Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Porto Alegre
2007
© 2007, Coleção HABITARE Equipe Programa HABITARE
Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído - ANTAC Ana Maria de Souza
Av. Osvaldo Aranha, 99 - 3° andar - Centro Angela Mazzini Silva
CEP 90035-190 - Porto Alegre - RS
Telefone (51) 3308-4084 - Fax (51) 3308-4054 Autores da Coleção
http://www.antac.org.br/ Hélio Adão Greven
Alexandra Staudt Follmann Baldauf
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Presidente Produção de imagens
Luis Manuel Rebelo Fernandes Daniel Tomazoni
Diretoria de Inovação
Texto da capa
Eduardo Moreira da Costa
Arley Reis e Alexandra Staudt Follmann Baldauf
Diretoria de Administração e Finanças
Fernando de Nielander Ribeiro Revisão
Diretoria de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Giovanni Secco
Eugenius Kaszkurewicz
Projeto gráfico
Área de Tecnologias para o Desenvolvimento Social - ATDS
Regina Álvares
Marco Augusto Salles Teles
Editoração eletrônica
Grupo Coordenador Programa HABITARE
Amanda Vivan
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Caixa Econômica Federal - CAIXA Imagem da capa
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Sem título, 1982, acrílica sobre tela, acervo Fundação Athos Bulcão
- CNPq Fotolitos, impressão e distribuição
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT COAN - Indústria Gráfica
Ministério das Cidades www.coan.com.br
Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído –
ANTAC Catalogação na Publicação (CIP).
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC).
SEBRAE
Comitê Brasileiro da Construção Civil da Associação Brasileira de G837i Introdução à coordenação modular da construção
Normas Técnicas - COBRACON/ABNT no Brasil: uma abordagem atualizada / Hélio Adão
Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC Greven; Alexandra Staudt Follmann Baldauf.
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em — Porto Alegre : ANTAC, 2007. — (Coleção Habitare,9)
Planejamento Urbano e Regional – ANPUR
72 p.
Apoio Financeiro
ISBN 978-85-89478-23-6
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Caixa Econômica Federal – CAIXA
1. Coordenação modular 2. Construção civil. I. Greven,
Apoio institucional
Hélio Adão II. Baldauf, Alexandra Staudt Follmann III. Série.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Fundação Athos Bulcão
CDU: 69.057 (043)
Editores da Coleção HABITARE
Roberto Lamberts - UFSC
Carlos Sartor – FINEP ESTE LIVRO É DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.
Sumário
1 Introdução__________________________________________________________________________________ 11
Referências_________________________________________________________________________________ 69
Lista de figuras
Figura 9: Le Modulor___________________________________________________________________________ 28
Figura 15: Medida modular, medida nominal, junta modular e ajuste modular________________________ 43
Figura 25: Conjunto modular composto de peças e/ou produtos não modulares______________________ 52
E
studos desenvolvidos por vários setores da indústria e da academia buscam definir as necessidades
e as soluções para a cadeia da construção civil no Brasil. Esses trabalhos mostram que há problemas
em todos os elos. O setor de insumos necessita melhorar a produtividade e a qualidade além de au-
mentar o valor agregado.A cadeia produtiva busca aumentar a produtividade, reduzir o custo dos insumos
e, ao mesmo tempo, estar em conformidade com as normas vigentes. Enquanto isso o consumidor final
anseia por edificações de melhor qualidade e menor preço.
Uma das formas de atingir os objetivos acima é a busca da racionalização e industrialização da cons-
trução, de tal maneira que a construção de edificações possa aplicar efetivamente as melhores práticas
tanto no projeto como na produção. Edificações projetadas não mais com o paradigma da produção em
massa, mas em sintonia com o pensamento atual em sistemas de produção, a customização em massa. Em
suma, procura-se permitir que o usuário possa efetivamente escolher o habitat que melhor se aproxima de
seus anseios individuais e, ao mesmo tempo, possibilitar um processo de projeto e produção com baixos
níveis de perdas. Para que isso seja possível, é imprescindível, entre outras coisas, que os insumos estejam
em conformidade com as normas e que estas contemplem os conceitos de Coordenação Modular. Além
disso, esses conceitos devem ser incorporados nas práticas dos outros membros da cadeia produtiva: os
projetistas e os construtores.
O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a aprovar uma norma de Coordenação Modular
decimétrica (módulo de 10 cm), a NB-25R, em 1950. Nos anos 70 e início dos 80, o Banco Nacional da
Habitação (BNH) patrocinou diversos estudos que destacaram a implementação da Coordenação Modular
na construção como ferramenta importante para a racionalização. Essa filosofia teve grande expansão até o
início da década de 70, começando a dar sinais de queda gradual a partir do seu final, intensificando-se com
a recessão de meados da década de 80.
Apesar das quase três dezenas de normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre
Coordenação Modular, vigentes há mais de 30 anos, essas raramente são utilizadas pelo meio técnico, seja
pelos projetistas, seja pelos produtores de insumos para a construção civil.
No princípio, a normalização não interessou ao setor da construção civil, que estava direcionado às
classes mais privilegiadas. Além disso, a década de 70 também correspondeu à produção maciça de habi-
tações de interesse social, que apresentava a característica oposta ao carecer de uma solução tecnológica
que exprimisse a racionalização construtiva e a redução de custos.A tecnologia era precária e fez com que
o tema Coordenação Modular fosse relacionado pejorativamente com as construções econômicas de baixa
qualidade.
Atualmente, a necessidade de redução de custos e de aumento da produtividade faz com que proces-
sos de racionalização e compatibilização construtiva e dimensional voltem a ser considerados.
O uso da Coordenação Modular de 10 cm, utilizada em todos os países desenvolvidos, com exceção
dos Estados Unidos (que utiliza 4 polegadas), em particular, traz redução de custos em várias etapas do
processo construtivo devido à otimização do uso da matéria-prima, à agilidade que confere no processo
de projeto ou compra dos componentes, ao aumento da produtividade e à diminuição dos desperdícios e
das perdas.
Nesse contexto situam-se os trabalhos da Rede “Desenvolvimento e difusão de tecnologias cons-
trutivas para a Habitação de Interesse Social”. São objetivos da Rede o desenvolvimento e a difusão de
tecnologias construtivas para a habitação de interesse social, tendo como foco a Coordenação Modular e
a conectividade entre componentes e subsistemas, e a avaliação de desempenho, viabilidade técnica, eco-
nômica e de mercado.
A proposta da Rede, que conta com a participação de oito universidades brasileiras (www.habitacao-
social.com.br), tem o mérito de propor uma visão integrada da construção e a indicação de caminhos para
o desenvolvimento da construção civil.
Como primeira atividade conjunta da Rede, foi realizado um resgate da história e da teoria da Coorde-
nação Modular no Brasil e no mundo, bem como um levantamento das normas brasileiras existentes sobre
o tema e a necessidade de adequação delas aos objetivos e necessidades da cadeia produtiva da construção
civil. O resultado é esta publicação, de autoria dos professores Hélio Adão Greven e Alexandra Staudt Foll-
mann Baldauf, que atinge esse objetivo inicial.
Espera-se que ela sirva para um melhor entendimento do que é a Coordenação Modular, das vanta-
gens que apresenta e também para uma reflexão por parte dos leitores sobre os caminhos a serem seguidos
para que seja efetivamente implementada no Brasil.
1.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
1.
