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As terras sentidas
(Agostinho Neto - 1922-1979)
Vivas
em si e connosco vivas
Elas vivem
as terras sentidas de África
no som harmonioso das consciências
incluída no sangue honesto dos homens
no forte desejo dos homens
na sinceridade dos homens
na razão pura e simples da existência das estrelas
Elas vivem
as terras sentidas de África
porque nós vivemos
e somos as partículas imperecíveis
das terras sentidas de África.
Certeza
(Agostinho Neto)
As honras
cabem aos generais
A minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
Os meus sorrisos
tudo o que chorei
Um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
- o esforço dos tenazes
que à tarde se cansam
Então
num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira
E terei para ti
os sorrisos que me pedes.
Declaração
(António Jacinto - 1924-1991)
O meu escrever-te é
realização de cada instante
germine a semente, e rompa o fruto
da Mãe-Terra fertilizante.
MOÇAMBIQUE
África
(José Craveirinha - 1922-2003)
E dão-me
a única permitida grandeza dos seus heróis
a glória dos seus monumentos de pedra
a sedução dos seus pornográficos Rolls Royce
e a dádiva quotidiana das suas casas de passe.
Ajoelham-me aos pés dos seus deuses de cabelos lisos
e na minha boca diluem o abstracto
sabor da carne de hóstias em milionésimas
circunferências hipóteses católicas de pão.
Nossa voz
(Noémia de Sousa - 1926-2002)
Ao J. Craveirinha
Canção do mestiço
(Francisco José Tenreiro - 1921-1963)
Mestiço!
Mestiço!
Mestiço!
Pois é…
Cantares santomenses
(Caetano de Costa Alegre 1864-1890)
Angolares
Canoa frágil, à beira da praia,
panos preso na cintura,
uma vela a flutuar…
Caleima, mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares
na luta com o gandu
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p’la fome de cada dia.
Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas em fila,
abrigando cubatas,
izaquente cozido
em panela de barro.
a ultrapassar o tempo
da memória e do esquecimento
II
Era Rei e era seu o porvir
a glória de resistir
DE CORAÇÃO EM ÁFRICA
do sentimento
da nossa infância
ficam escritos nas planícies, nos montes, nos vales, nos rios
GUINÉ-BISSAU
Quando te propus
um amanhecer diferente
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes
Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mãos
negras como breu o silêncio da resposta
Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nómada e igual
coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens
Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a “Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da terra”
Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais
as amaldiçoavam cada existência nossa
Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças comidas
insondável a fé forjada
no extenso breu de canto e morte
CABO VERDE
Crioulo
(Manuel Lopes - 1907-2005)