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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE DIREITO

LUCAS DE OLIVEIRA MARTINS

PRINCÍPIOS PENAIS E HISTÓRIA DA PENA

Volta Redonda/RJ

2021
LUCAS DE OLIVEIRA MARTINS

PRINCÍPIOS PENAIS E HISTÓRIA DA PENA

Trabalho e/ou atividade avaliativa do Curso de Graduação


em Direito do Instituto de Ciências Humanas da
Universidade Federal Fluminense como requisito parcial
para obtenção de nota na disciplina de Direito Penal I.
Orientador: Profa. Taiguara Libano Soares e Souza.

Volta Redonda/RJ

2021
RESUMO

O Direito Penal é uma das mais importantes da área geral do Direito, sendo partícipe do
cotidiano social e também de um estereótipo facilmente inteligível aos cidadãos brasileiros de
todas as classes sociais. Por certo, tal domínio não se estende apenas aos brasileiros, mas possui
um arcabouço de fundamentação muito mais amplo e cujos domínios engendram por diversas
áreas do conhecimento em todo mundo, tanto no Ocidente como no Oriente. Justamente por
isso, este trabalho destina-se a um entendimento propedêutico da disciplina, apresentando – sob
o viés dos próprios discentes – princípios penais essenciais ao entendimento do tema e a história
da pena no mundo. Sendo assim, neste trabalho veremos estes dois aspectos de forma mais
pormenorizada visando, justamente, o entendimento mais facilitado da disciplina.

Palavras-chave: Direito Penal; História da pena; Princípios penais.


SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5
1.1 DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIOS ............................................................................................................ 5
1. 2 OBJETIVOS DO ESTUDO DA HISTÓRIA .......................................................................................... 6
1. 3 DEFINIÇÃO DE PENA ..................................................................................................................... 6
2. DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ 8
2.1 PRINCÍPIOS PENAIS PER SI ............................................................................................................. 8
2.2 HISTÓRIA DA PENA ...................................................................................................................... 10
3. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 14
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1. INTRODUÇÃO

Em primeiro lugar, é fundamental que estabeleçamos alguns pontos sobre os quais nos
debruçaremos durante o restante do trabalho, apresentando um primeiro vislumbre dos
elementos posteriores do desenvolvimento e conclusão, respectivamente. Para que possamos
falar mais aprofundamento sobre os princípios penais e a história da pena, será necessário que
façamos três definições absolutamente fundamentais. O que são princípios? Qual é o objetivo
do estudo da História? E, por fim, o que é pena? Nesta introdução nos dedicaremos a responder
essas questões fundamentais que serão absolutamente importantes para os próximos capítulos
e, principalmente, para o entendimento da disciplina de Direito Penal pelos discentes.

1.1 DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIOS

Apesar de serem autores absolutamente diferentes no tempo de sua pesquisa e também


no instrumento de qual se utilizam, o teólogo francês Antonin-Dalmace Sertillanges e o jurista
brasileiro Miguel Reale apresentam definições importantes para que possamos entender o que
são princípios no estudo de determinada disciplina.

Em sua obra A Vida Intelectual: seus princípios, suas condições, seus métodos, o padre
da Ordem dos Pregadores, seguindo uma ampla tradição de intelectualidade tomista, explicita
sua definição de princípios. Parafraseando o autor, podemos dizer que princípios são
argumentos iniciais de um tema específico. Já Miguel Reale no seu livro Lições Preliminares
de Direito faz uma articulação maior entre a primeira definição e o estudo jurídico, sintetizando
o fato de que os princípios são tudo aquilo que além de serem um argumento inicial também
são um argumento final, isto é, são os elementos paralelos que subsistem no elemento principal
e sem o qual este deixaria de existir plenamente.

Sendo assim, os princípios estabelecem as diretrizes mais básicas de uma disciplina,


servindo como uma base de sustentação para o desenvolvimento de um sistema em específico,
em nosso caso, o Direito Penal ou as penas em si.

Aos olhos leigos, tal definição pode parecer de pouco importância ao estudo da
disciplina, mas juristas importantes como o filósofo alemão Robert Alexy dedicaram suas vidas
intelectuais à fundamentação dessa questão. Sob a influência desse autor em sua obra-prima,
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Teoria dos Princípios, temos que os princípios dizem respeito aos mandados de otimização, ou
seja, àquelas normas que falam sobre a possibilidade, que ordenam que tudo seja feito na
medida do possível, também na medida das possibilidades da vida real e jurídica.

