidades materiais e de sobrevivência é completamente diferente
de abandono moral. Esses dois institutos devem ser reparados separadamente, não é porque se sanou o abandono material que
automaticamente a lacuna da dor do dano moral estará também preenchida. Para cada qual, uma consequência deve incidir. O fato
de sustentar o filho, nem sempre constitui para os pais um ato de afeto e respeito, tendo em vista que alguns o realizam por pura
obrigação somente e pela aflição de ser possivelmente acionado pela justiça; abandonando o menor moralmente, não cumprindo
com o seu papel de proporcionar afeto realmente, devendo por isso ser responsabilizado. Não é porque o ascendente se mostrou
presente materialmente, que fez isso por amor ou afeto afastando automaticamente o abandono moral.

A autora ressalta a insuficiência da prestação apenas material na relação de filiação, pois a prestação imaterial é
tão essencial quanto. As duas prestações se complementam desta forma preenchem as necessidades dos filhos exaurindo as
obrigações dos pais para com este. Ao prestar alimentos os pais estão cumprindo apenas uma parte do que estão obrigados
restando prestar a assistência moral e caso descumpra com esta obrigação terá que reparar os danos sofridos por seus filhos.
Percebe-se que apesar dos pais terem livre arbítrio com relação à sua família estes devem respeitar os princípios
constitucionais não podendo usar essa liberdade de forma desregrada, haja vista, que ao decidir gerar uma criança estão
comprometendo-se a prestar-lhe toda a assistência necessária para que tenham uma vida saudável inclusive a assistência moral.
Valendo-se de meios previstos legalmente, a justiça, pode e deve, portanto, por meio da prolação da sentença
condenatória, mostrar a sociedade e principalmente aos pais que abandonar moralmente os filhos não mais do que incorreto
moralmente, é ilegal, vez que a referida atitude pode comprometer o  caráter e a formação desses filhos rejeitados, constituindo-
se em ato ilícito passível de ser indenizado. Não se trata, pois de obrigar o genitor a amar o filho, a partir da emissão da sentença,
como alguns apregoam. A condenação por danos morais não possui esse intuito e sim apenas o de amenizar a dor sofrida pelo
menor, vítima do abandono.
Os posicionamentos favoráveis trazem a reparação civil nestas demandas como uma espécie de exemplo para a
sociedade é o que se vê do que preleciona Nader (2010, p. 349):
Se de um lado teme-se a juridicização das relações familiais, mediante a substituição do estatuto reservado e pessoal
por critérios legais de análise, de outro há o benefício de se alertar especialmente os cônjuges quanto à sua responsabilidade
recíproca e nas relações com os filhos.
O Autor destaca dois lados da situação em análise o primeiro refere-se ao medo que se tem em trazer da esfera
pessoal e interna as questões familiares para o judiciário externalizando essas relações e de outra a importância de tal atitude, pois
servirá como parâmetro para todos que pretenderem constituir família, haja vista, que saberão as consequências de não arcarem
com as obrigações imateriais em relação aos filhos.
No entanto, não é só de posicionamentos favoráveis que sobrevivem os debates, portanto os estudiosos contrários
a esta possibilidade de reparo também expressam vários fundamentos que inviabilizam este tipo de reparação conforme se vê de
Matzenbacher (2009, p.68):
Aplicar a responsabilidade civil não é adequado nas relações familiares porque este instituto acolhe a teoria da
causalidade adequada, onde não é possível estabelecer a culpa pela conduta do pai e da mãe, conduta ilícita e nexo de imputabilidade.
Desta forma, a sua aplicabilidade em estabelecer que foi a conduta do pai que contrariou a lei, sem poder buscar os porquês, ou
seja, as demais causas que contribuíram para a ocorrência do resultado que é o dano no desenvolvimento da personalidade do
filho, enquanto criança ou adolescente, não pode ser admitida. E, se assim for, corre-se o risco de romper com os laços familiares
que ainda podem ser retomados entre pai e filhos.
Percebe-se do exposto acima que a Autora afirma não ser possível preencher os requisitos necessários para caracterizar
o dano moral que são a culpa ou dolo, dano, conduta ilícita e nexo causal, pois estes institutos não são aplicáveis ao direito de
família e sem saber as reais circunstâncias do abandono torna-se inviável conceder indenização nestas situações, além de que este
tipo de demanda poderá ocasionar um afastamento ainda maior das partes envolvidas, portanto não poderão ser considerados os
pedidos de indenização por abandono afetivo dos filhos em detrimento de seus pais.
Ainda nesta linha de raciocínio a corrente contrária afirma não ser possível reparar a falta de amor conforme Rosa
(2011, p. 15):
O direito pode e deve reparar as atitudes agressivas, os danos emergentes, as eventuais ações ilícitas. Não amar, deixar de amar,
odiar, sem atos verificáveis no mundo da vida, é próprio da condição humana. E o pior, se o Direito fixa o valor da indenização e o
sujeito paga, a dívida que era impagável passa a ser apurada e, portanto, quitada. O paradoxo desse lugar é perverso [...] o amor
acaba se transformando em mais uma mercadoria a ser negociada no mundo capitalista. O quantum de dinheiro indicará o valor
da sua mercadoria. O amor, apesar de não poder ter a quantificação de uma mercadoria de uso, isto é, quantificável, acaba, pelas
contingências de um mercado, sendo qualificado e tarifado, isto é, entificado pelo discurso econômico. A consequência lógica é a
estipulação objetiva da obrigação, e sua quitação. Paga-se para não se relacionar, para se manter a distância. A demanda judicial
pode ser o sintoma de um balbuciado pedido de ajuda, para o qual o judiciário não pode ser o destinatário, por não ocupar o lugar,

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que é do analista.
É possível perceber do supracitado que o autor não admite a possibilidade de reparação por falta de afeto, pois afirma
que os sentimentos não são passiveis de mensuração pecuniária e que se esse tipo de conduta for aceita as pessoas passaram
tarifar o amor e os pais irão pagar o preço cobrado na justiça para não ter mais a obrigação de convivência com aquele filho, portanto
gerando um efeito contrário onde se objetivava  uma aproximação ter-se-á uma distância ainda maior. Para o autor a judicialização
desta situação não é viável, pois estes tipos de sequelas devem ser solucionadas por meio de terapia.
Outros autores também temem a monetarização do amor nesse sentido apregoam Reis e Simões (2011, p. 589):
A convivência familiar assegurada é aquela calcada no afeto. É a partir da afetividade que a convivência familiar
fundamental se presta a contribuir de maneira positiva na formação do ser humano. Em tempos em que se vive a despatrimonialização
das famílias, há que se ter muita cautela para que os sentimentos de amor, cuidado e afeto não sejam monetarizados. Amor
não se impõe e muito menos se impõe por meio de cominações pecuniárias. O maior cuidado, portanto, reside no fato de que
a responsabilização não pode servir de meio para obter lucro quando ocorrer a falta de afeto, mas, sim, deve-se ponderar pela
ponderação e punição em caráter pedagógico. Inconcebível a industrialização do dano moral e consequente banalização das
relações familiares. O mundo de hoje, mais do que nunca, reclama por famílias unidas pelos laços de amor e não de dor pela busca
do afeto recíproco e não desafeto e vinganças mesquinhas, a esperanças de se ter um contato físico e emocional e não só dinheiro
recheando o patrimônio. O dinheiro não cessa a dor na alma pela falta do pai, da mãe...
Se a família é fundamental para a boa formação do indivíduo, então ela deve ser regulada como tal, com as
particularidades que exige por tratar de relacionamentos humanos, servindo de exemplo para toda a convivência em sociedade.
Reconheço a evolução do direito de família e do instituto da responsabilidade civil no direito brasileiro, porém há questões que
jamais poderão ser tuteladas pelo Judiciário, o amor é uma delas. O afeto não pode ser objeto de uma ação.
Além disso, defende-se a participação dos profissionais da psicologia nas demandas que envolverem a temática em
comento é o que se vê do que apregoa Matzenbacher ( 2009, p.68):
O judiciário, com o juiz exercendo o poder jurisdicional de julgar a lide de filhos em busca de indenização pela prática
de alienação parental, sem o auxílio de profissionais da psicologia, somente julga, sem dar à sociedade a resposta satisfatória,
proteção à criança e ao adolescente e à própria família.
Percebe-se que a Autora até cogita a possibilidade de reparação por danos morais decorrentes de práticas de alienação
parental, desde que a demanda seja devidamente acompanhada de psicólogos que têm a capacitação de constatar os verdadeiros
prejuízos sofridos pelo abandonado.
Assim, seria viável apostar em outras alternativas para esta problemática conforme percebe-se do que
leciona  Matzenbacher ( 2009, p. 68):
A mediação, método extrajudicial de resolução de conflitos é uma das alternativas encontrada para realizar os objetivos
constitucionais de proteção à família e integral proteção ao desenvolvimento psicológico da criança e adolescente pela retomada da
comunicação entre pai e filho, a abertura do diálogo, o afloramento dos sentimentos pela revelação dos interesses, possibilitando a
reestruturação da relação familiar futura e o retorno ao status quo ante.
Em suma, o Judiciário precisa ter uma atitude firme fazendo valer e concretizar a Lei de Alienação Parental e
responsabilizando os pais que a infringirem. O juiz pode reforçar a atividade do Estado, pois a SAP é uma forma de abuso do poder
familiar e de desrespeito aos direitos e garantias da criança em formação da sua personalidade, o que viola nitidamente o princípio
da dignidade da pessoa humana.

Assim, o magistrado utilizar o seu poder geral de cautela tomando as providências necessárias à efetividade dos
dispositivos aplicáveis a cada caso concreto.

REFERÊNCIAS

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IGUALDADE E DIGNIDADE: OS DOIS SUSTENTÁCULOS CONSTITUCIONAIS POSTO EM XEQUE DURANTE A ALIENAÇÃO
PARENTAL

Álvaro de Oliveira Azevedo Neto14*

Jaqueline Maria de Vasconcelos15**

RESUMO

O presente artigo busca descrever de forma pontual a evolução do instituto família e suas diversas fases históricas. Verifica-
se que a saída da concepção do pátrio poder para o poder familiar foi lenta e gradativa e necessitou de pressões religiosas e
socioeconômicas para a atual configuração. Hodiernamente, a mulher emancipa-se dos moldes patriarcais. Não se sujeita ao
exclusivo título de mãe e aos arbitrios do marido, acarretando um aumento de lutas judicialmente travadas para obtenção da
guarda dos filhos. Devido a toda uma tradição, a mãe passa a ser a guardiã da prole. Entreteando, revestida pelo sentimento
de raiva e abandono, cultiva em seus filhos sentimentos abomináveis relacionados ao pai, acarretando um distúrbio afetivo
conceituado como Síndrome da Alienação Parental. A implantação de falsas memórias constitui o nível mais crítico da Alienação
Parental, pois a criança acredita ter sofrido abuso sexual e a denúncia de pedofilia ou incesto é feita. Nota-se que nesses casos
o princípio da Dignidade da Pessoa Humana é infimamente maculado e dificilmente reparado. Constitui dever do Estado e de
toda a sociedade assegurar, dentre tantos os direitos, à dignidade a criança e ao adolescente e o meio mais justo de prevenir
a Alienação Parental é a imposição do Princípio da Igualdade nas relações familiares através do instituto conceituado como
Guarda Compartilha. Ademais, não deve o Estado se eximir de culpa pelas consequências decorrente da Alienação Parental,
tendo em vista a obrigação de proporcionar profissionais tecnicamente capacitados para identificar a correta tipicidade do fato.

Palavras chave: Evolução do Conceito de Família. Dissolução da Sociedade Conjugal. Alienação Parental. Princípio da Igualdade.
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

14 *
Doutor em Direito, com concentração na linha de Neoconstitucionalismo, pela Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente é professor e
Coordenador Acadêmico do curso de Direito da Faculdade Boa Viagem, professor da Pós-Graduação em Direito da Faculdade Boa Viagem e da Escola
Superior de Advocacia, professor do Centro Universitário UNIFAVIP e do curso de Direito Centro Universitário Maurício de Nassau. aneto7@fbv.edu.br
15 **
Aluna do 5° período da graduação em Direito da Faculdade Boa Viagem. Integrante do Projeto de Iniciação Científica – PICT/FBV e Monitora em
Direito Constitucional. jmv.direito@outlook.com

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Alienação Parental – Além da Lei (o poema)

Qual é o sentido de ser deixado só?


Qual é o significado de
virar joguete de quem o criou?
O que faz alguém transformar
o fruto do amor
em uma forma para torturar
alguém a quem já se entregou?
Como imputar tamanha dor
a quem não pediu sequer
para vir ao mundo viver
ou provar o seu sabor?
Quando filhos viram massa,
só se construi um muro de tristeza;
Quando filhos viram moeda,
só se paga o preço do rancor;
Quando filhos viram brinquedos,
só se joga o jogo do ódio;
Quando filhos viram propriedade,
só se é dono do seu próprio veneno…

Morte, tragédia, culpa,


homicídio doloso da inocência
isolamento, depressão,
raiva convertida em manipulação
roubo, furto, perda,
em pungente sede de não,
vítima que é assassina
também de seu próprio eu,
em uma Medéia que ensina
o avesso de amar o seu
para, ao mesmo tempo,
nunca mais ser de ninguém…

Não seja algoz de quem te ama.


Não seja cúmplice da frustração.
A vida vai além da lei e da cama
e o mundo não é só comiseração.
Se relacionamentos terminam,
filhos são para sempre…
Se partir é doloroso,
mas ainda é deixar de ser gente…

Rodolfo Pamplona Filho

INTRODUÇÃO

A didática do presente artigo debruçou-se propedeuticamente ao estudo da evolução do conceito de família. Na concepção
romano-cristã de família, o pai era a figura principal e nele era concentrado todo o poder e autoridade do grupo familiar. Sensíveis
modificações passaram a surgir no momento em que a Igreja Católica estatuiu o Cristianismo como religião oficial. Decorrente desse
momento, a espiritualidade e a afetividade paulatinamente adentrou no âmbito familiar.

No Brasil, viveu-se a era das Ordenações Portuguesas que trouxe encravado à família a tradição romano-cristã,
concedendo à mulher o papel exclusivo de mãe e ao homem o pátrio poder. Com o advento da República, as ordenações caíram
por terra, mas a mulher permanecia submissa ao homem. Não o bastante, o Código Civil de 1916 ainda taxava as mulheres como
relativamente incapazes.

Os movimentos sociais e tecnológicos, tais como a Revolução Industrial, a Primeira Guerra Mundial, os Movimentos
Feministas foram preponderantes para a aceitabilidade do papel da mulher na sociedade. A mulher passou a trabalhar para manter
a si e aos seus filhos, fazendo insurgir o sentimento de emancipação, de independência perante o homem. Importantes leis foram

58
criadas, tais como o Estatuto da Mulher Casada que revogou a capacidade relativa da mulher e a Lei do Divórcio.

Nessa transição de costumes e paradigmas o número separações aumentaram e o ordenamento jurídico teve que se
adequar as diversas modificações que influenciavam no seio familiar. Mas somente com o advento da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 e de princípios como a Igualdade e a Dignidade da Pessoa Humana que a noção de família modificou. A
família recebeu um teor democrático e cooperativo e os filhos que antes eram tidos como o objeto da relação matrimonial, passaram
a ser o foco de todos os holofotes.

Destarte, a maior discussão do divórcio passou a ser a guarda dos filhos e devido a tradição romano-cristã o pai era o
preterido da relação. A mulher que possui um histórico de luta pela igualdade, passa a se aproveitar desse jargão e não o bastante,
passa a utilizar os filhos como instrumento de vingança para atingir o ex-companheiro.

Observando essa sistemática o psiquiatra Richard A. Gardner16 em 1985 verificou um comportamento atípico comum às
crianças e adolescentes envolvidos no fim da sociedade conjugal. Gardner batizou essa anormalidade como Síndrome da Alienação
Parental (SAP) que possui como característica marcante o sentimento repugnante que os filhos passam a sentir pelo genitor que
não detém a sua guarda.

O mais elevado nível da Alienação Parental é conceituado como implantação de falsas memórias que consiste em uma
prática reiterada de ações que induzem a criança acreditar que sofreu abuso sexual. O genitor alienador não consegue distinguir
o que é verdade e o que é mentira, há um ciclo vicioso que não se contenta em fazer os filhos órfãos de pais vivos, tem que ainda
vilipendiar a sua imagem.

Há no processo da Alienação Parental uma verdadeira afronta a uma norma fundamental do Estado Democrático de
Direito: a Dignidade da Pessoa Humana. A prole e o genitor alienado são os mais lesados. A criança ou o adolescente pode
desenvolver graves distúrbios psíquicos que podem acarretar o suicídio devido a um futuro sentimento de culpa por ter, mesmo que
inconscientemente, pactuado da injustiça praticada com um dos seus genitores.

O genitor alienado é afastado de quem, possivelmente, mais ama e ainda é condenado pela sociedade por um incesto
que nunca praticou. Muitos são os que corroboram com a ideia da condenação do genitor alienador pelo crime de tortura. Entretanto,
a prisão pela prática da alienação foi vetada cabendo tão somente uma reparação civil pelos danos.

A forma encontrada pelos profissionais do Direito de Família para prevenir a Alienação Parental foi a aplicação do
Princípio da Igualdade no momento da disputa pela guarda dos menores. Resulta-se pois na criação do instituto chamado Guarda
Compartilhada, mas que ainda sim não é suficiente para inibir todas consequências derivadas da Alienação Parental se não houver
profissionais preparados para identificar e comprometidos com o estudo da Síndrome em questão.

1. Evolução do conceito de Família

Para compreender o instituto da família, pensar na própria evolução da sociedade se torna inevitável. Afinal a família
sofreu influências da época romano-cristã, da Revolução Francesa, da Reforma Social, do movimento feminista no século XX e
até mesmo da medicina ao proporcionar o que Guilherme Calmon Nogueira da Gama conceitua de “verdade biológica”: o teste de
paternidade.17

Na concepção romano-cristã, o pai era a autoridade, o chefe absoluto do grupo familiar. Essa centralização da família
patriarcal fez do matrimonio a essência da família. Sendo assim, só eram tidos como filhos os que nascessem na constância de um
casamento legítimo.18

No momento em que o Cristianismo é adotado como religião oficial do Estado Romano, inicia-se um longo processo de
modificação familiar. A Igreja Católica passa a considerar o casamento como sacramento e única fonte para o surgimento da família.
“No tempo do Império somente o casamento católico (in facie Ecclesiae) era conhecido, pois era essa a religião oficial do país.
Assim, apenas poderiam casar-se as pessoas que professassem a religião católica.”19
16 Richard Alan Gardner nasceu em 28 de abril de 1931. Muitas de suas obras são autoridade na área da
pedopsiquiatria, dentre elas “Parental Alienation Syndrome”, citadas como referência pela American
Psychiatric Association. Professor na Universidade de Columbia de 1963 a 2003, ele foi o primeiro nos Estados
Unidos a elaborar jogos que permitem a expresão da criança durante a avaliação. Impressionado pelos
comportamentos estranhos das crianças no contexto do divórcio, ele identificou certos mecanismos e publicou
sua primeira obra sobre a SAP em 1985.
17 CORRÊA, Marise Soares. A história e o discurso da lei : o discurso antecede à história. 2009. 465f. Tese (Doutourado em História). Pontifíca
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
18 Idem.
19 NORONHA, Maressa Maelly Soares; PARRON, Stênio Ferreira, 2012, p. 04. A evolução do conceito de família.

59
Nesse contexto, a figura central do pai é substituída pelo clero e ao se adentra no período pós-romano, a influência
da espiritualidade e do Direito germânico fez com que houvesse uma mudança de foco. Inicialmente se tinha um modelo familiar
autocrático que cedeu lugar ao modelo democrático e afetivo de família.20

No Brasil, devido as Ordenações Filipinas, era concedido às mulheres o papel exclusivo de mãe e aos homens o pátrio
poder. E mesmo no período da República, a mentalidade patriarcal permanecia fortemente arraigada na sociedade. Prova disso
21

foi à consagração da superioridade do homem sobre a mulher e sobre os filhos, concedido pelo Código Civil de 1916: “A esposa era
considerada relativamente incapaz, sendo equiparada aos pródigos, índios e aos menores entre 18 e 21 anos. O marido era o chefe
da sociedade conjugal e detinha o pátrio poder.”22

A educação fornecida para a mulher tinha como objetivo formar boas mães para criarem grandes homens. Contudo, o
momento crucial da incorporação da mulher à sociedade se deu com a Primeira Guerra Mundial, já que nesse momento histórico, as
mães tiveram que assumir o lugar dos pais23. A imagem de mãe delicada, dócil e dedicada aos afazeres domésticos foi substituída
por uma mulher forte, capaz de trabalhar para manter a si e aos seus filhos. Entretanto, essa metamorfose social gerou inquietação
e murmuras de que essa inclusão social da mulher poderia desestruturar a família.
O legislador inseriu no Código Civil de 1916 o dispositivo “que a mulher deveria ter autorização do marido para
poder trabalhar”, independentemente das condições econômicas que a mulher detivesse. Esse seria, pois, mais
adiante, o discurso dos congressistas contra o reconhecimento do direito da mulher ao voto, ou seja, “estender
o voto à mulher é uma idéia imoral e anárquica, porque no dia em que for convertido em lei, ficará decretada a
dissolução da família brasileira. A concorrência dos sexos nas relações da vida ativa anula os laços sagrados da
família.24

As modificações iniciadas durante a Revolução Industrial se tornaram substanciais após a Primeira Guerra Mundial.
Nesse momento, os preconceitos ainda amarrados às mulheres passaram a ser desatados. A paulatina evolução dos costumes
fez com que a mulher passa-se a reivindicar por espaço não só no mercado de trabalho, mas também por educação e pelos seus
direitos.

A partir do século XX, inicia-se a luta das mulheres por igualdade, fazendo insurgir o movimento feminista. Nesse período,
o Estatuto da Mulher Casada, Lei 4.121 de 27/08/1962, configurou uma das maiores conquistas. Dentre tantas modificações, uma
das mais notórias foi a revogação do princípio da capacidade relativa da mulher casada. Isso concedeu o pátrio poder a mulher nos
casos em que o seu marido fosse, por algum motivo, impedido. Além disso, a mulher passou a não necessitar da autorização marital
para trabalhar.25

Os anseios sociais fizeram com que o ordenamento jurídico brasileiro busca-se se adequar a crescente evolução seja
econômica, tecnológica, política. Destarte, o Estado passou a disciplinar a família como peça fundamental da sociedade, mas ainda
sim só conferia proteção estatal à família formada a partir do casamento. Somente com promulgação da Constituição Federal de
1988 que a concepção de família para o Direito de fato se transformou.

Antes da Constituição de 1988 o ‘status familiar’ só era concedido ao homem e a mulher que contraísse casamento. O
Código Civil de 1916 primava, a qualquer preço, pelo matrimônio e sancionava o cônjuge responsável pelo desquite, pois vinculava
o dever de prestar alimentos à ausência de culpa. “ Era, basicamente, o sacrifício da felicidade pessoal dos membros da família em
nome da manutenção do vínculo de casamento”.26

Com a Constituição Federal de 1988, adentrou no sistema jurídico brasileiro o princípio da dignidade da pessoa humana,
considerado por muitos doutrinadores o ponto de partida para a transformação do paradigma de família. Bolivar da Silva Telles
afirma que o princípio anteriormente mencionado deve ser compreendido como igual dignidade para todas as entidades familiares
e que seria indigno proporcionar tratamentos diferenciados aos diversos tipos de constituição familiar.27 Tem-se ainda o princípio da
igualdade que conferiu aos homens e as mulheres proteção igualitária, como também aos filhos adotivos e provenientes ou não do
casamento, o mesmo tratamento.

Não o bastante, o divórcio foi reconhecido como instrumento para a dissolução do casamento civil (§6º do art. 226 da CF)

20 CORRÊA. Op. Cit. p. 76


21 SCANDELARI, Thatyane Kowalski Lacerta. Família, o Estado e a Alienação Parental. In.ANIMA: Revista Eletrônica do Curso de Direito das
Faculdades OPET. Curitiba PR - Brasil. Ano IV, nº 9, jan/jun 2013.
22 VERSIANI, Tátilla Gomes; ABREU, Maryanne Et. al. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA
23 CORRÊA. Op Cit
24 Idem. p. 178 - 179
25 CAMPOS, Gleice. A Mulher na Evolução Legislativa do Direito de Família.
26 NORONHA. Op Cit. p.6
27 TELLES, Bolivar da Silvam, 2011. O Direito de família no ordenamento jurídico na visão codificada e constitucionalizada. Rio Grande do Sul.

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e as famílias constituídas através da união estável ou monoparental foram equiparadas em direitos e deveres ao casamento.28Não
se pode olvidar dos casais homoafetivos que sob os princípios constitucionais, também integram o conceito de família.
Em suma, pode-se concluir que a família, no antigo Código de 1916, era fundada sob o aspecto matrimonializado,
patriarcal, hierarquizado, heteroparental, biológico, como função de produção e reprodução e caráter institucional;
esse quadro reverteu-se com a Lex Fundamentallis de 1988, refletindo também no Código Civil de 2002, tornando-
se pluralizada, democrática, igualitária substancialmente, hétero ou homoparental, biológica ou socioafetiva, com
unidade socioafetiva e caráter instrumental.29

Nota-se que o conceito de organização familiar mudou. A mãe trabalha, estuda, projeta sua carreira e, com a evolução da
ciência, opta por ter ou não mais filhos devido aos mecanismos contraceptivos. A figura do pai é recriada, passa-se a serem mais
presente e capaz de cuidar dos filhos, com também dividir as atividades domésticas.30 Os filhos, que em tempos remotos eram tidos
como objeto de direito da instituição familiar, agora se tornam o foco principal, caracterizando-se como sujeitos de direito.

Hoje, o conceito de poder patriarcal é ultrapassado e não corresponde ao contexto da sociedade atual. Hoje, tem-se o
poder familiar que, como leciona Maria Regina Fay de Azambuja, implicam em obrigações, encargos e deveres de ambos os pais
em relação aos seus filhos.31

2. Dissolução da sociedade conjugal

A Lei do Divórcio (lei n. 6515, de 26.12.1977) acarretou uma maior aceitabilidade e facilidade do rompimento matrimonial.
Concomitante a isso, a luta feminista já havia surtido alguns efeitos e a necessidade de ser cada vez mais independente reduziu a
tolerância de submissão ao homem e fez com que o número de divórcios só aumentasse.

A dissolução do casamento, quase sempre paira na discussão acerca da guarda dos menores e a mulher que sempre
lutou por igualdade, passa a se aproveitar desse jargão. Se não, nota-se que de forma tradicional, após a ruptura do casamento, a
guarda era concedida a mãe, pois de forma histórica é atribuído a ela a concepção de responsável pelas atividades domésticas e
pelos filhos. Daí encontra-se “uma ausência de visibilidade do papel do pai, que muitas vezes é impedido ao direito de visita e do
necessário convívio”. 32

Nesse diapasão, enxergar a relação familiar com um olhar masculino se faz necessário. Por vezes, são levantadas
inúmeras bandeiras contra o machismo sem perceber que muitos dos seus fundamentos se tornou cultural. Tem-se uma tradição
arraigada na sociedade, na qual o homem não pode demonstrar fragilidade, emoção e sensibilidade. O sofrimento masculino deve
ser silencioso, sem muitas demonstrações de emoções o que acarreta a imagem de um “ pai excluído” e limitado ao pagamento de
pensões e esporádicos finais de semana.33

Desta forma, após a separação os genitores passavam a disputar a guarda dos filhos. Por largo lapso temporal, o pai só
ganhava o direito de visitar os seus filhos, geralmente, aos finais de semana.
Como encontros impostos de modo tarifado não alimentam o estreitamento dos vínculos afetivos, a tendência
é o arrefecimento da cumplicidade que só a convivência traz. Afrouxando-se os elos de afetividade, ocorre o
distanciamento, tornando as visitas rarefeitas. Com isso, os encontros acabam protocolares: uma obrigação para
o pai e, muitas vezes, um suplício para os filhos. 34

Não o bastante, as mulheres marcadas pela ruptura da vida conjugal eram consumidas pelo sentimento de abandono,
traição, rejeição e passavam a cultivar os piores sentimentos para com o seus ex-companheiros.35 Segundo a doutrina de Maria
Berenice Dias, os filhos passam a servir como instrumento de vingança pelo fim do sonho do amor eterno. Inicia-se um processo de
desmoralização e descrédito do pai, sendo realizada uma verdadeira “lavagem cerebral”, constituindo, tão somente, o início para o
desencadeamento da síndrome da alienação parental.

