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Mecânica II

Prof. Rudiney Hoffmann Casali

2019
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof. Rudiney Hoffmann Casali

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

C334m

Casali, Rudiney Hoffmann

Mecânica II. / Rudiney Hoffmann Casali. – Indaial: UNIASSELVI,


2019.

221 p.; il.

ISBN 978-85-515-0263-1

1.Mecânica – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 531

Impresso por:
Apresentação
Este trabalho é uma continuação daquele iniciado com a obra Mecânica
I e pretende encerrar a cobertura do tópico de mecânica. Aqui trataremos
do movimento circular dos corpos, do movimento oscilatório dos corpos e
da dinâmica dos fluidos. Começaremos nosso percurso com a cinemática
rotacional e os movimentos circulares uniformes e uniformemente variados.

Depois voltaremos nossa atenção para a dinâmica rotacional e a


origem do movimento circular dos corpos e a descrição da dinâmica de corpos
rígidos. A seguir debateremos o equilíbrio de forças, as condições para esse
equilíbrio e a estática dos corpos. Falaremos ainda de centro de gravidade,
o ponto geométrico em que consideramos que a força gravitacional atua nos
corpos. Você perceberá que este ponto serve, meramente, como ferramenta
matemática, uma vez que é claro que todo o corpo, e não apenas um ponto que
sofreria a ação da força da gravidade. Em seguida vamos falar dos sistemas
que oscilam no tempo: o movimento harmônico simples será uma referência
na Unidade 2, assim como os movimentos circular uniforme e uniformemente
variado o serão na Unidade 1. Falaremos também de sistemas oscilantes, como
o bloco-massa, os pêndulos simples e físico. Oscilações amortecidas, forçadas
e ressonantes também serão debatidas. Por fim, na Unidade 3 discutiremos
os fluidos, estáticos e dinâmicos. Partiremos da própria definição de fluido,
ainda estáticos, e discutiremos conceitos como pressão, compressibilidade
em fluidos e os princípios Pascal e Arquimedes. Em seguida lidaremos com
o escoamento dos fluidos, sua dinâmica, discutiremos a equação de Bernoulli
e o efeito Venturi, além das leis de conservação que regem a mecânica dos
fluidos.

A intenção deste trabalho é a de abordar de forma abrangente, e


ainda levemente contemplativa, a natureza e seus fenômenos pertinentes ao
universo da mecânica que criamos em nossas mentes. Nossa capacidade de
entender do mundo concilia espaço em nosso desenvolvimento pessoal com
nossa capacidade de observar o mundo e também de descrevê-lo. Todas essas
capacidades devem ser aprimoradas em seu curso pela vida acadêmica e são
foco neste trabalho, mas é necessário também reavivar nossa capacidade de
nos maravilharmos com os fenômenos da natureza e com a maneira como a
ciência lida com eles e tenta descrevê-los em uma linguagem com diferentes
níveis de complexidade para diferentes círculos de convívio.

Do cientista que trabalha com a pesquisa de ponta ao cidadão comum


que usufrui das aplicações tecnológicas oriundas da pesquisa científica, todo
cidadão deve ser capaz de observar um fenômeno natural e ter uma ideia
razoável do que se passa. A difusão do conhecimento científico é fundamental
para o estabelecimento de uma sociedade racional e bem informada, e será

III
sua função primordial difundir o conhecimento científico entre os jovens,
em suas idades ainda mais vicejantes. Você será o primeiro contato desses
estudantes com o mundo científico e tem a tarefa de cativá-los, como adeptos
dos estudos científicos. A liberdade de pensamento e questionamento é
fundamental nesse momento e você deve instigá-los a fazer perguntas,
formular hipóteses, propor experimentos, discutir problemas complexos.
Como professor, será sua função concatenar talentos e conceitos matemáticos,
lógicos, literários, químicos, biológicos e físicos. O mundo é feito dessas e de
outras especiarias.

Em essência, a física é o estudo dos constituintes mecânicos


fundamentais do universo, da matéria e da energia, que se estende das
partículas fundamentais dentro dos átomos à teoria dos muitos mundos e
todos esses trabalhos estão ligados de alguma forma à ciência da computação,
à engenharia ou às matemáticas, de modo que é imprescindível que o
acadêmico se conscientize de que é necessário empenho e disciplina para
alcançar o domínio de todas essas áreas. Aqueles que buscam a instrução na
área de física precisarão de um senso inquisitivo presente constantemente
em mente, uma aptidão e gosto pessoal pela matemática e um olho atento aos
detalhes. A transição de uma física realizada com papel, lápis e cálculos àquela
que faz uso do suporte oferecido pelos desenvolvimentos tecnológicos e pela
difusão da literatura temática e atualizada ocorreu ao longo dos anos e hoje
esse novo paradigma científico está estabelecido, o que demanda constante
atualização do físico e do professor de física. Será exigida de você ciência,
mesmo que superficial, dos principais fenômenos físicos que impulsionam
nossa produção tecnológica, mesmo que esses tenham sido compreendidos
apenas nos tempos mais recentes.

A física pode ser um assunto complicado para se atingir a maestria,


e os anos mais tenros do aprendizado podem apresentar uma curva de
aprendizado especialmente íngreme. Embora a carga de conteúdos possa
parecer pesada e complicada, não desanime, entre em contato com seus
professores e colegas, coloque suas dúvidas à discussão, envolva-se de
verdade no seu processo educacional e aprenda a se tornar o principal ator
de sua própria educação. Faça anotações, debruce-se sobre os conceitos,
vá a fundo em sua abstração dos fenômenos físicos. Apenas quando você
toma consciência de seu atual estado de capacitação é possível garantir o
aprendizado. Por isso, caro acadêmico, o aprendizado passa também por
você e por seu compromisso em adquiri-lo.

Como futuro profissional do ensino de física, estará em suas mãos


incentivar, estimular e promover nos mais jovens o gosto pela ciência, pelo
raciocínio lógico e pela razão. Para concretizar essa tarefa provocativa, deverá
ao mesmo tempo incitar em seus estudantes o amor pela matemática e o
traquejo no tato com ela. A linguagem matemática se tornou uma linguagem
enigmática para grande parte dos estudantes e com ela sua percepção de
mundo, sua tarefa como professor não será fácil, mas talvez aí mesmo residam

IV
suas maiores chances de realização profissional, se assim escolher para seu
futuro. Ser professor é uma tarefa edificante também para o profissional,
a atualização conceitual e a diversificação de suas habilidades intelectuais
devem ser parâmetros para sua formação, estabelecidos e fiscalizados por
você mesmo, como um regimento, incorporado e estabelecido a sua rotina
diária. Informe-se, procure aprofundar seus conhecimentos no maior número
de áreas possíveis, você perceberá que tal prática se tornará cotidiana e
rotineira.

Neste livro pretendemos fomentar essa interação entre conceitos,


principalmente aqueles entre a física e a matemática. Você deve dominar a
matemática para poder compreender profundamente os conceitos físicos. A
matemática encerra em um conjunto de alguns caracteres um enorme volume
de informação conceitual e você deve ser capaz de analisar uma equação
matemática empregada na descrição de um fenômeno físico e realizar as
devidas conexões conceituais. Temos como objetivo usar uma linguagem
simplificada, como se mantivéssemos uma conversa. Será sugerida, ao longo
do caminho, a leitura de trabalhos interessantes para um aprofundamento
em determinado tópico. Serão em geral artigos de ensino de física, o que lhes
cairá muito bem.

Mantenha em mente que em nosso dia a dia estamos expostos a


fenômenos naturais provenientes de diferentes escopos da física, lembre-se
disso a cada novo tópico. Permita-se buscar conhecimento em outras fontes,
permita-se ir além do que está escrito nessas páginas, a ideia aqui é que
você seja capaz de interpretar e antever o mundo, formular suas próprias
hipóteses. Boa viagem.

Prof. Rudiney Hoffmann Casali

V
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

VI
VII
VIII
Sumário
UNIDADE 1 – CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL....................................................... 1

TÓPICO 1 – CINEMÁTICA ROTACIONAL...................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 CINEMÁTICA ROTACIONAL........................................................................................................... 3
2.1 MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORME (MCU)......................................................................... 4
2.1.1 Ângulo varrido, arco de circunferência e relações como movimento retilíneo.............. 4
2.1.2 Velocidade angular média e instantânea.............................................................................. 5
2.1.3 Função horária da posição angular....................................................................................... 9
2.2 MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORMEMENTE VARIADO (MCUV)................................... 11
2.2.1 Aceleração angular média e instantânea.............................................................................. 11
2.2.2 Aceleração linear no movimento circular............................................................................ 12
2.2.3 Função horária da velocidade angular................................................................................. 15
2.2.4 Função horária da posição angular....................................................................................... 18
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 22
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 23

TÓPICO 2 – DINÂMICA ROTACIONAL........................................................................................... 25


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 25
2 MOVIMENTO DE UM CORPO RÍGIDO........................................................................................ 25
3 ROTAÇÕES COMO REPRESENTAÇÃO VETORIAL................................................................... 29
4 MOMENTO DE INÉRCIA................................................................................................................... 32
5 TORQUE, TRABALHO E POTÊNCIA DE UMA FORÇA............................................................. 33
6 MOMENTO ANGULAR...................................................................................................................... 39
7 SISTEMA DE PARTÍCULAS E SEU MOMENTO ANGULAR.................................................... 42
8 CONSERVAÇÃO DE MOMENTO ANGULAR.............................................................................. 44
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 46
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 47

TÓPICO 3 – DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS............................................................................ 49


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 49
2 ROTAÇÃO COM EIXO FIXO............................................................................................................. 51
3 CÁLCULO DO MOMENTO DE INÉRCIA...................................................................................... 54
4 FORÇAS CENTRÍPETA E CENTRÍFUGA........................................................................................ 65
5 FORÇA DE CORIOLIS......................................................................................................................... 68
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 73
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 77
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 78

UNIDADE 2 – EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO.......................................................... 81

TÓPICO 1 – EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE............................................................. 83


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 83
2 CONDIÇÕES PARA O EQUILÍBRIO DE FORÇAS ...................................................................... 85

IX
3 ESTÁTICA DE CORPOS RÍGIDOS.................................................................................................. 86
4 O PRINCÍPIO DA ALAVANCA......................................................................................................... 88
5 O CENTRO DE GRAVIDADE............................................................................................................ 89
6 TENSÃO E DEFORMAÇÃO DE MATERIAIS................................................................................ 94
7 FORÇA DE FLEXÃO E FORÇA DE CISALHAMENTO................................................................ 98
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 103
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 104

TÓPICO 2 – MOVIMENTO HARMÔNICO....................................................................................... 107


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 107
2 MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES (MHS)........................................................................... 107
2.1 SISTEMA MASSA-MOLA IDEAL.................................................................................................. 107
2.2 O MOVIMENTO HARMÔNICO E O MOVIMENTO CIRCULAR.......................................... 116
2.3 MHS E SUAS ENERGIAS................................................................................................................ 118
2.4 MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO (MHA)............................................................. 124
2.5 MOVIMENTO HARMÔNICO FORÇADO AMORTECIDO (MHFA)...................................... 131
3 SISTEMAS OSCILANTES................................................................................................................... 142
3.1 PÊNDULO SIMPLES........................................................................................................................ 142
3.2 PÊNDULO DE TORÇÃO................................................................................................................. 147
3.3 PÊNDULO FÍSICO........................................................................................................................... 151
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 155
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 161
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 162

UNIDADE 3 – FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA............................................ 163

TÓPICO 1 – FLUIDOS............................................................................................................................. 165


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 165
2 DEFINIÇÃO DE UM FLUIDO............................................................................................................ 165
3 VISCOSIDADE DE UM FLUIDO...................................................................................................... 167
4 PRESSÃO E SUA MEDIDA EM UM FLUIDO................................................................................ 171
4.1 FLUIDOS COMPRESSÍVEIS E INCOMPRESSÍVEIS................................................................... 172
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 177
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 178

TÓPICO 2 – HIDROSTÁTICA.............................................................................................................. 181


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 181
2 PRINCÍPIO DE PASCAL...................................................................................................................... 181
3 PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES.................................................................................................. 185
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 190
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 191

TÓPICO 3 – HIDRODINÂMICA.......................................................................................................... 193


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 193
2 O ESCOAMENTO DE UM FLUIDO................................................................................................. 193
3 REGIMES DE ESCOAMENTO DE UM FLUIDO........................................................................... 195
3.1 EQUAÇÃO DE BERNOULLI.......................................................................................................... 198
3.2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE................................................................................................ 203
3.3 EFEITO COANDĂ............................................................................................................................ 206
3.4 EFEITO MAGNUS............................................................................................................................ 209
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 213

X
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 216
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 217
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 219

XI
XII
UNIDADE 1

CINEMÁTICA E DINÂMICA
ROTACIONAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o mundo da física rotacional;

• identificar a cinemática rotacional como análoga à retilínea;

• reconhecer o movimento circular uniforme;

• distinguir o movimento circular uniformemente variado;

• discutir a dinâmica rotacional;

• tratar a dinâmica dos corpos rígidos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CINEMÁTICA ROTACIONAL

TÓPICO 2 – DINÂMICA ROTACIONAL

TÓPICO 3 – DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CINEMÁTICA ROTACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Vimos anteriormente que a descrição do movimento de corpos no espaço
acarreta a aplicação do cálculo diferencial e integral na formulação das equações
correspondentes. Lá pretendíamos descrever a translação espacial de um corpo,
de um ponto inicial em uma posição xi até um ponto final em uma posição xf.
Uma vez conhecidas as expressões da cinemática translacional, poderíamos
então partir para a descrição das relações de força entre os corpos no espaço,
contemplando assim a dinâmica dos corpos. Aqui estamos também interessados
na descrição da cinemática e da dinâmica dos corpos, porém em um movimento
rotacional. A rotação dos corpos possui particularidades, uma vez que se trata de
um movimento periódico, em que um corpo inicia e, possivelmente, finaliza seu
movimento na mesma posição x do espaço. Eventualmente em uma condição em
que `xi = xf.

Iniciaremos nossa incursão na descrição da dinâmica rotacional através


de uma recapitulação da cinemática rotacional, definindo grandezas básicas,
como o ângulo varrido, a velocidade e a aceleração angular, e partiremos para as
grandezas rotacionais análogas àquelas do movimento retilíneo, como o momento
de inércia, o torque e o momento angular. Por fim, encerramos a unidade com a
rotação de um corpo rígido em volta de um eixo e também com o cálculo do
momento de inércia em diversas situações.

2 CINEMÁTICA ROTACIONAL
No primeiro livro dedicado à mecânica focamos nossa atenção
primordialmente no movimento de corpos no espaço. Debatemos enfaticamente
os movimentos retilíneos uniformes (MRU) e uniformemente variados (MRUV)
e fizemos uma breve introdução ao movimento circular uniforme (MCU) e
uniformemente variado (MCUV).

Nesse trabalho pretendemos nos debruçar com mais empenho sobre a


descrição do movimento circular, suas origens e consequências.

3
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

2.1 MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORME (MCU)


O MCU é definido como o deslocamento bidimensional de um corpo
no plano formado pelas duas dimensões, de modo que este inicia sua travessia
em uma posição pela qual voltará a passar periodicamente, em um movimento
circular que pode ser interpretado como ao redor de um eixo que passe por um
ponto específico no plano. Tridimensionalmente, o movimento circular não
precisa necessariamente passar pelo ponto inicial, porém manterá um movimento
periódico ao redor de um ponto específico no espaço.

Começaremos nossa digressão circular pelo básico, tratando dos ângulos


varridos por um corpo em movimento, suas taxas temporais de variação e sua
aplicação na dinâmica desses corpos. Observaremos as analogias sempre que
possível, elas facilitam o entendimento e nos servirão de guia.

2.1.1 Ângulo varrido, arco de circunferência e relações


como movimento retilíneo
Uma vez posto em movimento circular podemos descrever a trajetória de
um corpo em termos da abertura angular que ele faz com a posição de origem.
Essa abertura pode ser de um quarto de volta, meia volta, uma volta inteira ou
um número real de voltas ao redor de uma posição central. Observe o gráfico
a seguir, ela apresenta um arco de circunferência que conecta os pontos AB,
descrevendo um ângulo θ em relação ao eixo x:

GRÁFICO 1 – ARCO DE CIRCUNFERÊNCIA

FONTE: O autor

4
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

Podemos imaginar que um corpo, inicialmente posicionado na posição B,


se moveu até a posição A através da linha que demarca o arco de circunferência
s. Com dois arcos desse tamanho por quadrante, podemos dizer que o corpo
realizou um oitavo de volta completa. A raio da circunferência vale r = OB = OA.
Note que o seguimento OC pode ser entendido como a projeção do seguimento
OA sobre o eixo dos x, de modo que podemos definir:

CA
senθ = (1.1)
OA

Note porém que, à medida que o segmento CA → 0, temos também que o


arco corresponde s → CA. Além disso, nessa mesma medida, temos que θ → 0 e por
sua, vez sinθ → θ, de maneira que s = OAθ. Uma vez que o raio da circunferência
é dado por r = OA, temos que:

s = rθ (1.2)

Essa definição será de grande importância quando definirmos a velocidade


tangencial no ponto A, mas deixaremos isso para mais adiante.

2.1.2 Velocidade angular média e instantânea


Voltemos nossa atenção para o gráfico a seguir, que apresenta uma
circunferência de raio r, Observe que ambos os vetores partem da origem O, mas
um deles passa também pelo ponto A e o outro passa pelo ponto B, e ambos
os módulos multiplicam vetores unitários r. Perpendicular a um dos vetores há
também um vetor tangente à circunferência, no ponto A.

GRÁFICO 2 – CIRCUNFERÊNCIA E SEUS VETORES UNITÁRIOS

FONTE: O autor

5
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

Esse vetor tangente à circunferência é também perpendicular a ela e


^
aponta na direção θ. Note no gráfico seguinte que o vetor velocidade linear Š
v = vθ
^
aponta na direção do vetor unitário θ. O tempo necessário para uma revolução é
o período do movimento circular, definido como:

2 πr
T= (1.3)
f

Em que f é a frequência de rotação, com [f] = #oscilações/s.

GRÁFICO 3 – VETOR POSIÇÃO E VETOR VELOCIDADE

FONTE: O autor

Ao observar o gráfico anterior, é válido observar que quando um corpo se


move em um movimento circular, ele varre um determinado ângulo ∆θ, em um
determinado tempo ∆t. Quando tomamos a razão entre essas duas quantidades,
descobrimos a taxa de variação temporal do deslocamento angular. A essa taxa
daremos o nome de velocidade angular média ω, definida como:

∆θ
ω= (1.4)
∆t

A velocidade angular média ω está relacionada ao ângulo varrido por um


corpo em movimento de rotação ao redor de um ponto pivô. Esse ângulo pode
ser medido em graus ou radianos e costumeiramente nos referimos a ele como o
ângulo θ. Em termos do período e da frequência de rotação, podemos escrever a
velocidade angular como:


ω= = 2 πf (1.5)
T

6
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

Porém, não apenas o ângulo varrido ∆θ denota deslocamento, há também


a alteração no vetor velocidade tangencial. Da equação (1.2), temos que s = θr e
Š Š
pelo gráfico a seguir, vemos que à medida que dθ Š 0;s Š drŠe assim |dr| = θ|r|.

Š Š Š
GRÁFICO 4 – VETOR dr = r' – r

FONTE: O autor

Š Š
Š
Além disso, temos também que quando s → dr;|dr| = |r|sinθ, o que
Š Š
também implica em |dr| = θ|r|, pois nesse limite sinθ → θ. Nessas condições,
^
Š = r, o vetor dr tem a direção do vetor unitário θ.
com |r| Com isso teremos então
que quando o vetor Šr sofrer uma variação temporal (d/dt), teremos:

dr =θ rθˆ ; (1.6)

 d   d d 
v t = dr = θ r + r θ  θˆ = ωr θˆ .
dt  dt dt 

 d2   d2  d  d ˆ ˆ
at = 2 dr = r 2 θ +  θ  r  θ = αr θ.
dt  dt  dt  dt 

Apesar de manter um módulo constante, o vetor velocidade linear Š


v, por
sua vez, também sofre uma variação temporal. O gráfico a seguir apresenta a
trajetória de um corpo em movimento circular uniforme, com o vetor velocidade
Š
v apontando em duas diferentes direções, um instante após outro.

7
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

GRÁFICO 5 – VETOR ACELERAÇÃO

FONTE: O autor

Š Š Š
É possível calcular o vetor dv = (v' – v), transladando cada vetor até o ponto
A e realizando a subtração geométrica dos vetores, como mostrado no gráfico a
seguir. Note que o vetor variação de velocidade dvŠtem a direção radial r. ^

GRÁFICO 6 – VETOR ACELERAÇÃO

FONTE: O autor

Quando dividimos o deslocamento drŠpelo tempo



dv=t
r dωθˆ ; (1.7)

 d   d d 
vt = r = θ r + r θ  θˆ = ωr θˆ .
dt  dt dt 

8
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

2.1.3 Função horária da posição angular



É possível escrever o ângulo varrido em função do tempo decorrido, se
soubermos qual a taxa de variação ω e o tempo transcorrido entre um ângulo
inicial θi e um ângulo final θf. Para isso, partimos da definição da taxa de variação
do ângulo varrido. A partir da equação (1.4), temos:

ωdt =dθ; (1.8)

t θ

∫ωdt = ∫dθ;
t0 θ0

θ ( t ) − θ0 = ω∆t ;

θ ( t ) = θ0 + ω∆t.

Note que na segunda linha aplicamos o conceito de soma integral


em ambos os lados da equação inicial (1.6). Somamos todas as relações ωdt
entre o tempo inicial t0 e um tempo arbitrário t, assim como todos os ângulos
θ correspondentes a essa relação, compreendidos entre θi e θf. Essa relação é
obtida e apresentada pela terceira linha em (1.8), e mais adiante, considerando
t0 = 0, teremos:

θ ( t ) = θ 0 + ωt . (1.9)

Essa equação é análoga àquela obtida para o movimento retilíneo


uniforme (MRU) para um corpo que se move no espaço. Ela também tem uma
representação equivalente àquela da equação da reta. Isso pode ser observado
na tabela seguinte, nela plotamos três curvas (1.8), porém com parametrizações
distintas. Para a curva 1, linha tracejada e com pontos (vermelha), tomamos
π
θ0;1 = 0π e ω1 = 1rad/s, para a curva 2, linha tracejada (azul), temos θ0;2 = e
2
π
θ
ω2 = 1rad/s e para a curva 3, linha sólida (verde), temos 0;3 = e ω3 = 2rad/s,
2
conforme tabela a seguir.

9
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

TABELA 1 – PARÂMETROS (MCU)


Curva 1 Curva 2 Curva 3
θ0;1 = 0πrad 1 1
θ0;2 = π rad θ0;3 = π rad
2 2
ω0;1 = 1rad/s ω0;2 = 1rad/s ω0;3 = 2rad/s
FONTE: O autor

Note que o eixo horizontal t é medido em segundos (s), já o eixo vertical


θ(t) é medido em radianos rad. Com essa configuração podemos demarcar no
gráfico o tempo necessário para a realização de um ciclo completo 2π, definido
como o período T da oscilação.

GRÁFICO 7 – FUNÇÃO HORÁRIA DA POSIÇÃO (MCU)

FONTE: O autor

Podemos ver que por diferirem apenas em sua posição inicial, no valor de
π
, as curvas 1 e 2 atingem ∆θ = 2π ao mesmo tempo θ:0 → 2π, no caso da curva
2
1 5
θ: π→ π
1e 2 2 , no caso da curva 2. É possível perceber isso através do cálculo do
período T para que ∆θ = 2π seja atingido. Temos então:

∆θ
T= . (1.10)
ω

10
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

Aplicando a expressão (1.8) às curvas 1 e 2 teremos:

5 1 
( 2π − 0 ) rad  2 π − 2 π  rad (1.11)
T1 = = 2 πs =   = T2 .
1 rad / s 1 rad / s

A curva 3 apresenta um comportamento diferente, uma vez que aqui a


velocidade angular ω tem o dobro do valor considerado anteriormente, além de
1 5
θ: π→ π
2 2 . Como sabemos, a velocidade ω desempenha o papel do coeficiente
angular em (1.7), de modo que uma alteração em seu valor reflete-se graficamente
como uma alteração na inclinação da curva 3. Essa velocidade angular multiplicada
implicará também em uma redução do período de oscilação, de modo que:

5 1 
 2 π − 2 π  rad (1.12)
T3 =   = π s.
2 rad / s

Cada um dos períodos, T1, T2 e T3, é também apresentado no gráfico


anterior como linhas verticais, em t = Ti com i = 1,2,3, respectivamente.

2.2 MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORMEMENTE VARIADO


(MCUV)
O movimento circular uniformemente variado (MCUV) é uma
generalização da discussão anterior. Podemos dizer que o movimento circular
uniforme é um caso particular do MCUV, quando para acelerações nulas. Vamos
então ampliar a conversa sobre a cinemática rotacional e introduzir o conceito de
aceleração angular.

2.2.1 Aceleração angular média e instantânea


Eventualmente a velocidade angular pode variar com o tempo, gerando
uma aceleração angular média α e definida como:

∆ω
α= (1.13)
∆t

11
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

Podemos tomar um intervalo de tempo infinitesimal em que ∆t → 0, nesse


caso temos uma taxa de variação temporal da velocidade angular, definida como:

d ∆ω
α= ω= lim . (1.14)
dt ∆t → 0 ∆t

Uma terceira possível representação para a aceleração angular α é dada


através da definição de ω como uma taxa de variação do ângulo varrido θ;

∆ω d d2
α= lim = ω= θ. (1.15)
∆t → 0 ∆t dt dt 2

Neste caso ficamos com uma segunda derivada temporal de θ. Porém


esta não é a única aceleração envolvida nesse problema. Voltando ao gráfico
Š
VETOR drŠ= r' – Š Š em termos de um ângulo
r, podemos escrever uma variação dr,
varrido θ, como na equação (1.16):
 
dr = θ r ; (1.16)

d    d  
dr =
vt =
 θ r =
ωr ;
dt  dt 

d    d  
dr =
vt =
 θ r =
ωr ;
dt  dt 

Na segunda linha da equação (1.16), podemos notar a relação entre a


derivada temporal de dr,Š que está graficamente ligada ao deslocamento de uma
partícula a uma distância Š
r do centro de giro, com a velocidade angular ω. Note
d 
que embora drŠseja alterado com o tempo, o que implica em dr ≠ 0, temos que
dt
d 
r = 0 , uma vez que, por se tratar de um movimento circular e não helicoidal,
dt
o raio da circunferência não se altera com o tempo. Na terceira linha de (1.19)
aplicamos mais uma derivada parcial a dr, Š de modo que podemos calcular a
aceleração angular α envolvida.

2.2.2 Aceleração linear no movimento circular


Duas acelerações lineares estão sempre presentes quando um movimento
circular ocorre, mesmo naqueles do tipo MCU. A primeira delas é uma aceleração
radial ac, também chamada de aceleração centrípeta. Associada ao movimento
radial que nos lança para fora, quando realizamos uma curva em alta velocidade,

12
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

essa aceleração aponta em direção ao centro da curva, mas é sentida como uma
força que nos comprime contra a porta de um carro ou as janelas de um ônibus.
Veja a seguir, na equação (1.17), como deduzimos a aceleração centrípeta radial ac
em termos do raio de giro, da velocidade angular ω ou da velocidade tangencial
vt:

ac = −ω2 r ; (1.17)

2
d 
−r  θ  ;
=
 dt 

ω2 r 2
= −r ;
r2

vt2
= − .
r

Note que ela é definida como o produto do quadrado da velocidade


angular com o raio de giro r. Uma vez que a ω pode ser escrito como a segunda
derivada de θ, temos que ac pode ser escrito em termos do quadrado da velocidade
tangencial vt, dividido por r. Note também que um aumento na velocidade, ou
uma diminuição no raio de giro, ocasiona um incremento na aceleração centrípeta,
porém um aumento na velocidade tangencial vt é sentido com maior intensidade,
tendo em vista que esta varia quadraticamente em sua relação com a aceleração
ac.

Uma descrição gráfica do movimento circular de um corpo e seus vetores


de velocidade tangencial Švt e aceleração centrípeta Š
ar é apresentada no próximo
gráfico. É possível perceber que, para alterarmos a direção do vetor Š vt de um
corpo de massa m, entre os pontos A e B, é preciso que uma força Fc = m ac seja
aplicada sobre ele.

GRÁFICO 8 – ACELERAÇÕES DO MCUV

FONTE: O autor
13
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

De fato, a força centrífuga é uma reação normal à centrípeta e aponta


radialmente para fora do círculo descrito pelo corpo em movimento. Centrífuga
é uma expressão latina que significa “que se afasta do centro”, e está associada
à inércia de corpos submetidos a movimentos circulares. Como em qualquer
brincadeira de criança, quando uma bola é amarrada a uma corda, a bola, em
movimento circular, tende a se mover em linha reta, mas a força centrípeta
impede isso, fazendo com que a direção do vetor velocidade tangencial vt seja
constantemente alterada. A força centrífuga é a reação à força centrípeta e é
responsável pelo movimento tangencial, quando a corda, amarrada à bola,
arrebenta ou é cortada. A força centrífuga é uma força fictícia de reação, ela é o
resultado da rotação, não de uma força propriamente dita.

A segunda aceleração linear envolvida é aquela associada ao movimento


tangencial. Com o auxílio das equações deduzidas em (1.5) é possível observar
que essa aceleração está associada à aceleração angular através do raio de giro do
movimento, mas também com a derivada da velocidade tangencial, como vemos
a seguir:

at = αr ; (1.18)

d 
= r  ω ;
 dt 

1 d 
=r vt  ;
 r dt 

d 
=  vt  .
 dt 

Uma vez esclarecidas as diferentes formas de aceleração em um


movimento circular, podemos então escrever uma expressão vetorial para a
aceleração linear total Š
a envolvida. Note que aqui a aceleração total pode ser
escrita como uma combinação linear dos vetores aceleração centrípeta Š ac e
Š
aceleração tangencial at.

a = ac rˆ + at θˆ . (1.19)

Agora sim, estamos aptos a discutir as equações de movimento associadas


ao movimento circular uniformemente variável. Uma vez que a velocidade
angular ω com que o ângulo θ é varrido também varia, com o tempo, teremos
uma aceleração angular α constante associada. Esse é o movimento circular
uniformemente variado, em que a taxa temporal com que o ângulo varrido cobre
o espaço de uma revolução também varia com o tempo.

14
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

2.2.3 Função horária da velocidade angular


αdt =dω; (1.20)

t ω

∫αdt = ∫ dω;
t0 ω0

ω ( t ) − ω0 = α∆t ;

ω ( t ) = ω0 + α∆t.

Quando tomamos t0 = 0 na equação (1.20) ficamos com a expressão


apresentada em (1.21):

ω ( t ) = ω0 + αt. (1.21)

O gráfico a seguir apresenta uma representação gráfica da equação (1.21),


em que três situações são consideradas. Para a curva 1, linha tracejada e com
pontos (vermelha), tomamos θ0;1 = 0π, ω1 = 1rad/s e α1 = 1rad/s/s. Para a curva 2,
π
linha tracejada (azul), temos θ0;2 = 2 , ω2 = 1rad/s e α2 = 1rad/s/s. Para a curva 3,
π
linha sólida (verde), temos θ0;3 =, ω3 = 2rad/s e α3 = 2rad/s/s.
2

GRÁFICO 9 – FUNÇÃO HORÁRIA DA VELOCIDADE ANGULAR (MCUV)

FONTE: O autor

15
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

Como era de se esperar, para as curvas 1 e 2 os resultados são os


mesmos, uma vez que a única diferença entre essas curvas reside na posição
inicia θ0;1 = θ0;2, de modo que os períodos T1 = T2 para uma revolução completa,
Já para a curva 3, que apresenta uma aceleração superior à das curvas 1 e 2 e
cuja posição inicial θ3 é adiantada em relação a θ1,vemos que T3 < T1.

Há ainda outra forma de discutir o movimento circular uniformemente


variado, a partir da definição da aceleração angular α. Na equação (1.22)
fazemos uso da soma integral sobre o tempo t e sobre a velocidade angular ω:

αdt =dω; (1.22)

t ω
α ∫dt =∫ dω;
t0 ω0

ω − ω0
( t − t ) =α
0
.

Aqui aplicamos em (1.22) a equação (1.20), nos deixando com:

2
 ω − ω0  1  ω − ω0 
θ ( t ) − θ = ω0   + α  ; (1.23)
 a  2  a 
2 2
1 (ω − ω0 )
θ (t ) − θ = ;
2 α

ω2 = ω02 + 2α∆θ.

A equação (1.23) pode ser interpretada como a dependência da velocidade


angular ω com a posição angular θ. Imagine que tomemos um ciclo completo, ou
seja, uma variação ∆θ = (θ – θ0) = 2π, podendo ser reescrita como:

ω2 = ω02 + 2α ( θ − θ0 ) (1.24)

ω2 = ω02 − 2αθ0 + 2αθ.

ω ( θ )= β + 2αθ .

16
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

2
Em que β = ω0 − 2αθ0 é um valor constante que nos ajuda a entender a
relação entre o aumento da velocidade angular ω a medida que o corpo realiza seu
movimento circular. Como o movimento é acelerado, um objeto cujo movimento
circular respeite a equação (1.23) terá sua velocidade angular aumentada à medida
que realiza a revolução. A equação (1.24) nos mostra que, para um movimento
circular uniformemente variado, em que a aceleração angular α é constante, a
velocidade angular ω cresce com a raiz quadrada do ângulo varrido θ.

O gráfico a seguir descreve esse comportamento. As curvas oriundas da


equação (1.24) apresentam um comportamento compatível com a existência de
uma aceleração angular α. Apresentamos uma representação gráfica da equação
(1.20), em três situações distintas. Para a curva 1, linha tracejada e com pontos
(vermelha), tomamos θ0;1 = 0π, ω1 = 1rad/s e α1 = 1rad/s/s. Para a curva 2, linha
π
tracejada (azul), temos θ0;2 =2 , ω2 = 1rad/s e α2 = 1rad/s/s. Para a curva 3, linha
π
θ =
sólida (verde), temos 0;3 2 , ω3 = 2rad/s e α3 = 2rad/s/s. Observe que cada
curva apresenta uma linha vertical à esquerda, que representa a posição angular
inicial θ0;i e à direita, que representa a posição angular ao fim de uma revolução,
depois de um período, θ(Ti), com i = 1,2,3. Desse modo após um ciclo, logo a área
contida entre a curva (1.20) e as retas verticais associadas a cada curva nos dá uma
ideia da área angular varrida por unidade de tempo.

GRÁFICO 10 – DEPENDÊNCIA DA VELOCIDADE ANGULAR COM A POSIÇÃO ANGULAR

FONTE: O autor

17
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

Note que para a curva 1, possui duas retas verticais associadas às posições
4
θ (T1 ) = π
inicial θ0;i = 0π e final 2 , já as curvas 2 e 3 coincidem em suas posições
1 5
θ
iniciais 0;2 ,3 2 e ( )
= π θ T2 ,3 =π
2 , mas ∆θ = (θ(Ti) – θ0;i) = 2π para todas as curvas.
As relações entre áreas ω(θ) ∆θ de cada curva são dadas pelas correspondentes
acelerações angulares αi de cada curva.

Aqui terminamos nossa análise da cinemática rotacional, com os


movimentos circulares uniformes (MCU) e uniformemente variados (MCUV).
Assim como em nossa discussão linear, em que mostramos que o movimento
retilíneo uniforme (MRU) pode ser entendido como um caso particular do
movimento retilíneo uniformemente variado (MRUV) quando a aceleração a = 0,
é possível perceber o mesmo vínculo entre MCU e MCUV, quando α = 0.

Os conceitos discutidos aqui são aplicáveis a qualquer tipo de movimento


circular no espaço, ou no plano. Seja no o estudo de partículas e peças que se
movam em sistemas de movimento circular, como motores em usinas eólicas,
corridas de carros ou lançamento de foguetes, seja na determinação da alteração
gravitacional da rota de asteroides, no estudo da rotação de estrelas ou órbitas
planetárias, MCU e MCUV são movimentos importantes e presentes em muitos
âmbitos de nossa vida cotidiana, e não é de hoje que o homem se interessa por
eles.

