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[COMO FAZER RESENHA CRÍTICA] Mariana S.

Cordeiro

Como fazer uma resenha crítica

Etapas da construção do texto:

O texto da Resenha Crítica constitui-se de 2 partes:

RESUMO + APRECIAÇÃO CRÍTICA = RESENHA CRÍTICA

Partes do Resumo:

1. Referência Bibliográfica (ABNT)

2. 1º parágrafo – apresentar o(s) autor(es) (formação acadêmica e vida profissional)

3. 2º parágrafo – pode-se neste parágrafo apresentar de forma geral o tema tratado pelo
autor, o problema que ele coloca; se possível a posição que o autor defende; e quais os
argumentos centrais e complementares utilizados pelo autor para defender sua posição.

4. Demais parágrafos – A primeira parte da Resenha é o resumo informativo do texto em


questão. Pode-se fazer o resumo por partes que seguem a estrutura do texto original,
indicando: Na introdução, o autor.... / No subtítulo “mmmmm”, os pesquisadores
apontam que..../ Também afirmam... / Como conclusão os autores....
Para isso, pode-se usar:
Nome completo: Carlos Lacerda demonstra....
Só o sobrenome: Lacerda ainda afirma...
Até 3 autores, é necessário citar o três nomes
Mais de 3 autores, usar o primeiro e a expressão latina et al: Lacerda et al

(Et alii é uma expressão latina que significa "e outros". A expressão et al. é uma
abreviação de et alii (outros, masculino plural), et aliae (outras, feminino plural) e et
alia (outros, neutro plural), usada em citações bibliográficas quando a obra possui
muitos autores. Neste caso, geralmente se indica nominalmente o primeiro autor,
seguido da abreviatura "et al.".

 IMPORTANTE: a característica principal de um resumo é lembrar que você está


falando de outro texto, escrito por outra pessoa. Por isso, deve-se a cada parágrafo
fazer essa indicação pelo menos uma vez.

Dicas
 Não se esqueça de escrever no seu resumo a referência bibliográfica completa do texto-base. Isto
pode ser feito no cabeçalho ou no final;
 Procure ser fiel ao texto original, buscando reproduzir as ideias do autor;
 Tente usar suas próprias palavras, quando não o fizer e usar frases ou mesmo partes de frases do
autor do texto-base, sempre use aspas;
 Destaque a ideia principal do texto e os detalhes mais importantes. Preste atenção na estrutura do
texto, identificando ideias de consequências, adição, oposição, incorporação de novas questões e
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complementação do raciocínio. Atente para os exemplos oferecidos, geralmente eles compõem um


detalhe importante;
 Sublinhe. Lembre-se que você deve sublinhar numa segunda leitura, quando tem condições de tudo
novamente já tendo uma ideia do geral para poder pontuar as ideias mais importantes. Não precisa
sublinhar orações inteiras, aprenda sublinhar só os termos essenciais;
 Organize um esquema lógico. Visualizar o texto pode ajudar muito, facilitando uma consulta, a
explicitação da relação entre as partes, dentre outros.

Apreciação Crítica

Depois de ter feito o Resumo, virá a crítica (esta pode ser feita ao longo do texto todo. Mas para
efeitos didáticos e para facilitar a visualização do parecer crítico do aluno, os professores pedem
que seja seguida essa estrutura.
A parte da resenha (ou resumo crítico) pede um elemento importante de interpretação de
texto, “a crítica”, ou seja, a sua análise sobre o texto. E o que é esta análise?

A análise é, em síntese, a capacidade de relacionar os elementos do texto lido com


outros textos, autores e ideias sobre o tema em questão, contextualizando o texto que
está sendo analisado. Para fazer a análise, portanto, certifique-se de ter:
- informações sobre o autor, suas outras obras e sua relação com outros autores;
- elementos para contribuir para um debate acerca do tema em questão;
- condições de escrever um texto coerente e com organicidade.