1. 2 OBJETIVOS DO ESTUDO DA HISTÓRIA

O historiador francês, Marc Bloch, fundador da Escola dos Annales, apresenta-nos um


excelente arcabouço para definirmos com propriedade quais são os objetivos do estudo da
História em geral, e podemos aplicar tal definição à disciplina específica do Direito Penal, o
que será desenvolvido mais profundamente em um momento posterior.

Na sua principal obra, Apologia da História, Bloch diz: “A História tem por objeto o
homem e por isso ela é a ciência que estuda os homens no tempo”. Diante desta definição,
podemos refletir plenamente: quem é o sujeito da história das penas se não o próprio homem?
Por certo, o homem é o principal agente de todo a natureza, modificando o meio-ambiente e
desenvolvendo relações virtuosas ou problemáticas com outros homens e, consequentemente,
com outros territórios.

Sendo assim, estudar História e, mais especificamente, história das penas, é estudar as
ações do homem e sua consequência sobre a formação da sociedade em que vivemos e da
sociedade futura, consequentemente.

1. 3 DEFINIÇÃO DE PENA

No seu Dicionário Jurídico Brasileiro, Washington dos Santos, jurista brasileiro, insiste
em dizer:

“Uma imposição é uma perda ou diminuição de um bem jurídico, prevista em lei


e aplicada, pelo órgão judiciário, a quem praticou ilícito penal. No Brasil, elas
podem ser: privativas de liberdade; restritivas de direito; de multa”. (DOS
SANTOS, 2001, p. 182).
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Sendo assim, falar de uma pena é falar fundamentalmente da ação de um Estado ou um


Estado em formação, dado que penalizar é introduzir sobre alguém uma perda ou diminuição
muito significativa de alguns de seus direitos – hoje reconhecidos como fundamentais pela
nossa sociedade -. Como bem dito pelo jurista, tais penas podem dizer respeito a várias espécies
diferentes de perda ou diminuição e podem ser aplicados sob diversas perspectivas diferentes,
sendo estas perspectivas justas ou injustas em determinados casos, como em governos tirânicos
ou cuja concepção de justiça difere dos padrões dos direitos humanos internacionais,
principalmente os acordados pelos países em concordância com a Organização das Nações
Unidas.

Apenas a título de exemplificação, o escritor brasileiro Fernando Sabino, em sua obra


O Grande Mentecapto, dá fartos exemplos de instituição de penas injustas, como internações
em sanatórios, hábito muito comum no período inicial do século XX em muitos municípios
brasileiros, destacando-se o interior de Minas Gerais.
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2. DESENVOLVIMENTO

No desenvolvimento, portanto, falaremos de forma mais abrangente a respeito de cada


um dos tópicos anteriores. Dessa forma, será possível entender muito mais apropriadamente o
cerne do trabalho e, portanto, seu objetivo de inteligibilidade final.

2.1 PRINCÍPIOS PENAIS PER SI

No primeiro capítulo falamos mais notadamente sobre o que são princípios. Tendo,
portanto, tal definição em tela, será possível que nos aprofundemos nos princípios penais em si
mesmos. Cabe destacar, entretanto, que tais princípios dizem respeito exclusivamente ao
cenário do Brasil, isto é, especificamente ao Código Penal da República Federativa do Brasil
e, portanto, suas diretrizes específicas, podendo ser aplicadas integralmente ou não em outros
contextos e países.

Antes de tudo, é importante destacar que podem existir conflito entre determinados
princípios, apesar de que em todos os casos este é um conflito hipotético, eles não estão
efetivamente em choque – como, por exemplo, quando ocorrem conflitos entre regras fixas -.
Nesse caso, utiliza-se aquilo que os juristas chamam de princípio ponderador, isto é, julgam-se
as duas espécies de princípio, determinando qual deles está mais de acordo com a razoabilidade,
quando aplicado a uma situação em específico.

O primeiro princípio penal cujo destaque cabe ser evidenciado é o Princípio da


Intervenção Mínima ou ultima ratio. Tal princípio diz que a vida e a liberdade dos homens é o
elemento fundamental da vida em sociedade e, justamente por isso, devem ser preservados em
– quase – todas as hipóteses possíveis. Sendo assim, o Direito Penal deve se esforçar por intervir
minimamente na vida do cidadão brasileiro. Como exemplo, quando um determinado sujeito é
preso de maneira injusta e permanece, hipoteticamente, por três anos em regime de reclusão, o
Princípio da Intervenção Mínima foi absurdamente violado, sendo substituído pelo seu exato
oposto, dado que a intervenção na vida dessa pessoa foi extrema e praticamente sem restituição.