2.2.4 Função horária da posição angular


Levando em conta a definição da aceleração angular (1.9), é possível
escrever a posição angular θ(t) como função do tempo t. Essa é a função horária
da posição, deduzida ao longo de (1.25):

dθ = ωdt ; (1.25)

θ t

∫dθ = ∫ωdt;
θ0 t0

t
θ ( t ) − θ0 = ∫ ω
 0
+ αt  dt ;
t0

t t
θ ( t ) − θ0 = ω0 ∫dt + α ∫tdt ;
t0 t0

1
θ ( t ) − θ0 = ω0 ( t − t0 ) + α ( t − t0 ) .
2

2
18
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

Perceba, pela primeira linha de (1.25), podemos reescrever a equação


(1.11) e então aplicar a equação (1.21) ao argumento da integral à direita, na
segunda linha. Então, ao distribuirmos a integral sobre os termos do argumento,
encontramos uma expressão que remonta uma equação do segundo grau:

1
θ ( t ) = θ0 + ω0t + αt 2 . (1.26)
2

A tabela a seguir apresenta uma representação gráfica da equação (1.26),


em que três situações são consideradas daqui para a frente. Para a curva 1, linha
tracejada e com pontos (vermelha), tomamos θ0;1 = 0πrad, ω0;1 = 1rad/s e α1 =
1
1rad/s/s. Para a curva 2, linha tracejada (azul), temos θ0;2 = π rad , ω0;2 = 1rad/s
2
1
e α2 = 1rad/s/s. Para a curva 3, linha sólida (verde), temos θ0;3 = π rad , ω0;3 =
2rad/s e α3 = 2rad/s/s, como é mostrado na tabela a seguir. 2

TABELA 2 – PARÂMETROS (MCUV)


Curva 1 Curva 2 Curva 3
θ0;1 = 0πrad 1 1
θ0;2 = π rad θ0;3 = π rad
2 2
ω0;1 = 1rad/s ω0;2 = 1rad/s ω0;3 = 2rad/s
α1 = 1rad/s/s α2 = 1rad/s/s α3 = 2rad/s/s
FONTE: O autor

Observe que embora graficamente distintas em determinados detalhes, os


gráficos 7 e 9 são ambas representações de equações de reta do tipo y = a + bx, já o
gráfico 11 representa uma equação do segundo grau, uma parábola de concavidade
para cima, do tipo y = ax2 + bx + c. Até aqui vemos um comportamento bastante similar
àqueles constatados no movimento retilíneo uniforme (MCU) e uniformemente
variado (MRUV).

19
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

GRÁFICO 11 – FUNÇÃO HORÁRIA DA POSIÇÃO (MCUV)

FONTE: O autor

Podemos ver que por diferirem apenas em sua posição inicial, no valor de
π
, as curvas 1 e 2 atingem ∆θ = 2π ao mesmo tempo θ:0 → 2π, no caso da curva
2 1 5
1 e θ : 2 π → 2 π , no caso da curva 2. É possível perceber isso através do cálculo do
período T para que ∆θ = 2π seja atingido. Temos então:

−ω0 ± ω2 + 4 πα (1.27)
T= .
α

Cada um dos períodos, T1, T2 e T3, representa o tempo necessário para que
um objeto realizando um movimento circular uniformemente variado, segundo
as definições de cada curva, complete um ciclo 2π.

20
TÓPICO 1 | CINEMÁTICA ROTACIONAL

DICAS

Leia o artigo Galileo e a rotação da Terra ((MARTINS, 1994), publicado no Caderno


Brasileiro de Ensino de Física e disponível em: <https://goo.gl/fxAopi>. Nele, os autores os
autores avaliam dois argumentos de Galileu Galilei em defesa da teoria copernicana. No
primeiro argumento, Galilei ataca o conceito de extrusão dos corpos por rotação, alegação
utilizada por aqueles que negavam a rotação da Terra. Para eles, a tendência dos corpos
de serem expelidos de movimentos circulares poderia ser aplicada a Terra, o que tornaria
a opção de uma Terra estática muito mais aceitável. No segundo argumento, Galileu usa o
movimento das marés para defender a rotação da Terra. É uma leitura interessante, pois nos
mostra o problema da rotação da Terra como uma discussão antiga e evidencia a criatividade
do pensamento humano para alcançar, ou não, o êxito intelectual de uma hipótese.

Fique agora com a discussão a respeito da origem do movimento circular,


a seguir vamos entender, assim como na dinâmica linear, que é necessária uma
soma liquidamente não nula de forças para que um corpo entre em movimento
circular. As analogias permanecem válidas, porém algumas adaptações devem
ser feitas.

21
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A cinemática rotacional é uma proposta de descrição do movimento circular


análoga àquela da descrição do movimento retilíneo.

• A determinação do ângulo varrido θ, juntamente com a velocidade angular ω,


dá-se a uma taxa de variação temporal de θ.

• A função horária da posição angular θ(t) é determinada por uma equação da


reta, similar àquela do caso MRU.

• O movimento circular uniformemente variado (MCUV) é o equivalente circular


para o (MRUV).

• A aceleração angular α é definida como uma taxa de variação temporal da


velocidade angular ω.

• Existem algumas acelerações lineares que atuam no movimento circular,


intituladas centrípeta ac e tangencial at.

• A função horária da velocidade angular ω(t) é também uma equação da reta


análoga à sua correspondente no (MRUV).

22
AUTOATIVIDADE

1 Imagine que um objeto se move em uma trajetória circular ao redor de um


ponto fixo no espaço. Considerando que a descrição do movimento circular
é análoga àquela do movimento retilíneo, indique, a seguir, valores de
verdadeiro (V) ou falso (F), para a sequência de proposições a seguir:

a) ( ) O movimento circular uniforme (MCU) de um corpo ao redor de um


ponto fixo ocorre sem a existência de uma aceleração angular.
b) ( ) A aceleração angular é dada pela taxa de variação temporal do ângulo
varrido.
c) ( ) O movimento circular uniformemente variado (MCUV) lida com a taxa
de variação temporal da taxa de variação temporal do ângulo varrido por
um corpo em movimento circular.

2 O estudo do movimento circular, uniforme ou não, é importante pois esta


forma de mobilidade dos corpos está presente em muitos dos fenômenos
que estudaremos, e assim como a cinemática retilínea, lança as bases para
o entendimento da dinâmica correspondente. Com isso em mente indique
valores de verdadeiro (V) ou falso (F), para a sequência de proposições a
seguir:

a) ( ) O MCU não apresenta nenhum tipo de aceleração.


b) ( ) O MCU pode ser entendido como um caso particular do MCUV.
c) ( ) A função horária da posição tem forma linear no MCU, mas quadrática
no MCUV.

3 Um corpo que mantém um movimento circular uniforme gira em torno de um


eixo fixo, com velocidade angular ω constante. Com isso em mente indique
valores de verdadeiro (V) ou falso (F), para a sequência de proposições a
seguir:

a) ( ) Embora o vetor velocidade tangente Švt sofra constantes alterações em sua


direção, seu módulo permanece constante.
b) ( ) O ângulo varrido durante uma revolução é inversamente proporcional à
velocidade tangencial Š
vt.
c) ( ) Embora um corpo mantenha uma velocidade angular uniforme ω, ao
girar em torno de um eixo fixo. O mesmo permanece sobre a constante ação
de uma aceleração.

4 Suponha uma torre eólica submetida a uma brisa constante em alto mar.
Suponha também que uma mosca pouse na extremidade de uma das
lâminas. Considerando que a distância entre a mosca e o ponto pivô é de 80m,
e que ela se move com uma velocidade tangencial de vt = 100m/s, calcule:

23
a) a velocidade angular com que a mosca se move.

b) o período de uma revolução completa.

c) suponha agora uma rajada mais forte de vento tenha soprado e que no
intervalo de uma revolução a velocidade angular da mosca tenha duplicado.
Calcule a aceleração angular α.

5 Imagine um parque de diversões, em que um carrossel começa a girar.


Um segundo após o início do movimento do carrossel, uma criança pula
sobre a plataforma, que agora se move a 1rad/s. Supondo que o carrossel
levará ainda uma volta e meia para atingir sua velocidade final, calcule:

a) a aceleração angular final do carrossel.


b) a velocidade angular final do carrossel.

6 Considere uma ventoinha que se move em trajetória circular uniforme por


uma hora, de repente sua velocidade angular começa a variar a uma taxa de
–4rad/s/s. Sabendo que o período de uma revolução, antes da desaceleração,
era de 0.5s e que na primeira hora 8000 revoluções ocorreram, calcule o temo
necessário para a ventoinha parar de girar por completo.

24
UNIDADE 1
TÓPICO 2

DINÂMICA ROTACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Vamos agora focar nossa atenção no estudo da dinâmica aplicada às
rotações. Começaremos descrevendo um arranjo de partículas em posição
relativa fixa, mas que pode mover-se pelo espaço, aqui em movimento rotacional.
Abordaremos o “corpo rígido”, expressão utilizada para fazer referência aos
corpos sólidos, com formato não necessariamente simétrico. Vamos discutir aqui
quantidades análogas àquelas estudadas no movimento retilíneo, tal como o
torque, correspondente rotacional da força, ou o momento angular, que carrega
para o movimento circular o mesmo significado do momento linear para o
movimento retilíneo.

Vamos começar descrevendo os movimentos possíveis para um corpo


rígido, discutiremos a translação e a rotação e seguiremos para a descrição
vetorial do movimento rotacional

2 MOVIMENTO DE UM CORPO RÍGIDO


O conceito de corpo rígido está associado à ideia de uma configuração
indeformável, independente de qual seja a força aplicada a ele. Isso significa
dizer que a nível microscópico, a distância entre duas partículas que compõem
o corpo se mantém inalterada. Na prática, essa condição não é completamente
alcançada, de modo que essa rigidez infalível não é, de fato, alcançada. Porém,
em boa parte das situações em nosso cotidiano, podemos negligenciar essas
pequenas deformações; seja uma bola de basquete, um jogo de bilhar ou o contato
dos pneus com o solo, uma vez que, em casos como esses, a deformação do corpo
rígido ocorre por apenas um instante e a estrutura do corpo rígido volta a sua
forma inicial. É o que faremos aqui.

Nossa intenção aqui é estudar o movimento rotacional, para isso faremos


uso de diversas analogias com o movimento de translação. De modo que parece
relevante dedicar alguns momentos com a definição de ambos. Primeiramente
vamos começar com o movimento de translação. A figura a seguir apresenta um
veículo que realiza um movimento entre os pontos inicial i e final f. Se, durante
esse percurso, o vetor deslocamento d do carro não tiver sua direção alterada,
poderemos então concluir que o veículo realiza um movimento de translação.

25
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

FIGURA 1 – CARRO EM MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO, EM SENTIDO OPOSTO AO EIXO X

FONTE: O autor

Nesse sentido, entendemos que todas as partículas que compõem o


corpo sofrem deslocamentos pela mesma quantidade de tempo. Esse raciocínio
implica então que todas essas partículas apresentarão a mesma velocidade e a
mesma aceleração durante o deslocamento. De modo que podemos entender o
movimento desse sistema de partículas como o movimento de um corpo rígido no
espaço. Como todas as partículas apresentarão vetores de velocidade e aceleração
apontando para a mesma direção, teremos que o vetor resultante, correspondente
ao movimento do sistema como um todo, apontará também na mesma direção.
Escolhemos assim um ponto privilegiado, para tomar como referência do
movimento de um corpo rígido, normalmente esse ponto é o centro de massa.

FIGURA 2 – CORPO RÍGIDO GIRANDO AO REDOR DE UM EIXO FIXO

FONTE: O autor

26
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

A rotação é definida como o movimento circular de um corpo em torno


de um eixo predefinido. Observe a figura anterior, ela apresenta um corpo rígido
que gira ao redor de um eixo que conecta os pontos C e D passando por eles.
Imaginando que tenhamos fixado esses pontos no espaço, para que a rotação
possa ser efetuada, acabamos por fixar todos os pontos sobre o segmento CD,
uma vez que todos manterão inalteradas suas posições relativas a cada uma
dos pontos C e D. Assim como as partículas sobre o eixo CD, qualquer partícula
que compõe o corpo rígido tenderá e manter uma distância fixa do eixo, mas
isso deriva apenas do fato de que esta é a própria definição de um corpo rígido.
Porém, uma rotação ao redor do eixo CD implica automaticamente que todas as
partículas envolvidas acabam descrevendo um círculo de raio igual à distância
da partícula ao eixo de giro. Esta é, portanto, uma rotação ao longo de um eixo
longitudinal ao corpo rígido.

Este não é, porém, o único movimento de rotação que vamos analisar.


A rotação em torno de um eixo transversal à superfície formada pelo corte de
seção reta do corpo rígido é apresentada na figura a seguir. Nela vemos dois
momentos, instantâneos, de duas posições quaisquer. Vemos que o objeto parte
de uma posição inicial, grifada em cinza escuro, para uma posição final, grifada
em cinza claro. Note que isso implica que na eventualidade de o corpo retornar à
posição inicial, os pontos A e A' devem coincidir. Aqui houve um deslocamento
em torno do ponto pivô fixo O, através do arco descrito pelo ângulo α.

FIGURA 3 – CORPO RÍGIDO GIRANDO EM TORNO DE UM PONTO FIXO

FONTE: O autor

27
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

Temos então um movimento circular de partículas posicionadas fora do


eixo de rotação. O ângulo α é a única variável necessária para descrever esse tipo
de movimento. Observe que fixamos apenas um único ponto nesse movimento,
o ponto O por onde passa o eixo de rotação. Nesse sentido, o movimento de
qualquer ponto A fica limitado a uma circunferência de raio r. No caso de um
movimento tridimensional, superfície limitante do movimento será aquela que
representa uma esfera de raio r, equivalente à separação entre um ponto na
superfície e o centro do movimento. Voltando à figura, percebe-se que agora duas
variáveis são necessárias para a completa descrição do movimento entre A e A', o
ângulo varrido α e o raio r.

É interessante notar que, considerando a Figura 3, Corpo rígido girando ao


redor de um eixo fixo, temos um eixo CD formado pelos pontos fixos C e D, porém
se mais um ponto não colinear com o eixo for fixado, digamos algum ponto
E fora do eixo CD for, então o corpo rígido como um todo acaba ficando fixo,
impossibilitando a rotação em torno de CD. Isso pode ser visto na próxima figura,
em que vemos que um ponto B foi fixado fora do eixo OA, que evolui para uma
posição B' após uma rotação de um ângulo α, não descrito no gráfico por motivos
de simplificação.

FIGURA 4 – CORPO RÍGIDO EM MOVIMENTO DE ROTAÇÃO EM TORNO DO EIXO EM O COM


TRÊS PONTOS FIXOS

FONTE: O autor

28
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

Com uma simples análise de cotidiano você perceberá que os movimentos


de translação e rotação são os mais comuns para um corpo rígido. No fim do
século XIX, Michel Floréal Chasles (1793-1880), um matemático francês, notou
que se se considerarmos um movimento translacional da posição O para uma
posição O', teremos um deslocamento total OO'. Considere agora que durante
esse momento de translação foi acompanhado de um movimento de rotação, em
que o triângulo OAB representa a conexão de três pontos não colineares antes, e
OA'B' representa a conexão de três pontos não colineares depois da translação e
da rotação. É de se esperar que os triângulos apresentem a mesma área, uma vez
que partimos do princípio de que este é um corpo rígido e não há movimentos
relativos entre as posições. Os dois triângulos mencionados poderiam então se
sobrepor em suas posições, a cada ciclo completo em uma rotação em torno de O.

Cada vez que descrevemos a posição de um ponto em um corpo rígido,


ou a posição de um corpo rígido no espaço, apelamos para o conceito de graus
de liberdade. Cada tipo de movimento está associado a um desses graus. Se o
corpo pode se mover ao longo das coordenadas x, y, z, ou pode girar em um
ângulo específico α qualquer, dizemos que ele terá um, dois, três ou mais graus de
liberdade. Vejamos agora como descrever vetorialmente o movimento rotacional
de um corpo no espaço.

3 ROTAÇÕES COMO REPRESENTAÇÃO VETORIAL


Considerando a posição de um corpo rígido em relação a um sistema de
referências, visamos minimizar o número de variáveis e parâmetros necessários
para realizar a tarefa de descrevê-lo. No espaço, precisamos de pelo menos três
coordenadas para especificar a posição de um ponto qualquer. No gráfico a seguir
Š = R, distância radial entre a posição do corpo rígido no espaço e
eles são o raio |r|
a origem do sistema de coordenadas, o ângulo θ, entre a posição do corpo rígido
e o eixo z, e também o ângulo ϕ entre a posição do corpo rígido e o eixo x.

29
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

GRÁFICO 12 – POSIÇÃO DE UM CORPO NO ESPAÇO

FONTE: O autor

Imaginando que o raio R seja fixado, e garantindo que os ângulos θ e ϕ


ficam livres para variar, o corpo descreveria uma trajetória semelhante àquela de
um corpo que se move sobre uma superfície esférica, uma casca por assim dizer.
Com isso em mente, vemos que as relações trigonométricas para esses ângulos
são:

rx ry
cos φ
= ;=
sin φ ; (1.28)
rxy rxy

rz rz
cos θ
= ; sin θ
= .
rxyz rxyz

Em que os termos ri, rij e rijk representam projeções de Š


r . É fácil notar que
a relação a seguir:

rz rxy
sin=
θ = . (1.29)
rxyz rxyz

30
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

Com isso podemos relacionar os ângulos θ e ϕ através das seguintes


expressões:

rx ry
=cos φ = ; sin φ ; (1.30)
rxyz sin θ rxyz sin θ

De modo que teremos:

r=
x
rxyz sin θ cos φ; (1.31)

r=
y
rxyz sin θ sin φ;

=rz rxyz cos θ

Ou, após as devidas modificações:

x= R sin θ cos φ; (1.32)

y= R sin θ sin φ;

=z R cos θ.

O suficiente para definir a posição cartesiana de um objeto que se move no


espaço, ao redor de um ponto fixo na origem do sistema. Podemos escrever então
o vetor posição como:

r = ( x, y , z ) (1.33)


r
= ( R sin θ cos φ, R sin θ sin φ, R cos θ )

r R ( sin θ cos φ,sin θ sin φ,cos θ )
=

De olho na figura anterior, imagine por exemplo que queiramos descrever


Š π
a posição de uma partícula em |r| = R, θ = e ϕ = 0, teríamos então:
2

  π π π
r = R  sin cos 0,sin sin 0,cos  (1.34)
 2 2 2

r = R ( 1,0,0 )

31
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

Isso significa que sob essas condições angulares, o corpo estaria em x = R,


π π
y = 0 e z = 0. Da mesma forma, sob condições θ = e φ = , podemos encontrar:
2 2

  π π π π π
r = R  sin cos ,sin sin ,cos  (1.35)
 2 2 2 2 2

r = R ( 0,1,0 ) ,

Para x = 0, y = R e z = 0. E também, com θ = 0 e independentemente do


valor de ϕ, teremos x = 0, y = 0 e z = R, teremos:

r= R ( sin 0 cos φ,sin 0 sin φ,cos 0 ) (1.36)


r = R ( 0,0,1) ,

Essa descrição de mundo é muito comum em nosso dia a dia, o sistema de


posicionamento global, conhecido como GPS (Global Positioning System), faz uso
de uma descrição, a despeito de suas particularidades técnicas, muito semelhante.
Em que R representa a altitude de um corpo, sua altura em relação ao nível do
mar, e os ângulos θ e ϕ representam a latitude, relacionada à posição norte-sul no
globo, e a longitude, relacionada à posição leste-oeste, respectivamente.

4 MOMENTO DE INÉRCIA
O momento de inércia é uma quantidade inercial que representa a
resistência de um corpo a qualquer alteração em seu estado de movimento
rotacional. O momento de inércia é o análogo da massa em sistemas girantes, ele
nos dá informação sobre a distribuição de massa no corpo e é definido como:

N
I = ∑mi ri2 (1.37)
i

Essa quantidade pode ser interpretada como uma grandeza circular


análoga à massa, no movimento retilíneo. Talvez nomes como massa angular ou
inércia rotacional o ajudem a conceber essa reinterpretação da massa de um corpo
que se move em um movimento circular, porém quando um sólido se move, com
uma distribuição contínua de carga, como o podemos ver na figura:

32
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

FIGURA 5 – CORPO RÍGIDO COM DISTRIBUIÇÃO CONTÍNUA DE MASSA, GIRANDO AO REDOR


DE UM EIXO FIXO

FONTE: O autor

Nesse caso é preciso apelar à soma integral sobre a massa do sólido em


revolução. A expressão para esse caso do momento de inércia pode ser visto na
equação (1.38):

m
I = ∫r 2 dm (1.38)
0

O momento de inércia é uma faceta da manifestação da primeira lei de


Newton no movimento circular uniformemente acelerado. Um corpo tenderá a
manter seu movimento circular a menos que um torque externo atue sobre ele,
alterando seu estado de movimento.

5 TORQUE, TRABALHO E POTÊNCIA DE UMA FORÇA


O torque τ é a representação análoga à força no movimento circular. É
através do torque que podemos alterar o estado de movimento de um corpo,
colocando-o em movimento circular a partir do repouso, ou alterando seu estado
de movimento já existente aumentando ou reduzindo sua velocidade angular ω.

33
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

GRÁFICO 13 – CORPO RÍGIDO SE MOVENDO COM MOMENTO P A UMA DISTÂNCIA R DO


CENTRO

FONTE: O autor

Observe a figura, ela apresenta a ilustração de um corpo que se move com


momento Š p, ao longo de uma trajetória circular em sentido anti-horário, a uma
distância Š
r do centro da circunferência. O vetor de momento Šp é representado por
uma seta sólida (azul) e o vetor posição do corpo é representado por uma seta em
ponto-traço (vermelha). Note que esses dois vetores formam um plano entre si. O
torque τ é definido como a variação temporal do produto vetorial entre o raio Šre
Š
o momento p, como vemos a seguir:

 d  

dt
(r × p) ; (1.39)

d    d 
= r × p + r × p;
dt dt
   
= v × p + r × F;
   
= m ( v × v ) + r × F;

 
= r × F.

Na equação (1.39) vemos que é possível escrever o torque aplicado a um


corpo que se move em trajetória circular através da aplicação análoga da variação
do momento linear para o movimento circular, que considera o raio de giro. Na
segunda linha é possível perceber que a aplicação da regra da cadeia nos rende dois
 d 
termos, um associado à velocidade tangencial v = r e outro associado à variação
dt  d 
do momento linear do corpo, ou à força que causa tal variação = dt p . Na terceira
F

34
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

linha vemos que o primeiro termo acaba por ser eliminado, uma vez que Š v xŠ
v=0
e assim ficamos apenas com o último termo. Lembrando das definições de álgebra
Š
linear, vemos que o produto vetorial Š
v x F gera um vetor de torque Š
τ, que apontará
Š
para um direção perpendicular ao plano formado pelos vetores da força F e do raio
Š
r.

Você já experimentou o torque há muito tempo e nunca deixou de manter


contato próximo com ele por toda a sua vida. Toda vez que fecha uma porta,
abre um pote, ou troca o pneu do carro, você faz uso desse conceito. O torque
Š
é o resultado da aplicação de uma força F a uma distância Š r de um ponto pivô,
com o objetivo de se colocar ou manter algum corpo em estado de movimento
Š
circular. Os vetores de força F e de distância Š
r mantêm um ângulo θ entre si e
Š
podem ser perpendiculares, e por isso formam um plano F x Š r. O vetor de torque
é o resultado desse produto vetorial, sendo, portanto, perpendicular a ambos e ao
plano formado pelos mesmos. O torque pode então ser definido como o produto
 
vetorial entre os vetores F = Fx iˆ + Fy ˆj + Fz kˆ e r = x iˆ + y ˆj + z kˆ , representado
por:
 
τ = r × F; (1.40)

= ( xiˆ + yjˆ + zkˆ ) × ( F iˆ + F ˆj + F kˆ ) ;


x y z

 iˆ ˆj kˆ 
 
=x y z ;
F Fy Fz 
 x 

( ) (
= y Fz − z Fy iˆ + ( z Fx − x Fz ) ˆj + x Fy − y Fx kˆ. )

O seno na equação (1.41) provém da própria definição de produto vetorial.


  
τ = r × F; (1.41)

= r F sin α.

Fica claro então que o torque é a transcrição da força para o movimento


circular uniformemente variável. Considerando o gráfico a seguir, é possível
perceber que a força tangente pode ser definida como Ft = F sin α, o que implica
que o torque pode ser reescrito, explicitamente, em termos da componente
tangencial da força ŠF atuante:

35
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

Ft = mat ; (1.42)

F=
t
mrα;

Ft mr 2 α;
r=

τ mr 2 α
=

A equação (1.42) torna evidente a importância de um longo braço de


giro r, quando pretendemos aplicar um torque relativo a algum ponto de apoio.
Em vista dessa equação, fica fácil entender como ferramentas do tipo chave de
roda, macacos ou até mesmo maçanetas funcionam. Todas elas necessitam tirar
proveito de um extenso braço de alavanca.

GRÁFICO 14 – FORÇA Š
F APLICADA EM UM CORPO, QUE DESCREVE UM ÂNGULO ∆θ

FONTE: O autor

É essa dependência quadrática do torque τ com o raio r que nos possibilita


aplicar menos força, quanto maior for o braço de alavanca, para atingir um mesmo
torque.

Outra analogia da qual tiramos proveito para o estudo do movimento


circular é o do trabalho realizado pelo torque Šτ. Essa analogia faz referência ao
Š
trabalho realizado por uma força F, no movimento retilíneo. Isso significa que
da mesma forma que realizamos um trabalho W ao mover um objeto por uma
Š
distância d, ao aplicarmos sobre ele uma força F, devemos então realizar trabalho
ao girar um objeto por um ângulo ∆θ, quando aplicamos sobre ele um torque Š τ.
O que implica em:

W = τ ∆θ; (1.43)

36
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

Š
Observe por um instante o gráfico anterior, ele mostra um vetor força F
sendo aplicado a uma barra de cor cinza, fazendo-a girar ao redor de um eixo
pivô O.

Reconhecendo que o torque aplicado pode ser reescrito em termos do


Š
vetor força F, do vetor raio Š
r e do ângulo α formado entre eles, temos para o
trabalho realizado pelo torque:

W r F sin α ∆θ.
= (1.44)

É interessante notar que se estudarmos a taxa de geração de trabalho,


aplicando o operador diferencial na equação (1.43), obteremos a potência
associada ao torque de uma força, dada por:

d d
W
= τ ∆θ (1.45)
dt dt

d
P=
τ θ;
dt

P = τ ω;

Š
Vimos então que a potência de uma força F, aplicada a um sistema girante,
em um ponto a uma distância Š r de um ponto pivô, pode ser medida em termos
do produto entre a velocidade angular com que o sistema gira e o torque nele
aplicado. Mas esse sistema gira com determinada energia cinética, como é de
se imaginar. Para calcular tal quantidade, podemos partir da analogia com o
movimento retilíneo uniforme, com

1
K= mv 2 ; (1.46)
2

1
= mr 2 ω2 ;
2

1 2
= Iω
2

Assim, entre a primeira e a segunda linhas da equação (1.46), o artifício v


= ωr é aplicado e mais adiante, na terceira e última linha, o conceito de momento
de inércia I = mr2 também é aplicado. Isto nos assegura que um corpo que gira
em torno de um eixo que passe por seu centro de massa terá uma energia cinética
proporcional ao seu momento de inércia I em relação a tal eixo, e ao quadrado
da velocidade angular ω com que gira. É interessante como as equações fazem
37
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

sentido nesse propósito. Considere a definição do momento de inércia e considere


um corpo extremamente longo, que gire em torno de um eixo central, como as
hélices de um helicóptero. Pense na quantidade de energia necessária para que
os rotores da aeronave girem naquela velocidade, com aqueles momentos de
inércia. Lembre-se que o momento de inércia faz o papel da massa no movimento
rotacional, ele é uma medida da dificuldade que se encontrar em alterar o
momento estado de movimento rotacional de um corpo.

FIGURA 6 – HAMMER, POR JOHN LOVETT

FONTE: <https://bit.ly/2IwLivs>. Acesso em: 19 maio 2018.

Considere que o martelo da figura anterior gire em torno de um eixo que


passa pela ponta de seu cabo (círculo branco), e em relação a esse eixo, a uma
distância h dele está o centro de massa do martelo (ponto banco). Pelo princípio
de conservação da energia mecânica, aplicado ao movimento circular, temos:

38
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

Ei = E f ; (1.47)

1 2
Mgh
= Iω ;
2

1 2
Mgh − I ω =0
2

O que significa que a energia cinética rotacional com que o centro de


massa atinge o ponto mais baixo em sua trajetória terá cedido à energia cinética
uma quantidade Mgh de energia potencial. A energia mecânica não é a única
grandeza conservativa no movimento circular, vamos seguir em frente.

6 MOMENTO ANGULAR
No movimento retilíneo é possível associar uma força à variação temporal
de uma quantidade, definida pelo produto entre a massa e a velocidade de um
corpo. Quando um corpo entra em movimento circular, a partir do repouso,
podemos também associar o torque que gerou aquela rotação à variação temporal
de uma quantidade específica. Aqui discutiremos tal quantidade.

Vamos inicialmente considerar a definição de força como a variação


temporal do momento linear:

 d 
F = p. (1.48)
dt

Lembrando da definição do torque como um produto vetorial entre o


vetor raio de giro e a força aplicada, teremos algo como:

    d 
τ = r × F = r × p. (1.49)
dt

Aqui podemos aplicar a definição da derivada temporal do produto (rŠx Š


p).

39
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

d    d   d 
dt
( r × p ) = r × dt p + p × dt r . (1.50)

 d   
= r × p + p×v
dt

 d   
r × p + m(v × v)
=
dt

 d 
= r× p
dt

Š Š
Uma vez que (v x v) = 0. Retornando à definição do torque (1.36)
  
τ = r ×F (1.51)

 d 
= r× p
dt

d  
=
dt
(r × p)
d 
= L
dt

Š Š Š
Em que a quantidade L = r x p é chamada de momento angular.

Š
GRÁFICO 15 – TORQUE T APLICADO EM UM CORPO

FONTE: O autor

40
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

Š
Note no gráfico que o vetor momento angular L = ŠrxŠ
p (linha sólida verde)
Š
é perpendicular ao plano formado pelos vetores raio r (linha tracejada vermelha)
Š
e força p (linha tracejada com pontos azul). Assim, quando você abre uma porta
em casa, troca um pneu do carro, ou prepara uma vitamina no liquidificador,
acaba aplicando o conceito de torque.

O momento angular é a quantidade que deve variar com o tempo, no


movimento circular. Ele tem um sentido análogo àquele do momento Š p no
movimento retilíneo. Podemos ainda defini-lo em termos do produto entre os
módulos do raio de giro, do momento linear e do seno do ângulo θ entre os
vetores, como:

=L r p sin ( θ ) (1.52)

π
Considerando o caso em que θ = , que maximiza o valor de L, teremos:
2

L = rmv (1.53)

Note que a principal diferença entre o momento linear p e o momento


angular L é exatamente a existência de um raio de giro r.

DICAS

Sugerimos a leitura do artigo Análise da dinâmica de rotação de um satélite


artificial: uma oficina pedagógica em educação espacial (REIS et al., 2008), publicado na
Revista Brasileira de Ensino de Física e disponível em: <https://goo.gl/qKZWzp>. Nele, os
autores investigam a utilização de uma oficina em educação espacial como ferramenta
pedagógica para o ensino do movimento de rotação de um satélite artificial no espaço.
Com apenas uma lata de refrigerante e alguns materiais de baixo custo, um dispositivo é
construído, representando um satélite. Não apenas o movimento de rotação de um corpo
no espaço é investigado, como também noções sobre a terceira lei de Newton e pressão. É
uma leitura interessante, pois nos lembra que é possível fazer uso de materiais simples com
um pouco de engenhosidade pedagógica para trabalhar assuntos de alta complexidade,
como o movimento de satélites em torno do planeta.

41
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

7 SISTEMA DE PARTÍCULAS E SEU MOMENTO ANGULAR


Considerando a hipótese de um corpo formado por N partículas, com
N sendo velocidades e N momentos, teremos que em cada i-ésima partícula
com momento p Š, movendo-se a uma distância Š
i
ri do centro, atuará um torque Š
τi,
vetor que aponta na direção perpendicular do plano Š rxŠ p formado. A equação
(1.42) apresenta a expressão para o torque resultante ŠτR, atuando em um ponto
específico, quando N forças atuando a uma distância r geram N torques. Note que
cada uma das grandezas na equação carrega consigo um índice i, isso significa
que qualquer combinação do produto (miri2αi), contribui para o torque.

GRÁFICO 16 – VELOCIDADES Š
vi MOMENTOS Š
pi EM UM SISTEMA DE PARTÍCULAS

FONTE: O autor

No gráfico anterior observamos uma distribuição esférica de pontos,


que poderiam ser interpretados como constituintes de um objeto sólido. Nessa
situação cada uma das partículas possui uma massa mi, localizada na respectiva
posição Š
ri, movendo-se a uma velocidade Švi e, consequentemente, portadora de
um momento Š pi. Em uma situação como a descrita acima, o torque total a que
o corpo está submetido, como um todo, é calculado pela soma dos N torques
atuantes.
 N N

∑ i= ∑m r ω
2
τR= τ i i (1.54)
i i

42
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

Quando lidamos com problemas em que um objeto se move em círculos


ou sobre uma casca geométrica esférica, com aceleração α e a uma distância fixa
Š| de um ponto central e levando em conta a equação (1.42), encontramos a
ri = |r i
expressão apresentada na equação (1.40).

Vamos discutir rapidamente a energia cinética associada ao sistema


do gráfico anterior. É fácil notar que a energia cinética total desse sistema será
dada pela soma das energias cinéticas de cada partícula envolvida no sistema.
Para isso tiraremos proveito de que a velocidade de uma partícula qualquer em
um sistema pode ser escrita como a velocidade do centro de massa Š vCM mais a
Š
velocidade da partícula em relação ao centro de massa ui, de modo que ficamos
Š=Š
com  v vCM + Š
ui. Isso faz sentido se considerarmos que o objeto, como um todo,
i
se move no espaço e que o movimento espacial de uma partícula qualquer é dado
pelo movimento do objeto como um todo vŠCM, mais o movimento da partícula em
volta desse centro de massa Š ui. Na ausência de um sistema de partículas, ou seja,
Š
vCM = 0, temos que Š vi = Š
ui, que retrata um movimento independente da partícula
no espaço. A energia cinética então fica:

N
KTotal = ∑Ki (1.55)
i

N
1
= ∑ mi vi2
i 2

N
1  
= ∑ 2 m (v ⋅ v );
i
i i i

N
1    
= ∑ 2 m (v
i
i CM
+ ui ) ⋅ ( vCM + ui ) ;

N N
1 1  N 1 
∑i 2 i CM ∑i 2 i i CM ∑i 2 miui ;
2 2
= m v + m u + 2 v

N N
1 1
∑i 2 i CM ∑i 2 miui ;
2 2
= m v +

Ktotal = KCM + K Part ; CM .

43
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

A equação (1.55) é funcional para a aplicação em um problema como


aquele descrito na figura. Corpos independentes, distribuição discreta de
matéria, em posições discretas no espaço. Note que começamos a discussão na
equação (1.55) em termos da velocidade de cada partícula, porém, na terceira
linha, reescrevemos o quadrado da velocidade como o produto linear de dois
vetores vŠi. Ao aplicarmos a condição de que a velocidade de cada partícula é uma
combinação de duas outras velocidades na quarta linha e desempenharmos tal
produto, encontramos, na quinta linha, três termos em somatório, o primeiro
deles representa a energia cinética do centro de massa KCM, o segundo termo
representa a energia da i-ésima partícula em relação ao centro de massa KPart;CM,
ambos devidamente descritos na sexta e sétima linhas. O último termo, na quinta
linha da equação (1.55), representa o momento linear total do sistema em relação
ao centro de massa, que deve ser nulo, uma vez que como o sólido mantém-
se intacto durante todo o deslocamento, não há forças resultantes e, por isso, o
momento de cada partícula acaba sendo suprimido. A equação (1.55) nos diz que
a energia cinética total de um sistema de partículas pode ser entendida como
uma combinação entre a energia cinética do centro de massa dessa distribuição
e a energia cinética do movimento de cada partícula em relação ao centro de
massa do sistema. Imagine você que um martelo seja lançado para cima, por um
operário habilidoso. O martelo se move parabolicamente, subindo e descendo,
enquanto gira em torno de si mesmo. A energia cinética de uma farpa na ponta
do cabo seria descrita como a energia cinética associada ao movimento do centro
de massa do martelo acrescida da energia da farpa em torno de si mesma.

