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Micaele Michels2
Solange Zanatta Piva3
Resumo: A presente Pesquisa teve como objetivo geral identificar a relação entre a motivação
e o significado do trabalho dos colaboradores de uma empresa do segmento alimentício em
Imbituba, SC. Foi aplicado Inventário da Motivação e do Significado do Trabalho (IMST)
com sete colaboradores da empresa, compondo uma amostra de aproximadamente 25% da
população total. Foram investigados os seguintes fenômenos: significado do trabalho,
motivação do trabalho e a relação desses dois fenômenos. A pesquisa foi de abordagem
Quanti-Qualitativa. O procedimento de tabulação das respostas foi de acordo com as
recomendações dos autores do instrumento. A análise dos resultados indica a relação do
significado e motivação do trabalho com a necessidade de sobrevivência, visto que os
atributos valorativos e descritivos apareceram com destaque para os fatores de sobrevivência
pessoal e familiar, e a recompensa econômica. A força motivacional dos participantes
encontra-se acima da média, porque reconhecem que seu desempenho influencia diretamente
no resultado do seu trabalho.
1 INTRODUÇÃO
1
Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul
de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga.
2
Acadêmica do curso de Psicologia. E-mail: micaelepsicologia@outlook.com
3
Professora orientadora, psicóloga, mestre em Administração e docente do curso de Psicologia da Universidade
do Sul de Santa Catarina. E-mail: solapiva@gmail.com
2
necessário para subsistência. Com a reforma protestante, o trabalho deixa de ser visto como
tortura e forma de expiar os pecados, o homem começou a ser mais valorizado e o trabalho
passou a ser essencial e significativo para a vida das pessoas. As profissões passam a ser
vistas como dom divino e o trabalho passa a ser uma categoria central que os indivíduos
devem tomar para suas vidas. "Para Marx, o trabalho é o fundamento ontológico-social do ser
social; é ele que permite o desenvolvimento de mediações que instituem a diferencialidade do
ser social em face de outros seres da natureza” (BARROCO, 2006, p.26).
Nos dias atuais, o significado do trabalho é compreendido como uma cognição
subjetiva, sócio-histórica e dinâmica. Percebendo essa grande influência do trabalho na
constituição do sujeito, pesquisas na área vêm aumentando, principalmente na Psicologia.
Desde 1978, os estudos do Meaning of Work International Research Team, conhecido como
Grupo MOW, tem abordado a temática dos significados do trabalho, em uma perspectiva
cognitivista. “Entre 1981 e 1983, este grupo passou a se destacar na condução de pesquisas
com amostras de diversos países, com o objetivo de identificar e definir variáveis que
expliquem os significados atribuídos ao trabalho" (PEREIRA; TOLFO, 2016, p.307). No final
da década de 80, o grupo MOW desenvolveu a mais abrangente pesquisa realizada sobre o
tema, com uma equipe internacional coletando dados em oito países. O resultado de seus
trabalhos influenciou maior a parte dos estudos sobre significados e sentidos do trabalho.
Além disso, as constantes mudanças nas organizações e a competitividade no
mercado fazem com que o capital humano seja cada vez mais valorizado nas empresas. O
objetivo maior é manter os colaboradores motivados para melhorar a produtividade e seu
desempenho. "Definimos motivação como o processo responsável pela intensidade, pela
direção e persistência dos esforços de uma pessoa para alcançar determinada meta"
(ROBBINS, JUDGE, SOBRAL, 2010, p. 196). O colaborador tornou-se a peça fundamental
para o desenvolvimento organizacional, e sua motivação é a principal fonte de sucesso ou
fracasso das organizações.