O segundo princípio que merece destaque é o Princípio da Legalidade. Tal princípio é


um dos princípios penais mais importantes para a manutenção saudável de um Estado
democrático de Direito, dado que somente esse princípio poderá garantir com propriedade que
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um déspota ou tirano seja responsabilizado por seus atos que, muito provavelmente, terão por
finalidade o cerceamento da liberdade de seu próprio povo. Com a diversa transferência de
significado, foi um princípio muito semelhante a este, no sistema jurídico alemão, que garantiu
a punição de criminosos nazistas pelos seus crimes durante o período da Segunda Guerra
Mundial, ainda que muitos anos depois.

O terceiro princípio trata-se do Princípio da Individualização da Pena. Diferente do que


pode vir a ser o entendimento leigo, tal princípio não se trata da imputação da pena à pessoa
que praticou, mas à correta imputação da pena, isto é, em concordância plena com o artigo 59
do Código Penal. Tal artigo estabelece que devem se cumprir os requisitos de análise de
agravantes, atenuantes, procurando sempre julgar de forma muito bem fundamentada, ou seja,
individualizando a pena, tornando cada indivíduo único no recebimento de sua pena.

O quarto princípio mais conhecido é chamado de Princípio da Lesividade. Este princípio


penal garante importantes liberdades fundamentais aos cidadãos brasileiros, como por exemplo,
a garantia de que não será punido por seus pensamentos ou sentimentos. Em última instância,
tal princípio evita que uma pessoa receba ou deixe de receber uma punição unicamente pelo
fato de ser um determinado tipo de pessoa ou exercer determinada função da sociedade.
Segundo Rogério Greco no seu Curso de Direito Penal, o Princípio da Lesividade pode ser
considerado absolutamente complementar ao Princípio da Intervenção Mínima.

Por fim, o quinto princípio penal mais recorrente em nosso Código Penal é o Princípio
da Territorialidade e Extraterritorialidade. Quando tratamos de punições a pessoas, é mister
dizer que o lugar em que o crime aconteceu é de extrema importância, dado que o Código Penal
de cada país pode sofrer variações extremas que irão influenciar na vida dos indivíduos.
Justamente por isso, tais princípios estabelecem que serão imputados ao Código Penal
Brasileiro somente os crimes cometidos dentro desse território, salvo em casos em que existe
um acordo internacional prévio entre o Brasil e outro país.

O Princípio da Extraterritorialidade trata justamente do caso inverso, isto é, crimes de


cidadãos brasileiros cometidos em outros países; neste caso, existem alguns crimes que são
sempre tratados pela justiça brasileira, mas em outros casos ocorre o mesmo caso do primeiro
princípio, isto é, o crime é julgado pelo país em que ele foi cometido, salvo em casos de acordo
previamente estabelecido.
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2.2 HISTÓRIA DA PENA

Ao falarmos de história ou origem de determinada convenção social, é absolutamente


necessário remontar aos primórdios da ação dos seres humanos na Terra. No período conhecido
como Antiguidade (3.500 a. C. – 476 d.C.) temos muitos bons exemplos do uso do conceito
que hoje conhecemos como pena. Na formação das primeiras comunidades, ainda no formato
de tribos rupestres, não havia – claramente – a fundamentação teórica das penas privativas de
liberdade, mas na maior parte das oportunidades, havia a punição com a própria vida da vítima,
a julgar pelo cometimento de seu crime. Vale ressaltar também que não havia ainda muito
definido uma separação entre o crime do indivíduo específico e os seus cúmplices ou membros
de sua família, por exemplo, fazendo com que também estes sofressem as sanções pelo crime
cometido.

Ainda que muito lentamente e de maneira ainda incipiente, tal modelo de penalização
foi evoluindo com ajuda, principalmente, do povo hebreu – que posteriormente deu origem aos
judeus -, comumente reconhecidos como o futuro Estado de Israel. Apoiados em uma
fundamentação religiosa com apoio da monarquia, em um regime de governo conhecido como
teocracia, os hebreus terminavam por executar penas sempre em acordo absoluto com a ética
judaica, isto é, obedecendo aos mandamentos estabelecidos anteriormente por Moisés. Nesse
caso, a influência religiosa era muito forte na elaboração das penas, e estas assumiam em sua
quase totalidade um aspecto mais brutal e prático. No livro de Êxodo, escrito por Moisés,
encontramos um exemplo disto:

1 Se alguém furtar boi ou ovelha, e o matar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela
ovelha, quatro ovelhas.
2 Se o ladrão for achado arrombando uma casa, e for ferido, e morrer, o que o feriu não será
culpado do sangue.
3 Se o sol houver saído sobre ele, será culpado do sangue; ele fará total restituição; e se não tiver
cm que pagar, será vendido por seu furto.
4 Se o furto for achado vivo na sua mão, seja boi, ou jumento, ou ovelha, pagará o dobro.
(Êxodo 22:1-4).

