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Princípios de
Economia

I
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PONTA GROSSA - PR
1
J.
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Do original: Essential of Economics
Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Worth Publishers
Copyright © 2007 by Worth Publishers
© 2010, Elsevier Editora Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.

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'ISBN 978·85·352·3031·4
Edição original: ISBN 978·0·7167·5879·2

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CIP·Brasil. Cataloqação-na-fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

K95p Krugman, Paul R.

Princípios de economia 1 Paul Krugman, Robin Wells, Martha
L. Olney ; tradução Claudia Mello Belhassof. - Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010.
Tradução de: Essentials of economics
Inclui bibliografia
ISBN 978·85·352·3031-4
1. Economia. I. Wells, Robin. 11. Olney, Martha L. 111. Título.
09·5433. CDD: 330
CDU: 330
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INTRODUÇAO A
MACROECONOMIA
,

... __ ~~_Mas:ro_econo_mi.a: __ o.quadro.geral.,

~,.'

DESAPONTAMENTO DE D PLOMADOS

ano 2000 foi um bom ano para ordenados do mais alto ao mais baixo,
ser recém-formado de uma uni- o salário mediano é aquele que fica

O versidade ou faculdade nos Esta-

dos Unidos. Como disse um jor-
nal, as companhias "estavam trope-
bem no meio da lista.)
Não havia nada de errado com os
alunos de 2002; eles tinham tanto ta-
çando umas nas outras para atrair di- lento e motivação quanto os diploma-
I plomados universitários com gordos dos de dois anos antes. E o fenômeno
"f salários e outras vantagens". O ano não esteve limitado às faculdades de
I ,
li! 2000 foi particularmente bom para os administração de empresas. A diferen- ',; I,'

j:i
diplomados com MBAs. Mas apenas ça foi que na primavera de 2000 a eco-
:l i
ii dois anos depois a situação estava lon- nomia estava em expansão, e os em-
!:·I ge de ser assim tão favorável para os pregadores estavam contratando mais
",I
:'1 diplomados. Para muitos dos forman- gente. Na primavera de 2002, a econo-
I dos de 2002 nas escolas de adminis- mia estava fraca. Muitas firmas esta-
I I
~;-'
tração de empresas dos Estados Uni- vam despedindo empregados e não ti-
, dos, a formatura não foi o momento nham nenhuma pressa de contratar
,
feliz que esperavam: a porta aberta mais gente. Como se vê na Tabela 14-1,
para um emprego bem remunerado e as perspectivas de emprego haviam
o sucesso. Mesmo nas escolas de ad- melhorado um pouco em 2004; contu-
.,
ministração de negócios de maior do, os salários iniciais continuavam in-
prestígio, como Harvard, Universida- feriores aos níveis obtidos pelos for- geral da
de da Pensilvãnia e Stanford, estudan- mados da primavera de 2000. mia,·o·:éstudo da
tes e professores viram espantados o A alternãncia entre expansão e re-
fato de encarregados de recrutamento cessão, ou seja, entre anos em que há
cancelarem ofertas que já haviam sido muitos empregos e anos em que é difí-
feitas a centenas de recém-formados. cil achar emprego, é conhecida como
Meses depois da formatura, muitos ciclo econômico. Mas por que existe
ainda não haviam encontrado empre- um ciclo econômico? E é possível fa-
go. Como se mostra na Tabela 14-1, zer algo para suavizá-Ia? Esta é uma
aqueles diploma dos que encontraram questão que preocupa a macroecono-
emprego tipicamente receberam salá- mia, a área da análise econômica que
rios menores que os formados de ape- tem seu foco no comportamento da
nas dois anos antes. (Se os salários são economia em seu conjunto.
• ,. •••••••••••••••••••••••.•••.••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••.••••••••••••••••••• '" •••••••••• ,. ••••••••••••••• ~ ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• ~ ••••••• ..- _ .••••••••.•.•••• w ••.•. : ••••••

Em contraste, a microeconomia trata das decisões de produ-
ção e consumo de consumidores e produtores, e da aloca-
ção de recursos escassos entre os vários setores da econo-
mia. Voltando ao exemplo dos diplomados em escolas de
administração de empresas, uma questão típica de microe-
conomia seria saber por que diferentes setores, digamos,
bancos de investimento comparados com firmas de publi-
cidade, pagam salários diferentes aos recém-formados. A
macroeconomia trata de desenvolvimentos na economia
nacional, tal como o nível total de produção, o nível geral
de Ireços e o nível geral de emprego.
TABELA 14-1
Salários iniciais medianos para diplomados com MBA
de faculdades selecionadas em 2000, 2002 e 2004
Stanford
Harvard
Pennsylvania
cos, e assim por diante. A escola pode então decidir se
oferece ou não o curso comparando custos ebenefícios.
A macroeconomia, ao contrário, examina o comporta-
mento agregado da economia, como as ações de todos os
indivíduos e firmas da economia interagem para produ-
zir um nível específico de comportamento da economia
em seu conjunto. Por exemplo, a macroeconomia trata
do nível geral de preços na economia, e de quão mais al-
tos ou mais baixos os preços estão comparados com o
ano anterior, em lugar de colocar o foco no preço de um
bem ou serviço específico.
Talvez você imagine que questões macroeconormcas
possam ser respondidas simplesmente somando as respos-
tas microeconômicas. Por exemplo, o modelo de oferta e
demanda que apresentamos no Capítulo 3 explica que o
preço de equilíbrio de um bem ou serviço individual é de-
terminado em um mercado competitivo. Assim, se poderia
pensar que, aplicando a análise de oferta e demanda a cada
bem e serviço da economia, e depois somando os resulta-
dos, entenderíamos o nível geral de preços da economia em
$165.500 $138.100 $150.000
seu conjunto.
160.000 134.600 147.500
156.000 124.500 TABELA 14-2
144.000

Columbia 142.500 123.600 142.500 Questões microeconômicas' versus macroeconômicas

Dartmouth 149.500 122.100 ·135.000

Fonte: Business Week Graduate Survey, 18 de outubro de 2004.