Várias teorias abordam a questão da motivação, porém, para fundamentar a
motivação do trabalho, os dados desta pesquisa serão analisados de acordo com a Teoria das
Expectativas desenvolvida, pelo psicólogo Victor H. Vroom em 1964. Essa teoria, “consagrou
o conceito de expectativas no campo da motivação" (MUCHINSKY, 1994 apud SIQUEIRA,
2008, p. 220). Vroom (1964) compreende existir uma relação entre o esforço que se realiza e
o rendimento do trabalho. Assim a motivação é um processo que governa as escolhas dos
indivíduos e se apresenta a partir de três fatores determinantes: expectativa, instrumentalidade
e valência. Para Siqueira (2008, p.20), a expectativa é a percepção de quanto os esforços
3
2 MARCO TEÓRICO
Com base nesses cinco conceitos, Vroom (1964) “desenvolveu seu modelo de
motivação considerando cinco grandes grupos de resultados do trabalho, a saber: a provisão
de salário, o dispêndio de energia física e mental, a produção de bens e serviços, as interações
sociais com outras pessoas e o status social" (SIQUEIRA, 208, p. 221). O autor fundamentou
a eleição desses resultados em uma ampla e aprofundada revisão de literatura.
Visto que há inúmeras teorias para explicar a motivação do trabalho, pode-se
considerar que é um processo psicológico complexo e instável voltado a metas ou objetivos.
Como no trabalho, os objetivos e metas são fundamentais. É importante estudar o significado
deste para compreender a motivação.
3 MÉTODO
Esta pesquisa de campo foi classificada quanto aos fins como descritiva porque
investigou a existência de associação entre duas variáveis: significado do trabalho e
motivação do trabalho. “As pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis” (GIL, 2008, p.28).
Em relação aos meios, foi considerada como abordagem Quanti-Qualitativa.
Quantitativa em relação ao instrumento da coleta de dados, pois "a pesquisa quantitativa se
realiza na busca de resultados precisos, comprovados através de medidas de variáveis
preestabelecidas, na qual se procura verificar e explicar sua influência sobre outras variáveis,
através da análise da frequência de incidências e correlações estatísticas" (MICHEL, 2005,
p.33). Qualitativa em relação à análise dos dados, interpretação e discussão dos achados. "A
investigação qualitativa emprega diferentes alegações de conhecimento, estratégias de
investigação. Os procedimentos qualitativos se baseiam em dados de texto e imagem, têm
passos únicos na análise de dados e usam estratégias diversas de investigação” (CRESWELL,
2007, p. 184).
A presente pesquisa foi realizada em uma rede de restaurantes que possui quatro
unidades. O quadro de colaboradores conta com aproximadamente 120 pessoas. O
instrumento foi aplicado em uma das unidades, que possui 30 colaboradores.
3.2 PARTICIPANTES
Foi optado por amostragem estratificada proporcional onde " caracteriza-se pela
seleção de uma amostra de cada subgrupo da população considerada. O fundamento para
delimitar os subgrupos ou estratos pode ser encontrado em propriedades como sexo, idade ou
classe social" (GIL, 2008, p. 92). É proporcional porque foi selecionada aleatoriamente uma
amostra proporcional do grupo, neste caso da unidade. “Este tipo de amostragem tem como
principal vantagem o fato de assegurar representatividade em relação às propriedades
adotadas como critérios para estratificação” (GIL, 2008, p.93).
A unidade pesquisada possui no total trinta colaboradores e estava previsto a
amostragem ser composta por 35% desta população, que resultaria em média 10 participantes.
Como critério de inclusão para participar da pesquisa, os colaboradores deveriam estar
registrados há no mínimo quatro meses na empresa, considerando que, três meses se referem
ao período de experiência, apenas sete colaboradores estavam de acordo com o critério de
inclusão. Dos sete questionários aplicados, apenas cinco foram considerados validos para este
estudo. Como orientação para tabulação das respostas do inventário, não foram considerados
válidos os formulários com mais de 10 respostas em branco, nem preenchidos em todos os
itens com um mesmo algarismo.
bancários e profissionais de saúde em Natal. Assinalamos que o IST, por sua vez,
fora criado fundamentando-se em ampla e multidisciplinar revisão de literatura
sobre o assunto (significado do trabalho) e de categorias empíricas levantadas em
entrevistas com operários da construção habitacional, com costureiras e com
comerciários. O IMST, em específico, conta com três pesquisas. Todas puseram em
teste sua validade, consistência e estrutura fatorial, além de que promoveram seu
gradual aperfeiçoamento (SIQUEIRA, 2008, p.216).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Essa escala refere-se ao modo como o participante vê o seu trabalho como ele é
(trabalho real) à sua percepção concreta. Nesta escala, não houve muita variância, mas ainda a
maior média está no fator FD4, Recompensa Econômica, que indica o quanto o trabalho garante o
sustento, a independência econômica e a sobrevivência dos participantes. A menor média foi no
fator FD1, autoexpressão, o que significa que os participantes não têm muita liberdade de
expressão no ambiente de trabalho.