8 CONSERVAÇÃO DE MOMENTO ANGULAR


A conservação do momento angular é o fenômeno circular análogo
à conservação do momento linear na cinemática retilínea. E assim como no
movimento retilíneo uniformemente variado, cuja conservação do momento
linear se dava quando nenhuma força resultante atuava em um corpo, sempre
que a resultante dos torques externos a um dado ponto for nula, então teremos a
conservação do momento angular. Ou seja:
 d 
=τ = L 0 (1.56)
dt

Isso significa que podemos escrever:


 
Li − L f =
0 (1.57)

 
Li = L f

44
TÓPICO 2 | DINÂMICA ROTACIONAL

A equação (1.57) sugere que a variação do momento angular L entre dois


momentos, inicial i e final f, é nula. Essa pode parecer uma informação irrelevante,
porém, se considerarmos a segunda linha da equação (1.57), e lembrarmos da
equação (1.52), podemos escrever:

mi ri vi = m f rf v f (1.58)

Isso significa que qualquer alteração, seja na massa, na forma, ou na


velocidade do objeto, uma vez que nenhum torque atue nele, acarretará em uma
compensação do produto no lado direito da equação (1.41).

45
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• A dinâmica rotacional descreve o movimento circular em sua origem, suas


causas.

• Há formas de fazer a descrição vetorial do movimento rotacional.

• O torque é a grandeza circular análoga à força.

• Existe uma relação entre força e variação de momento linear, o que nos leva ao
momento angular.

• O momento angular está contido em um sistema de partículas que se move no


espaço.

• Ao separarmos corpos rígidos com composição contínua, daqueles imaginados


como composições discretas, tratamos a massa do corpo como uma grandeza
contínua e podemos definir o momento de inércia.

• A conservação do momento angular é estudada com intuito análogo aquele


prestado ao estudo do momento linear.

46
AUTOATIVIDADE

1 O movimento circular de um corpo rígido que gira em torno de um eixo fixo


depende de algumas condições especiais. Indique valores de verdadeiro
(V) ou falso (F) para a sequência de proposições a seguir:

a) ( ) O conceito de corpo rígido se baseia na ideia de uma configuração


indeformável para um corpo, independente da força sobre ele aplicada.
b) ( ) Um corpo rígido que gira em torno de um eixo fixo pode ser entendido
como um sistema de partículas que se movem à mesma velocidade e com a
mesma aceleração.
c) ( ) Apesar do nome rígido, a definição de corpo rígido considera o
movimento relativo entre as partículas que o compõem.

2 A dinâmica rotacional trata dos mecanismos que descrevem a origem desse


tipo de movimento. Indique valores de verdadeiro (V) ou falso (F) para a
sequência de proposições a seguir:

a) ( ) O torque é um vetor perpendicular à taxa de variação do produto vetorial


entre o raio de giro Šr e o momento Š
p de um corpo em um movimento circular.
b) ( ) O torque é um vetor paralelo à taxa de variação do produto escalar entre
o raio de giro Šr e o momento Š p de um corpo em um movimento circular.
c) ( ) O torque é um vetor perpendicular ao produto vetorial entre o raio de
Š
giro Šr e a força F aplicada em um braço de alavanca, em um movimento
circular.

F Fy ˆj + Fz kˆ sobre um braço de
2 Suponha que você aplique uma força =

r rx iˆ + rz kˆ . Calcule o vetor torque Š
alavanca na posição = τ.

4 Considere um sistema em que um mecânico aplica uma força com vetor



( )
F = 3 iˆ − 4 ˆj + 7 kˆ N , que faz um ângulo de 35º com uma peça do

( )
maquinário onde a força é aplicada, em um ponto r = 2 iˆ + 1 ˆj + 1 kˆ m ,
da origem do sistema. Calcule:
Š
a) O torque Š
τ =Š
r x F.
1
b) O trabalho W realizado pelo torque, quando a chave gira π.
4
5 Considere um garoto sentado na cadeira do escritório do pai. Ele segura
dois pesos de papel que encontra sobre a mesa e põe-se a girar, abrindo e
fechando os braços de modo que o vetor momento angular do sistema varia

( )
com o tempo segundo a dependência L ( t ) = 4 t 3 k̂ N m s. Com isso em
mente e sabendo que a taxa de variação temporal do vetor momento linear
é de 1 (kg m / s) / s e que este mantém um ângulo de 37º com o vetor raio Š
r,
calcule como o módulo do raio varia com o tempo.
47
48
UNIDADE 1
TÓPICO 3

DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

1 INTRODUÇÃO
Quando corpos compactos, rígidos, giram em torno de si mesmos, ou
em torno de um eixo fixo, temos que adotar uma abordagem diferente daquela
aplicada à descrição da dinâmica de partículas que giram ao redor de pontos
fixos no espaço. No caso da dinâmica dos corpos rígidos é preciso levar em conta
a natureza da distribuição de massa pelo corpo. Há casos clássicos de objetos
cujas distribuições de massa não são uniformes pelo corpo, como os antigos
televisores ou monitores de computador, com seus tubos de imagem, esculturas
em mármore, vasos de flores.

Ao construir motores para carros, os engenheiros responsáveis devem


levar em conta a resposta do mesmo à variação do momento angular, resultante
de cada aceleração do veículo, a fixação desses motores na estrutura dos carros de
corrida, as asas de redução de arrasto e as entradas de ar bólidos devem mediar a
maximização performance mecânica e a minimização do arrasto e atrito.

Para que um sólido possa girar em torno de um eixo, de forma estável e


equilibrada, é preciso encontrar um eixo que passe por uma região que resulte
em algum tipo de simetria do sólido em relação ao eixo. Essa simetria está
relacionada à posição do centro de massa do corpo e faz com que ele gire como
um peão, como podemos ver na figura a seguir.

49
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

FIGURA 7 – DIE KINDERSPIELE

FONTE: <https://bit.ly/2k7Ydtk>. Acesso em: 19 maio 2018.

Nela podemos apreciar a obra Die Kinderspiele, “aquele jogo infantil”, em


uma tradução livre, do pintor renascentista holandês Pieter Bruegel, um óleo
sobre tela que retrata os jogos infantis, como uma etapa das idades do homem,
uma série de pinturas. Na figura a seguir, apresentamos novamente a obra
anterior, mas agora destacamos, em (a), o detalhe no canto superior esquerdo,
em que crianças jogam seus piões (b). Podemos notar que os objetos, sólidos
como são, giram em torno de um eixo central fixo, que passa pelo meio do pião,
representado por uma linha branca.

FIGURA 8 – DETALHE DA OBRA

FONTE: <https://bit.ly/2k7Ydtk>. Acesso em: 19 maio 2018.

50
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

Em caso contrário, quando há uma distribuição assimétrica da massa, em


relação ao eixo de giro, o movimento de rotação pode se tornar uma sucessão
de revoluções caóticas e desgovernadas, como um carro que capota na estrada,
ou uma máquina de lavar fora do prumo. Vamos agora discutir a rotação de um
corpo rígido ao redor de um eixo fixo, que passa através do corpo criando algum
tipo de simetria espacial.

DICAS

Leia o artigo Física para o ensino médio usando simulações e experimentos


de baixo custo: um exemplo abordando dinâmica da rotação (DUARTE, 2012), publicado no
Caderno Brasileiro de Ensino de Física e disponível em: <https://bit.ly/2G90VqX>. Nele, o autor
propõe a adoção de experimentos de baixo custo para o ensino de física em nível médio. Por
se tratarem de experimentos criados com materiais baratos e de fácil acesso, o autor defende,
com propriedade, que tal estratégia aproxima os alunos do conhecimento científico. O autor
advoga que vídeos e simulações são ferramentas notáveis de ensino-aprendizagem, acabam
por contribuir para uma imagem idealizada da ciência, e a conjugação entre a abstração, por
meio de mídias digitais, e o concretismo, através do trabalho com experimentos de baixo
custo, podem tornar mais esse processo de ensino-aprendizagem.

2 ROTAÇÃO COM EIXO FIXO


Vimos até aqui as propriedades que emergem do problema da rotação
de corpos rígidos em torno de eixos fixos. Momento de inércia, torque, momento
angular, essas e outras quantidades se relacionam por meio de uma complicada
sucessão de efeitos que podem causar grandes variações em sistemas em rotação.
Vamos entender um pouco como algumas dessas quantidades se confrontam.

Vamos considerar a conservação do momento angular, por um momento,


como apresentado na equação (1.56). Nela, vemos que tornar nula a taxa de
variação temporal do momento de inércia acaba por implicar que os momentos
angulares final Lf e inicial Li não se alteram, entre dois eventos, como podemos
ver na quarta linha:.

51
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

d (1.59)
L = 0;
dt
Lf

∫ dL = 0;
Li

∆L =0;

L f = Li ;

I f ω f = I i ωi ;

m f rf2 ω=
f
mi ri2 ωi ;

I   m r2 
ω
= f  i = ωi  i i 2  ωi ;
 I f   m f rf 

Isso implica que os produtos do momento de inércia com a velocidade


angular, inicial e final também não sofrem alteração, como visto na quinta linha.
Mas isso não significa que as quantidades que compõem tal produto não podem
ser alteradas entre si. Na última linha da equação (1.56) temos a velocidade
angular final ωf escrita em termos da razão e entre os momentos de inércia e da
velocidade angular inicial ωi. Essa expressão indica que qualquer alteração na
velocidade angular de um corpo rígido que gira em torno de seu eixo de simetria
deverá acompanhar a alteração no momento de inércia do corpo girante. É como
na conservação do momento linear.

Observe a figura a seguir, ela mostra uma personagem dos quadrinhos


Peanuts, de Charlie Brown, do cartunista Charles M. Schulz (1922 - 2000). No
episódio intitulado She's a Good Skate, Charlie Brown, algo como “Ela é uma boa
patinadora, Charlie Brown” em tradução livre, a personagem conhecida como
Peppermint Patty, ou “Patty Pimentinha”, como ficou conhecida na tradução
brasileira, patina sobre o gelo com notável habilidade, ainda que com inseguranças
momentâneas. Separamos na figura, alguns momentos que marcam o um trecho
do desenho animado. Patty patina sobre o gelo e se prepara para alguns rodopios.

52
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 9 – SHE'S A GOOD SKATE, CHARLIE BROWN

FONTE: <https://bit.ly/2xxk4Ul>. Acesso em: 19 maio 2018.

O painel (a) indica o início do movimento, em que se prepara para a


manobra; em (b) ela toma impulso e começa a girar em torno de um eixo de
simetria (eixo em preto). Em (c) ela estabelece uma base mais firme e gira sem
sair do lugar. Quando Patty se abaixa como no painel (d), encurtando o alcance
de braços e pernas, ela tira proveito da conservação do momento angular para
aumentar consideravelmente a velocidade de suas revoluções. Até o momento (e),
em que ela se desequilibra e precisa corrigir seu movimento. Ela coloca as mãos
e os pés no chão, depois de estender braços e pernas, pois sabe intuitivamente
que, ao aumentar a área que se corpo cobre, altera seu momento de inércia, de
modo a reduzir sua velocidade angular, também tirando vantagem novamente
da conservação do momento angular.

Voltando à equação (1.56), vemos que, no caso da Patty Pimentinha, mf =


mi, o que significa que teremos para a velocidade angular

ri2
ωf = ωi ; (1.60)
rf2

Quando a Patty fecha os braços e pernas, se abraçando, como no painel


(d) ela aumenta sua área, portanto seu raio r, de modo que rf < ri. Isso implica
ri2
>0
que a razão dos quadrados dos raios fica rf2 e, por sua vez ωf > wi, que pode
ser percebido como um aumento em sua velocidade de giro. Porém quando, no
painel (e), ela perde o equilíbrio e abre braços e pernas para reestabelecer sua

53
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

estabilidade, ela acaba por aumentar a área que ocupa, e nesse caso rf > ri, o que
r2
faz com que a razão dos quadrados dos raios seja i2 < 0 e a velocidade ficando ωf
rf
< wi, o que a ajuda a parar.

DICAS

Sugerimos a leitura do artigo Estudo Experimental da Rotação de um Corpo


Rígido ao Redor de um Eixo Fixo. Conservação do Momento Angular, (CISNEROS, J. I.; LUJAN,
E., 1996), publicado no Caderno Brasileiro de Ensino de Física e disponível em: <https://bit.
ly/2LbRHND>. Nele, os autores propõem a utilização de um aparelho para o estudo do
movimento de um corpo rígido em torno de um eixo fixo, composto um disco giratório e
um dispositivo de propulsão. A velocidade angular pode ser medida e o momento de inércia
pode ser alterado bruscamente para estudos avançados. Os resultados de três experimentos
são apresentados e debatidos pelos autores.

3 CÁLCULO DO MOMENTO DE INÉRCIA


O cálculo do momento de inércia deve seguir o comportamento da
distribuição da massa

m
I = ∫r 2 dm (1.61)
0

Vamos considerar o cálculo do momento de inércia de um anel circular


fino, em relação ao eixo central, que passa pela origem, apontando para fora da
página, como especificado na figura a seguir. Considerando um elemento de
massa dm se movendo sobre o raio R do anel, teremos:

54
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 10 – MOMENTO DE INÉRCIA DE UM ANEL

FONTE: O autor

Considerando a distribuição de massa do anel, com raio r fixo, teremos:

M
I = ∫ r 2 dm (1.62)
0

∫dm
2
=r
0

= MR2 .

Podemos também discutir o momento de inércia de um disco de espessura


desprezível, com raio 0 ≤ r ≤ R, como mostrado na figura seguinte. Independente
do sentido da rotação é interessante lembrar que um disco pode ser entendido
como uma composição de anéis concêntricos, em que cada anel contém um raio
dr maior que o anel anterior.

55
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

FIGURA 11 – MOMENTO DE INÉRCIA DE UM DISCO

FONTE: O autor

A cada anel concêntrico podemos associar uma massa dm, de modo que a
razão entre a massa infinitesimal de um anel e a massa total do disco é equivalente
à razão entre a área ocupada por um desses anéis e a área total ocupada pelo
disco, de modo que teremos a relação:

dm 2 πrdr r
= = 2 2 dr ; (1.63)
M πR 2
R

r
dm = 2 M dr.
R2

Dessa maneira, para o cálculo do momento de inércia, representado pela


equação (1.42), teremos:

R
2M
I = 2 ∫r 3 dr (1.64)
R 0

1M 4
= R − 0
2 R2  

1
= MR2 .
2

56
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

Perceba que o momento de inércia I de um disco em relação a um eixo


perpendicular a sua superfície não depende da espessura do disco, o que quer
dizer que tanto uma moeda quanto um cilindro maciço, com a mesma massa e
mesmo raio, apresentarão o mesmo momento de inércia.

Se esticarmos um disco, temos uma barra, e a próxima figura apresenta


o momento de inércia de uma barra cilíndrica de raio irrelevante aqui. A barra
possui um comprimento H e gira em torno de um eixo z que passa por seu centro.
A distância h representa uma posição a partir da origem O do sistema, posicionado
no ponto em que os eixos x e z se cruzam. A quantidade dh representa um anel
infinitesimal, um disco muito fino, num corte transversal à barra.

FIGURA 12 – MOMENTO DE INÉRCIA DE UMA BARRA

FONTE: O autor

Nesse caso, podemos considerar uma relação de equivalência entre massa


e raio da barra, de modo que a expressão:

dm dh (1.65)
=
M H

O que significa que o momento de inércia de uma barra em relação a um


eixo que a corta transversalmente em seu centro pode ser calculado como na
equação (1.44):

57
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

M
I = ∫ r 2 dm ; (1.66)
0

H H

M 2 2
M 2

∫ ∫ h dh ;
2
= h dh +
H 0 H 0

M 2 2

H ∫0
=2 h dh ;

H
2M 3
= h ;
3H 0

3
2 M H 
= ;
3 H  2 

1
= MH 2 .
12

Para isso partimos da definição do momento de inércia na primeira linha,


em seguida, na segunda linha, aplicamos dm a partir da relação (1.43) e obtemos
dois termos. Cada um desses termos faz referência a uma metade da barra
apresentada na figura anterior, perceba que os limites de integração compreendem
essa condição. Na terceira linha, simplificamos o cálculo considerando duas vezes
a mesma metade, o que nos deixa com uma soma integral simples. Na quarta e
quinta linhas, aplicamos os limites de integração e obtemos o resultado final para
o momento de inércia de uma barra, em relação a um eixo que passa pelo seu
centro. Note que esta é uma quantidade independente da espessura da barra. Isso
significa que esse cálculo é valido também para barras retangulares.

58
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 13 – MOMENTO DE INÉRCIA DE UMA ESFERA

FONTE: O autor

Uma esfera que gira ao redor de um eixo que passa por seu centro de massa
também possui momento de inércia associado, como mostrado na figura anterior.
Nela apresentamos uma esfera centrada na origem O. De raio R, denotado por
uma seta entre a origem e o ponto A, na superfície da esfera. Note que a esfera
apresentada nessa figura possui duas geodésicas, uma no equador e outra um
pouco mais acima, distante de uma distância qualquer z, representada pela seta
entre a origem O, e o ponto B sobre o eixo central. A geodésica superior apresenta
uma espessura dz e dista r do eixo central, denotado por uma seta entre o eixo e
o ponto A, na superfície da esfera.

dm πr 2 dz 3 r 2
= = dz. (1.67)
M 4 3 4 R3
πR
3

Comparando a razão entre a massa contida na geodésica superior e


a massa total da esfera com a razão entre os respectivos volumes, obtemos a
relação apresentada na equação (1.45). Ela nos permite reescrever a quantidade
infinitesimal de massa dm em termos dos raios, da espessura da geodésica e da
massa total da esfera. Faremos o cálculo em duas etapas. Primeiramente, como
dm representa a massa contida no disco de raio r e espessura dz, vamos tirar
proveito do cálculo anterior e construir a quantidade dI do momento de inércia,
pertinente ao próprio disco. Ficamos então com:

59
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

1 2
dI = r dm; (1.68)
2

1 2 3 r2
= r M dz;
2 4 R3

3M 4
= r dz
8 R3

De modo que se considerarmos que o eixo central da esfera varia –R ≤ z ≤ +R


e que esse limite pode ser aplicado à definição de momento de inércia como a soma
integral de infinitas quantidades infinitesimais dz, teremos:

I = ∫ dI ; (1.69)

+R R
3M 4 3M 4
= ∫= r dz 2 ∫ r dz ;
−R
8R 3
0
8 R3

R
3M
∫ (R )
2
2
= − z2 dz ;
4 R3 0

R
3M
∫(R )
4
= − 2 R2 z 2 + z 4 ;
4 R3 0

3 M  4 
R R R

4 R3  ∫0 ∫0 ∫0  ;
2 2 4
=   R dz − 2 R z dz + z dz


3 M  5 2 5 1 5  
=  R − R + R  ;
4 R3  3 5 

2
= MR2 ;
5

60
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

Note que na segunda linha consideramos a possibilidade de realizar uma


soma integral, respeitando o limite inicial proposto para z, porém é possível
também duplicar a soma integral de metade da esfera, se fizermos 0 ≤ z ≤ +R. É
o que fazemos e na terceira linha substituímos o raio genérico do argumento da
integral pela quantidade r2 = R2 – z2, que pode ser deduzida a partir do triângulo
retângulo central, na parte interior da esfera da figura anterior. Com isso ficamos
com três somas integrais distintas e finalmente com a quantidade final de dois
quintos do produto entre a massa total da esfera e o quadrado de seu raio.

Nos exemplos anteriores, calculamos o momento de inércia de corpos


que giram em torno de eixos que passam por seus respectivos centros de massa,
porém esse nem sempre será o caso, há também as situações em que um corpo
rígido gira em torno de um eixo fixo distante daquele que passa por seu centro
de massa e. nesse caso. devemos aplicar o teorema dos eixos paralelos para um
resultado convincente.

Realizamos até aqui o cálculo do momento de inércia de diversos corpos


rígidos que giram em torno de eixos que passam por seus respectivos centros
de massa. Porém eventualmente outras configurações rotacionais e apresentam e
temos que que lidar com corpos rígidos que giram em torno de eixos distantes o
centro de massa, embora paralelos a algum eixo central. Nesse caso o que fazemos
para realizar o cálculo do momento de inércia é apelar para um teorema que leva
em conta essa particularidade e considera esse deslocamento.

O teorema dos eixos paralelos é útil para calcular o momento de inércia


de um corpo rígido, pois relaciona o momento de inércia de tal corpo rígido, em
relação ao eixo que passa por seu centro de massa, àquele em relação a um eixo
que passa em qualquer outro ponto do corpo rígido.

Ele é definido a partir da energia cinética de um sistema de partículas. É


fácil demonstrar que a energia cinética de um sistema de partículas é igual à soma
da energia cinética do centro de massa, com a energia das partículas em relação
ao centro de massa. O que nos deixaria com:

K KCM + K Part ; CM
= (1.70)

Para calcularmos KPart;CM, vamos partir da expressão clássica para a energia


cinética de um corpo:

61
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

1
K Part ; CM = mv 2 (1.71)
2

1
m ( rω )
2
=
2

1
= mICM ω2
2

A equação (1.43) nos diz então que a energia cinética de uma partícula que
se move em torno do centro de massa pode ser escrita em função da velocidade
angular ω dela e de seu momento de inércia ICM, em relação ao centro de massa do
sistema. Para entendermos melhor o teorema dos eixos paralelos, vamos imaginar
uma aplicação mais cotidiana.

Observe a figura a seguir, no painel (a) apresentamos uma aquarela


do pintor australiano John Lovett que retrata um martelo feito com uma peça
metálica e um cabo de madeira. Agora imagine que um martelo como o da figura
seja lançado verticalmente para cima, por um operário habilidoso, girando em
torno de um eixo, no cabo, o qual não atravessa o centro de massa CM do martelo.
O item (b) da figura ilustra o eixo no cabo, círculo com linha sólida (azul). Há
também um eixo paralelo, na peça metálica, com linha tracejada (vermelha), que
passa pelo centro de massa CM do martelo.

FIGURA 14 – HAMMER, POR JOHN LOVETT, 2012

FONTE<https://bit.ly/2IwLivs>. Acesso em: 19 maio 2018.

62
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

Considere que o martelo gira em sentido horário, com velocidade angular


ω em torno do eixo da direita, a uma distância d do centro de massa. É intuitivo
que ao girar em um ângulo dθ ao redor do eixo na posição 2, o martelo também
gira um ângulo dθ em relação 1, na posição do centro de massa uma partícula se
moveria com velocidade vCM, de modo que sua energia cinética seria dada por:

1 1 1
M ( dω=
)
2 2
K
= Mv=
CM
Md 2 ω2 (1.72)
2 2 2

Essa seria a energia cinética de uma partícula no centro de massa, posição


1 do martelo, porém, considerando uma partícula na posição 2 do martelo,
teremos:

1 1 1
M ( dω=
)
2
K
= 2
Mv=
CM
Md 2 ω2 (1.73)
2 2 2

Considerando a equação (1.42), teríamos:

1 1
K
= Md 2 ω2 + ICM ω2 (1.74)
2 2

1 1 2
=
2
( )
Md 2 + ICM ω2=
2

=I Md 2 + ICM

O que demonstra que o centro de massa do sistema pode ser escrito em


termos do centro de massa e da distância que um determinado ponta está do
centro de massa. Vimos aqui a demonstração desse importante teorema, vamos
então rever alguns exemplos anteriores, agora considerando um deslocamento
no eixo de giro.

63
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

FIGURA 15 – MOMENTO DE INÉRCIA DE UM DISCO, EM RELAÇÃO A UM EIXO NA BORDA

FONTE: O autor

Considerando então o teorema dos eixos paralelos, vamos calcular o


momento de inércia de um disco que gira em torno de um eixo z', como mostrado
na figura, distante pelo valor do próprio raio do disco, do eixo z que passa pelo
centro de massa do disco. Vemos que para a realização do cálculo basta que
somemos à quantidade ICM do momento de inércia em relação ao centro de massa,
já calculado, em que d é a distância que separa os dois eixos, aqui igual ao raio R
do disco.

=I Md 2 + ICM (1.75)

1
= MR2 + MR2
2

3
= MR2
2

Note que, em relação ao caso em que o eixo de giro repousa sobre eixo
que passa pelo centro de massa do disco há um simples acréscimo de MR2, muito
semelhante ao valor ICM, para o eixo de simetria. Também é possível calcular o
momento de inércia de uma barra que gira em torno de um eixo z', que passa a
H
uma distância do eixo de simetria z, no centro de da barra.
2

64
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 16 – MOMENTO DE INÉRCIA DE UMA BARRA, EM RELAÇÃO A UM EIXO NA BORDA

FONTE: O autor

Para isso vamos considerar novamente a definição do teorema dos eixos


paralelos e retomar o momento de inércia da barra na figura já mostrada, assim
que aplicamos os valores correspondentes obtemos o valor final, apresentado na
equação (1.32), quatro vezes maior que aquele da barra que gira em torno de um
eixo de simetria que passa em seu centro de massa.

=I Md 2 + ICM (1.76)

2
H 1
= M   + MH 2
 2  12

1
= MH 2
3

Vamos agora discutir como a alteração de uma quantidade essencial,


discutida anteriormente, é capaz de gerar torque em um sistema rotacional.

4 FORÇAS CENTRÍPETA E CENTRÍFUGA


A força centrífuga é uma força fictícia que emerge em movimentos
rotacionais. Ela costuma ser confundida com sua antítese, a força centrípeta,
vamos discutir a diferença entre as duas. A força centrípeta está associada à
alteração do vetor velocidade Š
v de um objeto que realiza um movimento circular.
Observe a figura a seguir, ela apresenta uma esfera metálica, presa por um fio

65
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

de massa desprezível, girando em torno de um ponto fixo. A cada instante o vetor


velocidade aponta para uma direção tangente à trajetória circular que descreve, medida
  d 
naquele ponto. Pela segunda lei de Newton, sabemos que F
= ma
= m v, de modo
dt
que o movimento circular implica a existência de uma força alterando o estado de
movimento do corpo.

FIGURA 17 – ESFERA EM MOVIMENTO CIRCULAR UNIFORME

FONTE: O autor

A força responsável por isso é a força centrípeta, ela aponta radialmente


para o centro da trajetória, assim como a aceleração centrípeta Š ac. Se, por algum
motivo, o fio arrebentar, a esfera seguirá uma trajetória tangente àquela que vinha
realizado. Como vimos anteriormente, a toda ação cabe uma reação de igual
intensidade e sentido oposto, esta é a terceira lei de Newton. A força centrífuga
é a reação à força centrípeta, uma força cujo sentido busca se afastar do centro.
Você tem contato com ela quando realiza uma curva em alta velocidade com seu
carro ou quando as roupas são “centrifugadas” pela máquina de lavar.

Perceba que embora chamemos o movimento descrito na figura a seguir


de circular uniforme, o que indica que ele se dá à velocidade constante, não se
pode esquecer que há sim uma aceleração atuando no sistema esfera mais fio. A
aceleração centrípeta que corresponde à variação na direção do vetor velocidade
torna todo o sistema girante em um referencial não inercial. A implicação disso
é que a sensação de ser ejetado para fora de um carro, quando este realiza uma
curva muito rapidamente, é uma manifestação do princípio de inércia na rotação
análoga à sensação de ser lançado para frente ou para trás, dependendo do
sentido da desaceleração linear de um veículo.

66
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 18 – CENTRÍFUGA DA NASA

FONTE: <https://bit.ly/2sc79SX>. Acesso em: 27 maio 2018.

Na figura acima vemos uma centrífuga utilizada na pesquisa dos efeitos


de altas acelerações no corpo de pilotos de aviação no laboratório Ames Research
Center, da NASA, agência americana de administração aeronáutica e espacial,
na Califórnia. O equipamento é utilizado para o treinamento de pilotos, que são
submetidos a acelerações da ordem de 20 vezes aquela da gravidade.

Essas centrífugas apresentam cabines em que pilotos se sentam e, à


medida que o equipamento gira em torno de um eixo central, a cabine se inclina
de modo a que sua vertical se alinhe com o raio do movimento circular descrito
progressivamente, à medida que a cabine é acelerada até uma velocidade angular
constante ω.

DICAS

Para uma visão mais aprofundada no assunto, sugere-se o artigo A dinâmica


na geometria (o cálculo da força centrífuga feito por Huygens), (DIAS, 2013), publicado na
Revista Brasileira de Ensino de Física, disponível em: <https://bit.ly/2IQ0R1q>. Nele, a autora
remonta a interpretação do físico, matemático e astrônomo holandês Christiaan Huygens
(1629-1695) para a força centrífuga, que emprega elementos de mecânica e geometria
infinitesimal para o tratamento do movimento ode corpos rolantes.

67
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

5 FORÇA DE CORIOLIS
Esta é uma força inercial que atua em corpos que se movam em relação
a um sistema de referência em rotação. Tipicamente encontrado em sistemas
climáticos, o efeito causado por essa força é o de alterar o curso de fluidos, como
a água ou o ar, que se movem em relação a um sistema girante de referências.
Isso ocorre, por exemplo, quando massas de ar ou tormentas viajam através ou
sobre a atmosfera terrestre e é esse o exemplo que vamos explorar. O ponto é
que como a Terra gira em torno de um eixo central, do oeste para o leste, e como
ela é achatada, devido à força centrífuga associada à sua revolução, corpos no
equador giram mais rápido que corpos nos polos. Essa velocidade superior deve
compensar o aumento no deslocamento circular, devido ao aumento no raio do
planeta.

Imagine agora que uma pessoa que habite o estado de Roraima (RR)
pretenda enviar um super-avião de papel a um amigo que habita o norte do
Paraguai (RY), como pode ser visto na figura a seguir. Você poderia imaginar que
bastaria enviar o avião de papel, ao longo da mesma latitude, rumo ao sul. Mas
porque em Roraima a velocidade tangencial do avião é maior v> , que na região ao
norte do Paraguai v< , o avião tem mais chances de acabar rumando em direção ao
Espírito Santo (ES). Perceba que essa discussão é meramente qualitativa, não há
como prever o local exato em que um super-avião de papel poderia pousar.

FIGURA 19 – DIFERENÇA NA VELOCIDADE DE ROTAÇÃO ENTRE EQUADOR E BRASIL

FONTE: O autor

68
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

Porém podemos imaginar a situação inversa, pelo menos no hemisfério


inverso. Suponha que uma pessoa que more no estado americano do Arizona
(AZ) deseje enviar seu super-avião de papel até o estado de Montana (MT), onde
um colega vive, como pode ser visto na figura a seguir. Devido novamente às
diferenças de velocidades entre essas regiões e as suas respectivas posições em
relação à linha do equador, podemos supor que o avião de papel rumará em
direção ao estado de Minnesota (MN). Tanto o caso no hemisfério Sul quanto
aquele no hemisfério Norte representam a descrição de um corpo em relação a
um sistema de referências girante. E quando o avião, partindo de uma região que
gira mais rápido, chega a uma região que gira mais devagar, esse momento se
conserva sob a forma desse desvio para cidades mais ao leste. Do ponto de vista
de quem o enviou, o colega do Arizona, o avião faz uma curva para a direita.
Já para o cidadão que lançou o avião de Roraima, rumo ao norte do Paraguai, a
aeronave realiza uma curva para a esquerda.

FIGURA 20 – DIFERENÇA NA VELOCIDADE DE ROTAÇÃO ENTRE EQUADOR E EUA

FONTE: O autor

Quando lidamos com tempestades, com a da figura a seguir, devemos


manter em mente que no centro de cada um daqueles furacões que vemos nos
jornais há um centro de baixa pressão (CBP), como resultado, o ar de alta pressão
que envolve o centro do furacão ou seu “olho” está constantemente pressionando
o vácuo de baixa pressão no centro (linha sólida). Mas por causa do efeito
de Coriolis, o ar que se move em direção ao centro do furacão tem seu curso
desviado (linha tracejada). No hemisfério Norte, o volume de ar de todos os lados
do olho está sempre sendo empurrado um pouco para o lado direito. O ar, por

69
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

sua vez, continua tentando pressionar o centro da tempestade e sendo desviado


pelo efeito de Coriolis. Esse sistema autoalimentado faz com que a nuvem de
tempestade gire no sentido anti-horário. No hemisfério Sul, o efeito é inverso e
nuvens de tempestade giram no sentido horário.

FIGURA 21 – VISTA DO FURACÃO ISABEL

FONTE: <https://bit.ly/2clSb1N>. Acesso em: 27 maio 2018.

Na figura a seguir podemos ver duas tempestades distintas. À esquerda,


no painel (a) o furacão Catarina, que atingiu a costa sudeste do Brasil, no estado
de Santa Catarina, em março de 2004, um ciclone tropical raro que apresentou
ventos de velocidade da ordem de 150 km/h. Infelizmente o furacão Cataria
deixou mortos e muito prejuízo após sua passagem. Já no painel (b) vemos o
furacão Katrina, que varreu a costa do Golfo central dos Estados Unidos da
América, no ano de 2005. Muito mais violento que seu primo brasileiro, o furacão
Katrina atingiu velocidades de até 280 km/h, causando quase duas mil mortes e
gerando 125 bilhões de dólares em danos. Note como as fotografias mostram o
furacão Catarina que gira no sentido anti-horário e o furacão Katrina no sentido
horário.

70
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

FIGURA 22 – FURACÃO CATARINA EM 2004 (A) E KATRINA EM 2005 (B)

FONTE: <https://bit.ly/2sck2wg> e <https://bit.ly/1UaBYAZ>. Acesso em: 27 maio 2018.

Esse efeito sobre corpos em referenciais não inerciais foi descoberto pelo
matemático e engenheiro mecânico Gaspard-Gustave de Coriolis (1792-1843), que
publicou em um artigo de 1835 um trabalho sobre o rendimento energético de
máquinas com peças rotativas, como as rodas d’água. Nele, Coriolis identificou
duas categorias de forças suplementares que atuam em um sistema de referência
girante, a primeira era a da força centrífuga, já conhecida, e a segunda era composta
pela força que emergia do produto vetorial no espaço entre a velocidade angular
Š do sistema de coordenadas (coincidente com o eixo de rotação) e a projeção
ω
da velocidade Šv da partícula em um plano perpendicular ao eixo de rotação do
sistema.

É um efeito interessante, pois dependendo do seu referencial, ele é


percebido de forma diferente. Perceba que todas as nossas intervenções no tema
mostram imagens do globo, fora do sistema girante. Para um observador em
repouso em relação ao referencial girante, as trajetórias dos movimentos descritos
podem tomar outra perspectiva. Uma trajetória de tempestade que parecesse
retilínea para um observador fora do referencial terrestre, um astronauta, por
exemplo, pareceria uma curva para um observador que observa o progresso das
nuvens através de um binóculo.

71
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

DICAS

Para uma leitura mais aprofundada e também uma aplicação prática do


tema sugerios a leitura do artigo Construção de um aparato experimental destinado
à demonstração do efeito provocado pela força de Coriolis (SEMENZATO et al., 1998),
publicado no Caderno Brasileiro de Ensino de Física e disponível em: <https://bit.
ly/2LDupkH>. Nele, os autores propõem a construção de um aparato para o estudo da
força de Coriolis. É um experimento relativamente simples e bastante criativo, que faz
uso de alguns materiais como uma base de aço, rolamentos e um motor de limpador de
parabrisas.

72
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

LEITURA COMPLEMENTAR

JOSÉ LEITE LOPES: ideias e paixões

CIÊNCIA

A Ciência, o que é a Ciência? A ciência em ação, a ciência sempre na


fronteira... Ora, a Ciência não é senão as nossas tentativas de buscar respostas às
perguntas que nos fazemos sobre o universo em que vivemos, sobre a estrutura
das coisas que nos envolvem e sobre nós mesmos. Ciência é feita via pesquisa
científica, a investigação científica. Na pesquisa científica o homem de ciência é
como uma pessoa que está na sala escura à procura de um objeto; ele não sabe
onde está o objeto nem como ele é, e só quando ele o encontra é que aquilo se
torna uma coisa conhecida, um objeto que ele estuda e conhece.

Minha experiência pessoal teve início em 1940, quando decidi dedicar-me


à pesquisa científica. Comecei a trabalhar em pesquisa sob a direção de Wolfgang
Pauli (ver PAULI), que foi meu grande mestre, e a partir daí, em 46, fiz meu
doutorado com ele, em 44/45, em Princeton. Em 46, fui nomeado professor de Física
Teórica e Física Superior na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do
Brasil, como se chamava naquela época a UFRJ, e desde então nunca parei de
fazer pesquisa científica.

