3 EM RECUPERAÇÃO Em julho deste ano, uma notícia alarmou cientistas por todo o mundo. Um iceberg de 119 quilômetros quadrados se rompeu de uma das maiores geleiras da Groenlândia. Cientistas norte-americanos consideram o fato dramático, já que há 150 anos não são registradas mudanças tão bruscas como as dos três últimos. Ainda não são conhecidas as causas do desprendimento do iceberg, mas o acontecimento já ressuscitou novas discussões sobre uma antiga polêmica: o aquecimento global. Aquilo que ficou conhecido como aquecimento global nada mais é do que um processo natural, uma vez que o clima da Terra nunca foi estático. Ao longo de milhões de anos, o planeta vem passando por ciclos de mudanças, que já resultaram em períodos glaciais ou em períodos mais quentes (chamados interglaciais). Porém, nos últimos anos, pesquisadores tem afirmado que esse processo está acelerado e acima da capacidade atmosférica de reter calor. Segundo uma análise feita pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas Globais (IPCC, na sigla em inglês), a temperatura média no planeta subiu cerca de 0,7ºC ao longo do século XX, e esse aquecimento vem ocorrendo de maneira mais rápida nos últimos 25 anos. Para pesquisadores da chamada corrente antropocêntrica, o homem tem um papel fundamental nesse processo. “As atividades humanas, através da emissão de gases estufa, podem acelerar e agravar o aquecimento global”, afirma José Marengo, pesquisador titular e professor na pós-graduação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A queima de combustíveis fósseis, assim como o desmatamento e outras atividades humanas, emite grandes quantidades de gases, em especial o dióxido de carbono (CO2), que são responsáveis por manter a temperatura da Terra. Contudo, a grande quantidade de emissões de CO2 tem provocado um acúmulo do gás na atmosfera, bloqueando a saída da radiação quente para o espaço. Esse fenômeno é chamado de efeito estufa e é apontado como uma das causas do aquecimento global. A saída encontrada, segundo o pesquisador do INPE, para diminuir os impactos causados ao ecossistema é reduzir as emissões dos gases do efeito estufa (GEE). “Qualquer um pode ajudar com atitudes simples, como por exemplo, usar menos o carro ou trocar o veículo por um que seja movido a álcool em vez de gasolina”, conta José Marengo. Porém, apenas ações individuais não são suficientes. Precisamos de uma política pública que tenha como meta reduzir ao máximo a emissão de carbono e o desmatamento. “A população tem que pressionar o governo para adotar políticas ambientais eficazes, assim como energias alternativas. Porque não adianta você reciclar na sua casa e não usar o carro, se o seu vizinho usa carro todo o tempo e está sempre gastando água para limpar a calçada. Temos que ser ecológicos de uma forma organizada.” As consequências do calor anormal podem ser vistas diariamente nos noticiários. “Nos últimos 20 anos, observa-se um aumento de fenômenos meteorológicos extremos, como verões muito quentes, invernos muito frios, tempestades. Este ano, por exemplo, vimos notícias de tufões no Japão e na China, de ondas de calor nos Estados Unidos e na Europa, de invernos muito frios no hemisfério Norte e de chuvas intensas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Tudo isso são possíveis consequências do aquecimento global”, explica Marengo. Apesar de tantas potenciais evidências, há cientistas que fazem uma análise diferente. Os antropocéticos, como são conhecidos, defendem que a ação humana não tem qualquer interferência no agravamento do processo natural. “O aquecimento global, assim como os resfriamentos da atmosfera e dos oceanos, fazem parte da dinâmica climática da Terra e o homem não tem qualquer influência sobre esses fenômenos. Trata-se de ciclos naturais que ocorrem há milhões de anos”, esclareceu Geraldo Lino, geólogo e autor do livro “A Fraude do Aquecimento Global". Ele é enfático ao declarar: “Não existe qualquer evidência física observada no mundo real que permita afirmar que as variações do clima nos últimos dois séculos sejam anormais, em relação às ocorridas antes, no passado histórico e geológico”. Para Lino, não há motivos para tanta preocupação quanto ao aquecimento da Terra. Seria pior para nós, ele afirma, se estivéssemos enfrentando um processo de resfriamento, uma vez que não conseguimos nos adaptar tão bem ao frio quanto fazemos com o calor. “Para a Humanidade, o frio causa muito mais problemas que o calor: perdas de colheitas agrícolas, aumento de doenças cardiorrespiratórias, dificuldades de transportes, entre outros. Imagine o que seria viver hoje sob condições glaciais, por exemplo. É claro que extremos climáticos, sejam frios ou quentes, sempre causam problemas, mas entre os dois, o frio é muito pior.” O geólogo destaca ainda que a constante discussão do tema aquecimento global pode não ter as melhores motivações. “Esse alarmismo infundado desvia as atenções das verdadeiras emergências globais, que são a falta de saneamento básico para mais de metade da humanidade, os mais de 1,5 bilhão de pessoas que, em pleno século XXI, ainda não têm acesso à eletricidade e os problemas causados pelo crescimento desordenado das grandes cidades.” Já o pesquisador do INPE, José Marengo, não concorda com essa visão. Para ele, “aquele que nega que o homem participa do aquecimento global, não quer enxergar a realidade”. Marengo aponta o tempo como um fator crucial na análise: “No passado essas mudanças não aconteciam em décadas, como hoje, mas sim em milhares de anos. As provas científicas estão aí”. Mas em um ponto crucial não restam dúvidas para nenhum cientista: o aquecimento global é um processo irreversível. Se existe uma maneira de esfriar novamente a Terra, essa tecnologia ainda não foi inventada pelo homem. A nós, resta apenas nos adaptarmos às mudanças climáticas, sejam elas naturais ou não, e fazer o que estiver ao nosso alcance para evitar que o ecossistema não desmorone de vez.