3. Alienação Parental

Em 1985, o psicólogo Richard Gardner passou a observar que as crianças e adolescentes envolvidos no litígio para o
fim da sociedade conjugal, passaram a apresentar uma espécie de distúrbio raramente visto anteriormente. Ele conceituou esse
fenômeno como Síndrome da Alienação Parental (SAP).
28 NORONHA; Et. Al. Op. Cit
29 NORONHA. Idem ibem p. 7
30 PAULO, Beatrice Marinho. Alienação Parental: Identificação, tratamento e prevenção. p.4
31 SCANDELARI. Op. Cit
32 CORRÊA. Op. Cit. p. 111
33 CORREA. Op. Cit p. 112
34 DIAS, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental. O que é isso? In. REVISTA DO CAO CÍVEL. Org. ALMEIDA, Raquel Correa. Belém, 2009,
p. 45.
35 PAULO, Beatrice Marinho. Alienação Parental: Identificação, tratamento e prevenção.

61
Nota-se que a alienação parental surgiu como resposta decorrente das diversas mudanças que a organização familiar
sofreu. Como visto antes tão ortodoxos, agora tão plurais. Para Gardner, as mulheres, chamadas de mães guardiãs, são as
principais responsáveis por induzir e manipular os filhos à alienação parental, acentuando e pormenorizando os defeitos do outro
genitor. Revestida do sentimento de vingança e rivalidade, fazem dos filhos um objeto capaz de atingir o ex-companheiro.36 Em
casos pontuais, a alienação parental pode se provocada devido a superproteção do genitor alienador que afasta todos que rodeiam
seu filho, inclusive o outro genitor.

Sob a interpretação do art. 2° da Lei 12.31837 que define alienação parental, compreende-se que a alienação parental não
é um ato promovido exclusivamente pela mãe ou pelo pai, mas sim por qualquer pessoa que possa interferir na formação psicológica
da criança ou do adolescente com o intuito de romper os laços afetivos com um dos genitores. Nesse sentido, observa-se o trecho
do acórdão que decidiu de forma unanime em negar provimento ao apelo dos avós maternos que pretendia obter a guarda da neta,
após o falecimento da mãe, e com isso provocava a alienação parental.
A guarda de VICTÓRIA foi deferida ao pai [...] Numa mistura de mágoa e rancor, os apelantes assumem a posição de
vítimas, procuram responsabilizar o apelado pelas mortes do neto e da filha, sem se dar conta de que, com isso, permitem
que esses sentimentos negativos embotem o amor que sentem pela neta, transferindo para ela o peso de ser o único
consolo dos avós velhinhos, a única coisa que restou da mãe. [...] Ao invés de se mobilizarem em desfazer da figura do
pai – ensejando a síndrome de alienação parental noticiada na petição e laudo de fls. 438/443, o que de melhor a família
materna fazer por esta menina é um esforço para superar as diferenças e se empenhar para que ela se sinta amada a
afetivamente amparada por todos aqueles a quem ama, inclusive o pai. Esse esforço é fundamental para evitar as graves
seqüelas da Síndrome de Alienação Parental, que podem se manifestar como depressão crônica, incapacidade de
adaptação em ambiente psico-social normal, transtornos de identidade e de imagem, desespero, sentimento incontrolável
de culpa, sentimento de isolamento, comportamento hostil, falta de organização, dupla personalidade a às vezes suicídio.
38

Seja ou não intencional, é a criança ou o adolescente quem mais sofre com a morte conjugal. Por vezes tem que optar
com qual dos genitores irá ficar e isso, de certa forma, configura uma forma de mensurar, ou melhor, quantificar o amor que sente
pela mãe ou pelo pai. Sem dúvidas, é um episódio desconfortável. Não o bastante, o genitor passa a se utilizar de chantagens do
tipo: “você vai deixar a mamãe sozinha, é ? A mamãe vai ficar triste”. A criança se sente impotente. Não quer ver a sua mãe triste,
mas ama o pai e também deseja ficar com ele.

A lei que dispõe sobre alienação parental ainda elenca de forma meramente exemplificativa algumas condutas típicas da
alienação parental. ( LIVRO) Tais como a desqualificação de um dos genitores no exercício da maternidade ou paternidade; mudar
de domicílio para um local distante sem uma justificativa plausível ou até mesmo não informar o novo endereço; dificultar o exercício
do direito de convivência familiar , assim como omitir informações pessoais relevantes sobre os filhos no tocante aos estudos, saúde
dificultando assim, o exercício da autoridade parental. 39

François Podevyn ainda apresenta atitudes comumente verificadas durante o processo alienatório, tais como: “a) Recusar
de passar as chamadas telefônicas aos filhos [...]; j) Envolver pessoas próximas (sua mãe, seu novo conjugue, etc.) na lavagem
cerebral de seus filhos[...]; q) Culpar o outro genitor pelo mau comportamento dos filhos.”40

A postura típica do genitor alienador é baseada em um alto nível de impulsividade, medo do abandono. Em alguns casos,
a obsessão de atingir o outro genitor é tamanha que há um desinteresse pelo filhos e a luta pela guarda passa a ser “ apenas um
instrumento de poder e controle, e não um desejo de afeto e cuidado “ ( p.37). Nota-se que não só o menor passa a necessitar de
tratamento psicológico. Mas também o alienante e o genitor alienado.

Decerto, como diz a Promotora de Justiça Raquel Pacheco: “ o maior sofrimento da criança não advém da separação em
si, mas do conflito, e do fato de se ver abruptamente privada do convívio com um de seus genitores, apenas porque o casamento
deles fracassou.”41

Com a alienação parental princípios como o melhor interesse da criança e do adolescente, da prevalência e convivência
familiar, da afetividade e da paternidade são infringidos.42O art. 3° da lei 12. 318 ratifica a necessidade de o Estado “empreender
diligências suficientes para amparo dos direitos e garantias fundamentais de sobrevivência e desenvolvimento humano”43 das
36 SCANDELARI. Op Cit
37 BRASIL. Lei 12. 318 de Agosto de 2010. Dispõe sobre a Alienação Parental.
38 BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível Nº 70017390972. Relator. DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS.
39 BRASIL. Lei 12. 318 de Agosto de 2010. Dispõe sobre a Alienação Parental.
40 PODEVYN, François. Síndrome da Alienação Parental. Traduzido para o espanhol: Paul Wilekens (09/06/2001). Tradução para o português: Apase
Brasil – Associação de Pais Separados do Brasil (08/08/2001). Disponível em: www.apase.org.br. Acesso agosto de 2014.
41 SOUZA, Raquel Pacheco Ribeiro de. A tirania do guardião . In: Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1191, 5
42 COIMBRA, Marta de Aguiar. Lei da Alienação Parental e a sua eficácia no ordenamento jurídico brasileiro. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n.
117, out 2013.
43 Idem.
62
crianças e adolescente que sofre de tamanho abuso moral.

3.1 Falsas memórias

Richard Gardner apresenta três estágios da alienação parental. Seriam eles o leve, o moderado e o grave. No estágio
considerado como leve da alienação parental, tem-se a desmoralização do genitor de forma discreta e uma suposta onda de
esquecimento toma conta do genitor alienador. “Esquece” de informa sobre os compromissos escolares e fala a criança que o outro
genitor poderia ter ido às festividades, mas não quis ou deu pouca importância e esqueceu. Nesse estágio é também comum criar
outras atividades e até mesmo lamentar a solidão que sente durante o período de visitação para que isso cause um sentimento de
remoço e faça com que a criança sempre tenha que tomar a difícil escolha entre a mãe ou o pai.44

No estágio moderado, “o genitor alienado é malvado e o outro é bonzinho”.45 Segundo Jorge Trindade46 são utilizadas táticas
de exclusão do outro genitor e além da intensificação dos atos do estágio inicial, a criança passa a apresentar um comportamento
inadequado e as visitas deixam de acontecer por motivações fúteis. No último estágio, os filhos já compactuam com a paranoia do
alienador. Ficam em pânico, gritam e choram com a ideia de ter que visitar o outro genitor. 47 Entretanto, a implantação de falsas
memórias, comum a está fase da alienação parental, é de todas as manipulações e artimanhas, a mais cruel.

Não é raro perceber em artigos e trabalhos acadêmicos o deslize de confundir alienação parental com falsas memórias.
Como visto, a alienação parental pode ou não ser intencional e sua finalidade é denegrir o outro genitor como também afastá-lo da
convivência com o filho.48 Já as implantações de falsas memórias são dadas através de sugestões fabricadas ou forjadas, de forma
total ou parcial, de fatos inverídicos. A criança passa a crer em um fato que nunca aconteceu, como por exemplo o abuso sexual, e
reage como se de fato tivesse acontecido. 49 Jorge Trindade ainda compreende que a síndrome de falsas memórias altera a função
mnêumica, ou seja, o desenvolvimento da memória. Segundo o mesmo autor, a síndrome da alienação parental, por sua vez, é um
distúrbio de cunho e objetivo meramente afetivo que devido a intensidade com que é provocada pode acarretar o surgimento das
falsas memórias.50

Maria Berenice ao tratar de incesto salienta que é o campo probatório o mais melindroso que permeia o abuso sexual
no ambiente familiar. A prova, por diversas vezes, se restringe à análise do discurso verbal da criança e do adulto. Essa prática, se
por um lado pode acarretar o aumento da impunidade, de outro estimula “falsas denúncias de abuso sexual, com a só finalidade
vingativa, principalmente em processos de separação, como forma de romper o vínculo de convívio paterno-filial.”51

Incesto, pedofilia ou síndrome da alienação parental, posto está o desafio para os tribunais. Afinal, quando o problema
chega às mãos Estado, encontra-se crianças com um enorme repúdio a um dos genitores ou ente familiar e até mesmo alegando
sofrer algum tipo de abuso. Por outro lado, tem-se advogados de defesa arguindo a existência de falsas memórias decorrentes da
alienação parental. O fato desencadeia uma das mais delicadas “situações do mundo jurídico, com o dever de tomar imediatamente
uma atitude e com o receio da denúncia não ser verdadeira.”52

O incesto é visto como uma das primeiras proibições do mundo civilizado, desta forma ele é mascarado e tido como um
ato praticamente inexistente. Maria Berenice afirma que o incesto não só existe, como também é guardado com status de segredo
de família, no qual é refletido nas estatísticas dos abusos denunciados que variam entre apenas 10 a 15%. “Em 69,6% dos casos,
é o pai biológico; em 29,8%, o padrasto; em 0,6%, o pai adotivo. Não há registro de abuso por pais homossexuais.”53

Como já visto, a lei 12.318 não restringe a prática de alienação parental a um determinado cônjuge ou ente familiar.
Entretanto, pesquisas demonstram que o índice de mães responsáveis pela alienação gira em torno dos 60% dos casos. As marcas
trazidas pelas falsas acusações são cruéis, pois a criança fica órfã de um pai vivo e o pai, por sua vez, sofre em equitativamente,
pois recebe um linchamento civil e ainda é separado do filho durante um longo processo que pode levar anos. 54

Caetano Lagrasta, desembargador e presidente da Coordenadoria de Projetos Especiais e Acompanhamento Legislativo


do Tribunal de Justiça de São Paulo, considera a implantação de falsas memórias como “diabólica” e defende a prisão do alienador
44 LOGANO, Vanessa Arruda. Formas de Alienação Parental. Ver. Npi/Fmr.
45 Idem, p. 7
46 TRINDADE Jorge Apud ROSA, Felipe Niemezewski, 2008. A síndrome de Alienação Parental nos casos de separações judiciais no direito civil
brasileiro.
47 LOGANO Op Cit
48 GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)? NET.
49 VELLY, Ana Maria Frota, 2010. A Síndrome de Alienação Parental: Uma visão jurídica e psicológica. Porto Alegre.
50 Trindade, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito – Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
51 DIAS, Maria Berenice. Incesto e a síndrome da alienação parental.
52 LONGANO, Vanessa Arruda. Formas de alienação parental. São Paulo, 2011, p. 8.
53 LONGANO. Op cit. p. 2
54 Idem. p.8

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que chega a tal estágio sob alegação de tortura. Em suas palavras: “Nestes casos fica evidente que o alienador tortura e a tortura é
crime previsto constitucionalmente, logo, a prisão do alienador-torturador deve ser aplicada.”55

Consolidada se encontra a jurisprudência para o reconhecimento de falsas memórias decorrentes da síndrome da


alienação parental. Tem-se em vista que é um dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, assegurando
assim o direito à convivência familiar ( art. 19 ECA), à liberdade e dignidade como pessoas em pleno processo de desenvolvimento
garantido pela Constituição Federal e pelo ECA ( art. 15), assim como o direito a participação na vida familiar, da inviolabilidade da
integridade física e psíquica e moral para que seja possível a preservação da imagem, da identidade, dos valores, crenças e ideais.56

Nesse sentido segue um excerto jurisprudencial que negou provimento a mãe que implantou falsas memórias na filha,
“segundo a menor de 07 anos, eu pai, além de bater maltrata-la, teria cometido abuso sexual e ao afirmar isso disse apontado com
dedo indicador para o meio de suas pernas ‘ele me machucou aqui’”57 e fez com que o filho relatasse maus tratos. Após diversas
perícias o Superior Tribunal de Justiça compreendeu que:
Pelo que se verifica, genitora vai continuar empregando todos os mecanismos par afastar os filhos do pai, pois conforme
se vê na petição de fls. 264, a genitora não permitiu o convívio das crianças com o pai nas datas festivas nem nas
férias, com dispõe o acordo em vigência, desrespeitando os limites do poder familiar: ‘A existência de limites configura
poder familiar não apenas com um poder (assim como era o pátrio poder), mas também com um dever dos pais. [...]
Por tudo isso, entendo que alteração da guarda é media que impõe como forma de salvaguarda as crianças da prática
manipuladora da mãe.58

Segundo Maria Berenice, a criança não consegue perceber que está sendo manipulada e com o transcorrer
do tempo, a implantação de falsas memórias gera um ciclo se torna vicioso, no qual nem mesmo a mãe consegue identificar
a diferença entre verdade e mentira.59 Chega-se à conclusão de que a família nem sempre é um ambiente direcionado aos
cuidados e amores e que o comando constitucional deve intervir para assegurar não só a proteção da criança e do adolescente,
mas também da dignidade da pessoa humana (filhos e genitores alienados) tão lesada durante a alienação parental.

4. Princípios Constitucionais que fundamentam a igualdade parental

Dentre os princípios constitucionais atingidos durante o processo da alienação parental, a pesquisa se concentra nos
pilares principiológicos da igualdade e da dignidade da pessoa humana. O primeiro princípio será direcionado à igualdade parental
que, como visto, por um longo lapso temporal foi lesado pelo poder patriarcal. O segundo princípio será compreendido sob a ótica
da prole e do genitor alienado que são lesados em sua dignidade durante os diversos níveis da síndrome em questão.

4.1 Igualdade

A Constituição da República Federativa do Brasil em seu art. 226, §§ 3º e 5º reconhece a igualdade entre homens e
mulheres no que tange à sociedade conjugal, constituída tanto pelo casamento quanto pela união estável. Sob a égide desse
princípio, tem-se a despatriarcalização da relação familiar, pois a figura paterna não mais exerce a dominação e o poder absoluto de
outrora. Observa-se que organização familiar é democrática e colaborativa, desaparecendo o conceito e a essência do pátrio poder,
permitindo que inclusive os filhos exponham suas opiniões.60

O princípio da igualdade aplicado no âmbito familiar se refere ao tratamento entre homem e mulher quanto à chefia da
sociedade conjugal. Nas palavras de Maria Berenice Dias: “A organização e a própria direção da família repousam no princípio da
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, tanto que compete a ambos a direção da sociedade conjugal em mútua colaboração. São
estabelecidos deveres recíprocos e atribuídos igualitariamente tanto ao marido quanto à mulher.”61

A expressão poder familiar é o a que mais se adequa a contemporânea concepção de família que devido ao advento
da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente ( ECA – Lei 8.069/1990 )
passou a ser guiado pelo princípio da igualdade. Conferindo assim, um caráter protetivo e um tratamento isonômico para ambos os
cônjuges. Para Carlos Roberto Gonçalves e Maria Helena Diniz o poder familiar é tido como múnus de direitos e deveres e que a

55 OLIVEIRA, Mariana PAES Cintia; NENO, Mylène . Crianças são usadas pelos pais no divórcio, dizem os juristas. São Paulo, 20120. In
G1.Disponível em: << http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/08/criancas-sao-usadas-pelos-pais-no-divorcio-dizem-juristas.html>>. Acesso em agosto de
2014
56 BRASIL. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente.
57 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência n° 94.723 –RJ ( 2008/0060262-5. Relator. Ministro Aldir Passarinho Junior.
58 Idem, Ibidem, p. 18 - 20
59 DIAS. Op cit ( incesto) p.7
60 TARTUCE, Flávio. Novos Princípios do Direito de Família Brasileiro.
61 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos  Tribunais, 2007, p. 63 Apud BUONO, Samantha.
Alienação Parental da Síndrome ao Fênome Jurídico. Cabo Frio, 2008.

64
convivência com um dos pais não concede a titularidade do poder familiar.62 O Código Civil de 2002 em seu art. 1.631 concomitante
ao art. 1.579 ratifica a permanência do poder familiar em casos de separação judicial, divórcio ou dissolução da união estável sem
que haja modificação dos direitos e deveres relacionados aos filhos.63

Para que se faça jus ao princípio da igualdade e também como forma de prevenir a Síndrome da Alienação Parental
recomenda-se a utilização da guarda compartilhada. De antemão, necessária se faz a distinção entre guarda alternada e guarda
compartilhada.

A própria dicção da expressão guarda alternada induz um teor antagônico e de alternância, ou seja, ora se está com o
pai, ora se está com a mãe. Segundo Grisard Filho, a guarda compartilhada não é saudável para a prole, pois haverá uma confusão
relacionada a qual orientação seguir e até mesmo qual moradia chamar de sua. Nessa mesma tendência segue à jurisprudência:
A guarda alternada, permanecendo o filho uma semana com cada um dos pais não é aconselhável pois
´as repetidas quebras na continuidade das relações e ambiência afetiva, o elevado número de separações
e reaproximações provocam no menor instabilidade emocional e psíquica, prejudicando seu normal
desenvolvimento, por vezes retrocessos irrecuperáveis, a não recomendar o modelo alternado, uma caricata
divisão pela metade em que os pais são obrigados por lei a dividir pela metade o tempo passado com os filhos´  (RJ
268/28).´ (TJSC - Agravo de instrumento n. 00.000236-4, da Capital, Rel. Des. Alcides Aguiar, j. 26.06.2000).64

A guarda compartilha, por sua vez, visa uma participação em nível de igualdade dos genitores nas decisões relacionadas
aos filhos. Há uma equidade de contribuições dos pais na formação dos filhos, seja educacional, moral, espiritual. Sendo assim, não
há privilégios para nenhum dos pais, mas sim a busca pelo melhor interesse do menor.65

Observa-se que a guarda compartilhada é a melhor maneira de prevenir a Alienação Parental.66 Esse instituto jurídico
regulamentado pela Lei Federal n° 11.698/2008 evita que os filhos venham a se afastar de um de seus pais e permite que tanto
a mulher quanto o homem possam ser titulares do princípio da igualdade e desta forma exercer, independente das contendas
existentes, o papel de pai e mãe.

4.2 Dignidades da pessoa humana

O princípio da Dignidade da Pessoa Humana está previsto no art. 1°, III da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, no qual garante ao ser humano a preservação da integridade física e psíquica. É a dignidade da pessoa humana
reconhecida como normas das normas, fundamento do Estado Democrático de Direito e protetora dos direitos fundamentais.

Devido ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, da afetividade, dentre outros, a dignidade da pessoa
humana, no processo de alienação parental, tem a visão direcionada para o menor. Entretanto, nesse processo de tortura emocional
tanto o genitor, quanto a prole alienada são intimamente lesados em sua dignidade.

Afinal, não se pode olvidar do sofrimento dos genitores que se separam de forma brutal de seus filhos, que sofrem
falsas denúncias de abuso sexual e ainda são repudiados pela sociedade. Independentemente da idade, status social, econômico,
acadêmico os genitores são simples pais ou mães que diante de tal situação se sentem impotentes, incapazes e tão vítimas quanto
os próprios filhos.
Acredito que muitos saibam da importância da convivência de um pai com seus filhos e que, quando este é
impedido, o sofrimento causado para ambas as partes é imenso e doloroso. Não vejo minha filha desde julho de
2012 (...) Meu maior desejo é que ela tome conhecimento de que jamais vou desistir de lutar por esse amor e pelo
direito que toda criança tem do calor paterno de seu verdadeiro pai.67

Esse relato faz parte de uma entrevista com o químico Rafael Teixeira Freire para o portal do Tribunal de Justiça do Mato
Grosso. O químico afirma que não pleiteou na Justiça a guarda da filha, nem mesmo a compartilhada, mas apenas o direito de vê-la
que mesmo obtendo judicialmente, a mãe não consente à visita: “Não estou pedindo a guarda, nem mesmo a compartilhada, tudo
o que desejo é ver minha filha, abraçá-la, ficar com ela, sentir seu cheiro... Nada mais.” 68
62 FONTELES, Celina Tamara Alves, 2014. A guarda compartilhada: um instrumento para inibir a síndrome da alienação parental. In Jus Navigandi.
63 LÔBO, Paulo. Do poder familiar.In Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1057, 24 maio 2006.
64 BONFIM,PauloAndreatto. Guardacompartilhadaxguardaalternada:delineamentosteóricosepráticos. In.JusNavigandi,Teresina, ano10, n.815, 26 set. 2005.

65 Idem.
66 NÚÑEZ, Carla Alonso Barreiro, 2013. Guarda Compartilhada: Um Caminho para Inibir a Alienação Parental.
67 PINHEIRO, Janã; POLIPPO, Juliana. Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso. In Notícias. Disponível em << http://www.tjmt.jus.br/Noticias/
Imprimir/29632 >>. Acesso em agosto de 2014
68 Idem

65
A Constituição Federal assegura à criança, dentre outros, o direito à dignidade e dentro do ambiente familiar é que a
criança ou o adolescente pode constrói sua personalidade para a concretização de uma vida digna. A alienação parental, por sua
vez, se torna inaceitável não só por afrontar princípios constitucionais e direitos da criança e do adolescente, mas expor pessoas
ainda tão vulneráveis e pleno desenvolvimento a graves consequências psicológicas. 69

No último estágio da alienação parental, muitas vezes caracterizado pela implantação de falsas memórias, o juiz toma
medidas de proteção à criança e realiza o afastamento da prole com o genitor injustiçado. Observa-se que neste momento, no qual a
criança ou o adolescente necessita do aparato do Estado para resguardar os interesses, tem-se profissionais do Direito, psicólogos,
peritos sem um preparo técnico e emocional para lidar com a situação e identificar os verdadeiros casos de alienação parental e de
abuso sexual.70

As crianças envolvidas no processo de falsas memórias podem sofrer de patologias afetivas, sexuais ou psicológicas,
assim como as que de fato sofreram abuso sexual. As consequências da alienação parental não possuem um rol taxativo, mas
os efeitos são direcionados a produzir uma tendência ao isolamento, a depressão, incapacidade de comunicação. Por vezes,
pessoas que foram vítimas da alienação parental passam a desenvolver um sentimento de culpa, quando adultas, por se considerar
cúmplice mesmo que de forma inconsciente da injustiça praticada contra o genitor alienado, podendo acarretar transtornos psíquicos
resultando no suicídio.71

Deve-se iniciar a reinvindicação do Princípio da Igualdade e Dignidade da Pessoa Humana pela base do ser humano
chamada de família. Nota-se que o egoísmo e o desejo por vingança podem fazer com que o instituto família não seja caracterizado
como um ninho de afeto, companheirismo e amor. Mas sim como um ambiente hostil e capaz aviltar uma vida digna. Sendo assim, é
indubitável a necessidade de uma seriedade no estudo da Alienação Parental e de profissionais que não se limitem à propedêutica
da temática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem generalidades, casais unem-se jovens, em pleno ápice das fervorosas emoções. Por diversas vezes, acredita-se
estar diante do homem ou da mulher de suas vidas. Entretanto, o “era uma vez” nem sempre termina com um “final feliz”. Descobre-
se que o castelo era de areia, que o príncipe era um sapo e que a fada encantada, na verdade, era uma bruxa. Amores chegam ao
fim, o ódio, o rancor e o sentimento de rivalidade tomam lugar e passam a ser os protagonistas desse novo cenário.

Os filhos persistem como prova do momento lúdico e como forte elo entre o casal, ensejando à alienação parental. Como
visto, a Síndrome da Alienação Parental não é um fenômeno novo, inédito ao Século XXI. A emancipação da mulher e a evolução
do mundo moderno modificou não só conceito, mas a própria organização e estrutura familiar. Passou-se por uma verdadeira
metamorfose e a busca pela igualdade constituiu o elemento propulsor dessa transição. Como visto, a igualdade concedida foi
aparente, pois por largo lapso temporal olvidou-se da igualdade parental demonstrando que a prática judiciária não consegue
acompanhar a globalização.

Se não, nota-se a inércia e o desdém estatal que somente sancionou a Lei que dispõe sobre a Alienação Parental em
2010. A Lei define o conceito e exemplifica características comuns à Alienação Parental, estipula que qualquer indivíduo, mãe,
pai, avós, podem ser os responsáveis pela prática alienante e lista uma série de medidas que podem ser tomadas a título de
atenuação dos efeitos da síndrome. Entretanto, observa-se na jurisprudência que os profissionais militantes da área do Direito de
Família (operadores do direito, psicólogos, peritos), por vezes, desconhecem a profundidade e as graves consequências do tema
em questão. Essa incompetência técnica pode aumentar a injustiça levando um inocente à prisão e proporcionando a satisfação do
psicopata alienador. Não o bastante, a luta histórica pela igualdade parental cai por terra e Dignidade da Pessoa Humana é dupla
e continuamente afetada.

A presente pesquisa constata a carência não só de profissionais, mas também de pesquisadores predispostos a debruçar-
se sobre a temática. A Alienação Parental por ser mascarada pelo “bondoso” genitor se torna um crime silencioso que só demonstra
sua verdadeira faceta em seu estágio cruel, proporcionando aos alienados uma vida indigna de ser chamada vida.

69 GUILHERMANO, Juliana Ferla. Alienação Parental: Aspectos Jurídicos e Psíquicos. In Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, aprovado
com grau máximo pela banca examinadora composta pela Profª.Dra. Orientadora Marise Soares Corrêa, Profª. Me. Maria Cristina da Rosa Martinez e Profª.
Me. Alice Costa Hofmeister, em 29 de junho de 2012.
70 MAZZONI, Henata M.O; MARTA, Taís Nader. Alienação Parental. In Revista Eletrônica Direito: Família e Sociedade – Volume 1 – n° 1- 2011.
Disponível em <http://www.uninove.br/marketing/sites/publicacaofmr/pdf/drt/AODIR02.pdf >. Acesso em agosto de 2014
71 Idem

66
Referências

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Teresina, ano 10, n. 815, 26 set. 2005. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/7335>. Acesso em: 28 ago. 2014.

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Soares Corrêa, Profª. Me. Maria Cristina da Rosa Martinez e Profª. Me. Alice Costa Hofmeister, em 29 de junho de 2012. Disponível
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67
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___________ Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito – Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.

VELLY, Ana Maria Frota, 2010. A Síndrome de Alienação Parental: Uma visão jurídica e psicológica. Porto Alegre. Disponível
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VERSIANI, Tátilla Gomes; ABREU, Maryanne Et. al. A Evolução do Conceito


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viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxhbGllbmFjYW9wYXJlbnRhbHxneDoyMDY4YTVkNzRiZjcyNWIx > Acesso
em agosto de 2014.