Introdução
O
Brasil foi um dos primeiros países, em âmbito mundial, a aprovar uma norma de Coordena-
ção Modular, a NB-25R, em 1950. Além disso, teve os anos 70 e início dos 80 tomados pelos
conceitos e estudos a respeito, promovidos, principalmente, pelo Banco Nacional da Habita-
ção (BNH), por Universidades e pelo Centro Brasileiro da Construção Bouwcentrum (CBC). No entanto,
mesmo com tantos esforços para a promoção da Coordenação Modular, verifica-se hoje que ela não está
sendo utilizada, tanto pela interrupção abrupta de bibliografia a partir do início da década de 80 e pela
lacuna de estudos que, a partir de então, se formou, quanto pelo caos dimensional de grande parte dos 11
componentes construtivos.
Poucos objetivos foram alcançados, mesmo com toda a promoção para a racionalização da constru-
ção. O fato é que, hoje, a indústria da construção civil apresenta-se como um setor de caráter heterogêneo
em relação à sua produção, marcada, de um lado, por obras com um alto índice de produtividade e, de
outro, por obras artesanais com altos índices de desperdício associados à baixa produtividade.
Para que a construção civil torne-se apta a desempenhar o papel a que é exigida pela realidade
Introdução
moderna, é necessário que esteja capacitada a pro- componentes, seja por aumento da produtividade,
duzir edificações que, além de respeitarem condi- seja por diminuição das perdas.
ções indispensáveis – como habitabilidade, funcio-
Com relação à sustentabilidade, a utilização
nalidade, durabilidade, segurança e acabamento –,
da Coordenação Modular traz um melhor aprovei-
também apresentem características relacionadas à
tamento dos componentes construtivos e, em con-
produtividade, construtividade, baixo custo e de-
seqüência disso, otimização do consumo de maté-
sempenho ambiental, quesitos de grande impor-
rias-primas, de consumo energético para produção
tância, que atualmente representam um desafio
desses componentes e, por fim, de sobras desses
para os profissionais da área.
componentes em função dos inúmeros cortes que
Nos esforços em busca do desenvolvimento sofrem na etapa de construção. Segundo Yeang
dessas características na indústria da construção (1999), que faz um balanço dos inputs (insumos)
civil no país, é que o presente trabalho tem a in- e outputs (produtos) da construção civil, 40% das
tenção de reativar conceitos, trazendo à pauta a matérias-primas (por peso) do mundo são usadas
questão da Coordenação Modular, esta já “antiga” na construção de edificações a cada ano; 36% a
inovação. Cada vez mais necessária e mais óbvia, a 45% do input de energia de uma nação é usado
Coordenação Modular é ponto elementar para que nas edificações e 20% a 26% do lixo de aterros vem
vários problemas sejam solucionados, do projeto das construções.
dos componentes à manutenção das edificações.
Diante desses preceitos, para que se possa le-
A Coordenação Modular é um sistema que var à indústria da construção civil as mesmas vanta-
qualificou a indústria da construção em um grande gens presentes nos processos de outras indústrias,
número de países, e, no contexto atual da produ- verifica-se a necessidade da adoção de um sistema
12
ção de edificações, é imprescindível que ela volte a de medidas que ordene a construção desde a fa-
ser considerada, agora aliada a questões econômi- bricação dos componentes, passando pelo projeto,
cas e de sustentabilidade. chegando à execução da obra e, ainda, mais tarde,
à manutenção. O sistema capaz de atingir esse ob-
As questões econômicas dizem respeito à
jetivo é a Coordenação Modular (BANCO NACIO-
redução de custos em várias etapas do processo
NAL DA HABITAÇÃO; INSTITUTO DE DESENVOL-
construtivo quando do uso da Coordenação Modu-
VIMENTO ECONÔMICO E GERENCIAL, 1976).
lar. Essa redução de custos ocorre seja por otimi-
zação do uso da matéria-prima, seja pela agilidade Apesar de uma afirmação objetiva como essa,
no processo de decisão de projeto ou compra dos um hiato de décadas separa os dias de hoje dos
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
primeiros estudos e publicações sobre o assunto.
A despeito das vantagens que traz, a Coordenação
Modular não encontrou espaço em um país como
o Brasil, destacado em várias áreas da ciência e da
tecnologia, e mesmo da indústria da construção ci-
vil. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é difun-
dir os conceitos da Coordenação Modular a todos
os intervenientes1 da cadeia produtiva da indús-
tria da construção civil para, então, implantá-la de
forma definitiva no Brasil. Considera-se importante
que esses conceitos sejam entendidos pelos pro-
fissionais e técnicos da área, a fim de que se de-
senvolva um diálogo em comum entre aqueles que
procuram contribuir para a discussão, a pesquisa e
a prática da Coordenação Modular.
13
1
Para este trabalho são considerados como intervenientes da cadeia produtiva os agentes governamentais, os agentes normalizadores, os agentes certificadores,
as instituições de ensino, os arquitetos, os engenheiros, os projetistas, os fabricantes de componentes, os executores e os consumidores.
Introdução
14
2.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
2.
Aspectos históricos da coordenação modular
2.1 O módulo
A
palavra “módulo” tem origem no latim modulu e, para o presente trabalho, significa, adotando as
sob um caráter estético; dos romanos, sob um caráter estético-funcional; e dos japoneses, sob um caráter fun-
2.1.1 Os gregos
A proporção dos elementos das ordens gregas era a expressão da beleza e da harmonia (CHING, 1998).
Para a unidade básica das dimensões era utilizado o diâmetro da coluna. A partir desse módulo, criavam-se to-
16
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Com base nesse princípio, os frisos e as vigas de frisos (métopas e tríglifos) determinam o inter-
mantinham a mesma dimensão ao longo de toda a valo das colunas, que corresponde a duas peças de
fachada, inclusive nos vãos das esquinas. A Figura 1 cada um dos frisos. Com essa composição, os vãos
mostra que o vão menor, “B”, rompe o ritmo exato das esquinas é que sofrem redução de medida, tor-
dos vãos “A”, mantendo, dessa forma, as dimensões nando-se menores (NISSEN, 1976).
dos frisos e vigas iguais. O vão normal é o “A”, e o
Mesmo sendo o diâmetro da coluna a dimen-
de esquina é o “B”. A linha tracejada mostra onde a
são moduladora da arquitetura grega, o tamanho das
coluna deveria estar posicionada se os vãos “A” e “B”
colunas variava conforme a edificação. Sendo assim,
fossem iguais.
as ordens gregas – toscana, dórica, jônica, coríntia e
Ainda contemplando essa questão estética da composta – não se apoiavam em uma unidade de
arquitetura grega, a Figura 2 mostra uma residência medida constante, mas cada uma seguia as suas pro-
de um pavimento cujas fachadas foram projetadas porções. Essas proporções podem ser visualizadas na
com o módulo de A = 4 pés atenienses. Os dois tipos Figura 3, na interpretação de Viñola (1948).