Há a Ciência que você conhece e transmite a seus alunos. Como em 46 não


havia ambiente científico, quanto menos nas áreas de física moderna, nuclear,
de partículas e de física teórica no Rio de Janeiro, eu dava aula de manhã e de
noite para estudantes para que eles se tornassem capazes de discutir comigo.
Ensinava a eles o que é fundamental, desde Galileu (ver GALILEU), passando
por Newton (ver NEWTON) e Maxwell (ver MAXWELL), Lorentz, Einstein
(ver EINSTEIN), Rutherford, Bohr, a Mecânica Quântica, a Teoria Quântica dos
Campos. Com esses fundamentos e com a parte matemática necessária você
começa a investigar, a fazer perguntas e foi o que eu fiz. Na época, havia os
problemas das forças nucleares, das forças entre prótons e nêutrons, nêutrons e
nêutrons, e prótons e prótons que são responsáveis por nós estarmos aqui, pela
estrutura do núcleo atômico. Estudei essa parte que era desconhecida e ainda hoje
é tema de investigação. Então publiquei trabalhos... e o que é publicar trabalhos?
É apenas divulgar uma solução de um problema que você se pôs e para o qual
encontrou essa solução que achou satisfatória, achou bonita, ficou contente com
ela. Neste caso, você manda o artigo para uma revista para que outros leiam,
compartilhem com você a alegria desse resultado. Quem faz uma investigação
científica e faz uma descoberta científica sofre uma grande alegria, talvez similar
ao pintor quando ele consegue pintar um quadro cuja beleza o encanta. Isso é
parte da Ciência. Uma vez encontrado esse resultado você o cataloga e ele passa
a ser parte da ciência morta, a ciência na estante, a ciência dos livros, essa que
você comunica por já ter sido feita. Mas o professor que não faz pesquisa, que
é o caso típico nas universidades (ver UNIVERSIDADE) privadas no Brasil, é

73
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

aquele que só transmite o que está catalogado nos livros empoeirados, ao passo
que a verdadeira transmissão de conhecimento que se esperaria encontrar na
verdadeira universidade é aquela feita por professores que realizam pesquisas.
Mesmo quando se trata de transmitir conhecimentos antigos como os de Galileu,
Newton e Maxwell, quem faz pesquisa os transmite de uma maneira vivaz e o
estudante sente, pois, aspectos sutis desses conhecimentos, que só o pesquisador
percebe quando ele próprio faz pesquisa.

A pesquisa científica é a ciência em ação, em plena atividade, uma


fronteira que nunca para e você não sabe na hora qual é o resultado que você vai
encontrar. Fiz trabalhos importantes em 1958 que hoje são triviais porque alguém
os encontrou, mas na época não eram.

O futuro da Ciência será sempre um futuro risonho, eu acho. Porque há


quem diga que a Ciência acabou, que a História acabou (ver HISTÓRIA). Isso é
uma besteira; como se fôssemos Deus (ver DEUS) e conhecêssemos a estrutura
de todo o universo. Ora, nós estamos mergulhados em um universo misterioso,
os cosmólogos e os físicos de partículas não sabem ainda direito a sua estrutura,
o que é a matéria cinzenta. Há sempre coisas novas, há sempre perguntas a se
fazer. O futuro da Ciência é um futuro brilhante, é um futuro de muitos séculos,
desde que a humanidade não seja destruída pela ação do próprio homem, que é
o grande predador da natureza.

FÍSICA

Eu considero a Física como a rainha das ciências, porque ela procura


descobrir e interpretar as leis da natureza, as leis do movimento, as leis da mecânica,
as leis do calor, que são as leis da Termodinâmica, as leis dos fenômenos luminosos,
dos fenômenos elétricos, eletromagnéticos, dos fenômenos atômicos, todos os
fenômenos que acontecem no Universo e obedecem a certas regularidades, que
são as leis físicas. A Física se ocupa em descobrir essas leis, essas regularidades,
e, ao mesmo tempo, ela utiliza muito a Matemática; ela observa os fenômenos,
faz experiências, faz observações e, para descrevê-los, necessita dos formalismos
matemáticos. É a Física a ciência que mais utiliza a matemática avançada, mais
profundamente, mais do que a Química, a Biologia etc. Então a Física é a rainha
das Ciências.

A Física começou com a concepção errônea de Aristóteles, depois houve


Galileu, Newton, houve os grandes homens que desenvolveram a Mecânica,
como d’Alembert, Maupertuis etc. Houve depois James Clerk Maxwell, que
descobriu o campo eletromagnético, houve Michael Faraday. No fim do século
passado, alguns incautos diziam que com a mecânica newtoniana e com a teoria
eletromagnética se podia explicar toda a Física. Exatamente neste momento,
no fim do século passado, houve a descoberta de fenômenos que não eram
descritos nem pela teoria de Newton (ver NEWTON) nem pela de Maxwell (ver
MAXWELL). Joseph Thomson descobriu o elétron (ver ELÉTRON) e então os
físicos disseram que os átomos (ver ÁTOMO), que haviam sido inventados pelos

74
TÓPICO 3 | DINÂMICA DE CORPOS RÍGIDOS

gregos, e que depois mostraram-se úteis para explicar as leis das reações químicas,
não eram bolas compactas, mas dentro deles deviam estar os elétrons, origem
dos raios catódicos. Descobriu-se a radioatividade, descobriu-se o raio-X, ou raio
de Röntgen, e esses fenômenos, todos descobertos no fim do século passado,
exigiram novas ideias.

Em 1900, houve a teoria quântica de Planck que foi necessária para


descrever a composição espectral da energia da radiação. Em 1905, Einstein, que
foi "o segundo Isaac Newton", aproveitou a ideia de Planck para dizer que a luz
não é constituída de ondas e sim de corpúsculos, de quanta de luz, que foram
chamados depois de fótons e assim ele introduziu a dualidade onda-corpúsculo na
Física Moderna, que ele dizia que não entendia. Somente dezoito anos mais tarde,
em 1923, os físicos foram acreditar nos quanta de luz. Além disto, Einstein criou
a Teoria da Relatividade (ver RELATIVIDADE), que liga espaço (ver ESPAÇO)
com tempo (ver TEMPO), quantidade de movimento com energia, e atribui à
energia uma massa e a todo corpo que tem massa uma energia de repouso que é
a massa de repouso multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz, que é uma
concepção fantástica.

Depois ele quis saber por que é que o princípio da relatividade restrita
diz que as leis da física são invariantes, se você passa de um sistema inercial para
outro em movimento de translação retilíneo uniforme em relação ao primeiro.
Então ele queria saber por que o privilégio do movimento retilíneo uniforme.
Ao procurar interpretar fenômenos em sistemas acelerados, ele descobriu a
teoria relativística da gravitação, em 1915, e ficou famoso por isso. Nesta teoria
o importante é o campo, como em Newton era ação instantânea à distância. A
partir de 1916, o potencial de gravitação é descrito pelo tensor da métrica . Os
movimentos de grande vibração no espaço cósmico dão origem às supernovas.
Dependendo da massa da estrela, esta ao se contrair, emite parte de sua massa.
O espaço está ligado à gravitação, e esses abalos se propagam: são as ondas de
gravitação, conduzidas pelos quanta de gravitação (grávitons), que ainda não
foram detectados diretamente.

Em 1917, Einstein fez mais dois trabalhos importantes: um foi a descoberta


da emissão de luz induzida e o outro foi a transformação da cosmologia, que era
uma espécie de astrologia, em uma ciência baseada na relatividade geral, que
descreve a origem do universo. A evolução do universo e da cosmologia mostra
que no espaço cósmico, na escala das grandes massas, a força de gravitação, que
é uma das quatro forças fundamentais da natureza, é que domina, soberana, e
faz com que a matéria se contraia a uma temperatura tal que as estrelas brilham,
se produzem reações nucleares de fusão, transformando hidrogênio em hélio e,
quando acaba o hidrogênio, que é o combustível, a força de gravitação continua
agindo e faz a matéria se reduzir, podendo se transformar finalmente em buracos
negros.

75
UNIDADE 1 | CINEMÁTICA E DINÂMICA ROTACIONAL

A Física descreve todas essas coisas, e tem até importância na Biologia.


Schrödinger, que descobriu a Mecânica Ondulatória, que é equivalente à Mecânica
Quântica, escreveu um livro importante chamado What is life?, no qual ele refletiu
sobre fenômenos físicos na Biologia, e esse livro foi muito importante para os
biólogos.

Nota: Transcrição de trecho extraído de um compêndio de entrevistas, organizado e editado por


Francisco Caruso, com o físico José Leite Lopes, entre 27 de março e 10 de setembro de 1998,
publicado pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF.

FONTE: <http://www.cbpf.br/~caruso/fcn/publicacoes/pdfs/ideias_paixoes.pdf>.

76
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Na rotação de um corpo rígido em torno de um eixo fixo, a velocidade angular


pode variar de acordo com a conservação do momento angular.

• Apesar de guardar uma definição primária comum a todos os corpos rígidos, o


momento de inércia deve ser calculado caso a caso, pois depende das relações
entre massa e volume dos corpos.

• O teorema dos eixos paralelos nos permite calcular o momento de inércia


de um corpo que gire em relação a qualquer eixo, em termos do momento
de inércia em relação a um eixo qualquer, paralelo, que passe pelo centro de
massa do corpo.

• A força centrífuga é fictícia e inercial, e aparece como uma representação do


princípio da inércia em referenciais que giram.

• A força de Coriolis também emerge nos referenciais girantes, como uma


relação entre velocidades diferentes em diferentes pontos de um corpo rígido
que giram em torno de um eixo que passe por seu centro de massa.

• A força de Coriolis é responsável pelas trajetórias de tufões e furacões que


perambulam pelo globo.

• O sentido em que esses furacões giram depende, por causa do efeito de Coriolis,
do hemisfério em que se encontram, girando anti-horário no hemisfério Sul e
horário no Norte.

77
AUTOATIVIDADE

1 A dinâmica de um corpo rígido é a ciência dos corpos girantes, de suas


origens e de seus efeitos. Com isso em mente, indique valores de verdadeiro
(V) ou falso (F) para a sequência de proposições a seguir:

a) ( ) A distribuição da massa pelo corpo, principalmente quando não


uniforme, deve ser levada em conta.
b) ( ) A alteração na velocidade angular de uma patinadora que fecha os
braços durante uma manobra de giros, se deve diretamente à taxa temporal
positiva com que seu momento angular evolui.
c) ( ) O momento de inércia é uma soma integral sobre a distribuição de
massa de um corpo rígido, ao longo da distância que os separa do eixo
de giro.

2 O movimento de fluidos ou corpos sobre referenciais girantes apresenta


fenômenos complicados e de entendimento complexo. Com isso em
mente, indique valores de verdadeiro (V) ou falso (F) para a sequência de
proposições a seguir:

a) ( ) A força de Coriolis é um efeito fictício, uma impressão que temos quando


realizamos uma curva bruscamente.
b) ( ) O teorema dos eixos paralelos se mostra bastante útil quando temos
que lidar com um corpo rígido em rotação em relação a um eixo que não
coincide com aquele que passa pelo centro de massa do corpo.
c) ( ) A força centrífuga é uma força fictícia que emerge em movimentos
circulares, que guarda uma relação com o princípio de inércia e que explica
a trajetória dos tufões e furacões ao longo do globo terrestre.

3 A dinâmica dos corpos rígidos é uma extrapolação do movimento retilíneo


para casos rotacionais. Com isso em mente, indique valores de verdadeiro
(V) ou falso (F) para a sequência de proposições a seguir:

a) ( ) O momento de inércia é um conceito inercial que representa a oposição


que qualquer corpo impõe à alteração de seu movimento rotacional.
b) ( ) Toda vez que um corpo em movimento rotacional uniforme em relação
a um eixo fixo, sofre a ação de uma força externa líquida não nula, seu
momento angular será alterando, ocasionando um torque.
c) ( ) Em um sistema de partículas, o torque resultante será aquele dado pelo
produtório dos momentos angulares de todas as partículas que compõem o
sistema.

78
4 Considere um artesão que cria suas peças com barro, utilizando-se de
um motor elétrico e uma tábua que gira em torno de seu eixo de simetria
transversal. Um de seus projetos é trabalhar em um, até o momento, cilindro
de barro com M = 5kg, e que gira a ω = 20rad / s. Supondo que para dar
continuidade a seu trabalho o artesão jogue sobre a massa um pequeno
bloco de m = 700g. Calcule a velocidade angular final do bloco M + m.

5 Considere uma esfera que gira em torno de um eixo z' que passa pela sua
borda. Calcule o momento de inércia da esfera em relação a z'.
INÉRCIA DE UMA ESFERA, EM RELAÇÃO A UM EIXO z'

FONTE: O autor

79
80
UNIDADE 2

EQUILÍBRIO E MOVIMENTO
PERIÓDICO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender os conceitos do equilíbrio de forças;

• analisar as propriedades elásticas dos corpos;

• entender a distribuição de massa nos corpos;

• conhecer as condições para o equilíbrio estático dos corpos;

• discutir o movimento harmônico;

• entender aplicações dos conceitos de oscilador harmônico.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

TÓPICO 2 – MOVIMENTO HARMÔNICO

81
82
UNIDADE 2
TÓPICO 1

EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

1 INTRODUÇÃO
O equilíbrio estático de um corpo, em relação a um sistema de coordenadas,
é estabelecido como ele se encontra e permanece em estado de equilíbrio estático
de forças e torques. São inúmeras as aplicações desse conceito em nosso cotidiano.

O empilhamento de pedras é uma mistura de arte, passatempo, ou até


meditação, como podemos ver na Figura 1. Nela apresentamos um dos trabalhos
do artista Michael Grab, que fotografa pedras empilhadas em regiões de
abundante natureza, de países como Canadá, Romênia, Nova Zelândia ou China.

FIGURA 1 – OUT OF SIGHT, POR MICHAEL GRAB, 2016

FONTE: <https://bit.ly/2HxubbL>. Acesso em: 9 jun. 2018.

O segredo do empilhamento de pedras reside no equilíbrio das forças


que atuam sobre o conjunto de pedras. Embora possamos associar a cada
pedra uma força peso individual, com possíveis projeções em diferentes eixos,
a soma de todos esses componentes é nula no estado de equilíbrio. Observe as
pedras empilhadas na Figura 1. Sobre cada uma delas atua uma força peso e
possivelmente um torque, porém, na posição de equilíbrio, a soma de todas as
forças individuais e a soma de todos os possíveis torques é tal que se anulam.

83
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Já na construção de pontes pênseis, além de um somatório nulo de forças,


é necessário considerar a deformação que ocorre nos cabos e vigas estruturais.
Esse alongamento sobre a tensão ou encurtamento sobre pressão é originado
pela carga que tais elementos devem suportar, de modo a equilibrar as forças e
torques no sistema.

FIGURA 2 – THIS IS THE GOLDEN GATE BRIDGE ON DEC 15 2015, POR D. RAMEY LOGAN, 2015

FONTE: <https://bit.ly/1XBRIOZ>. Acesso em: 9 jun. 2018.

Na Figura 2 vemos uma fotografia da ponte Golden Gate, na cidade de


São Francisco, nos EUA, de autoria de D. Ramey Logan, um fotógrafo americano.
Nela vemos duas grandes torres de sustentação.

A seguir vamos discutir ambos os casos, quando corpos sólidos se mantêm


em equilíbrio e quando forças de tensão e compressão participam do mecanismo
que mantém nossas pontes e prédios em pé.

DICAS

Sugerimos a leitura do artigo intitulado Equilíbrio no espaço: experimentação e


modelagem matemática (BORGES, P. A. P.; TONIAZZO, N. A.; da SILVA, J. C., 2009), publicado
na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele os autores discutem as forças que atuam
em cabos e hastes, responsáveis pela sustentação de corpos massivos. Uma discussão
interdisciplinar é proposta, concatenando conceitos de diferentes disciplinas, da mecânica
geral, passando pela álgebra vetorial até as aplicações numéricas. Um modelo é então
proposto para a descrição de diferentes variações de um sistema de massas suspensas e
conectadas por roldanas. É um interessante trabalho para o estudo das aplicações algébricas
ao diagrama de forças. Acesse o link: <https://bit.ly/2xWKIXb>.

84
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

2 CONDIÇÕES PARA O EQUILÍBRIO DE FORÇAS


Duas condições são fundamentais para definirmos um corpo em estado
de repouso, em relação a um referencial. A primeira delas é que a força externa
Š
resultante FR seja nula. Uma vez que a existência de uma força aplicada implica
uma aceleração a um corpo de determinada massa, a segunda Lei de Newton
nos diz que para que um corpo se mantenha em repouso em relação a um
determinado sistema de referencial, ou seja, para que a aceleração do corpo, em
relação ao referencial, seja nula, é necessário que a resultante das forças sobre esse
corpo seja nula.

Na equação (2.1) temos a representação dessa condição:


  d 
F
=R ∑ n ma
n
F
= =
dt
=p 0 (2.1)

A segunda condição necessária para definir um corpo em equilíbrio


estático é que o torque externo resultante Š
tR, que atua em um corpo, deve ser nulo.
Š
O torque é definido como o produto vetorial entre uma força ­F que atuam em um
corpo, fazendo girar em torno de um eixo, e a distância Š r entre Š
F e o eixo de giro.
A estática dos corpos implica que nenhum torque resultante deve atuar sobre um
corpo, evitando assim que adquira uma aceleração angular a e uma variação em
seu estado de movimento, a equação (2.2) apresenta essa condição:

  
 Š= d L = 0
tô R = ∑n n n
F × r = Iá
a
dt
(2.2)

Com essas duas condições respeitadas, o centro de massa em repouso de


um corpo rígido permanecerá em repouso até que alguma força ou torque altere
seu estado de movimento, ou seja, seu repouso. Aqui definimos um corpo rígido
como uma estrutura física, composta de um número finito de partículas, cada
uma como uma massa individual mi, dispostas em uma organização tal que cada
uma ocupa uma posição Š Š –Š
ri, de modo que ao mover-se, a distância d = |ri
rj| entre
duas partículas i e j não seja alterada com o tempo.

85
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

NOTA

Iniciando nossa discussão sobre equilíbrio de forças, considerando o tema dos


corpos rígidos, sugerimos a leitura do artigo Rolamento e atrito de rolamento ou por que
um corpo que rola para (ANDRADE NETO, A. V. et al., 2011), publicado na Revista Brasileira
de Ensino de Física. Nele os autores descrevem a dinâmica do rolamento de um corpo
rígido sobre uma superfície horizontal e uma comparação é feita com o mesmo processo
se passando com um corpo deformável. Uma discussão analítica das leis de Newton é
elaborada e conclusões são apresentadas sobre os fenômenos que causam o freamento de
um corpo sob tais condições.
Para ler o artigo, acesse: <https://bit.ly/2oQ1q2U>.
Obs.: Mantenha em mente que, ao falarmos de repouso, fazemos referência à ausência de
acelerações, e por consequência, forças e torques, de modo que corpos que se movem com
velocidade constante v ou que giram com velocidade angular constante w, também podem
encontrar-se em equilíbrio estático.

3 ESTÁTICA DE CORPOS RÍGIDOS


Faremos aqui uma discussão mais detalhada a respeito da estática
dos corpos rígidos. As duas expressões a seguir representam as equações de
movimento de um corpo rígido:

 
N
d 
FR
= ∑n
=F
n =1 dt
p (2.3)

Na primeira delas (2.3), vemos que para alterar o estado de movimento


de um corpo, aqui representado pelo momento (quantidade de movimento) Š p,
em relação à passagem do tempo, é necessário aplicarmos sobre o corpo rígido
Š
uma força F. Essa é uma discussão que vimos anteriormente. De qualquer modo,
a equação (2.3) é base para descrever o movimento de translação do centro de
massa CM do corpo rígido em questão. Por outro lado, a equação (2.4) descreve o
movimento de rotação em torno do centro da massa CM do corpo rígido. Perceba
que a aplicação de um torque τ, em relação a um determinado ponto escolhido ao
Š
acaso, implica a variação temporal do momento angular L do corpo rígido, como
pode ser visto a seguir:

N
d 
τt R

∑=
τtŠn
n =1 dt
L (2.4)

Pense na variação do momento angular como um análogo rotacional


da variação do momento linear, ambas as quantidades estão relacionadas à
oposição do sistema e à variação de seu estado de movimento. A variação dos
dois momentos está relacionada à inércia de cada sistema.

86
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

DICAS

No artigo Reavaliação e rememoração dos conceitos da mecânica geral


com análises geométricas e/ou gráficas: linha de ação de uma força. Parte I (BARBIERI,
P. F., 2011), publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física, o autor discute o conceito
de linhas de ação de uma força, retas suporte aos vetores de força, e sua importância em
sistemas mecânicos estáticos e dinâmicos. A proposta da interpretação geométrica para a
determinação do ponto de atuação de forças resultantes pode servir-lhe como um reforço
ao aprendizado não só dinâmica dos corpos rígidos, mas também de sua estática.
Leia aqui: <https://bit.ly/2xZ7iOS>.

Sob tais condições, uma das formas de equilíbrio ocorre quando não há
variação de nenhum dos momentos. Assim, o corpo descreve um movimento
d 
retilíneo uniforme, uma vez que p = 0 . A constância do momento linear implica
dt
Š = (p
∆p Š–Š p ) = 0 e, consequentemente, Š
pf = Š
p i.
f i

Além disso, o corpo rígido estará descrevendo um movimento circular uniforme,


d  Š Š Š
uma vez que L = 0 . A constância do momento linear implica ∆L = (Lf – Li) = 0 e,
dt
Š Š
consequentemente, Lf = Li. A outra forma de equilíbrio ocorre para o caso de Š pi = 0, em
que o corpo estará em equilíbrio estático em relação ao referencial. Da mesma forma para
Š
o caso de Li = 0, em que o corpo não estará, de fato, girando.

Note que as equações (2.3) e (2.4) representam vetores de força e torque


no espaço, de modo que todas as direções devem ser levadas em conta, formando
um sistema com seis equações, duas em cada direção.

DICAS

No artigo Reavaliação e rememoração dos conceitos da mecânica geral com


análises geométricas e/ou gráficas: máquinas simples. Parte II, publicado na Revista Brasileira
de Ensino de Física (2011), Barbieri continua sua descrição geométrica das forças que atuam
em corpos, porém nesse trabalho explora o emprego de máquinas simples, como utilização
de cunhas como calços e a aplicação de polias, conjunto de polias e associações diversas de
polias com aplicação no transporte de cargas. Leia em <https://bit.ly/2y0Sorb>.

87
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

4 O PRINCÍPIO DA ALAVANCA
A estática dos corpos rígidos nos conduz, inevitavelmente, ao princípio
da alavanca, de Arquimedes de Siracusa (287 – 212) a.C. Este foi um grande
pensador grego que, entre outras façanhas, teria sido o autor da frase “Dê-me
uma alavanca longa o suficiente e um suporte forte o suficiente que eu poderei
sozinho movimentar o mundo”. Essa imagem é apresentada no painel (a) da
Figura 3, uma gravura do pensador grego aplicando uma alavanca longa o
suficiente, com um forte ponto de suporte, e o mundo sendo movido apenas pela
força de Arquimedes.

FIGURA 3 – GRAVURA DE ARQUIMEDES E SUA ALAVANCA, EM MECHANICS MAGAZINE, 1824

FONTE: <https://bit.ly/2ugGCWN>. Acesso em: 15 jun. 2018.

O conceito por trás da alavanca de Arquimedes reside no equilíbrio de


torques necessário para equilibrar uma alavanca. Observe o painel (b) da Figura
Š
3, ele mostra Arquimedes aplicando uma força FB, em um ponto B, sobre um braço
de alavanca distante Š
rB do ponto de suporte P, para mover o mundo, localizado
Š
em um ponto A, a uma distância Š rA do ponto P, com uma força multiplicada FB.
Considerando a igualdade de torques, ao mantermos o estado de equilíbrio na
alavanca, entre Arquimedes e o mundo, teremos:


Š
N
Š Š  Š  d 
τôR = ∑
n =1
ôτn
= ô
τ A
− ô
τ B
=
dt
L = 0; (2.5)


Š 
τA − Š
ô 0;
τôB =

   
rA FA = rB FB ;

 
 rB  
FA =    FB .
 rA 

88
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

Note que, pela primeira linha da equação (2.5), para mover o mundo
Š
e manter um estado de equilíbrio, ou seja, equilibrar a força FB, aplicada por
Arquimedes, com a força multiplicada Š FA, que move o mundo, é necessário
que haja a conservação do momento angular do sistema (Mundo + alavanca +
Š
Arquimedes). Isso nos leva à igualdade dos torques gerados tanto por FB quanto
por ŠFA. A aplicação da definição do torque, na terceira linha, nos leva à relação

entre essas forças. Perceba que, como Š rA, temos que rB > 1 , o que significa que
rB > Š
rA
Š Š
a força FA representa uma multiplicação de FB, na mesma razão entre os braços de
alavanca. É essa vantagem mecânica que o princípio da alavanca descreve.

DICAS

A lei da alavanca de Arquimedes é um tema muito interessante e de muitas


aplicações na vida cotidiana. Por isso, indicamos a leitura do texto Arquimedes e a Lei da
Alavanca: erros conceituais em livros didáticos (CARDOSO, H. B.; FREIRE, P. T. C., 2006),
publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele os autores discutem o tema da
alavanca e destacam algumas ambiguidades e equívocos conceituais apresentados em
algumas publicações. O artigo oferece ainda uma tradução do trabalho Sobre o equilíbrio
dos planos, publicado pelo próprio Arquimedes, corroborando a tese inicial de que há
equívocos nos livros didáticos.
Para ler o artigo, acesse <https://bit.ly/2l9vepo>.

5 O CENTRO DE GRAVIDADE
A força gravitacional que fez a maçã do mito de Newton cair sobre sua
cabeça é do tipo fictícia, no sentido de que não há, de fato, um contato físico entre
corpos em questão. Porém, isso não significa que não podemos supor um ponto
na maçã de Newton, no qual atua a força gravitacional que a derrubou do galho
da árvore. Esse ponto é o centro de gravidade da maçã.

Cada corpo rígido possui um e é por causa dele que você faz piada
com seu amigo alto e desajeitado. A seguir vemos uma foto com dois famosos
jogadores da liga norte-americana de basquete. O mais alto da história, o pivô
sudanês Manute Bol, com 2.31 m de altura, e o mais baixo da história, o armador
americano Tyrone Custis “Muggsy” Bogues, com 1.60 m de altura.

89
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

FIGURA 4 – O MAIS ALTO E O MAIS BAIXO DA HISTÓRIA

FONTE: <https://bit.ly/2la080N>. Acesso em: 15 jun. 2018.

Considere que o centro de gravidade de nossos corpos se localiza, mais


ou menos, na altura de nossos umbigos. Observando a clássica foto esportiva da
Figura 4, percebemos que o umbigo de Bogues fica muito mais próximo do solo
que o de Bol, logo o braço de alavanca que a força gravitacional exerce sobre o
Š
jogador mais alto é muito maior. Isto significa que o torque Št = FG x Š
r, sobre o
corpo de Bol é muito mais intenso que aquele atuando sobre o corpo de Bogues.
Daí a performance mais lenta e um pouco mais desajeitada dos pivôs da NBA, já
que é mais difícil para eles manterem seu equilíbrio, pois o torque gerado pela
força gravitacional atua mais intensamente sobre seus corpos que sobre aqueles
dos jogadores mais baixos. É por isso também que os jogadores mais baixos
costumam conduzir a bola e organizar o jogo. Mas não se confunda, Bogues foi
um caso extremo dentro da NBA. Michael Jordan, que jogava na posição de ala,
mas também de armação e condução da bola, tinha 1.98 m, então estamos lidando
com baixinhos ainda bem altos.

90
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

DICAS

Uma versão da tradução do trabalho Sobre o equilíbrio dos planos, obra de


Arquimedes, onde ele descreve a estática de corpos submetidos a torques que se cancelam,
nos é apresentada por Assis (1997) no artigo Sobre o equilíbrio dos planos, tradução
comentada de um texto de Arquimedes, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de
História da Ciência. Nele, o autor ainda discute o cálculo do centro de gravidade e o conceito
do equilíbrio estático. O artigo está disponível em <https://bit.ly/2yiDi0u>.

A complexidade do conceito de centro de gravidade não para por aí. O


ponto escolhido como centro de gravidade de um corpo rígido é uma síntese
da interação entre o corpo rígido e o campo gravitacional gerado pela Terra.
Normalmente ele se situa no centro geométrico dos corpos, mas esse nem sempre
é o caso.

Dois pontos devem ser considerados aqui:

• O primeiro é que devemos estabelecer a diferença entre centro de gravidade e


centro de massa;
• O segundo é a relação estabelecida entre o centro de massa e o centro de
gravidade, considerando-se a existência de um campo gravitacional uniforme
ou não.

Vamos começar pelo primeiro ponto. Como vimos, o centro de massa de


um corpo é uma média das posições de cada elemento de volume que constitui
o corpo, ponderada pela massa de cada um desses elementos de volume. Essa
relação é apresentada na primeira linha da equação (2.6).

Entretanto, se dividirmos e multiplicarmos o lado direito da expressão pelo


volume total, como feito na segunda linha, encontraremos uma expressão para o
centro de massa de um corpo rígido em termos da distribuição de densidades ao
longo dele.

n
 1 
rCM =
Mn ∑r m ;
i =1
i i (2.6)


 V n
ri mi
rCM = n
Mn ∑
i =1 Vi
;

n
 1 
rCM =
ῥn
ñ ∑r ῥñ .
i =1
i i

91
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Isso significa que para corpos cuja densidade é constante, ao longo de todo
o corpo, o centro de massa é calculado e definido como o ponto médio do corpo,
um ponto central, que leva em conta a simetria do corpo. Considere uma bola
de boliche ou uma esfera metálica, como apresentado na Figura 5, por exemplo.
Devido ao seu formato simétrico e a uma distribuição de densidade uniforme,
constante, ao longo do corpo, o centro de massa da esfera se encontra em seu
centro geométrico.

FIGURA 5 – CENTRO DE MASSA DE UMA ESFERA SÓLIDA

FONTE: O autor

DICAS

No artigo Sobre o equilíbrio dos planos (segunda parte), publicado na Revista


da Sociedade Brasileira de História da Ciência (2004), Assis e Campos dão continuidade
ao trabalho sugerido anteriormente, há a tradução de uma segunda parte da obra de
Arquimedes, com um adendo, o cálculo do centro de gravidade de um segmento parabólico.
Tanto esse como seu trabalho precedente seminal se dedicam à apreciação da interpretação
de Arquimedes para o problema da estática e são boas fontes de cultura histórica e
conhecimento técnico. Leia em <https://bit.ly/2HX35L8>.

Essa conclusão é proveniente da aplicação da configuração da Figura


5 à equação (2.6). Entretanto, quando lidamos com um objeto cuja densidade
de massa é uma função da geometria do corpo, notamos que há de fato um
deslocamento da massa de seu centro de geométrico para outras posições. Em
outras palavras, o corpo parece ser mais pesado de um lado que do outro. Observe,
por exemplo, o equipamento apresentado na Figura 6. É um tubo de imagem,
tubo de raios catódicos, para ser mais específico. Talvez alguns dos leitores mais
novos não tenham ouvido falar desse aparato, mas ele equipava os televisores de

92
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

tubo, aquelas caixas enormes que adestraram gerações a fio. De qualquer forma,
qualquer um que já tenha carregado uma televisão vai lembrar que ela é muito
mais pesada na frente que atrás.

FIGURA 6 – TUBO DE RAIOS CATÓDICOS DE UMA TELEVISÃO 14’’

FONTE: <https://bit.ly/2laGulg>. Acesso em: 16 jun. 2018.

A razão disso é que a tela do aparelho é um anteparo que recebe o choque


constante de cargas em alta velocidade, responsáveis pela geração da imagem na
tela. O ponto aqui é que um aparelho de televisão como esse possui um centro
de massa que não coincide com seu centro geométrico, devido à ponderação
creditada à maior soma da massa do aparelho estar concentrada em sua tela.

Com isso em mente, podemos então discutir a diferença entre o centro


de massa e o centro de gravidade, dependendo da configuração espacial do
campo gravitacional em questão. Essa diferença deriva da geometria do campo
gravitacional, se este mantiver uma distribuição uniforme sobre o espaço, como
aquele que medimos na superfície da Terra, então o centro de massa e o centro de
gravidade coincidiram.

Porém, quando o campo gravitacional não é uniforme, nas proximidades


de corpos muito massivos, como estrelas de nêutrons e buracos negros, essas
duas quantidades deixam de coincidir no espaço e não podemos mais tirar
proveito do centro de massa para o cálculo de grandezas como energia potencial
gravitacional, força ou torque. Imagine a hipótese de um astronauta que se
aproxima de uma região do espaço com uma forte distorção gravitacional. Seu
corpo pode ser submetido a torques simplesmente porque partes do seu corpo
podem pesar mais ou menos, dependendo da distorção do campo gravitacional
ao qual estão submetidas.

93
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

DICAS

Como exploramos inicialmente o efeito do peso dos corpos no centro de


gravidade dos jogadores de basquete, sugerimos a leitura do artigo Uma revisão sobre
centro de gravidade e equilíbrio corporal (LEMOS, L. F. C.; TEIXEIRA, C. S.; MOTA, C. B., 2009),
publicado na Revista de Ciência e Movimento. Nele os autores discutem a relação entre o
centro de gravidade de nossos corpos e nossa sensação de equilíbrio corporal. Este é um
interessante estudo em biomecânica que debate as variáveis que influenciam a posição do
centro de massa em nossos corpos. O estudo abrange pessoas obesas, idosos e atletas, além
de outros tipos.
Acesse <https://bit.ly/2ymtsuK>.

6 TENSÃO E DEFORMAÇÃO DE MATERIAIS


Algumas relações de troca de forças entre corpos implicam uma
acomodação entre eles, na forma de compressão ou estiramento de matéria.
Na hipótese de o corpo readquirir seu formato original, depois de cessada
a força aplicada sobre ele, teremos então uma deformação plástica. Esta é
uma propriedade inerente à maioria dos corpos, dentro de alguns limites
característicos de cada material, mas em termos gerais, todos os corpos possuem
um certo nível de plasticidade. No momento em que a força aplicada sobre o
corpo ultrapassa um determinado limite de corte, o corpo perde sua capacidade
de readquirir sua forma original e um dano é causado ao material.

FIGURA 7 – FORÇAS ATUANDO EM UMA BARRA METÁLICA

FONTE: O autor

Considere a barra metálica apresentada na Figura 7, sobre ela atua uma


Š
força F em ambos os lados e em sentidos contrários, de modo que o cabo se
mantém em equilíbrio estático. O cabo possui comprimento L e uma deformação
∆L seria apresentada como uma fração a do comprimento original. Isso pode ser
visto na equação (2.7):

94
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

∆L =áa L; (2.7)

ɛ
å
=
∆L
=
( L′ − L ) .
L L

O parâmetro de deformação ɛ é adimensional e nos indica como


determinado material se comporta quando submetido a uma força longitudinal
Š
F. Observando a equação (2.7), vemos que ɛ > 0 significa que o material é esticado
pelas forças, porém ɛ < 0 implicaria que o comprimento final é menor que o inicial
e, portanto, o material sofreu uma compressão. Considere agora a área de seção
reta A da barra metálica, se dividirmos a força F pela área A, teremos a pressão
negativa exercida no cabo ou, como também é conhecida, a tensão no cabo. A
equação (2.8) descreve a tensão a que o cabo da Figura 7 está submetido:

F (2.8)
σ
ó=
A

Note que a tensão no cabo é medida em [σ] = N/m2 = Pa. Tanto o mecanismo
de tensão, como aquele de deformação estão, obviamente, atrelados, e quando
tomamos a razão entre eles encontramos o módulo de Young Y:

F
σ
ó FL
Y= = A= ; (2.9)
ɛå ∆L A∆L
L

 L 

ó  ;
 ∆L 

WD
= .
Vd

O módulo de Young é uma quantidade relacionada à medida de rigidez


de um sólido, seu nome deriva do polímata e médico inglês Thomas Young (1773-
1829). Fascinado pela ótica, as ciências mecânicas e a fisiologia, o trabalho de
Young sobre a rigidez dos sólidos nos ajudou a entender como se dá o mecanismo
de absorção de carga em materiais. A equação (2.9) apresenta o cálculo do módulo
Y, expresso como função direta da força aplicada à barra F e de seu comprimento
L, e indireta de sua área de seção reta A e da deformação ∆L a que ela é submetida.

95
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

N
Essa relação implica que o módulo de Young [Y] = . Claramente uma
m2
menção à pressão a que a área de seção reta A é submetida pela força F. Mas essa
não é a única interpretação para o módulo de Young. Observe a barra da Figura
8, por exemplo. Ela mostra, assim como a Figura 7, uma barra submetida a uma
tensão em ambos os lados.