68
ALIENAÇÃO PARENTAL: PORQUE NÃO É CRIME?

AUTORA: Larissa Maria Caló Mesquita – Aluna

COAUTOR: Fernando Tasso de Souza Neto - Professor

RESUMO: Síndrome de Alienação Parental (SAP), é o termo proposto por Richard Gardner em 1985 para a situação em que a
mãe ou o pai de uma criança ou adolescente o induz à romper os laços afetivos com o outro genitor, criando fortes sentimentos de
ansiedade, angustia, desprezo e desapego em relação ao outro genitor. Os casos mais comuns da Síndrome da Alienação Parental
estão associados a situações onde houve a separação dos genitores, e quando há um sentimento de vingança por parte de um dos
genitores, quando este não consegue aceitar a separação, desencadeia um processo de destruição, vingança, desmoralização e
descrédito do ex-cônjuge, neste processo o filho é utilizado como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro. A SAP é
prática abominável, é uma espécie de Bullying praticado nas relações familiares e que deve ser combatido, pois representa uma
prática brutal com consequências incalculáveis para o psicológico, do filho de qualquer idade. No Brasil, já existe uma lei de nº
12.318/2010, que trata de vários aspectos, dessa síndrome, mais falha no ponto de punir o genitor alienante, que nem sempre é o
que tem a guarda, o Art. 10, que na redação original do Projeto de Lei N° 20/2010 (4.053/08 na Câmara dos Deputados) incluía um
parágrafo único ao crime tipificado no Art. 236 do Estatuto da Criança e do Adolescente, fazendo incorrer nas mesmas penas do
caput (detenção de 6 meses a 2 anos) aquele que apresentasse relato falso ao agente indicado no caput ou à autoridade policial
cujo teor pudesse ensejar restrição à convivência de criança ou adolescente com genitor, foi vetado pelo Presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, com a fundamentação no fato de que o Estatuto da Criança e do Adolescente já contemplaria mecanismos de punição
suficientes para inibir os efeitos da alienação parental, como a inversão da guarda, multa e até mesmo a suspensão da autoridade
parental. Assim, não se mostraria necessária a inclusão de sanção de natureza penal, cujos efeitos poderiam ser prejudiciais à
criança ou ao adolescente, detentores dos direitos que se pretende assegurar com a nova lei. Será que as formas de punição
prevista dão solução para esse Síndrome? Será que os filhos alienados seriam mais prejudicados psicologicamente do que já estão,
se com seu genitor alienante for punido penalmente?

PALAVRA-CHAVE: Alienação Parental. Veto Presidencial. Criança e Adolescente. Crime.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo sobre a necessidade de tipificação penal da alienação parental, sendo necessária
uma forma punitiva penal para coibir as condutas alienadoras, vislumbrando uma ação penal efetiva, corroborando com a esfera
civilista, e analisará a eficiência dos meios punitivos introduzidos pela Nova Lei de Alienação Parental.

Em 26 agosto de 2010 foi promulgada a Lei de nº 12.318, permitindo aos operadores de direito utilizarem-se deste dispositivo,
no intuito de amenizar esta prática alienadora. A referida prática se apresenta quando da ruptura da relação familiar e da disputa da
guarda dos filhos. O rompimento conjugal faz nascer em um dos cônjuges sentimentos torpes, ao ponto de utilizar seu próprio filho
como instrumento de vingança.

No início do trabalho procura-se dar uma breve explanação do fenômeno da alienação parental, bem como as consequências
para a sociedade do desconhecimento de tal prática. O conceito de família na atualidade também deve ser comentado para se ter
uma melhor compreensão do que levam as pessoas a praticarem a alienação.

Observa-se que, várias vezes, há um abismo entre o sistema legislativo e o judiciário, o que torna as normas não eficientes
dentro da ordem jurídica e com pouca operabilidade para a sociedade. O objetivo do trabalho é observar a eficiência na aplicação
dos meios punitivos da nova lei de alienação parental, por tratar-se de um assunto novo e delicado, e que o Poder Judiciário ainda
não está preparado para aplicação efetiva destes dispositivos, e por outro lado a sociedade, que ainda não sabe o que é a Alienação
Parental, ou como impedi-la.

O intuito é de que os juristas e a sociedade tenham um novo olhar jurídico sobre a alienação parental, demonstrando a
necessidade essencial da sua tipificação penal, como única maneira de coibir as ações desenfreadas do genitor alienador. Saindo
da zona de conformo do direito civil, e criminalizando a alienação parental.

SEÇÃO 1 SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

69
1.1 CONCEITO

“Síndrome de Alienação Parental (SAP)”, é o termo proposto por Richard Gardner em 1985, é um processo que consiste em
programar uma criança para que odeie um de seus genitores sem justificativa, para romper os laços afetivos com o genitor-alienado,
criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao genitor-alienado. Quando a Síndrome está presente, a criança dá
sua própria contribuição na campanha para desmoralizar o genitor-alienado.

Os casos mais frequentes da Síndrome da Alienação Parental estão associados a situações onde a ruptura da vida conjugal
gera, em um dos genitores, uma tendência vingativa muito grande. Quando este não consegue elaborar adequadamente o luto
da separação, desencadeia um processo de destruição, vingança, desmoralização e descrédito do ex-cônjuge. Neste processo
vingativo, o filho é utilizado como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro.

1.2 IDENTIFICAÇÃO DA SINDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

É importante que seja detectada a síndrome o quanto antes, pois quanto mais cedo ocorrer a intervenção psicológica e
jurídica, tanto menores serão os prejuízos causados e melhor o prognostico de tratamentos para todos.

Segundo ressalta TRINDADE (2010, p.26):


O primeiro passo é identificar a Síndrome de Alienação Parental. Para isso é necessária informação. Depois, é importante dar-se conta
de que a Síndrome de Alienação Parental é uma condição psicológica que demanda tratamento especial e intervenção imediata. De
fato, a Síndrome exige uma abordagem terapêutica especifica para cada uma das pessoas envolvidas, havendo a necessidade de
atendimento da criança, do alienador e do alienado.

O filho pode assumir uma postura de se submeter ao que o alienador determina, pois teme que se desobedecer ou desagradar,
poderá sofrer castigos e ameaças. A criança criará uma situação de dependência e submissão às provas de lealdade, ficando com
medo de ser abandonada do amor dos pais.

Ocorre um constrangimento para que seja escolhido um dos genitores, trazendo dificuldades de convivência com a realidade,
entrando num mundo de duplas mensagens e vínculos com verdades censuradas, favorecendo um prejuízo na formação de seu
caráter.

A identificação da síndrome da alienação parental e as respectivas providências cabíveis são fundamentais para o bem estar
do menor, visando evitar prejuízos maiores que tal situação pode acarretar.

Podevyn (2001) conceitua bem esses conflitos com uma explicação sobre a identificação da síndrome:
Para identificar uma criança alienada, é mostrada como o genitor alienador confidencia a seu filho seus sentimentos negativos
e às más experiências vividas com o genitor ausente. Dessa forma, o filho vai absorvendo toda a negatividade que o alienador
coloca no alienado, levando-o a sentir-se no dever de proteger, não o alienado, mas, curiosamente, o alienador, criando uma ligação
psicopatológica similar a uma “folie a deux”. Forma-se a dupla contra o alienado, uma aliança baseada não em aspectos saudáveis da
personalidade, mas na necessidade de dar corpo ao vazio.

O comportamento típico de quem aliena é muito criativo e com isso dificulta uma listagem fechada das condutas que podem
ser tipificadas como alienação parental. Assim como é difícil descrever todos os comportamentos que diz respeito à conduta do
alienador, conhecer seus sentimentos também não é tarefa nada fácil, praticamente impossível.

Porém, existe um denominador comum, num entendimento que prevalece o sentimento de ódio sobre o sentimento de
amor, ou seja, Metaforicamente, podemos dizer como Galimberti: “te odeio porque te amo. Te denigro para poder continuar vivendo
contigo.”

1.3 ASPECTOS PSICOLÓGICOS RELEVANTES

É importante, antes de diagnosticar a SAP, estar seguro que o genitor alienado não mereça, de forma nenhuma, ser rejeitado
e odiado por comportamentos depreciáveis. Deve-se confiar a tarefa a um psicólogo ou psiquiatra que conheça ou que tenha
estudado esse tipo de síndrome. É preciso que os genitores passem por uma série de testes psicológicos.

“Nos manuais para pais e profissionais, Gardner apresentou uma descrição detalhada do fenômeno identificando uma gama
de comportamentos das crianças e dos genitores:”

1.3.1. Genitor Alienador

É difícil caracterizar o perfil de um genitor alienador, mas é possível denotar através de seus comportamentos e traços de
sua personalidade, características de um genitor alienador, tais como: dependência, baixa autoestima, condutas de desrespeito às

70
regras, hábito costumeiro de atacar as decisões judiciais, litigância como forma de manter aceso o conflito familiar e de negar a
perda, etc. (TRINDADE, 2010. p. 26).

Apesar de caracterizar o alienador quase sempre como genitor, como ainda vamos ver, a Lei 12.318/2010 em seu artigo 2º,
relata que a prática de alienação pode ser configurada por parte de outros parentes, como os avós.

Neste sentido preceitua Barbara Heliodora de Avellar Peralta Brito (2008,p.4) :


Normalmente é a genitora quem exercer tal manipulação, mas é claro que não se trata de uma regra, pois há casos inclusive de avós
maternos como alienadores. No entanto o objetivo desta conduta detestável é exclusivamente destruir a relação pai e filho, através
da manipulação da criança em odiar o genitor(a).

Jorge Trindade (2010, p. 27), no que se refere à conduta do alienador, posiciona-se definindo-o como um ser muito criativo,
sendo difícil estabelecer uma lista fechada destas condutas, porém pontua as mais comuns. São elas:

§ Apresentar o novo cônjuge como novo pai ou nova mãe;

§ Interceptar cartas, e-mails, telefonemas, recados, pacotes destinados aos filhos;

§ Desvalorizar o outro cônjuge perante terceiros;

§ Desqualificar o outro cônjuge para os filhos;

§ Recusar informações em relação aos filhos;

§ “esquecer” de transmitir avisos importantes/ compromissos;

§ Culpar o outro genitor pelo mau comportamento do filho;

§ Tomar decisões importantes sobre os filhos sem consultar o outro e etc.

Todos os comportamentos exemplificados, quando ocorrem com frequência, constituem-se em um valioso conjunto de
evidências na identificação do genitor alienador, caracterizando a presença da SAP.

Resta evidente que mediante a realização destas condutas o genitor alienado é excluído da rotina dos filhos, tornado difícil á
sua convivência com o filho vitimado.
No que tange aos sentimentos que leva o genitor alienador a praticar tal ato, é uma forma difícil de descrever, assim como caracterizar a
conduta de um alienador parental. Contudo os sentimentos de um alienador são voltados para prevalência do ódio sobre o sentimento
de amor. (TRINDADE, 2010. p. 29)

E sedimenta José Trindade (2010, p. 30), ao descrever alguns sentimentos próprios do genitor alienador, sendo eles:

§ Inveja e ciúmes;

§ Destruição, ódio e raiva;

§ Superproteção dos filhos;

§ Medo e incapacidade perante a vida, ou poder excessivo.

1.3.2. O Filho Vitimado

Diante da separação dos genitores, a guarda do menor é determinada privilegiando sempre o interesse do menor. Se for
decidida pela guarda compartilhada os efeitos da alienação parental serão minimizados, mas não excluídos.

Em consonância com a doutrina de Pamela Couto, “em situações relacionais mal resolvidas o que deve ser observado,
independente da figura do alienador, é de que forma prejudicial afeta o desenvolvimento psicológico da criança.”

As consequências são de toda ordem, contudo expressa Juliana M. de Abreu (2011) algumas provenientes da alienação
parental:
Quando um dos genitores impede, sem justo motivo, que o outro conviva com o seu filho ou quando faz a criança acreditar que não é
amada pelo pai ou pela mãe, a criança pode passar a apresentar comportamentos diferentes do usual. Essa mudança ocorre devido
ao sentimento de tristeza ou de revolta, provocado pela alienação parental.

Em concorrência com estes fatores, aparece ainda outros que denotam socialmente que a criança passa por alguma situação
problemática, como baixo rendimento escolar, ansiedade, agressividade, desenvolvimento de fobia social, dentre outros sentimentos
que estão presentes na vida da criança que sofre com a alienação parental.

71
Resta evidente, que o filho ao desenvolver um vínculo afetivo maior com aquele que convive diariamente, o genitor guardião,
fará de tudo para não desapontá-lo e o efeito danoso daquelas palavras do alienador toma forma de efeito dominó dando sequência
aos maus-tratos de filho para genitor.

“Quando adulto percebe-se que estava sendo manipulado por um dos genitores para que se afastasse do outro, gerando
assim um sentimento de culpa, e segundo Juliana M. de Abreu:”
O adulto que sofreu com a alienação parental durante a sua infância corre o risco de repetir o mesmo comportamento do pai ou da
mãe que alienou o ex- cônjuge, pois o genitor alienador foi o principal modelo de conduta que a criança teve durante sua infância e
adolescência.

A busca maior seria para evitar as consequências para o filho, e consequentemente, para o genitor alienador, para tudo isto
se faz necessário entender as características da alienação parental.

“Segundo Gardner, a síndrome é caracterizada por um conjunto de oito sintomas que aparecem na criança. Estes incluem:”

§ Campanha de difamação e ódio contra o genitor alienado;

§ Racionalizações fracas, absurdas ou banais para justificar esta depreciação e ódio;

§ Falta da contrariedade usual sobre o genitor alienado;

§ Afirmações fortes de que a decisão de rejeitar o genitor alienado é só dela (fenômeno “pensador independente”);

§ Apoio ao genitor favorecido no conflito;

§ Falta de culpa quanto ao tratamento dado ao genitor alienado;

§ Uso de situações e frases emprestadas do genitor alienante; e

§ Difamação não apenas do genitor alienado, mas direcionada também para à família e aos amigos do mesmo.

Gardner divide a SAP nos níveis leve, moderado e grave. O número e a severidade dos oito sintomas aumentam conforme o
nível de gravidade da doença, e o manejo da síndrome varia de acordo com ela. Embora o diagnóstico de SAP seja feito com base
na sintomatologia das crianças, Gardner afirma que qualquer mudança na custódia deve se basear essencialmente no nível dos
sintomas do genitor alienante.

Em casos leves, existe alguma programação parental contra o genitor alienado, mas pouca ou nenhuma perturbação das
visitas, e Gardner não recomenda a visitação judicial.

Em casos moderados, há mais programação parental e uma maior resistência às visitas com o genitor alienado. Gardner
recomendou que a custódia preliminar permaneça com o genitor alienante, caso haja expectativa de interrupção da lavagem cerebral.
Caso contrário, a custódia deve ser transferida para o genitor alienado. Além disso, foi recomendada terapia com a criança, com
objetivo de parar a alienação e corrigir o relacionamento danificado com o genitor alienado.

Em casos graves, as crianças apresentam a maioria ou todos os 8 sintomas, e se recusam firmemente a visitar o genitor
alienado, inclusive ameaçando fugir ou suicidar caso a visitação seja forçada. Gardner recomendou que a criança seja retirada da
casa do genitor alienante e permaneça em uma casa de transição antes de se mudar para a casa do genitor alienado. Além disso,
recomenda-se terapia.

A intervenção proposta por Gardner para os casos moderados e severos, que inclui transferência de custódia, multas e prisão
domiciliar para o genitor alienante.

Nas situações exemplificadas acima por Gardner, ele entende que o genitor alienante é o genitor guardião, deixando claro
que esse é a regra mais para toda regra á uma exceção, lembrando que alienador é aquele que coloca ou tenta colocar a criança ou
adolescente contra o pai ou a mãe, mais encontramos pais, avós tios e até babas causando o mesmo mal, isto é , o alienador pode
ser o genitor que não detém a guarde ou até mesmo qualquer outro parente.

1.3.3 Genitor Alienado

A vítima da alienação parental sucedida pelo outro genitor é o chamado genitor vitimado ou genitor alienado.

Em consonância com Bénédicte Goudard (2008, p. 32) conceitua-se o genitor vitimado como:
(...) resultado de um contexto. Pode tratar-se de problemas familiais passados, um histórico de imigração levando a cortar com suas

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origens, um passado de criança alienada, de bode expiatório, uma história pessoal de fuga, o temor de perder uma relação com as
crianças, preocupações de sanidade mental, uma ira intensa em relação ao genitor alienante, até mesmo um desejo escondido de
abandonar sua família. Entretanto, todos esses argumentos devem ser utilizados com precaução, porque o mundo médico- judiciário
e o círculo social o julgam facilmente demissionário e responsável, pelo menos parcialmente, por aquilo que acontece, embora
ele esteja na impotência e, sobretudo, em uma situação de bloqueio. Explicitando que a “impotência é um sentimento maior deste
genitor, e que vai se estender progressivamente às outras áreas de sua vida.

A resposta do genitor vitimado diante da postura apresentada pela criança é de total incompreensão, ao passo de que além
de não entender tal comportamento ainda sente-se injustiçado por esta sofrendo um repudio do seu filho querido.

Goudard afirma “trata-se realmente de um processo de guerra que se inicia pelo genitor alienante contra o genitor alienado.
As crianças são as armas”. (GOUDARD, 2008, p.33)

Surge um binômio, para o filho o genitor alienado é um intruso e para aquele o sentimento é de exclusão. Logo: O detentor da
guarda, ao destruir a relação do filho com o outro, assume o controle total. Tornam-se unos, inseparáveis. O genitor alienado passa
a ser considerado um invasor, um intruso a ser afastado a qualquer preço. Este conjunto de manobras confere ao alienador em sua
trajetória de promover a destruição do antigo parceiro. (DIAS, 2006)

Como bem pontua Goudard (2008, p. 32) “o genitor alienado, traumatizado pela rejeição brutal de seus filhos, não sabe mais
como reagir, temendo uma nova atitude hostil”. Cria-se um trauma em face de todos os sentimentos duros e negativos sofridos pelo
genitor alienador.

Diante das humilhações pesadas promovidas pelo próprio filho e destituída tacitamente o seu status de genitor, o mesmo se
encontra com autoestima enfraquecida e se coloca em situação de ira silenciosa. (GOUDARD. 2008, p.33).

Relata diante destes fatos, Goudard (2008, p. 35):


O desespero leva rapidamente a uma síndrome depressiva, até mesmo suicídio ou um acidente suicida. Muitas das vezes, um pai
ou uma mãe alienado, desesperados, diante de um conflito inexorável do qual eles não veem o desfecho e sobre o qual não tem
nenhum controle, deixam a vida de uma forma ou de outra, porque é a única margem de ação que lhes resta.

Em face de situações gritantes e de todas as humilhações vivenciadas pelo genitor alienado subsiste situações extremas
como o suicídio, e colocar o filho para fora de casa. Essas situações dependem se o genitor alienado é o detentor da guarda, por
que é sempre bom lembrar que nem sempre quem aliena a criança é o genitor guardião, ou até mesmo o pai ou a mãe, podendo
ser um outro parente.

É inevitável que a resposta do genitor alienado seja em muitas das vezes o reflexo da sua indignação diante de uma
situação perturbadora advinda da alienação parental. Salienta-se que esta eiva toda a sociedade do seu mal, de modo que atinge
negativamente todas as classes sociais, não permitindo que seja feito status sociais para justificar as condutas extremas como esta.
A alienação parental atinge uma relação que em regra não deveria ser posta a discussão, nem como balança para medir a força
de qualquer dos pais, mas sim deveria preservar esta relação prioritariamente em face de qualquer outro sentimento, seja de amor
seja de ódio. Mas, o alienador não pensa dessa forma, preponderando para este apenas o sentimento de vingança, a todo custo e
sem limites.

SEÇÃO 2 A Lei Nº 12.318, de 26 de Agosto de 2010.

2.1 O CONCEITO LEGAL

Vê-se que a lei da alienação parental tem os seguintes objetivos básicos:

· A definição do que é alienação parental;

· Fixação de parâmetros seguros para sua caracterização; e o

· Estabelecimento de medidas para inibir a prática de atos de alienação parental ou atenuar seus efeitos.

Em face desta realidade, das pontuações técnicas de Gardner, e da relevância do tema no Brasil é que foi sancionada a lei
n. 12.318/2010. A aprovação da lei sobre alienação parental tem a finalidade de dar um equilíbrio na participação de pais e mães na
formação do filho. (PEREZ, 2010, p. 61)

Geralmente o legislador não ousa definir um instituto, quando o faz, invariavelmente carece de uma análise teleológica e
principalmente, engessa a evolução do instituto. Neste aspecto mandou bem o legislador quando definiu a alienação parental,
sobretudo porque não o fez de maneira exaustiva, valendo-se de noções meramente exemplificativas.

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Art. 2º: Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

O texto legal apropriou-se do espírito desta “síndrome” e tocou nos pontos principais. Estabeleceu a ocorrência do negativo
fenômeno quando uma criança ou adolescente for afetado psicologicamente pelos pais, avós, guardiões, tutores ou qualquer pessoa
que o tenha sob sua autoridade, a fim de dificultar ou prejudicar os seus vínculos afetivos com um dos genitores.

2.2 FORMAS DE ALIENAÇÃO PARENTAL

Nos incisos do art. 2° estão elencadas as atitudes que o alienador realiza para cometer a alienação, que poderá subsistir
antes mesmo da ruptura conjugal.

Uma vez constatada um caso concreto vivenciado pelo judiciário, é necessário ao juízo uma alta sensibilidade de modo
a exercer cautela nas decisões, corroborando-as com estudos multidisciplinares para então constatar se há ou não a alienação
parental.

O inciso I do parágrafo único do Art. 2° considera ato de alienação parental:


I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

Trata-se da corriqueira hipótese decorrente de brigas entre os pais, que normalmente culmina na separação de corpos ou até
mesmo no divórcio. Com a separação do casal, muitas das vezes aquele que fica com a guarda da criança ou do adolescente inicia
campanha de desqualificação do antigo parceiro, transferindo para a criança as frustrações decorrentes do final do relacionamento.

Normalmente se diz para a pessoa em desenvolvimento que o seu pai ou mãe foi o responsável pelo fracasso da família, e
que não tem preocupação com ela ou o seu futuro, sempre colocando-se ênfase nos defeitos do outro, ou, até mesmo, imputando
ao ex companheiro ou cônjuge fatos inverídicos.

Bastante próximos são os incisos II, III e IV, também do Art. 2° da Lei 12.318/10, que consideram ato de alienação parental:
II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

Isso se dá naquelas hipóteses em que aquele que detém a guarda da criança dificulta o direito de visitas do outro, ou, em
havendo guarda compartilhada, inicia a criação de empecilhos para a convivência da criança com o seu pai ou mãe, diminuindo os
períodos de contato e convivência.

Muito comum também as correntes desautorizações das determinações educacionais e correcionais de um dos pais por parte
do outro, o que acaba maculando a autoridade parental sobre a pessoa em desenvolvimento.

Ao seu lugar, o inciso V prevê:


V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas
e alterações de endereço;

Trata-se de uma espécie de alienação imprópria, isso porque, não há efetivamente um ato de interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos pais para que repudie genitor ou que cause prejuízo
ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este, mas sim, uma omissão de informações sobre a vida da criança que
impedem uma hígida manutenção do vínculo de afinidade e afetividade que deve existir entre a pessoa em desenvolvimento e seus
pais.

Se um dos pais não conhece o desempenho escolar, a situação médica e correto paradeiro da criança, certamente os laços
parentais tendem a se enfraquecer.

O inciso VI do Art. 2° da Lei 12.318/10 é um dos mais graves, pois refere-se:


VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles
com a criança ou adolescente;

Essa hipótese também pode ser vista como alienação parental imprópria, mas que pode gerar outras consequências ao
sujeito ativo, como, por exemplo, a responsabilização criminal pela prática de conduta configuradora de calúnia, difamação ou falsa
comunicação de crime.

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Encerrando o Art. 2°, o inciso VII prevê como ato de alienação parental:
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro
genitor, com familiares deste ou com avós.

Trata-se de inciso diferenciado, pois tem o condão de ampliar a sujeição passiva do ato de alienação, para também abarcar
aquelas situações de distanciamento que prejudicam a convivência com familiares do outro genitor, a exemplo de avós e tios.

2.3 DIREITO FUNDAMENTAL DA CRIANÇA

O disposto pelo art. 3º garante que tal pratica fere o direito fundamental à convivência familiar, garantia que se encontra
prevista no Art. 226 da Constituição Federal de 1988, bem como no Art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O mesmo Art. 3° da Lei 12.318/10 ainda aduz que a alienação parental prejudica a realização de afeto nas relações com os
pais ou o grupo familiar. A afetividade é hoje valor considerado integrante da ideia de família saudável.

2.4 CONSEQUENCIA: AÇÃO DO JUIZ

Além da definição do ato de alienação parental, dos sujeitos envolvidos em sua prática e dos direitos fundamentais
eventualmente violados, a Lei 12.318/10 trouxe regras sobre a instrumentalização processual do instituto, como:

· Declaração de Indício de Alienação Parental e Medidas de Urgência que está na redação do art.4º;

· Laudo psicológico ou biopsicossocial conforme inteligência do Art. 5°;

· Declaração Definitiva do Ato de Alienação Parental Conforme determina o Art. 6° da Lei 12.318/10, onde em um de seu
incisos está englobado o art. 7.

Além das determinações possíveis a partir do reconhecimento processual do ato de alienação parental, a Lei 12.318/10, por
meio de seu Art. 8° , bem determina que a alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação da
competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores
ou de decisão judicial.

SEÇÃO 3 O VETO PRESIDENCIAL AO Art. 10.

A mensagem de veto número 513, que acompanha a promulgação do texto da Lei 12.318 no dia 26 de agosto de 2010,
comunica que nos termos do § 1º do art. 66 da Constituição, o ato normativo foi parcialmente vetado, por contrariedade ao interesse
público.

Já o ponto vetado que nos interessa foi o Art. 10, que na redação original do Projeto de Lei N° 20/2010 (4.053/08 na Câmara
dos Deputados) incluía um parágrafo único ao crime tipificado no Art. 236 do Estatuto da Criança e do Adolescente, fazendo incorrer
nas mesmas penas do caput (detenção de 6 meses a 2 anos) aquele que apresentasse relato falso ao agente indicado no caput ou
à autoridade policial cujo teor pudesse ensejar restrição à convivência de criança ou adolescente com genitor.

O veto se fundaria no fato de que o Estatuto da Criança e do Adolescente já contemplaria mecanismos de punição suficientes
para inibir os efeitos da alienação parental, como a inversão da guarda, multa e até mesmo a suspensão da autoridade parental.
Assim, não se mostraria necessária a inclusão de sanção de natureza penal, cujos efeitos poderiam ser prejudiciais à criança ou ao
adolescente, detentores dos direitos que se pretende assegurar com a nova lei.

Ao nosso ver, o Presidente Lula se equivocou com esse veto, pois quem pratica um ato de Alienação Parental, contra uma
criança ou um adolescente, que são pessoas indefesas e em formação psicológica, é um criminoso e merece uma sanção penal,
não interessa que seja, pai, mãe, avós, tios ou até mesmo uma babá por exemplo.

A análise crítica das razões do veto afastou-se e muito do real interesse do menor. Antes de coibir a prisão para que não afete
a criança deve-se coibir a prática da alienação parental, esta deve ser refletida através de uma possibilidade de condenação penal
via configuração do então delito da alienação parental.

3.1 O CRIME DO Art.236 DO ECA

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O artigo 236 do ECA, que era para ser alterado pela Lei 12.318/2010 tem a seguinte redação:
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério
Público no exercício de função prevista na Lei.

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Esse artigo do ECA, nada tem a ver com a Alienação parental, ele trata dos atos de impedimento e de embaraço em relação
às autoridades, ele discorre sobre proteção nenhuma à criança e ao adolescente, se for programado para romper laços com uns de
seus genitores.

3.2 A TIPIFICAÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Poderíamos hoje como se encontra o Código Penal, tipificar o crime de alienação parental em Dois outros tipos penais já
existentes que são:
MAUS TRATOS
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino,
tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo
ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos.

Na redação deste artigo podemos enxergar o crime de Alienação Parental, como maus tratos, pois o menor vitimado, está
tendo sua saúde exposta a perigo por pessoa que tenha sua guarda ou vigilância como cita o artigo, que como já foi mencionado
anteriormente pode ser qualquer parente próximo ou até mesmo uma babá ou um tutor.

De fato, os maus tratos impingidos à criança não são só físicos, podem ser também emocionais. Os maus tratos físicos são
aqueles que causam lesões no corpo da criança ou adolescente.