A crítica é evidenciada pelo uso de adjetivos ou de locuções adjetivas (importante – de


importância). Deve se atribuir um valor (adjetivo) e em seguida explicar como isso foi visto,
analisado no texto. A partir daí você pode escrever um texto que, em linhas gerais, deve
apresentar:

Dicas para escrever uma resenha

Os pontos mais importantes que devem estar contidos em uma resenha são:

Referência bibliográfica – em algum lugar da resenha você deve registrar o(s) autor(es) da
obra, e se for o caso subtítulo, da obra e a referência completa, inclusive o número de
páginas. Algumas pessoas colocam logo na primeira frase da resenha, outros chamam
uma nota de rodapé. Não importa o lugar, mas esse é um dado indispensável.

Credenciais do(s) autor(es) – é interessante oferecer ao leitor da resenha informações gerais


sobre o(s) autor(es) da obra que você está resenhando, como também, se possível, as
circunstâncias em que ele fez o estudo (quando, onde e porque).

Conteúdo da obra – aqui é o momento do resumo crítico das principais ideias, sempre
lembrando que elas são ideias do autor da obra que você está resenhando. Não deixe o
leitor esquecer disso, não tome a obra para você. Pergunte-se o que diz a obra, se ela
tem alguma característica especial a forma como foi abordado o tema, se exige
conhecimentos prévios para compreendê-la, que teoria serviu de referência, qual o
método utilizado.
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Conclusões da obra – é importante registrar se o autor conclui, se sim, em que momento e,


finalmente, qual foi a conclusão.

Apreciação – esse é o momento mais trabalhoso, já que, exige mais de quem está
elaborando uma resenha porque se refere ao julgamento da obra. Você pode se
perguntar sobre o mérito da obra (qual a contribuição dada, se as ideias são criativas, se
desenvolve novos conhecimentos, se propõe uma abordagem diferente), sobre o estilo
(claro, conciso, objetivo, coerente), sobre a forma (lógica, sistematizada, se há equilíbrio
entre as partes, se há originalidade), sobre o fundamento teórico de onde fala o autor
(onde se situa em relação as diferentes correntes científicas, filosóficas). Nesse momento,
também são feitas considerações sobre uma possível indicação da obra. Você aconselha a
obra? É dirigida a que público?

Mais dicas:

1. Ler a obra com cuidado. Faça anotações com cuidado e com caneta especial para grifar as
principais ideias e conceitos do autor. Faça anotações na lateral pensando em núcleos do
tipo “passagens profundas”, “pontos obscuros”, “novidade”, “repetição”, etc.
2. Destaque com cuidado a tese central que o autor está desenvolvendo. Acompanhe sua
argumentação. Essa apreciação tornará o seu julgamento mais denso e criterioso.
3. Faça uma lista (podendo ser desordenada) dos conceitos e das palavras chaves que
deverão constar na resenha;
4. Depois, refletindo sobre as principais ideias do autor, dividir o artigo em partes e assim
colocar a lista acima na ordem que você deseja escrever sua resenha.
5. Tente compor frases pequenas, mas não meteóricas, que contenham uma só ideia
colocada claramente. A cada troca total de assunto (não de ideia – várias ideias juntas
compõem um assunto) mude de parágrafo.
6. Na verdade todo este trabalho que você faz é, nada mais nada menos que, um resumo
crítico (sintético) das principais ideias do artigo, comentando o que mais chamou atenção
e por que.
7. Não se esqueça de, em sua resenha, escrever o objetivo do trabalho de pesquisa relatado
no artigo foco de sua resenha, e também a justificativa e importância dada pelo autor
para o artigo.
8. Escreva para que a pessoa que vir a ler a sua resenha tenha uma boa ideia sobre o que
versa a obra.
9. Lembre-se que resenhas são escritas para serem lidas por pessoas que não leram a obra
que está sendo resenhada. Então, dê para outra pessoa ler. Pergunte o que ele e/ou ela
entenderam. Verifique se o que foi entendido está de acordo com o que você queria
dizer. Se não estiver como você quer, reescreva e repita este processo até que tudo
esteja como você deseja.
10. Fique atento às concordâncias verbais. Procure o sujeito (singular ou plural) e procure o
verbo (atento para a concordância singular ou plural) de cada uma das suas frases para
ter certeza que há concordância verbal.
11. Após escrever uma frase pense no seu objetivo. Não escreva nenhuma frase que nada
acrescente ao que já foi dito e/ou que não tenha nada a haver com o assunto. Seja
objetivo.
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12. Para que você escreva cada vez melhor tente ler mais e escrever muito, quanto mais
lemos mais melhoramos nosso texto escrito.