Capítulos anteriores permitiram ter uma ídeia de alguns

conceitos e princípios fundamentais da microeconomia. °oferecido
que determina o salário
pelo Citibank a
O,que determina o nível
g~~al de salários pagos aos
Para entender o escopo e a abrangência da macroecono-
mia, comecemos por examinar mais cuidadosamente a di- Cherie Camajo, uma trabalhadores em um dado
recém-formada da anó?
ferença entre microeconomia e macroeconomia. Depois
Universidade de
disso, vamos dar uma visão geral das três principais áreas Columbia?
da análise macroeconõmica.
° que determina o custo,
"

Oque determina o nível geral

para uma universidade ou de preços na economia em
faculdade, de oferecer um seu .conjunto?
MICROECONOMIA VERSUS novo curso?
MACROEC.OtiOMIA - - - - - - - _. - - - _. -," "-. - - -" - "- - O Que políticas públicas Que políticas públicas
deveriam ser adotadas para deveriam ser adotadas para
A Tabela 14-2 enumera algumas questões levantadas facilitar o acesso à 'promover emprego e
com frequência em economia. A versão microeconômica universidade para estudantes crescimento na economia em
da questão aparece do lado esquerdo e, em paralelo, uma de baixa renda? 'seu çonjunto?
questão macroeconômica similar do lado direito. Ao
comparar as questões, podemos começar a ter uma ideia
da diferença entre microeconomia e macroeconornia. Acontece que não é assim: en:bora conceitos básicos . I

Como se vê, o foco da microeconomia é como indiví- como oferta e demanda sejam tão essenciais na macroeco-
duos e firmas tomam decisões e as consequências dessas nomia quanto são na rnicroeconornia, responder a ques-
decisões, Por exemplo, usamos microeconomia para de- tões macroeconômicas requer um conjunto adicional de' ,
terminar quanto custaria a uma universidade ou a uma instrumentos e um quadro de referência ampliado. Vamos
faculdade oferecer um novo curso, um custo que inclui considerar três maneiras principais pelas quais a macroe-
os salários dos instrutores, o custo dos materiais didatí- conomia é diferente da microeconomia.
 , I
(_30~_1RTE VII INTRODUÇÃO À MACROECONO~1IA ELSEVIER

Macroeconomia: O conjunto é maior leva a uma outra diferença crítica entre microeconomia e
que a soma de suas partes macroeconomia: o papel da política governamental. O estu-
do cuidadoso de como os mercados funcionam levou os mi-
Se você às vezes dirige na estrada, provavehnente sabe o que é
croeconomistas à conclusão de que em geral é melhor que o
um engarrafamento de trânsito por causa de "pescoço espicha-
governo deixe os mercados funcionarem sozinhos. Exceto
do" e por que é uma amolaçãotão grande. Alguémpara no acos-
em casos bem definidos, a intervenção governamental nos
tamento para algo que não é grave,como trocar um pneu, e logo
mercados em geral leva a sociedade em seu conjunto a uma
um enorme engarrafamentode trânsito se forma, à medida que
situação pior. Certamente, há tarefas importantes para a po-
os motoristasreduzem a velocidade para dar uma olhada. O que
lítica microeconômica, quais sejam, garantir que os merca-
é tão desagradável é que o tamanho do engarrafamento não
J dos funcionem bem e intervir adequadamente em casos bem
guardaoProporção alguma com a importãncia do evento que o
definidos em que os mercados não funcionam bem. Mas a
causou. Como alguns motoristas pisam no freio para esticar o
área da microeconomia em geral sugere um papel limitado
~: pescoço e dar uma espiada, os motoristas atrás deles também
para a intervenção governamental.
têm de pisar no freio, e os atrás deles têm de fazer o mesmo, e as-
Em contraste, os economistas em geral acreditam que
sim por diante. O acúmulo de todas as freadas eventuahnente
há um campo muito maior para a intervenção governa-
leva a um longo engarrafamentode trânsito que desperdiça o
mental na macroeconomia, sobretudo para administrar
tempo de todo mundo, à medida que cada motorista precisa de-
flutuações de curto prazo e eventos desfavoráveis na eco-
sacelerarum pouco mais do que o motorista na frente dele.
nomia. Assim como a polícia rodoviária que trabalha para
Entender o engarrafamento de trânsito por causa dessa cu-
impedir ou reduzir os efeitos de um engarrafamento de
riosidade mostra uma forma muito importante em que a ma-
trânsito causado por motoristas que ficaram esticando o
croeconomia é diferente da microeconomia: muitos milhares
pescoço para olhar algo no acostamento, a política gover-
ou milhões de ações individuais se acumulam para produzir
namental funciona de modo a impedir ou reduzir os efeitos
um resultado que é maior do que a simples soma das ações in-
de eventos adversos na macroeconomia.
dividuais. Consideremos, por exemplo, o que os macroecono-
A opinião generalizada de que o governo deveria ter um pa-
mistas denominam "paradoxo da poupança": quando as famí-
pel ativo na administração da macroeconomia data da Grande
lias e firmas ficam preocupadas com a possibilidade-de tempos
Depressão dos anos 30, um evento que marcou a história eco-
difíceis na economia, elas se preparam reduzindo seus gastos.
nõmica mundial. Um evento global em que a produção des-
Essa reduçâo nos gastos deprime a economia na medida em
pencou, bancos fecharam, companhias foram à falência e tra-
que os consumidoresgastam menos e as empresas reagem des-
balhadores foram demitidos em massa, era como se a máquina
pedindo trabalhadores. Em consequência, as famíliase empre-
da economia mundial tivesse sido violentamente engatada na
sas podem terminar em situaçâo pior do que se não tivessem
ré. Durando mais de uma década, de 1929 até o fim dos anos
; :r' atuado de formaresponsável cortando seus gastos. Isso é cha-
.. i'