17
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
2.1.2 Os romanos mais chamou a atenção de Kurent foi o fato de os
Na civilização romana, o planejamento das ci- componentes terem medidas de fabricação corres-
dades e o projeto dos edifícios obedeciam a um reti- pondentes a uma modulação que já levava em conta
culado modular baseado no passus romano, que era a espessura das juntas ou a sobreposição das peças
múltiplo do pes, uma unidade de medida antropo- (CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO BOU-
métrica. Além de as composições estarem baseadas WCENTRUM, 1972).
em um módulo antropométrico, os romanos, povo Mas a propriedade mais importante das séries
de caráter essencialmente prático, tinham consegui- dimensionais romanas no que diz respeito à compo-
do padronizar seus tijolos em dois tipos universais: o sição consiste, segundo Kurent, no que Vitruvius, ar-
bipetalis e o sesquipetalis (ROSSO, 1976). quiteto romano do século I a.C., chamava de ratio
Exemplo do planejamento das cidades é o tra- symetriarum2: os tamanhos modulares dos compo-
çado da cidade de Emona, baseado em um módulo nentes construtivos romanos eram pequenos múl-
de 60 passus, originando um reticulado de 360 pas- tiplos de várias unidades padrão. Portanto, também
sus x 300 passus, dando à cidade uma proporção de as composições de componentes romanos eram so-
6:5. Na Figura 4 pode ser visualizada a malha pela mas e múltiplos de várias unidades padrão de me-
qual a cidade de Emona, hoje Liubliana, na Eslovênia, didas, mas nenhuma unidade padrão constituía um
se organizava. módulo-base, ou um submódulo, ou um multimódu-
Os romanos ainda serviram-se do módulo para lo (CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO BOU-
estabelecer medidas tanto de componentes constru- WCENTRUM, 1972).
tivos – como tubos cerâmicos, telhas, tijolos, colunas A Figura 5 mostra como as medidas modula-
e ladrilhos – quanto de utensílios domésticos, como res romanas para componentes construtivos e seus
ânforas, copos e pratos. incrementos eram idênticas a pequenos múltiplos 19
Conforme o Noticiário da Coordenação Mo- inteiros de uma medida padrão romana.Todas as uni-
dular, as pesquisas arqueológicas do professor iugos- dades romanas podiam ser usadas como módulos de
lavo Tine Kurent mostraram que os romanos utiliza- acordo com as circunstâncias (CENTRO BRASILEIRO
vam componentes padronizados e modulados. O que DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM, 1972).
2
Essa simetria era entendida por Vitruvius como a relação matemática estável das partes entre si e de cada parte com o todo (WITTKOWER, 1995).
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Figura 5 - As medidas modulares romanas (BALDAUF, 2004 baseado em CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM, 1972)
Dessa forma, os romanos aplicaram uma mo- só fosse utilizado para desenhar a separação entre
dulação flexível desde o pequeno componente até a duas colunas e não apresentasse uma dimensão fixa, 21
grande cidade (CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRU- logo foi normalizado para ser aplicado na arquitetura
ÇÃO BOUWCENTRUM, 1972). residencial. O ken passou a ser uma medida absoluta
(CHING, 1998) não só para a construção de edifícios,
2.1.3 Os japoneses tendo evoluído até se tornar um módulo que regia
A unidade clássica de medida japonesa, o toda a estrutura, os materiais e os espaços da arqui-
shaku, tem origem chinesa. Praticamente equivale tetura japonesa.
ao pé inglês e é divisível em unidades decimais. Du- Com a trama modular do ken, instauraram-se
rante a segunda metade da Idade Média, no Japão, im- dois métodos de projeto. No primeiro, o método
plantou-se outra medida, o ken. Ainda que no início inaka-ma, a trama do ken (que passou a ser 6 shaku)
22
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
comodamente sentadas, ou somente uma dormindo. a dependência da construção do uso de materiais
Mas, conforme a trama ken se desenvolveu, o tatame locais (GRISOTTI, 1965).
perdeu sua dependência das dimensões humanas e
Nesse panorama da evolução dos transportes,
se perderam também as necessidades de um siste-
a história da arquitetura moderna confunde-se com
ma estrutural e de separação entre colunas baseados
a história da industrialização, pois a necessidade de
nessa modulação (CHING, 1998).
edifícios industriais maiores e mais resistentes, edi-
Em função de sua modulação 1:2, os tatames fícios públicos, portos e armazéns solicitaram o uso
podiam ser distribuídos em um grande número de de novos materiais, como o ferro fundido e o vidro,
posições para qualquer dimensão de habitação, e dando forma à arquitetura que é reconhecida como a
para cada uma delas se fixava uma altura de teto que arquitetura moderna. “O ferro e o vidro constituíram
se calculava a partir da seguinte igualdade: altura de materiais de construção há muitos séculos, mas são
teto = número de tatames x 0,3 (CHING, 1998). considerados novos na medida em que os progressos
Em uma casa tipicamente japonesa, a trama industriais permitiram sua produção em grande quan-
ken regia a estrutura e a seqüência aditiva, de espaço tidade e estenderam sua aplicação à maioria dos edifí-
a espaço, das diferentes habitações. A Figura 6 mos- cios” (BRUNA, 1976). Os pavilhões para as exposições
tra uma residência típica japonesa, onde as medidas internacionais foram as edificações que inicialmente
do módulo, relativamente pequeno, possibilitavam a mais utilizaram o ferro e o vidro, como resultado dos
disposição de espaços retangulares, de maneira total- progressos industriais de que fala Bruna.
mente livre segundo modelos lineares, agrupados ou
2.2.1 Do módulo à Coordenação Modular
arbitrários (CHING, 1998).
Considera-se como primeira aplicação da Coor-
denação Modular o Palácio de Cristal, projetado por
2.2 Revolução Industrial 23
Joseph Paxton e construído entre 1850 e 1851 para
O desenvolvimento das estradas de ferro teve a Exposição Universal de Londres.“A partir de então,
influência direta sobre a construção, por um lado arquitetos e engenheiros de várias escolas e nacio-
permitindo desvincular a construção dos materiais nalidades, sensíveis às modificações provocadas pela
de proveniência local e, por outro, agindo na for- industrialização crescente e pela produção em mas-
mação da rede urbana. O transporte de matérias e sa, começaram a submeter o processo arquitetônico
materiais para a construção adquire maior difusão a um profundo trabalho de revisão para colocar os
quando o transporte ferroviário assume o papel do recursos da industrialização a serviço de uma nova
transporte de passageiros e deixa o transporte flu- revolução, a social, cujos anseios deveriam ser satis-
vial livre para os materiais pesados, desvinculando feitos” (ROSSO, 1976).
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Construtivamente, o Palácio de Cristal repre- 2.3 Século XX
senta uma síntese de componentes estudados sepa-
Com a industrialização que se processou em
radamente e coordenados entre si por uma rede mo-
vários setores no século XX, a construção civil tam-
dular; o espaço resultante da somatória de elementos
bém não poderia deixar de passar por uma profunda
padronizados e industrializados era o fruto perfeito
revisão. Imbuídos pelo espírito dessa industrialização,
da tecnologia empregada e do estudo racional dos
não mais passível de uma regressão, profissionais da
vínculos, dos limites econômicos e de tempo, dos
área iniciaram vários estudos a respeito da pré-fabri-
condicionantes técnicos de produção e montagem.
cação e, conseqüentemente, da Coordenação Modu-
O Palácio de Cristal, na sua integridade de obra-de-
lar: a padronização dos componentes era necessária
arte, exprime a essência do próprio tempo, anteci-
de qualquer maneira. Não era mais possível suportar
pando em cem anos a problemática que os arquite-
os altos custos e os longos períodos de obras (CHE-
tos e engenheiros do pós-guerra na Europa deveriam
MILLIER, 1980).
enfrentar com a industrialização da construção (BRU-
NA, 1976), como a substituição da dimensão métrica Em 1921, o arquiteto Le Corbusier3 declarou
pela dimensão modular, a produção padronizada dos que era preciso que as casas fossem produzidas em
componentes e também a consideração das necessi- série, em fábricas, com linhas de montagem como a
dades econômicas, funcionais e técnicas. Ford montava seus automóveis (CHEMILLIER, 1980).