Recapitulando, o que escrever na resenha sobre:

O Conteúdo da Obra

Escreve-se o resumo das principais ideias da obra. Para isto, pergunte-se:

1. O que diz a obra?


2. A obra tem alguma característica especial?
3. Como foi abordado o tema? (a forma com que foi abordado o tema)
4. São necessários conhecimentos prévios para compreendê-la?
5. Que teoria serviu de fundamentação (referência)?
6. Se a obra é um relato de pesquisa, qual o método de pesquisa utilizado?

Conclusões do autor

É importante ficar atento às conclusões da obra. Para escrever sobre as conclusões da obra,
pergunte-se:

1. Quais as conclusões?
2. Em que momento são feitas?

Apreciação (julgamento)

Para apreciar (julgar) a obra, pergunte-se:

1. Quais as contribuições da obra?


2. O que a obra acrescentou?
3. As ideias foram criativas?
4. Foram desenvolvidos novos conhecimentos?
5. O autor se apoiou bem na literatura (fundamentação teórica e filosófica)?
6. A obra propôs abordagens diferentes?
7. Como é o estilo? Claro? Conciso? Objetivo? Coerente?
8. Como é a forma da obra? Lógica? Sistematizada? Há equilíbrio entre as partes?
9. A obra é original?
10. A obra se dirige a que público? (Isto é a indicação da obra)

Exigências de conteúdo
_ toda resenha deve conter uma síntese, um resumo do texto resenhado, com a apresentação
das principais ideias do autor;
_ toda resenha deve conter uma análise aprofundada de pelo menos um ponto relevante do
texto, escolhido pelo resenhista;
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_ toda resenha deve conter um julgamento do texto, feito a partir da análise empreendida no
item acima.

Exigências de forma
_ a resenha deve ser pequena, ocupando geralmente até três laudas de papel A4 com
espaçamento duplo;
_ a resenha é um texto corrido, isto é, não devem ser feitas separações físicas entre as partes da
resenha (com a subdivisão do texto em resumo, análise e julgamento, por exemplo);
_ a resenha deve sempre indicar a obra que está sendo resenhada.

http://www.ronaldomartins.pro.br/materiais/didaticos/Resenha.pdf
http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php

MODELO DE RESENHA

*considerações sobre esta resenha:

 Ela foi escrita em 1º pessoa – evite! Prefira 3º pessoa impessoal


 Ela é longa por ser a resenha de um livro inteiro de 203 páginas;
 A apreciação crítica está a partir da página 11, tópico 3, Conclusão do resenhista.

RESENHA CRÍTICA

Joana Maria Rodrigues Di Santoi

ALVES-MAZZOTTI, Alda J.; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e


sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo, Pioneira, 1999. 203 p.

1 CREDENCIAIS DOS AUTORES

Alda Judith Alves Mazzotti é bacharel licenciada em Pedagogia, bacharel em Psicologia,