mado de paradoxo, porque é um comportamento aparente-
mente virtuoso - a precaução de preparar-se para tempos difí-
ceis economizando mais - que termina prejudicando todo
mundo. E há o outro lado da moeda nessa história: quando as
famílias e empresas estão otimistas sobre o futuro, elas gastam
mais hoje. Isso estimula a economia, levando as empresas a
contratar mais trabalhadores, o que por sua vez expande de
novo a economia. Um comportamento aparentemente perdu-
lário leva a uma melhoria da situação para todos.
Uma percepção essencial da análise macroeconômica é
que, no curto prazo, em um período que consiste em vários
anos, mas em geral é menor do que uma década, o efeito
combinado das decisões individuais pode ter efeitos que
são muito diferentes do que cada indivíduo pretendia, efei-
tos que algumas vezes são perversos. O comportamento da
macroeconomia, de fato, é maior que a soma das ações e
dos resultados de mercados individuais.
Política macroeconômica
o fato de que a soma das decisões individuais pode algumas
vezes levar a resultados ruins para a macroeconomia nos
30, causou uma revisão profunda dos princípios e objetivos da
macroeconomia. Durante e depois da Grande Depressão, os
economistas desenvolveram a caixa de instrumentos da mo-
derna macroeconomia, política fiscal, o controle do gasto go-
vernamental e tributação, e política monetáriti, o controle da
taxa de juros e da quantidade de moeda em circulação, agora
usados para administrar o desempenho da macroeconomia.
Agregados econômicos
Uma característica da moderna macroeconomía é que tan-
to sua teoria quanto a implementação de políticas têm
como foco os agregados econômicos, ou seja, medidas eco-
nômicas que resumem dados cobrindo mercados muito di-
ferentes de bens, serviços, trabalhadores e ativos. (Ativos
são itens que servem para armazenar valor, como dinheiro
vivo ou imóveis.) Por exemplo, a macroeconomia analisa o
desempenho da economia ao estudar o produto agregado, o
produto total da economia ao longo de um dado período, ~
o nível de preços agregado, uma medida do nível geral de
preços na economia. Usando essas medidas agregadas, va-
mos estudar o ciclo econômico e como a política fiscal e a

podem ser usadas para administrar o ci-
11 LLILLL"~~' Como os felizes e infelizes formados em ad-
de empresas descobriram, essas flutuações afe-
-_ -Ànc·".,.,.,,..,y,r>an, uma medida do total de trabalhadores
C-"'~-Tn'pa() na economia. Veremos também como o ciclo
é afetado pelos gastos de investimento, acrésci-
-:à'oferta de capital físico produtivo da economia,
máquinas, construções e estoques.
'restante deste capítulo e no Capítulo 15, vamos nos
em ver como vários desses agregados econômi-
calculados e medidos.
que temos uma ideia de como a macroeconomia e
economia diferem, estamos aptos a aprender algu-
das características essenciais do ciclo econômico.
disso, no. entanto, vejamos o episódio que criou a
rial:rclecon.üIlllJ·la como a conhecemos - e quase destruiu a
_co_n _o_m_ i.a __ e m __ a.ç.ã D_ - - - - - - - --o
Grande Depressão
'Os historiadores concordam que a Grande Depressão, que
_-:'começou em 1929 e durou toda a década de 1930, foi um
dos momentos definidores da história amerj-cana. E seu
-efeito não se limitou aos Estados Unidos; a . catástrofe foi
- sentida em quase todas as economias de mercado do mun-
do, na Europa, América Latina,]apão, Canadá e Austrália.
(a) Taxa de desemprego
Taxa de
desemprego
25% dólares de 2000)
20
15
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CAPfTUlO 14 MACROECONOMIA, O QUADRO GER~ 305 , J
; ./..
A Alemanha foi uma das economias mais fortemente atin-
gidas. Os historiadores concordam que essa foi uma das
principais razões da ascensão do nazismo, que em última
instãncia levou à Segunda Guerra Mundial.
A Grande Depressão também foi o momento definidor
para a moderna macroeconomia: se tivéssemos de expres-
sar em poucas palavras a missão central da macroeconomía
moderna, ela seria prevenir que qualquer coisa semelhante
à Grande Depressão possa acontecer de novo.
A Depressão começou em agosto de 1929 com uma leve
queda no produto agregado. Isso, por sua vez, contribuiu
para aquele evento específico mais associado com a Grande
Depressão, o famoso colapso da Bolsa de Valores de outu-
bro de 1929. Se os efeitos econômicos tivessem se limitado
ao impacto da queda no mercado de ações, a economia te-
ria provavelmente sofrido um declínio de curto prazo. Mas
o que tomou a depressão um desastre de longo prazo foi o
aumento catastrófico no desemprego e o enorme declínio
no produto agregado que se seguiu ao colapso da Bolsa. Em
1929, a taxa de desemprego, em linhas gerais, a percenta-
gem da população trabalhadora que não consegue achar
um emprego, era apenas 3,2%, como se mostra no painel
(a) da Figura 14-1. Em 1933, havia chegado a 24,9%: um
trabalhador americano em cada quatro estava sem traba-
lho, com muitas pessoas obrigadas a depender da distribui-
ção de sopa e outros atos de caridade simplesmente para
poder comer. Famílias foram despejadas de suas casas, e fa-
velas se espalharam pelo país. Havia frequentes protestos
PIB real
(bilhões de
$1.400
1.200
1.000
800
600
~o,:o,'" :0,"":0,">:0,1> :0,'0 :o,'b ,,'" , ""
~~ ..,o,..,o,~ ~ ~ ~ ~
Ano
 TE VII INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA ELSEVIER

de trabalhadores, pois eles se sentiram abandonados pela
economia de mercado. (Em um exemplo famoso, vetera-
nos da Primeira Guerra Mundial, conhecidos como partici-
pantes da Marcha dos Bônus, ergueram uma favela na ave-
nida principal de Washington. Eles foram expulsos pelo
exército dos Estados Unidos, depois de reivindicarem com
grande força um bônus pago pelo governo.) Junto com o
colapso no emprego, houve um extraordinário colapso no
produto interno bruto em termos reais (ou PIE) - uma medi-
da do froduto agregado. O PIE real caiu 27% entre 1929 e
1933, como mostra o painel (b) da Figura 14-1. Foi um
~I: , tempo de miséria inacreditável e inesperada, tanto mais
chocante porque a década anterior, a agitada e ruidosa dé-
cada de 1920, havia sido uma época de crescimento e pros-
peridade sem precedentes. Nos anos 30, muitas pessoas
sentiram que até a democracia na América estava em risco.
Embora a economia tenha se recuperado, isso levou muito
tempo. Em 1939, depois de toda uma década de tentativas de
política econômica para reverter o declínio, a taxa de desem-
prego ainda era 17%, muito mais alta do que em qualquer ou-
tro momento anterior. O PIE real não voltou ao seu nível de
1929 antes de 1936 e levou até 1941 para que a taxa de de-
semprego voltasse a cair para um só dígito. Somente com a
Segunda Guerra Mundial a prosperidade econômica voltou.
A Grande Depressão levou a intensos esforços dos econo-
mistas para entender o que havia acontecido e para saber o
que fazer em relação a isso. Levou a um avanço na mensura-
ção da economia, e muitas das estatísticas em que hoje nos
baseamos para acompanhar o desempenho da economia co-
meçaram a ser coletadas nos anos 30. A teoria econômica
mudou drasticamente com a publicação, em 1936, da Teoria
Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, pelo economista britã-
nico john Maynard Keynes - um livro que compete em in-
fluência com A Riqueza das Nações de Adam Smith. O traba-
lho de Keynes e as interpretações e críticas de seu trabalho
por outros economistas deram origem tanto ao campo da
macroeconomia quanto à elaboração de políticas macroeco-
nômicas como as conhecemos hoje. 11
>BREVE REVISÃO
> No curto prazo, o efeito combinado das ações individuais
pode ter consequências não previstas e levar a resultados
macroeconômicos piores ou melhores para todo mundo.
> Existe normalmente um escopo maior para a intervenção do
governo na macroeconomia do que existe na microeconomia.
> Diferente da microeconomia, a macroeconomia depende do
estudo de agregados econômicos.
> A Grande Depressão precipitou uma revisão profunda da
mensuração e da teoria econômica, o que deu origem à mo-
derna macroeconomia.
1. Dentre as questões seguintes, qual é apropriada para o estudo
da microeconomia? E da macroeconomia? Explique suas
respostas.
a. Quanto lucro é obtido ao instalar um novo equipamento na
Fábrica de Móveis Otis?
b. Como muda o nível geral de vendas de bens manufaturados
quando muda a situação da economia?
c. Melanie deveria ou não comprar um carro novo?
2. Explique por que em geral há menor oportunidade para a -in-
tervenção governamental na microeconomia do que na ma-
croeconomia.
As respostas estão no fim do livro.