Em poucos anos, inúmeras estruturas seme- O arquiteto alemão Walter Gropius, na visão de
lhantes ao Palácio de Cristal foram erguidas em todo Rosso (1976), é quem antecipa os tempos e as fases
o mundo. Apesar disso, Bruna (1976) coloca que é da Coordenação Modular. Gropius projetou e cons-
difícil, à primeira vista, compreender por que a pré- truiu duas casas isoladas: a do bairro operário Weis-
fabricação, que parecia uma conquista aceita e larga- senhof4 (Figura 8), em 1927, e a “Casa Ampliável”, em
mente difundida, foi abandonada na segunda metade 1932. Elas foram montadas a seco com componen- 25
do século para ser retomada somente quase um sé- tes pré-fabricados: estrutura metálica e vedação com
culo depois. painéis de cortiça revestidos externamente com ci-
3
Le Corbusier nasceu na Suíça sob o nome de Charles-Edouard Jeanneret-Gris. Em 1917, mudou-se para Paris e adotou o pseudônimo de Le Corbusier.
4
Esse bairro foi criado na cidade de Stuttgart; onze arquitetos participaram dos projetos das residências, nas quais puderam mostrar a “nova” arquitetura: a
moderna.
5
Módulo aplicado à industrialização (ROSSO, 1976).
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Bemis indicou 4 polegadas como dimensão do Ainda durante a Segunda Guerra, um estudo
módulo, pois acreditava ser essa o mais racional. A realmente sistemático e completo do assunto é re-
mesma dimensão já tinha sido recomendada pelo alizado pelo alemão Ernst Neufert. Na época, a Ale-
engenheiro americano Fred Head, em 1925, porque manha estava pressionada pelos graves problemas
daria uma flexibilidade adequada e estava relaciona- bélicos, e Neufert, antecipando os problemas futuros
da com a dimensão utilizada nos estudos das casas de reconstrução, concebeu e articulou no seu livro
de madeira americanas. As idéias de Bemis tiveram Bauordnungslehre, publicado em 1943, um sistema
repercussão nos primeiros estudos realizados so- de coordenação octamétrica (100 cm/8), baseado no
bre Coordenação Modular na Europa e nos Estados módulo de 12,5 cm. Neufert preocupou-se princi-
Unidos (LISBOA, 1970). palmente em conceber um sistema dimensional que
não alterasse substancialmente as medidas dos tijo-
Em 1938, dois anos após a morte de Bemis, a
los tradicionais alemães (CENTRO BRASILEIRO DA
American Standard Association (ASA) iniciou um es-
CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM, 1971a).
tudo para coordenar o dimensionamento dos com-
ponentes da construção. Quase no mesmo período, Os estudos de Neufert foram tão importantes
na França, iniciaram-se estudos semelhantes que, em que a primeira norma alemã sobre Coordenação Mo-
1942, apresentados à Associação Francesa para a Nor- dular, a DIN 4172, foi extraída dos seus trabalhos e
publicada em 1951. Desde então até 1965, 4.400.000
malização (AFNOR), se tornaram projeto de norma e,
habitações foram construídas na Alemanha obedecen-
a seguir, norma fundamental sobre o tema. A França
do ao sistema octamétrico, o equivalente a mais de
foi o primeiro país a ter uma norma de Coordena-
50% de todas as construções realizadas nesse período
ção Modular de caráter nacional.A ela seguiram-se os
no país (ROSSO, 1976). Além disso, calculava-se que,
Estados Unidos, que publicaram sua primeira norma
em 1970, eram produzidos em dimensões octamétri-
em 1945, a Suécia, em 1946, e a Bélgica, em 1948 27
cas 90% dos blocos sílico-calcários, 90% dos blocos
(LISBOA, 1970).
de concreto leve, 89% das lajes mistas pré-fabricados,
Em 1941, Gropius e o também arquiteto ale- 75% dos caixilhos, 100% das chapas de fibrocimento
mão Konrad Wachsmann projetaram um sistema de e 65% das estruturas pré-fabricadas (CENTRO BRASI-
pré-fabricação para a General Panel Corporation, LEIRO DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM, 1970a).
empresa americana que passou a produzi-lo indus- Apesar de o sistema octamétrico ter sofrido várias
trialmente. O sistema tinha em vista a utilização de objeções, principalmente em função do módulo de-
painéis de madeira através da aplicação de um malha cimétrico, opção da maioria dos países, os resultados
modular de 3 pés e 4 polegadas, articulados median- obtidos com o seu uso comprovaram a viabilidade e
te o uso de uma junta universal. a eficiência da utilização da Coordenação Modular.
28
6
A seção áurea, observada e estudada pela escola grega de Pitágoras, algebricamente se expressa segundo a equação a/b = b/a+b. O valor numérico dessa
razão é Ø: 1,618..., chamado número de ouro. Ele aparece em muitas relações do corpo humano, como a razão entre a altura de uma pessoa e a distância do
umbigo aos pés, por exemplo, e foi amplamente utilizado na arquitetura.
7
Leonardo Fibonacci, matemático italiano, escreveu, em 1202, Liber Abacci, no qual estuda o então denominado “problema dos pares de coelhos”, para saber
quantos coelhos poderiam ser gerados de um par de coelhos em um ano. Esse estudo chegou a uma seqüência numérica chamada série de Fibonacci: 1, 1, 2, 3,
5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, ..., em que, somando-se o 1° com o 2° números, obtém-se o 3°; somando-se o 2° com o 3°, obtém-se o 4°, e assim por diante.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Em 1949, um Comitê da International Organi- aplicação prática dessa teoria, a fim de comprová-la
zation for Standardization (ISO) para a edificação ve- e de desenvolvê-la.
rificou que quase todos os países europeus e outros
Em agosto de 1955, na convenção realizada
não europeus se dedicavam ao problema, mas, ao
pela AEP em Munique, foram estabelecidos os re-
mesmo tempo, pouquíssimas nações optavam pelo
quisitos para a adoção da medida correspondente
estudo das aplicações práticas sob a forma de norma-
ao módulo-base. Os estudos realizados pela AEP de-
lizações nacionais (CAPORIONI; GARLATTI; TENCA-
monstraram que esses requisitos – em parte contra-
MONTINI, 1971).
ditórios (CAPORIONI; GARLATTI; TENCA-MONTINI,
Em face de todas as experiências que estavam 1971), pelos limitados conhecimentos da época – se-
sendo realizados por diversos países, foi criada, em riam, pelo menos em tese, satisfeitos pelos módulos
1953, a Agência Européia para a Produtividade (AEP), 10 cm ou 4 polegadas, como os que melhor se adap-
uma filial da Organização Européia de Cooperação tavam às exigências.