Psicóloga, mestre em Educação, doutora em Psicologia da Educação, professora titular de
Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
leciona a disciplina de Metodologia da Pesquisa em cursos de graduação e pós-graduação desde
1975. Outras obras:
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ALVES-MAZZOTTI, Alda J., (1994). Do trabalho à rua: uma análise das representações sociais
produzidas por meninos trabalhadores e meninos de rua. In Tecendo Saberes. Rio de Janeiro:
Diadorim-UFRJ / CFCH.
_________ . (1996). Social representations of street children, resumo publicado nos Anais
da Terceira Conferência Internacional sobre Representações Sociais, realizada em Aix-em-
Provence.
Fernando Gewandsznajder é licenciado em Biologia, mestre em Educação, mestre em
Filosofia e doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Outras obras:
GEWANDSZNAJDER, Fernando. O que é o método científico. São Paulo: Pioneira,1989.
_________. A aprendizagem por mudança conceitual: uma crítica ao modelo PSHG.
Doutoramento em Educação. Faculdade de Educação da UFRJ, 1995.

2 RESUMO DA OBRA

O livro é constituído de duas partes, cada uma delas sob a responsabilidade de um autor,
traduzindo sua experiência e fundamentação sobre o método científico, em abordagens que se
complementam.

Na primeira parte, Gewandsznajder discute, em quatro capítulos, o método nas ciências


naturais, apresentando conceitos básicos como o da lei, teoria e teste controlado.
No capitulo inicial há uma visão geral do método nas ciências naturais e um alerta sobre a
não concordância completa entre filósofos da ciência sobre as características do método
científico. Muitos concordam que há um método para testar criticamente e selecionar as
melhores hipóteses e teorias. Neste sentido diz-se que há um método cientifico, em que a
observação, a coleta dos dados e as experiências são feitas conforme interesses, expectativas ou
ideias preconcebidas, e não com neutralidade. São formuladas teorias que devem ser encaradas
como explicações parciais, hipotéticas e provisórias da realidade.

O segundo capítulo trata dos pressupostos filosóficos do método científico, destacando as


características do positivismo lógico, segundo o qual o conhecimento factual ou empírico deve ser
obtido a partir da observação, pelo método indutivo, bem como as críticas aos positivistas, cujo
objetivo central era justificar ou legitimar o conhecimento científico, estabelecendo seus
fundamentos lógicos e empíricos.

A partir das críticas à indução, o filósofo Karl Popper (1902- 1994) construiu o racionalismo
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crítico, sua visão do método científico e do conhecimento em geral, dizendo que ambos
progridem através de conjecturas e refutações, sendo que a tentativa de refutação conta com o
apoio da lógica dedutiva, que passa a ser um instrumento de crítica.

Apoiados em sua visão da história da ciência, Thomas Kuhn ( 1922- 1996) , Lakatos e
Feyerabend, entre outros, criticam tanto Popper quanto os indutivistas, alegando que sempre é
possível fazer alterações nas hipóteses e teorias auxiliares quando uma previsão não se realiza.

Kuhn destaca o conceito de paradigma como uma espécie de “teoria ampliada”, formada
por leis, conceitos modelos, analogias, valores, regras para a avaliação de teorias e formulação de
problemas, princípios metafísicos e “exemplares”. Tais paradigmas orientam a pesquisa cientifica;
sua força seria tanta que determinaria até mesmo como um fenômeno é percebido pelos
cientistas, o que explica por que as revoluções cientificas são raras: em vez de abandonar teorias
refutadas, os cientistas se ocupam com a pesquisa cientifica orientada por um paradigma e
baseada em um consenso entre especialistas.

Nos períodos chamados de “Revoluções Cientificas”, ocorre uma mudança de paradigma;


novos fenômenos são descobertos, conhecimentos antigos são abandonados e há uma mudança
radical na prática cientifica e na “visão de mundo” do cientista.
A partir do final dos anos sessenta, a Escola de Edimburgo, defende que a avaliação das
teorias cientificas e seu próprio conteúdo são determinados por fatores sociais. Assume as
principais teses da nova Filosofia da Ciência e conclui que o resultado da pesquisa seria menos
uma descrição da natureza do que uma construção social.
O terceiro capítulo busca estimular uma reflexão crítica sobre a natureza dos
procedimentos utilizados na pesquisa cientifica. Destaca que a percepção de um problema
deflagra o raciocínio e a pesquisa, levando-nos a formular hipóteses e a realizar observações.
Importantes descobertas não foram totalmente casuais, nem os cientistas realizavam
observações passivas, mas mobilizavam-se à procura de algo, criando hipóteses ousadas e
pertinentes, o que aproxima a atividade cientifica de uma obra de arte.
Visando apreender o real, selecionamos aspectos da realidade e construímos um modelo
do objeto a ser estudado. Mas isto não basta: há que se enunciar leis que descrevam seu
comportamento. O conjunto formado pela reunião do modelo com as leis e as hipóteses constitui
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a teoria cientifica.