Já o mau trato emocional é mais complicado de diagnosticar, pode ocorrer em consequência da hostilidade verbal crônica,
desprezo, criticas, ameaças entre outras atitudes, os efeitos deste tipo de maus tratos podem ser observados no vínculo afetivo
entre a criança e o adulto, nos baixos níveis de adaptação e funcionamento social, dificuldade para estabelecer vínculos amistosos,
problemas com os pares, problemas com a comunidade, problemas de conduta agressividade, condutas destrutivas, condutas
antissociais, dificuldade escolar, tristeza e depressão, baixa autoestima, instabilidade emocional, tendências suicidas, e nos temores
e sintomas físicos, entre outras.

Podemos exemplifica o crime de maus tratos, da seguinte forma o filho tira notas baixas na escola e o genitor (pai/mãe),
avisar ao outro do mau desempenho do filho e pergunta como deve proceder, após o aviso, esse mesmo genitor aplica-lhe uma
surra no filho e o coloca de castigo sem se alimentar, e diz ao filho que foi o pai/mãe que mandou ele fazer aquilo.

Entendemos que também podemos tipificar o crime da alienação parental no art. 173 do Código Penal que trata de ABUSO
DE INCAPAZES:
Art. 173 – Abusar (fazer mau uso, aproveitar-se de alguém), em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou
inexperiência de menor (de 18 anos), ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de
ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.

O sujeito passivo somente pode ser menor, alienado ou débil mental. Menor é aquele que ainda não completou dezoito anos
de idade. Alienado mental é o louco, o portador de doença mental que lhe produz alteração psíquica, dificultando-lhe o uso da razão,
a formação da autocrítica e do discernimento.

Trata-se de crime comum (não necessita de qualquer qualidade ou condição especial do sujeito ativo), formal (não exige
resultado naturalístico), doloso (não admite modalidade culposa) e instantâneo (cujo resultado se produz de imediato).

É necessária a comprovação pericial do estado mental do incapaz, embora seja desnecessária a interdição legal. Menor,
refere-se a menoridade penal (18 anos). Entre 18 e 21 anos, somente se houver, comprovadamente, alienação ou debilidade mental.

Mesmo este artigo estando no capitulo de fraude do Código Penal, a Alienação Parental não deixa de ser uma fraude
psicológica, onde o alienador incute a mente do menor de memorias mentirosas, para que o menor rompa com seus laços maternais
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ou paternais, e assim com isso o alienador está agindo em proveito próprio.

Como por exemplo, o genitor (pai/mãe), ficar dizendo o filho que o Ex é que foi o culpado por ele não ter os pais juntos, ficar
difamando o outro genitor (pai/mãe) ao utilizar nomes impróprios, para com isso chegar à finalidade de convencer o filho que o outro
genitor (pai/mâe) não é digno de ter sua guarda e romper com o laço familiar. Assim o genitor alienante atinge sua finalidade que é
deixar o Ex mal e sozinho, tirando dele seu bem mais precioso o filho.

SEÇÃO 4 A NECESSIDADE DA CRIMINALIZAÇÃO DA CONDUTA.

Propomos a criação do artigo 136-A do Código Penal, para a tipificação da criminalização da conduta de alienação parental.

A alienação parental permeia a sociedade da mais brutal consequência advinda de um rompimento do pacto conjugal. É
utilizar-se de meios torpes para dificultar ou afastar o bem mais precioso do genitor alienado, o seu filho.

Os critérios indicativos da alienação parental são de expressão da mais completa crueldade, sobretudo no âmbito psíquico
social, ou seja a perturbação via genitor alienador na criança é tamanha que decorre inúmeros distúrbios.

O fato é que alguns critérios, como, por exemplo, exercer castigos cruéis às crianças, embora inclinasse para a tipificação
penal, e para a perda do poder familiar, não se compreende esta realidade em face da alienação parental, que atinge igual e
gravemente a criança e sua vida social.

Contudo, necessário se faz um tipo penal específico para a questão. A repercussão da alienação parental ultrapassa o limite
civilista, descambando necessariamente para uma punição penal específica.

Verifica-se que a lacuna penalista é extremamente favorável ao cometimento desta agressão. Tem-se penalmente a punição
pela agressão física, seja a lesão corporal ou até mesmo os maus tratos, já agressão psíquica, necessariamente precisa o Estado
proibir de igual modo.

O entendimento deve privilegiar um tipo penal na seguinte estrutura legislativa, artigo 136 – A ( crime de alienação parental)
, depois do crime de maus tratos, com a seguinte redação:
Art.136-A : Alienar criança ou adolescente com o intuito de
perturbar psíquica e emocionalmente, afastando do convívio com o genitor alienado e prejudicando seu desenvolvimento
normal.
Pena: detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único: Aquele que colaborar, direta ou indiretamente, com o alienador, responderá pelo mesmo delito.

Deste modo, penalmente tipificada a alienação parental, de forma simples, mas que englobaria todos os casos de alienação
por ter como foco o verbo “alienar”, favorecendo a inclusão de qualquer dos casos de alienação parental.

Com já foi falado, na promulgação da Lei de Alienação Parental, apresenta o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o veto do
artigo 10 que se remetia a prisão do genitor alienador, e os motivos do veto cercam-se do critério prejudicial à criança. Afastou-se
penalmente essa ideia.

Percebam que se o critério civilista tenta buscar uma investigação multidisciplinar que motiva, e ajuda na decisão judicial,
aplica-se no laudo o quanto será prejudicial à criança os reflexos da alienação.

De fato o que deverá ser levado em conta não é apenas o reflexo negativo da prisão do alienador para a vítima, a criança, mas
sim o reflexo seria ao alienador ao saber que sua conduta é punível na esfera penal. Qual a punição na espera cível? Indenização
evita o delito?

Em absoluto, a sociedade não teme as decisões cíveis, em contrapartida são temerosas às sanções penais. Certamente,
uma indenização que só poderá ser arbitrada de acordo com a condição econômica de quem cometeu, tem menos eficácia que uma
sanção restritiva de liberdade.

A busca, certamente, é pelo bem estar da criança, a conduta legislativa e jurídica deverá ser extremamente objetiva, para o
alcance do objetivo maior, que neste caso é garantir os direitos fundamentais de uma criança.

A punição para uma desenfreada conduta perturbadora, não será impedida via indenização, ou mudança de guarda, mas
sim via sentença condenatória. Qual o empecilho para que se estabeleça o bem estar de uma criança via sentença condenatória?

Choca-se com a realidade da construção legislativa do país, contudo, a evolução de ótica é necessária para evitar condutas

77
que desestabilizam uma sociedade. O fato é que uma criança que sofre o impacto diário de uma alienação parental, certamente,
será um problema para esta sociedade, e poderá repetir com seus futuros filhos o que foi feito com ele.

O raciocínio é simples, se for colocado no ordenamento jurídico o artigo 136-A no código penal , como o delito de alienação
parental, servirá este com um aspecto preventivo. Todavia, senão se pune penalmente o alienador, deixando a cargo tão somente
do ordenamento civilista, certamente, este terá uma aplicabilidade consequente à alienação e não preventivo como a lei penalista.

Embora, a discussão seja simples, é bastante longa. O fato é que com a caracterização do novo tipo penal do artigo 136-A
do CP, favoreceria a coibição quase que absoluta para aqueles que cometem a alienação parental, e que são consumidos por um
sentimento de impunidade, se desenfreando em suas condutas, permitindo a conquista negativa do seu pleito maior, vinga-se do
outro progenitor.

CONCLUSÃO

A aludida pesquisa objetivou o entendimento da necessidade da tipificação penal da alienação parental. Para tanto predispôs
o trabalho em quatro seções, que tiveram a função de, primeiramente falar da Síndrome da Alienação Parental, apresentar conceito,
identificação e aspectos, posteriormente analisar a lei 12.318/2010 e por fim falar de veto do artigo 10 da Lei e tipificar como crime
a SAP, no Código Penal. Mediante a metodologia empregada alcançam-se todos os objetivos do trabalho, tanto os gerais como os
específicos.

Diante do tormento psíquico – social causado pela alienação, prejudicando o desenvolvimento saudável da criança, ao
afastá-la de um ente querido do qual existia uma relação estreita e afetiva. Não percebe o alienador, que prejudica diretamente seu
filho, fica completamente cego em seu intuito vingativo buscando, cada vez mais, afastar um dos genitores e o filho.

As falsas acusações vêm, agravar uma situação que antes era apenas de rompimento, em uma acusação de calunia e
difamação. É aproveitar-se da fragilidade infantil de ser sugestionável, implantando suposições que socialmente são repudiadas,
além de serem crimes previstos no ordenamento penal brasileiro.

A imagem deste genitor, para sempre, no âmbito social em que vive, será denegrida, jamais retrocedendo a origem, por haver
prejulgamentos morais em face da população comum. Além disso, existe a presença negativa de laudos psicológicos, por exemplo,
que por não atuarem em sua investigação de maneira ampla, procurando ouvir ambos os genitores, termina por favorecer a conduta
do alienador parental, servindo, inclusive, como documento que valida sua ação enquanto tal.

É bem verdade, que no estudo da lei específica da alienação, defende-se uma análise, via junta multidisciplinar, para tentar
expedir laudos, para entender e aprofundar a situação fática no qual estão inseridos os genitores e a criança, onde um destes
é alienador e o outro vítima. Até mesmo para colocar cada um no patamar que lhe pertence, evitando erros, e, por conseguinte,
injustiças. Sob esta ótica a junta multidisciplinar é fundamental neste processo.

Quando se desenvolve no texto a necessidade de tipificação penal da alienação parental, o intuito não é instrumentalizar,
exacerbadamente, o rito para a ação penal que receberá os delitos de alienação parental, mas, favorecer uma análise criminal e
permitir ao alienador uma nova reflexão, ao perceber que o Estado, de fato, atua contra estas condutas.

Por fim, é pertinente informar que as ações de alienação parental sob a ótica criminalista, por se tratar de direitos fundamentais e
de menor, tem sua natureza pública, sendo, então, uma ação penal pública incondicionada. Desta feita, ao ter o Estado conhecimento
do delito deve atuar independente da vontade das partes, pois este direito tão somente lhe pertence.

A percepção que fica é a de que a interdisciplinaridade é, extremamente, benéfica, devendo o direito seguir neste contexto.
Aplicando-se, concomitantemente, com a finalidade de resolver as demandas, que evoluirão no decorre do tempo, do mesmo modo
devendo ver, assim, sua aplicação.

A alienação parental, surge na base do direito de família, a própria família, todavia, precisa, terminantemente, ser compelida
no âmbito criminal, com tipificação específica, repudiando e prevenindo o ataque às relações familiares e, por conseguinte, a
tranquilidade social.

78
REFERÊNCIAS

BRITO, Barbara Heliodora de Avellar Peralta. Agosto.2011. Disponível em: http://www.avellarperalta.com/site/docs/02.pdf>

CORREIA, Eveline de Castro. Análise dos meios punitivos da nova lei de alienação parental. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande,
XIV, n. 88, maio 2011. http://www.alienacaoparental.com.br/

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4.ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.103.

DIAS, Maria Berenice. Síndrome da Alienação Parental e a Tirania do Guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos -
APASE - Porto Alegre: Equilíbrio, 2008. p. 12.

DUARTE. Marcos. Alienação Parental: a morte inventada por mentes perigosas. 23-06-2009. Disponível em: http://www.ibdfam.
org.br/impressao.php?t=artigos&n=516

GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome da Alienação Parental SAP? 2002. Disponível
em. http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap

GARDNER, R. Parental Alienation Syndrome vs. Parental Alienation: Which Diagnosis Should Evaluators Use in Child-Custody
Disputes?. American Journal of Family Therapy. March 2002;30(2):93-115

MOTTA, Maria Antonieta Pisano. A Síndrome da Alienação Parental. Op. cit. p. 44-46

Organizador: APASE, Vários Autores. Síndrome De Alienação Parental - A Tirania Do Guardião. Ed. Equilibrio, Brochura, 128 pág,
1ª Edição – 2007

PODEVYN, François (04/04/2001). Tradução para Português: Apase – Associação de Pais e Mães Separados (08/08/2001):
Associação Pais para Sempre: Disponível em: <http://www.paisparasemprebrasil.org>

ROSA, Felipe Niemezewski da. A Síndrome da Alienação Parental: Nos casos de Separação Judicial no Direito Civil Brasileiro

TRINDADE, Jorge. Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2007, p.113-114.

TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores de direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004.
p.160-203.

79
ASPECTOS JURÍDICOS E PSÍQUICOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL

Patrícia Freire de Paiva Carvalho Rabelo


Mestre em Processo

RESUMO: O número de divórcio vem aumentando progressivamente nos últimos anos. Isso se deve, entre outros fatores, a
modificação cultural da sociedade, na qual a mulher não mais se encontra no estado de submissão de outras épocas. Ocorre
que as dissoluções da sociedade conjugal normalmente provêm de forma conflituosa, em meio de ressentimentos e frustrações.
Desses turbilhões de sentimentos negativos emanam algumas situações que causam bastante preocupação, dentre elas, destaca-
se a alienação parental. Tal problema se inicia pelo sentimento egoísta de vingança de um genitor para com o outro em razão de
rancores do divórcio. Isso porque tomado pelo anseio da revanche pelo dissabor da ruptura conjugal, utiliza os filhos para atingir
o outro genitor, onde se começa o fenômeno da alienação parental, no qual o único objetivo é destruir o convívio e elo de amor
dos filhos com o outro genitor, pouco importando o mal físico e psíquico que possa vir a causar aos menores, sendo já constatado
que são tantos os efeitos psicológicos e comportamentais que podem advir do problema que se passou a falar de síndrome da
alienação parental. Nesse estudo, será abordado o tema da alienação parental em seus aspectos jurídicos e psíquicos, bem como
a importância do trabalho conjunto de profissionais de diversas áreas para detectar e ajudar na solução do problema.

PALAVRAS CHAVES: Divórcio. Alienação parental. Síndrome da Alienação Parental.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A alienação parental é hodiernamente um dos temas que se encontra em maior evidência nas discussões em torno do direito de
família. Tal relevância ocorre entre outras razões pelo aumento das dissoluções das sociedades conjugais, pela dificuldade para a
verificação da prática da alienação parental, bem como pelas conseqüências devastadoras que ela pode ocasionar ao menor e ao
genitor alienado, privado da convivência e elo de afeto com o filho, em face de atitude ilícita e egoísta do outro genitor.

Muito embora se esteja utilizando o nome genitor, que são normalmente os envolvidos quando se trata do tema, esclarece-se que
a alienação parental abrange a tentativa de afastamento do menor de qualquer pessoa da família que tenha uma relação afetiva,
como avôs, tios, entre outros.

O fato é que essa prática vem se tornando cada vez mais comum por quem detém a guarda do menor e os meios para sua inibição,
embora regulamentados pela Lei 12.318/2010, não estão sendo, muitas vezes, eficazes para a cessação do problema.

Nesse estudo serão analisados os aspectos jurídicos que envolvem o tema, como as dificuldades encontradas pelo Judiciário para
detectar a alienação parental, as possibilidades de punições para a prática da alienação e sua eficácia.

De igual modo, serão abordados também os aspectos psíquicos que envolvem o problema e podem trazer conseqüências desastrosas
e, por vezes, irreversíveis ao menor. O aspecto psicológico é tão presente que se fala em Síndrome da Alienação parental como
forma de refletir o conjunto de alterações comportamentais e emocionais presentes no menor.

Por fim, destaca-se que o problema é tão complexo, que, como será analisado, faz-se necessário um verdadeiro trabalho em equipe
de profissionais multidisciplinares para tratar e buscar a solução do problema.

2. A DIFERENÇA ENTRE ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDORME DA ALIENAÇÃO PARENTAL.

Em princípio, cumpre destacar a diferença entre Alienação Parental e Síndrome da Alienação Parental. A Alienação parental nada
mais é do que a desmoralização de um genitor pelo outro perante o filho, com a intenção de que esse passe a desprezá-lo. Já a
Síndrome, é o reflexo dos problemas comportamentais, emocionais e psicológicos que afetam a criança, vítima da atitude egoísta,
desrespeitosa e inconseqüente do alienador. Sobre tal diferenciação, Eveline de Castro Correia elucida: “A alienação parental é o
afastamento de um dos genitores, provocado pelo outro (guardião) de forma voluntária. Já o processo patológico da síndrome diz
respeito às seqüelas emocionais e o comportamento que a criança vem a sofrer vítima deste alijamento.” 72
72 CORREIA, Eveline de Castro. Análise dos Meios Punitivos da Nova Lei de Alienação Parental. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.
br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9272>. Acesso em 30.08.2014

80
Nesse sentido, agiu com acerto o legislador brasileiro no conceito que conferiu à Alienação Parental no artigo 2°, da Lei n° 12.318/2010,
que trata da matéria. Isso porque o dispositivo legal busca enfatizar a interferência que o ato da alienação parental, promovido pelos
genitores, pelos avôs ou pelos que tenham autoridade, guarda ou vigilância, pode causar à formação psicológica do menor.

Nota-se que o dispositivo legal põe como responsável pela alienação parental não apenas o pai e a mãe, mas, coloca também
terceiros como avôs, por exemplo. O mais comum são que os alienadores sejam os próprios genitores, mas nada impede que
terceiros interessados na dissolução da união conjugal, por exemplo, pratiquem tal atitude.

Ao praticar a alienação parental, o alienador permite que as mágoas que guarda com o fim da relação conjugal sobreponham-se ao
amor pelo menor. A obsessão de atingir o outro é tanta que esquece ou não pensam o quanto mal essa atitude faz ao menor, que
acaba por ser a maior vítima, podendo levar conseqüências psicológicas para o resto de suas vidas.

Afinal, a alienação parental nada mais é do que uma espécie de tortura psicológica na criança que é influenciada a odiar um dos
genitores, sentir-se desprezada, mal amada e, por óbvio, infeliz com a ausência de um dos pais, do qual acaba se afastando. É claro
que se o objetivo do alienador for atingindo, o menor vai desenvolver vários problemas, fazendo surgir a síndrome da alienação
parental.

Como se pode perceber, o alienador se torna um verdadeiro agressor e nem mesmo se apercebe disso. Não há uma consciência do
quanto importante são os vínculos paternais para o desenvolvimento psíquico do menor. O alienador é tomado por um sentimento
de auto-suficiência para a formação do filho, fato esse que não corresponde à realidade.

A alienação parental se retrata de várias formas, como a tentativa de dificultar a visitação do alienado, a sua autoridade sob a
criança, a omissão de informações relevantes sobre o menor, sejam escolares, médicas, entre outras, e até mesmo a implantação
de falsas memórias.

Falsas memórias ou falsas verdades são aquelas que se baseiam no ouvir dizer, na sugestão. Não se trata de uma memória errônea,
pois essa é com base em experiências reais que se recordam de forma incorreta. A falsa memória é aquela de que experimentou
algo que na verdade não aconteceu.

Sobre o tema, cumpre ressaltar os dizeres de Maria Berenice Dias, a saber:

Neste jogo de manipulações, todas as armas são utilizadas, inclusive a assertiva de ter havido abuso sexual. O filho é convencido
da existência de um fato e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido. Nem sempre consegue discernir
que está sendo manipulado e acaba acreditando naquilo que lhe foi dito de forma insistente e repetida.Com o tempo, nem o genitor
distingue mais a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens
de uma falsa existência, implantando-se, assim, falsas memórias73.

Como bem descrito pela autora, com o tempo o filho passa a acreditar nas falsas verdades a eles repassadas de forma manipulada
pelo alienador e a criar memórias de falsos personagens, de uma falsa experiência.

Mas, como já dito, as falsas memórias não se encontram necessariamente vinculadas à alienação parental, mas pode ser uma das
formas utilizadas pelo alienante com a finalidade de programar a criança para que, sem justificativas, odeie um de seus genitores e
a partir daí, a própria criança passa a contribuir para a trajetória da desmoralização.

Embora seja recente, a Lei da Alienação Parental no Brasil, o problema já é antigo e suas conseqüências para o psicológico da
criança ou adolescente já vem sendo enfatizada há tempos. O termo síndrome da alienação parental, que serve justamente para
refletir o conjunto de alterações comportamentais e emocionais gerados pelo problema foi criado em 1985, pelo psiquiatra infantil
norte-americano Richard A. Gardner, que na época a definiu da seguinte maneira:

Um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação
preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma
justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”)
e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão
presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade
da criança não é aplicável74
73 DIAS, Maria Berenice. Falsas Memórias. Disponível em: < http://www.revistapersona.com.ar/Persona54/54PPEDias.htm >. Acesso em 24.08.2014
74 ALEMÃO, Kario Andrade de apud GARDNER, Richard de A. Síndrome da Alienação Parental (SPA). Disponível em <http://www.ambitojuridico.com.

81
Não é preciso ser psicólogo ou psiquiatra para entender que a atitude do alienador gera no mínimo um intenso conflito interno de
sentimentos no menor, que é levado a se afastar e até mesmo odiar alguém a quem ama e é essencial em sua vida e formação.

Trata-se de um abuso do alienador, que se utiliza da inocência e fragilidade da criança e seu poder sobre ela com a intenção de se
vingar do antigo consorte. É um verdadeiro desrespeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e ao Direito Fundamental do
menor de ter uma convivência familiar saudável. Nesse contexto, ressalta-se o direito da criança à convivência familiar e o dever
não apenas da família, como da Sociedade e do próprio Estado para contribuir para que a ela seja permitido o exercício desse
direito, que se encontra resguardado constitucionalmente, no artigo 227, bem como enfatizado no artigo 19, do Estatuto da Criança
e Adolescente.

Hodiernamente, retrata-se a síndrome da alienação parental em três estágios: leve, médio e grave. No primeiro, a criança convive
com o genitor apenas com as alterações naturais decorrentes do divórcio. Por outro lado, no estágio médio a criança já se encontra
sobre a provocação constante do alienador, que cria falsas histórias e com sua repetição acaba fazendo a criança ter memórias
falsas ou, no mínimo distorcidas, do genitor alienado, que acarretam em sentimentos como medo ou rancor. No último estágio, que
é o mais grave, a criança não precisa mais do alienador para induzi-la a ter rancor, medo ou ódio do alienado, pois já se encontra
totalmente nutrida por esses sentimentos, de modo que, nessa fase, a visitação já se torna impossível ou mesmo insuportável ante
a agressividade da criança, totalmente corrompida por esses sentimentos negativos.

Para relatar os casos, ante o dever de segredo de justiça, alguns profissionais vêm se utilizando de artigos, com a utilização de
nomes fictícios. Assim, é que se traz o relato de Denize Duarte Bruno, que faz parte da equipe do Serviço Social Judiciário do Foro
Central da Comarca de Porto Alegre, tornado público por meio do artigo Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste
em não ver, publicado na Revista dos Tribunais. Veja-se:

Lucila tinha pouco mais de quatro anos quando sua mãe ingressou com uma ação de suspensão de visitar do pai à filha. O processo
continha atestados em que médicos afirmavam que, no dia seguinte ao retorno da casa paterna, a menina estava com os genitais
irritados, indicando a possibilidade de abuso sexual. A mãe, autora da ação, não acusava o pai de abuso, mas a companheira deste,
que teria raspado a pomada de assadura com uma colher, ato este praticado de forma e com intenções libidinosas. A mãe falava
com muito rancor da atual companheira do pai, e afirmava que nunca havia confiado nela, tanto que já havia pedido ao pai para que
evitasse que a companheira atendesse a menina. O pai estava muito mobilizado, mas se mostrou bastante disponível na avaliação,
referindo confiança total na companheira, e relatando que realmente delegava os cuidados de higiene da filha para esta, pois achava
que, como a filha estava crescendo, tinha que ser cuidada por uma mulher. Nem o pai, nem a mãe, referiam descontentamento da
menina com as visitas à casa paterna, e a creche não observara nenhuma mudança de comportamento na criança após o suposto
abuso. A companheira do pai foi entrevistada e relatou que no final de semana do suposto abuso Lucila já havia chegado assada,
e ela apenas seguira o tratamento indicado pela mãe. Lucila foi entrevistada a sós por nós, numa sala com brinquedos. Ela aceitou
entrar sozinha, aparentava tranquilidade e espontaneidade, e se comunicava muito bem oralmente. A entrevista centrou-se em suas
atividades cotidianas, em casa e na creche, sendo aos poucos introduzido o tema de suas visitas à casa paterna (que estavam
suspensas). Lucila fez uma série de referências agradáveis sobre o pai, a companheira deste, e as atividades que faziam juntos, até
que, depois de algum tempo, disse que precisava nos contar porque não podia mais ir à casa do pai. A criança fez o mesmo relato
da mãe sobre a colher, com palavras bem parecidas. Ao final lhe perguntamos se havia sentido dor, e ela responde negativamente.
Perguntamos se a colher era grande ou pequena, e ela não sabia responder, dizendo não ter visto a colher. Perguntamos como
sabia que era uma colher, e a resposta foi imediata: “Quando eu cheguei em casa, a minha mãe me contou o que me aconteceu”.
Ao final da entrevista perguntamos se queria nos dizer algo, disse que não, que já havia dito tudo o que a mãe combinou com ela
que deveria ser dito75

No caso acima relatado, vê-se que a mãe fez a criança ter falsas memórias do pai, como se o mesmo estivesse a abusando
sexualmente. Problemas como esses são de extrema gravidade e dificuldade para o juiz decidir. Isso porque diante de uma acusação
de abuso sexual, o Estado se vê no dever de tomar uma atitude imediata, mas, por outro lado, há o risco da falsa denúncia e da
criação da falsa memória no menor. Daí porque a importância do trabalho de diversos profissionais a fim de trazer outros elementos
e uma análise mais profunda para o juiz formar o seu convencimento. No caso acima, o parecer do serviço social foi de extrema
importância.

Mais uma vez, verifica-se o quanto egoísta é a atitude do alienador e o quanto desrespeitosa com o menor é a atitude da alienação
parental. Isso porque uma atitude como essa além de poder gerar a privação total do filho para com o genitor, o que por si só é um
trauma, vez que o menor vira órfão de um pai vivo, faz também a criança ter lembranças dolorosas, de uma atitude repugnante e
falsa sobre o genitor, que é o abuso sexual.

br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11477&revista_caderno=14> Acesso em 20.07.2014.

75 BRUNO, Denise Duarte. Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver / Maria Berenice Dias, coordenação – 2ª E.São
Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2014.

82
Nesse contexto, a psicóloga clínica e jurídica Denise Maria Perissini ressalta:

O fato mais grave de toda a acusação de abuso sexual/físico é que, diante da repetição do relato, isso vai além da mera suposição
de que a criança acredita no que verbaliza: a criança estrutura memórias, chegando a afirmar que “se lembra” dos fatos que não
ocorreram ou de pessoas que desconhece76.

Pior é que a realização dos estudos sociais e psicológicos para apuração de fatos como o suposto abuso sexual, no processo, são
procedimentos, muitas vezes, demorados e como se trata de denúncia grave, que exige de imediato uma proteção do Estado é
possível que durante muito tempo o menor fique, por exemplo, privado do convívio com o genitor.

Desse modo, uma vez esclarecidas às diferenças entre alienação parental e a sua síndrome, passa-se a elucidar o papel do Estado,
representado pelo juiz, e subsidiado por outros profissionais, como o assistente social e o psicólogo para o combate ao problema.

3. O PAPEL DE UMA EQUIPE DE PROFISSIONAIS MULTIDISCIPLINAR PARA A CONSTATAÇÃO DA ALIENAÇÃO


PARENTAL E SUA SÍNDROME.

Para verificar a alienação parental e sua síndrome é necessária a formação de uma equipe de profissionais de diversas áreas em
volta do problema. O assistente social, por exemplo, tem papel essencial frente ao problema tratado neste artigo. Isso porque de
acordo com o inciso IV, artigo 5°, da Lei n° 8.622/93, que regulamenta a profissão, é atribuição privada do assistente social a de
realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre matéria de Serviço Social.

