Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
CURSO DE DIREITO
Volta Redonda/RJ
2021
LUCAS DE OLIVEIRA MARTINS
Volta Redonda/RJ
2021
RESUMO
O Direito Penal é uma das mais importantes da área geral do Direito, sendo partícipe do
cotidiano social e também de um estereótipo facilmente inteligível aos cidadãos brasileiros de
todas as classes sociais. Por certo, tal domínio não se estende apenas aos brasileiros, mas possui
um arcabouço de fundamentação muito mais amplo e cujos domínios engendram por diversas
áreas do conhecimento em todo mundo, tanto no Ocidente como no Oriente. Justamente por
isso, este trabalho destina-se a um entendimento propedêutico da disciplina, apresentando – sob
o viés dos próprios discentes – princípios penais essenciais ao entendimento do tema e a história
da pena no mundo. Sendo assim, neste trabalho veremos estes dois aspectos de forma mais
pormenorizada visando, justamente, o entendimento mais facilitado da disciplina.
1. INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar, é fundamental que estabeleçamos alguns pontos sobre os quais nos
debruçaremos durante o restante do trabalho, apresentando um primeiro vislumbre dos
elementos posteriores do desenvolvimento e conclusão, respectivamente. Para que possamos
falar mais aprofundamento sobre os princípios penais e a história da pena, será necessário que
façamos três definições absolutamente fundamentais. O que são princípios? Qual é o objetivo
do estudo da História? E, por fim, o que é pena? Nesta introdução nos dedicaremos a responder
essas questões fundamentais que serão absolutamente importantes para os próximos capítulos
e, principalmente, para o entendimento da disciplina de Direito Penal pelos discentes.
Em sua obra A Vida Intelectual: seus princípios, suas condições, seus métodos, o padre
da Ordem dos Pregadores, seguindo uma ampla tradição de intelectualidade tomista, explicita
sua definição de princípios. Parafraseando o autor, podemos dizer que princípios são
argumentos iniciais de um tema específico. Já Miguel Reale no seu livro Lições Preliminares
de Direito faz uma articulação maior entre a primeira definição e o estudo jurídico, sintetizando
o fato de que os princípios são tudo aquilo que além de serem um argumento inicial também
são um argumento final, isto é, são os elementos paralelos que subsistem no elemento principal
e sem o qual este deixaria de existir plenamente.
Aos olhos leigos, tal definição pode parecer de pouco importância ao estudo da
disciplina, mas juristas importantes como o filósofo alemão Robert Alexy dedicaram suas vidas
intelectuais à fundamentação dessa questão. Sob a influência desse autor em sua obra-prima,
6
Teoria dos Princípios, temos que os princípios dizem respeito aos mandados de otimização, ou
seja, àquelas normas que falam sobre a possibilidade, que ordenam que tudo seja feito na
medida do possível, também na medida das possibilidades da vida real e jurídica.
Na sua principal obra, Apologia da História, Bloch diz: “A História tem por objeto o
homem e por isso ela é a ciência que estuda os homens no tempo”. Diante desta definição,
podemos refletir plenamente: quem é o sujeito da história das penas se não o próprio homem?
Por certo, o homem é o principal agente de todo a natureza, modificando o meio-ambiente e
desenvolvendo relações virtuosas ou problemáticas com outros homens e, consequentemente,
com outros territórios.
Sendo assim, estudar História e, mais especificamente, história das penas, é estudar as
ações do homem e sua consequência sobre a formação da sociedade em que vivemos e da
sociedade futura, consequentemente.
1. 3 DEFINIÇÃO DE PENA
No seu Dicionário Jurídico Brasileiro, Washington dos Santos, jurista brasileiro, insiste
em dizer:
2. DESENVOLVIMENTO
No primeiro capítulo falamos mais notadamente sobre o que são princípios. Tendo,
portanto, tal definição em tela, será possível que nos aprofundemos nos princípios penais em si
mesmos. Cabe destacar, entretanto, que tais princípios dizem respeito exclusivamente ao
cenário do Brasil, isto é, especificamente ao Código Penal da República Federativa do Brasil
e, portanto, suas diretrizes específicas, podendo ser aplicadas integralmente ou não em outros
contextos e países.