'I
PARA MENTES CURIOSAS
.•
DEFININDO RECESSÕES E EXPANSÕES

Alguns leitores podem estar se perguntando
sobre como exatamente são definidas
recessões e expansões. A resposta é que não
há uma definição exata!
Em muitos países, os economistas
adotam a regra de que uma recessão é um
período de pelo menos dois tri mestres
consecutivos durante o qual o produto
agregado cai. A exigência de dois trimestres
consecutivos destina-se a evitar que se
classifiquem como recessões breves soluços
no desempenho econõmico que não têm
significado duradouro. Algumas vezes,
contudo, essa definição parece estrita
demais. Por exemplo, uma economia que
tem três meses de declínio muito forte do
produto, e depois três meses de crescimento·
ligeiramente positivo, e depois de novo três
meses de rápido declínio, certamente
deveria ser classificada como tendo uma
recessão de nove meses.
Nos Estados Unidos, tenta-se evitar tais
classificações enganosas atribuindo a tarefa
de determinar quando uma recessão começa
e quando termina a um painel independente
de peritos do NBER, o Escritório Nacional de
Pesquisa Econômica em Washington. Esse
painel examina uma variedade de
indicadores econômicos, com atenção
especial para o desemprego e a produção.
Mas, em última instância, o painel faz um
julgamento.
Algumas vezes, esse julgamento é
controverso. De fato, permanece até hoje uma
controvérsia sobre a recessão de 2001. De
acordo com o NBER, a recessão começou em
março de 2001 e acabou em novembro de 2001,
quando o produto começou a crescer. Mas
alguns críticos argumentam que a recessão na
realidade começou vários meses antes, quando
a produção industrial começou a cair. Outros
críticos argumentam que a recessão não acabou
de fato em 2001 porque o emprego continuou
caindo e o mercado de trabalho permaneceu
fraco por mais um ano e meio.