Econômica (OECE). Faziam parte da AEP a Alemanha,
Para cumprir as resoluções fixadas pela AEP,
a Áustria, a Bélgica, a Dinamarca, a Espanha, a Grécia,
foi construído, em cada país, determinado número
a Holanda, a Irlanda, a Islândia, a Itália, Luxemburgo,
a Noruega, Portugal, o Reino Unido, a Suécia, a Suíça de edifícios que caracterizavam e comprovavam a
e a Turquia. aplicação prática dos princípios enunciados. Dessa
maneira, a teoria modular foi completada com inves-
A AEP verificou então que as maiores vanta- tigações práticas e discussões teóricas, baseadas nos
gens da utilização da Coordenação Modular somen- experimentos desenvolvidos em cada um dos países
te seriam alcançadas com a realização de um estudo
que aderiram ao projeto, com a intenção de definir
metódico em âmbito internacional. Fixada essa ne-
melhor o sistema modular.
cessidade de cooperação internacional, a AEP deci-
Em 1957, foi realizada uma votação pelo subco- 29
diu organizar um plano especial para o estudo da
Coordenação Modular, iniciado em 1953. Participa- mitê TC-59 da ISO, que aprovou oficialmente a ado-
ram desse estudo onze países europeus (Alemanha, ção da medida de 10 cm ou 4 polegadas como mó-
Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Itália, dulos-base, módulos já estabelecidos na reunião de
Noruega, Holanda, Grã-Bretanha e Suécia) e mais o agosto de 1955 (BUSSAT, 1963). Na mesma reunião,
Canadá e os Estados Unidos. O plano foi dividido foram criados pelo subcomitê TC-59 três grupos de
em duas fases: na primeira, foram recolhidas as opi- trabalho: o primeiro, para a terminologia; o segundo,
niões e as experiências de cada um dos países, a para as tolerâncias da Coordenação Modular, e o ter-
partir das quais foi formulada uma teoria sintética ceiro, para as dimensões modulares.
da Coordenação Modular; e, na segunda, passaram à
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Em 1971, o Comitê Alemão de Normas propôs
uma nova norma para a Coordenação Modular, a DIN
18000: Modulordnung im Bauwesen (Coordenação
Modular da Construção), baseada no sistema decimé-
trico, de uso internacional, em detrimento do siste-
ma octamétrico proposto por Neufert.A primeira pu-
blicação é de março de 1976; a segunda, de outubro
de 1979; e a terceira, e atual versão, de maio de 1984
(DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG, 1984).
Na Inglaterra, a adoção do sistema de medida
métrico ocorreu em 1972 (NISSEN, 1976), apesar
de a previsão inicial para a mudança ser para o ano
de 1975 (CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO
BOUWCENTRUM, 1970a). Os estudos para a conver-
são do sistema tradicional pé/polegada para o métri-
co já estavam sendo realizados desde o final da dé-
cada de 60. Em conseqüência da adoção do sistema
métrico, a indústria da construção também adotaria
o módulo decimétrico para a Coordenação Modular.
O plano de implantação do sistema métrico revelava
como resultado o fato de 30% de todas as unidades
residenciais a serem construídas no Reino Unido no
ano de 1970 já terem dimensões métricas (CENTRO 31
BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM,
1970a).
Atualmente, as normas utilizadas na Europa
estão centralizadas nas normas da ISO, com sede na
cidade de Genebra, na Suíça.
3.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
3.
Teoria da coordenação modular
P
ara esta pesquisa foram destacadas algumas definições de Coordenação Modular defendidas por al-
guns autores.
Para Mascaró (1976), a Coordenação Modular é “um mecanismo de simplificação e inter-relação de gran-
dezas e de objetos diferentes de procedência distinta, que devem ser unidos entre si na etapa de construção
(ou montagem), com mínimas modificações ou ajustes”.
33
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, [1975?]), em uma publicação intitulada Síntese da
Coordenação Modular, define-a como sendo “a aplicação específica do método industrial por meio da qual
se estabelece uma dependência recíproca entre produtos básicos (componentes), intermediários de série e
produtos finais (edifícios), mediante o uso de uma unidade de medida comum, representada pelo módulo”.
Já na NBR 5706: “Coordenação Modular da construção – procedimento”, a ABNT (1977) usa como definição
“técnica que permite relacionar as medidas de projeto com as medidas modulares por meio de um reticulado
espacial modular de referência”. Rosso (1976) é contrário a esta definição, pois acredita que os que a definem
8
Forma de industrialização na qual os componentes são produzidos a partir de um módulo-base, para que sejam combinados com outros componentes, qualquer
que seja o fabricante.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
A padronização dos componentes, segun- Com relação aos quesitos de sustentabilidade, a
do Rosso (1976), ainda viabiliza as exportações, Coordenação Modular reduz o consumo de maté-
abrindo a possibilidade de os produtos circularem ria-prima e aumenta a capacidade de troca de com-
internacionalmente. Segundo o mesmo autor, essa es- ponentes da edificação (ANGIOLETTI; GOBIN; WE-
tratégia foi usada por diversos países europeus, como CKSTEIN, 1998), facilitando a sua manutenibilidade.
Dinamarca, Espanha, França e Itália, para desenvolver Para os fabricantes de componentes, projetis-
as exportações e equilibrar a balança comercial. Essa tas e executores, ainda traz agilização operacio-
questão da exportação foi ponto crucial para que pa- nal e organizacional, em função da repetição de
íses como a Alemanha, em 1971, e a Inglaterra, em técnicas e processos e do domínio tecnológi-
1972, se vissem obrigados a fazer modificações em co (OLIVEIRA, 1999). Lucini (2001) ainda aponta
suas normas e/ou sistema de medidas, a fim de se como vantagem o controle eficiente de custos e
enquadrarem nos princípios utilizados em todos os de produção.
demais países industrializados.
Em resumo, tudo isso traz aumento da
Além disso, há uma simplificação do pro- produtividade e uma conseqüente redução de
jeto, tanto pelo fato de os detalhes construtivos custos, objetivos sempre buscados. Dessa forma,
mais comuns já estarem solucionados em função contribui-se para a qualificação da indústria da
da própria padronização quanto pelo estabeleci- construção civil.
mento de uma linguagem gráfica, descritiva e
de especificações que será comum a fabricantes,
3.3 O módulo
projetistas e construtores (LUCINI, 2001), facilitando
o entendimento entre os intervenientes do processo. Segundo a NBR 5706,“módulo é a distância en-
Isso acaba por disponibilizar mais tempo para o tre dois planos consecutivos do sistema que origina o
35
profissional de projeto abordar com mais intensi- reticulado espacial modular de referência” (ASSOCIA-
dade a criatividade arquitetônica. ÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1977).
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
3.4 Instrumentos da Coordenação Modular
Nesse sistema pode-se estabelecer um plano O módulo gerador do sistema deve ser, então,
horizontal de referência, definido por dois eixos car- um número inteiro em relação numérica simples
tesianos ortogonais x e y, e por dois planos verticais com o sistema de medidas a que se refere, e sua 37
de referência, definidos pelos eixos cartesianos or- função é a de servir como máximo denominador
togonais x, y e z (ROSSO, 1976). A Figura 11 mostra comum, como incremento unitário, como primeira
o ponto A, univocamente determinado no espaço a medida das grandezas da série modular, assim como
partir de suas projeções nos planos xy, zx e yz, defi- também a do intervalo dimensional base do sistema
nindo os respectivos pontos x’y’, x’z’ e y’z’. de referência. (MASCARÓ, 1976).
38
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
39
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
41
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
3.4.2.4 Medida de projeto do componente 3.4.3 Ajuste modular
Medida de projeto do componente é a medida Ajuste modular é a uma medida que relaciona
determinada no projeto para qualquer componente a medida de projeto do componente com a medida
da construção. Essa medida é sempre inferior à me- modular. Ele é representado por “aM”. O Ajuste modu-
lar estabelece a relação dos componentes da constru-
dida modular, pois leva em conta a tolerância de fa-
ção com o sistema de referência. Permite definir com
bricação e as juntas necessárias à perfeita adaptação
segurança os limites dimensionais dos elementos em
do componente no espaço que lhe é destinado, sem função das exigências de associação ou montagem.
invadir a medida modular do componente adjacente.