Neste caso, especificamente, as penas eram bem práticas e imutáveis e totalmente de


acordo com os mandamentos religiosos, estavam amplamente amparados pela ética judaica e
eram seguidas por todos os habitantes daquela região, ainda que não tivessem ampla explicação
teórica e fundamentação escrita.
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Posteriormente, os gregos e romanos são grandiosos exemplos da evolução das penas.


Com a criação dos códigos de conduta (Código de Hamurabi, por exemplo), os cidadãos tiveram
os seus direitos mais resguardas e, de certa forma, as punições passaram a ser mais justas.
Anteriormente, pouca investigação havia para garantir se o fato realmente havia se passado da
maneira como fora primeiramente narrado, mas neste momento posterior, isso evoluiu, ainda
que de forma esguia e tímida. Nesse caso, as penas continuavam sob a elaboração dos monarcas
e o povo tinha pouco conhecimento delas, o que podia gerar inúmeras injustiças em uma
diversidade de casos.

Um exemplo muito retratado na literatura fictícia do tema é o de Aristófanes – maior


comediógrafo da Antiguidade -, responsável pela acusação de ateísmo a Sócrates em sua obra
As Nuvens. Tal obra era de comédia, mas foi amplamente usada para fundamentar a acusação
pesada contra Sócrates pelos governantes gregos. Outro exemplo próximo, este apenas no
campo da literatura, é o da obra Antígona, escrita pelo grego Sófocles, em que o autor retrata
uma pena injusta sofrida por uma doce menina grega de nome Antígona.

Com o andamento da História, passamos para a Idade Média (476 d. C. – 1453), período
muito extenso e que compreende excelentes evoluções na teorização das penas no Ocidente e
Oriente. Em uma primeira análise, é importante compreender que existem muitos mitos
propagados nesse período, inclusive no que tangem às penas. Um aspecto importante desse
aspecto mitológico é a Inquisição, fato histórico detalhadamente explicado pelo escritor
espanhol Cristian Iturralde, no seu livro A Inquisição: Um tribunal de Misericórdia. Deixando
de lado os aspectos religiosos, a Idade Média foi marcada por um fortalecimento do aspecto
punitivo, ainda nesse momento controlado pelos monarcas – principalmente europeus.

Muitos arqueólogos modernos fizeram importantes descobertas com relação a


instrumentos de tortura utilizado por monarcas europeus na Idade Média, por exemplo. Um fato
interessante é que ainda nesse período não podemos falar profundamente sobre um conceito de
penalidade brasileiro, dado que a Idade Média compreende um período que termina em 1453,
período em que as navegações portuguesas, holandesas e francesas apenas circuncidavam a
costa brasileira sem nela tocar e adentrar verdadeiramente, o que só vai acontecer no final da
Alta Idade Média e início da Idade Moderna. Por fim, as penas desse período eram aplicadas
de forma rude, sem chances de defesa a quem a sofresse, inclusive, sem meios de se defender
juridicamente.
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Sendo assim, adentramos a Idade Moderna (1453 – 1789). Nesse período acontecem
fatos históricos importantes que vão ajudar a entendermos o contexto em que vivemos hoje.
Um desses grandes acontecimentos é a Reforma Protestante. A Igreja Católica, segundo
Christopher Dawson na sua obra O Julgamento das Nações, era o “mantra que protegia o
Ocidente”, ou seja, a maior força político-religiosa de todo o mundo. Com a Reforma
Protestante, esse poder foi desafiado, inclusive, seu poder punitivo que – em muitas ocasiões e,
naturalmente – era exercido através do monarca estatal. Um dos grandes exemplos disso foi o
rompimento de Henrique VIII com o Igreja Católica e a fundação da Igreja Anglicana sem
receber punição forte por parte da Igreja Católica, por exemplo.