Š Š
FIGURA 8 – FORÇA F APLICADA A UMA BARRA COM ÁREA DE SEÇÃO RETA A, CAUSANDO
DEFORMAÇÃO ∆L.

FONTE: O autor

Um simples rearranjo nos termos da primeira linha e a segunda nos


apresenta o módulo de Young como uma fração da tensão à qual o cabo é
submetido, e essa fração é representada pela razão entre o comprimento total
L do cabo e da deformação ∆L. Nesse sentido, o módulo de Young ainda tem a
N
unidade de [Y] = .
m2
Š
Entretanto, se voltarmos nossa atenção ao vetor de área A, correspondente
à seção reta destacada, e à deformação ∆L, representando um estiramento na
barra, notaremos que energia deve ser consumida para gerar tal deformação e
Š
que as forças atuantes, colineares à A, devem realizar trabalho. Observando a
equação (2.9), notamos que o módulo de Young Y pode ser entendido como o
trabalho WD = F L realizado pela força F, ao longo do comprimento L da barra,
para criar uma deformação de volume VD = A ∆L, como apresentado na terceira
linha de (2.9).

J
Nesse sentido, o módulo de Young tem a unidade de [Y] = . Sob essa
m3
ótica, o módulo pode ser entendido como a quantidade de energia para gerar
uma deformação de um metro cúbico em um determinado material.

No Gráfico 1 apresentamos a curva da tensão σ (linha sólida azul)


aplicada a um corpo sólido, como a barra da Figura 8, por exemplo, em função da
deformação ɛ sofrida por ele. Note que, a princípio, a relação segue um padrão
de proporcionalidade σ = y ɛ (linha tracejada vermelha), como aquele que vemos
na primeira linha da equação (2.9). Fica claro então que, quanto mais próximo

96
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

a curva de tensão σ se aproxima da curva máscara pela proporcionalidade de


Young Y, mais rígido o material será. Por outro lado, quanto mais rápido a curva
de tensão se afasta da curva de Young, menos rígido o material passa a ser.

GRÁFICO 1 – A TENSÃO σ EM FUNÇÃO DA DEFORMAÇÃO ɛ

FONTE: O autor

Uma vez atingido seu limite de proporcionalidade, o sólido começa a


apresentar um comportamento que diverge daquele esperado inicialmente, em
que a deformação do material é proporcional à tensão aplicada por uma ordem
de y. Daí em diante, menos tensão é necessária para criar uma deformação, porém
quando a tensão cessa, o sólido ainda é capaz de retomar sua forma inicial. Em
determinado ponto, quando a deformação supera esse limite de elasticidade,
o sólido não mais é capaz de retornar ao seu tamanho original. Daí em diante,
mantendo-se a tensão aplicada, ele passa a sofrer uma espécie de estiramento
irreversível. O rendimento é o ponto, a partir do qual, pouco e quase nenhuma
tensão é necessária para manter o estiramento do sólido, até o momento final, em
que o ponto de ruptura é atingido e o sólido é rompido, o que faz a tensão cair
rapidamente a zero.

Pense, por um momento, que você brinca com um daqueles elásticos


amarelos, que usamos para amarrar maços de dinheiro, ele representa bem o
conceito transmitido pelo Gráfico 1. Quando puxamos o elástico levemente, ele é
estirado e rapidamente retorna ao seu tamanho original, assim que paramos de
tensioná-lo. Todavia, se o puxarmos com força suficiente, atingimos um ponto
em que ele perde sua capacidade elástica, alterando permanentemente sua forma.
Ao mantermos a ênfase na tração do elástico, ele se rompe.

97
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

DICAS

A deformação plástica dos sólidos é um assunto fascinante e complexo, há muito


o que se explorar nesse campo e muito a se descobrir. É com esse espírito que sugerimos a
leitura do artigo Uma abordagem experimental das propriedades dos corpos deformáveis
no ensino de física geral para os cursos de engenharia (RAMOS, T. C.; VERTCHENKO, L., 2011),
publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física, em que os autores propõem atividades
experimentais voltadas ao ensino de Física para os cursos de Engenharia. A deformação
plástica de uma borracha tracionada é explorada, assim como as forças elásticas e a Lei de
Hooke, atualizada com a inclusão de um termo quadrático de deformação. Leia em <https://
bit.ly/2JZsqsQ>.

7 FORÇA DE FLEXÃO E FORÇA DE CISALHAMENTO


Considere o corpo apresentado na Figura 9, ele pode ser interpretado
como um livro com muitas páginas, um longo manual de instruções ou uma
daquelas antigas listas telefônicas, por exemplo. Sobre o livro se aplica uma força:

F Fc iˆ + Ff ˆj ;
= (2.10)

Š
que faz um ângulo Φ, qualquer, com o vetor de área A e eixo do livro. Note
que a Figura 9 apresenta duas condições distintas com o intuito comparativo.
Inicialmente o livro está em repouso (linha tracejada em preto), em um estado
Š
de equilíbrio de forças, com altura Y. Então, quando F é aplicada, o livro tem
sua parte superior movida (linha sólida em cinza) por uma distância ∆x pela
Š
componente horizontal da força F, o que gera uma inclinação ϴ nele. O livro
também é dobrado para baixo (linha sólida em cinza), pela componente vertical
Š
da força F.

98
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

FIGURA 9 – FORÇAS DE FLEXÃO Ff E DE CISALHAMENTO Fc ATUANDO EM UM LIVRO

FONTE: O autor

Š
Duas coisas acontecem no momento em que se aplica a força F sobre o
livro. Uma delas é que a componente vertical Ff tende a flexionar, ou dobrar, o
livro. Isso significa que camada após camada, de sua superfície ao seu centro, o
livro sofrerá uma pressão vertical, que tende a constranger sua estrutura física na
direção transversal. A outra é que a componente horizontal Fc tende a cisalhar o
livro, gerando um movimento longitudinal relativo entre as diferentes camadas
do livro.

DICAS

A determinação do módulo de Young é obtida por meio da aplicação de


diferentes métodos, um deles é através da propagação de uma onda sonora através do
metal. Aos interessados, gostaria de sugerir a leitura do artigo Determinação do módulo de
Young em sólidos a partir da medida da velocidade do som pelo método do tempo de voo
(HESSEL, R. et al., 2016), publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele os autores
descrevem o procedimento para a determinação do módulo de Young de um determinado
material, através da medição da velocidade de uma onda sonora induzida a se propagar
dentro dele. É interessante a discussão do tema e como os autores demonstram que y está
relacionado à densidade linear do material e à velocidade de propagação do som no mesmo.
Leia em <https://bit.ly/2JWTfLf>.

99
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Por isto, são chamadas respectivamente de forças de flexão Ff e de


cisalhamento Fc. Note que a força de flexão Ff é paralela ao vetor de área transversal
Š
AT e ao eixo (fina linha cinza) de simetria transversal (EST) do livro, já a força de
Š
cisalhamento Fc é paralela ao vetor de área longitudinal A L
e ao eixo (fina linha
cinza) de simetria longitudinal (ESL) dele.

A primeira coisa que a força de flexão deve fazer é superar a capacidade que
o livro tem de suportar cargas, a chamada força de tensão, a qual não trataremos
aqui. Essa flexão ocorre normalmente porque, a níveis microscópicos, as pequenas
ranhuras na superfície do material, ou mesmo pequenos defeitos em seu interior,
tendem a concentrar a ação das forças de flexão em pontos localizados, o que
enfraquece o material localmente, tornando-o ainda mais suscetível às forças de
flexão. Quanto mais homogêneo for o material, do centro à superfície, mais rígido
esse corpo se mostra às forças de deformação. Quando um material é flexionado,
como podemos ver na Figura 10, apenas suas camadas mais externas sofrem com
uma carga máxima de tensão. Quanto mais próxima uma camada estiver fora do
eixo longitudinal central, menor será a intensidade da força de flexão sentida por ela.

Observe a Figura 10, ela apresenta um esquema “tridimensional” do livro


apresentado na Figura 9, note que mantivemos o sistema de coordenadas e sua
relação com as forças. Observe que caracterizamos as dimensões do livro com a
espessura e, a largura l e o comprimento c.

Vê-se que uma força= F FC iˆ + Ff ˆj é aplicada sobre a superfície no plano


xy, fazendo um ângulo Φ com o eixo vertical y. A decomposição de F dá origem
ao termo de flexão Ff, antiparalelo ao eixo y e ao termo de cisalhamento Fc,
paralelo ao eixo x. Podemos separar a discussão da força F em duas aplicações
independentes, para facilitar nossa compreensão.

FIGURA 10 – FORÇAS DE FLEXÃO Ff E DE CISALHAMENTO Fc ATUANDO EM UM LIVRO

FONTE: O autor

100
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO ESTÁTICO E ELASTICIDADE

Começando pela Figura 11, observe uma barra metálica submetida a um


teste de flexão de três pontos. A parte superior da barra sofre uma compressão,
entretanto, a parte inferior da barra sofre uma ação inversa à compressão, ela é
tensionada. Quando isso acontece, podemos concluir que em algum momento,
esses efeitos, por serem opostos, trocam de sentido, o que significa dizer que a
compressão é reduzida, da superfície até o eixo central da barra, e passa a se
tornar uma tensão, do eixo central até a face inferior da barra.

Por esse motivo, o eixo central é por vezes chamado de eixo neutro, uma
vez nele não atuam nem compressão, tampouco tensão. Comparando a Figura 11
à Figura 9, é possível perceber que o eixo neutro é longitudinal, coincidindo com
o ESL, e perpendicular à direção da força de flexão Ff e localizado ao longo de
c c
− ≤ x ≤ + , em y = e/2.
2 2

FIGURA 11 – FORÇAS DE FLEXÃO Ff ATUANDO EM TESTE

FONTE: <https://bit.ly/2MEx25p>. Acesso em: 2 jul. 2018.

Além da força vertical atua também, sobre o livro da Figura 10, uma força
de cisalhamento horizontal Fc, que tende a mover a parte superior do livro, de
uma distância ∆x, criando uma inclinação ϴ nele (retângulo sólido em cinza).
A força de cisalhamento Fc é paralela ao eixo de simetria longitudinal (EST) e
Š
ao vetor de área de seção reta AL. Perceba pela Figura 9 que a base do objeto
sobre o qual se aplica a força de cisalhamento não se move necessariamente,
apenas as camadas superiores são progressivamente deslocadas pela força
Fc incidente. Esse efeito cria uma tensão dentro do material conhecida como
tensão de cisalhamento na direção em que o livro se inclina. Isso significa que a
tensão de cisalhamento pode ser entendida como uma pressão, mas a ideia aqui
é pensar mesmo em termos de força por unidade de área.

101
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Um exemplo contundente e também catastrófico da atuação dessa força


é o de deslizamento de camadas de terra, como mostrado na Figura 12, em que
o movimento relativo entre camadas de terra com diferentes profundidades
proporciona um espetáculo aterrorizante a quem o testemunha.

FIGURA 12 – DESLIZAMENTO DE TERRA PRÓXIMO À CIDADE DE CUSCO, NO PERU

FONTE: <https://bit.ly/2MJHRn2>. Acesso em: 4 jul. 2018.

Na Figura 12 vemos um caso muito recente, ocorrido na região de Cusco,


sudeste do Peru. O deslizamento ocorreu devido à associação de fenômenos
geológicos, como os tremores de terra e às fortes chuvas que atingiram o território.
Outros exemplos típicos de aplicações da força de cisalhamento são as avalanches
com deslizamentos de camadas de neve, metal fundido sendo moldado ou testes
de avaliação da maciez de carne bovina, ovina, suína etc.

102
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O equilíbrio estático de um corpo requer resultantes nulas de forças externas e


torques externos atuando sobre o corpo.

• Diferentes corpos reagem de forma diferente à ação de distintas forças e


que alguns deles podem sofrer deformação plástica, conformando-se à força
aplicada, até que o estado de equilíbrio estático seja alcançado.

• O equilíbrio de forças e torques implica, diretamente, a conservação dos


momentos linear e angular.

• O princípio da alavanca, enunciado por Arquimedes de Siracusa, é uma


implicação direta do conceito de equilíbrio de torques.

• A vantagem mecânica oferecida pela alavanca de Arquimedes é aplicada até


hoje na indústria e também em muitos utensílios domésticos.

• O centro de gravidade é o ponto geométrico que sintetiza a interpretação


newtoniana da atração entre os corpos. É nele que consideramos aplicada a
força gravitacional em cada corpo.

• Embora diferentes, os centros de massa e de gravidade coincidem no espaço,


quando em um campo gravitacional uniforme.

• A rigidez dos materiais é descrita com o auxílio do módulo de Young, uma


quantidade definida como a razão entre a tensão a que o mesmo é submetido e
sua deformação plástica.

• As forças de flexão e de cisalhamento atuam em direções diferentes e não


necessariamente ocorrem simultaneamente.

103
AUTOATIVIDADE

1 Para manter-se em pé, um edifício precisa ter garantido seu equilíbrio


estático, o que significa que deve estar isento de possuir qualquer tipo de
aceleração. Com isso em mente, indique, a seguir, valores de verdadeiro (V)
ou falso (F) para a sequência de proposições:

a) ( ) Para que o equilíbrio estático de um corpo se estabeleça, é necessário


garantir que a força resultante sobre ele seja nula.
b) ( ) Para que o equilíbrio estático de um corpo se estabeleça, é necessário
garantir que o torque resultante sobre ele seja nulo.
c) ( ) O conceito de equilíbrio estático não se aplica às forças fictícias.

2 A acomodação de materiais é uma das propriedades que permeiam o


conceito de equilíbrio estático dos corpos, ela ocorre quando um objeto,
submetido a forças em diferentes direções, se adéqua de modo a manter-se
em repouso em relação a um determinado referencial. Com isso em mente,
indique, a seguir, valores de verdadeiro (V) ou falso (F) para a sequência de
proposições:

a) ( ) A elasticidade dos materiais é diretamente proporcional às forças


atuantes e não possui limites estruturais.
b) ( ) Contanto que os momentos lineares e angulares sejam invariantes no
tempo, é irrelevante se um objeto em equilíbrio estático se encontra em
repouso ou a velocidade constante em relação a um determinado referencial.
c) ( ) A variação temporal do momento angular de um corpo não implica
necessariamente uma violação do princípio do equilíbrio estático, uma
vez que corpos que giram com velocidade angular ω constante estão em
repouso em relação a qualquer referencial.

3 Considere o esforço realizado por Arquimedes, na gravura da Figura 13,


para mover um pesado globo terrestre, com o auxílio de uma alavanca.
Suponha que o braço de alavanca sobre o qual Arquimedes atua tenha
uma comprimento rB = 2m e também que a força que ele aplica tenha a
intensidade FB = 200N. Sabendo que o braço de alavanca que atua sobre o
globo é rA = 0.5m, calcule a massa do globo, de modo que a força FA equilibre
o seu peso.

104
GRAVURA DE ARQUIMEDES E SUA ALAVANCA, PUBLICADA NA REVISTA MECHANICS
MAGAZINE EM 1824

FONTE: <https://bit.ly/2ugGCWN>. Acesso em: 15 jun. 2018.

4 O centro de gravidade de um corpo pode ser entendido graficamente como


o ponto geométrico sobe o qual atua a força da gravidade. Com isso em
mente, indique valores de verdadeiro (V) ou falso (F) para a sequência de
proposições a seguir:

a) ( ) Em regiões em que o campo gravitacional é uniforme, como a superfície


terrestre, os pontos de centro de gravidade e de centro de massa de um
corpo são coincidentes.
b) ( ) Corpos com centro de gravidade mais altos tendem a ser menos estáveis
que aqueles com centros de gravidade mais baixos.
c) ( ) Em regiões em que o campo gravitacional é uniforme, como a superfície
terrestre, os pontos de centro de gravidade e de centro geométrico de um
corpo são coincidentes.

5 Considere uma barra cilíndrica de aço de raio r = 0.3m, como a apresentada


na figura. Sabendo que o aço possui um módulo de Young de Yaço = 20GPa,
qual deve ser a força a ser aplicada à barra de modo que a tensão nela gere
uma deformação de 10%?

Š Š
FORÇA F APLICADA A UMA BARRA COM ÁREA DE SEÇÃO RETA A, CAUSANDO
DEFORMAÇÃO ∆l

FONTE: O autor

105
106
UNIDADE 2 TÓPICO 2
MOVIMENTO HARMÔNICO

1 INTRODUÇÃO
São comuns na natureza todo tipo de fenômenos repetitivos, do bater de
asas de uma borboleta ao balanço suave dos galhos de uma árvore, o movimento
harmônico é encontrado em diversas ocasiões naturais e também artificiais,
criadas pelo homem, como nas fábricas que embalaram a revolução industrial.

O movimento harmônico é representado por uma série de deslocamentos


repetidos em sequência, por um corpo com determinada massa, que pode
ser descrito matematicamente com o auxílio de equações trigonométricas.
Discutiremos a seguir alguns desses movimentos harmônicos, adicionando
paulatinamente termos que tornarão mais complexa a descrição desse fenômeno
natural.

2 MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES (MHS)


A natureza e a engenharia estão repletas de fenômenos e invenções que
realizam movimentos periódicos. Para descrever um movimento periódico
é necessário definir grandezas essenciais, como a amplitude de movimento, o
deslocamento máximo em um sistema oscilante, a frequência de oscilação, o
número de repetições do movimento por unidade de tempo e até o período de
oscilação, tempo necessário para a realização de um ciclo oscilatório completo.
Ainda assim, outros fatores podem interferir no movimento oscilatório de um
sistema, tais como o amortecimento da oscilação, o atrito entre as peças do sistema
e a existência de forças restauradoras.

2.1 SISTEMA MASSA-MOLA IDEAL


Observe o Gráfico 2, ele representa a força reparadora que atua sobre
uma mola em um sistema massa-mola. Quando puxamos a mola até a posição
x = 1m, ou a comprimimos até x = –1m, a força reparadora, representada pela
equação (2.85), tende a trazê-la novamente para sua posição de equilíbrio em x0
= x = 0m. Esse não é um processo instantâneo e ocorre através de uma oscilação
da massa ao redor do ponto de equilíbrio. Essa oscilação tem origem no potencial
energético atribuído à massa quando comprimimos ou esticamos a mola, e a
perda energética, à medida que a massa oscila, perpassa a região x = 0m.

107
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Considerando a equação (2.11), vemos que a força reparadora Frep tem


a mesma direção, porém sentido oposto ao deslocamento x(t) da massa. Isso
implica, considerando a segunda Lei de Newton Š Š que a aceleração da
F = ma,
massa terá a mesma direção, porém sentido oposto ao deslocamento x(t) da
massa. Aqui definiremos deslocamento como ∆x = (x – x0), sendo que quando
x0 = x = 0m, temos que ∆x = x.
  
Frep ( r ) = − k r ; (2.11)

Fx ; rep = − k x ( t ) ;

−k x ma;
=

d d2
−k x (t ) = m v = m 2 x (t ) ;
dt dt

k
a ( x) = − x (t ) .
m

Observe que a razão entre a constante da mola k e a massa m


­ é:

k N 1 m 1 1 1
= = Kg 2 = 2 .
m m
  kg s m kg s

Ou seja, possui unidade de s–2. Veremos mais adiante que essa relação
fornece o quadrado da velocidade angular ω com que o sistema massa-mola
oscila em torno do ponto de equilíbrio x = 0.

108
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

GRÁFICO 2 – SISTEMA MASSA-MOLA OSCILANDO NA HORIZONTAL

FONTE: O autor

No Gráfico 2 vemos uma representação do problema descrito pela


equação (2.11). O gráfico mostra um sistema massa-mola em três pontos distintos
de seu movimento. No primeiro momento, a esfera se encontra na posição de
equilíbrio x0 = x = 0m e como não há deslocamento algum, a força reparadora
é nula Frep = 0N.

Num instante seguinte, a mola é comprimida até a posição x = –1m e como


o deslocamento se torna gradativamente mais negativo ∆x = (x – x0) < 0, a força
reparadora toma um sentido gradativamente mais positivo Frep > 0, de modo a
se opor à compressão inicial. Por outro lado, quando a massa cruza o ponto de
equilíbrio, em direção ao outro extremo de seu curso, ou seja, ∆x = (x – x0) > 0, a
força reparadora toma um sentido gradativamente mais negativo, apontando no
sentido oposto ao alongamento da mola.

Após algum tempo, um sistema massa-mola, uma vez excitado, retorna


ao seu estado de equilíbrio. Considerando o número de oscilações da mola entre
os extremos negativos e positivos de deslocamento, podemos definir a frequência
f de oscilação do sistema como mostrado na equação (2.12):

1
f= ; (2.12)
T

Em que T é o período de uma oscilação completa, ou seja, o tempo


que leva para que a mola parta de uma posição inicial e, após o curso de uma
oscilação, ela retorne ao seu ponto inicial. Perceba que o sistema descrito acima é
ideal, ainda não estamos tratando as forças dissipativas que, de fato, consomem a
energia cinética e potencial do sistema, gerando atrito, ruído ou até deformações
plásticas. Mais adiante, considerações sobre os sistemas amortecidos serão feitas.
109
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

A Figura 13 apresenta uma configuração semelhante àquela do Gráfico


2, porém aqui consideramos um sistema com massa m, que oscila verticalmente.
De t1 a t5, ela mostra cinco instantes consecutivos para o movimento do mesmo
sistema massa-mola. A diferença aqui é que devido à força peso, não mostrada
na Figura 13, o ponto de equilíbrio desloca-se um pouco, para compensar a força
vertical para baixo.

Podemos ver na Figura 13 que o ponto de equilíbrio passa pelo centro da


esfera e que é dele que ela parte no instante t1. Nesse exato instante, imediatamente
após ter sido liberada, a esfera tem um vetor aceleração nulo.

Mas enquanto desce uma distância y1 em t2 ela adquire um vetor aceleração


cada vez mais positivo. O vetor aceleração Š
a representa a aceleração causada pela
Š
força reparadora Frep, também não mostrados na Figura 13.

FIGURA 13 – SISTEMA MASSA-MOLA OSCILANDO NA VERTICAL, COM DIFERENTES


MOMENTOS DESTACADOS

FONTE: O autor

Retornando à posição de equilíbrio em um instante t3, o vetor aceleração


volta a ter intensidade nula, mas apenas por um breve instante de tempo, pois
assim que a mola começa a ser comprimida, o vetor aceleração, causado agora
por uma força reparadora que aponta para baixo, apontará também para baixo,
crescendo à medida que a mola é comprimida, até encontrar seu valor máximo
em t4 e y2. A esfera retorna ao ponto de equilíbrio e completa um ciclo de oscilação.

110
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

d2 k
x (t ) = − x (t ) ; (2.13)
dt 2
m

d2 k
x (t ) + x (t ) =
0.
dt 2
m

Retomando a equação (2.11), vamos reescrever a aceleração da esfera como


a segunda derivada da posição desta. Fica claro na equação (2.13) que a dinâmica
do sistema massa-mola é regido por uma equação diferencial linear homogênea
de segunda ordem. Anteriormente, foi mencionado que a razão k/m fornece o
quadrado da velocidade angular ω com que o sistema massa-mola oscila.

Isso porque a determinação da solução geral para (2.13) demanda a


aplicação do conceito de equação característica, uma expressão algébrica que
reflete as ordens derivativas da equação de segunda ordem original, dada por:

λë22 + ω
ù2 =
0; (2.14)

ë
λ= ω;
−ù

λ = ±ù
ë ωi;

k
ë
λ= ± i.
m

O conceito de equação característica diz que se λ1 for solução para (2.13),


então x(t) = eλ1t deve ser solução de (2.13) e isso pode facilmente ser demonstrado
com a aplicação das derivadas adequadas. Revendo a equação (2.13) e considerando
a equação (2.14), fica claro que a solução para a equação (2.13) deve ter a forma:

d2
x (t ) + ω
ù 2 x (t ) =
0; (2.15)
dt 2

x ( t ) a e + iù t + b e − iù t ;
ω ω
=

x ( t ) = a cos ( ω
ù t ) +i sen (ω
ù t )  + b cos (ω
ù t ) − i sen (ω
ù t )  ;

x ( t ) a x1 ( t ) + b x2 ( t ) .
=

111
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Observe que uma vez que x1(t) é solução para (2.13), assim como x2(t),
qualquer combinação linear dessas duas soluções, com diferentes valores para
a e b, também será solução para (2.13), a essa propriedade damos o nome de
superposição de soluções.

Observe a Figura 14, ela mostra uma representação conceitual de uma


esfera que oscila, presa a uma mola. Note que o eixo horizontal representa o tempo
passando no sentido t > 0, já o eixo vertical representa a posição x(t) da massa
oscilante. Há ainda uma representação da amplitude A, maior distanciamento
em relação à posição de equilíbrio, também representada pela linha horizontal.

FIGURA 14 – SISTEMA MASSA-MOLA OSCILANDO NA VERTICAL, CURVA COSSENOIDE

FONTE: O autor

Note que, embora não esteja especificado na Figura 14, a esfera pode
estar descrevendo um movimento senoidal ou cossenoidal, com a diferença
dada apenas por uma fase qualquer. Isso nos sugere que a combinação linear da
equação (2.15) pode ser:

x1 ( t ) a cos ( ù
= δ);
ωt +ä (2.16)

x2 ( t ) b sen (ω
= δ ).
ù t+ä

De modo que:

x ( t ) a cos (ω
= ù t ) + b sin (ω
ù t); (2.17)

x ( t ) A cos (ω
= δ).
ù t+ä

112
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Observando o movimento da massa da Figura 14 e analisando a equação


(2.13), que o descreve, concluímos, por meio da teoria das equações diferenciais,
que a equação (2.17) apresenta a solução para (2.13). Verificamos essa condição
através do cálculo da primeira e da segunda derivada da expressão x(t).

Focando ainda na equação (2.17), note que a segunda linha representa


uma identidade trigonométrica concernente à primeira e que a raiz da soma
dos parâmetros a e b representa a amplitude A da função trigonométrica, uma
vez que é fácil demonstrar, através de condições de contorno, que a = A cos(δ)
e b = A sen(δ). Daí tiramos que:

A
= a2 + b2 . (2.18)

Esse arranjo entre as funções seno e cosseno, ponderadas pelos parâmetros


a e b, pode ser observado no Gráfico 3, que apresenta uma combinação de quatro
funções distintas. Note que as curvas tracejada (verde) e pontilhada (vermelho)
representam, respectivamente, as curvas cos(ω t) e sin(ω t) , limitadas entre os
valores +1 e –1. Já a curva sólida (azul) e sua curva identidade tracejada com
pontos (preta), representam, respectivamente, a primeira e a terceira linhas da
equação (2.15), com amplitudes ilimitadas.

GRÁFICO 3 – SISTEMA MASSA-MOLA OSCILANDO NA VERTICAL, CURVA COSSENOIDE

FONTE: O autor

Tomando então a última expressão da equação (2.15), teremos,


respectivamente, para a posição da massa em função do tempo, para sua
velocidade e para sua aceleração, as seguintes formas:

113
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

x ( t ) A cos ( ω
= δ);
ù t+ä (2.19)

d
v (t ) = x (t ) = ù sen (ω
−Aω ù t + δä ) ;
dt

d d2
a (t ) = v (t ) = 2 x (t ) = ù 2 cos (ω
−Aω δ) =
ù t+ä ω 2 x (t ) .
−ù
dt dt

A equação (2.19) apresenta, sucessivamente, as equações para a posição


x(t), a velocidade v(t) e a aceleração a(t) de um sistema massa-mola em função
do tempo t. Cada linha sucessiva representa uma sucessiva derivada da função
posição x(t) em relação ao tempo. Note que cada uma dessas equações é
k
parametrizada pela amplitude A, pela velocidade angular ω
ù = e também por
m
uma fase δ ≠ 0, que translada todo o sistema lateralmente no tempo, em relação
ao caso δ = 0. A fase δ é importante, pois determina a posição x0 e a velocidade v0
iniciais do sistema, uma vez que tomemos t= 0, ficando com:

x0 = A cos ( δä ) ; (2.20)

ù sen ( ä
v0 = A ω δ);

ù 2 x0 .
a0 = − Aω

Retomando a equação (2.12) para o período do sistema massa-mola, é fácil


entender que em t = T, ou seja, ao fim de um ciclo, teremos x(0) = x(T), ou ainda:

x (=
t ) x (t + T ) ; (2.21)

A cos (ω
ù= δ ) A cos ( ω
t+ä ω T ).
ù t + äδ + ù

Isso só é permitido para o caso em que ω T = 2π e daí tiramos que:

ω ðf ;
ù = 2π (2.22)

k 2π
ð
= ;
m T

m
T = 2π
ð .
k
114
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

É interessante como da trigonometria podemos deduzir uma propriedade


do sistema massa-mola que dependa da massa m e da constante da mola k, tão
importante como o período. Esclarecemos que, a menos que mencionado o
contrário, consideraremos daqui para frente o ângulo de fase como δ = 0 e valores
unitários para k, m. O Gráfico 4 apresenta três situações distintas para um sistema
ideal composto por uma massa m = 1kg e uma mola caracterizada por uma
constante k = 1N/m. Nela podemos observar as curvas para a tríade (2.19), cujas
parametrizações se encontram no Quadro 1.

QUADRO 1 – PARAMETRIZAÇÕES CONSIDERADAS EM TRÊS SITUAÇÕES DISTINTAS

Situação A (m) ω (rad/s) δ (rad)


1 1.0 1.0 0
2 1,0 1.0 π/2
3 1.0 2.0 0
FONTE: O autor

Aqui vemos a posição x(t) em linha tracejada (azul), a velocidade v(t) em


linha sólida (vermelha) e a aceleração a(t) do sistema, em linha pontilhada (preta).
No painel (a), mais à esquerda, apresentamos as equações (2.14) para a situação
1 com uma amplitude A = 1.0m, velocidade angular ω = 1.0 rad/s e constante de
fase δ = 0. É fácil perceber que v(t) defasada em relação a x(t) da mesma forma
que sen(θ) é defasado em relação a cos(θ). Já a aceleração a(t) se sobrepõe a x(t)
simplesmente pela escolha da parametrização.

GRÁFICO 4 – POSIÇÃO x(t) (LINHA TRACEJADA AZUL), VELOCIDADE v(t) (LINHA SÓLIDA
VERMELHA), E ACELERAÇÃO a(t) (LINHA PONTILHADA PRETA) EM UM SISTEMA MASSA-MOLA
IDEAL, COMO FUNÇÃO DO TEMPO

FONTE: O autor

115
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

O painel (b), no centro, a situação 2 apresenta o caso em que temos


amplitude A = 1.0m, velocidade angular ω = 1.0 rad/s e constante de fase δ = π/2.
Essa é basicamente uma repetição do painel (a), transladado em meio ciclo. Na
situação 3, nosso último caso, configuramos o sistema massa-mola com amplitude
A = 1.0m, velocidade angular ω = 2.0 rad/s e constante de fase δ = 0, como
apresentado no painel (c), à direita. Logo, podemos perceber que as relações da
velocidade angular ω, direta com a velocidade v(t) e quadrática com a aceleração
a(t), se fazem pesar em comparação com curva para a posição x(t).

DICAS

O movimento harmônico é um fenômeno muito comum e interessante da


dinâmica dos corpos, ele envolve tópicos de áreas aparentemente distintas, mas ainda
interligadas, como a linguagem da matemática trigonométrica e as propriedades elásticas
de um material. É com esse espírito que sugerimos a leitura do artigo Uma abordagem
teórica e experimental do oscilador harmônico em duas dimensões utilizando as curvas
de Lissajous (CENA et al., 2014), publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele, os
autores discutem as aplicações de um sistema massa-mola com liberdade para oscilar em
duas dimensões, descrevendo as trajetórias das soluções possíveis com o auxílio das curvas
de Lissajous, linhas imaginárias que demarcam as sucessivas posições tomadas pelo sistema
à medida que o tempo transcorre.
Disponível em: <https://bit.ly/2NOkUQO>.

2.2 O MOVIMENTO HARMÔNICO E O MOVIMENTO


CIRCULAR
Até o momento, o leitor já deve ter percebido a clara relação entre o
movimento harmônico (MH) e o movimento circular (MC). Período, frequência
e velocidade angular são apenas algumas das propriedades compartilhadas em
ambos os tópicos. Vamos então nos resumir a uma breve recapitulação do MC e
sua relação com o MHS.

Inicialmente é fácil definir o deslocamento angular θ(t) em função do


tempo em termos de sua relação com o tempo t, a fase δ, que pode ser entendida
como uma posição inicial e que normalmente é tomada como nula, e a velocidade
angular ω, que pode ter um valor inicial constante ωo no caso do movimento
circular uniforme MCU, ou ser dependente do tempo, como no caso do movimento
circular uniformemente variado MCUV.

116
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

θ ()
è t= ω
ù t+ä
δ; (2.23)

d
θ (t ) = ω
è ù;
dt

d2 d
= θ (t ) =
è ω ( t ) a.
ù
dt 2
dt

Na equação (2.23) apresentamos o deslocamento angular em função do


d
tempo θ(t), sua derivada è ( t ) , que pode ser interpretada como a velocidade
θ
dt
angular ω e caso ela também varie com o tempo, a aceleração angular a.

GRÁFICO 5 – MOVIMENTO CIRCULAR E SUA RELAÇÃO COM O MOVIMENTO HARMÔNICO

FONTE: O autor

O Gráfico 5 apresenta uma partícula em movimento circular em um


determinado instante de tempo t, um instantâneo, por assim dizer. Com ela
podemos perceber que é possível decompor o movimento circular dessa partícula
em termos das coordenadas cartesianas do plano xy, o que nos deixa com:

= cos ( è
x A= θ) A cos ( ω δ);
ù t+ä (2.24)

= sen ( è
y A= θ ) A sen (ω δ).
ù t+ä

117
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Note que aqui A é o raio de giro do movimento, mas fica claro que mais
adiante ele fará o papel de amplitude do movimento harmônico. Veremos a
seguir mais alguns exemplos de aplicações dessa relação entre os movimentos
circular e harmônico.

2.3 MHS E SUAS ENERGIAS


É claro que se há uma força F(x) que desloca um sistema massa-mola de
uma distância x, essa força realiza trabalho sobre a mola. Da mesma forma, a
mola responde à força F(x) com uma força correspondente FRep(x). Considerando
a conservação de energia do sistema, fica implícito que:

U ( x ) = −∆W . (2.25)

O que significa que nas posições de extrema compressão ou extrema


distensão, a mola armazena uma energia potencial U(x), proveniente do trabalho
realizado pela força F(x) e como F(x) = –FRep(x), podemos calcular a energia
potencial do sistema massa-mola:

xf

U ( x ) = ∫ F ( x ) dx; (2.26)
xi

xf

U ( x ) = − ∫ FRep ( x ) dx;
xi

xf

U ( x) =− ∫ ( − kx ) dx;
xi

1 2
U ( x) = kx ;
2

1
U (t ) = k  x ( t )  .
2

A primeira linha da equação (2.26) representa a própria definição do


potencial para uma força que atue sobre um corpo, deslocando-o da posição
inicial xi até a posição final xf. Uma vez que consideremos a posição da massa
como uma função do tempo, obtemos a expressão final da equação (2.26).

118
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Considere um sistema em que as posições inicial e final são xi = –1m e xf = 1,


respectivamente, e que a constante da mola seja k = 1N/m. Após realizarmos o cálculo
da integral da (2.26), podemos discutir as curvas para a força F(x) e para o potencial
U(x), como apresentadas no Gráfico 6.

GRÁFICO 6 – COMPARATIVO PARA (A) FORÇA F(x) E (B) ENERGIA POTENCIAL U(x), COMO
FUNÇÃO DA POSIÇÃO x.

FONTE: O autor

Note que a força exercida sobre a mola ou a força pela mola, como você
preferir, inverte seu sinal, dependendo do lado da posição de equilíbrio, não
voltaremos a essa discussão. Entretanto, isso não ocorre com a energia potencial
U(x). Ela não tem seu sinal trocado, de acordo com a posição que a massa ocupa
no momento. Isso porque a energia potencial é sempre positiva, uma vez que
tanto o movimento de compressão da mola como o de distensão necessitam da
mesma quantidade de força, considerando o mesmo deslocamento |Δx| para
ambos os lados. Você realiza a mesma quantidade de trabalho para deslocar uma
mola de Δx ou de –Δx.