Ao se considerar a operação de colocação, as-
Ela é representada por “mPcomp”.
sociação e montagem de um componente em uma
posição previamente estabelecida no projeto arqui-
3.4.2.5 Junta modular
tetônico univocamente relacionada com o sistema
Junta modular é a distância prevista no proje- de referência, deve-se supor que essas operações se
to arquitetônico entre os extremos de dois compo- realizem sem a necessidade de adaptações e cortes
nentes, considerando-se a sua medida de projeto do do material. Para que isso aconteça, é necessário que
componente. os componentes, provenientes de fábricas diferentes,
possuam medidas idênticas às do projeto do compo-
A Figura 15 indica, para blocos cerâmicos, a nente, salvo as exigências de união com os outros
medida modular, a medida nominal, a junta modular componentes com os quais irão associar-se (EURO-
e o ajuste modular. PEAN PRODUCTIVITY AGENCY, 1962).
43
44
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
3.4.3.2 Ajuste modular negativo
O ajuste modular negativo ocorre quando o es- Para o ajuste modular negativo, tem-se:
paço modular é excedido, como no caso do exemplo
aM = nM – mPcomp
da Figura 17, em que o sistema de união dos painéis é
e
feito por superposição. O ajuste modular é negativo,
aM < 0.
pois a medida modular (nM) é menor que a medida
de projeto do componente (mPcomp).
45
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
3.5 Projeto modular quando se trabalha com Coordenação Modu-
lar, consideram-se medidas “em osso” para o
O projeto modular, segundo o BNH/IDEG
posicionamento dos componentes. Também se
(1976), é baseado no sistema de referência, através considera o componente em sua projeção ortogonal
do quadriculado modular de referência. Dessa forma, (como nas vistas ortográficas).
as plantas baixas, fachadas e cortes que compõem o
projeto se desenvolvem sobre o quadriculado, permi- A posição do componente em relação ao qua-
tindo coordenar a posição e as dimensões dos com- driculado modular de referência será escolhida em
ponentes de construção. Isso facilita não somente a função de necessidades técnicas e econômicas, as
realização do projeto, simplificando sua representa- quais determinarão qual das três posições será a mais
ção, mas também a montagem dos componentes na conveniente (BANCO NACIONAL DA HABITAÇÃO;
execução da obra, reduzindo a ocorrência de cortes. INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Por isso, para o projeto modular, deve-se procurar a E GERENCIAL, 1976).
melhor solução diante dos inúmeros componentes 3.5.1.1 Posição simétrica
que deverão ser considerados, atendendo da melhor
Na posição simétrica o componente terá o seu
forma a todas as exigências.
eixo posicionado sobre uma linha do quadriculado
3.5.1 Posição dos componentes em relação ao modular de referência, facilitando, na prática, a mar-
quadriculado modular de referência cação da obra. A medida entre os eixos dos compo-
Um componente pode ocupar três posições nentes será uma medida modular.
distintas em relação ao quadriculado modular de re- Se a distância face a face do componente for
ferência. O posicionamento é sempre feito conside- uma medida modular, a distância do eixo do compo-
rando-se somente a dimensão do componente em re- nente à sua face também será uma medida modular.
lação ao quadriculado modular, ou seja, sem agregar A Figura 19 exemplifica blocos em posição simétri- 47
a dimensão de nenhum tipo de acabamento (reboco, ca em relação a uma linha do quadriculado modular
azulejo, cerâmica, pedra, entre outros). Portanto, de referência.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
3.5.2 Componentes modulares A seleção tem por intuito reduzir a variedade
de tipos para atender às necessidades dos projetistas,
Segundo a ABNT ([1975?]), para ser modular-
simplificar as linhas de produção e facilitar a esto-
mente coordenado, um componente deve atender
cagem. A correlação pretende definir as relações de
a três critérios básicos: seleção, correlação e inter-
reciprocidade que facilitam a disposição dos com-
cambialidade.
ponentes. Por fim, a intercambialidade assegura as
condições que facilitam a montagem, estabelecendo
critérios e normas para os ajustes e as tolerâncias.
Esses três critérios asseguram as condições
de adição e combinabilidade entre todos os com-
ponentes (EUROPEAN PRODUCTIVITY AGENCY,
1962). Exemplo disso é mostrado na Figura 22,
onde uma mesma medida modular é preenchida
de várias formas a partir da adição e combinação
de componentes diversos, com dimensões modu-
lares diferentes.
A seguir, apresenta-se uma planta baixa mo-
dular a partir de blocos de espessura 2M (dimensão
nominal de 19 cm) e de comprimento 4M (dimen-
são nominal de 39 cm), sobre o quadriculado modu-
lar de referência 1M x 1M. A cotagem do projeto é
feita com a medida modular, ou seja, com a quanti- 49
dade de módulos em cada parede (Figura 23).
Na Figura 24 há a indicação da “Vista 01”. Essa
vista se refere à elevação da parede, mostrando o po-
sicionamento exato de cada bloco e os vãos da janela
e da porta, com suas respectivas medidas modulares.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
51
Figura 24 - Elevação de parede executada em alvenaria modular de blocos
52
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Assim, quando é necessário separar uma edifica- rência (Figura 27).
ção em partes totalmente independentes, com o em-
O emprego da zona neutra é, no entanto, res-
prego de juntas de dilatação, é conveniente manter o
trita a casos de absoluta necessidade. O seu empre-
alinhamento dos reticulados espaciais de referência de
go mais generalizado levaria à anulação das reais
cada uma das partes, separando-os somente de acordo
vantagens do emprego de um único sistema de re-
com essas juntas de dilatação, como ilustra a Figura 26.
ferência na elaboração de um projeto. Entretanto,
Ainda, quando o projeto da edificação for a Coordenação Modular, sendo uma ferramenta de
composto de blocos ou partes não ortogonais entre projeto, não poderá se superpor ao projeto arqui-
si, usa-se a zona neutra. Haverá, assim, uma faixa de tetônico, utilizando-se, nesses casos, a zona neutra
sobreposição dos quadriculados modulares de refe- para compatibilizar as incongruências resultantes.
53
4.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
4.
Desenvolvimento de estudos no Brasil
S
eguindo o exemplo dado pelos países europeus, do Canadá e dos Estados Unidos, o Brasil também pro-
moveu estudos sobre a Coordenação Modular.