Nesse contexto, destaca-se o parecer fornecido pelo assistente social no Agravo de Instrumento nº 70057883597, do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, como sendo essencial para a constatação do problema. Veja-se:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE GUARDA. INDÍCIOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL. Merece ser mantida a decisão
que deferiu a guarda provisório do menor ao pai, ante a conclusão do laudo pericial de que a família materna apresenta
comportamento inadequado com o filho, tentando impor falsas verdades. VISITAÇÃO MATERNA. Necessidade de assegurar a
visitação materna com acompanhamento, a fim de preservar os laços afetivos entre mãe e filho. Agravo de instrumento parcialmente
provido77.
(grife-se)

Por oportuno, traz-se parte da fundamentação do acórdão do julgado acima mencionado que retrata as conclusões do parecer da
assistência social:

O serviço social do CREAS – Centro de Referência Especializada da Assistência Social entende que, ao que tudo indica, o infante
N.S. encontra-se refém da família materna, como um o instrumento pelo qual essa tenta atingir a família paterna. Já a família
paterna tem oferecido, nos poucos momentos em que está com o infante, ambiente agradável em convívio familiar, protegendo-o
dos assuntos inadequados para a sua idade.
No meio desse conflito o infante sofre todo o tipo de pressão e representa bem o seu desgosto por tudo em seu brincar, quando pega
um brinquedo, fazendo de conta que é uma arma e mata todos os adultos. Expressão de sofrimento que reforça a importância da
continuidade de seu atendimento psicológico no CREAS.
A família materna apresenta comportamento inadequado com o filho e na sua relação com as instituições, como escolas, conselho
tutelar e CREAS, tentando impor falsas verdades, mostrando-se em possível desequilíbrio78.

Veja-se que no parecer acima o serviço social denuncia ao juiz que tudo indica está a família materna praticando o ato de alienação
parental para com o menor, bem como que o psicológico do menor já se encontra atingido, citando, como exemplo, o fato dele
demonstrar por meio de suas brincadeiras o desgosto que sente por todos os adultos. Há no parecer, ainda, a necessidade da
continuidade de seu tratamento psicológico e o fato da família materna influenciar a relação do menor com as instituições, como
conselho tutelar, escolas, assistência social, pois tenta impô-lo falsas verdades.

Com a leitura de parte desse parecer, presente na parte de motivação do acórdão, é perceptível a importância do interprofissional
nos casos de alienação parental, ante a complexidade do problema. O subsídio fornecido ao magistrado nesse caso por meio do
parecer foi tão importante que foi incluso na fundamentação da decisão por meio da qual deferiu a guarda provisória do menor à
família paterna, assegurando a visitação da materna, como demonstrado na ementa já exposta.

Dessa forma, o assistente social tem o dever de ao detectar a síndrome ou seus indícios no processo judicial, peticionar denunciando

76 PERISSINI, Denise Maria. Guarda Compartilhada e Síndrome de Alienação Parental o que é isso? São Paulo: Ed. Autores Associados Ltda,
março de 2010, da Silva, p. 93
77 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 70057883597. Sétima Câmara Cível Relator: Jorge Luís Dall\’Agnol. Porto
Alegre, 26 de março de 2014.
78 Id ibdem

83
ao juiz competente, a fim de que esse adote as medidas cabíveis, em consonância com a lei de Alienação Parental, o Estatuto
da Criança e do Adolescente, e outras legislações relacionadas. Dentre as medidas cabíveis, por exemplo, está o tratamento com
psicólogo habilitado, que pode confirmar a síndrome, bem como seu nível de estágio e fazer um acompanhamento.

Com a denúncia do assistente social e o parecer do psicólogo, o juiz, analisando o caso concreto, poderá se utilizar de quaisquer
das medidas previstas no artigo 6°, da Lei de Alienação Parental, como advertência; aplicação de multa; ampliação do regime de
convivência familiar em favor do genitor alienado, acompanhamento psicológico e alteração de guarda. Há, ainda, a possibilidade
da aplicação cumulativa dessas medidas, quando compatíveis.

O assistente social serve, portanto, como agente facilitador, que chama a atenção do juiz para o problema e esse, investido no poder
jurisdicional do Estado, adotar as medidas necessárias para preservar os direitos fundamentais do menor.

Assim, percebe-se a importância fundamental do assistente social para evitar o agravamento da alienação parental. Afinal, é ele,
por lei, o profissional capacitado e habilitado para subsidiar os juízes e promotores, com o objetivo comum de preservar os direitos,
como o da dignidade da pessoa humana e ao de uma convivência familiar saudável. Tal preocupação encontra-se clara no presente
julgado:

AGRAVO EM FACE DO PROVIMENTO MONOCRÁTICO A AGRAVO DE INSTRUMENTO. VISITAS AVOENGAS. VERIFICAÇÃO


DE SITUAÇÃO DE RISCO. SUSPENSÃO. PRECÍPUO INTERESSE DOS MENORES. DECISÃO DA RELATORA CONFIRMADA
PELO COLEGIADO. É entendimento pacificado, quanto ao direito de visitas, a preponderância do interesse do menor, além da
presunção de que é salutar o convívio familiar, contribuindo para o seu desenvolvimento psíquico e emocional. O bem-estar do
infante deve se sobrepor, como um valor maior, a qualquer interesse outro. Verificada a resistência do infante à realização de visitas
estabelecidas judicialmente à avó paterna, a ponto de gerar situação de grave constrangimento emocional em seu ambiente escolar,
mister a sua suspensão, ainda que temporária, prevenindo hipótese de prejuízo, sem óbice para o aprofundamento da investigação
sobre a prática da alegada alienação parental. AGRAVO DESPROVIDO79.

A complexidade do problema se observa pela necessidade de uma equipe multidisciplinar, como: o assistente social, o promotor, o
juiz, o psicólogo. Nesse sentido, cumpre enfatizar que o Estatuto da Criança e Adolescente, em seu artigo 150, prevê que o Poder
Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária deve incluir a manutenção para equipe interprofissional para assessorar
a Justiça da Infância e Juventude. O artigo 151, também do Estatuto, traz os objetivos dessa equipe, dentre os quais se encontra
prestar atendimento e orientação às pessoas e famílias que procuram o Poder Judiciário, bem com fornecer subsídios ao juiz para
que esse possa aplicar a Justiça.

Isso ocorre porque em questões que envolvem afeto é necessário, na grande maioria das vezes, mais do que uma sanção punitiva. A
aplicação de multa ao agente alienador, por exemplo, na maioria das vezes, não é suficiente para eliminar o problema. Ademais, caso
não houvesse essa equipe interprofissional, o Poder Judiciário não poderia oferecer apenas uma sentença, como a determinação
de uma obrigação e aplicação de uma multa pelo descumprimento, mas não a paz.

A possibilidade e atuação de todos esses profissionais em conjunto é de extrema importância. Ao juiz cabe a sensibilidade de saber
se utilizar disso, observar bem os subsídios levados pelo assistente social e aplicar as medidas adequadas a cada caso, que pode
variar de uma simples advertência, multa e até um acompanhamento com psicólogo, dentre outras medidas previstas no artigo 6°,
da Lei de Alienação Parental.

Ademais, os incisos do artigo 6°, supracitado, não se excluem, podendo conviver de forma cumulativa. Em outros termos, é permitido
ao juiz utilizar mais de umas das medidas previstas, de acordo com a sua análise de cada caso concreto.

Nesse contexto, seguem julgados recentes, nos quais se pode perceber as diversas medidas adotadas pelos juízes em cada caso:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE GUARDA. REVERSÃO DA GUARDA CONFERIDA EM SENTENÇA. APELO RECEBIDO
APENAS NO EFEITO DEVOLUTIVO. MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA OBSERVADO. Neste caso estamos diante de alteração
de guarda conferida após a apuração de alienação parental praticada pela mãe, razão pela qual o cumprimento imediato da decisão
visa ao resguardo da criança envolvida. Ademais, a decisão foi proferida após o término da instrução processual, observado o
contraditório e a ampla defesa, logo, entendo que é segura a imediata aplicação da sentença. NEGARAM PROVIMENTO AO
RECURSO80.

79 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo nº 70059267062. Sétima Câmara Cível Relatora: Sandra Brisolara Medeiros. Porto Alegre, 16
de abril de 2014.

80 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 70059901348. Oitava Câmara Cível Relator: Alzir Felippe Schmitz. Porto
Alegre, 17 de julho de 2014.

84
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE ALIENAÇÃO PARENTAL - DECISÃO DETERMINOU O CUMPRIMENTO
DO ACORDO DE VISITAS - PREVALÊNCIA DO INTERESSE DO MENOR - IMPOSIÇÃO DE MULTA - POSSIBILIDADE.
- Certo é que o convívio da figura paterna é necessário para o desenvolvimento psicológico e social da
criança, sendo assim, um contato físico maior entre pai e filho, torna a convivência entre eles mais estreita,
possibilitando o genitor dar carinho e afeto a seu filho, acompanhá-lo em seu crescimento e em sua educação.
- Deve-se impor multa à genitora pelo descumprimento do acordo de visitas, haja vista os indícios de alienação parental, visando,
inclusive, que esta colabore à reaproximação de pai e filha81.

AÇÃO REVISIONAL DE REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS COM PEDIDO DE AVERIGUAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL. TUTELA
ANTECIPADA. 1. A antecipação de tutela consiste na concessão imediata da tutela reclamada na petição inicial, mas sua concessão
pressupõe existência de prova inequívoca capaz de convencer da verossimilhança da alegação e, ainda, que haja fundado receio de
dano irreparável ou de difícil reparação. Inteligência do art. 273 do CPC. 2. Descabe antecipação de tutela ou providência cautelar
quando inexiste prova da situação de risco e existem questões fáticas que ainda reclamam a cabal comprovação, necessitando
que aportem aos autos elementos suficientes que justifiquem o pleito liminar. 3. Mostrando-se adequado o esquema de visitação
estabelecido e considerando que deve ser resguardado sempre o melhor interesse da criança, que está acima da conveniência dos
genitores, descabe promover qualquer modificação neste momento. 4. A decisão é provisória e poderá ser revista a qualquer tempo,
desde que venham aos autos elementos de convicção que justifiquem a revisão. Recurso desprovido82.

Como se vê, estão sendo aplicados os mais diversos tipos de penalidades previstas na Lei de Alienação Parental. Apenas nos
julgados acima colacionados, verificamos a inversão de guarda, regulamentação de visita e aplicação de multa. A escolha de qual
ou quais medidas adotar advém da análise pelo juiz de casa caso concreto, sendo para essa análise essencial a figura do assistente
social, do psicólogo, por exemplo.

Destarte, muito embora o juiz seja livre para formar o seu convencimento, é inegável que o parecer opinativo de outros profissionais,
embora não vinculativo, tem grande importância, sendo um dos elementos capazes de influenciar na formação da opinião do
magistrado.

4. DA APLICAÇÃO DO DANO MORAL EM FACE DA PRÁTICA DA ALIENAÇÃO PARENTAL

A questão da aplicação do dano moral no direito de família já é uma realidade nos Tribunais, a exemplo do dano moral em face de
abandono afetivo, já reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça. Nesse sentido, segue o julgado abaixo do Superior Tribunal de
Justiça:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/
compensar no Direito de Família.
2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com
locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88.
3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob
a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação,
educação e companhia - de cuidado - importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear
compensação por danos morais por abandono psicológico.
4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe
um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à
afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social.
5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes - por demandarem revolvimento de
matéria fática - não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial.
6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia
estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada.
7. Recurso especial parcialmente provido83.
(grife-se)

No entanto, mesmo já sendo reconhecida essa possibilidade de aferição de danos morais nos conflitos familiares, há um receio
ainda nos Tribunais quanto a sua banalização pelos sentimentos, como ódio, ciúme, mágoas, entre outros, comuns às relações
familiares.

Doutra banda, é certo que o ato ilícito de um ente da família pode causar danos à dignidade da pessoa humana muito mais devastadores
do que o constrangimento por uma cobrança indevida ou inclusão errônea do nome de alguém na Serasa, especialmente se a
atitude for a detrimento da convivência familiar, como ocorre no caso da alienação parental.
81 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento-Cv nº 1.0105.12.018128-1/001. Quarta Câmara Cível Relator: Dárcio Lopardi
Mendes. Porto Alegre, 23 de janeiro de 2014.
82 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 70058068792. Sétima Câmara Cível Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos
Chaves. Porto Alegre, 16 de abril de 2014.

83 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 1159242/SP. Terceira Turma Relator: Ministra Nancy Andrighi. Brasília, 24 de abril de
2012.

85
No Estado Democrático de Direito se tem por base a dignidade da pessoa humana, que abarca ao direito à convivência entre
familiar, garantida no artigo 227, da Constituição Federal. Assim, o simples fato do genitor se vê privado de conviver com o filho e
vice-versa, já seria suficiente para identificação do dano moral.

Cumpre ressaltar que o direito à convivência familiar que a Constituição Federal garante não se encontra restrito a pais e filhos,
mas também abrange o direito a convivência com qualquer ente do grupo familiar, como avôs e tios. Nesse sentido, segue o julgado
abaixo reconhecendo a alienação parental perante o avô:

Apelação. MENOR - Regulamentação de visita - Avô socioafetivo - Vínculo construído desde o nascimento dos menores - Papel de
avô desempenhado durante a convivência reconhecido pela ré – Visitas após a separação franqueadas pela genitora para evitar
rupturas mais expressivas para as crianças – Autor que continuou contribuindo para as despesas, dando roupas e alimentos para os
menores – Visitas proibidas após desentendimentos com o atual companheiro da ré - Advertência sobre a instalação de alienação
parental contra o avô socioafetivo - Ausência de prova de qualquer fato desabonador da conduta do requerente - Regime mínimo de
visitas deferido - Reaproximação gradual - Sentença reformada - Recurso provido em parte84.

No entanto, como foi visto ao longo desse artigo, em face das peculiaridades de seus efeitos, a alienação parental para ser
identificada precisa do trabalho de uma equipe de profissionais multidisciplinar. O juiz, por si só, não é capaz de diagnosticar a
prática da alienação, precisando da ajudar de outros profissionais para a formação do seu convencimento. Só após a atuação
desses profissionais é que poderá analisar o caso e na hipótese de confirmação da alienação, aplicar a punição para cessar essa
prática, mediante a legislação aplicável.

A questão da possibilidade de condenação por dano moral também não é menos complicada do que a percepção para a confirmação
da alienação e forma punitiva para sua cessação. O dano moral é relacionado à dignidade da pessoa humana e quando decorrente
da alienação parental deve se relacionar aos meios de alienação e suas conseqüências, procurando evitar a banalização do dano
moral.

No caso da alienação parental, é fácil verificar as pessoas prejudicadas: o filho e o genitor alienado ou outro ente familiar. Mas, a
extensão desse dano, principalmente com relação ao menor, pode ser maior e se manifestar de forma silenciosa até que se torne
evidente a instalação da síndrome da alienação parental.

Segundo Eveline Castro Correa, no caso da alienação parental, o dano moral deve se concentrar, sobretudo, na figura do filho.
Veja-se:

Entretanto, é necessário explicitar que o dano moral proveniente da alienação parental, que tem como figura centralizadora o filho,
até mesmo pelo seu estado de condição hipossuficiente na relação é por vezes negado e de difícil acesso. Analisando pelo prisma
axiológico da tutela da integridade psicofísica seria de uma forma ampla um dano à saúde, pois estaria à vítima sofrendo sequelas
no plano mental e que podem se refletir para o físico85.

De fato, é coerente o pensamento da autora ao ressaltar que a extensão do dano seria maior ao filho, seja por causa de sua
condição de hipossuficiente, seja porque enquanto pessoa em formação psicológica teria conseqüências físicas e mentais mais
devastadoras do que o genitor alienado.

É importante frisar que ao dar ênfase maior aos danos morais causados ao menor, a autora não exclui o do genitor alienado. Por
oportuno, seguem seus dizeres: “O genitor que sofre a alienação também estará sendo violado quanto à integridade psicofísica, pois
sendo tratado de forma desumana e ao mesmo tempo sendo privado da responsabilidade parental, sofrerá dano moral causados
a sua imagem e a honra86”.

A própria Lei 12.318/2010 em seu artigo 3° reconhece que a prática da alienação parental constitui abuso moral contra a criança ou
adolescente. É certo que em muitas situações a condenação por dano moral não será a mais recomendável, vez que outras sanções
previstas no artigo 6° da lei supracitada podem ser suficientes para o caso concreto.

Entrementes, em hipóteses mais graves da alienação, a aplicação cumulativa de sanções, inclusive de dano moral deve ser aplicada

84 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação n° 51355820118260664 - Votuporanga. Oitava Câmara de Direito Privado. Relator: Pedro de
Alcântara da Silva Leme Filho. Belo Horizonte, 7 de maio de 2014.
85 CORREIA, Eveline de Castro. A alienação parental e o dano moral nas relações família. Disponível em:< http://www.publicadireito.com.br/
artigos/?cod=38913e1d6a7b94cb> Acesso em 30.08.2014.
86 Id Ibdem

86
até como forma de exemplo e inibição desse tipo de postura dentro da sociedade.

Mas, como se sabe, para que esse tipo de condenação seja possível é necessária a provocação do Judiciário, de modo que a
modificação de postura deve começar pelo filtro do próprio advogado que estiver representando o seu cliente em demandas que
envolvam o tema. Em casos de alienações parentais com práticas mais agressivas com risco à instalação da síndrome da alienação
parental não deve haver pudor para pedidos cumulativos envolvendo os danos morais.

É essencial que haja a consciência de ser adotar medidas enérgicas quanto a esse problema, devendo essa conscientização ser
um trabalho conjunto. Faz-se necessária uma integração entre a família, a sociedade e o Judiciário para a inibição mais enérgica da
alienação parental, com sanções mais graves e cumulativas, sendo o caso até mesmo com o pedido e a concessão de indenização
por danos morais, na hipótese dos casos mais graves.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após todas as reflexões feitas ao longo do trabalho, questionam-se os meios que o Estado tem para enfrentar o problema da
alienação parental de modo eficaz. Isso porque o que se constatou foi que a conclusão de sua prática não é uma tarefa fácil e
envolve o comprometimento de vários profissionais. Doutra banda, verificou-se também que as conseqüências para o menor, sem
menosprezar as do alienado, como ser ainda em formação, são grandes, atingindo: o comportamento, o psicológico e até mesmo o
físico, vez que o corpo humano também corresponde ao equilíbrio emocional da pessoa.

Assim, quanto mais se passa o tempo, mais o conflito se consolida, trazendo conseqüências progressivamente maiores, com risco
de irreversibilidade. Quando se tem uma criança ou adolescente sendo vítima da alienação parental e, principalmente, quando já se
verifica sinais da instalação de sua síndrome, então o tempo vira inimigo do Estado para adoção de uma ou mais medidas a fim de
evitar que os danos se tornem irreversíveis.

A alienação parental é mesmo um assunto delicado e, portanto, precisa da integração e comprometimento de profissionais de
diversas áreas, sem ignorar a necessidade da continuidade de estudos em busca de novas soluções preventivas e repressivas.

A boa intenção do legislador com a Lei 12.318/2010 não é suficiente se não for dada por todos os profissionais envolvidos, como
o assistente social, o psicólogo, o psiquiatra, o juiz, enquanto representante do Estado, entre outros, a importância, agilidade e
aprofundamento que exige o problema.

A questão não é simples e não depende apenas do juiz, tendo em vista que sua responsabilidade enquanto julgador vai além dos
dramas decorrentes da alienação parental, mas também daqueles advindos até mesmo em decorrência das medidas adotadas pelo
Juízo. A má utilização da Lei da alienação parental pode trazer conseqüências igualmente danosas aos atos praticados pelo agente
alienador. Exemplo disso é a determinação de suspensão de visitas até a conclusão das perícias multidisciplinares, do assistente
social, do psicólogo etc. Se não houver o comprometimento de todos para buscar as “respostas” mais rápidas ao caso, não tem
como se recuperar o tempo perdido e os traumas ocasionados.

É por isso que se faz necessária a união de todos em volta do problema, não apenas dos profissionais envolvidos, como das famílias
e da sociedade para que haja uma atuação mais enérgica e eficaz. É imprescindível a conclusão rápida dos trabalhos a fim de
evitar danos decorrentes de medidas adotadas de forma equívoca pelo Estado, bem como a aplicação de punições repressivas e
educadoras para se inibir a prática da alienação parental, por meio de sanções cumulativas, caso preciso, até mesmo incluindo a
condenação de indenização por danos morais, ainda em desuso para o problema.

Referências:

ALEMÃO, Kario Andrade de apud GARDNER, Richard de A. Síndrome da Alienação Parental (SPA). Disponível em <http://
www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11477&revista_caderno=14> Acesso em
20.07.2014.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 1159242/SP. Terceira Turma Relator: Ministra Nancy Andrighi. Brasília,
24 de abril de 2012.

BRUNO, Denise Duarte. Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver / Maria Berenice Dias,
coordenação – 2ª E.São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2014.

87
CORREIA, Eveline de Castro. Análise dos Meios Punitivos da Nova Lei de Alienação Parental. Disponível em: <http://www.
ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9272>. Acesso em 30.08.2014
CORREIA, Eveline de Castro. A alienação parental e o dano moral nas relações família. Disponível em:< http://www.publicadireito.
com.br/artigos/?cod=38913e1d6a7b94cb> Acesso em 30.08.2014.

DIAS, Maria Berenice. Falsas Memórias. Disponível em: < http://www.revistapersona.com.ar/Persona54/54PPEDias.htm >. Acesso
em 24.08.2014

MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação n° 51355820118260664 - Votuporanga. Oitava Câmara de Direito Privado. Relator:
Pedro de Alcântara da Silva Leme Filho. Belo Horizonte, 7 de maio de 2014.

PERISSINI, Denise Maria. Guarda Compartilhada e Síndrome de Alienação Parental o que é isso? São Paulo: Ed. Autores
Associados Ltda, março de 2010, da Silva.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 70057883597. Sétima Câmara Cível Relator: Jorge Luís
Dall\’Agnol. Porto Alegre, 26 de março de 2014.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo nº 70059267062. Sétima Câmara Cível Relatora: Sandra Brisolara Medeiros.
Porto Alegre, 16 de abril de 2014.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 70059901348. Oitava Câmara Cível Relator: Alzir Felippe
Schmitz. Porto Alegre, 17 de julho de 2014.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento-Cv nº 1.0105.12.018128-1/001. Quarta Câmara Cível Relator:
Dárcio Lopardi Mendes. Porto Alegre, 23 de janeiro de 2014.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 70058068792. Sétima Câmara Cível Relator: Sérgio
Fernando de Vasconcellos Chaves. Porto Alegre, 16 de abril de 2014.

88
CÁRCERE FAMILIAR
Breves considerações sobre a alienação parental no Estado brasileiro.

Vanessa Alexsandra de Melo Pedroso87


Daniela Madruga Rego Barros Victor Silva88

RESUMO: É fato que a Alienação Parental é uma realidade a muito conhecida em todo o mundo. Para o Estado brasileiro, no entanto,
tal fenômeno, somente, foi reconhecido jurídicamente, é dizer, recebeu proteção jurídica a partir de 2010 com a publicação da Lei
n. 12.318/10. Antes disso os juizes faziam uso do Código Civil e da jurisprudencia para resolver referida contenda. Nesse sentido, é
possível, então, afirmar que a referida Lei trouxe todo um arcabouço de novidades ao debate sobre a referida temática. No entanto,
longe está de resolver o problema da Alienação Parental, já que a publicação da Lei tem interferencia direta no resultado e pouco
interfere nas causas de referido fenômeno. Assim, passou-se, em um primeiro momento a identificar conceitos, características e
motivações da Alienação Parental para, em um segundo momento, tecer comentários sobre a referida Lei em comento e tecer os
comentários quanto a sua aplicabilidade ou não.

PALAVRAS-CHAVE: Alienação Parental; sujeitos da Alienação Parental; Lei nº 12.318/2010.

RESUMEM: De hecho que la Alienación Parental es una realidad conocida en todo el mundo. Pero, para el Estado brasileño ese
fenómeno solamente fue reconocido jurídicamente, es decir, solamente hay recibido la protección jurídica en 2010 con la publicación
de la Lei n 12.318/10. Antes de ese marco los jueces utilizaban el Código Civil y las decisiones jurídicas para solucionar las contiendas
referentes a esa temática. De ahí, es posible, entonces, decir que esa Ley llegó para la sociedad con muchas novedades sobre
el tema de la Alienación Parental. Sin embargo, no hay duda que la solución para ese conflicto está lejos de la simple publicación
de una Ley que tiene actuación directa en el resultado y poco interfiere en las causas del referido fenómeno. Para la conclusión
del trabajo fue explanado, en un primer momento, los conceptos, características y motivaciones de la Alienación Parental para,
solamente después, promover comentarios sobre la Ley de la Alienação Parental en lo que se refiere su aplicabilidad o no.
PALABRAS-CLAVE: Alienación Parental; sujetos de la Alienación Parental; Lei nº 12.318/2010.

INTRODUÇÃO

O instituto do divórcio no Brasil muito tem se falado em Síndrome da Alienação Parental. Não que a alienação parental seja
causa ou consequência do divórcio ou ainda que, somente, possa ocorrer entre país divorciados. Seria leviano realizar tal afirmativa,
mas é fato que com foi a partir da implementação jurídica e aceitação social do divórcio que o referido fenômeno, é dizer, a alienação
parental tomou maior visibilidade.
Se não é assim, note-se que até mesmo o Projeto de Lei que motivou a publicação da Lei nº 12.318/10 aduz em sua
justificativa que o problema da Alienção Parental ganhou vulto na década de 80 com a escalada de conflitos decorrentes do número
de separações conjugais.
A alienação Parental, seguramente, consiste em um dos maiores mal que se pode praticar em contra de uma criança,
considerada vítima de tal circunstância. O que dificulta o entendimento dessa problemática é o fato de que a mesma é realizada,
na maioria das vezes, por um dos pais dessa criança, ou seja, por aquele denominado cônjuge alienador. No entanto, não se pode
negar a possibilidade dessa alienação ser realizada por agentes terceiros, ou seja, os avós, os tios, etc.
O trabalho apresentado foi realizado a partir de um estudo bibliográfico sobre o qual recaiu as primeiras observações e início
das análises criticas sobre o tema em comento. Utilizou-se do método indutivo para o exame da trajetória do referido fenômeno, seu
discurso e os acontecimentos concernentes ao mesmo no Estado brasileiro.
Desta feita é possível afirmar que busca-se apresentar neste artigo, o conceito e os aspectos gerais da síndrome, seus
elementos identificadores, como também os efeitos que tal distúrbio pode causar na prole vítima da alienação parental e os meios
de que se dispõe para identificá-la. Ademais, passa-se, também, a análise dos aspectos legais, ou seja, da Lei n. 12.318, de 26 de
agosto de 2010 que dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Apresentando,

87 Doutora em Direito penal pela Universidad Complutense de Madrid - Espanha, tendo realizado estágio doutoral na Facoltà di Giurisprudenza
dell’Università di Bologna - Itália. Atualmente, é pós-doutoranda em Ciências Sociais da rede: Fundación Centro Internacional de Educación y Desarrollo
Humano (CINDE) / Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) / Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Universidad de
Manizales (Colombia). Professora de Direito Penal da Faculdade Boa Viagem - FBV e Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP. vanessampedroso@
gmail.com
88 Mestre em Gestão Empresarial pela Faculdade Boa Viagem - Devry Brasil. Possui graduação em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco,
graduação em Licenciatura em História pela Universidade Federal de Pernambuco, Pós-graduação lato-sensu em Direito pela Universidade Cândido Mendes
e pela Escola Superior de Magistratura de Pernambuco. Atualmente é professora da Faculdade Boa Viagem Devry Brasil e advogada militante nas áreas cível,
empresarial e trabalhista. danielamadruga@gmail.com

89
assim, o tratamento dispensado pelo Estado brasileiro à temática da Alienação Parental.

1. ERA UMA VEZ... A CONVIVÊNCIA FAMILIAR

Manoel recém-formado em medicina por uma tradicional universidade brasileira conheceu em uma festa na casa de amigos Joana,
engenheira de uma multinacional com grandes projetos sob seu comando. A empatia foi imediata e os encontros não poderiam ser evitados.
Apesar dos cuidados, Joana apareceu gravida e tinha certeza: aquela criança era filha de Manoel.

Inicia-se, assim, mais uma estória de amor. O nascimento do pequeno David foi uma festa e todos estavam felizes com a saúde e
esperteza daquele bebe. Passados alguns anos Manoel já não estava tão contente com o relacionamento e passou a manter uma relação extra
conjugal com Cláudia. Logo apresentou a mesma ao pequeno David que passou a não mais entender o triangulo papai, mamãe e ela, Cláudia.