o _CICLO _ECON.OMICO .. _ -. - . . - - _. - - __ . _ . _ o
Como mencionamos em nossa história introdutória, a má
situação do mercado de trabalho em 2002 fez com que to-
dos os que procuravam um emprego tivessem dificuldade,
independente de suas capacidades. E isso foi particular-
mente decepcionante porque dois anos antes os Estados
Unidos haviam se beneficiado de um mercado de trabalho
muito aquecido.
A alternãncia de curto prazo entre declínio e expansão
ecotômica é conhecida como ciclo econômico. A depres-
são é um declínio econômico muito profundo e prolonga-
do; felizmente, os Estados Unidos não tiveram depressão
desde os anos 30. Mas temos visto declínios econômicos
menos prolongados conhecidos como recessões, períodos
em que o produto e o emprego estão caindo. Em contraste,
ascensões econômicas, períodos em que o produto e o em-
prego estão aumentando, são conhecidas como expansões
(às vezes chamadas de recuperações). De acordo com o
NBER, o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica em
Washington, ocorreram dez recessões nos Estados Unidos
desde a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, a teces-
são média durou 10 meses, e a expansão média durou 57
meses. A duração média do ciclo econômico, do início de
uma recessão até o início da recessão seguinte, tem sido 5
anos e 7 meses. O ciclo econômico mais curto teve 18 me-
ses, e o mais longo teve 10 anos e 8 meses. A recessão senti-
da pelos que procuravam emprego em 2002 começou em
março de 2001. A Figura 14-2 mostra a história do desem-
prego nos Estados Unidos desde 1948, bem como as datas
dos ciclos econômicos no pós-guerra. A taxa média de de-
semprego nesse período foi 5,6%, e as recessões estão indi-
cadas na figura pelas áreas sombreadas.
O que acontece durante um ciclo econômico e o que se
pode fazer a respeito 7 Vamos examinar três questões: o efei-
to da recessão e da expansão sobre o desemprego; o efeito
sobre o produto agregado; e o possível papel da política go-
vernamental.
Emprego e desemprego
Ainda que não seja tão severa quanto uma depressão, a re-
cessão é claramente um evento indesejável. Como a de-
pressão, a recessão traz desemprego mais alto, produto re-
duzido, rendimentos em queda e padrão de vida mais
baixo.
Para entender o desemprego e como ele se relaciona
com os efeitos adversos das recessões, precisamos enten-
der como a força de trabalho é estruturada. Emprego é o
número total de pessoas correntemente empregadas; e de-
semprego é o número total de pessoas que estão ativa-
mente procurando trabalho, mas não estão correntemen-
te empregadas. A força de trabalho de um país é a soma
CAPÍTULO 14 MACROECONOMIA: O QUADRO 1
GER~ 307
I
,
,
;/
;
,
,
1
do emprego e do desemprego. A força de trabalho oficial
não inclui os trabalhadores desencorajados, as pessoas
que são capazes de trabalhar, mas desistiram de procurar
emprego porque não acreditam que vão encontrar algum.
As estatísticas de trabalho não incluem informação sobre
subemprego, o número de pessoas que trabalham durante
uma recessão, mas recebem salários mais baixos do que
receberiam durante uma expansão, devido ao menor nú-
mero de horas trabalhadas, empregos de baixo salário ou
ambas os fatores.
A taxa de desemprego é a percentagem do total das pes-
soas na força de trabalho que estão desempregadas. É cal-
culada da seguinte maneira:
(l4-1) Taxa de desemprego =
Número de trabalhadores desempregados
----------------------~~~---xl00
Número de trabalhadores desempregados
+ Número de trabalhadores empregados
A taxa de desemprego normalmente é um bom indica-
dor da situação do mercado de trabalho: uma elevada taxa
de desemprego sinaliza um mercado de trabalho fraco, em
que os empregos são difíceis de encontrar; uma taxa de de-
semprego baixa indica um mercado de ti:apal~lO aquecido,
em que os empregos são relativamente fãceísde.achar. Em
geral, durante recessões a taxade desemprego é crescente;
durante expansões, ela é decrescente.
Vejamos de novo a Figura i+2; que mostra a taxa de de-
semprego mensal entre 1948 e 2004. A taxa média de de-
semprego para todo o período foi 5,6%, mas houve grandes
flutuações em torno da média: Uma economia aquecida
como a dos fins dos anos 60 ou fins dos anos 90 pode fazer
com que a taxa de desemprego baixe até 4% ou até menos.
Mas uma recessão severa, como a de 1981/82, pode levar a
taxa de desemprego para dois dígitos. (O desemprego na-
quela recessão chegou ao seu nível mais alto em novembro
de 1982: 10,8%.)
Esses números abstratos se traduzem em diferenças
enormes nas experiências pessoais. Por exemplo, os
10,8% da taxa de desemprego do fim de 1982 significou
quase 12 milhões de pessoas nos Estados Unidos ativa-
mente procurando emprego sem encontrá-Ia. Mais recen-
temente, quando a taxa de desemprego aumentou no iní-
cio dos anos 90, centenas de milhares de trabalhadores ~o~ .
ram demitidos, e muitos dos que encontraram emprego, ..
na verdade ficaram severamente subempregados. Em con- .
sequência, a nação foi tomada de mal-estar e dúvida. (Um
livro influente dessa época tinha o título América: o que
deu errado?) Mas no fim dos anos 90, quando o desempre--
go caiu ao menor patamar dos 30 anos anteriores, as em-
presas batalharam para encontrar trabalhadores, e mesmo
estudantes com notas medíocres e experiência mínima ti-
 TE V!I,INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
Taxa de
desemprego
12%
10
6
5,6 1-;IIr-- .• -ttti''II'I\:--r;r&-~'''-40-::I!--1j~-~
4
,,
.'(,
veram boas ofertas. Mas, como é da natureza do ciclo eco-
nômico, essa era feliz terminou quando a economia che-
gou a uma etapa difícil no início de 2001 e a taxa de de-
semprego voltou a subir.
Produto agregado
Desemprego crescente é a consequência mais dolorosa de
uma recessão, e desemprego em queda é a característica
mais urgentemente desejada de uma expansão. Mas o ciclo
econômico não é só uma questão de emprego, é também
uma questão de produto. Durante o ciclo econômico, o ní-
vel de produto da economia e sua taxa de desemprego se
movem em direçôes opostas.
Formalmente, o produto agregado é a produção total de
bens e serviços finais da economia em um dado período de
tempo, normalmente um ano. Ele exclui bens e serviços
que são produzidos como insumo para a produção de ou-
tros bens (insumos muitas vezes são chamados de bens in-
termediários). O aço manufaturado com a finalidade de
produzir um automóvel não é contado no produto agrega-
do, mas o carro é. O PIE real é a medida numérica efetiva do
produto agregado tipicamente usada pelos economistas.
Veremos cOrno é calculado o PIE real no Capítulo 15. Por
enquanto, o ponto importante é que o produto agregado
normalmente diminui em recessões, mas aumenta durante
as expansões.
O painel (a) da Figura 14-3 mostra a taxa de crescimen-
to anual do PIE real dos Estados Unidos entre 1948 e2004.
Isto é, apresenta a mudança percentual no produto agrega-
do de 1947 para 1948, de 1948 para 1949, e assim por dian-
te. Em média, o produto agregado cresceu 3,5% por ano.
Como se pode ver, no entanto, a taxa de crescimento efeti-
va flutuou amplamente em torno da média, chegando a ser
tão alta quanto 8,7% em 1950 e tão baixa quanto -1,9% em
1982. A comparação entre o painel (a) da Figura 14-3 com
ELSEVIER
a Figura 14-2 mostra que o ano em que o produto agregado
teve seu pior declínio no pós-guerra, 1982, foi também o
ano em que a taxa de desemprego atingiu seu nível mais
alto desde o pós-guerra.
O painel (b) da Figura 14-3 mostra o crescimento do
PIE real dos Estados Unidos no mesmo período de 1948 a
2004. Como se vê na linha de tendência ascendente susten-
tada, as quedas de PIE real que ocorreramdurante reces-
sões foram eventos temporários. Ao longo dó período do
pós-guerra, o PIE real americano cresceu mais de 500%.
Domando o ciclo econômico
Como explicamos, uma das principais tarefasda macroe-
conomia é entender por que acontecem recessões e o que
pode ser feito quanto a elas, se é que algo pode ser feito.
Uma outra tarefa importante da macroeconomía é relativa
à inflação, um aumento no nível geral de preços que muitas
vezes resulta de uma expansão excessivamente rápida.
Esforços de política econômica que buscam reduzir a se-
veridade das recessões ou conter expansões excessivamen-
te rápidas são chamados políticas de estabilização. À polí-
tica de estabilização é baseada em dois instrumentos prin-
cipais: política monetária e política fiscal. A pólítíca mone-
tária procura estabilizar a economia através de mudanças
na quantidade de moeda em circulação ou na taxa de-juros
ou ambos. A política fiscal-tenta estabilizar a economia.
através de modificações nos tributos e nos gastos governa-
mentais ou ambos. Examinaremos esses instrumentos nos
Capítulos 17 e 18, para ver como eles podem diminuir a
duração e a severidade das recessões, bem como conter ex-
pansões exageradamente robustas .. Mas veremos também.
naqueles capítulos por que elas não funcionam perfeita-
mente, isto é, a política fiscal e a política monetária não
conseguem eliminar de todo as flutuações na economia.
No fim das contas, o ciclo econômico continua entre nós.
 I
I
( A P Í T U L O 14M A C R O E C O N O M I A: O Q U A D R O G E R ~ 309