Podemos perceber então que a função potencial oferece duas limitações nos
pontos mais distantes, para avançar para xf + Δx, é necessária a aplicação de uma
força F(xf + Δx) que armazene na mola uma energia potencial U(xf + Δx). Dizemos
então que o sistema fica limitado entre xi ≤ x ≤ xf pelos potenciais U(xi) ≤ U ≤ U(xf) e
que esses representam o que chamamos de barreira de potencial do sistema. Como
este se trata do movimento harmônico simples (MHS), temos então que considerar
o deslocamento periódico da massa, aplicamos aqui a equação (2.89) e ficamos com:

F (t ) =
− kx ( t ) =
− k A cos (ω δ);
ù t+ä (2.27)

119
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

para a força que atua no sistema massa-mola em função do tempo t. E também


para sua energia potencial em função de t, temos:

1
U (t ) k  A cos (ω δ ) ;
2
= ù t+ä  (2.28)
2

1 2
= kA cos 2 (ω
ù t + δä ) .
2

A energia cinética da mola variará no tempo segundo a expressão:

1 1
K (t ) = m  v ( t )  = ù sen (ω δ ) ;
2 2
m  − A ω ù t+ä  (2.29)
2 2

1
= ù 2 sen2 (ω
m A2 ω δ);
ù t+ä
2

1
= k A 2 sen2 ( ω δ ).
ù t+ä
2

Quando aplicamos essas funções dentro do ciclo em que operam, obtemos


os resultados apresentados no Gráfico 7, para as mesmas situações do Quadro 1.
Vamos examinar esses gráficos tomando a situação 1 (linha tracejada azul) como
referência. A situação 2 (linha sólida vermelha) como uma fase π/2 em relação à
situação 1. E a situação 3 (linha pontilhada preta) como um sistema com o dobro
da velocidade angular ω da situação 1.

120
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

GRÁFICO 7 – COMPARATIVO PARA (A) FORÇA F(x, t); (B) ENERGIA POTENCIAL U(x, t) E (C)
ENERGIA CINÉTICA K(x, t), COMO FUNÇÃO DA POSIÇÃO x(t) (EIXO X SUPERIOR) E DO TEMPO
T (EIXO X INFERIOR), PARA AS TRÊS SITUAÇÕES CITADAS NO QUADRO 1

FONTE: O autor

Muitas curvas e diferentes situações povoam o Gráfico 7, mas você não


precisa se assustar. Lembre-se de que tomaremos a situação 1 como referência
para nossa generalização, ou seja δ = 0.

De forma geral, é interessante observar esse sistema como um ciclo


fechado, iniciado em T = 0 e finalizado ao fim de um período t = T. Isso implica
que, uma vez iniciado o movimento da massa em xi, ela deve alcançar a posição
xf em t = T/2 e retornar à posição inicial xi ao fim de um período, essa é a situação
1 e esse raciocínio serve para força e as energias envolvidas.

A situação 2 é uma defasagem da descrição anterior por um quarto de


ciclo, ou seja, δ = π/2, mas a mecânica empregada em sua descrição é a mesma. Já
a situação 3 é um caso duas vezes mais rápido que aquele descrito na situação 1,
implicando ω3 = 2 ω1.

Essa é uma delineação fria e objetiva do problema da massa-mola, mas


a implicação física deste ferramental matemático é o mais fascinante. Em outras
palavras, tanto a força F(t) como as energias potencial U(t) e cinética K(t) têm
valores que variam cossenoidalmente, no caso de F(t) e U(t), e senoidalmente, no
caso de K(t). Isso faz completo sentido, uma vez que ao comprimirmos uma mola,
ela oferece uma força de reação reparadora contrária à força de compressão e cuja
energia potencial associada tende a impelir a massa na mesma direção para onde
a força reparadora aponta, daí a semelhança trigonométrica. Não se esqueça da
relação entre o trabalho ΔW realizado pela força reparadora e a energia potencial
U(t) armazenada pelo sistema, representada pela equação (2.25). E não se esqueça
também da relação entre a força de compressão F(t) e U(t).
121
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

A energia cinética K(t) do sistema, por sua vez, está inversamente


entrelaçada à energia potencial U(t). A energia cinética cresce apenas na medida
em que a energia potencial se extingue. E para um sistema ideal, como o que
vemos aqui, essa é apenas uma partição dinâmica de uma energia mecânica total
que se conserva:

1 1
Etot= K ( t ) + U ( t )= k A 2 sen2 ( ù δ ) + kA 2 cos 2 (ω
ωt+ä δ);
ù t+ä (2.30)
2 2

1
= k A 2  sen2 (ω δ ) + cos 2 ( ω
ù t+ä ù t + δä )  ;
2

1
= k A2 .
2

Note que na segunda linha fazemos uso da identidade [sen2(ωt + δ) +


cos2(ωt + δ)] = 1 para atingirmos essa conclusão. A energia total Etot de um sistema
massa-mola ideal é dada pela metade do produto da constante da mola k com
o quadrado da amplitude A2. Note que por causa do caráter trigonométrico da
descrição desse sistema, a energia potencial U(t) será máxima, sempre que a
energia cinética K(t) for mínima.

Isso ocorre nos momentos de compressão e distensão máximas da mola,


e nesse instante, toda energia do sistema será potencial Etot = Umax. Por sua vez, a
energia cinética K(t) também conhecerá momentos de máximos e eles ocorrerão
sempre que o sistema passar pelo ponto de equilíbrio, quando a mola não está
nem comprimida, tampouco distendida, aí teremos Etot = Kmax.

Esse valores de máximos e mínimos serão sempre determinados pelas


funções cosseno e seno, e como essas constituem respectivamente U(t) e K(t),
sempre teremos Umax quando cos(ωt + δ) = 1 e sen(ωt + δ) = 0 e teremos Kmax
quando cos(ωt + δ) = 0 e sen(ωt + δ) = 1.

122
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

GRÁFICO 8 – COMPARATIVO PARA AS ENERGIAS POTENCIAL U(t) (LINHA TRACEJADA AZUL),


CINÉTICA K(t) (LINHA PONTILHADA VERMELHA) E A SOMA DELAS, A ENERGIA TOTAL Etot(T)
(LINHA SÓLIDA PRETA), COMO FUNÇÃO DA POSIÇÃO x(t) (EIXO X SUPERIOR) E DO TEMPO T
(EIXO X INFERIOR), PARA A SITUAÇÃO 1 CITADA NO QUADRO 1

FONTE: O autor

Toda essa discussão pode ser observada no Gráfico 8, onde as curvas para
as diferentes energias, sendo elas potencial U(t) e cinética K(t) são apresentadas,
bem como a soma das mesmas, a energia total Etot(t). Note que, como consideramos
a situação 1 do Quadro 1, a todo instante a energia total do sistema é equivalente
1 2 1 1
( 1.0 N m )( 1.0=
m)
2
Etot
a= = kA J.
2 2 2

DICAS

O oscilado harmônico é um sistema muito frutífero para os estudos de


fenômenos físicos periódicos, ele tem uma função pedagógica fundamental, pois, como é
aplicável a uma imensa variedade de problemas, pode ser extrapolado a partir de um simples
sistema massa-mola. Além disso, a matemática envolvida em sua resolução é bastante
refinada e diversa, com muitas interpretações. É com esse espírito que sugerimos a leitura
do artigo Oscilador harmônico: uma análise via séries de Fourier (CASTRO, A. S., 2014),
publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele, o autor apresenta um método
para a resolução de um oscilador harmônico baseado nas séries de Fourier e defende sua
simplicidade em relação à solução geral do modelo mais simples. O autor ainda considera
o papel do amortecimento no sistema oscilante e a possibilidade de uma análise de mesma
natureza. Leia em <https://bit.ly/2M3bZgs>.

123
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

2.4 MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO (MHA)


Até aqui trabalhamos com sistemas ideais conservativos, em que toda
energia potencial U(t) armazenada no sistema é transformada em energia cinética
K(t) e de volta em potencial, em uma soma constante, dada pelo produto da
constante elástica da mola k com o quadrado da amplitude A. Consideraremos
aqui um sistema um pouco mais realista, em que uma quantidade dessa energia
é perdida de forma irreversível, fazendo com que o sistema oscile por alguns
instantes, mas logo retorne a seu estado de equilíbrio estático, quando a mola
volta a ocupar a posição x = 0, e para de vez.

Tridimensionalmente poderíamos tratar o problema com o auxílio do


vetor de posição Š
r(t) e suas respectivas derivadas. Aqui associaremos à velocidade
da massa uma constante resistiva ξ > 0, cujas unidades são [ξ] > Kg/s. Mostramos
a seguir a equação para o diagrama de forças que descreveria o sistema do Gráfico
2, considerando-se que agora a força de atrito passa a desempenhar um papel
importante no modelo.
   
F (t ) =
− k r ( t ) −ξî v ( t ) =
m a (t ) ; (2.31)

 d  d2 
− k r ( t ) −ξî r ( t ) =
m 2 r (t ) ;
dt dt

d2  d  
m 2 r ( t ) +ξî r ( t ) + k r ( t ) =
0;
dt dt

d2  d  
r (t ) + y r (t ) + ω
ù 2 r (t ) =
0.
dt 2
dt

 d 
Note que o termo ξî v ( t ) = ξî r ( t ) se conecta à força de atrito, pois torna-
dt
se não nulo apenas enquanto v(t) ≠ 0. Quando v(t) = 0 ocorre, voltamos ao MHS.
ξî
Ainda na terceira e quarta linhas há um rearranjo, com = y > 0 e obviamente
k m
ù 02 = , de modo que obtemos uma equação diferencial linear homogênea de
ω
m
segunda ordem, agora também com o termo de primeira derivada. Perceba que
os parâmetros [y] = s–1 e [ω] = rad s–1 tornam a última linha da equação (2.31) uma
soma de todas as acelerações envolvidas nesse sistema massa-mola, sejam elas uma
2
aceleração associada ao movimento linear da massa d 2 r ( t ) , uma desaceleração
d  dt
causada pelo atrito y r ( t ) ou uma aceleração ligada ao movimento periódico
dt
ω2 Š
r(t).

124
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Perceba que a soma total é nula, uma vez que o movimento periódico aqui
refletirá o balanço entre a aceleração proveniente das sucessivas compressões
e distensões da mola e a desaceleração causada pela fricção da massa com a
superfície. Note ainda que y tem unidade de frequência e é exatamente nela
que o amortecimento atua, tornando o movimento oscilatório cada vez menos
frequente, até o ponto em que esse cessa completamente.

Unidimensionalmente, podemos reescrever a equação (2.31) em termos


do deslocamento horizontal x(t), apresentado na equação (2.32).

F (t ) =
− k x ( t ) −ξî v ( t ) =
m a (t ) ; (2.32)

d d2
− k x ( t ) −ξî x (t ) =
m 2 x (t ) ;
dt dt

d2 d
m x ( t ) +ξî x (t ) + k x (t ) =
0;
dt 2
dt

d2 d
x (t ) + y x (t ) + ω
ù 2 x (t ) =
0.
dt 2
dt

Para encontrar a solução vetorial Š r(t) ou escalar x(x), temos que levar em
conta os coeficientes constantes em (2.26) ou (2.27), respectivamente. Além disso,
é necessário rever a equação (2.13) para o movimento no sistema massa-mola a
equação característica (2.14). A principal mudança é a adição do termo de atrito.
Ficaremos então com:

λ 2 + γλ + ω2 = 0; (2.33)

1
=
λ  −γ ± γ 2 − 4ω02  .
2  

κ
Lembre-se que agora ω02 = , o que significa que se:
m

λ < 2 ω0 ; (2.34)

κ
λ< 2 ;
m

125
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

teremos como resposta:

γ
λ = − ± i 4ω02 − γ 2 . (2.35)
2

2 2
Aqui podemos pensar em termos de ω = 4ω0 − γ , e então teremos para
o deslocamento do sistema massa-mola, resgatando a equação (2.30):

 γ   γ 
 − + iω  t  − − iω  t
x ( t ) ae 
= 2 
+ be  2 
; (2.36)

γ
x (t ) e
− t
= 2  ae + iωt + be − iωt  ;
 
γ
x (t ) e a cos ( ω t ) +i sen ( ωt )  + b cos ( ω t ) − i sen ( ωt )  ;
− t
= 2

γ
x (t ) e  a x1 ( t ) + b x2 ( t )  ;
− t
= 2

γ
x (t ) e  a cos ( ω t ) + b sin ( ω t )  ;
− t
= 2

γ
x (t ) e  A0 cos ( ω t + δ )  .
− t
= 2

Observe que novamente x1(t) e x2(t) são soluções para o problema e


qualquer combinação linear dessas duas soluções, com diferentes valores para a e
b, também será solução para, a diferença aqui é que temos um fator exponencial
responsável pela dissipação da energia e seu reflexo no deslocamento da massa.
De qualquer modo, podemos escrever a amplitude do sistema como função de um
valor inicial A0 e de seu decaimento temporal exponencial. Após essa adaptação
abrasiva à superposição de soluções para o deslocamento do sistema amortecido,
encontramos para a amplitude:

γ
A ( t ) = A0 e
− t
2
. (2.37)

Pelos mesmos motivos discutidos anteriormente, no caso do MHS, temos


que a equação para o deslocamento temporal x(t) em um MHA pode ser escrita
como:

126
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

x ( t ) A ( t ) cos ( ω t + δ ) ;
= (2.38)

d  1 
v (t )
= x ( t ) A ( t )  − γ cos ( ωt + δ ) − ω sin ( ωt + δ )  ;
=
dt  2 

d d2  1  
a (t )
= = v (t ) = x ( t ) A ( t )  − γ 2 − ω2  cos ( ωt + δ ) + γ ω sin ( ωt + δ )  .
dt dt 2
 4  

Observe que tanto a expressão para deslocamento x(t), como para suas
derivadas, de primeira ordem v(t) e de segunda ordem a(t), voltam a tomar a
forma (2.17) quando removemos o amortecimento do sistema, ou seja, quando y
= 0. Obviamente, consideramos δ = 0 e valores unitários para k, m, ξ, a menos que
o contrário seja especificado.

Note que agora a amplitude de movimento da mala no sistema amortecido


1
varia exponencialmente com o tempo e tem a forma A ( t ) = A0 e 2 . Perceba que
− γt

com o passar do tempo, o amortecimento, representado pela curva exponencial,


age sobre o sistema, imprimindo sobre ele uma redução drástica da amplitude de
movimento da massa, inicialmente com valor de A0. É esse desgaste energético,
como veremos mais adiante, que debilita a oscilação da mola, fazendo com que a
mesma, eventualmente, pare. No Gráfico 9 apresentamos a evolução temporal da
amplitude A(t) para três condições distintas.

GRÁFICO 9 – COMPARATIVO PARA AS AMPLITUDES A ( t ) = A0 e 2 PARA OS CASOS DE y = 1; A0


− γt

= 1m (LINHA TRACEJADA AZUL), y = 2; A0 = 1m (LINHA PONTILHADA VERMELHA) E y = 1; A0 =


2m (LINHA SÓLIDA PRETA), COMO FUNÇÃO DA POSIÇÃO x(t) (EIXO X SUPERIOR) E DO TEMPO
T (EIXO X INFERIOR)

FONTE: O autor

127
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Na condição 1 (linha tracejada azul), consideramos um amortecimento


representado por y = 1 s–1 e uma amplitude inicial de oscilação A0 = 1m, o usaremos
como referência. A condição 2 (linha pontilhada vermelha) apresenta um fator de
amortecimento duas vezes maior y = 2 s–1, o que faz com que sua curva decaia
muito mais abruptamente. Note que com esse tipo de amortecimento, o período
de oscilação T cai pela metade, em relação à condição 1. Por último, a condição
3 (linha sólida preta) mostra a proporção pela qual é multiplicado o período de
oscilação, quando duplicamos a amplitude inicial do sistema.

À medida que a amplitude é reduzida com o tempo, o corpo MHA


atinge uma posição cada vez menos distante do ponto de equilíbrio, posição que
ocupará quando toda a energia mecânica do sistema tiver sido drenada pelas
forças dissipativas. O Gráfico 10 apresenta esse comportamento sinuoso da
massa, rumo à extinção de seu movimento. Talvez isso lhe pareça óbvio demais,
talvez você ainda não tenha percebido, mas observe que todos pontos de mínimo
e máximo de x(t) (linha sólida azul) coincidem com pontos sobre as curvas de
amplitude A(t) (linha tracejada preta). Isso faz completo sentido, uma vez que a
amplitude A(t) é a posição mais distante em x(t), naquele instante t.

GRÁFICO 10 – COMPARATIVO ENTRE O DESLOCAMENTO x(t) (LINHA SÓLIDA AZUL) E


AMPLITUDE A(t) (LINHA TRACEJADA PRETA), COMO FUNÇÃO DA POSIÇÃO x(t) (EIXO X
SUPERIOR) E DO TEMPO T (EIXO X INFERIOR)

FONTE: O autor

Tratando ainda do conceito de energia no MHA, lembre-se de que as


definições mais primitivas, tanto para a energia potencial U(t) ou cinética K(t),
continuam válidas e a partir delas temos para U(t):

128
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

1
U ( t )= κ  x ( t )  ;
2
(2.39)
2

= κ  A ( t ) cos ( ω t + δ )  .
2

Perceba que agora a energia potencial varia com o tempo não apenas
senoidalmente, mas por causa do sinal no argumento da função exponencial
1

na expressão A ( t ) = A0 e
− γt
2
da amplitude, a energia potencial decai...
Exponencialmente.

O mesmo ocorre para a energia cinética K(t), a seguir:

1
K (t ) = m  v ( t )  ;
2
(2.40)
2
2
1   1 
= m  A ( t )  − y cos ( ωt + δ ) − ω sin ( ωt + δ )   .
2   2 

Agora, além de decair exponencialmente, por causa de A(t), a energia


cinética K(t) é uma combinação entre senos e cossenos de (ωt + δ). E lembre-se de
2 2
que ω= 4ω0 − γ também depende do amortecimento y do sistema. A Figura
27 apresenta as curvas para energia potencial U(t) e para a energia cinética K(t).

GRÁFICO 11 – COMPARATIVO PARA AS ENERGIAS POTENCIAL U(t) (LINHA TRACEJADA AZUL),


CINÉTICA K(t) (LINHA PONTILHADA VERMELHA) E A SOMA DELAS, A ENERGIA TOTAL Etot(T)
(LINHA SÓLIDA PRETA), COMO FUNÇÃO DA POSIÇÃO x(t) (EIXO X SUPERIOR) E DO TEMPO T
(EIXO X INFERIOR)

FONTE: O autor

129
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Vemos então como ambas se comportam, oscilando entre os pontos iniciais


1
xi e xf. Note que, como U ( t )= 2 κ  A ( t )  em t = 0s, o sistema inicia seu movimento
2
 
em compressão ou distensão total. Nesse momento K(t) é nula. Somando as duas
curvas, temos a energia mecânica total Etot(t):

Etot K ( t ) + U ( t )
= (2.41)

2
1   1 
= m  A ( t )  − γ cos ( ωt + δ ) − ω sin ( ωt + δ )  
2   2 

+ κ  A ( t ) cos ( ω t + δ )  ;
2

1 2  m  1   
2

κ  A ( t )    2 cos ( ω t + δ )  +   − γ cos ( ωt + δ ) − ω sin ( ωt + δ )    .


2
=
2  κ  2   


Note pelo gráfico que em t = 0s, esperamos ver, para a energia total:

1 2  1 mγ 2 
Etot ( 0 )= κ  A0   2 − . (2.42)
2  4 κ 

Porém, como nesse momento não há razão para acreditar que o atrito
esteja atuando, uma vez que supomos a massa parada na posição de máxima
1
energia potencial Etot ( t )= U ( 0 )=
2
κ  A0  , podemos considerar que em t = 0s,
teremos: 2

1 mγ 2
= 1; (2.43)
4 κ

1 γ2
= 1;
4 ω2

γ = 2 ω0 .

Que é exatamente a solução para uma única raiz real da equação


ξ
característica que compõe esse sistema. Uma vez que definimos y = , perceba
m
ainda que a última linha da equação (2.43) implica que= ξ 2 mκ . Isso nos diz
que as perdas energéticas associadas ao atrito da massa com a superfície sobre
a qual desliza serão determinadas pela massa m da mola, bem como por sua
constante K.
130
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

DICAS

O movimento harmônico amortecido é uma interpretação mais realística


do modelo ideal que discutimos anteriormente. Com ele devemos considerar as perdas
energéticas do sistema e esse detalhe torna a descrição do problema mais complexa, mas
também muito mais interessante. É com esse espírito que sugerimos a leitura do artigo
O Oscilador Linearmente Amortecido (HICKMANN, J. S.; LIBARDI, H.; 1997), publicado na
Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele os autores discutem um oscilador harmônico
amortecido, semelhante ao que discutimos aqui, admitindo uma força de atrito derivada do
contato entre a massa e a superfície, e cujo sinal depende apenas daquele da velocidade da
massa.
Leia em <https://bit.ly/2Ai01L9>.

2.5 MOVIMENTO HARMÔNICO FORÇADO AMORTECIDO


(MHFA)
O movimento harmônico forçado amortecido (MHFA) é uma extrapolação
do MHA, porém agora nutrido por uma força reparadora F(t), que reajusta o
sistema a cada ciclo, ou variando com o tempo. Tridimensionalmente podemos
montar o somatório de forças da seguinte maneira:
   
F ( t ) = − κ r ( t ) −ξ v ( t ) = m a ( t ) ; (2.44)

 d  d2  
−κ r ( t ) − ξ r ( t ) + m 2 r ( t ) = F ( t ) ;
dt dt

d2  d   
m 2 r (t ) + ξ r (t ) + κ r (t ) = F (t ) ;
dt dt

d2  d  
r ( t ) + γ r ( t ) + ω2 r ( t ) =
F (t ) .
dt 2
dt m

Perceba que agora lidamos com uma equação diferencial linear não
homogênea de segunda ordem. O que significa que há uma fonte de energia, por
assim dizer, que sustenta o sistema periodicamente. Isso faz com que ele, apesar
de perder com atrito parte dessa energia injetada frequentemente, não cesse seu
movimento. Unidimensionalmente podemos tratar o problema reescrevendo a
soma das forças em uma forma diferencial mais familiar, ficamos com:

131
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

F ( t ) = − κ x ( t ) −ξv ( t ) = m a ( t ) ; (2.45)

d d2
−κ x ( t ) − ξ x (t ) + m 2 x (t ) = F (t ) ;
dt dt

d2 d
m x (t ) + ξ x (t ) + κ x (t ) = F (t ) ;
dt 2
dt

d2 d F (t )
x ( t ) + γ x ( t ) + ω02 x ( t ) = .
dt 2
dt m

Começando pelo cálculo das derivadas da equação (2.45), podemos supor


a priori uma solução genérica para o deslocamento do sistema:

x ( t ) = A0 e iωt ; (2.46)

d
x ( t ) = i ω A0 e iωt ;
dt

d2
x ( t ) = ( i ω) A0 e iωt = − ω2 A0 e iωt .
2
2
dt

Perceba que até aqui as derivadas não diferem muito do que você viu para
MHS. Mas substituindo (2.46) na última expressão de (2.45), nos fornece uma
amplitude inicial A0 interessante:

F0 e iωt
A0 =  − ω2 e iωt + i γω e iωt + ω02 e iωt  = ; (2.47)
m

A0 =
(F 0
/ m)
;
 − ω +i γω+ω2 
2
 

A0 =
(F 0
/ m)
;
(
 ω02 − ω2 + i γω
  )
γω

A0 =
(F 0
/ m)
e
−i
(ω − ω ) ;
2
0
2

(ω ) + ( γω)
2 2
2
0
− ω2

A0 =
(F 0
/ m) 132
e
− i tan ( ψ )
.
A0 =
(F 0
/ m)
e
(ω − ω ) ;
2
0
2

(ω ) + ( γω)
2 2
2
0
− ω2 TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

A0 =
(F 0
/ m)
e
− i tan ( ψ )
.
(ω ) + ( γω)
2 2
2 2
0
−ω

Perceba que cada novo empurrão, cada vez que uma força restauradora
F(t) atua no sistema, uma nova amplitude A0 é reiniciada. A cada vez que F(t)
transfere momento para o sistema, ele é reiniciado. Note que agora A0 não varia
mais com o tempo, pelo menos não no sentido discutido no MHA, mas com a força
inicial F0 e da velocidade angular ω, que pode ser alterada, à medida que mais
energia é adicionada ao sistema. Aqui, a cada novo ciclo, uma força restauradora
reinicia o sistema com uma força inicial F0 constante. Observe que, da segunda
para a terceira linha de (2.47), aplicamos a relação:

β
i
α + i β= α 2 + β2 e a ; (2.48)

que conduz à expressão final em (2.47). Note, porém, que para simplificar nossa
γω
notação, usaremos a definição tan ( ψ ) = .
(ω2
0
− ω2 )
Desse modo, podemos então reescrever o deslocamento em um sistema
massa-mola mais real e com alguns empurrões. Como uma criança que empurra
outra em um balanço, mas com uma resistência do ar um pouco mais rigorosa.
Ficamos então com:

x ( t ) = A0 e (
i ωt +δ )
; (2.49)

 γω 

x (t ) = 
(F 0
/ m)
e
−i
( ω − ω )  e i( ωt +δ) ;
2
0
2


(ω ) + ( γω)
2 2
 2
− ω2 
 0

 

x (t ) = 
(F 0
/ m)
 i( ωt −φ( ω)+δ)
e ;
( ω0 − ω + ( γω)  )
2 2
 2 2
 

 
 
 

x (t ) = 
( F0 / m )  i( ωt −φ( ω)+δ)
2 e ;
   ω  2

1 −    ω04 + ( γω) 
2

   ω0   
  133 

x (t ) = 
( F0 / m )  i( ωt −φ( ω)+δ)
e ;
( )
ω02 − ω2 + ( γω)
2 2
 PERIÓDICO 

UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO

 
 
 

x (t ) = 
( F0 / m )  i( ωt −φ( ω)+δ)
e ;
2 
   ω  2

1 −    ω04 + ( γω) 
2

   ω0   
   

(
i ωt −φ( ω) +δ )
x (=
t ) A0 ( ω) e .

Definiremos aqui a amplitude inicial A0(ω) de um sistema harmônico


forçado amortecido, como função da velocidade angular ω, da seguinte forma:

A0 ( ω) =
(F 0
/ m)
. (2.50)
2
  ω  2

1 −    ω04 + ( γω)
2

  ω0  
 

Note, pelo Gráfico 12, que a amplitude do (MHFA) é uma função da


velocidade angular ω a que o sistema está submetido. Ela cresce até um valor
máximo Amáx e depois começa a cair. É importante enfatizar aqui que você deve
pensar nesse gráfico como um sistema oscilante que caminha em direção à
máxima amplitude e para isso é necessário sintonizá-lo, com calma e paciência:

134
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

GRÁFICO 12 – COMPARATIVO PARA AS AMPLITUDES

A0 ( ω) =
( F0 / m ) .
2

= A0 ( ω)
( F0 / m )   ω
2

1 −    ω04 + ( γω)
2

  ω  2
2
 ω
 0  
2 
1 −    ω4 + ( γω)
  ω0  
 
PARA OS CASOS DE γ = 1/4 s–1 (LINHA TRACEJADA PONTILHADA VERDE), γ = (1/2) s–1 (LINHA
SÓLIDA PRETA), γ = 1 s–1 (LINHA TRACEJADA AZUL), γ = 2 s–1 (LINHA PONTILHADA VERMELHA)
E γ = 4 s–1 (LINHA PONTILHADA MAIS ESPAÇADA CINZA), COMO FUNÇÃO DA VELOCIDADE
ANGULAR ω(t)

FONTE: O autor

 ω
 
Veja como o sistema poderia, de acordo com ajustes na relação  ω0  ,
tender à ressonância, posição em que A0(ω) = Amáx, significando que o sistema é
subamortecido, ou tender também ao superamortecimento, quando o sistema não
tem liberdade alguma para se mover. Ambas as condições podem ser percebidas
quando consideramos os pontos Amáx para cada curva, com seu respectivo γ. Note
aqui que o caso em que γ = 2 s–1 ou γ = 4 s–1 é superamortecido e por isso suas
amplitudes máximas Amáx encontradas representam pontos de mínimos e não
máximos, o que indica que tais sistemas não são reais.

É possível perceber que quando submetido a uma força inicial F0, mas
ainda estacionário, o sistema terá uma amplitude, marcada por essa força:

135
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

A0 ( ω= 0=
(F / m)
) 0
2
; (2.51)
  ω 2

 ω04 + ( γω)
2
1 −  
  ω0  
 

A0 ( ω= 0=
(F / m)
) 0

ω02
;

A0 ( ω= 0=
) F0 / κ.

O que resulta exatamente no deslocamento inicial de uma mola de


constante K, quando submetida a uma força F0. Entretanto, se estivesse tentando
encontrar a velocidade angular natural de oscilação ω0 (ou frequência natural de
oscilação ω0 , como também pode ser encontrada na literatura) de oscilação de
um sistema massa mola, fracamente amortecido e, aos poucos, fosse ajustando,
vagarosamente, a velocidade angular ω do sistema rumo a ω0 , ou seja, ω → ω0 ,
você faria o sistema entrar naquilo que chamamos de ressonância, dado por:

A0 ( ω = ω0 ) =
(F 0
/ m)
; (2.52)
2
  ω  2

1 −    ω04 + ( γω)
2

  ω0  
 

1 ( F0 / m )
A0 ( ω = ω0 ) = ;
γ ω0

F0 m
A0 ( ω = ω0 ) = .
ξ κ

Suponha que você pudesse controlar o fator de atrito ξ entre as áreas de


contato da massa e da superfície sobre a qual ela oscila. Digamos que aos poucos
você lubrifica a superfície com algum óleo. O Gráfico 12 nos diz que à medida que
ξ
γ= →0
ξ → 0, ou seja m , a amplitude A0 → Amáx. O sistema tende a absorver mais
energia proveniente da força externa F0 , do que perde pelo atrito com o solo, ele
sai do controle. É mais fácil entender isso quando tomamos o limite:

136
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Amáx lim A ( ω) ;
= (2.53)
ω→ω0

 F0 
 
Amáx = lim m ;
(ω ) + ( γω)
ω→ω0 2 2
2 2
0
−ω

F0 F0 m
Amáx
= = .
mγω0 ξ κ

Uma vez discutidas as propriedades da amplitude em um sistema como


esse, podemos progredir para a análise cinemática do problema, vamos tratar do
movimento da massa conectada à mola em si. Novamente esclarecemos que, a
menos que mencionado o contrário, definimos ângulo de fase com δ = 0 e valores
unitários para K, m, ξ.

γω
( ω) tan −1 =
φ= (ψ)
Note ainda que fazemos ω − ω2 e que o termo (ωt ( 2
0 )
– ϕ (ω)) deriva de uma propriedade para soluções de equações diferenciais não
homogêneas de segunda ordem, que garante que a solução para o sistema não
homogêneo é uma composição entre uma solução particular desse sistema e uma
solução para o caso homogêneo. Ao reescrever as expressões para o deslocamento
x(t), a velocidade v(t) e a aceleração a(t), teremos:

 

x (t ) = 
(F0
/ m)  i( ωt +φ( ω)+δ) (2.54)
e
( )
ω0 − ω + ( γω) 
2 2
 2 2
 

 
 (F / m) 
=  0
(
 cos ω t + φ ( ω) + δ )
( )
ω0 − ω + ( γω) 
2 2
 2 2
 

= A0 ( ω) cos ( ω t − φ + δ ) ;

d
v (t ) =
dt
(
x ( t ) = − A0 ( ω) ω sen ω t + φ ( ω) + δ ; )
d d2
a (t ) =
dt
(
v ( t ) = 2 x ( t ) = − A0 ( ω) ω2 cos ω t + φ ( ω) + δ = − ω2 x ( t ) .
dt
)
137
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Note que agora o deslocamento também tem sua amplitude alterada,


mas pela velocidade angular ω definida para o sistema. O deslocamento também
pode ser afetado por fatores externos ao sistema, seja pela força F0 que o reinicia
a cada ciclo, seja por alterações de contato entre o sistema e a superfície sobre a
qual atua.

F0 m
AmÁx =
GRÁFICO 13 – COMPARATIVO ENTRE A AMPLITUDE ξ κ (LINHA TRACEJADA PRETA)
E O DESLOCAMENTO x(t), PARA OS CASOS DE ξ = 1/4 (LINHA TRACEJADA PONTILHADA
VERDE), ξ = 1/2 (LINHA PONTILHADA VERMELHA), ξ = 1(LINHA SÓLIDA AZUL), COMO FUNÇÃO
DO TEMPO t.

FONTE: O autor

Observe o Gráfico 13, ele mostra um conjunto de parametrizações para


ξ
um sistema massa-mola amortecido forçado, com diferentes valores para γ = m . A
Figura 29 apresenta a evolução temporal do deslocamento de um sistema massa-
mola, configurado sucessivamente com diferentes parametrizações. Não é necessário
fazer uma descrição minuciosa do que se passa aqui, basta que você perceba que,
1
( ) −1
de uma parametrização para outra 4 ≤ γ ≤ 4 s , o sistema passa de um caso
subamortecido, quando extrapola os limites de amplitude máxima Amáx, para
um sistema com tais F0 , m, ξ, K, para um caso superamortecido, quando seu
deslocamento é contundentemente contido.

1 
( )
2
U ( t )= κ A0 ( ω) cos ω t + φ ( ω) + δ  ; (2.55)
2  

1
(
κ  A0 ( ω)  cos 2 ω t + φ ( ω) + δ .)
2
=
2

138
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

A energia potencial U(t) para um sistema massa-mola em MHAF é


a simples construção, já discutida, sobre a definição matemática do conceito
de energia potencial. Entretanto, agora a energia potencial é também sensível
à frequência angular do sistema, além de continuar uma função do tempo. O
sistema amortecido forçado é interessante, pois agora não há mais aquele
constante balanço entre as energias potencial e cinética, apresentado na equação
(2.56). As perdas energéticas do sistema, devido ao atrito com a superfície de
contato, sobre a qual o sistema massa-mola suporta, continuam existindo.

1 1 
( )
2
(t ) m  v ( t=
) m − A0 ( ω) ω sen ω t + φ ( ω) + δ  ;
2
K=  (2.56)
2 2  

1
(
m  A0 ( ω)  ω2 sen2 ω t + φ ( ω) + δ ; )
2
=
2

1
(
κ  A0 ( ω)  sen2 ω t + φ ( ω) + δ .)
2
=
2

Porém, agora o sistema é alimentado por uma fonte de energia, uma


força F0 constante e periódica, que realiza trabalho sobre o sistema a cada ciclo.
Dessa forma, o sistema é provido com energia regularmente, como uma fonte, e
quanto mais subamortecido o sistema for, mais rápido ele ganhará energia, que
se acumula ainda nas formas potencial e cinética. As diferenças são pequenas no
papel, a alteração de um ou outro termo pode não manifestar com precisão as
reais modificações causadas no sistema, pela admissão de uma força reparadora
intermitente.

139
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

GRÁFICO 14 – COMPARATIVO PARA AS ENERGIAS POTENCIAL U(t) (LINHA TRACEJADA AZUL),


CINÉTICA K(t) (LINHA PONTILHADA VERMELHA) E A SOMA DELAS, A ENERGIA TOTAL Etot(T)
(LINHA SÓLIDA PRETA), COMO FUNÇÃO DA POSIÇÃO x(t) (EIXO X SUPERIOR) E DO TEMPO T
(EIXO X INFERIOR)

FONTE: O autor

O Gráfico 14 apresenta uma descrição qualitativa do fenômeno. Note


como tanto U(t) (linha tracejada azul) como K(t) (linha pontilhada vermelha)
crescem rapidamente com o tempo. Para um sistema trivial, unitário em todos
1
tot ( )
 A0 ( ω)  cresce com o quadrado
2
os seus parâmetros, a energia total E= t
2
de sua amplitude.

( t ) K (t ) + U (t )
Etot= (2.57)

1
(
κ  A0 ( ω)  sen2 ω t + φ ( ω) + δ )
2
=
2

1
(
+ κ  A0 ( ω)  cos 2 ω t + φ ( ω) + δ ; )
2

1
Etot ( t ) ( ) ( )
k  A0 ( ω)   sen2 ω t + φ ( ω) + δ + cos 2 ω t + φ ( ω) + δ  ;
2
=
2  

1
k  A0 ( ω)  .
2
=
2

140
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Observe que agora, apesar da dependência com a velocidade angular ω,


voltamos à mesma expressão da energia total, constante, do MHS. Perceba como
agora não há mais um termo compensatório para o amortecimento, como vimos
no MHA, esse termo é superado pela recorrente alimentação do sistema.