A partir do modelo, que representa uma imagem simplificada dos fatos, pode-se corrigir
uma lei, enunciando outra mais geral, como ocorreu com Lavoisier, que estabeleceu os alicerces
da química moderna.

No quarto capítulo, Gewandsznajder conclui a primeira parte da obra, comparando a


ciência a outras formas de conhecimento, mostrando que tal distinção nem sempre é nítida e,
que aquilo que atualmente não pertence à ciência, poderá pertencer no futuro.
Apresenta críticas a áreas cujos conhecimentos não são aceitos por toda a comunidade
cientifica, como: paranormalidade, ufologia, criacionismo, homeopatia, astrologia.
Na maioria das vezes, o senso comum, formado pelo conjunto de crenças e opiniões, limita-
se a tentar resolver problemas de ordem prática.

Assim, enquanto determinado conhecimento funcionar bem, dentro das finalidades para
as quais foi criado, continuará sendo usado. Já o conhecimento cientifico procura
sistematicamente criticar uma hipótese, mesmo que ela resolva satisfatoriamente os problemas
para os quais foi concebida. Em ciência procura-se aplicar uma hipótese para resolver novos
problemas, ampliando seu campo de ação para além dos limites de objetivos práticos e
problemas cotidianos.

Na segunda parte do livro, Alves-Mazzotti discute a questão do método nas ciências


sociais, com ênfase nas metodologias qualitativas, analisando seus fundamentos. Coloca que não
há um modelo único para se construir conhecimentos confiáveis, e sim modelos adequados ou
inadequados ao que se pretende investigar e que as ciências sociais vêm desenvolvendo modelos
próprios de investigação, além de propor critérios para orientar o desenvolvimento da pesquisa,
avaliar o rigor dos procedimentos e a confiabilidade das conclusões que não prescindem de
evidências e argumentação sólida.

O capítulo cinco analisa as raízes da crise dos paradigmas, situando historicamente a


discussão sobre a cientificidade das ciências sociais. Enfatiza fatos que contribuíram para
estremecer a crença na ciência, como os questionamentos de Kuhn, nos anos sessenta, sobre a
objetividade e a racionalidade da ciência e a retomada das críticas da Escola de Frankfurt,
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referentes aos aspectos ideológicos da atitude cientifica dominante.


Mostra que os argumentos de Kuhn, relativos à impossibilidade de avaliação objetiva de
teorias cientificas, provocaram reações opostas, a saber: tomados às ultimas consequências,
levaram ao relativismo, representado pelo “vale tudo” de Feyerabend e pelo construtivismo
social da Sociologia do Conhecimento. De outro lado, tais argumentos foram criticados à
exaustão, visando indicar seus exageros e afirmando a possibilidade de uma ciência que procure a
objetividade, sem confundi-la com certeza.
E ainda, diversos cientistas sociais, mobilizados pelas críticas à ciência tradicional feitas
pela Escola de Frankfurt, partindo de outra perspectiva, procuravam caminhos para a efetivação
de uma ciência mais compromissada com a transformação social.
Em tal contexto, adquirem destaque nas ciências sociais, os modelos alternativos ao
positivismo, como a teoria crítica, expondo o conflito entre o positivismo e a visão dialética.
Esgotado o paradigma positivista, adquire destaque, na década de setenta, o paradigma
qualitativo, abrindo espaço para a invenção e o estudo de problemas que não caberiam nos
rígidos limites do paradigma anterior.
A discussão contemporânea propõe compromisso com princípios básicos do método
cientifico, como clareza, consenso, linguagem formalizada, capacidade de previsão, conjunto de
conhecimentos que sirvam de guia para a ação(modelos).
A análise das posições indica flexibilização dos critérios de cientificidade, preocupação
com clareza do discurso cientifico permitindo crítica fundamentada, explicação e não apenas
descrição dos fenômenos.