Manoel não satisfeito e acreditando que David lidava bem com a situação passou a fazer passeios com seu filho David e com Cláudia ao
mesmo tempo em que solicitava de maneira impositiva e através de caros presentes que o menino não contasse nada para sua mãe, Joana.

Tudo parecia normal. Até que Joana começou a perceber que seu filho não dormia normalmente, roía as unhas até sangrar, assustava-
se com qualquer situação que fugisse ao cotidiano e, pior, hostilizava-a sem que houvesse qualquer motivo para tanto.

Ao descobrir a infidelidade de Manoel, Joana que se sente traída e rejeitada decide pedir o divorcio e a guarda do pequeno David que
logo é afastado do pai e passa a ser utilizado por Joana como instrumento de sua vingança, pois a mesma passa a orientar seu filho a não
encontrar com o seu pai, ameaçando-o, inclusive, de palmadas caso David encontrasse as escondidas com seu pai durante o intervalo do
horário escolar.

Não satisfeita, Joana passou a encontrar alternativas para a não entrega de David aos passeios quinzenais com Manoel e Cláudia. A
criança era forçada a afirmar uma falsa doença e tinha seus encontros com o pai sub-estimados por Joana que em troca presenteava o pequeno
David com jogos e mimos diários.

Manoel inconformado com a situação busca por uma decisão judicial que lhe concede o direto de visitação e, mais uma vez, Joana
encontra meios para a criança não se encontrar com o pai, pois passa a desestimular o pequeno David nos dias de visita com gritos que em
nada contribuem para a sua formação.

Se não, note-se o exemplo de domingo passado quando a criança foi retirada da cama sob os gritos das seguintes afirmações: “Acorda
menino!! Arruma logo suas coisas que daqui a pouco o sacana do teu pai está passando aqui pra te buscar com a rapariga dele” e,
ainda, “Vê se pergunta a ele quando vai depositar o dinheiro da tua pensão, porque até agora nada, só tenho prejuízo desde que me
separei!! Dinheiro para beber e raparigar ele tem de sobra, ele não gosta de você David, só vem te buscar por obrigação da justiça!
É melhor você esquecer que tem pai”.

David, inegavelmente, passa a não demonstrar o mesmo desempenho acadêmico de antes, bem como não consegue se relacionar com
as crianças de sua idade demonstrando-se, ainda, emocionalmente instável. Tudo isso devido ao fato de que David sente-se dividido tendo que
escolher entre um dos pais.
Importante ter em mente que sob a ótica de David ele não tem que optar por ninguém, pois Joana e Manoel são seus, são seus pais e
como tal possuem ambos o dever de manutenção do poder familiar, ou seja, a mantença de uma série de deveres legais e morais em face dos
filhos.
Essa breve narrativa é uma ficção e poderia ser mais uma notícia ‘tola’ veiculada em algum meio de comunicação, mas não é. Infelizmente
é uma realidade constante em vários lares brasileiros, qual seja, a Alienação Parental.

2. O QUE SE CONHECE POR SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL (SAP)

É fato que o instituto do casamento na sociedade brasileira sempre esteve fundamentado na máxima da Igreja católica que
diz: “o que Deus uniu o homem não separa”. Inclusive a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 10 de novembro de 1937
afirmava:

Art 124 - A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado. (...).

90
Assim, o divórcio no Brasil, somente, passa a ser instituído, oficialmente, em 1977 com a emenda constitucional número 9 de
28 de junho de 1977, posteriormente regulamentada pela Lei 6.515 de 26 dezembro do mesmo ano.
Importante observar que a instituição de tal Lei somente foi possível em razão de uma emenda constitucional. Emenda essa
que já vinha sendo discutida desde 1946 quando não admitindo o divórcio, o Brasil, em um claro ato de satisfação à sociedade,
passa a considerar uma nova causa de anulação do casamento, qual seja, aquela instituída pelo erro essencial.
Hoje, tal contenda não encontra abrigo e a família brasileira insere-se em um novo contexto de padrões fundamentado na
divisão de papéis, já que a mulher brasileira atual encontra-se no mercado de trabalho galgando sua liberdade e a manutenção
familiar. Por outro lado, os papéis domésticos que outrora eram, exclusivamente, da mulher passam a ser divididos com os homens.
Nesse novo contexto, o divórcio passou a ser cada vez mais comum no Brasil e enseja a Emenda Constitucional nº 66/2010
que alterou a redação do §6º, do artigo 226, da Constituição Federal, retirando do texto a referência à separação judicial e aos
requisitos temporais para a obtenção do divórcio ou o próprio divórcio em seus tramites tradicionais.
A separação, portanto, ou, melhor dizendo, o divórcio é um instituto já conhecido do sistema jurídico e bastante disseminado
na sociedade brasileira que, por sua vez, tem se demonstrado contraria a toda uma gama de preconceitos em torno da família
dissolvida e da mulher divorciada.
Ultrapassada referida problemática as famílias brasileiras e quiçá as famílias de todo o mundo tem encontrado um novo
dilema, qual seja, as disputas pela guarda dos filhos que, por sua vez, têm crescido vertiginosamente nos tribunais, refletindo um
cenário ainda mais problemático, quando dentre os casais se apresenta algum caso da Síndrome de Alienação Parental.
Porém, fica a pergunta: o que vem a ser a Síndrome de Alienação Parental? Ora, é fato que as dissoluções dos vínculos
matrimoniais gerem conflitos não só aos casais, mas principalmente, aos filhos destes. Afinal, a ruptura de todo e qualquer vínculo
é um evento extremamente traumático e que poderá evocar na criança sentimento de culpa, ansiedade, sentimentos de abandono,
problemas escolares, entre outros (ROSA, 2014, 7). No entanto, tais problemas não podem ou, melhor, não devem ser provocados
dolosamente por um dos cônjuges.
É nesse sentido que surge a concepção da Síndrome de Alienação Parental que embora, seja a prática comum nas relações
humanas, o termo, somente, passou a ser difundido no início de 1985 quando Richard A. Gardner apresenta um documento onde
descreve todo um arcabouço de sintomas que apresentam as crianças que vivenciam a disputa de sua custódia por parte de seus
pais. (GARDNER, 1985, p.2).
Para Gardner a alienação parental consiste em
um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua
manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança
e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem
cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. (GARDNER, 1985,
p.2)

É em outras palavras afirmar que aquilo que se denomina de Síndrome da Alienação Parental apresenta-se como uma
intervenção na formação psicológica da criança ou do adolescente promovendo, assim, um transtorno psicológico e comportamental
onde um dos pais, normalmente o genitor guardião ou, ainda, denominado cônjuge alienador, manipula, articula os pensamentos da
sua prole no sentido de insultar, menosprezar e distorcer a imagem do ex-cônjuge ora alienado sem qualquer que seja a justificativa.
O objetivo é a tentativa de destruir o vinculo afetivo, bem como ver a prole repudiar o outro genitor, provocando, consequentemente,
o afastamento natural entre o genitor alienado e sua prole. (MOTTA, 2009, p. 42/43).
É em atenção a essa situação causada pelos pais aos seus próprios filhos, ou até mesmo parentes mais próximos, que
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/90, previu como um dos seus princípios mais importantes, o melhor
interesse da criança e do adolescente, que prima pelo desenvolvimento e, especialmente, a comunicação com os pais.
No entanto, mesmo com essa previsão legal, os progenitores não respeitam o melhor interesse da criança ou do adolescente,
e sim, os seus próprios interesses, quais sejam magoar, se vingar, machucar, denegrir um ao outro, em razão do fim da relação, e
o que é pior, utilizando-se, infelizmente, do próprio filho como instrumento de martírio do outro cônjuge.
Em decorrência desse comportamento, Maria Berenice Dias entende que a Síndrome da Alienação Parental traz uma série
de consequências para a vida futura das crianças e adolescentes que, supostamente, tenham sido afetados pela referida síndrome,
pois que gera uma contradição infinita de sentimentos entre o amor do genitor alienador e o amor do genitor alienado (DIAS, 2007,
102).

3. DOS EFEITOS DA SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

Importante retomar o que foi dito no inicio desse trabalho com relação a David, personagem da estória fictícia sobre alienação
parental: (...) Tudo isso devido ao fato de que David sente-se dividido tendo que escolher entre um dos pais. Importante ter em mente
que sob a ótica de David ele não tem que optar por ninguém, pois Joana e Manoel são seus, são seus pais e como tal possuem

91
ambos o dever de manutenção do poder familiar, ou seja, a mantença de uma série de deveres legais e morais em face dos filhos.
Note-se que David passa a escolher um dos sucessores de maneira forçada e é, segundo Lacan, essa escolha forcada
que constitui a alienação. Essa compreensão de alienação trazida pelo autor é muito bem representada na metáfora “A bolsa ou
a vida!”. Segundo esse autor, escolhendo a bolsa perder-se-ia a bolsa e a vida. Em contra partida, escolhendo-se a vida, essa
estaria amputada da bolsa, ou seja, escolhendo um ou outro elemento, você sempre estaria perdendo o elemento escolhido mais a
intercessão dele com o outro elemento.
Ademais, segundo o mesmo autor, essa não é uma mera escolha forçada entre isso ou aquilo é uma escolha que parte do
campo de alternativas de um terceiro que não aquele que escolhe. Fato que termina por promover o desaparecimento dos elementos
de escolha, negando, assim, a existência de um “eu”. (2003, p. 195/198).
O ato de alienar a criança em contra do cônjuge alienado fere os direitos fundamentais desse menor ora considerado vítima,
pois é fato que ofende o direito à convivência familiar indo, inclusive, mais além, já que ofende, também, à dignidade, ao respeito, à
liberdade de escolha dessa criança ou jovem vítima da alienação.
Em esse arcabouço de sentimentos desencontrados, é importante ter em mente, que a criança passa, então, a confiar em
somente um dos seus sucessores e a esse se torna leal compreendendo que sentir e/ou, ainda, demostrar carinho ou qualquer
sentimento de afeição pelo outro é demonstrar traição por aquele a quem é fiel. (DOLTO, 1988, p. 14/16)
Dada afirmação é possível de ser averiguada no causo contado no início deste trabalho. Lembre que a referida ficção inicia-
se com um triângulo amoroso ao qual David estava sendo submetido pelo pai, passando, essa criança, a hostilizar, a repudiar a sua
mãe e sendo fiel ao seu pai – que naquele momento é considerado genitor alienador.
Ademais, Maria Berenice Dias lembra que a Síndrome da Alienação Parental pode, ainda, causar efeitos que vão variar de
acordo com a idade da vítima alienada, mas que podem passar pela angustia e, também, pelo sentimento de culpa dessa criança,
já que a mesma sente-se sozinha, abandonada e amargurada. Tais circunstâncias podem, por sua vez, encontrar representações
na formação do indivíduo enquanto adulto determinando, assim, as atitudes de auto-destruição como o uso de drogas, sejam licitas
e/ou ilícitas e, ainda, a prática de suicídio. (2007, p 102/105).
Para Motta, a Síndrome da Alienação parental pode, também, causar sequelas aos cônjuges alienador e alienado, pois que é
comum no processo de alienação parental as falsas acusações, a exemplo do que foi relatado na estória fictícia de David no início
desse trabalho, onde a mãe – agora, cônjuge alienadora, passa a afirmar: (...) o sacana do teu pai está passando aqui pra te buscar
com a rapariga dele e, ainda, (...) Dinheiro para beber e raparigar ele tem de sobra, ele não gosta de você David, só vem te buscar
por obrigação da justiça! É melhor você esquecer que tem pai”.
Essas são afirmativas típicas de difamação do outro cônjuge, podendo inclusive chegar a injuria quando venha a ofender-lhe
a dignidade ou o decoro. No entanto, cumpre lembrar que não são raras as vezes onde se averigua, também, a atribuição de falsos
abusos sexuais por parte do conjuge alienado à criança vítima da alienação. Circunstancia que possibilita o emprego do crime de
calunia.
Desta feita, é possível afirmar que a Síndrome da Alienação Parental produz efeitos nefastos para todos os sujeitos que
compõem a alienação, é dizer, a vítima (criança ou adolescente), o alienado (pai ou mãe com/sem a guarda) e o alienador (pai
ou mãe com/sem a guarda). Sem esquecer que referido instituto pode abarcar a figura de terceiros representados por parentes
detentores ou não da guarda da criança, como são exemplo os avós.

4. COMO DESCOBRIR A OCORRÊNCIA DA ALIENAÇÃO PARENTAL?

Inicialmente, cumpre destacar que a manipulação da criança vítima da Síndrome da Alienação Parental pode ser realizada por
diversas maneiras, é dizer, presentes, ameaças, falsas acusações, etc e pode, também, ser identificada em qualquer dos genitores
e/ou em terceiros que realizam campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade,
mas é inegável que referida situação é corriqueira no ambiente materno, já que é tradição para nosso sistema jurídico que, uma vez
existindo a dissolução conjugal, os filhos permaneçam com a mãe. (TRINDADE, 2014, 20/25) Ademais, note-se que a Síndrome
pode ocorrer em qualquer momento da vida da criança, em casa, na rua, na escola, antes, no curso ou após a separação ou divórcio
do casal.
Variáveis que, por sua vez, ensejam certa dificuldade na identificação de tal Síndrome exigindo, portanto, um cuidado
redobrado do cônjuge alienado na identificação de seus sinais. Ora, é fato que logo após o anuncio do divórcio as partes envolvidas
estejam fragilizadas, magoadas, ofendidas e é comum utilizar a criança como ‘moeda de troca’ nas acusações.
Daí, as primeiras condutas, consideradas indícios da alienação parental, quais sejam, a criança passa a estar sempre doente
de uma doença inexistente, atrasos inexplicáveis quando da entrega da criança ao cônjuge alienado, os tratos realizados entres
seus ascendentes não são cumpridos, surgem compromissos de última hora, tudo no sentido de promover o afastamento do filho
para com o outro genitor são indícios da possibilidade de Alienação Parental.

92
Importante ter em mente que esse afastamento promovido entre a criança e o cônjuge alienado não é aquele meramente
físico, onde pais alienados não moram na mesma casa dos filhos, vítimas da alienação. O afastamento aqui refere-se àquele
realizado a partir do que se pode chamar de “coisificação” da criança, que, em outras palavras, quer dizer que o genitor guardião/
alienador toma a criança para si, como se fosse uma propriedade. (ROSA, 2014).
No que se refere à criança, essa passa a apresentar comportamentos específicos que vão desde a agressividade verbal ou
física para como o cônjuge alienado até o relato de vitimação de situações de violência e abandono que jamais vivenciou, podendo,
ainda, passar pela frieza de tratamento para com seu genitor alienado e/ou demais familiares. (SOUZA, 2010, 30/35). Todos esses
comportamentos são indícios da existência da alienação parental e devem ser e uma vez observados devem, de imediato ser
tomadas as devidas providencias, pois a Sindrome da Alienação Parental pode gerar sequelas irreversíveis às suas vítimas.

5. DAS PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS

Conhecendo a Síndrome da alienação Parental e sabendo identificar os comportamentos característicos da mesma fica a
pergunta: o que se deve fazer quando da identificação da alienação parental o, melhor, o que é possível fazer e qual o amparo que
o Estado me oferece para a solução de referido conflito?
Ora, identificado um caso de alienação por parte de qualquer um dos cônjuges, deve – o genitor acusado de alienador – ser
afastado do convívio da criança, bem como ser, de imediato, solicitado todo um arcabouço probatório que vão desde de a ouvida de
testemunhas até a investigação psicológica da criança para diagnosticar a real existência das acusações.
É de se questionar se esse processo não é lento, já que envolve diferentes fazes, ademais da tão conhecida morosidade do
Poder Judiciário. Ora, é fato que antes da Lei 12.318/2010 que dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069,
de 13 de julho de 1990 todo esse processo era demasiado lento, pois não existia um instrumento específico que disciplinasse tal
contenda, tendo – os julgadores – que se utilizar da legislação civil que, na maioria das vezes, exigia demasiados estudos e debates
para sua aplicação genérica da lei à novidade em específico.
Nesse sentido é possível afirmar que a Lei 12.318 trouxe algum avanço ao tema, já que atribuiu significado legal a tal circunstância,
bem como determinou um rol exemplificativo de condutas que a caracteriza dirimindo os debates e direcionando as decisões referentes ao
tema em questão. Ademais, a referida Lei em seu art. 4.º aduz que:
Art. 4o  Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual,
em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, COM URGÊNCIA,
ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança
ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre
ambos, se for o caso. (Griffus nossos)

Cumpre destacar que até mesmo o perito, geralmente assistentes sociais e psicólogos, designado pelo juízo para diagnosticar
os atos de alienação parental tem o prazo de 90 dias para apresentar o laudo pericial. Fat é que pode, referido prazo, ser prorrogado
mediante autorização judicial, mas fica clara a necessidade de urgência que o legislador brasileiro atribui à temática da Alienação
Parental.
No entanto, cumpre refletir sobre a finalidade de referida Lei, sua proposta e propositura, qual a novidade e quais as
problemáticas referentes à mesma. Essas são reflexões que abordamos no próximo apartado.

6. LEI 12.318 DE 26 DE AGOSTO DE 2010

É fato que a referida lei surge para trazer a coparentalidade positiva, ou seja, a divisão da liderança familiar ora compartilhada
entre o pai e a mãe que apoiados pela ideia de “chefes” de família terminam por exercer os seus papeis parentais (McHALE, 1995,
p. 985-96).

Giana Bitencourt Frizzo através de Margolin nos lembra que é importante ter em mente que referidos papéis para ser considerado
dentro da temática proposta guardam relação com os cuidados dos filhos e não estão divididos de maneira equivalentes, ou seja,
não se trata aqui da relação conjugal. A Lei não surge para proteger a relação conjugal que, por sua vez, consiste na preocupação
com o parceiro, consigo e com a relação entre estes (2001,3-21).

Desta feita, o mesmo autor aduz que a coparentalidade consiste em uma intercessão ente o relacionamento conjugal e a
parentalidade e refere-se especificamente à maneira como os pais exercem seus papeis parentais com relação aos seus filhos.
(MARGOLIN, 2001,3-21)

Estes papéis variam de acordo com o contexto social no qual se encontram os agentes e, também, de família para família.

93
Por isso, Feinberg afirma que a coparentalidade pode se dar entre mães e avôs, pois é muito comum esses agentes dividirem os
papéis parentais. (2003, 95-131)

Na tentativa de assegurar tal harmonia através da inibição da alienação parental e dos atos que dificultem o convívio entre
a criança e seus genitores, surge o Projeto de Lei n. 4.053/08 de autoria do então deputado federal Regis de Oliveira. Esse projeto
foi de suma importância para o ordenamento jurídico brasileiro, pois que estabelece o que – além dos atos declarados pelo juiz ou
constatados por equipe multidisciplinar – consideram-se formas de alienação parental.

Ademais, estabeleceu, também, o procedimento para averiguação, caso haja indicio, da alienação parental e as medidas que
poderá o juiz, prontamente, tomar com relação ao cônjuge alienador sem prejuízo da posterior responsabilização civil e criminal.

Com a aprovação do referido projeto, tem-se a Lei 12.318/10 que dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da
Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente). É fato que já existiam outros meios jurídicos para lidar com a contenda da
Alienação Parental. No entanto, lembra Marcos Duarte que a Lei em comento elenca um conjunto restrito de possibilidades, pois
que aclara de maneira muito pertinente, através de um rol exemplificativo descrito em seu art. 2.º as formas de alienação que podem
ser empregadas em contra da criança vítima de referido processo. Ademais, que aduz quanto a condição de alienante e alienado
aclarando que tanto um como outro não, necessariamente, são os pais, pois que pode ser, também, os avós, os familiares, etc.

Um avanço observado com essa Lei é referente ao fato de que pode o juiz – como anteriormente dito – conceder ao
processo tramitação prioritária sob qualquer indicio de alienação parental. No entanto, importante ter em mente que a tramitação
de um processo de alienação parental não se refere ao distanciamento absoluto da criança do genitor alienado, pois parte-se do
pressuposto que esse menor necessita da figura, do convívio com seus genitores.

Desta feita, o parágrafo único do art. 4º da lei in examine aduz que Assegurar-se-á à criança ou adolescente, bem como ao
genitor garantia mínima de visitação assistida garantindo, assim a garantia dos direitos fundamentais constitucionalmente garantidos
do menor, pois que o distanciamento repentino e quiçá traumático do menor com um de seus genitores ofende direitos básicos
como a integridade mental, moral, à convivência familiar, entre outros que, por sua vez, dificultam o desenvolvimento pleno da
personalidade do cidadão do futuro. A garantia de tais direitos podem, por sua vez, ser averiguados no art. 3.º dessa mesma Lei.

É fato que a garantia de visitação encontra ressalvas, as quais são, também, observadas pela referida lei quando lembra que
uma vez existindo risco iminente de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente e tal risco tenha sido
devidamente atestado por profissional designado - pelo juiz - para acompanhamento das visitas deve-se, sim, nesse caso, modificar
a forma de visitação a ser realizada.

Tal possibilidade, por sua vez, leva a reflexão que o judiciário passa a garantir, na atualidade, a manutenção do convívio
do menor alienado com o genitor seja ele guardião ou não fortalecendo, assim, o conhecido direito a convivência através da
aproximação dos entes parentais.

O laudo pericial deve ser realizado por assistentes sociais e psicólogos como antes dito e uma vez esses profissionais sejam
favoráveis a existência de Alienação Parental por parte de um dos ascendentes deverá o juiz tomar as providências estabelecidas
no art. 6º da mesma Lei, as quais poderão, ser aplicadas de maneira cumulativa ou não sem prejuízo, inclusive, da responsabilidade
civil ou criminal, bem como da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar os efeitos da Alienação
Parental.

O artigo em comento, também, aduz em seu parágrafo único que pode, inclusive, o juiz ampliar seu poder discricionário uma
vez perceba que o ascendente alienante tem mudado abusivamente de endereço no afã de inviabilizar ou, ainda, obstruir qualquer
que seja a convivência do ascendente alienado com o menor, vitima da alienação.

O juiz poderá, nesse caso, solicitar a obrigação deste ascendente alienante em levar a criança ao encontro do outro ou,
também, retirar a criança da residência do genitor utilizando-se, para isso, dos fundamentados da alternância dos períodos de
convivência familiar.

Tal prerrogativa encontra apoio no art. 7º da mesma Lei que, por sua vez, faz menção ao fato de que sempre que seja
impossível o estabelecimento da guarda compartilhada, a preferência de guarda do menor é daquele ascendente que viabiliza a
convivência deste com o outro genitor.

Por fim, o art. 8º refere-se a questão do foro competente para impetrar ação pertinente ao tema in examine. Sem embargo,
essa é matéria que merece tratamento especial para ser deslindada em um outro trabalho.

94
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ideal de uma família unida pelos laços da coparentalidade possibilita aos seus descendentes uma formação moral,
psicológica e até social mais equilibrada e saudável. No entanto, a referida prática que deveria ser regra no mundo real, tem sido
uma exceção.

Fica, então, a reflexão do porque? Ora, porque o ideal de “família feliz” tem sido cada vez mais raro quando da observação
dos lares brasileiros? É fato que para toda regra há exceções, bem como para a existência de toda exceção há uma regra, mas
não se pode negar que a estrutura familiar está fundamentada em pilares que vão desde o equilíbrio moral ao equilíbrio financeiro
– como antes dito, toda regra tem exceção, ou seja, não se tenta dizer que não se observa a prática da Alienação Parental entre
as famílias de bom patamar financeiro – ou seja, a estrutura sócio econômica familiar tem influência direta na formação sócio moral
daquele menor.

Desta feita, o que se tem observado é uma repetição de direitos que são desrespeitados pelos diversos agentes que compõem
a sociedade, pois o pai que, por exemplo, encontra-se desacreditado de um sistema econômico que não lhe permite oferecer a
formação educacional que sempre sonhou ao seu filho passa a desacreditar de todo um sistema que gere a sua família.

A mãe, por sua vez, vê aquele pai desacreditado torna-se insatisfeita com referida situação e na tentativa de escrever uma
nova estória procura e percebe o tamanho da dificuldade imposta pela sociedade e pelo sistema econômico.

Enfim, todo esse descredito e insatisfação para com um sistema que, aparentemente, está do lado de fora das casas é
depositado na depreciação do outro que, nesse caso, é o cônjuge. Fato que interfere de maneira direta na formação familiar e,
consequentemente, na formação dos descendentes.

Nesse sentido, é possível afirmar, assim, que a Alienação Parental encontra suas raízes e fundamentos em processos muito
mais complexos que os simples desentendimentos familiares.

O Estado, por sua vez, na tentativa de resolver referida contenda atua, equivocadamente, no resultado, ou seja, publica uma
Lei que visa

Mas porque se diz que o Estado atua de maneira equivocada? Ora, a solução para tal conflito, seguramente não está na
publicação de mais uma lei que venha a atuar de maneira direta nos resultados. A solução está em uma atuação direta do Estado
na educação, na saúde, na previdência, enfim em todo o arcabouço estrutural do cidadão, possibilitando a este o desenvolvimento
de sua “família feliz”. Porém, ainda assim não seja possível tal prática. Sim, estará justificada a aplicação das medidas que aduz a
Lei 12.308/10.

Por outro lado, não se pode negar que a edição da supra citada Lei consistiu em um avanço do sistema jurídico brasileiro,
pois na impossibilidade de atuar na causa, atua-se no resultado inibindo o avanço de referida prática e, portanto, contribuindo para
que menos crianças sofram os efeitos de tal prática.

Anteriormente, é dizer, antes da existência da Lei o Poder Judiciário contava com o Código Civil e com a jurisprudência, ou
seja, sem uma legislação especifica que regulasse referido problema e nesse sentido a Lei que trata da Alienação Parental também
contribuiu para a temática em questão, pois que passou a defini-la, já que estabelece o conceito de Alienação Parental em seu texto
estabelecendo, também, formas exemplificativas.

Ademais, note-se que a referida Lei orienta o juiz, o Ministério público, as partes no processo de identificação dessa
circunstância, bem como dos procedimentos a ser tomado quando reconhecida a existência da matéria em questão.

O fato é que faz-se necessário uma mobilização por parte do Estado no sentido de evitar a realização de tal prática, seja
atuando nas causas, seja atuando nos resultados, pois que tratam-se de crianças e adolescentes em formação moral, psicológica e
social não sendo, portanto, possível tolerar violência de qualquer que seja a ordem em encontra desses mesmos sujeitos.

A proteção dessas crianças é a proteção da sociedade futura, pois esses menores são cidadãos em formação de valores
éticos que posteriormente serão reproduzidos na sociedade.

REFERÊNCIAS

DIAS, Maria Berenice. Incesto e Alienação Parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São Paulo: Editora Revistas dos
Tribunais, 2007.

95
DOLTO, Francoise. Quando os pais se separam. Ed. Zahar. Rio de Janeiro, 1989.
FEINBERG, M. The internal structure and ecological context of coparenting: A framework for research and intervention. Parenting:
Science and Practice 2003;3: 95-131 Apud: FRIZZO, Giana Bitencourt. Et. Out. O conceito de coparentalidade e suas implicações
para a pesquisa e para a clínica. In. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. FAPESP: São Paulo, 2005.
V.15, n 3.

FRIZZO, Giana Bitencourt. Et. Out. O conceito de coparentalidade e suas implicações para a pesquisa e para a clínica. In. Revista
Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. FAPESP: São Paulo, 2005. V.15, n 3.
GARDNER, Richard. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)? Tradução de Rita
Rafaeli. Disponível em: <http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente>. Acesso em: 8 set.
2009.

LACAN, J. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. In. Outros escritos. Tradução Vera Ribeiro; Versão final: Angelina
Harari e Marcus Andre Vieira; Preparação de texto André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2003.
MARGOLIN, G; GODIS, EB, JOHN, RS. Coparenting: a link between marital conflict and parenting in twoparent families. Journal of
Family Psychology 2001; 15(1), 3-21. Apud: FRIZZO, Giana Bitencourt. Et. Out. O conceito de coparentalidade e suas implicações
para a pesquisa e para a clínica. In. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. FAPESP: São Paulo, 2005.
V.15, n 3.

McHALE JP. Coparenting and triadic interactions during infancy: the roles of marital distress and child gender. Developmental
Psychology. Apud. FRIZZO, Giana Bitencourt. Et. Out. O conceito de coparentalidade e suas implicações para a pesquisa e para a
clínica. In. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. FAPESP: São Paulo, 2005. V.15, n 3.
MOTTA, Maria Antonieta Pisano. A Síndrome de Alienação Parental. In: MAGALHÃES, Maria Valéria de Oliveira Correia. Alienação
Parental e sua Síndrome. Recife: Editora Bagaço, 2009.