A terceira escala refere-se à expectativa e apresenta quatro fatores: autoexpressão;
desgaste e desumanização; responsabilidade; independência econômica; segurança e dignidade.
Tabela 3: Expectativas
Fator Média DP
FE1 Autoexpressão 3,37 0,42
FE2 Desgaste e Desumanização 2,48 0,65
FE3 Responsabilidade 3,66 0,49
FE4 Independência Econômica 3,79 0,20
FE5 Segurança e Dignidade 3,73 0,39
Fonte: Pesquisa realizada pela autora, 2017.
14
Tabela 4: Instrumentalidade
Fator Média DP
FI1 Envolvimento 3,56 1,26
FI2 Justiça no Trabalho 2,70 0,54
FI3 Desgaste e Desumanização 2,15 0,62
FI4 Reconhecimento e Independência Econômica 3,54 0,37
FI5 Responsabilidade 2,85 0,15
Fonte: Pesquisa realizada pela autora, 2017.
250
209,56
192,69
200 182,29
159,47
Força Motivacional
147,21
150
100
50
0
1 2 3 4 5
Participantes
A relação do homem com o trabalho está sendo estudada, desde que o trabalho
começou a ser considerado como central na vida das pessoas. De acordo com os resultados
encontrados para os participantes o trabalho tem função instrumental, como meio de garantir a
sobrevivência. A motivação está elevada porque está relacionada com a recompensa salarial,
que é necessária para a sobrevivência. Está relação é condizente com a lógica de emprego e
remuneração.
Para entender melhor esse movimento seria necessário uma investigação individual,
porque o individuo se constitui através do seu contexto histórico e cultural, das relações sociais
que estabelece, construindo sua subjetividade onde, significados e sentidos são desenvolvidos,
apropriados e transformados. Acredita-se que em outra categoria profissional poderiam aparecer
resultados relacionando a motivação e o significado do trabalho como, construção da
subjetividade e identidade, valor, fonte de prazer, satisfação e autorrealização.
Fazendo uma leitura geral da organização, esses resultados são preocupantes, porque a
motivação esta ligada a recompensa salarial. Significa que, se os colaboradores receberem
uma proposta de remuneração maior poderão acabar se desligando da empresa. A organização
está planejando ações de valorização do capital humano, que até então não existiam, com
intuito de motivar os colaboradores. Alem de motivar os colaboradores essa ações podem
transformas os aspectos relacionados a motivação e significado do trabalho dos participantes
da pesquisa.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. 4. ed.
São Paulo: Cortez, 2006.
CACALCANTI, Vera Lúcia, et al. Liderança e Motivação. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
CLAVO, Luis Carreto. Aristóteles para Executivos: como a filosofia ajuda na gestão
empresarial. São Paulo: Globo. 2007.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LIBBY, Douglas Cole; FURTADO, Júnia Ferreira; Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil
e Europa, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Annablume, 2006.
19
MORIN, Estelle M.. Os sentidos do trabalho. Rev. adm. empres., São Paulo, v. 41, n. 3, p.
08-19, Sept. 2001. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0034-75902001000300002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em28Maio2017.
PEREIRA, Eliane França; TOLFO, Suzana da Rosa. Estudos sobre sentidos e significados do
trabalho na psicologia: uma revisão das suas bases teórico-epistemológicas. Rev. Psicologia
Argumento. Curitiba, v. 34, n. 87. 2016. Disponível em <http://www2.pucpr.br/reol/pb/index
.php/pa?dd1=16436&dd99=view&dd98=PB > Acesso em 05 Junho 2017.