Em 21 de maio de 1947, foi concluído o primeiro projeto de norma. Constituíam, então, a Comissão
Permanente da Modulação das Construções os seguintes membros: o engenheiro Jorge Mendes de Oliveira
Castro, como presidente; Augustinho Sá, como secretário; o engenheiro-arquiteto Edgard de Oliveira Fonseca,
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
25, intitulada Coordenação Modular da Construção do Scheinkman (ABNT), Teodoro Rosso (Bouwcen-
– bases, definições e condições básicas, publicada trum), Edgar de O. Fonseca (PUC e FAU Santa Úrsula),
em 1969. Esta norma, segundo o CBC (1969), deveria Walmor José Prudêncio (FAU/UFRJ), Léo Nishikawa
“desempenhar um papel fundamental na implanta- (Bouwcentrum) e Felix von Ranke (ABNT). Após
ção desta metodologia9 no Brasil”. a exposição do arquiteto Bernardo Scheinkman,
representante da ABNT, a comissão apreciou e dis-
A comissão incumbida da revisão da primeira
cutiu, com os representantes do Bouwcentrum, os
norma brasileira tinha uma tarefa mais ampla do que
pormenores do trabalho que, no momento, estava
simplesmente revisá-la. Era necessário, na época, es-
sendo realizado no CBC, por iniciativa do BNH e
tabelecer um planejamento para:
em colaboração com a ABNT, para a formulação de
a) dinamizar a normalização em âmbito na- um Plano de Implantação da Coordenação Modular
cional; no Brasil (CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO
b) dinamizar a divulgação da mesma nor- BOUWCENTRUM, 1969).
malização; e O Plano de Implantação da Coordenação Mo-
c) examinar as possibilidades de ampliar a dular da Construção foi um estudo realizado pelo
coordenação entre entidades relacionadas CBC, contratado pelo BNH, em 24 de setembro de
com a construção, objetivando o emprego 1969, no Rio de Janeiro. Conforme o contrato entre
da Coordenação Modular em conformidade as partes, esse plano deveria se restringir à formula-
com os interesses nacionais (CENTRO BRASI- ção pura e simples de uma estratégia de aplicação,
LEIRO DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM, através da análise fenomenológica e funcional, dos
1969). componentes tradicionais e não tradicionais, e deve-
ria estabelecer um conjunto de regras ou comprovar
Nesse sentido, foi realizada, em 17 de dezem- as que já foram formuladas em âmbito internacional, 57
bro de 1969, uma reunião na sede da ABNT, em Gua- principalmente para a formação de uma sistemática
nabara, com a participação de Newton Müller Ran- básica aplicável às condições peculiares do Brasil.
gel (do BNH e presidente da comissão), Luiz Manoel Essa sistemática permitiria aplicar o conhecimento
Villela (DEP), Pompeu Barbosa Accioly (CNI), Bernar- adquirido nas pesquisas desenvolvidas, em cursos,
9
Na acepção dos autores do CBC, a Coordenação Modular foi conceituada como metodologia, mas atualmente poderia ser tratada como “ferramenta
de projeto”.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
das soluções estudadas e propostas nas duas etapas NAL DA HABITAÇÃO; CENTRO BRASILEIRO DA
anteriores (CENTRO BRASILEIRO DA CONTRUÇÃO CONTRUÇÃO BOUWCENTRUM, 1970).
BOUWCENTRUM, 1971c).
O programa da exposição constava de defini-
Outra iniciativa para a promoção da divulga- ções e proposições. Dentro das definições, seriam
ção e de estudos sobre a Coordenação Modular foi mostradas imagens e textos, tanto nos aspectos his-
“O Noticiário da Coordenação Modular”, uma publi- tóricos como nos processos industriais relativos à
cação de circulação nacional, produzida pelo CBC Coordenação Modular. Como propostas, seriam apre-
durante pouco mais de dois anos, em convênio com sentadas algumas soluções ou recomendações que o
o BNH. Sua primeira edição foi publicada em dezem- Bouwcentrum havia encontrado em suas pesquisas.
bro de 1969, a partir da qual teve periodicidade men-
A publicação “Elementos para a avaliação do
sal ou bimestral.
impacto da racionalização e da Coordenação Modu-
O Noticiário era veículo de informações sobre lar na indústria de materiais de construção”, de ju-
a Coordenação Modular e a industrialização da cons- lho de 1978, foi referente a uma pesquisa realizada
trução nos âmbitos nacional e internacional. Na épo- na indústria de materiais da construção, patrocinada
ca, o CBC estava realizando o Plano de Implantação pelo BNH, com a finalidade de tatear a reação das
da Coordenação Modular e, na redação do Noticiário, indústrias de materiais de construção em relação
tornava de conhecimento público tudo o que esta- à Coordenação Modular (BANCO NACIONAL DA
va acontecendo em relação à Coordenação Modular. HABITAÇÃO; INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO
Segundo o CBC (1970c), o grande número de cartas ECONÔMICO E GERENCIAL, 1978).
recebidas solicitando a remessa a pessoas não incluí-
Ainda foi realizada uma experiência piloto,
das na lista inicial de leitores provava a receptividade
planejada em dezembro de 1978, logo após a avalia-
e o interesse despertado. Esse fato obrigou o CBC 59
ção do impacto da racionalização e da Coordenação
a reimprimir os primeiros capítulos para atender a
Modular na indústria de materiais de construção. Se
todos os pedidos.
a implantação da Coordenação Modular em âmbito
Ainda dentro das atividades de divulgação e nacional era utópica e imprudente (BANCO NACIO-
promoção que o CBC deveria realizar, estava uma NAL DE HABITAÇÃO; INSTITUTO DE DESENVOLVI-
exposição itinerante de caráter didático, como meio MENTO ECONÔMICO E GERENCIAL, 1980), o BNH
para a divulgação da Coordenação Modular, que per- optou, então, pela aplicação experimental da Coorde-
mitiria, segundo o próprio CBC, alcançar um público nação Modular mediante uma experiência piloto em
mais heterogêneo do que seria possível por meio de uma área geográfica restrita. Os critérios utilizados
outros canais mais especializados (BANCO NACIO- para a escolha da sede da experiência piloto foram
10
As normas estão disponíveis na ABNT (www.abnt.org.br).
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
61
Figura 28 - Lista das normas referentes à Coordenação Modular publicadas pela ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2007)
62
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Lucini (2001) finaliza apontando que a dimen-
são precisa da esquadria é uma decisão particular de
cada fabricante, em função do projeto do produto
e da tecnologia empregada (enquanto responda aos
critérios mínimos de modulação de vãos e juntas
estabelecidos). As dimensões de esquadrias sempre
devem fazer referência ao vão modular. Assim, o vão
modular é múltiplo do módulo decimétrico; o vão
vedação é o vão modular mais 1 cm; a dimensão da
esquadria é o vão modular menos 5 cm; o vão ilumi-
nação/ventilação é o vão modular menos 10 cm, ou
a dimensão da esquadria menos 5 cm.
Este Manual vem suprir as deficiências dei-
xadas pelas normas de Coordenação Modular que
tratam do assunto: a NBR 5708 – Vãos modulares e
seus fechamentos: procedimento, a NBR 5722 – Es-
quadrias modulares: procedimento, e a NBR 5728
– Detalhes modulares de esquadrias: procedimen-
to, que não especificam nenhuma medida preferida
ou preferível para as esquadrias.
Essa situação mostra a necessidade de as nor-
mas serem urgentemente revisadas e complemen- 63
tadas, assim como também Códigos de Edificação
e Códigos de Obra. É também imprescindível o
engajamento de todos os intervenientes da cadeia
produtiva da construção civil para que se possa usu-
fruir as vantagens decorrentes do uso da Coordena-
ção Modular.
5.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
5.
Coordenação modular e conectividade
O
s países industrializados – da Europa e da América do Norte –, que adotaram efetivamente a Co-
ordenação Modular nas décadas de 50 e 60, atualmente seguem utilizando-a no dia-a-dia da cons-
trução civil, desde o projeto dos componentes, passando pela formação dos profissionais nas
65
Universidades e chegando aos canteiros de obras.
A evolução da Coordenação Modular nesses países chegou ao que se chama de conectividade, que utiliza
os recursos de informática e informatização conjuntamente com os equipamentos industriais informatizados.