Antes de tudo, é importante destacar que podem existir conflito entre determinados
princípios, apesar de que em todos os casos este é um conflito hipotético, eles não estão
efetivamente em choque – como, por exemplo, quando ocorrem conflitos entre regras fixas -.
Nesse caso, utiliza-se aquilo que os juristas chamam de princípio ponderador, isto é, julgam-se
as duas espécies de princípio, determinando qual deles está mais de acordo com a razoabilidade,
quando aplicado a uma situação em específico.
um déspota ou tirano seja responsabilizado por seus atos que, muito provavelmente, terão por
finalidade o cerceamento da liberdade de seu próprio povo. Com a diversa transferência de
significado, foi um princípio muito semelhante a este, no sistema jurídico alemão, que garantiu
a punição de criminosos nazistas pelos seus crimes durante o período da Segunda Guerra
Mundial, ainda que muitos anos depois.
Por fim, o quinto princípio penal mais recorrente em nosso Código Penal é o Princípio
da Territorialidade e Extraterritorialidade. Quando tratamos de punições a pessoas, é mister
dizer que o lugar em que o crime aconteceu é de extrema importância, dado que o Código Penal
de cada país pode sofrer variações extremas que irão influenciar na vida dos indivíduos.
Justamente por isso, tais princípios estabelecem que serão imputados ao Código Penal
Brasileiro somente os crimes cometidos dentro desse território, salvo em casos em que existe
um acordo internacional prévio entre o Brasil e outro país.
Ainda que muito lentamente e de maneira ainda incipiente, tal modelo de penalização
foi evoluindo com ajuda, principalmente, do povo hebreu – que posteriormente deu origem aos
judeus -, comumente reconhecidos como o futuro Estado de Israel. Apoiados em uma
fundamentação religiosa com apoio da monarquia, em um regime de governo conhecido como
teocracia, os hebreus terminavam por executar penas sempre em acordo absoluto com a ética
judaica, isto é, obedecendo aos mandamentos estabelecidos anteriormente por Moisés. Nesse
caso, a influência religiosa era muito forte na elaboração das penas, e estas assumiam em sua
quase totalidade um aspecto mais brutal e prático. No livro de Êxodo, escrito por Moisés,
encontramos um exemplo disto:
1 Se alguém furtar boi ou ovelha, e o matar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela
ovelha, quatro ovelhas.
2 Se o ladrão for achado arrombando uma casa, e for ferido, e morrer, o que o feriu não será
culpado do sangue.
3 Se o sol houver saído sobre ele, será culpado do sangue; ele fará total restituição; e se não tiver
cm que pagar, será vendido por seu furto.
4 Se o furto for achado vivo na sua mão, seja boi, ou jumento, ou ovelha, pagará o dobro.
(Êxodo 22:1-4).
Com o andamento da História, passamos para a Idade Média (476 d. C. – 1453), período
muito extenso e que compreende excelentes evoluções na teorização das penas no Ocidente e
Oriente. Em uma primeira análise, é importante compreender que existem muitos mitos
propagados nesse período, inclusive no que tangem às penas. Um aspecto importante desse
aspecto mitológico é a Inquisição, fato histórico detalhadamente explicado pelo escritor
espanhol Cristian Iturralde, no seu livro A Inquisição: Um tribunal de Misericórdia. Deixando
de lado os aspectos religiosos, a Idade Média foi marcada por um fortalecimento do aspecto
punitivo, ainda nesse momento controlado pelos monarcas – principalmente europeus.
Sendo assim, adentramos a Idade Moderna (1453 – 1789). Nesse período acontecem
fatos históricos importantes que vão ajudar a entendermos o contexto em que vivemos hoje.
Um desses grandes acontecimentos é a Reforma Protestante. A Igreja Católica, segundo
Christopher Dawson na sua obra O Julgamento das Nações, era o “mantra que protegia o
Ocidente”, ou seja, a maior força político-religiosa de todo o mundo. Com a Reforma
Protestante, esse poder foi desafiado, inclusive, seu poder punitivo que – em muitas ocasiões e,
naturalmente – era exercido através do monarca estatal. Um dos grandes exemplos disso foi o
rompimento de Henrique VIII com o Igreja Católica e a fundação da Igreja Anglicana sem
receber punição forte por parte da Igreja Católica, por exemplo.