O capítulo seis apresenta aspectos relativos ao debate sobre o paradigma qualitativo na


década de oitenta.

Inicialmente, caracteriza a abordagem qualitativa por oposição ao positivismo, visto


muitas vezes de maneira ingênua.
Wolcott denuncia a confusão na área, Lincoln e Guba denominam o novo paradigma de
construtivista e Patton capta o que há de mais geral entre as modalidades incluídas nessa
abordagem, indicando que seguem a tradição compreensiva ou interpretativa.
Na Conferência dos Paradigmas Alternativos, em 1989, são apresentados como sucessores
do positivismo:
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Construtivismo Social, influenciado pelo relativismo e pela fenomenologia, enfatizando


a intencionalidade dos atos humanos e privilegiando as percepções. Considera que a
adoção de teorias a priori na pesquisa turva a visão do observado.
Pós – positivismo - Defende a adoção do método científico nas ciências sociais,
preferindo modelos experimentais com teste de hipóteses, tendo como objetivo
último a formulação de teorias explicativas de relações causais..
Teoria Crítica, onde o termo assume, pelo menos, dois sentidos distintos: (1)Análise
rigorosa da argumentação e do método; (2)Ênfase na análise das condições de
regulação social, desigualdade e poder.

Os teóricos – críticos enfatizam o papel da ciência na transformação da sociedade, embora


a forma de envolvimento do cientista nesse processo de transformação seja objeto de debate. Ao
contrário dos construtivistas e dos pós-positivistas, questionam a dicotomia objetivo/subjetivo,
implicando oposições, declarando que esta é uma simplificação que, em vez de esclarecer
confunde. Para eles subjetividade não é algo a ser expurgado da pesquisa, mas que precisa ser
admitido e compreendido como parte da construção dos significados inerente às relações sociais
que se estabelecem no campo pesquisado. Tem que ser entendida como sendo determinada por
múltiplas relações de poder e interesses de classe, raça gênero, idade e orientação sexual.
Conceito que deve ser discutido em relação à consciência e às relações de poder que envolvem
tanto o pesquisador como os pesquisados.
Como organizador da citada conferência, Guba retratou as ambiguidades, confusões e
discordâncias existentes, visando estimular a continuação das discussões. A diferença entre as
três posições reside na ênfase atribuída e, especialmente, nas consequências derivadas dessas
questões: o papel da teoria, dos valores e a subdeterminação da teoria.
Na prática, observa-se com frequência a coexistência de características atribuídas a
diferentes paradigmas.
No capítulo sete estuda-se o planejamento de pesquisas qualitativas, discutem-se
alternativas e sugestões, acompanhadas de exemplos que auxiliam o planejamento e
desenvolvimento de pesquisas.
Ao contrário das quantitativas, as investigações qualitativas não admitem regras precisas,
aplicáveis a uma infinidade de casos, por sua diversidade e flexibilidade. Diferem também quanto
aos aspectos que podem ser definidos no projeto. Enquanto os pós-positivistas trabalham com
projetos bem detalhados, os construtivistas sociais defendem um mínimo de estruturação prévia,
definindo os aspectos referentes à pesquisa, no decorrer do processo de investigação.
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Para a autora, um projeto de pesquisa consiste basicamente em um plano para uma