Isso permite a produção de componentes dimensionados de acordo com as necessidades de cada projeto e/ou
cliente, desde que a conectividade entre eles esteja perfeitamente resolvida. A Figura 30, fazendo um paralelo
a um quebra-cabeças, mostra as “peças” (componentes construtivos) perfeitamente compatíveis umas com as
outras, fazendo com que a etapa de montagem (obra) entre elas seja totalmente previsível.
O futuro indica uma evolução no desenvolvi- buscados. Portanto, torna-se imprescindível que haja
mento da conectividade entre os componentes, sem- um senso comum, fazendo com que cada um atue res-
pre levando em consideração que a Coordenação ponsavelmente dentro da sua esfera. Todos os interve-
Modular é o fundamento de todo o processo. nientes devem estar mobilizados e interessados quanto
ao fato de a Coordenação Modular só trazer benefícios,
5.2 No Brasil apesar dos necessários ajustes iniciais, principalmente
em relação à fabricação dos componentes.
Apesar dos avanços nos países industrializados e
66 ainda que no Brasil também já haja estudos relativos à Alguns trabalhos que estão sendo realizados hoje
conectividade, por exemplo, ainda tem-se um longo ca- no Brasil se constituem em meio importante para a im-
minho a percorrer, que deve passar por todos os inter- plantação da Coordenação Modular, apesar de não a
venientes do processo construtivo, tanto em relação ao terem como foco específico. A Coordenação Modular
conhecimento do que se trata a Coordenação Modular participa, em última análise, dos objetivos de todas es-
quanto em efetivar ações para sua implantação. sas ações e deve, portanto, rapidamente ser colocada
Certamente existem muitos interesses em cada de forma explícita dentro delas, para que não sejam
um dos intervenientes da cadeia produtiva da cons- perdidas novas oportunidades para sua implantação. O
trução civil, o que gera procedimentos desconexos e Programa Brasileiro de Produtividade e Qualidade no
contraditórios, regredindo os avanços que devem ser Habitat (PBQP-H) tem uma ação global sobre a cadeia
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
produtiva e poderia ser a peça-chave dessa mobiliza- compulsória/definitiva, com a inclusão em códigos de
ção, pois alia agentes públicos e privados. edificações, e a ela condicionando a obtenção de finan-
ciamento público e participação em concorrências pú-
Com as dimensões dos componentes construti-
blicas, tendo-se situações intermediárias de adequação
vos especificadas dentro dos princípios da Coordena-
por parte dos fabricantes e revisões periódicas pelas
ção Modular, o consumidor poderá se deter em outros
instituições responsáveis, criando um sistema de fun-
quesitos, como durabilidade, estética, resistência e pra-
cionamento de normalização que está sempre se aper-
ticidade, que se tornariam fator de maior competitivi-
feiçoando.
dade entre os fabricantes e que atualmente têm sido
bastante desenvolvidos entre as indústrias que se preo- Também é importante um posicionamento por
cupam com a qualidade de seus produtos. O consumi- parte dos órgãos de estímulo e financiamento para a
dor comparará produtos com as mesmas características aquisição de equipamentos industriais importados,
dimensionais e encontrará o diferencial em outros que- com o intuito de não se terem equipamentos com ou-
sitos, como o preço, por exemplo, que muitas vezes é tro sistema de medidas. Para realizar esse tipo de inter-
fator decisivo. venção, são necessários instrumentos legais, que só o
poder público pode fornecer.
A busca por selos, certificações e outros “títulos”
por parte dos fabricantes gera grande confusão ao con- A partir do momento em que for montada uma
sumidor, que, sem conhecimentos técnicos, acaba sem estratégia de implantação da Coordenação Modular
saber exatamente do que se trata e em relação a que se com prazos estipulados, a instituição organizadora da
trata. Uma certificação é dada em relação a um universo estratégia deve esclarecer explicitamente aos interve-
limitado de normas técnicas e seria interessante espe- nientes da cadeia produtiva o que vai ser feito e como
cificar ao consumidor quais são elas. Nenhum produto vai ser feito, para que não sejam geradas falsas expecta-
está certificado em relação às normas de Coordenação tivas e se recair na situação da não-aplicação dos princí-
Modular. No entanto, uma mercadoria pré-medida junto pios da Coordenação Modular. 67
ao INMETRO, como uma peça cerâmica com Certifica-
Dentro do caminho a percorrer no Brasil para a
ção Voluntária, por exemplo, recebe um selo da insti-
implantação da Coordenação Modular, os profissionais
tuição e os dizeres:“Em conformidade com as Normas
e estudantes das áreas de Arquitetura e Engenharia têm
Técnicas”. Mas quais são elas? Essa é uma dúvida que
papel fundamental e devem estar conscientes e parti-
certamente vai rodear o consumidor.
cipantes de todo o processo, sempre tendo como foco
A diversidade e a incoerência das normas geram o fato de que a Coordenação Modular é o princípio, o
confusão em relação à sua implantação. Poderia pen- meio e o fim da racionalização da construção, desde a
sar-se em uma situação inicial de norma (ou projeto de fase do projeto dos componentes até a fase da utiliza-
norma) voluntária/experimental e, por fim, uma norma ção da edificação.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
Referências bibliográficas
ANGIOLETTI, R.; GOBIN, C.; WECKSTEIN, M. Sustainable development building design and construction
– twenty-four criteria facing the facts. In: Managing for sustainability – endurence through change – simpo-
sium D: Construction and the environment. Anais... Gävle: CIB World Building Congress, 1998.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5706: Coordenação Modular da construção: proce-
dimento. Rio de Janeiro, 1977.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5725: Ajustes modulares e tolerâncias: procedimen-
to. Rio de Janeiro, 1982.
Referências bibliográficas
BALDAUF, A. S. F. Contribuição à implementação da coordenação modular da construção no Brasil.
2004. 146 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2004.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada
CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM. Noticiário da Coordenação Modular. São
Paulo: BNH/CBC, n. 23-24, out./nov. 1971a.
CHING, F. D. K. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG. DIN 18000: Modulordnung im Bauwesen. Berlin, 1984.
FERREIRA, A. B. H. Novo Aurélio século XX: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Frontei-
ra, 1999.
71
GÖSSEL, P.; LEUTHÄUSER, G. Architecture in the twentieth century. Köln:Taschen, 1991.
GREVEN, H. A. Coordenação Modular. In: GREVEN, H. A. Técnicas não convencionais em edificação I. Por-
to Alegre: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000.
Notas de aula.
LISBOA. Ministério das Obras Públicas. Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Racionalização do pro-
cesso de projecto 1 – coordenação dimensional modular: princípios e aplicações. Lisboa: Ministério das
Obras Públicas, 1970.
LUCINI, H. C. Manual técnico de modulação de vãos de esquadrias. São Paulo: Pini, 2001.
MASCARÓ, L. E. R. de. Coordinación modular? Qué es? Summa, Buenos Aires, n. 103, p. 20-21, ago. 1976.
72 TECHNISCHE HOCHSCHULE HANNOVER. Massordnung im Bauwesen: Stand in den ECE-Ländern. In: Lehr-
gebiet für Präfabrikation im Bauwesen, 1967.
VIÑOLA, J. B. de. Tratado de los 5 ordenes de arquitectura. Buenos Aires: Construcciones, 1948.
YEANG, K. Proyectar com la natureza: bases ecológicas para el proyecto arquitectónico. Barcelona: GG,
1999.
Coleção Habitare - Introdução à Coordenação Modular da Construção no Brasil - Uma Abordagem Atualizada