(a) Taxa de crescimento anual do PIB real

Taxa de
crescimento
do PIB real

-2
-4 I I I I I I
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Ano
(b) PIB real
PIB real
(bilhões de
dólares de 2000)
$12.000

10.000

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Ano

. Embora o ciclo econômico seja uma das principais preo-
, es da macroeconomia e tenha historicamente de-
um papel crucial em impulsionar o desenvol-
desse campo, os macroeconomistas estão preocu-
também com outras questões. Passamos em seguida
da inflação.
.C .0. n .0. m. i. a .. e. m .. D. ç. ã .D ••••••••••
ciclo econômico foi domado?
economia como a conhecemos hoje surgiu duran-
UU,UO'I,-o.o de prevenir que uma situação como aquela
'-V.UU~Lt::::,:::,t: de novo. A julgar pelos dados, parece que os
oradores de política econômica e economistas nos
Unidos tiveram sucesso. Desde então, os Estados
não sofreram nenhum declínio econômico tão se-
que pudesse ser considerado uma depressão. Mas
na tarefa relacionada de domar o ciclo
Mais ou menos. A Figura 14-4 mostra a taxa média
anual de desemprego nos Estados Unidos desde 1900. A fi-
gura é dominada pelo enorme aumento na taxa de desem-
prego nos anos 30. Desde a Segunda Guerra Mundial, os Es-
tados Unidos conseguiram evitar que algo tão severo
acontecesse de novo. Os macroeconomistas acreditam que
em parte isso se deve ao fato de que desde a Segunda Guerra
Mundial as políticas rnacroeconômicas foram mais sábias
o porque são baseadas em uma teoria macroeconômica melhor.
Os economistas aprenderam, contudo, a desconfiar de
declarações de que o ciclo econômico foi controlado e que
as recessões são coisa do passado. Tais declarações eram
comuns durante a longa extensão dos anos 60, mas depois
disso houve duas recessões severas que levaram o desem-
prego a níveis de pico do período do pós-guerra, Argumen-
tos de que o ciclo econômico já não existia surgiram de
novo durante a longa expansão dos anos 90, somente para
serem refutados pela recessão de 2001.
Em épocas recentes, outros países sofreram declínios
econômicos quase tão severos quanto a Grande Depressão.'
Por exemplo, entre 1998 e 2002, a Argentina sofreu uma
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10
/ pjRTE VII
. INTRODUÇÃO À fvlACROECONOMIA
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.
queda de 18% no produto agregado. A taxa de desemprego
subiu para 24% e muitas famílias de classe média foram jo-
q
,;' gadas na pobreza. Esses declínios provocaram alguma hu-
mildade entre os macroeconomistas. Embora eles acredi-
tem que sabem o suficiente para prevenir outra Grande De-
pressão, a tarefa da estabilização econômica está longe de
ter sido completada. li
o'
> O ciclo econômico, a aLternância entre recessões e expansões,
é uma das principais preocupações da moderna macroecono-
mia, que em grande parte foi criada para prevenir uma outra
depressão.
> A força de trabalho, igual a emprego mais desemprego, não
inclui trabalhadores desencorajudos. As estatísticas de tra-
balho tampouco incluem dados sobre subemprego. Em geraL,
a taxa de desemprego aumenta durante recessões e diminui
durante expansões - em direção oposta ao movimento do
produto agregado.
> Política de estabilização consiste em dois instrumentos
principais: política monetária e política fiscal. ELes são usa-
dos para reduzir a severidade das recessões e moderar ex-
pansões excessivamente rápidas.
TESTE SEU ENTENDIMENTO 1'4-2
1. Por que a taxa de desemprego e o produto agregado se movem
em direções opostas durante o ciclo econômico?
2. Descreva alguns dos custos sociais de ter uma elevada taxa de
desemprego.
3. Quais os sinais verossímeis de que uma política de estabilização
teve sucesso ao longo de um período prolongado?
As respostas estão no fim do livro.
IN FLAÇÃO. E. DEFLAÇÃO. _. - ... - .... - ... - - .. -. O
Embora o ano de 2002 tenha sido difícil para os formandos
que procuravam trabalho, os empregos que de fato estavam
ELSEVIER
Taxa de
desemprego
25%
15
10
sendo oferecidos pagavam muito bem de acordo com pa-
drôes históricos. O total do rendimento de um trabalhador
médio americano em 2002, mesmo depois de ajustado pe-
los preços mais altos de bens e serviços, era quase três vezes
o que recebia um trabalhador médio em '1948. Depois de
corrigir pelos preços mais elevados de bens e serviços: essa é
uma qualificação importante. Se não corrigirmos pelos pre-
ços mais altos de bens e serviços, o aumento nos salários de
1948 a 2002 parece muitíssimo maior, aumenta por um
fator de 20 em vez de um fator de apenas 3.
Esse exemplo mostra uma distinção importante em ma-
croeconomia: a distinção entre nominal e real. Medida nomi-
nal de algo, como salários nominais, é uma medida que não
foi ajustada por mudanças nos preços ao longo do tempo. Di-
zemos que os salários nominais aumentaram por um fator de
20 entre 1948 e 2002. Por comparação, uma medida real de
algo é uma medida que foi ajustada para levar em conta as
mudanças de preços ao longo do tempo. Assim, dizemos que
os salários reais aumentaram por um fator de 3 entre 1948 e
2002. Os economistas tipicamente expressam salários em ter-
mos reais, porque o salário real é um indicador melhor da ver-
dadeira mudança no poder de compra do trabalhador ao lon-
go do tempo: captura quanto os salários mudaram além da
mudança nos preços dos bens e serviços que os trabalhadores
compram. Embora os salários nominais tenham aumentado
por um fator de 20 nesses 55 anos, os trabalhadores só po-
diam comprar três vezes mais bens e serviços, e não 20 vezes
mais. Dito de outro modo, o salário médio de um trabalhador
em 2002 expresso em dólares de 2002, ou seja, o montante de
bens e serviços que o salário médio de um trabalhador de
2002 podia comprar em 2002, era três vezes mais alto que o
salário em 1948 quando expresso em dólares de 2002, o mon-
tante de bens e serviços que o salário médio de um trabalha-
dor em 1948 poderia comprar em 2002.
O nível geral de preços de todos os bens e serviços finais
em uma economia, isto é, o nível de preço do produto agre-
gado, é conhecido como nível de preços agregado. Quan-
do esse nível de preços aumenta, dizemos que a economia
 t :. .. t f 1
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I
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CAPÍiULO 14 MACROECONOMIA: O QUADRO GER1L 311. ):;
'-----,