investigação sistemática que busca uma compreensão mais elaborada de determinado problema.
Seja qual for o paradigma em que está operando, o projeto deve indicar: o que se pretende
investigar; como se planejou conduzir a investigação; porque o estudo é relevante.
Encerrando a obra, o capítulo oito trata da revisão da bibliografia, destacando dois aspectos
pertinentes à pesquisa: (1) análise de pesquisas anteriores sobre o mesmo tema e ou sobre temas
correlatos; (2) discussão do referencial teórico.
Sendo a produção do conhecimento uma construção coletiva da comunidade científica, o
pesquisador formulará um problema, situando-se e analisando criticamente o estado atual do
conhecimento em sua área de interesse, comparando e criticando abordagens teórico-
metodológicas e avaliando o peso e confiabilidade de resultados de pesquisas, identificando
pontos de consensos, controvérsias, regiões de sombra e lacunas que merecem ser esclarecidas.
Posicionar-se-á quanto ao referencial teórico a ser utilizado e seguirá o plano estabelecido.

3 CONCLUSÃO DA RESENHISTA (**Parecer crítico até o final)

De um modo geral, os autores apoiam-se em diversos estudiosos para emitir suas


conclusões. Numa das poucas oportunidades em que declara suas próprias ideias,
Gewandsznajder nos lembra que a decisão de adotar uma postura crítica, de procurar a
verdade e valorizar a objetividade é uma decisão livre. Alerta-nos que determinadas escolhas
geram consequências que poderão ser consideradas indesejáveis pelo sujeito ou pela
comunidade. Supondo, num exemplo extremo, que se decida “afrouxar” os padrões da crítica
a ponto de abandonar o uso de argumentos e a possibilidade de corrigir-se os próprios erros
com a experiência, não mais distinguiríamos uma opinião racional, consequência de
ponderações, críticas e discussões que consideram diferentes posições, de um simples
preconceito, que se utiliza de conceitos falsos para julgar pessoas pelo grupo a que pertencem,
levando a discriminações.

Também aqui sua conclusão apoia-se em um autor: “Finalmente como diz Popper, se
admitimos não ser possível chegar a um consenso através de argumentos, só resta o
convencimento pela autoridade. Portanto, a falta de discussão crítica seria substituída por
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decisões autoritárias, soluções arbitrárias e dogmáticas – e até violentas – para se decidir uma
disputa” (p. 64).

Com este discurso, incentiva-nos a reagir à acomodação e falsa neutralidade,


mostrando nossa responsabilidade em tudo que fazemos e criamos, pois a decisão final será
sempre um ato de valor e pode ser esclarecida pelo pensamento, através da análise das
consequências posições de determinada decisão.

Respaldando, ainda, suas opiniões em autores de peso, destaca que a história da


ciência mostra que nas revoluções científicas não há mudanças radicais no significado de todos
os conceitos, sendo utilizada uma linguagem capaz de ser compreendida por ambos os lados.

Enfatiza que a maioria dos problemas estudados pelos cientistas surge a partir de um
conjunto de teorias científicas que funciona como um conhecimento de base. E é este
conhecimento de base que procura nos fornecer, deixando claro que a formulação e resolução
de problemas só podem ser feitas por quem tem um bom conhecimento das teorias
científicas de sua área. Completa dizendo que um bom cientista não se limita a resolver
problemas, mas também formula questões originais e descobre problemas onde outros viam
apenas fatos banais, pois “os ventos só ajudam aos navegadores que têm um objetivo
definido”. (p. 66)

Alves – Mazzotti esclarece que os teórico-críticos enfatizam o papel da ciência na


transformação da sociedade, apesar da forma de envolvimento do cientista nesse processo de
transformação como objeto de debate. Complementa com a posição de diferentes autores
sobre cientistas sociais, parceiros na formação de agendas sociais através de sua prática
científica, sendo esse envolvimento e a militância política questões distintas. Enfatiza que a
diferença básica entre a teoria crítica e as demais abordagens qualitativas está na motivação
política dos pesquisadores e nas questões sobre desigualdade e dominação que, em
consequência, permeiam seus trabalhos.