Tal período é marcado por uma confusão muito grande entre aqueles que estão no poder
e que desejam o poder e, justamente por isso, apesar de haver uma grande evolução no que
tange à teorização de códigos jurídicos, por exemplo, a obra Do Espírito das Leis, de
Montesquieu, isso fez com que o poder dos monarcas – e também dos tiranos e absolutistas
aumentassem sobremaneira. Além disso, as Revoluções desse período, como a Revolução
Francesa (que é o marco do fim desta periodização histórica, em 1789), tendem a confundir
novamente os aspectos da justiça e, na ânsia pelo poder, aplicarem penas injustas sobre muitas
parcelas da sociedade. Alguns historiadores afirmam, por exemplo, que Robespierre foi o
responsável pela execução de mais de vinte mil pessoas, somente pelo método da guilhotina, o
que foi sintetizado em sua máxima: “O mundo só será livre quando o último rei for enforcado
nas tripas do último padre”.
Um dos exemplos disso é que, no fim do século XVIII, na Filadélfia (Estados Unidos
da América) surge o primeiro sistema penitenciário em células, o que hoje é conhecido como
sistema filadelfiano e é amplamente adotado na maioria dos países do mundo. Além disso, as
penas aplicadas na Idade Contemporânea (dias atuais) são amplamente baseadas na Declaração
13
3. CONCLUSÃO
Em suma, cada princípio penal estabelecido em nosso país e no mundo está plenamente
ligado aos princípios penais gerais da história das penas. Como isso pode ocorrer? De fato, para
comprovação desse fato jurídico teremos de discordar – ao menos nesse aspecto – da teoria
cartesiana de que devemos abrir mão de todos os conceitos anteriores para a formação de um
conceito novo que seja plenamente justo. Pelo contrário, sem a fundamentação advinda da
história das penas seria absolutamente impossível estabelecer quais são os princípios que hoje
circundam esse hábito. Em outras palavras, sem conhecer os anteriores hábitos dos gregos,
romanos, persas, povos bárbaros em geral, orientais, é impossível chegar ao conceito mais justo
de justiça – sem querer agir com redundância.
Sendo assim, precisamos convergir em pensar que as penas são elementos centrais da
nossa sociedade que, inclusive, garantem que não vivamos em um estado de anomia social,
como bem definiu Durkheim. Em nossos dias, juristas experientes hão de convir que apesar de
em muitos locais as penas não seguirem os melhores padrões sanitários, éticos, cívicos, como
acontece em muitos casos no Brasil, seria impossível incutir ordem nos cidadãos senão por
meio da existência de uma pena e por meio de um Código Penal que as atribuísse com justiça.
Por fim, creio estar encerrado o entendimento acerca do tema proposto por este trabalho,
que é o de fazer entender cada vez mais e com mais propriedade o que é pena, qual sua história,
sua evolução no decorrer dos séculos, sua importância e fundamentação teórica hodierna. Sem
tal conhecimento, seria improvável que os discentes e futuros agentes jurídicos exercessem com
ética e segurança suas próprias carreiras e, em determinados casos – como agentes públicos –
o curso da própria corrente social.
15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27a. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2013. 432
p. ISBN 8502041266.
ALEXY, Robert. Teoria dos Princípios. 1a. ed. Rio de Janeiro: Luís Afonso Heck, 2015. 224
p. ISBN 8575256343.
BLOCH, Marc. Apologia da História. 1a. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. 160 p. ISBN
8571106096.
DOS SANTOS, Washington. Dicionário Jurídico Brasileiro. 1a. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2001. 340 p. ISBN INDEFINIDO.
DO BRASIL, República Federativa. Código Penal. 5a. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2020. 152
p. ISBN 855361459X.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 22a. ed. São Paulo: Impetus, 2020.
1028 p. v. 1. ISBN 8501912808.
SÓFOCLES. Antígona. 1a. ed. Rio de Janeiro: Conrad, 2006. 36 p. ISBN 8576161559.
ARISTÓFANES. As Nuvens. 1a. ed. Rio de Janeiro: Expresso Zahar, 1995. 116 p. ISBN
B00HSNYZ6W.
DAWSON, Christopher. O Julgamento das Nações. 1a. ed. São Paulo: É Realizações, 2018.
248 p. ISBN 8580333326.
MONTESQUIEU, Barão de. Do Espírito das Leis. 9a. ed. Belo Horizonte: Martin Claret, 2010.
740 p. ISBN 8572326448.