O movimento harmônico amortecido forçado é um sistema extremamente


interessante e aplicável aos mais diferentes sistemas. Tudo o que vimos aqui faz
referência ao sistema massa-mola, mas com as devidas substituições, a matemática
discutida pode ser empregada nos mais diferentes casos de sistemas que oscilam
em torno de uma posição de equilíbrio. Cada sistema amortecido tem o seu
fator de atrito ξ e cada sistema amortecido forçado tem uma força reparadora
F0, que pode atuar das mais diferentes formas, no que concerne à sua disposição
temporal.

FIGURA 15 – PONTE DE TACOMA NARROWS, POR BARNEY ELLIOTT, 2016

FONTE: <https://bit.ly/1VFh2T2>. Acesso em: 2 ago. 2018.

A Figura 15 mostra um quadro, um instante, de um filme gravado


enquanto a ponte de Tacoma Narrows era destruída pelo vento em um processo
aeroelástico de interação e “acúmulo” de forças inerciais, elásticas e aerodinâmicas,
que conduziu o sistema ponte-vento à ressonância e, em última instância, ao
estatelamento. Esse é um fenômeno complexo, que demanda conhecimentos em
mecânica dos fluidos, tema de nossa próxima unidade, mas em poucas palavras,
o vento, ao passar alternadamente pela parte de cima e pela parte debaixo da
ponte, criava zonas de baixa e alta pressão. Com o vento fazendo o papel da força
reparadora F0 periodicamente, a ponte oscilava ostensivamente, absorvendo
toda a energia associada ao trabalho realizado pela força do vento. Atingindo
seu limite estrutural, a ponte como estrutura não conseguiu mais absorver essa
energia e ruiu.

141
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

DICAS

O movimento harmônico amortecido forçado é um sistema extremamente


interessante e aplicável aos mais diferentes sistemas oscilantes. Esse é um fenômeno vasto e
apenas arranhamos sua superfície aqui. É com esse espírito que sugerimos a leitura do artigo
O oscilador harmônico amortecido forçado revisitado (BERTUOLA, A. C.; HUSSEIN, M. S.,
2005), publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele, os autores apresentam um
método a obtenção da solução da equação diferencial de segunda ordem não homogênea
que dá origem ao problema do MHAF. É um exercício interessante para o entendimento
desse sistema e das correlações matemáticas entre o problema das equações diferenciais e
suas aplicações físicas à realidade objetiva. Acesse <https://bit.ly/2Ou1n8z>.

3 SISTEMAS OSCILANTES
Sistemas oscilantes são bastante comuns, eles tratam do movimento
periódico dos corpos, quando estes oscilam em torno de uma posição de equilíbrio.
Esses sistemas podem ter as formas mais variadas possíveis, de um barco
flutuando ao sabor das ondas às pontes que balançam com o vento canalizado por
penhascos. Discutiremos aqui mais três modelos oscilantes, com complexidades
distintas. Do pêndulo simples, o mais idealizado dos três, passando pelo pêndulo
de torção, uma forma alternativa da contrapartida simples, até o pêndulo físico,
cuja densidade não pode ser negligenciada.

3.1 PÊNDULO SIMPLES


Vamos começar considerando o movimento de uma massa m pendurada
por um fio de comprimento L e massa negligenciável, como apresentado na
Figura 16. Com o passar do tempo, a massa cobrirá um arco de circunferência Θ,
Š
de raio L. Tal movimento tem origem na disputa entre a força peso P, que atua
Š Š
sobre a massa m, e a tensão na corda T, reação a P. Note que a força peso atua
sempre na vertical, direção representada pelo eixo y, que atravessa o centro de
massa da esfera. O centro também é atravessado pelo eixo horizontal x. Note
Š
também que a tensão T ocorre sempre ao longo do fio, composta da combinação:

T Tx iˆ + Ty ˆj ;
= (2.58)

= T sen ( θ ) iˆ + T cos ( θ ) ˆj .

142
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Quando o ângulo de oscilação é nulo, ou seja Θ = 0, a tensão se iguala em


módulo ao peso Š P, porém em sentido oposto, Š
T=–Š P. Note ainda que, como a
tensão é uma combinação de dois termos, duas acelerações atuam sobre a esfera,
uma radial ar que aponta para o centro do movimento, e uma tangencial aΘ, que
aponta sempre para uma direção que tangencia o movimento da esfera.

FIGURA 16 – PÊNDULO SIMPLES

FONTE: O autor

Quando consideramos o diagrama de forças da Figura 16 para o pêndulo


simples, percebemos que para a direção x, a força resultante atuando sobre massa
m é dada por:

d2
maθ mL =
= θ T sen ( θ ) . (2.59)
dt 2

Já a força resultante na direção y tem uma forma diferente, dada por:

d2
mar mL =
= θ T cos ( θ ) − P. (2.60)
dt 2

143
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Š Š
Quando o pêndulo se encontra na vertical, é fácil perceber que T = – P = – mg,
o que nos deixa com:

d2 g
θ = − sen ( θ ) . (2.61)
dt 2
L

Que substituído em (2.60) nos concede:

=T mg
= P
1 − sen ( θ ) (
1 − sen ( θ )
.
) ( ) (2.62)
cos ( θ ) cos ( θ ) ( ) ( )
Tomando o limite Θ << 1, temos sen(Θ) → Θ e cos(Θ) → 1

T P (1 − θ) .
= (2.63)

Observe o Gráfico 15, note que a curva (2.62) é apresentada (linha sólida
preta), ela mostra que a tensão T(Θ) cresce rapidamente com o decréscimo da
inclinação Θ do pêndulo, alcançando o valor de T = P =mg = 9,8N, para uma massa
m = 1kg e uma aceleração de g = 9,8(m/s)/s. A curva (2.63) é também apresentada
no gráfico (linha tracejada vermelha) e ela mostra que quando tomamos Θ → 0, a
relação entre a tensão T(Θ) e o ângulo de inclinação Θ tende a uma reta, observe
o que acontece quando Θ << 0,1.

GRÁFICO 15 – TENSÃO T(Θ) COMO FUNÇÃO DO ÂNGULO DE OSCILAÇÃO Θ.

FONTE: O autor

144
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Ainda sobre o caso Θ << 1 → sen(Θ) ≈ Θ, podemos considerar tal


aproximação em (2.61) e isso nos deixa com uma equação diferencial linear
homogênea de segunda ordem:

d2 g
θ (t ) =− θ (t ) . (2.64)
dt 2
L

Cuja função periódica Θ(t) e suas derivadas têm a forma:

θ ( t ) = sen ( ω0 t ) ; (2.65)

d
ω(t ) = θ (t ) =
ω0 cos ( ω0 t ) ;
dt

d2
α ( t ) = 2 θ ( t ) = −ω02 sen ( ω0 t ) .
dt

Considerando que o pêndulo se move com a velocidade angular


(por vezes chamada também de frequência angular), podemos
comparar (2.64) com (2.65) e perceber que o período de oscilação de um pêndulo
tem a forma:

2π L
Tp = = 2π . (2.66)
ω0 g

Aqui resolvemos usar a notação Tp para o período de oscilação do pêndulo,


para evitar uma confusão com a tensão T na corda. É importante que você tenha
Š
em mente essa distinção, a tensão T é uma grandeza vetorial, com módulo T. Já o
período Tp é uma grandeza escalar, como o tempo.

É interessante notar como o período de um pêndulo simples não depende


de sua massa m, isso significa que, independentemente de serem diferentes, duas
massas, m e M, com M >> m, se ambas forem presas a fios de comprimento L e
massas desprezíveis, em posições no globo em que a aceleração da gravidade g
atua com a mesma intensidade sobre elas e postas para oscilar em ângulos muito
pequenos Θ << 1, então ambas as esferas apresentarão o mesmo período T.

Quando posto para oscilar, um pêndulo simples tem energia cinética:

145
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

2
1 1 d 
K (t ) =
= mv 2 m L2  θ ( t )  ; (2.67)
2 2  dt 

1
m L2 ω0 cos ( ω0 t )  ;
2
=
2

1
= m L2 ω02 cos ( ω0 t )  .
2

Já a energia potencial U do pêndulo é devida à ação da força horizontal,


que causa a aceleração tangencial aΘ, como apresentado na equação (2.59). Para
isso, a tensão nessa direção move a esfera por um arco ds = LdΘ, de modo que
podemos definir o trabalho realizado como:

θ θ
U ( θ ) =∆W0→0 =∫F ds =mgL ∫sen ( θ ) dθ ; (2.68)
0 0

= m g L 1 − cos ( θ )  ;

= m g L 1 − cos ( ω0 t )  .

Note que aqui pensamos na energia cinética como uma função de ω0t, uma
vez que este produto induz uma ideia de movimento em movimento. Já a energia
potencial é escrita em termos do ângulo de inclinação Θ, pois aqui uma posição
estática parece fazer mais sentido, em consonância com a energia potencial.

1
Etot ( t ) =
K (t ) + U (t ) =
− m L2 ω02 cos ( ω0 t )  + m g L 1 − cos ( θ )  ;
2
(2.69)
2

1
− m L2 ω02 cos ( ω0 t )  + m g L − m g L cos ( ω0 t ) .
2
=
2

Entretanto, é fácil mostrar que Θ(t) = Θ0 + ω0t, e que com Θ0 = 0, justificamos


a alteração na segunda linha. É possível mostrar que para pequenas oscilações,
Θ = ω0t << 1, temos:

1
Etot ( t ) = mg L. (2.70)
2

146
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Vamos agora tratar do pêndulo de torção, um sistema diferente, em que o


pêndulo gira em torno de um eixo que passa pelo fio ao qual está preso.

DICAS

O pêndulo simples é um exemplo idealizado e muito útil para a discussão


sobre sistemas que oscilam ao redor de um ponto de equilíbrio, ou de energia potencial
mínima, se você preferir. Ele é de fácil compreensão e apresenta os conceitos mais básicos
que descrevem tais sistemas. Sua compreensão é importante e ferramental para o estudo do
tema. Por isso sugerimos a leitura do artigo Estudo do amortecimento do pêndulo simples:
uma proposta para aplicação em laboratório de ensino (ARNOLD, F. et al., 2005), publicado na
Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele, os autores se aprofundam no ensaio do pêndulo
simples, adicionando o efeito da resistência do ar sobre seu movimento e trazendo-o para
uma esfera mais real do problema. Ao propor um experimento prático, os autores discutem
o efeito do amortecimento sobre a amplitude de movimento do pêndulo. É uma leitura
interessante e uma minudência no assunto. Disponível em: <https://bit.ly/2n5mxxw>.

3.2 PÊNDULO DE TORÇÃO


Suponha agora que você não tenha uma esfera que oscila na ponta de
um fio, mas sim uma barra metálica presa por um fio em sua posição central. O
pêndulo é livre para girar em torno do eixo do fio vertical, de modo que cause
neste um torque restaurador τ. O sistema é apresentado na Figura 17, em que
podemos ver uma barra (preta), que oscila de uma direção para outra (cinza) no
plano xz.

147
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

FIGURA 17 – PÊNDULO DE TORÇÃO

FONTE: O autor

Esse tipo de pêndulo lembra o sistema massa-mola, com uma constante


η associada à dificuldade de gerar torção no fio. A constante de torção, por vezes
chamada de módulo de torção, representa o torque τ necessário para se criar um
deslocamento angular Φ e terá as mesmas unidades físicas de τ, ou seja [η] = N m.

τ = −ηΦ ; (2.71)

d2
= Iα = I Φ.
dt 2

Perceba, pela equação (2.71), que o torque aqui pode ser escrito como um
produto entre a constante de torção do fio η e o ângulo de torção Φ, e que este
pode ser reescrito também como um produto entre o momento de inércia do fio,
em relação ao eixo longitudinal que passa por seu centro e a aceleração angular α.

148
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

d2 η
Φ = − Φ; (2.72)
dt 2
I

d2
Φ = − ω02 Φ ;
dt 2

d2
2
Φ + ω02 Φ = 0;
dt

η 1 η
ω=
0
= 12 .
I L m

1
I = mL2
Em que o momento de inércia 12 da barra é dado pelo produto
entre a massa m da barra, pelo quadrado de seu comprimento L2. Seu período fica
então definido como:

2π I 1 m
T= = 2π 2π L
= . (2.73)
ω0 η 12 η

Ou seja, o período de oscilação de um pêndulo de torção aumenta


linearmente com o comprimento L do fio e com a raiz quadrada de sua massa,
mas diminui com o inverso da raiz quadrada de sua constante de torção. Quanto
maior for η, mais tempo o pêndulo levará para realizar uma volta completa ao
redor de si mesmo.

Observando (2.72) podemos então escrever as equações de movimento do


sistema, a função deslocamento angular Φ(t) e suas derivadas ficam:

 η 
Φ ( t ) = sen ( ω0 t ) = sen  t ; (2.74)
 I 
 

d η  η 
ω(t ) = Φ (t ) =
ω0 cos ( ω0 t ) = cos  t ;
dt I  I 
 

d2  η  η 
α (t ) = Φ ( t ) = −ω02 sen ( ωt ) = −   sen  t .
dt 2
I  I 
 

149
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Podemos ainda discutir as energias cinética K(t) e potencial U(t), para o


sistema do pêndulo de torção. É interessante lembrar que este sistema funciona
quando um torque τ gera um deslocamento Φ(t), oscilando entre um movimento
em sentido horário e um movimento em sentido anti-horário. Com isso em
mente, lembre-se que a energia cinética deve descrever esse movimento, então
ela dependerá da velocidade angular ω(t), indo e voltando. Ficamos com:

2 2
1 1 1  L  d 
K ( t )= mv ( t ) = mr 2 ω ( t ) = m    Φ ( t ) ;
2 2
(2.75)
2 2 2  2   dt 

1 2
mL ω0 cos ( ω0t )  ;
2
=
8

1  η
m L2   cos ( ω0t )  ;
2
=
8 I

12 mL2  η 
cos ( ω0t )  ;
2
=  
8 12  I 

12
= η cos ( ω0t )  ;
2

3
η cos ( ω0t )  .
2
=
2

Note que, como a constante de torção η tem as mesmas unidades do trabalho


realizado sobre a barra, para torcer o fio, podemos imaginar que em t= 0s, o sistema
se encontra em sua posição de torção máxima, desentortando-se freneticamente.
Por outro lado, a energia potencial do sistema continua sendo calculada a partir do
trabalho ∆W0Š0 para girar a barra de um ângulo Φ(t). Ficamos com:

θ Φ
U ( t ) = ∆W0→0 = ∫τ dΦ = −η∫ΦdΦ ; (2.76)
0 0

1 1
− η Φ ( t )  =− η  sen ( ω0 t )  ;
2 2
=
2 2

1
{
− η 1 − cos ( ω0t )  .
=
2
2
}

150
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Veja como a energia potencial depende da constante de torção η, bem


como da posição angular que ocupa. É interessante notar que quando o fio está
completamente torcido e o liberamos em t = 0s, temos que U(0) = 0, pois toda
a energia nesse momento é cinética. A energia total num sistema como esse se
conserva e para perceber isso basta realizarmos a soma K(t) + U(t), isso nos deixa
com:

3 1 1
Etot ( t )= K ( t ) + U ( t )= η cos ( ω0t )  − η + η cos ( ω0t )  ;
2 2
(2.77)
2 2 2

1 4
= − η + η cos ( ω0t )  ;
2

2 2

1
(
=η 4 cos ( ω0t )  − 1 .
2
2
)
Note que em t = 0s, temos que a energia mecânica total
3
E0= Etot ( 0 )= K ( 0 )= η , tem o mesmo valor absoluto da energia cinética.
2

3.3 PÊNDULO FÍSICO


O pêndulo físico é basicamente uma generalização mais realista do
pêndulo simples. A diferença aqui é perceber que há uma distribuição de massa
através do pêndulo que não toma uma forma simétrica, como a da esfera com fio
de massa desprezível no caso simples. Aqui você deve considerar que o centro de
gravidade CG não coincide necessariamente com o centro geométrico da massa
m da esfera que compõe o pêndulo simples. A Figura 18 apresenta um pêndulo
físico que oscila ao redor do eixo vertical de repouso, fazendo com ele um ângulo
. O centro de gravidade se encontra a uma distância d da parte mais superior do
pêndulo e este, ao se mover, apresenta uma aceleração tangencial aΘ.

151
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

FIGURA 18 – PÊNDULO FÍSICO

FONTE: O autor

Note que é o peso P = mg atuando em x = d sen(Θ), o responsável pelo


torque τ que atua sobre o pêndulo, de modo que podemos escrever a relação:

τ = −m g d sen ( θ ) ; (2.78)

d2
= Iα= I θ.
dt 2

Lembrando que o torque também é dado pelo produto entre o momento


d2
=
α θ.
de inércia I pela aceleração angular dt 2 . Quando igualamos tais equações,
obtemos uma equação diferencial linear homogênea de segunda ordem com a
mesma forma de (2.67), do tipo:

d2
I θ =− m g d sen ( θ ) ; (2.79)
dt 2

d2 md
θ =− g sen ( θ ) .
dt 2
I

152
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Comparando a segunda linha da equação (2.79) com sua contrapartida


no pêndulo simples (2.67), vemos que a relação (2.126) é satisfeita quando o
comprimento do pêndulo físico respeita a relação:

I
L= ; (2.80)
md

A solução para (2.79) terá então as conhecidas formas:

θ ( t ) = sen ( ω0 t ) ; (2.81)

d
ω(t ) = θ (t ) =
ω0 cos ( ω0 t ) ;
dt

d2
α (t ) = θ ( t ) = −ω02 sen ( ω0 t ) .
dt 2

E seu período dependerá também do comprimento L, mas ele também


poderá ser escrito em termos da massa m do pêndulo e de seu momento de
inércia I.

2π I
T= = 2π ; (2.82)
ω0 mgd

mgd
A velocidade angular é definida como ω0 = I para o pêndulo físico.
Isso nos conduz ao estudo da energia cinética desse sistema, e seguindo o mesmo
raciocínio que aplicamos para o pêndulo simples, notamos que o momento de
inércia tem papel fundamental, teremos então:

2 2
1 1  I  d 
K (t ) =
= mv 2 m   θ ( t ) ; (2.83)
2 2  md   dt 

1  I 2   mgd 
 cos ( ω0 t )  ;
2
=  2 
2  md   I 

1  Ig 
  cos ( ω0 t )  .
2
=
2 d 

153
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Perceba que a energia cinética varia com o quadrado do cosseno de ω0t


e dessa forma apresenta apenas valores positivos. O mesmo não ocorre com a
energia potencial U(t), apresentada na equação (2.84), que varia linearmente com
o cosseno de ω0t e cujo sinal pode ser interpretado como o potencial envolvido
em uma rotação no sentido horário ou no sentido anti-horário. Teremos então:

θ θ
U ( θ ) =∆W0→0 =∫F ds =mgL ∫sen ( θ ) dθ ; (2.84)
0 0

= m g L 1 − cos ( θ )  ;

 I 
= m g  1 − cos ( ω0 t )  ;
 md 

 Ig 
=   1 − cos ( ω0 t )  .
d

A energia mecânica total desse sistema é dada pela soma das


contribuições cinéticas e potenciais e terá a forma:

1  Ig   Ig 
Etot ( t ) = K ( t ) + U ( t ) = ( ) . +   1 − cos ( ω0 t )  ;
2
   cos ω0
t 
 (2.85)
2 d  d

 Ig   1   Ig 
=   +  cos ( ωot ) − 1   .
 d  2  d 

Novamente, quando t = 0s, temos que a energia mecânica total


1  Ig 
( 0 ) K=
E0 Etot=
= (0)   , tem o mesmo valor absoluto da energia cinética.
2 d 

154
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

LEITURA COMPLEMENTAR

OS ERRANTES: UMA INTRODUÇÃO


Carl Sagan

Fomos errantes desde o início. Conhecíamos a posição de todas as


árvores num raio de duzentos quilômetros. Quando os frutos ou as castanhas
amadureciam, lá estávamos nós. Seguíamos os rebanhos em suas migrações
anuais. Nos deleitávamos com a carne fresca. Por ações furtivas, estratagemas,
emboscadas e ataques de força bruta, alguns de nós realizávamos em conjunto
o que muitos de nós, sozinhos, não podíamos conseguir. Dependíamos uns dos
outros. Viver por conta própria era uma ideia tão absurda quanto fixar residência.

Trabalhando juntos, protegíamos os filhos dos leões e das hienas.


Ensinávamos a eles as habilidades de que iriam precisar. E as ferramentas.
Naquela época, como agora, a tecnologia era a chave de nossa sobrevivência.

Quando a seca era prolongada, ou quando o frio se demorava no ar do


verão, nosso grupo partia – às vezes para terras desconhecidas. Procurávamos um
lugar melhor. E, quando não nos dávamos bem com os outros em nosso pequeno
bando nômade, partíamos à procura de um grupo mais amigável em algum outro
lugar. Sempre podíamos começar de novo.

Durante 99,99% do tempo, desde o aparecimento de nossa espécie, fomos


caçadores e saqueadores, errantes nas savanas e nas estepes. Não havia guardas
de fronteiras então, nem funcionários da alfândega. A fronteira estava por toda
parte. Éramos limitados apenas pela Terra, pelo oceano e pelo céu – e mais alguns
eventuais vizinhos rabugentos.

No entanto, quando o clima era adequado, quando os alimentos eram


abundantes, tínhamos vontade de ficar no mesmo lugar. Sem aventuras.
Engordando. Sem cuidados. Nos últimos 10 mil anos – um instante em nossa longa
história – abandonamos a vida nômade. Domesticamos as plantas e os animais.
Por que correr atrás do alimento quando se pode fazer com que ele venha até nós?

Apesar de todas as suas vantagens materiais, a vida sedentária nos


deixou irritáveis, insatisfeitos. Mesmo depois de quatrocentas gerações em vilas
e cidades, não esquecemos. A estrada aberta ainda nos chama suavemente, quase
uma canção esquecida da infância. Atribuímos um certo romance aos lugares
remotos. A minha suspeita é de que o apelo tem sido meticulosamente elaborado
pela seleção natural, como um elemento essencial de nossa sobrevivência. Longos
verões, invernos amenos, ricas colheitas, caça abundante – nada disso dura pra
sempre. Está além dos nossos poderes predizer o futuro. As catástrofes têm um
modo de nos atacar sorrateiramente, nos pegando desprevenidos. Talvez você
deva sua vida, a de seu bando ou, até mesmo, a de sua espécie a uns poucos
inquietos – levados, por um desejo que mal podem expressar ou compreender, a
terras desconhecidas e a novos mundos.
155
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Herman Melville, em Moby Dick, falou pelos errantes de todas as épocas e


meridianos: “Sou atormentado por um desejo constante pelo que é remoto. Gosto
de navegar mares proibidos...”.

Para os antigos gregos e romanos, o mundo conhecido compreendia a


Europa e reduzidas Ásia e África, tudo circundado por um intransponível
Oceano do Mundo. Os viajantes poderiam encontrar seres inferiores, chamados
bárbaros, ou seres superiores, chamados deuses. Toda árvore tinha a sua dríade,
toda região o seu herói lendário. Mas não havia assim tantos deuses, ao menos
no início, talvez apenas uns doze. Viviam nas montanhas, sob a Terra, no mar ou
lá em cima do céu. Mandavam mensagens às pessoas, intervinham nos assuntos
humanos e cruzavam conosco.

À medida que passava o tempo e que a capacidade exploratória dos


homens acertava o seu passo, ocorriam surpresas: os bárbaros podiam ser tão
inteligentes quanto os gregos e os romanos. A África e a Ásia eram maiores do que
se tinha pensado. O Oceano do Mundo não era intransponível. Havia antípodas.
Existiam três novos continentes, ocupados pelos asiáticos em eras passadas, sem
que a notícia jamais tivesse chegado à Europa. E, decepcionantemente, não era
fácil encontrar os deuses.

A primeira grande migração humana do Velho Mundo para o Novo Mundo


aconteceu durante a última era glacial, cerca de 11 mil e 500 anos atrás, quando as
calotas polares aumentaram, deixando rasos os oceanos e permitindo caminhar
sobre terra seca da Sibéria para o Alasca. Mil anos mais tarde, estávamos na Terra
do Fogo, a extremidade meridional da América do Sul. Muito antes de Colombo,
argonautas indonésios em canoas de embono exploraram o Pacífico ocidental;
habitantes de Bornéu povoaram Madagascar; egípcios e líbios circunavegaram a
África; e uma grande frota de juncos adaptados para navegação marítima, partindo
da China da dinastia Ming, ziguezagueou pelo Oceano Índico, estabeleceu uma
base em Zanzibar, dobrou o cabo da Boa Esperança e entrou no Oceano Atlântico.
Do século XV ao século XVII, as naus europeias descobriram novos continentes
(novos para os europeus, pelo menos) e circunavegaram o planeta. Nos séculos
XVIII e XIX, exploradores, mercadores e colonizadores norte-americanos e russos
precipitaram-se para oeste e para leste atravessando dois imensos continentes até
chegarem ao Pacífico. Esse gosto de investigar e explorar, por mais temerários
que tenham sido seus agentes, tem um claro valor de sobrevivência. Ele não é
restrito a uma única nação ou grupo étnico. É um dom natural comum a todos os
membros da espécie humana.

Desde o nosso aparecimento, há alguns milhões de anos, na África


Oriental, seguimos nosso caminho cheio de meandros ao redor do planeta. Agora
existem pessoas em todos os continentes e nas ilhas mais remotas, de polo a polo,
do monte Everest ao Mar Morto, no fundo dos oceanos e até, ocasionalmente,
residindo trezentos quilômetros acima da Terra – humanos, como os deuses de
outrora, vivendo no céu.

156
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Nos dias de hoje não parece haver mais nenhum lugar para explorar,
ao menos na área terrestre do planeta. Vítimas de seu próprio sucesso, os
exploradores agora ficam bastante tempo em casa.

As grandes migrações de povos – algumas voluntárias, a maioria


involuntária – têm moldado a condição humana. Hoje fugimos da guerra, da
opressão e da fome mais do que qualquer outra época na história humana. Quando
o clima na Terra mudar, nas próximas décadas, provavelmente aumentarão
os refugiados ambientais. Lugares melhores sempre nos atrairão. As marés de
povos vão continuar o seu fluxo e refluxo por todo o planeta. Mas as terras para
onde agora corremos já foram povoadas. Outras pessoas, que muitas vezes não
compreendem nossa situação, já ali se encontram antes de nós.

No final do século XIX, Leib Gruber crescia na Europa Central, em uma


cidade obscura do imenso, poliglota e antigo Império Austro-Húngaro. Seu pai
vendia peixe sempre que possível. Mas os tempos eram frequentemente difíceis.
Jovem, o único emprego honesto que Leib conseguiu arrumar foi o de carregar as
pessoas que queriam atravessar o rio Bug ali perto. O cliente, homem ou mulher,
montava nas costas de Leib; com suas botas valiosas, a sua ferramenta de trabalho,
ele vadeava um trecho raso do rio e depositava o passageiro na margem oposta.
Às vezes, a água chegava até a sua cintura. Não havia pontes naquele ponto,
nem barcas. Os cavalos poderiam ter servido para esse fim, mas tinham outras
tarefas a cumprir. Só restavam Leib e alguns outros jovens como ele. Eles é que
não tinham outra serventia. Não havia outro trabalho. Ficavam perambulando
pelas margens do rio, gritando os seus preços, vangloriando-se da superioridade
de seu carreto para clientes em potencial. Alugavam-se como animais de quatro
patas. Meu avô era uma besta de carga.

Não acho que, em toda a sua juventude, Leib tenha se aventurado mais
que uns cem quilômetros além de sua cidadezinha natal, Sassow. Mas de repente,
em 1904, ele fugiu para o Novo Mundo – para evitar uma condenação por
assassinato, segundo uma lenda familiar. Partiu sem a sua jovem mulher. Como
as grandes cidades portuárias alemãs devem ter lhe parecido imensas a seus
olhos e como deve ter estranhado os altos arranha-céus e o alarido incessante de
sua nova terra! Nada sabemos de sua travessia, mas encontramos o formulário do
navio para a viagem empreendida mais tarde pela mulher Chaiya – que se reuniu
a Leib depois que este poupou o suficiente para mandar buscá-la. Ela viajou
na classe mais barata do Batavia, uma embarcação com registro de Hamburgo.
O documento tem uma concisão comovente: Sabe ler ou escrever? Não. Sabe
falar inglês? Não. Quanto dinheiro tem? Posso imaginar sua vulnerabilidade e
vergonha ao responder: “Um dólar”.

Ela desembarcou em Nova York, reuniu-se a Leib e ainda viveu o suficiente


para dar à luz a minha mãe e sua irmã, morrendo mais tarde de complicações de
parto. Nesses poucos anos na América, seu nome fora, às vezes, anglicizado para
Clara. Um quarto de século mais tarde, o nome que minha mãe deu a seu filho
primogênito era uma homenagem à mãe que nunca conheceu.

157
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Nossos antepassados distantes, observando as estrelas, notaram cinco que


faziam mais que levantar-se e pôr-se numa marcha impassível, como era o caso
das assim chamadas estrelas “fixas”. Essas cinco tinham um movimento curioso
e complexo. Ao longo dos meses, pareciam errar lentamente entre as estrelas. Às
vezes, andavam em círculo. Hoje nós as chamamos de planetas, a palavra grega
para errantes. Era, assim imagino, uma peculiaridade que nossos antepassados
compreendiam.

Sabemos agora que os planetas não são estrelas, mas outros mundos,
impelidos gravitacionalmente para o Sol. Exatamente quando a exploração da
Terra estava sendo completada, começamos a reconhecê-la como um mundo na
multidão inumerável de outros mundos que circulam ao redor do Sol ou giram
em torno de outras estrelas que formam a galáxia da Via Láctea. Nosso planeta e
nosso sistema solar são circundados por um novo oceano do mundo – os abismos
do espaço. Não é mais intransponível que o anterior.

Talvez seja um pouco cedo. Talvez ainda não tenha chegado a hora.
Mas esses outros mundos – promissoras oportunidades ilimitadas – acenam,
chamando-nos.

Nas últimas décadas, os Estados Unidos e a antiga União Soviética


realizaram algo assombroso e histórico – o exame minucioso de todos esses pontos
de luz, de Mercúrio a Saturno, que levaram nossos antepassados à admiração
e à ciência. Desde o advento do voo interplanetário bem-sucedido em 1962,
nossas máquinas têm voado por mais de setenta novos mundos, descrevendo
órbitas ao redor ou pousando em sua superfície. Temos errado entre os errantes.
Descobrimos imensas elevações vulcânicas que eclipsam a montanha mais alta
da Terra; vales de rios antigos em dois planetas, enigmaticamente, um demasiado
frio e o outro quente em demasia para ter água corrente; um planeta gigantesco
com um interior de hidrogênio metálico líquido em que caberiam mil Terras;
luas inteiras que se fundiram; um lugar coberto de nuvens com uma atmosfera
de ácidos corrosivos, onde até os platôs elevados têm uma temperatura acima
do ponto de fusão do chumbo; superfícies antigas em que se acha gravado um
registro fiel da formação violenta do Sistema Solar; mundos glaciais refugiados
dos abismos transplutônicos; sistemas de anéis com padrões refinados, marcando
as harmonias sutis da gravidade; e um mundo rodeado por nuvens de moléculas
orgânicas complexas com as que, na história primeva do nosso planeta, deram
origem à vida. Silenciosamente, eles giram em torno do Sol, esperando.

Descobrimos maravilhas jamais sonhadas pelos nossos antepassados que


especulavam pela primeira vez sobre a natureza dessas luzes errantes no céu
noturno. Investigamos as origens de nosso planeta e de nós mesmos. Descobrindo
outras possibilidades, confrontando-nos com os destinos alternativos de mundos
mais ou menos parecidos com o nosso, temos começado a compreender melhor a
Terra. Cada um desses mundos é encantador e instrutivo. Mas, que se saiba, são
também desertos e áridos. No espaço, não existem “lugares melhores”. Até agora,
pelo menos.

158
TÓPICO 2 | MOVIMENTO HARMÔNICO

Durante a missão robótica Viking, que teve início em julho de 1976, em


certo sentido passei um ano em Marte. Examinei os penedos e as dunas de areia, o
céu, vermelho até o auge do dia, os vales de rios antigos, as montanhas vulcânicas
elevadas, a feroz erosão eólica, o terreno polar laminado, as duas luas escuras em
forma de batata. Mas não havia vida – nem um grilo ou uma folha de grama, nem
mesmo, tanto quanto podemos afirmar com certeza, um micróbio. Esses mundos
não foram agraciados, como o nosso, com a vida. A vida é relativamente uma
raridade. Podem-se examinar dúzias de mundos e descobrir que só em um deles
a vida nasce, evolui e persiste.

Não tendo cruzado, até aquele momento, em suas vidas, nada mais
largo que um rio, Leib e Chaya foram promovidos à travessia de oceanos.
Tinham uma grande vantagem: do outro lado das águas, haveria – revestidos de
costumes estranhos, é verdade – outros seres humanos que falavam a sua língua
e partilhavam ao menos alguns de seus valores, e mesmo pessoas com quem
tinham relações próximas.

Em nossa época cruzamos o Sistema Solar e enviamos quatro naves às


estrelas. Netuno se acha um milhão de vezes mais distante da Terra que a cidade
de Nova York das margens do Bug. Mas não há parentes remotos, nem seres
humanos, nem qualquer vida aparente esperando por nós nesses outros mundos.
Nenhuma carta trazida por emigrantes recentes nos ajuda a compreender a nova
terra – apenas dados digitais transmitidos, à velocidade da luz, por emissários-
robôs precisos, insensíveis. Eles nos dizem que esses novos mundos não são como
a nossa casa. Continuamos, no entanto, a procurar os habitantes. Não podemos
evitar. Vida procura vida.

Ninguém na Terra, nem mesmo o mais rico dentre nós, tem recursos para
empreender a viagem; assim, não podemos fazer as malas e partir rumo a Marte
ou Titã ao sabor de um capricho, por estarmos entediados, desempregados,
oprimidos, porque fomos recrutados pelo exército ou porque, justa ou
injustamente, nos acusaram de um crime. Não parece haver lucro suficiente,
a curto prazo, para motivar a indústria privada. Se nós, humanos, algum dia
partirmos rumo a esses mundos, será porque uma nação ou um consórcio de
nações acredita que o empreendimento lhe trará benefícios, sendo pressionados
por um grande número de questões que disputam o dinheiro necessário para
enviar pessoas a outros mundos.

Este é o tema desse livro: outros mundos, o que nos espera neles, o que
eles nos dizem sobre nós mesmos e – dados os problemas urgentes que nossa
espécie enfrenta no momento – se faz sentido partir. Deveríamos resolver esses
problemas primeiro? Ou serão eles uma razão a mais para partir?

Sob muitos aspectos, este livro é otimista a respeito do futuro humano. À


primeira vista, os capítulos iniciais podem dar a impressão de troçar de nossas
imperfeições. Eles estabelecem, porém, um fundamento espiritual e lógico
essencial para o desenvolvimento de minha argumentação.

159
UNIDADE 2 | EQUILÍBRIO E MOVIMENTO PERIÓDICO

Tentei apresentar mais de uma faceta das questões. Haverá momentos em


que pareço estar discutindo comigo mesmo. Estou. Percebendo algum mérito em
mais de um lado, frequentemente discuto comigo mesmo. Espero que, no último
capítulo, fique claro aonde quero chegar.

O plano do livro é, em linhas gerais, o seguinte: examinar primeiro as


afirmações, muito difundidas em toda a história humana, de que o nosso mundo
e a nossa espécie são únicos, e, até, centrais para o funcionamento e a finalidade
do cosmo. Percorrer o Sistema Solar, seguindo os passos das últimas viagens de
exploração e descoberta, e, então, avaliar as razões geralmente apresentadas para
enviar seres humanos ao espaço. Na última parte desse livro, mais especulativa,
traço um esboço de como imagino que será, a longo prazo, o nosso futuro no
espaço.

Pálido ponto azul é sobre esse novo reconhecimento, que ainda nos invade
lentamente, de nossas coordenadas, de nosso lugar no Universo – e de como um
elemento central do futuro humano se encontra muito além da Terra, embora o
apelo da estrada aberta esteja hoje emudecido.

FONTE: SAGAN, Carl. Pálido ponto azul: uma visão do futuro da humanidade no espaço.
Disponível em: <http://pedrox.com.br/wp-content/uploads/2014/01/P%C3%A1lido-Ponto-Azul-
Uma-Vis%C3%A3o-do-Futuro-da-Humanidade-no-Espa%C3%A7o-Carl-Sagan.pdf>. Acesso em:
24 out. 2018.

160
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O movimento harmônico se divide em três tipos principais, que podem ser


representados por um sistema massa-mola.

• Sistemas harmônicos são descritos por equações diferenciais de segunda


ordem.