IPC
(base = .
1982-1984)
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20

experimenta inflação. Quando ele cai, a economia passa
por deflação.
Como explicaremos no Capítulo 15, há duas medidas
do nível de preços agregado que são usadas amplamente: o
deflator do PIE e o índice de preços ao consumidor ou IPC. A
Figura 14-5 mostra o índice de preços ao consumidor nos
Estados Unidos de 1913 a 2004.
Pode-se ver na figura que o nível de preços agregado, as-
sim como o produto agregado (ver Figura 14-3-b), aumen-
tou substancialmente ao longo do tempo. Os preços em ge-
ral eram quase 20 vezes mais altos em 2004 do que eram
em 1913. Uma tendência ascendente no produto agregado
é uma coisa boa. É sinal de uma economia que funciona
bem. No entanto, a tendência ascendente de preços não é
uma característica necessária de uma economia com bom
desempenho. Nem é necessariamente algo bom.
Tanto inflação quanto deflação podem causar problemas
a uma economia, embora esses problemas sejam mais sutis
do que aqueles associados com a recessão. Vejamos dois
exemplos: a inflação desencoraja as pessoas de manter di-
nheiro vivo porque o dinheiro perde valor ao longo do tem-
po. Quando o nível geral de preços está subindo, isso au-
menta o custo de fazer compras evendas para as quais é exi-
gido pagamento à vista. Em casos extremos, as pessoas pa-
ram inteiramente de manter dinheiro e passam a fazer troca
direta de bens ou escambo. A deflação pode causar o proble-
ma inverso. Quando o nível de preços está caindo, manter
dinheiro vivo que ganha valorcorll o tempo pode tomar-se
mais atraente do que investirem Aovas fábricas e outros ati-.
vos produtivos. Isso pode aprofundar ~ recessão. Emgeral,
os economistas consideram a es;~abilidade de pre~ôs,_eÚ1;
que o nível de preços agregado está mudando apenas niuito
devagar, se é que isso ocorre, como uma meta desejável. (Di-
zemos "mudando lentamente" em vez de "não mudando"
porque muitos macroeconomistas acreditam que uma taxa
de inflação de 2% a 3% ao ano não prejudica quase nada e
pode até fazer algum bem.) A estabilidade de preços ~ umá-. :
meta que parecia praticamente fora de alcancena maior par~\
te do pós-guerra, mas tem sido alcançada em anos recentes, .
para a satisfação da maioria dos macroeconomistas.

mudança do
IPC (base =
1982-1984)
20%
15
10

O~+-~~--~~~~----------------------
-5
-10
 TE VIr INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
A mudança percentual anual no nível de preços agrega-
do é conhecida como taxa de inflação (que é negativa em
caso de deflação). A Figura 14-6 mostra a taxa anual de in-
flação nos Estados Unidos entre 1929 e 2004, medida
como mudança percentual no IPe. Aconteceram duas bre-
ves explosões inflacionárias associadas à Segunda Guerra
Mundial- uma no início, antes de o governo impor contro-
les de preços, e uma no fim, quando os controles foram eli-
minados. Fora esses dois eventos, três fatos chamam a
atençãj. Primeiro, a forte deflação no início dos anos 30,
associada com o início da Grande Depressão. Segundo,
.. houve um período prolongado de inflação alta nos anos 70
! ,
e início dos anos 80. Finalmente, durante os anos 90, o
nível de preços agregado voltou a ficar quase estável.
Os macroeconomístas dedicaram muito esforço para
entender as causas da inflação e da deflação e então aconse-
lhar os governos sobre como orientar a economia por um
trajeto que evite os dois extremos indesejáveis.
Eco.n o.m.i.a .. em .. a.ç.ã .D - 0
Medindo a inflação pelo hambúrguer
O McDonald's original abriu em 1954. Ele oferecia serviço
rápido, foi, de fato, o restaurante de fast-food original, e era
também bastante barato. Hambúrgueres custavam apenas
$0,15; $0,25 com fritas. Hoje o hambúrguer comum no
McDonald's custa cinco vezes mais - entre $0,70 e $0,80.
Será que o McDonald's perdeu o contato com suas raízes de
fast-food7 Terá o hambúrguer se transformado em comida
de luxo?
Não. De fato, um hambúrguer, comparado com outros
bens de consumo, é mais barato hoje do que era em 1954.
O preço do hambúrguer aumentou cerca de 400%, de
$0,15 para cerca de $0,75 na última metade de século. Mas
o IPC geral aumentou mais de 600%. Se o McDonald's ti-
vesse acompanhado o aumento do nível geral de preços,
um hambúrguer custaria agora entre $0,90 e $1,00.
A inflação acalmou nos anos 90, isto é, a taxa de aumen-
to do nível de preços agregado desacelerou. O mesmo é
verdade para os preços do hambúrguer. De fato, em 1997,
o McDonald's cortou o preço de muitos de seus itens, in-
clusive o de um dos itens mais típicos, o Big Mac. lIii
> BREVE REVISÃO
> A mudança de salários reais é uma medida melhor das mu-
danças no poder de compra dos trabalhadores do que a mu-
dança nos salários nominais.
> Uma das áreas de estudo da macroeconomia é a mudança no
nível de preços agregado. Como tanto inflação quanto defla·
çõo podem causar problemas para a economia, os economis-
tas em geral advogam manter a estabilidade de preços.
ELSEVIER
> A taxa de inflação é a mudança percentual anual no nível de
preços agregado. Ela é positiva quando o nível de preços
está aumentando (inflação) e negativa quando o nível de
preços está caindo (deflação).
TESTE SEU ENTENDIMENTO 14-3
1. Suponha que seu salário tenha aumentado 10% no ano passado.
Em cada um dos casos seguintes, determine se a sua situação
está melhor ou pior em comparação com o ano anterior.
Explique sua resposta.
a. A taxa de inflação anual foi 5%.
b. A taxa de inflação anual foi 15%.
c. A economia passou por deflação, com os preços caindo a
uma taxa de 2% ao ano.
As respostas estão no fim do livro.
• UM OLHAR ADIANTE •
Nos capítulos seguintes, vamos examinar as questões aqui
descritas brevemente. Vamos começar nossa discussão pe-
los modelos macroeconômicos com uma análise do ciclo
econômico. Ali aprendemos como os ciclos econômicos
acontecem. Nos capítulos subsequentes, aprendemos
como a política monetária e a política fiscal podem ser
usadas para estabilizar a economia.
Antes de começar a analisar modelos macróeconõrni-
cos, no entanto, precisamos saber algo sobre os números
que estamos analisando. Como de fato se estimam o produ-
to agregado, o nível de preços agregado e outtas medidas
essenciais de desempenho macroeconômico?
RESUMO> > > > > > > > > > > > > > > >
1. A macroeconomia é o estudo do desempenho da economia
em seu conjunto, ou seja, o nível de produto total, o nível ge-
ral de preços, o emprego total, e assim por diante.
2. Há três maneiras principais em que a macroeconomia difere
da microeconomia: seu foco é sobre como efeitos acumula-
dos de ações individuais podem levar a resultados macroe-
conômicos não pretendidos; ela permite maior escopo para
a intervenção governamental; e usa agregados econômicos,
medidas que resumem dados cobrindo vários mercados de
bens, serviços, trabalhadores e ativos. A modemamacroe-
conomia surgiu dos esforços para entender a Grande De-
pressão.
3. Uma preocupação central da macroeconomia é O ciclo eco-
nômico, a alternãncia de curto prazo entre recessões, perío-
dos de emprego e produto em queda, e expansões, períodos.
de emprego e produto crescentes. A moderna macroecono- .
mia surgiu em grande medida para prevenir a ocorrência de
uma outra depressão, um declínio econômico profundo e
prolongado. A força de trabalho, a soma de emprego e de-
semprego, não inclui trabalhadores desencorajados, pes-