Coerente com essas preocupações, a abordagem crítica é essencialmente relacional:


busca investigar o que ocorre nos grupos e instituições relacionando as ações humanas com a
cultura e as estruturas sociais e políticas, procurando entender de que forma as redes de
poder são produzidas, mediadas e transformadas. Parte do pressuposto de que nenhum
processo social pode ser compreendido de forma isolada, como instância neutra, acima dos
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conflitos ideológicos da sociedade. Ao contrário, estão sempre profundamente ligados,


vinculados, às desigualdades culturais, econômicas e políticas que dominam nossa sociedade.

Os autores concluem que coexistem atualmente diferentes linhas filosóficas acerca da


natureza do método cientifico, o que também é válido em relação aos critérios para avaliação
das teorias cientificas. Concordam, também, que a pesquisa nas ciências sociais se caracteriza
por uma multiplicidade de abordagens, com pressupostos, metodologias e estilos diversos.

Finalmente, deixam claro que o uso do método científico não pode ser considerado de
maneira independente dos conceitos ou das bases teóricas, implícita ou explicitamente,
envolvidos na pesquisa.

4 CRÍTICA DA RESENHISTA

A obra fornece subsídios à nossa pesquisa científica, à medida que trata dos principais
autores/protagonistas da discussão/construção do método científico na história mais recente,
reportando-se a esclarecimentos mais distantes sempre que necessário.
Com sólidos conhecimentos acerca do desenrolar histórico, os autores empenham-se em
apresentar clara e detalhadamente as circunstâncias e características da pesquisa científica,
levando-nos a compreender as ideias básicas das várias linhas filosóficas contemporâneas, bem
como a descobrir uma nova maneira de ver o que já havia sido visto, estudado.
É uma leitura que exige conhecimentos prévios para ser entendida, além de diversas
releituras e pesquisas quanto a conceitos, autores e contextos apresentados, uma vez que as
conclusões emergem a partir de esclarecimentos e posições de diversos estudiosos da ciência e
suas aplicações e posturas quanto ao método científico.

Com estilo claro o objetivo, os autores dão esclarecimentos sobre o método científico nas
ciências naturais e sociais, exemplificando, impulsionando reflexão crítica e discussão teórica
sobre fundamentos filosóficos. Com isso auxiliam sobremaneira a elaboração do nosso plano de
pesquisa.

Os exemplos citados amplamente nos auxiliam na compreensão da atividade científica e


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nos possibilitam analisar e confrontar várias posições, a fim de chegarmos à nossa própria
fundamentação teórica, decidindo-nos por uma linha de pesquisa. Mostram-nos a imensa
possibilidade de trabalhos que existe no campo da ciência, além de nos encaminhar para
exposições mais detalhadas a respeito de determinados tópicos abordados, relacionando autores
e bibliografia específicas.

Finalmente, com o estudo dessa obra, podemos amadurecer mais, inclusive para aceitar e
até solicitar crítica rigorosa, que em muito pode enriquecer nosso trabalho.

5 INDICAÇOES DA RESENHISTA

A obra tem por objetivo discutir alternativas e oferecer sugestões para estudantes
universitários e pesquisadores, a fim de que possam realizar, planejar e desenvolver as próprias
pesquisas, na graduação e pós-graduação, utilizando-se do rigor necessário à produção de
conhecimentos confiáveis. É de grande auxílio, principalmente, àqueles que desenvolvem
trabalhos acadêmicos no campo da ciência social.

Não se trata de um simples manual, com passos a serem seguidos, mas um livro que
apresenta os fundamentos necessários à compreensão da natureza do método científico, nas
ciências naturais e sociais, bem como diretrizes operacionais que contribuem para o
desenvolvimento da atitude crítica necessária ao progresso do conhecimento.

i
Joana Maria Rodrigues Di Santo é Psicopedagoga experiente, com atuação significativa em
Psicopedagogia Institucional, Coordenadora de Ensino Médio e Fundamental, Supervisora
aposentada do Município de São Paulo, Mestre em Educação, profere palestras e assessora
diversas escolas.

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