Tal período é marcado por uma confusão muito grande entre aqueles que estão no poder
e que desejam o poder e, justamente por isso, apesar de haver uma grande evolução no que
tange à teorização de códigos jurídicos, por exemplo, a obra Do Espírito das Leis, de
Montesquieu, isso fez com que o poder dos monarcas – e também dos tiranos e absolutistas
aumentassem sobremaneira. Além disso, as Revoluções desse período, como a Revolução
Francesa (que é o marco do fim desta periodização histórica, em 1789), tendem a confundir
novamente os aspectos da justiça e, na ânsia pelo poder, aplicarem penas injustas sobre muitas
parcelas da sociedade. Alguns historiadores afirmam, por exemplo, que Robespierre foi o
responsável pela execução de mais de vinte mil pessoas, somente pelo método da guilhotina, o
que foi sintetizado em sua máxima: “O mundo só será livre quando o último rei for enforcado
nas tripas do último padre”.

Com o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea nasce e concretiza-se,


de fato, um Direito Penitenciário. No Brasil, por exemplo, apesar de possuirmos um amplo
Direito Penal, ainda possuíamos grande influência do Direito Penal português e dos autores
considerados clássicos, mas com falta de uma personalização das penas que atendesse mais
perfeitamente ao povo brasileiro. Sendo assim, surge um sistema de penalizações
verdadeiramente bem teorizado e personalizado, isto é, cada povo termina por estabelecer
normas específicas e punições também específicas que compreendem o desrespeito a estas
mesmas normas.

Um dos exemplos disso é que, no fim do século XVIII, na Filadélfia (Estados Unidos
da América) surge o primeiro sistema penitenciário em células, o que hoje é conhecido como
sistema filadelfiano e é amplamente adotado na maioria dos países do mundo. Além disso, as
penas aplicadas na Idade Contemporânea (dias atuais) são amplamente baseadas na Declaração
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Universal de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, documento escrito em


1948, em Paris, e que foi assinado por diversos países, garantindo assim, que mesmo na
aplicação de suas penas, sejam respeitados os direitos humanos mais básicos, como, por
exemplo, o direito a uma pena justa.

Em nossos dias, milhares de manuais de Direito Penal são dedicados exclusivamente à


questão, além de possuirmos um amplo Código Penal que cobre desde crimes físicos à virtuais,
por exemplo. É mister destacar que as evoluções do mundo trazem a necessidade de que os
códigos penais dos países sejam constantemente atualizados, já que novas tecnologias podem
implicar no surgimento de novos crimes ou variações diferentes de crimes já existentes. Para
título de exemplificação, o crime de bullying já existia e era previsto de punição de acordo com
o Código Penal, mas com o advento da internet e das redes sociais foi necessário acrescentar o
crime de cyberbullying e, portanto, dar sua devida punição.
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3. CONCLUSÃO

Em suma, cada princípio penal estabelecido em nosso país e no mundo está plenamente
ligado aos princípios penais gerais da história das penas. Como isso pode ocorrer? De fato, para
comprovação desse fato jurídico teremos de discordar – ao menos nesse aspecto – da teoria
cartesiana de que devemos abrir mão de todos os conceitos anteriores para a formação de um
conceito novo que seja plenamente justo. Pelo contrário, sem a fundamentação advinda da
história das penas seria absolutamente impossível estabelecer quais são os princípios que hoje
circundam esse hábito. Em outras palavras, sem conhecer os anteriores hábitos dos gregos,
romanos, persas, povos bárbaros em geral, orientais, é impossível chegar ao conceito mais justo
de justiça – sem querer agir com redundância.

Sendo assim, precisamos convergir em pensar que as penas são elementos centrais da
nossa sociedade que, inclusive, garantem que não vivamos em um estado de anomia social,
como bem definiu Durkheim. Em nossos dias, juristas experientes hão de convir que apesar de
em muitos locais as penas não seguirem os melhores padrões sanitários, éticos, cívicos, como
acontece em muitos casos no Brasil, seria impossível incutir ordem nos cidadãos senão por
meio da existência de uma pena e por meio de um Código Penal que as atribuísse com justiça.

Por fim, creio estar encerrado o entendimento acerca do tema proposto por este trabalho,
que é o de fazer entender cada vez mais e com mais propriedade o que é pena, qual sua história,
sua evolução no decorrer dos séculos, sua importância e fundamentação teórica hodierna. Sem
tal conhecimento, seria improvável que os discentes e futuros agentes jurídicos exercessem com
ética e segurança suas próprias carreiras e, em determinados casos – como agentes públicos –
o curso da própria corrente social.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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