SOUZA, Ana Martins de. Síndrome da Alienação Parental: um novo tema nos juízos de família. São Paulo: Cortez, 2010.
ROSA, Felipe Niemezewski. A Síndrome de alienação parental nos casos de separações judiciais no direito civil brasileiro. Site:
http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/ direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2008_1/felipe_niemezewski.pdf
Acesso em: 08/06/2014

TRINDADE, Jorge. Incesto e Alienação Parental. In. DIAS, Maria Berenice (coord). Incesto e alienação parental. São Paulo: Editora
dos Tribunais, 2014.

96
ALIENAÇÃO PARENTAL. AVANÇOS LEGISLATIVOS E ANÁLISE DOS ASPECTOS PROCESSUAIS.

Felipe Soares Torres89**

Graciliano de Souza Cintra90**


RESUMO: O estudo tem por objetivo a análise das inovações no mundo jurídico em relação à proteção do menor, em específico os
aspectos processuais da Lei Federal n.º 12.318/2010. Para tanto, realiza-se uma compreensão do fenômeno da alienação parental
sob a ótica da parte mais frágil, a criança. Consolidam-se algumas técnicas para a efetivação do Princípio do Interesse Superior do
Menor, de modo a mitigar a síndrome da alienação parental e garantir ao menor o seu direito fundamental à convivência familiar
saudável. Deve-se frisar que tal pesquisa possui como foco auxiliar acadêmicos e aplicadores do direito na busca de soluções
concretas para casos reais e controvertidos, os quais superam a letra da lei e necessitam de uma visão sistemática hodierna. O
método indutivo foi o prioritariamente utilizado, partindo de fatos particulares até alcançar uma conclusão de ordem geral, tendo
como lastro a análise das normas pertinentes e a posição de doutrinadores consagrados.

PALAVRAS-CHAVE: Criança; Alienação parental; Avanços processuais.

INTRODUÇÃO

A síndrome de alienação parental (SAP), também conhecida pela sigla em inglês PAS, foi mencionada pela primeira vez pelo
psiquiatra norte-americano Richard Gardner no ano de 1985. Tal síndrome é uma forma de programar crianças e adolescentes, em
situação de disputa judicial, para que rejeitem a convivência com um dos pais, apegando-se somente ao outro.

Gardner observou que esse processo de programação era articulado deliberadamente por um dos genitores motivado por
ciúme, raiva ou vingança, e objetivava separar os filhos do ex-consorte.

Bastante nocivo aos interesses da criança, tal fenômeno incutia nestas, sentimentos de abandono, raiva ou mágoa que não
tinham justificativas plausíveis para serem alimentados.

Contemporâneo às pesquisas de Gardner, a Carta Magna de 1988 passou a consagrar o compromisso do Brasil com a
Doutrina da Proteção Integral, assegurando às crianças e aos adolescentes a condição de sujeitos de direitos, de pessoas em fase
especial de desenvolvimento com direito a uma proteção absoluta e prioritária (artigo 227, CF/88).

Essa garantia constitucional já deu azo à instituição, entre outros diplomas jurídicos, do Estatuto da Criança e do Adolescente
(8.069/90) e da lei 12.318/2010. Legislações protecionistas – em um bom sentido - que consagram, entre outros aspectos, o princípio
do superior interesse das crianças e a vedação a alienação parental.

No contexto de fazer cumprir a promessa constitucional de proteção à criança, o presente artigo busca trazer novas luzes
sobre uma forma de violência psicológica praticada não só contra pais, mas principalmente contra filhos, que é a alienação parental,
analisando-se os avanços na concretização da proteção do menor.

Tal fenômeno, que começou a ser estudado no âmbito da psicologia, é facilmente entendido, porém dificilmente categorizado,
porque tem a ver não com a ideia técnica do Direito de “enquadramento de uma pessoa em uma conduta”, mas com a ideia de
atitude (in)consciente que somente em determinados graus é que representa prejuízos suficientes para ensejar uma resposta
jurídica.

Tendo como pano de fundo esta realidade, a presente pesquisa objetiva compreender os contornos da alienação parental,
apreender o significado das violações jurídicas que ela acarreta, alinhando esta perspectiva com os avanços processuais hodiernos
na concretização da proteção do menor.

89 *
Mestre em Ciências Jurídico-Civilísticas pela Universidade de Coimbra - Portugal.
Especialista em Direito das Pessoas e da Família pela Universidade de Coimbra - Portugal.
Especialista em Proteção dos Menores pelo Centro de Direito da Família da Universidade de Coimbra - Portugal.
Especialista em Direito Público pela ESMAPE.
Especialista em Direito Civil pela Faculdade Anhanguera 
Professor da Faculdade Boa Viagem/DEVRY.
Advogado militante na área cível.

90 **
Especialista em Direito Público pela Estácio do Recife
Advogado militante na área cível

97
1 BREVE VISÃO DO PAPEL DA CRIANÇA NA FAMILIAR CONTEMPORÂNEA

O universo das relações familiares vem se modificando. Com o passar dos anos, a proteção da família como centro de
produção e reprodução de valores culturais, éticos, religiosos, políticos e econômicos reduziu o seu monopólio, dando lugar à
proteção jurídica da família como espaço de socialização dos filhos e de promoção da dignidade de seus membros (OLIVEIRA,
2008, p.64).

A família hodierna vem perdendo os seus papéis tradicionais, tornando-se a pequena família ou família celular, tendo as suas
modificações estimulado o surgimento de funções essenciais, como por exemplo, a inserção social dos filhos. Porém, a nova família
não deve ser reconhecida só pelas funções atuais que desempenha, mas também pela nova estrutura que promove esse mesmo
desempenho. Com efeito, esta não se assenta mais numa base patriarcal, hierárquica, em que predomina a sujeição paterna.
A família atual baseia-se numa estrutura igualitária e democrática, possuindo como principais pilares a igualdade, o respeito, a
solidariedade, a afetividade e a busca pela felicidade pessoal entre os seus membros.

Imersa nesta cadeia de mudanças, a criança passa a assumir o estatuto jurídico de filho, sujeito da relação jurídica da
filiação, sendo perspectivada não como um mero sujeito passivo, objeto das decisões de outrem, sem qualquer capacidade para
influenciar na condução de sua vida, mas sim como titular de direitos fundamentais inerentes a sua condição de ser humano em
desenvolvimento.

Para que tal condição seja concretizada e garantida em sua plenitude, o menor deve ser protegido de todas as circunstâncias
que possam prejudicar o seu desenvolvimento salutar. Estes fatores podem ser externos (para além das fronteiras familiares) e até
mesmo internos. Quando a ameaça é interna, pode-se estar diante da figura da alienação parental.

2 A NOVA FAMÍLIA E A ALIENAÇÃO PARENTAL

Não que a família tradicional seja um instituto em completa extinção, mas a vida moderna e dinâmica vem trazendo algumas
mudanças de paradigmas. Hoje é natural observar os pais sendo demandados para auxiliar nas tarefas domésticas; as mães
ingressaram no mercado de trabalho e contribuírem de forma essencial para o sustento do lar. Assim, pode-se afiançar que quando
o assunto é família, a tendência é que os sujeitos se misturem e os poderes/deveres se dividam.

Além disso, afastando-se de uma visão religiosa, as sociedades conjugais deixaram de ser “para sempre” e as famílias
passaram a ser “reconstituídas” por meio de novos casamentos ou uniões estáveis. Na dissolução das uniões os homens passaram
a desejar a convivência com os filhos, deixando as mães de serem as únicas beneficiadas na “partilha” das crianças (WAQUIM,
2014, p.2).

Toda essa evolução é recente. É inegável que valores culturais seculares ainda influenciam a sociedade. Assim, é de certo
modo natural que alguma das partes não se sinta confortável em situações específicas e que o Poder Judiciário venha ser acionado
para dirimir conflitos na seara familiar.

Um dos conflitos observados nessa quebra da separação tradicional de papéis tem sido a manipulação dos filhos para se
aproximarem de um dos genitores e repelirem o outro, situação diagnosticada pelo psiquiatra Richard Gardner como Síndrome da
Alienação Parental (GARDNER, 2002, p.2).

Na Síndrome da Alienação Parental o genitor alienador, motivado na maioria das vezes pela frustração do fim do relacionamento,
pelo ciúme do novo relacionamento do ex ou ainda como vingança pela perda do padrão de vida em virtude da separação, inicia
uma campanha de difamação com o objetivo de desqualificar o genitor alienado perante o seu filho.

Raquel Pacheco Ribeiro de Souza (2008, p. 7) enfatiza que na situação de Alienação Parental os filhos são penalizados pela
imaturidade dos pais. Com efeito, em diversas situações estes não sabem separar a morte conjugal da vida parental, atrelando o
modo de viver dos filhos ao tipo de relação que eles, pais, conseguirão estabelecer entre si, após a ruptura da vida conjugal.

Quanto mais tenra a idade das crianças expostas à Síndrome da Alienação Parental, maiores são as chances de que a
manipulação seja por elas absorvida, que passem a reproduzir em seu discurso as opiniões do alienador, tornando difícil, com o
decurso do tempo, identificar até que ponto o discurso tem uma motivação concreta ou se foi mera ficção.

É necessário registrar que o termo “Síndrome” não é utilizado unanimemente pelos profissionais que investigam o fenômeno
da alienação parental. Alguns estudiosos, que preferem usar o termo Alienação Parental (AP), alegam que a SAP não é realmente
uma síndrome. Pela definição médica, uma síndrome é um conjunto de sintomas que ocorrem juntos, e que caracterizam uma
doença específica. Embora aparentemente os sintomas sejam desconectados entre si, justifica-se que sejam agrupados por causa
de uma etiologia comum ou causa subjacente básica (GARDNER, 2002, p.3).

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Neste aspecto, a síndrome tem clareza porque a maioria dos sintomas (se não todos) manifesta-se previsivelmente juntos,
como um grupo. Dentro dessa ótica, Richard Gardner (2002, p.3) consagra a Síndrome da Alienação Parental como sendo
caracterizada por um conjunto de sintomas que aparecem na criança geralmente juntos, especialmente nos tipos moderado e
severo. Esses sintomas incluem, entre outros:

1. Uma campanha objetivando denegrir o genitor alienado.

2. Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação.

3. Falta de ambivalência.

4. O fenômeno do “pensador independente”.

5. Apoio automático ao genitor alienador no conflito parental.

6. Ausência de culpa sobre a crueldade a e/ou a exploração contra o genitor alienado.

7. A presença de encenações ‘encomendadas’.

8. Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor alienado.

Cumpre destacar que a Lei 12.318/2010 fez a escolha de tratar a alienação parental como um processo e não como uma
síndrome, sendo este último termo ausente na redação legal.

3 ALIENAÇÃO PARENTAL NO BRASIL

No Brasil, depois de longos anos de penúria, a Lei 12.318, de 26.08.2010 passou a tratar a alienação parental, definindo-a
como a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós
ou pelos que tenham a criança ou o adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Embora menos frequente, a alienação parental, como prevê a lei, pode envolver não só os pais, mas também os avós ou
as pessoas que tenham a criança sob sua autoridade, guarda ou vigilância. É possível, ainda, em casos mais graves, constatar a
alienação parental bilateral dificultando sobremaneira a proteção dos filhos.

A mesma lei consagra algumas situações capazes de configurar a alienação parental. São elas: realizar campanha de
desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; dificultar o exercício da autoridade parental;
dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
omitir, deliberadamente, a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço; apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

Embora a separação e o divórcio atinjam afetivamente todos os membros das famílias, sabe-se que as pessoas possuem
diferentes vulnerabilidades. A resiliência das crianças parece ter uma importância determinante, já que a grande maioria destas,
apesar do significativo estresse vivenciado durante o divórcio dos pais, tende a ter uma boa relação com ambos os genitores
(AZAMBUJA, TELLES, DAY, 2013 p. 83).

Suarez (2011, p. 637) assevera que alguns fatores como a quantidade de tempo passada com o alienador sem ver o progenitor
alienado e a existência de um irmão que sirva de modelo de rechaço favorecem o desenvolvimento da síndrome. Além do que,
confundir o interesse do adulto com o da criança materializa uma situação corriqueira nos conflitos que são levados às Varas de
Família.

A alegação de alienação parental, em regra, vem acompanhada de pedido de suspensão de visitas ou mesmo de alteração

99
de guarda, fatos que dizem respeito ao direito à convivência familiar da criança e do adolescente. Os fatos a serem analisados em
demandas que discutem a guarda e as visitas nem sempre são de fácil percepção e constatação: exigem uma visão interdisciplinar
e uma capacitação específica dos profissionais. Advogados, técnicos, promotores e procuradores de justiça, assim como os
magistrados, devem estar cientes das múltiplas facetas que compõem as relações familiares (AZAMBUJA, TELLES, DAY, 2013 p.
83).

Necessita-se que os profissionais, além da habilidade legal para o exercício da profissão, sejam portadores de competência
técnica específica para a função a ser desempenhada. Nenhum outro campo do Direito exige do jurista, do legislador, do advogado,
do técnico, do magistrado e do membro do Ministério Público tamanha atenção e sensibilidade para perceber e compreender os
sinais emitidos pelas partes.

4 O PROCESSO DE ALIENAÇÃO PARENTAL

Os avanços no campo da psicologia que permitiram uma melhor compreensão sobre a nova família, e em específico sobre a
alienação parental, redundaram em inovações significativas no ordenamento jurídico, em especial na esfera processual.

Essas inovações ocorreram de forma paulatina, podendo ser observadas tanto no ECA quanto na Lei Federal n.º 12.318/2010.
Dentre tantas conquistas na proteção do menor, a primeira a ser enfatizada, por sua importância, é a constante no Art. 4º da Lei de
Alienação Parental, que permite ao magistrado, ex officio, iniciar o processo para investigar possível prática de alienação parental.

Assim, vê-se de forma clara que dada à importância do tema, o próprio juiz poderá iniciar o processo, contrapondo-se ao
princípio da inércia, expresso no Art. 2º do CPC, que diz que “nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou
interessado a requerer, nos casos e formas legais”.

A Lei não só inovou na legitimação do magistrado para propor ação em casos de alienação parental, como também para
determinar que esta ocorra em qualquer momento processual.

Extrai-se que a ação de alienação parental será admitida em qualquer fase de processo em curso, seja ele de guarda, de
divórcio, de alimentos, em suma, em qualquer feito afeto ao direito de família. Sendo ele processado de forma incidente, devendo o
processo passar a tramitar de forma prioritária.

Caso não haja processo em tramite, poderá ser proposta ação autônoma, com o fim de apurar a alienação parental, demanda
esta que tramitará também, por força da Lei, com prioridade.

O processo de alienação parental poderá ainda ser cumulado com outros pedidos, inclusive de indenização por danos morais,
não sendo incomuns tais pleitos. Sérgio Cavalieri Filho (2007, p. 02), aduz que o termo responsabilidade significa responder, ou
juridicamente ser responsabilizado, ser obrigado a responder. Acrescenta que a obrigação decorre da violação de um dever jurídico;
ou em outras palavras a responsabilidade é um dever jurídico sucedâneo de um dever originário que foi violado. Resta evidente que
na prática de alienação parental há a violação de um dever jurídico, sendo devida a indenização.

Quanto à cumulação de pedidos, o Art. 292 do Código de Processo Civil dispõem que a cumulação é permitida num único
processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. Determina ainda o dispositivo legal, em
seu § 1º, que são requisitos de admissibilidade da cumulação que os pedidos sejam compatíveis entre si; que seja competente para
conhecer deles o mesmo juízo; que seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.

A jurisprudência pátria caminha no sentido da possibilidade de cumulação de pedido de indenização por danos em ações de
família, não se vislumbrando incompatibilidade entre os pedidos, pelo contrário, vem se entendendo que o juízo competente para
apreciar o pleito indenizatório é o de família.

PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA. RECURSO CONTRA DECISÃO QUE DECLINA DA COMPETÊNCIA PARA UMA DAS
VARAS DE FAMÍLIA PARA O JULGAMENTO DO FEITO. A ação de indenização por dano moral fundamentada em relação de
família deve ser julgada pelo Juízo da Vara de Família. Entendimento jurisprudencial dominante. Agravo de Instrumento não provido.
Unânime. (TJRS; AI 70021680194; Porto Alegre; Décima Câmara Cível; Rel. Des. Jorge Alberto Schreiner Pestana; Julg. 08.11.07;
disponível em http://www.tjrs.jus.br. Acesso em: 16. 07. 2014).

Outro ponto a ser destacado é a adoção de medidas de urgência com o fim específico de garantir a preservação da
integridade psicológica da criança ou do adolescente. Há casos em que se demonstra urgente cessar a alienação parental, para
assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, sendo necessário antes mesmo do

100
encerramento do processo, uma intervenção judicial para garantir que se estanque a alienação.

O deferimento de medidas de urgência no processo de alienação parental, seja o processo iniciado de ofício pelo magistrado
ou a requerimento de parte interessada, sempre será necessário a ouvida do Ministério Público, que opinará com urgência no caso.

Trilhando o caminho das mudanças, dois pontos ainda merecem um enfoque mais atento: a audição do menor em juízo e as
falsas memórias.

4.1 AUDIÇÃO DA CRIANÇA ALIENADA

Um dos direitos fundamentais conferido à criança é o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre questões do seu
interesse. Seguindo o que estabelece a Convenção sobre os Direitos da Criança, o ECA e outros ordenamentos jurídicos espalhados
ao redor do mundo, consagram algumas situações em que a criança tem que ser ouvida, sendo o direito à palavra uma forma
legítima de expressar e de desenvolver a sua autonomia91.

A participação da criança nas decisões que lhe dizem respeito encontra-se relacionada à já mencionada mudança da estrutura
familiar patriarcal, hierarquizada e autoritária para uma família participativa, democrática e baseada em deveres de respeito, auxílio
e assistência recíprocos entre pais e filhos.

Para que se possa falar da verdadeira relevância da opinião e da vontade da criança, tem-se que pensar no menor em razão
da sua idade e maturidade, sendo a sua participação compreendida como uma manifestação de conhecimento e a sua vontade
como uma exteriorização de um querer consciente e livre (HERNÁNDEZ, 2007, p. 150).

O artigo doze da Convenção sobre os Direitos das Crianças de 1989 confere à criança o direito de participar nas decisões
que a afetam na família e na sociedade em geral, estabelecendo um modelo de vida democrático. O referido artigo pede aos pais,
juízes e técnicos do serviço social, que tenham o menor a seu cargo, que escutem a sua opinião e que as informações colhidas
sejam utilizadas na concretização do seu interesse.

Nesse sentido, a criança deve ser ouvida em qualquer processo judicial ou administrativo que lhe diga respeito, sendo a
referida audição uma técnica legislativa eficaz no intuito de fomentar a participação do menor no processo de tomada de decisão
familiar.

Ouvir a criança, escutá-la com interesse real, direta ou indiretamente, por vezes não é uma tarefa fácil. Cabe ao ouvinte a
importante missão de aferir os sentimentos, as percepções da realidade e os desejos da criança. Todos estes dados estabelecem
um papel muito importante na exata formação de um juízo de convicção por parte do julgador sobre a existência ou não da alienação
parental.

Neste momento, importa afirmar que ouvir o menor vítima da alienação não é simplesmente tomar nota das suas declarações.
A audição da criança não deve ser vista como o interrogatório de uma testemunha. A criança necessita de um “espaço para falar”,
um local de confiança em que possa expressar as suas vivências. A audição do menor pressupõe, nomeadamente, um estudo
prévio por parte do julgador da situação conflituosa existente. Este conhecimento ajudará a “descodificar o verdadeiro significado de
suas palavras”.

Diante do caso concreto, o ouvinte, ao perceber a existência de fatores de influência externa e tendo conhecimento de que
91 No Reino Unido, a House of Lords em 1986 reconheceu, no caso Gillick o direito das crianças decidirem por si quando se considerar que possuem
discernimento suficiente. Atualmente, as crianças podem tentar recorrer ao tribunal para iniciar um processo sobre assuntos familiares. O tribunal irá decidir
observando se a criança tem o discernimento necessário. Na Inglaterra e no País de Gales, o tribunal não pode ordenar onde a criança maior de dezesseis
anos deve viver. No Vietnã e nas Filipinas, a criança com dez anos tem idade para consentir a sua adoção; no Peru e Namíbia, terá de ter mais de dez anos; na
Espanha, Suécia e Noruega, fixou-se a idade de doze anos. Ainda no direito espanhol, não é só o juiz que tem a obrigação de ouvir a criança antes de decidir
sobre questões que lhe afetem gravemente, cabe aos pais também, conforme explícita determinação legal (Cfr. art. 154º-3 do Código Civil espanhol e o art.
9º da Lei Orgânica Espanhola nº 1/1996). No direito brasileiro, o atual Ccbra determina no seu art. 1740º, III, que incumbe ao tutor adimplir os demais deveres
que cabe aos pais, ouvida a opinião do menor, se este já contar com doze anos de idade. O Código de Procedimento holandês define no seu art. 902º que:
“Toda criança, de doze anos ou mais, deve ser escutada pelo juiz no curso de todo procedimento relativo à sua situação e a autoridade exercida sobre ele.”
Já o art. 972º-2, do mesmo código, afiança que: “O juiz pode sempre escutar a criança mais jovem, se entender necessário.” O Código Civil suíço afirma que
os pais devem ter em conta a opinião dos seus filhos, sempre que possível, em assuntos importantes (art. 301º-2). No direito francês, o art. 290º-3 do Code
determina que o juiz considere des sentiments exprimés par les enfants mineurs e o art. 388º-1, estabelece que o menor capaz deverá ser ouvido em todo o
processo que lhe diz respeito, só podendo a audição ser descartada por decisão judicial especialmente motivada (ambos os artigos com redação dada pela Lei
de 8 de janeiro de 1993). Para a análise de mais casos de autonomia da criança na emissão da sua opinião nos diversos ordenamentos jurídicos ao redor do
mundo, vide Building small democracies, The implications of the UN Convention on the Rights of the child for respecting children’s civil rights within
the family, editora Children’s Rights Office, London, 1995, pp. 26-29.

101
muitas vezes as opiniões verbalizadas pela criança não refletem o seu verdadeiro querer, deverá aquilatar com maior parcimônia
o depoimento do menor. Caberá ao aplicador do direito buscar um ponto de equilíbrio entre o real interesse da criança e as suas
declarações, separar o “joio do trigo” (TORRES, 2010, p.27).

A doutrina encontra-se dividida com relação à audição da criança. Alguns autores posicionam-se no sentido de que a audição
do menor pelo juiz pode revelar-se prejudicial ao seu posterior desenvolvimento, possuindo, inclusive, a criança o direito de se
afastar do processo e de não ser pressionada a emitir a sua opinião (DELL’ ANTONIO, 1990, p.4). Outros juristas preferem aceitá-la
como corolário do estatuto de sujeito de direitos reconhecido à criança, sendo favorável a sua audição, desde que sejam respeitadas
as condições e os cuidados necessários (HERNÁNDEZ, 2007, p. 191).

Na verdade, não se questiona a possibilidade de riscos na chamada da criança a emitir opinião sobre os seus próprios
interesses. Contudo, essa noção prévia dos perigos que porventura possam surgir, deve servir tão somente para intensificar o
cuidado com que a opinião da criança será recolhida e interpretada.

O psiquiatra pode fornecer inestimável colaboração à Justiça, agindo para a preservação dos direitos da criança e a diminuição
dos litígios; atuando em situações de disputas de guarda ou como psicoterapeuta infantil, ajudando a criança a lidar e elaborar a
situação; ou como mediador dos pais em divórcio, ou ainda como perito ou assistente técnico nas avaliações de guarda e visitações.

As avaliações periciais psiquiátricas de disputa de guarda e visitação são as atividades forenses de maior complexidade e
responsabilidade. É atribuição de o perito avaliar qual a qualidade da ligação recíproca entre pai e filho, quais são as necessidades
da criança e as capacidades parentais dos adultos e quais são as dinâmicas familiares relevantes em jogo. Assim é feito ao examinar
o grau de envolvimento e apego de cada adulto com a criança, a capacidade dos pais em dar limites, fornecer apoio e carinho e em
permitir uma separação/individuação adequada; bem como a avaliação do bem-estar físico e emocional da criança, os cuidados
prestados a esta, sua segurança, a atmosfera afetiva que a envolve, a adequação da estrutura de suporte da criança, as condições
econômicas e sociais e a presença de riscos à integridade física e emocional do infante, bem como a avaliação da possibilidade de
síndrome de alienação parental (AZAMBUJA, TELLES, DAY, 2013 p. 83).

Para tanto, é recomendável que a avaliação seja feita de forma bastante completa incluindo entrevistas em diferentes
momentos, com cada um dos pais individualmente, com a criança sozinha, com a criança acompanhada por cada um dos pais, com
os pais juntos, sem a criança; e com a criança e seus irmãos.

Nos casos de alienação parental, o fator tempo agrava os sintomas de SAP, aumentando a distância afetiva e a falta de relação
entre filho e genitor; torna-se necessário que os operadores do Direito da área psicológica e psiquiátrica tenham conhecimento
sobre este fato, avaliando de modo confiável e ágil a presença desta síndrome. A morosidade dos processos jurídicos pode ser
usada como uma peça tática do genitor alienante.

4.2 AS FALSAS MEMÓRIAS E A PERÍCIA

Atento à importância de profissionais de outras áreas do conhecimento nos assuntos correlatos a ações de família, o legislador
inovou, trazendo a Lei Federal n.º 12.318/10, em seu art. 5º e parágrafos, a consagração da equipe multidisciplinar em casos
envolvendo interesse do menor, em especial, alienação parental.

A lei faz referência expressa à pericia com avaliação  psicológica ou biopsicossocial, na busca da obtenção da verdade
real, devendo o perito realizar entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do
casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou
adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor.

Assim, demonstra-se que o ordenamento jurídico avançou não se aceitando, em casos relacionados à proteção ao menor
análise simplista das provas trazidas aos autos, devendo o magistrado perseguir a verdade real através de uma investigação
profunda, em razão da importância da matéria e dos reflexos que uma decisão equivocada, ou a omissão, poderá causar à vida do
indivíduo.

No passado, era comum o juiz, ofuscado por uma falsa realidade, determinar, de pronto, medidas de segregação de um

102
dos pais do convívio de seus filhos baseado em falsas acusações, inclusive, de abuso sexual ou de maus tratos contra o menor
perpetradas pelo ex-consorte.

Por vezes, o próprio menor acusa um de seus genitores de ter praticado abuso sexual, ou maus tratos, contra si, sendo que
em verdade esta realidade apenas existe em sua mente, sendo fruto da construção maliciosa do outro genitor, que assim agiu,
aproveitando-se da fragilidade da criança, para expropriar o outro pai do convívio do filho e imputar medo deste.

As falsas denúncias fazem parte de um revanchismo perverso de um ex-cônjuge para com o outro. Tal prática retrata o
lado mais sórdido de uma vingança, pois vai sacrificar a própria prole. Esta situação é lamentavelmente recorrente em casos de
separação mal resolvida, onde se constata o fato de que muitas vezes, a ruptura da vida conjugal gera na mãe sentimento de
abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito grande (GUAZZELI, 2007, pp. 121-122).

Estas memórias criadas pelo menor, que apenas existem em uma realidade paralela, fruto de um sujestionamento ardiloso,
são chamadas no campo da psicologia de “falsas memórias, ou memórias ilusórias”.

As falsas memórias podem ser definidas como informações armazenadas na memória sem um estímulo real objetivo, embora
sejam recordadas como se tivessem sido efetivamente vivenciadas pelo sujeito (ALVES, LOPES, 2007, p. 46).

Em função do imaginário infantil estas memórias deixam marcas tão cruéis e graves quanto à de um abuso real. As crianças
ficam sujeitas a apresentar algum tipo de patologia grave, nas esferas afetiva, psicológica e sexual, pois vivenciam um conflito
interno nessa relação triangular de pai, mãe e filho (DIAS, 2010, p. 446).