ELSEVIER
soas capazes de trabalhar que não estão trabalhando, mas
que desistiram de procurar emprego. As. estatísticas de tra-
balho tampouco contêm dados sobre subemprego, traba-
lhadores empregados que ganham menos do que ganhariam
em uma expansão, devido a empregos que pagam menos ou
menor número de horas trabalhadas. A taxa de desempre-
go, que em geral é uma boa medida das condições do merca-
do de trabalho, aumentou e diminuiu repetidamente ao lon-
go do tempo. O produto agregado, o nível total de produto
de bens e serviços finais na economia, se move em direção
çposta ao desemprego durante o ciclo econômico.
4. ~ política de estabilização, o esforço dos governos para ate-
nuar o ciclo econômico, tem dois instrumentos principais:
política monetária, a mudança na quantidade de dinheiro em
circulação ou nas taxas de juro ou em ambas; e política fiscal,
a mudança na tributação ou no gasto público ou em ambos.
5. Os economistas distinguem entre medidas nominais, medi-
das que não foram ajustadas pela mudança de preços, e me-
didas reais, que foram ajustadas pelas mudanças nos pre-
ços. As mudanças no salário real são uma medida melhor
das mudanças do poder de compra dos trabalhadores. O ní-
vel de preços agregado é o nível geral de preços para todos
os bens e serviços finais na economia. A taxa de inflação,
que é a mudança percentual anual no nível de preços agre-
gado, é positiva quando o nível de preços agregado está su-
bindo (inflação) e negativa quando o nível de preços agre-
gado está caindo (deflação). Como inflação e deflação po-
dem causar problemas, a estabilidade de p~.eços em geral é
preferida. Atualmente a economia americana está próxima
da estabilidade de preços.
PALAVRAS-CHAVE > > > > > > > > :> > >
Agregados econômicos
Ciclo econômico
Depressão
Recessões
Expansões
Emprego
Desemprego
Força de trabalho
Trabalhadores desencorajados
Subemprego
Taxa de desemprego
Produto agregado
Políticas de estabilização
Política monetária
Política fiscal
Nominal
Real
Nível de preços agregado
Inflação
CAPÍTULO
Deflação
Estabilidade de preços
Taxa de inflação
P R O B L E MAS > > > > > > > > > > > > :> >.'.,
1. Quais das questões seguintes são relevantes para o estudo da
macroeconomia e quais são para a microeconomia?
a. Como vão mudar as gorjetas de Ms. Martin depois que fe-
char uma grande fábrica perto do restaurante em que ela
trabalha?
b. O que acontecerá com os gastos dos consumidores quan-
do a economia tiver um declínio?
c. Como será alterado o preço das laranjas se a geada preju-
dicar os cultivos da Flórida?
d. Como vão mudar os salários de uma fábrica quando sua
força de trabalho se sindicalizar?
e. Qual é a relação entre a taxa de desemprego e a taxa de in-
flação de um país?
2. Quando uma pessoa poupa, a riqueza dessa pessoa aumenta,
significando que ela poderá consumir mais no futuro. Mas,
quando todo mundo poupa, a renda de todo mundo cai, sig-
nificando que todo mundo consome menos hoje. Explique
essa aparente contradição.
3. O que foi a Grande Depressão? Como ela afetou o papel do
governo na economia e os instrumentos macroeconãmicos?
4. Há 100.000 habitantes na Macronésia. Desses 100.000 habi-
tantes, 25.000 são velhos demais para trabalhar e 15.000 são
jovens demais para trabalhar. Entre os 60.000 restantes,
10.000 não estão trabalhando e desistiram de procurar em-
prego, 45.000 atualmente estão empregados, e os 5.000 res-
tantes estão procurando mas no momento não têm emprego.
a. Qual é o número de pessoas na força de trabalho na Ma-
cronésia?
b. Qual é a taxa de desemprego?
c. Quantas pessoas na Macronésia são trabalhadores desen-
corajados?
5. As taxas de matrícula das universidades nos Estados Unidos
aumentaram significativamente nas últimas décadas. Entre o
ano acadêmico de 1971/72 e o ano acadêmico 2001/02, a ma-
trícula total, mais dormitório e manutenção, pagos por um
estudante de graduação em tempo integral, subiu de $l.357
para $8.022 nas instituições públicas e de $2.917 para
$21.413 nas instituições privadas. Isso significa um aumento
anual de taxa de matrícula de 6,1 % nas universidades e facul-
dades públicas e 6,9% nas privadas. Nesse mesmo período, a
renda média pessoal depois de deduzidos os impostos au-
mentou de $3.860 para $26.156 por ano, o que representa
uma zaxa de aumento anual médio da renda pessoal de 6,6%.
Esse aumento das taxas de matrículas tornou mais difícil para
o estudante médio conseguir pagar a universidade?