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Publicado em
14/01/2020
Não passa uma temporada sem Nelson nos palcos do país, em especial do Rio de
Janeiro. Recentemente, Bonitinha, mas ordinária foi levada na sede da
Companhia de Teatro Contemporâneo, em Botafogo, com direção de Eliza
Pragana. Parte da série tragédias cariocas, Boca de ouro foi adaptada em versão
carnavalesca por Gabriel Villela — que tem no currículo a montagem de outras
três obras do dramaturgo — e exibida no palco do Sesc Ginástico, no Centro do
Rio. O público de São Paulo pôde assistir no Teatro Faap A serpente, a última
peça de Nelson, dirigida por Eric Lenate.
“É um grande desafio”, diz Heloisa Seixas. “Me obriguei a reler as obras teatrais
do Nelson e, mais uma vez, fiquei tonta em comprovar o quanto ele é genial.
Gosto principalmente das chamadas peças míticas, de acordo com a
classificação de Sábato Magaldi: Álbum de família, Anjo negro, Doroteia e
Senhora dos afogados. Nelas, ele atingiu um nível altíssimo de criação. E
também de loucura”.
O Nelson prosador, que durante anos foi desprezado pela crítica e escondido no
escaninho da subliteratura, também passa por um período de reavaliação. “É um
dos maiores romancistas do Brasil, em função de dois romances excepcionais:
Asfalto selvagem, escrito em forma de folhetim, e O casamento. São livros que
seguem o princípio das tragédias cariocas que ele adotou em suas obras de
teatro. Romances trágicos, que invertem a lógica machadiana. Machado de Assis
foi o gênio que anulou a corda trágica, fazendo ironia de tudo. Nelson é seu
inverso: faz, das trivialidades, incomensuráveis tragédias”, define Alberto Mussa,
ele próprio um escritor vinculado ao romance urbano carioca.
“Nelson era um talento genuíno e natural, mas não era um erudito”, acredita
Gustavo Nogy. “Foi, mais do que qualquer outro, responsável por escrever um
texto de altíssimo calibre literário com linguagem coloquial: a fala urbana não só
do carioca, mas do brasileiro. Concordo com o Sergio Rodrigues [escritor carioca,
autor de O drible]: não há melhor escola de diálogos, de escrita de diálogos, que
Nelson Rodrigues. Talvez só Luiz Vilela se lhe compare, e ainda assim Nelson tem
mais carisma”.