É preciso bastante cautela ao magistrado ao analisar pedidos liminares de suspensão de visitas, ou de perda de guarda, para
não ser ludibriado por falsas realidades, sendo essa uma tendência dos tribunais, haja vista o grande quantitativo de denúncias
falsas.
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. ABUSO SEXUAL. INEXISTÊNCIA. SÍNDROM E DA ALIENAÇÃO PARENTAL
CONFIGURADA. GUARDA COMPARTILHADA. IM POSSIBILIDADE. GARANTIA DO BEM ESTAR DA CRIANÇA. MELHOR
INTERESSE DO MENOR SE SOBREPÕE AOS INTERESSES PARTICULARES DOS PAIS. Pelo acervo probatório existente nos
autos, resta inafastável a conclusão de que o pai da menor deve exercer a guarda sobre ela, por deter melhores condições sociais,
psicológicas e econômicas a fim de lhe propiciar melhor desenvolvimento. A insistência da genitora na acusação de abuso sexual
praticado pelo pai contra a criança, que justificaria a manutenção da guarda com ela não procede, mormente pelo comportamento
da infante nas avaliações psicológicas e de assistência social, quando assumiu que seu pai nada fez, sendo que apenas repete
o que sua mãe manda dizer ao juiz, sequer sabendo de fato o significado das palavras que repete. Típico caso da Síndrome da
Alienação Parental, na qual são implantadas falsas memórias na mente da criança, ainda em desenvolvimento. Observância do art.
227, CRFB/88. Respeito à reaproximação gradativa do pai com a filha. Convivência sadia com o genitor, sendo esta direito da criança
para o seu regular crescimento. Mãe que vive ou viveu de prostituição e se recusa a manter a criança em educação de ensino paga
integralmente pelo pai, permanecendo ela sem orientação intelectual e sujeita a perigo decorrente de visitas masculinas à sua casa.
Criança que apresenta conduta anti-social e incapacidade da mãe em lhe impor limites. Convivência com a mãe que se demonstra
nociva a saúde da criança. Sentença que não observou a ausência de requisito para o deferimento da guarda compartilhada, que é
uma relação harmoniosa entre os pais da criança, não podendo ser aplicado ao presente caso tal tipo de guarda, posto que é patente
que os genitores não possuem relação pacífica para que compartilhem conjuntamente da guarda da menor. Precedentes do TJ/RJ.
Bem estar e melhor interesse da criança, constitucionalmente protegido, deve ser atendido. Reforma da sentença. Provimento do
primeiro recurso para conferir ao pai da menor a guarda unilateral, permitindo que a criança fique com a mãe nos finais de semana.
Desprovimento do segundo recurso”. (TJRJ - Apelação 0011739-63.2004.8.19.0021 2009.001.01309 - DES. TERESA CASTRO
NEVES - QUINTA CAMARA CIVEL, Julgamento: 24/03/2009, disponível em http://www.tjrj.jus.br. Acesso em: 16. 07. 2014).

AÇÃO CAUTELAR. PEDIDO DE SUSPENSÃO DE VISITAS. PROVIDÊNCIA LIMINAR. DESCABIMENTO. 1. Como decorrência
do poder familiar, tem o pai não guardião o direito de avistar-se com a filha, acompanhando-lhe a educação e mantendo com ela
um vínculo afetivo saudável. 2. Não havendo bom relacionamento entre os genitores e havendo acusações recíprocas de abuso
sexual do pai em relação à filha e de alienação parental e implantação de falsas memórias pela mãe, e havendo mera suspeita ainda
não confirmada de tais fatos, mostra-se drástica demais a abrupta suspensão do direito de visitas. 3. Os fatos, porém, reclamam
cautela e, mais do que o direito dos genitores, há que se preservar o direito e os interesses da criança. 4. Fica mantida a visitação,
que deverá ser assistida pela avó paterna, em período mais reduzido, devendo tanto a criança, como ambos os genitores serem
submetidos a cuidadosa avaliação psiquiátrica e psicológica. 5. As visitas devem ser estabelecidas de forma a não tolher a liberdade
da filha de manter a sua própria rotina de vida, mas reservando também um precioso espaço para a consolidação do vínculo paterno-
filial e do relacionamento estreito que sempre manteve com os tios e avós paternos. Recurso provido em parte (STJ, HC 249833,
Rel. Min. Sidnei Beneti, J. 3.8.2012, disponível em http://www.stj.jus.br. Acesso em: 16. 07. 2014).

Consubstanciado nas jurisprudências carreadas, vê-se que os juízes estão muito mais cautelosos ao proferirem decisões
que expropriam o menor do convívio de um dos pais, em razão deste considerável quantitativo de falsas denúncias, que na verdade
trata-se de vinganças perpetradas por um dos ex-consortes contra o outro, no intuito de aliená-lo do convívio com o filho menor.

Fica evidente a dificuldade de se chegar à verdade real nesses casos, uma vez que até mesmo o menor pode passar a
acreditar que suas memórias sejam verdadeiras, sendo imprescindível o acompanhamento de profissionais especializados para
avaliarem o que de fato ocorreu e o que é apenas ilusão.

103
Se de um lado o menor deve ser ouvido nos processos afetos a ele, principalmente nos envolvendo guarda e abusos, esta
ouvida deverá ser precedida de vários cuidados, haja vista que nem sempre o que o menor expressa vem a ser a verdade real dos
fatos, sendo, em vários casos, muito difícil alcançá-la.

A Lei Federal 12.318/2010 prevê ainda que o perito apresentará laudo em até 90 dias, apenas podendo ser prorrogado este
prazo por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada (Art. 5º, §3º). Ocorre que apesar de serem necessárias várias
cautelas no processo de alienação parental, o tempo é um inimigo, haja vista que o seu decurso poderá causar danos irreparáveis
para a criança ou o adolescente, tendo caminhado bem o legislador ao prever que o laudo seja fornecido com brevidade pelo perito.

5 DAS MEDIDAS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO AO MENOR

O caput do Art. 6º da Lei Federal n.º 12.318/2010 trata das medidas processuais de proteção ao menor. O magistrado,
quando verificada a ocorrência de alienação parental deverá adotar medidas para fazer cessar a alienação parental ou qualquer
conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor.

A lei traz um rol de sete medidas a serem adotadas pelo juiz, de forma cumulativa ou não, que poderão ser aplicadas no
caso concreto para evitar a alienação. Mister frisar que o magistrado possui liberdade para tomar as medidas que entender serem
necessárias para reverter a situação de alienação parental, sendo meramente exemplificativo as medidas previstas na lei.

A primeira medida prevista na Lei (inciso I, do Art. 6º) é a declaração da ocorrência de alienação parental, vindo o juiz a
advertir o alienador. Esta é a medida mais branda prevista, devendo ser adotada quando o juiz entender que o alienador pode
compreender a gravidade de sua conduta, que atinge muito mais o menor que o próprio alienado.

Poderá ainda o magistrado determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial (inciso IV) do alienante, caso
entenda que a simples advertência não será suficiente para cessar a alienação.

Há a previsão de aplicação de multa ao alienante (inciso III), no intuito de desestimulá-lo a praticar a alienação parental. Por
fim, quando todas as medidas se demonstrarem inócuas, poderá o magistrado declarar a suspensão da autoridade parental (inciso
VII).

Todas essas medidas possui um caráter nitidamente punitivo, por conseguinte, têm caráter individual. Destarte, não poderão
ser aplicadas pelo magistrado se acabarem por punir também o menor, mesmo que de forma reflexa.

Tome-se, por exemplo, a declaração de suspensão da autoridade parental. Pode haver casos em que o alienante terá
melhores condições de garantir os interesses do menor do que o alienado. Neste caso, deve o juiz procurar outras formas de coibir
a alienação, para também não prejudicar, de forma reflexa, a criança ou o adolescente, haja vista que se deve observar o Interesse
Superior da Criança.

Deve-se frisar, que a medida prevista no inciso VII apenas deverá ser aplicada como ultima ratio, haja vista a possibilidade
de vir a causar graves danos ao menor.

Já as demais medidas previstas no Art. 6º (incisos II, V, VI), entende-se como sendo medidas que visam aproximar o
alienado do menor, de maneira não punitiva, não possuindo um caráter de pena.

Isso não quer dizer que estas medidas devem ser preferencialmente aplicadas em relação às outras, cabendo ao magistrado
ponderar, no caso concreto, sobre qual ou quais medidas serão aplicadas, sopesando qual providência será mais eficaz e menos
danosa para o menor, para o alienado e por último, ao alienante.

Observe-se que mesmo uma medida punitiva poderá ser mais branda que uma medida não punitiva, como no caso previsto
no inciso I, em que o alienante é apenas advertido pelo magistrado.

As medidas não punitivas são: ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado (inciso II); determinar a
alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão (inciso V); determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou
adolescente (inciso VI).

Frise-se, mais uma vez, que o rol contido no artigo 6º da Lei é meramente exemplificativo, cabendo a aplicação de outras
medidas caso o magistrado entenda ser mais eficiente.

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Por fim, deve-se fazer referência ao Art. 1.638, do Código Civil pátrio, que prevê a perda do poder familiar em casos, dentre
outros, de abuso de autoridade ou de prática de ato contrário à moral e aos bons costumes. Esta medida, assim como a suspensão
da autoridade parental, apenas deve ser tomada em casos extremos, para preservar o menor, quando magistrado verificar que
qualquer outra providência será inócua.

CONCLUSÃO

Percorrido esse curto caminho, pode-se extrair algumas considerações finais sobre o instituto da alienação parental e as
questões problemáticas percebidas.

O direito positivo brasileiro, com um atraso de mais de vinte anos, regulamentou através de uma lei específica a alienação
parental. Para muitos, tal medida por si só resolveria os graves problemas sofridos pelas crianças vítimas dos genitores alienadores.
Infelizmente, quase cinco anos depois de vigente, percebe-se que esse sonho ainda não se realizou.

Bem elaborada, a mencionada lei aborda diversas aspectos materiais e processuais com o grau de profundida necessário
a importância do tema. Contudo, sua efetividade por diversas vezes acabada sendo mitigada por problemas estruturais do Poder
Judiciário.
Neste sentido, alguns pontos críticos podem ser indicados. A necessidade de um processo célere, que atenda a criança vítima
na exata medida da sua carência é o primeiro obstáculo percebido. A lentidão do Poder Judiciário é uma realidade que contribui à
prática nociva do genitor alienador e agrava os danos sofridos pelo menor alienado.

Mesmo com as inovações processuais trazidas pela Lei Federal 12.318/2010 para dar agilidade ao processo e a previsão de
medidas cautelares para casos específicos, as varas de família de todo o país continuam abarrotadas de processos. A distribuição e
o despacho inicial de feitos podem demorar meses, passando o processo célere, mesmo em casos de família, a ser um sonho ainda
distante de ser alcançado.

Outro ponto que necessita de uma atenção especial é a audição efetiva da criança. Nos moldes como foi exposto ao longo
da pesquisa, tal audição é ainda uma realidade longínqua dos diversos rincões do Brasil. Tal dificuldade passa pela falta de estrutura
física básica para efetivar as exigências legais com salas especiais e profissionais habilitados.

Com relação ao imprescindível trabalho interdisciplinar que deve ser realizado objetivando proteger o menor alienado, o
sucesso desse exercício passa por uma restruturação mais profunda das bases jurídicas. O direito e os seus aplicadores, salvo
exceções, também sofrem com uma síndrome: a da autossuficiência.

Certos problemas sociais implicam ao Direito a necessidade de reconhecer que este não se basta, sendo necessária a
interlocução com vários ramos do conhecimento para que se obtenha a solução mais adequada a determinado conflito de interesses.

Os litígios sobre a alienação parental expõem essa deficiência. A formação dos profissionais de Direito quanto à humanização
das suas práticas e a capacitação transdisciplinar para uma atuação mais sensível à realidade social, ainda é um objetivo a ser
galgado.
Apesar dos graves problemas apontados, a existência de uma lei moderna, que trata deste tema relativamente novo e
palpitante, aliada a constante abertura de espaços para discussão, é um grande avanço.

O ser humano evolui. Novos desafios surgem diariamente. A criança, de maneira cada vez mais precoce, passa a estreitar
as relações com o mundo que a rodeia. É preciso assegurar o progressivo aperfeiçoamento do sistema judiciário, investir em
capacitação e em estrutura física. Assim, poderão os aplicadores do direito cada vez mais consolidar de maneira satisfatória a
proteção das crianças contra a alienação parental, evitando-se que maculas da infância se transformem em cicatrizes que irão
reverbera por toda vida.

REFERÊNCIA

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ASPECTOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL E A AUSÊNCIA DE NORMA PENALIZADORA

Valéria Machado de Mello Gomes1

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Uma sociedade que se pretende democrática não deve aceitar como banal a violação dos direitos humanos, dos direitos
a criança e a adolescente e, a desvaloração dos laços familiares. Não há no nosso ordenamento jurídico pátrio, normas, regras,
pactos, leis que disciplinem um “ bom conceito” do que é respeito direitos fundamentais, à pessoa humana e a família. Zelar pelos
direitos fundamentais torna-se uma obrigação não apenas dos indivíduos, mas da sociedade civil organizada e das instituições
sociais e, a alienação parental deve ser vista como uma afronta aos direitos e garantias fundamentais da natureza humana. Uma das
situações que mais aviltaram a sociedade brasileira é a ausência de normas penais disciplinadores da alienação parental, retratando
a violação do infrator que mata dia a dia a figura do outro ator envolvido na problemática. Nesse sentido, inúmeras instituições,
grupos organizados e comunidades acadêmicas têm buscado denunciar essas práticas ‘criminosas’ e, essas denúncias realizadas,
expõem o Brasil como país violador dos seus princípios constitucionais, apontando a impunidade, obrigando-nos moralmente buscar
saídas para a grave situação de violação e degradação de valores afetivos existentes em alguns grupos familiares. O processo de
alienação parental vem sendo discutido e estudado com mais afinco ultimamente, em razão da lei que trata do tema. 2

Observa-se que mais uma vez o Direito Penal Brasileiro, não se preocupou em proteger valores afetivos, apesar da Lei nº
12.318/2010 reconhecer o grande mal que a conduta proporciona a outra pessoa atingida e ao infante. O ato de alienação parental
é a interferência na formação psicológica da criança e do adolescente promovida ou induzida por um dos seus genitores, pelos avós
ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou a manutenção de vínculos com este.

_______________
1. Advogada Municipal, Professora Universitária, Mestre em Direito Publico pela Universidade Federal de Pernambuco, Professora da Faculdade Boa Viagem.

2. BRASIL, Lei nº 12.318 de 26 de agosto de 2010, que dispõe sobre alienação parental e altera o artigo 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente.

A partir dessa constatação, o objetivo proposto nesse artigo é apresentar os argumentos jurídicos que consolidam a
importância dos respeito à Constituição Federal, seus princípios e sua afetiva aplicação, bem como a análise dos verbos que são
apontados na lei nº 12.318/10, sem que o sistema penal esboce qualquer tipo de repulsa em tão graves violações.

O Princípio da Proteção Integral está expresso no artigo 227, caput da Constituição Federal 3, o referido princípio dentre
muitos direitos destaca o direito à convivência familiar, surgindo a partir daí o princípio de proteção aos menores e da paternidade
responsável, com o objetivo de proteção a pessoa em condição peculiar de formação e desenvolvimento. Se observa que no âmbito
internacional o direito a proteção a infância e a adolescência sadia vêm sendo discutida desde a Convenção de Genebra de 1924,
da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Declaração da Criança de 1959, culminando com a Convenção sobre os
Direitos da Criança de 1989, que proporcionou reflexos no Estatuto da Criança e do Adolescente surgido no Brasil em 1990.

Os direitos fundamentais sofrem o impacto da pouco observância do legislador para o Principio da Dignidade Humana,
enaltecido pela Carta da República e, muito menos observado em face da alienação parental, que também fora fulminado de morte,
então ocorreram muitas lutas no decorrer da história para fazermos tabula rasa dos direitos humanos. A idéia de pessoa – natureza
humana tem suas raízes na Idade Media. A filosofia cristã determina o pensamento de que a criatura humana se assemelha
à criatura divina, dando ênfase à figura humana em sua dignidade e, por consequência, atingido características fundamentais:
liberdade, razão e vontade. Sem dúvida, portanto, esta é a causa principal do reconhecimento de direitos naturais intangíveis em
favor do individuo, de ordem filosófico-religiosa. Uma grande contribuição é tributada ao Cristianismo, com a ideia de que cada
pessoa é criada à imagem e semelhança de Deus; daí, a igualdade fundamental natural entre todos os homens. Como vemos, há
uma inspiração, religiosa decorrente dos dogmas cristãos.

Sobre isso nos fala a lição de Canotilho:

_____________________

107
3. BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à

alimentação, á educação, ao lazer, à profissionalização, á cultura, á dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão. Distribuição Senado Federal, Brasileia, 2014, pg.67.

“As concepções cristãs medievais, especialmente o direito natural tomista, ao distinguir entre Lex divina, Lex natura e Lex
positiva, abriram o caminho para a necessidade de submeter o direito positivo às normas jurídicas naturais, fundadas na
própria natureza dos homens. Mas como era a consciência humana que possibilitava ao homem aquilatar da congruência do
direito positivo com o direito divino, colocava-se sempre o problema do conhecimento das leis justas e das entidades que, para
além da consciência individual sujeita a erros, captavam a conformidade da lex positiva com lex divina”. 4

No Brasil, em face da nova concepção acerca dos direitos fundamentais, também foi incorporada a Constituição Brasileira,
de modo que dentro do direito constitucional positivo, a Constituição Federal elenca os princípios-fundamentais da República
Federativa do Brasil, sendo a atual Carta Magna, dentre todas as anteriores, a mais abrangente.

Portanto, a Constituição do Brasil reconhece e assegura direitos fundamentais, explicitamente no artigo quinto, cujo objeto
imediato é a liberdade em todos os setores da vida social e, assim, observamos que os direitos fundamentais do homem constituem
uma variável ao longo da história.

Dessa forma, os direitos fundamentais estão inseridos dentro daquilo que o constitucionalismo denomina de princípios
constitucionais fundamentais, princípios estes que guardam os valores fundamentais da ordem jurídica, o reconhecimento e a
proteção dos direitos fundamentais do homem que se encontram na base das constituições modernas democráticas.

E, todo este percurso histórico está sendo colocado em cheque com a grave situação da ausência de norma penal específica
que deveria regulamentar casos comprovados de alienação parental, afrontando assim o Estado Democrático de Direito.

1.2 A LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010

Com a vinda ao mundo jurídico da Lei nº 12.318/10, o legislador mais uma vez, aduz ao interprete e ao aplicador a possibilidade
de poder gerar opiniões diversas acerca da compreensão da norma editada.

_____________________
4. CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. 6. Ed. Coimbra: Almedina, 1993.p.281.

A expressão normatizada na ementa da lei objeto de estudo, dispõe sobre a alienação parental e “altera o artigo 236 da Lei
nº 8.069, de 13 de julho de 1990” 5. Sabemos que o artigo 236 do Estatuto da Criança e do Adolescente está descrito como crime
em face da criança e do adolescente, porém nenhum dispositivo da legislação em estudo modifica ou suprime o tipo penal do artigo
236 do Estatuto da Criança e do Adolescente. O Procurador e Professor Universitário no Rio Grande do Sul, Antônio Cezar Lima da
Fonseca, em seu artigo Alienação parental é crime ou infração administrativa, ensina que:

“O vazio no corpo legislativo se justifica, pois o art. 10 da Lei nº 12.318/10 acrescia um parágrafo único ao art. 236, ECA, mas
teve seu texto vetado por ocasião da sanção presidencial, por meio da Mensagem nº 513, de 26 de agosto de 2010. Dessa
forma, o que não se justifica é ter constado na ementa da Lei nº 12.318/10, que ela “altera o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13
de julho de 1990”.Por outro lado, a Lei nº 12.318/10 possibilita ao juiz “estipular multa ao alienador” (art. 6º, III, ECA), não
referindo nenhum valor à multa, não referindo a hipótese de sua incidência, nem mesmo referindo a quem reverterá o valor
dessa multa ou quem irá executá-la.”5

Defendemos também que estamos diante de uma multa imposta ao alienador, que será revertida a pessoa prejudicada e, que
terá a possibilidade de executá-la, não passando de uma advertência aos atores do fato, esta multa poderá ser fixada em salário
mínimo(s), uma vez analisado a condição financeira da parte. Então, podemos pontuar que:
1) a alienação parental não é crime, embora o legislador tenha tentado torná-la;

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2) a alienação parental é uma infração administrativa (art. 249, ECA), em face do descumprimento de dever inerente ao poder
familiar;
3) a multa aplicada pelo juiz ao alienador, prevista no inc. III, art. 6º, Lei nº 12.318/2010, é uma sanção civil de cunho judicial, que
pode ser cumulada à sanção administrativa do ECA, esta aferida em outro processo;
4) a multa pela alienação é de obrigação do alienador ao genitor prejudicado pela alienação parental, sendo que a multa pela
infração administrativa reverterá ao Fundo Municipal de Crianças e Adolescentes.

_____________________
5.FONSECA, A, César Lima. Artigo. Alienação parental é crime ou infração administrtaiva?2011.p.03.

1.3 ATITUDES E EMOÇÕES

A Lei nº 12.318/2010, fala de atos e atitudes e não na falta deles, além da tortura psicológica, observa-se a exposição
prolongada e duradoura do “alienador” e, todos os atos de alienação parental são verbos de movimento, representando condutas
comissivas, mas não podemos de deixar claro, que também pratica alienação parental aquele que se omite pelo silêncio. A revista
cientifica Visão Jurídica publicou artigo sobre Alienação Parental – Sem amor, alienação parental pelo silencio -. É informa a autora,
advogada reconhecida na área de Direito de Família, Alexandra Ullmann, aduzindo que:

“DILEMA. Resta a questão: a omissão e o silencio são passiveis de alimentar o processo de afastamento ou de alienação?
A resposta é sim. O simples deixar de fazer ou deixar de dizer ao filho representam o desprezo do guardião pelo genitor não
guardião. A criança, que traduz na forma de espelho os sentimentos daqueles que são considerados seus cuidadores e,
dependendo da fase de maturidade em que se encontram, tem uma relação simbiótica com o genitor que passa mais tempo ao
seu lado, cria com os que detêm sua guarda relação de confiança e cumplicidade. Os filhos dependem da aprovação absoluta
do alienador, para que se sintam aceitos e amados.

O reforço comportamental é o principal pilar de sustentação do Bechaviorismo ou da Teoria Comportamental. O reforço


positivo tende a aumentar frequência de comportamento apresentado, o reforço negativo, também conhecido como punição,
e tem como objetivo extinguir o comportamento que se entende como não aceitável.

Como esclarecimento, mencione-se que reforçar positivamente um comportamento é demonstrar agrado, felicidade e orgulho,
quando este se apresenta, seja por meio de um sorriso, seja por meio de uma palavra, ou até mesmo com a oferta de um
premio.

O reforço negativo é a demonstração do desagrado, da desaprovação. É o colocar de castigo ante uma nota baixa, é a reação
negativa a uma ação que considera ruim.

O comportamento omissivo a que se refere é aquele que tem por objeto neutralizar a existência do outro, sem que haja
‘ativamente” uma participação no afastamento.

O que se apresenta é a ausência de reforço positivo ao querer, ao amar, ao valorizar o outro como alguém que mereça tais
atitudes.

... Resta lembrar que o alienador silencioso é mais inteligente e mais ardiloso do que aquela que impede os encontros, deixa
de cumprir acordos, age de forma a impedir os contatos. Sua capacidade de dissimular e de representar faz crer aos mais
desavisados ou desprepararmos estar sempre colaborando, Representa o politicamente correto, aquele que está disponível
ao cumprimento das decisões judicias e das orientações.” 6

_____________________
6.ULLMANN, Alexandra. Revista Visão Jurídica. Artigo. Sem amor. A alienação parental pelo silencio. Número 98 – Agosto. 2014.p.48/51.

Nas emoções temos inúmeras situações que podem ser classificadas como alvo para os “alienadores” uma nova relação
para o ator adverso, um novo irmão, também de uma nova relação, distância de uma das partes por motivos momentâneos, tudo
pode ser utilizado pelo alienador ardiloso e, em nenhum de seus atos, de suas atitudes denotaram para o nosso legislador o enorme
mal que se causa através de condutas criminosas.

É bem verdade, que no artigo 2º, em seu parágrafo único, da Lei 12.318/2010 fora apontados atos que são tratados como
criem em nosso Ordenamento Jurídico Pátrio, qual seja; apresentação de falsa denúncia, que leva ao entendimento do crime de
denunciação caluniosa, que possui procedimento próprio em nosso Código Penal e, que a utilização deste caminho criminoso é
mais odiosa do que a capitulação penal existente, todavia, a lei sequer determinou situação civil ou administrativa mais gravosa.

O documentário a Morte Inventada: Alienação Parental 7, bem retrata a discussão sobre a matéria, tanto na esfera cível,
administrativa e as críticas sublinhares pela ausência de norma tipificadora no fato jurídico existente. O referido documentário
propõe disseminar o assunto entre pais, psicólogos, advogados, delegados, juízes, promotores, assistentes sociais, pediatras e
todos os envolvidos no drama familiar, ante a violência praticada tão frequente e, pouco conhecida, ao tempo que também é menos

109
ainda aplicada, mesmo na esfera cível.

Importante destacar que o Documentário aponta a problemática em todas as áreas do Direito, com foco em especial nas
relações civis e na violência praticada, chamando a responsabilidade do direito penal, como também expõe os conflitos da vida em
sociedade, das relações familiares e, no âmbito psicossocial antes mesmo da promulgação da legislação.

Neste mesmo documentário fomenta-se a alienação parental descrita nos idos de 1980, pelo psiquiatra infantil norte
americano Richard Gardner, na qual um genitor procura afastar seu filho de forma intencional do outro genitor, bem como nasce à
sigla SAP – Síndrome de Alienação Parental – que foi conceituada também, pela professora Analicia de Martins Sousa, “como um
distúrbio infantil, que surge, principalmente em contextos de disputa pela posse e guarda dos filhos” 8

____________________
7. DOCUMENTÁRIO: Para assistir: A Morte Inventada: Alienação Parental (2009).

8. SOUSA, Analicia Martins de. Síndrome de alienação parental: um novo tema nos juízos de família. São Paulo: Cortez, 2010. p. 99

1.4 CONCLUSÃO

Ante os apontamentos, conclui-se que a alienação parental, conduz a violação dos Direitos Humanos, aos Direitos
Fundamentais e ao Princípio de Proteção a Criança e ao Adolescente, consagrados no Direito Brasileiro, devendo assim, tais
fundamentos serem mais valorados, bem apreciados e interpretados tanto na inércia do exercício da legislação no âmbito do direito
de família, quanto pela inexistência de norma tipificadora no direito penal face a legislação em apreço, devendo o sistema jurídico
ser visto como um todo.

Não sendo desnecessário afirmar que os direitos e garantias encontram-se estabelecidos na Constituição da Republica
Federativa do Brasil e, que esses direitos e garantias possuem uma aplicabilidade imediata. Não se pode deixar de usá-los, alegando
ausência de regulamentação de seus preceitos ou falta de aplicabilidade prática. Cumpre completar as lacunas, aparentemente
existentes, usando os princípios gerais do direito, a analogia (não aplicada em Direito Penal) e a equidade, devendo o julgamentos
serem colados com a função social, que a Lei de Introdução ao Direito Brasileiro propaga. Importante criticar a ausência de
julgamentos no âmbito do direito de família em face a alienação parental.

A própria família, base do Estado, provoca a alienação parental, ferindo de morte o principio da paternidade responsável,
na medida que tal instituto impede que ambos os pais não exerçam os cuidados aos seus filhos de forma igualitária e respeitosa.

Busca-se que a Lei nº 12.318 de 26 de agosto de 2010 tenha uma aplicabilidade contumaz e, que essa prática possa
despertar na sociedade civilmente organizada a necessidade de estabelecer normas próprias penalizadoras para a violência
praticada no exercício da alienação parental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROSO, Luiz Roberto. Constituição da República Federativa do Brasil: anotada e legislação complementar. São Paulo:
Saraiva, 2010.

Opa
AGÊNCIA - FBVDeVry
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Trad. De João Ferreira de Almeida. 5. Ed. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1984.
Cap.22, v. 37.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: art. 5º, LV. 37. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

BRASIL, Lei nº 12.318 de 26 de agosto de 2010, que dispõe sobre alienação parental e altera o artigo 236 da Lei nº 8.069, de 13
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BRASIL, Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente: Ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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