• O movimento harmônico simples é um sistema idealizado introdutório.

• A energia total do sistema massa-mola em movimento harmônico simples é


conservada e constante.

• Há uma clara correspondência entre o movimento harmônico e o circular.

• O movimento harmônico amortecido introduz uma dissipação de energia ao


sistema, tornando-o mais realista. O sistema pode ser subamortecimento ou
superamortecimento.

• A energia total do sistema massa-mola em movimento harmônico amortecido


é perdida com o tempo, devido à dissipação no atrito.

• O movimento harmônico amortecido forçado apresenta uma fonte de energia


ao sistema massa-mola, podendo conduzi-lo à ressonância.

• A velocidade angular tem um papel fundamental no movimento harmônico


amortecido forçado.

• Um pêndulo simples pode ser descrito por uma equação diferencial de segunda
ordem.

• O período do pêndulo simples não é afetado pelo valor da massa que oscila na
ponta do fio.

• O pêndulo de torção é um sistema análogo àquele encontrado no sistema


massa-mola, para o movimento circular.

• O pêndulo físico é uma extrapolação mais realista da situação descrita para o


pêndulo simples.

161
AUTOATIVIDADE

1 O movimento harmônico ocorre na natureza em tantos lugares que não é


difícil nos depararmos com ele em nosso cotidiano. Com isso em mente,
indique, a seguir, valores de verdadeiro (V) ou falso (F), para a sequência de
proposições:

a) ( ) O sistema de suspensão de um carro ou caminhão costuma ser um bom


exemplo de movimento harmônico amortecido.
b) ( ) Sistemas oscilantes superamortecidos em fábricas e indústrias precisam
ser constantemente monitorados de modo a prevenir o estabelecimento das
ressonâncias, que poderiam destruí-los por fornecer energia paulatinamente
ao sistema.
c) ( ) Diferente do MHA, o MHS é um sistema conservativo, uma vez que
nenhuma força dissipativa atua sobre ele e a energia total do sistema é
conservada.

2 Considere um sistema massa-mola trivial em MHA, com constante resistiva


ξ = 1kg/s e massa m = 1kg. Calcule quanto tempo levaria para que sua
amplitude caísse para metade daquela inicial.

3 Considere um sistema massa-mola que se move sobre uma superfície com


atrito e que recebe periodicamente o impulso de uma força F0. Considerando
que tal sistema opera sem nenhuma fase e sob as propriedades de uma
constante de resistiva ξ e um constante de mola K, calcule a condição para o
momento t em que esse sistema se encontrará em repouso.

4 Considere um pêndulo simples, que oscila com período T = 2s, calcule o


comprimento do fio.

5 Suponha que uma barra de comprimento L = 1,0m e massa m = 2kg é presa


ao teto por um fio fino que passa pelo seu ponto central e desse modo pode
oscilar, girando ao redor do próprio eixo. Considerando que o tempo para a
realização de um ciclo completo é de 10s, calcule a constante de torção η do
fio.

162
UNIDADE 3

FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E
HIDRODINÂMICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conceber os conceitos da hidrostática;

• entender as propriedades dos fluidos;

• debater os princípios de Pascal e Arquimedes;

• conceber os conceitos da hidrodinâmica;

• entender a relação entre os gradientes de pressão e as forças hidráulicas;

• discutir o movimento relativo entre as superfícies de um objeto e o fluido


em que está mergulhado;

• tratar dos fenômenos da rotação em corpos em translação no espaço.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. 

TÓPICO 1 – FLUIDOS

TÓPICO 2 – HIDROSTÁTICA

TÓPICO 3 – HIDRODINÂMICA

163
164
UNIDADE 3
TÓPICO 1

FLUIDOS

1 INTRODUÇÃO
Diferente dos corpos rígidos, um fluido é uma composição sem forma,
que ocupa um determinado volume, moldando-se ao formato do recipiente que
o circunscreve. Ao estudarmos a dinâmica dos corpos rígidos, consideramos
idealmente o movimento de um ponto com determinada massa através do
espaço e nos concentramos na descrição cinemática de sua trajetória, bem como
na origem da alteração de seu estado de movimento.

Para o entendimento dos fluidos tomaremos uma interpretação


menos focada na descrição do curso espacial das partículas que o compõem
e mais concentrada no entendimento de suas propriedades e nas equações de
continuidade de determinadas quantidades. O conceito de fluido encerra tanto os
líquidos quanto os gases, e veremos a seguir que, seja uma pedra mergulhada em
um lago, seja um balão flutuando na atmosfera, ambos serão tratados da mesma
maneira, sob a ótica da hidrostática.

2 DEFINIÇÃO DE UM FLUIDO
Se considerarmos a razão entre a massa de uma determinada quantidade
de um fluido e o volume que ocupa, teremos uma boa descrição da densidade
do fluido. Essa é uma quantidade importante e bastante útil para o estudo desse
elemento e sua definição pode ser vista na equação (3.1):

 ∆m  d
=ρ lim
= 
∆V → 0 ∆V
 dV m. (3.1)
 

A densidade ρ é a massa que possui o volume unitário de um determinado


fluido. Se levarmos isso em conta, no cálculo da força peso dFp que atua em
uma porção diminuta de fluido com massa dm, sob a ação da aceleração g,
encontraremos uma versão de dFp que depende do volume dV, ocupado pelo
fluido.

165
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

 
dFp = − dm g ; (3.2)

dFp = dm g ;

( ρ dV ) g =
= ρgdV ;

= ( ρg ) dh dA.

Uma vez que o volume dV = dh dA é dado pelo produto da área dA = dx


dy sobre a qual o fluido se espalha, com a altura dh = dz que possui, podemos
imaginar a força peso dFp sobre um fluido de densidade ρ como atuando em uma
coluna cilíndrica de área de base dA, e altura h.

FIGURA 1 – FORÇA PESO mg E PRESSÃO p QUE ATUAM EM UMA COLUNA DE FLUIDO DE


ÁREA A E ALTURA h

FONTE: O autor

Tal força pode ser integrada sobre todo o volume ocupado pela coluna
do fluido, cujo ponto de aplicação é o centro de massa do mesmo, o que pode ser
visto em projeção bidimensional, na Figura 1. Calculando a integral de volume
da equação (3.2), obtemos:

166
TÓPICO 1 | FLUIDOS

Fp z A

∫dF = ( ρg ) ∫dz ∫dA;


0
p
z0 0
(3.3)

Fp = ρgh A;

Fp
P= = ρgh .
A

A expressão para a força peso Fp que atua no centro de massa de uma


coluna de fluido será muito útil para o cálculo da pressão que tal força exerce
sobre a área A. Entretanto, antes de entrarmos nesse assunto, vejamos algumas
considerações sobre outra propriedade inerente ao fluido.

3 VISCOSIDADE DE UM FLUIDO
A viscosidade de um fluido está ligada à inércia que esta oferta à
alteração de seu estado de movimento. Um fluido com alta viscosidade escorrerá
vagarosamente, como um fio de mel pingando de um pega-mel de madeira.
O painel (a) da Figura 2 dá uma ideia disso, o quadro mostra uma porção de
mel que escorre por um utensílio de cozinha, retratado pela pintora americana
Kristine Kainer. Por outro lado, um fluido com baixa viscosidade escorrerá
celeremente, como em um turbilhão numa xícara de chá de limão, o que também
é representado agora no painel (b), da Figura 2.

FIGURA 2 – PINTURAS (A) HONEY WITH DIPPER E TEA AND LEMON, POR KRISTINE KAINER,
2018

FONTE: a) <https://bit.ly/2NrUpQD> e (b) <https://bit.ly/2MVBZuu>. Acesso em: 28 ago. 2018.

167
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

A viscosidade é uma propriedade intrínseca de qualquer fluido, muito


ligada à resistência que ele apresenta à alteração de seu estado de movimento,
à deformação pela qual passa. Tensão e cisalhamento são as principais forças
que atuam em um fluido e já fizemos uma discussão a seu respeito na Unidade
2. Portanto, aqui tomaremos uma abordagem mais superficial do fenômeno de
escoamento de um fluido.

Há uma relação de analogia muito próxima entre a segunda lei de Newton


para os sólidos e a lei de descrever o cisalhamento em um fluido, essa é a força
responsável pela criação de um movimento relativo entre diferentes camadas do
fluido.

FIGURA 3 – FOTOGRAFIAS (A) LAVA ESCORRENDO PARA O MAR E (B) LAVA SE SOLIDIFICANDO,
POR SIMON SEEZ, 2013

FONTE: a) <https://bit.ly/2PN1aOl> e b) <https://bit.ly/2PN1aOl>. Acesso em: 28 ago. 2018.

Observe a Figura 3, por exemplo, nela podemos ver fotografias tiradas pelo
fotógrafo canadense Simon Seez. No painel (a), à esquerda, vemos um córrego de
lava, que flui em direção ao mar no fim de tarde e chega a ter uma viscosidade
até 1.000 vezes maior que aquela encontrada na água. Já no painel (b) vemos uma
outra porção de lava, agora mais resfriada, solidificando-se sobre outras pedras,
que possivelmente escorreram até ali a partir da mesma fonte.

O gráfico da Figura 4 representa a relação entre as velocidades vy, de


cada camada de um fluido, a uma determinada altura y, da base. Repare que
as velocidades das camadas superiores tendem a ser maiores que aquela das
camadas inferiores, devido às relações de atrito entre as superfícies envolvidas
e como resultado da maior pressão à qual as camadas inferiores são submetidas
pelas camadas superiores.

168
TÓPICO 1 | FLUIDOS

FIGURA 4 – GRADIENTE DE VELOCIDADES E MOVIMENTO RELATIVO ENTRE CAMADAS EM UM


FLUIDO

FONTE: O autor

Uma vez que a velocidade varia, à medida que subimos, um gradiente


d d
vy vy
dy se forma entre as camadas, como vemos. Por sua vez, o gradiente dy pode
ser entendido como uma variação espacial da velocidade de cisalhamento vy.
Esta é obviamente uma simplificação do problema, apenas com a intenção de
formalizarmos a relação entre a viscosidade e o movimento de translação de um
fluido sobre uma superfície.

Voltaremos à discussão do cisalhamento mais adiante, mas podemos


adiantar aqui que esta é uma generalização do conceito newtoniano de força,
descrito pela expressão:

∆v
F m=
= a m ; (3.4)
∆t

Nessa expressão definimos o cisalhamento associado ao deslocamento de


um fluido com uma grandeza relacionada à componente horizontal de uma força
aplicada obliquamente ao fluido que escorre.

FIGURA 5 – CISALHAMENTO E MOVIMENTO RELATIVO ENTRE PLACAS PERMEADAS POR UM


FLUIDO

FONTE: O autor

169
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

Observe a Figura 5, ela mostra duas placas paralelas de comprimentos ∆x e


larguras ∆z, permeadas por um fluido que as separa por um determinada distância
∆y qualquer. Sobre a placa superior, que se move com velocidade v Š = 0, aplica-se
 x

obliquamente uma força =F F ˆ


i − F ˆ
j
x y . A placa inferior permanece em repouso, com
Š = 0. Ocorre que, ao deslocar-se a placa superior, cria-se um movimento relativo no
v x
fluido, entre suas diferentes camadas, a diferentes alturas y. Estamos interessados
Š
aqui na razão entre a componente horizontal Fx da força aplicada e a área de seção
reta Ax = ∆z ∆y, formada pelo produto dos lados ∆z e ∆y. O cisalhamento τ em
um fluido sob tais condições pode então ser descrito pela pressão gerada por essa
componente horizontal da força aplicada sobre a área de seção reta destacada na
Figura 5 e tem a expressão:

Fx max  m   ∆vx   m   ∆vx  ∆vx


τ= = =  =   =µ ; (3.5)
Ax Ax  ∆z∆y   ∆t   ∆z∆t   ∆y  ∆y

Em que a viscosidade dinâmica μ pode ser entendida como a taxa temporal


com que a massa m, distribuída por toda a dimensão ∆z, escorrer ao longo do eixo
, sentido de propagação da placa superior e, portanto, das camadas adjacentes
do fluido que permeia ambas as placas. Além disso, percebemos também a origem
∆vx
do gradiente de velocidades ∆y . Ele nos diz que à medida que as camadas se
afastam na direção vertical y da placa inferior, há uma variação positiva da
velocidade delas na direção horizontal x.

Note que essa é uma dedução heurística do cisalhamento em um fluido,


que faz a conexão entre ele e a equação para a segunda lei de Newton. Ou
seja, como uma quantidade que depende do componente inercial do fluido,
representado aqui pela viscosidade dinâmica μ, mas também pelo gradiente
∆vx
vertical das velocidades ∆y envolvidas.

Observe que apesar de discutirmos a relação fenomenológica entre a


tensão de cisalhamento, percebida aqui como uma expressão para a segunda lei
de Newton para os fluidos, e sua equivalente para os sólidos, ela tem unidades de
 Fx  N
pressão, uma vez que τ
=  A= =2
Pa .
  m
m
 ∆vy  s −1
 =  = s
Já o gradiente de velocidade  dy  m tem unidade de segundo a
menos um e a viscosidade dinâmica tem unidade [μ] = kg/m/s. Essa unidade nos
permite interpretar a viscosidade dinâmica de um fluido como a medida de como
se move um quilograma de determinado fluido, distribuído por uma unidade de
comprimento, por unidade de tempo.

170
TÓPICO 1 | FLUIDOS

Dividindo a viscosidade dinâmica μ de um fluido, também chamada


de viscosidade dinâmica, pela sua densidade ρ volumétrica de massa, temos o
µ
= m2 / s
ν
= ρ
que chamamos de viscosidade cinética v, com unidades   . Essas
unidades para a viscosidade cinética nos dão uma imagem pictórica da velocidade
com que a área de um fluido cobre uma determinada superfície, ao se espalhar
por ela. A viscosidade cinética v está, dessa forma, associada à eficiência com que
um fluido em movimento adquire energia cinética, como veremos mais à frente.

DICAS

A viscosidade é uma propriedade extremamente importante para a descrição


da dinâmica dos fluidos, ela conecta a causa geradora de seu movimento ao movimento
relativo entre suas camadas. Com o intuito de aprofundar nosso conhecimento no tema
e sugerir um experimento para a sala de aula, recomendamos a leitura do artigo Medida
de viscosidade pelo método de Ostwald: um experimento didático (ALMEIDA, A. C. S. et
al., 1995), publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele os autores propõem um
experimento que ilustra a dinâmica de fluidos viscosos. Você pode lê-lo acessando <https://
bit.ly/2wfBNvZ>.

4 PRESSÃO E SUA MEDIDA EM UM FLUIDO


Anteriormente discutimos nossa aplicação para o conceito de fluidos,
introduzimos o efeito da força gravitacional atuando em uma coluna d’água e
identificamos uma de suas principais propriedades, sendo ela sua condição
inercial, caracterizada por sua viscosidade.

A ideia de coluna cilíndrica pode ser transportada para o entendimento da


pressão que atua em um fluido, se imaginarmos que a força peso Fp, representada
pela última linha da equação (3.2), se distribui por toda a área dA da coluna
d’água, teremos uma expressão para a pressão ∆P = (P – P0) atuando nessa coluna,
como pode ser inferido da Figura 1, apresentada na equação (3.6)

∆Fp
∆P =− . (3.6)
∆A

Substituindo a expressão para a força peso Fp, a pressão de um fluido


pode então ser definida apenas pela densidade ρ, pela aceleração da gravidade g,
e pela altura dh da coluna do fluido. Tomando essas variações como quantidades
infinitesimais, podemos calcular a diferença de pressão dP à medida que uma
variação diminuta dh na altura da coluna é considerada. Teremos então a equação
(3.7).
171
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

 ∆Fp  d
dP =lim ∆P =− lim   =− F; (3.7)
∆P → 0 ∆A → 0  ∆A  dA p
 

dA
=− ( ρg ) dh ;
dA

= −ρg dh.

É claro que se considerarmos a integração em ambos os lados, teremos,


como mostrado na equação (3.7), uma expressão para a variação da pressão ao
longo da altura dh, parametrizada pela pressão inicial P0 em h = 0, pela densidade
ρ do fluido e pela aceleração da gravidade g que atua no centro de massa da
coluna. Como pode ser visto na equação (3.8).

P h

∫dP =
P0
−ρg ∫dh;
h0
(3.8)

P= P0 − ρg h.

Em que a pressão em uma determinada altura h = (z – z0) em relação a


uma posição inicial zo, deve ser acrescida da pressão original P0 a esta mesma
altura (aplicaremos esse princípio para o conceito de altitude).

O que aconteceria com o fluido se h → ∞? Ou seja, quando z >> zo. O


que ocorre quando a coluna é muito alta, qual o efeito disso sobre o fluido? Ele
poderia ser esmagado pelo próprio peso? Em outras palavras: ele poderia ser
comprimido sob a ação da própria força peso Fp?

4.1 FLUIDOS COMPRESSÍVEIS E INCOMPRESSÍVEIS


Uma distinção fundamental que deve ser feita nesse momento é a
diferença entre fluidos compressíveis e fluidos incompressíveis, pois o primeiro
apresenta um comportamento muito mais previsível que o segundo. Na verdade,
todos os fluidos são compressíveis, pelo menos em uma escala negligenciável.
Entretanto, para caráter de aplicação prática, fazemos uma diferenciação técnica
em sua descrição.

Focaremos aqui nos chamados fluidos newtonianos, aqueles que, devido


a uma simplificação em sua descrição, são considerados incompressíveis.
Entretanto, há também aqueles cuja compressão não pode ser desconsiderada.
Esses fluidos apresentam algumas propriedades extremamente interessantes.

172
TÓPICO 1 | FLUIDOS

A reologia é o campo da Física que se concentra na deformação da matéria


e em seu movimento, do ponto de vista de sua elasticidade e seu escoamento.
Etimologicamente, reologia significa estudo daquilo que se move, em uma
tradução livre do grego. Uma interpretação mais prática desse nome é que
a reologia é a ciência que estuda as respostas de um determinado material às
tensões e deformações às quais ele é submetido. Tecnicamente, todos os materiais
possuem propriedades reológicas, entretanto, para a maioria dos materiais a que
vamos nos referir, tais propriedades representam um papel muito coadjuvante
em sua dinâmica. Não faz muito sentido discorrer sobre a fluidez de uma pedra,
ou sobre a deformação plástica da água, ou sobre a viscosidade de uma liga
metálica sólida, porém alguns materiais se comportam de maneira bem menos
intuitiva do que estamos acostumados a supor.

O estudo da reologia tem seu patriarca no químico americano Eugene


Cook Bingham (1878–1945), que cunhou o termo que dá nome à ciência.
Tradicionalmente, a reologia se divide inicialmente com considerações a respeito
dos “sólidos elásticos” e dos “líquidos viscosos”: o primeiro possuindo uma
forma mais bem definida e a capacidade de retornar à sua forma inicial quando
submetido, dentro de certos limites, a uma deformação de origem externa; o
segundo não possui uma forma inicialmente definida e escoará, sempre que
submetido a uma força externa. Normalmente em direção ao ponto do espaço
com menor energia potencial gravitacional.

Devido a esses dois comportamentos distintos, fica claro que o estudo


da reologia dos sólidos foca na elasticidade da matéria e sua capacidade de
restauração. No âmbito da reologia dos fluidos, o foco passa a ser viscosidade da
matéria.

Vimos anteriormente que quando uma força é aplicada em um sólido,


gerando uma relação de proporcionalidade direta entre a tensão de cisalhamento
e a deformação, uma reta, o corpo mantém sua competência em restaurar sua
forma original, dessa forma chamado de sólido de Hooke. É claro que há um
limite de elasticidade inerente a qualquer material sólido, porém podemos
dizer que tais materiais não escoam e apresentam uma elasticidade linear. Por
se tratarem de sistemas elásticos, as forças de reparação nesses sólidos podem
ser descritas sob a mesma perspectiva fenomenológica aplicada ao estudo dos
sistemas massa-mola. Sistemas de sólidos elásticos são estudados e testados
em centros de pesquisa e indústrias de interesse, e normalmente tais testes
envolvem submeter um determinado material a estresse de origem externa, até o
ponto de sua ruptura plástica. Não nos aprofundaremos aqui sobre o estudo da
plasticidade dos materiais, uma vez que dedicamos uma seção específica para o
tema. Já a deformação que incorre aos fluidos é estudada quando os submetemos
a constantes taxas de tensão de cisalhamento. Idealmente, podemos propor um
experimento em que posicionamos duas placas paralelas, permeadas com o fluido
em questão. Como podemos ver a seguir na Figura 6.

173
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

FIGURA 6 – CISALHAMENTO E MOVIMENTO RELATIVO ENTRE PLACAS, PERMEADAS POR UM


FLUIDO

FONTE: O autor

Nesse experimento as duas placas realizam um movimento relativo entre


si, sendo que a placa inferior (em y = 0) se mantém em repouso, com v0 = 0 e a
placa superior se move com velocidade →
não nula v0 ≠ 0. Tal movimento relativo é
motivado pela aplicação de uma força F obliquamente aplicada sobre a superfície

da placa superior, cujo vetor de área A aponta para o sentido positivo do eixo y.

Vimos anteriormente que quando um fluido escorre, devido ao movimento


relativo entre diferentes pares de suas camadas, há a formação de um gradiente
d
v , das velocidades de cisalhamento, ao longo do eixo vertical.
dy x

Fx
Esse gradiente é gerado por uma tensão de cisalhamento τ = A entre elas,
→ →
resultado da razão entre a componente horizontal Fx , da força F que atua no fluido
e a área de corte longitudinal, cujo vetor Ax aponta na direção de propagação.

d
τ=µ v. (3.9)
dy x

A viscosidade μ é o fator pegajoso que conecta as duas grandezas definidas


acima, de modo que podemos definir a tensão de cisalhamento em função do
gradiente de velocidades com um parâmetro da viscosidade de cada fluido.

174
TÓPICO 1 | FLUIDOS

DICAS

A reologia é uma palavra de origem grega que significa o estudo do fluxo


do escoamento de matéria sob a ótica de sua elasticidade, plasticidade ou viscosidade.
Esses temas são fundamentais para entender a diferença entre fluidos newtonianos e não
newtonianos. Embora normalmente associemos o conceito de fluido a gases ou líquidos,
há exemplos tangíveis de matéria granulada que escoa com as mesmas propriedades dos
fluidos. Com o intuito de aprofundar nosso conhecimento no tema, sugerimos a leitura do
artigo Review estudo da reologia de polissacarídeos utilizados na indústria de alimentos
(TONELI, J. T. de C. L; MURR, F. E. X.; PARK, K. J., 2005), publicado na Revista Brasileira de
Produtos Agroindustriais. Nele os autores investigam as qualidades sensoriais causadas pela
proliferação do uso de polissacarídeos na produção de alimentos. A viscosidade, bem como
outras propriedades físicas e químicas associadas a este ingrediente alimentar, são estudadas
sob o prisma da reologia, o que implica na discriminação entre regimes newtonianos e não
newtonianos de gomas, amidos e inulinas. Acesse-o aqui <https://bit.ly/2wfBNvZ>.

Os fluidos incompressíveis compõem a maior parte daqueles que


trataremos tanto na hidrostática quanto na hidrodinâmica e, apesar de não serem
absolutamente incompressíveis, as pequenas variações de densidade que estes
sofrem podem facilmente ser negligenciadas em prol de um tratamento mais
simplificado dos mesmos. Ao fazermos isso, consideramos então que a densidade
ρ do fluido permanece constante, independentemente da pressão aplicada a ele.
Esse princípio será vital daqui por diante, especialmente quando tratarmos o
princípio de Pascal.

Vimos anteriormente que em sistemas conservativos a força F aplicada


sobre um corpo de volume V é igual ao negativo da variação espacial da energia
potencial U a que o mesmo está submetido, daí tiramos que:

d
F ( x) = − U ( x) ; (3.10)
dx

F d U 
= −  ;
V dx  V 

d
f= − u
dx

Dividindo a força que atua em um determinado fluido pelo volume que


este ocupa, teremos algo como a densidade linear – ou volumétrica quando
tomamos o problema no espaço – f da força que atua sobre o fluido. E esta, por
sua vez, será igual ao negativo da variação da densidade linear – novamente,
essa variação pode ser volumétrica, quando tomamos o problema no espaço – de
energia potencial a que o mesmo está submetido, nos deixando com:
175
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

d
f= − u; (3.11)
dx

d
= − P.
dx

Observe atentamente as unidades envolvidas na razão


U  J m N
u=
  V=
 m= N = .
 
3
m 3
m2 Esse arranjo de unidades formaliza uma observação
muito interessante, se você prestar atenção, a equação (3.11) faz mais sentido
se pensarmos nela em termos dos gradiente (∇) de U, u ou P, pois aí sim fica
claro que uma força pode ser interpretada como uma perturbação do espaço ao
redor do ponto em que a força atua. Essa perturbação, ou variação espacial da
pressão local, guarda um sinal negativo, pois é uma reação à aplicação da força.
Entretanto não importa se estamos falando em termos da pressão do ar ao redor
desse espaço ou em termos do campo gravitacional que o permeia.

Ou seja, matematicamente, as derivadas parciais das grandezas u e P só


podem se diferenciar por algum parâmetro constante η, ou serem iguais, quando
η = 0, como mostra a equação (3.12)

p = −u + η. (3.12)

A equação (3.12) representa a pressão necessária para mover um corpo


dentro de um campo de potencial, a menos de uma constante, mas representa
mais que isso, ela diz que assim como um campo gravitacional se distribui
uniformemente sobre uma superfície equidistante da origem da força, a pressão
do ar gerada pelo impacto de uma força contra uma superfície tende a se espalhar
uniformemente sobre ela.

A pressão do ar gerada por uma explosão gera uma onda de impacto


esférica no espaço, impulsionando fragmentos em todas as direções. O campo
gravitacional gerado por uma força gravitacional propaga-se, a partir do ponto
de origem da força, com igual intensidade em todas as direções, como infinitas
camadas equipotenciais concêntricas, uma esfera de potencial gravitacional.
Dessa discussão podemos deduzir uma certa isotropia no espaço, quando este
não tem direções preferenciais.

176
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A densidade é uma propriedade da matéria, dada pela razão entre a massa e o


volume de um corpo.

• A pressão é a força distribuída pela área da coluna do fluido considerado.

• A viscosidade é uma propriedade intrínseca dos fluidos e está ligada à inércia


que eles oferecem a alterações em seu estado de movimento.

• Tensões de corte e de cisalhamento atuam em fluidos submetidos a forças


oblíquas.

• A pressão em uma coluna de fluido varia com sua densidade e altura.

• Todos os fluidos são suscetíveis a certa compressão, mas que a simplificação


dos fluidos incompressíveis é muito eficiente para boa parte dos casos.

177
AUTOATIVIDADE

1 A hidrostática é o estudo dos fluidos em repouso, em que o equilíbrio de


forças tem importância fundamental. Com isso em mente, indique, a seguir,
valores de verdadeiro (V) ou falso (F) para a sequência de proposições:

a) ( ) A pressão de uma coluna d’água é proporcional à densidade e à altura


da coluna do fluido.
b) ( ) A densidade de um fluido é inversamente proporcional à sua massa e
diretamente proporcional ao seu volume.
c) ( ) A viscosidade é uma quantidade associada à inércia do fluido.

2 Fluido é uma denominação que comporta a matéria tanto em estado líquido


quanto gasoso. A descrição de sua estática depende muito do conceito de
vetores.Com isso em mente, indique valores de verdadeiro (V) ou falso (F),
para a sequência de proposições a seguir:

a) ( ) Um fluido sob a ação de uma força oblíqua pode apresentar um gradiente


vertical das velocidades horizontais de diferentes camadas.
b) ( ) A tensão de cisalhamento é a responsável pelo movimento referencial
entre diferentes camadas de um fluido.
c) ( ) A tensão de cisalhamento tem origem na componente vertical da força
oblíqua que atua sobre um fluido.

3 Considere que a pressão P, causada por uma força F, que atua em uma
determinada superfície de área A, é diretamente proporcional a (–dF/dA)
e que, por sua vez, é também proporcional ao produto da densidade ρ do
fluido, pela aceleração da gravidade g e pela variação da coluna dh do
fluido. Com isso em mente, indique valores de verdadeiro (V) ou falso (F),
para a sequência de proposições a seguir:

a) ( ) A pressão p(h) de uma coluna de fluido, como função de sua coluna h,


pode ser escrita como a diferença entre uma pressão inicial, normalmente
atmosférica, e o termo pgh, associado à altura da coluna do fluido.
b) ( ) A pressão atmosférica no topo do monte Everest, Tibete, é maior que
aquela encontrada no fundo da fossa das Marianas, no Pacífico.
c) ( ) Por depender da densidade do fluido, um corpo mergulhado a mesma
profundidade, em dois fluidos diferentes, perceberá pressões distintas a
profundidades iguais.

4 Considere um fluido que escorre como apresentado na figura a seguir.


Sabendo que este possui um gradiente vertical de velocidades na direção x,
d v
dado por vx ( y ) = max y. Calcule a velocidade vx(y).
dy h2

178
GRADIENTE DE VELOCIDADES E MOVIMENTO RELATIVO ENTRE CAMADAS EM UM
FLUIDO

FONTE: O autor

5 Considere um bloco de massa m posicionado na parte superior de um


êmbolo, que pressiona um fluido incompressível., Supondo que a energia
potencial do bloco é de U(y) = mgy, calcule a força que atua sobre o êmbolo.

179
180
UNIDADE 3
TÓPICO 2

HIDROSTÁTICA

1 INTRODUÇÃO
Como vimos anteriormente, conceitos como força, área e pressão
e propriedades como densidade viscosidade e incompressibildiade são
fundamentais para o entendimento dos fluídos, mas representam também
um papel fundamental para o entendimento das forças atuantes em colunas,
tubulações e recipientes.

A hidrostática é o ramo da física que estuda os fluidos em estado de


repouso, nela conceitos como densidade, pressão e força são fundamentais para
entender como reservatórios podem conter grandes quantidades de líquidos, mas
talvez a primeira coisa que devamos discutir é a própria definição do conceito
de fluido e de algumas outras quantidades significativas para o estudo desse
importante ramo da física.

2 PRINCÍPIO DE PASCAL
O princípio de Pascal repousa sobre um dos conceitos de
incompressibilidade, um dos mais importantes da hidrostática. Segundo ele,
quando dois pistões são conectados por meio de um fluido incompressível, a
pressão aplicada em um dos pistões tende a se propagar integralmente através
do fluido incompressível até o outro pistão.

Blaise Pascal (1623–1662) nasceu na cidade francesa de Clermont-Ferrand


e desde sua infância foi considerado um prodígio. Ainda jovem, Pascal – retratado
aqui pela obra do escultor francês Augustin Pajou (1730–1809), exposta hoje no
Museu do Louvre em Paris –, assim como seus dois irmãos, perdeu a mãe muito
cedo, aos três anos de idade, e foi criado pelo pai, um aristocrata servidor público.

Aprendeu desde jovem o grego, o latim, história, geografia e filosofia.


Apenas por volta dos 12 anos Blaise começou a estudar as formas geométricas,
concentrando-se no tratado de Euclides “Os Elementos”. Aos 13 anos foi
apresentado à Académie libre, uma espécie de sociedade frequentada por gênios,
como Pierre de Fermat (1607–1665) e René Descartes (1596–1650). Vale lembrar
que Blaise descobriu o famoso teorema, que leva seu nome, ainda aos 16 anos de
idade. Inspirado pela obra sobre as seções cônicas de Girard Desargues (1591–
1661), outro frequentador da Académie libre, Blaise escreveu um tratado nesse
tópico, intitulado Essai pour les conique, de onde deriva seu famoso teorema.

181
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

FIGURA 7 – BLAISE PASCAL, POR AUGUSTIN PAJOU, 1785

FONTE: <https://bit.ly/1SFwJrX>. Acesso em: 21 set. 2018

Conta-se que antes de atingir a idade de 20 anos já havia criado um


dispositivo mecânico, primeiro do tipo e conhecido como La Pascaline, para
a realização de cálculos de soma e subtração diretamente, além de operações
indiretas de multiplicação e divisão, com a intenção de ajudar o pai, nessa época
recém-indicado ao cargo de comissário de impostos da cidade de Rouen, no norte
da França.

Muito ligado à religiosidade, historiadores contam que passou por dois


períodos de forte obstinação religiosa, primeiro ao jansenismo, por volta dos 23
anos, um movimento católico dogmático que enfatiza a busca pela graça divina
e a predestinação, como salvação para a depravação do homem e seu pecado
original. Depois, já aos 31, focou suas energias em escritos religiosos.

Blaise Pascal sempre teve uma saúde fraca e sofreu muito em sua vida.
Na biografia escrita por sua irmã mais velha, Gilberte Pascal, intitulada “La Vie de
Monsieur Pascal”, consta que depois de seu décimo oitavo aniversário, ele nunca
viveu um dia de sua vida livre de dor ou alguma forma de doença ou aflição
médica. Blaise Pascal morreu em 19 de agosto de 1662 em Paris. Suas últimas
palavras foram “Que Dieu ne m’abandonne jamais!”. “Que Deus não me abandone
jamais!”.

Pascal desenvolveu uma explicação de como podemos tirar proveito dos


fluidos incompressíveis e sua incompressibilidade. Levando em conta o princípio
isotrópico do espaço, mostrou que pressões dentro de um fluido se propagam
igualmente em todas as direções e que um sistema formado pelo arranjo de

182
TÓPICO 2 | HIDROSTÁTICA

pistões móveis pode propagar uma força aplicada em um dos pistões, até outros,
já que como a pressão se propaga para todas as direções dentro da tubulação
que conecta os pistões, será contida pelas paredes fixas, mas não pelas móveis. E
assim nasceu o princípio de Pascal, apresentado na Figura 8, a seguir:

FIGURA 8 – PRINCÍPIO DE PASCAL

FONTE: O autor

A Figura 8 apresenta um tubo em U, preenchido com um líquido


incompressível, que claramente demonstra todas as propriedades isotrópicas

da pressão. Considere que alguém aplique uma força F1 sobre o pistão de área

A1, causando uma pressão

P1, Como não há compressão →
do fluido dentro das
tubulações, uma força F2 atuará sobre o pistão de área A2, causando uma pressão
P 2.

A equação (3.13) apresenta uma relação de igualdade de pressões atuando


nos pistões 1 e 2, essas pressões são iguais. Teremos então:

P1 = P2 ; (3.13)

F1 F
= 2 ;
A1 A2

A1
F1 = F
A2 2

A Figura 9 apresenta um deslocamento de fluido no sistema formado


por dois pistões, descrito na Figura 8. Note que há um deslocamento dos pistões,
enquanto o pistão 1 desce de uma distância d1, o pistão 2 sobe de uma distância d2.

183
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

FIGURA 9 – PRINCÍPIO DE PASCAL

FONTE: O autor

Aqui é interessante notar que embora as áreas dos pistões possam ser
diferentes, o volume deslocado acaba por ser o mesmo nos dois lados da tubulação,
isso implica que as distâncias d1 e d2, percorridas pelos pistões 1 e 2 dependerão
também da razão entre as áreas de cada pistão.

V1 = V2 ; (3.14)

A1d1 = A2 d2 ;

A2
d1 = d.
A1 2

O princípio de Pascal descreve uma relação de multiplicação de força,


mediada por um fluido incompressível que permeia as tubulações de qualquer
equipamento hidráulico. A força F1 será maior que F2, na mesma proporção em
que A1 for maior que A2.

FIGURA 10 – PARADOXO DOS VASOS COMUNICANTES

FONTE: O autor

184
TÓPICO 2 | HIDROSTÁTICA

Uma outra propriedade interessante e que também deriva da relação


(3.12) é que se os pistões pudessem flutuar sobre o fluido que permeia a tubulação
que conecta o sistema, eles manteriam a mesma profundidade. Contanto, é claro,
que consideremos um único referencial de altura para a altura inicial. Esse é o
princípio dos vasos comunicantes, mostrado na Figura 10.

DICAS

O conceito de vasos é um ótimo exemplo para o estudo da hidrostática, suas


aplicações vão do ensino, passando pela mecânica e hidráulica, até a indústria naval. É um
tópico extremamente interessante, mas não está limitado à estática dos fluidos. Caso você
tenha se interessado pelo assunto e imagine como seria a dinâmica de um fluido movendo-
se entre esses vasos comunicantes, leia o artigo Communicating vessels: a non-linear
dynamical system. (DE LUCA, R.; FAELLA, O., 2017), publicado na Revista Brasileira de Ensino
de Física. Nele os autores discutem as propriedades dinâmicas de fluxo de fluidos ideais
contidos entre dois vasos interligados. Disponível em: <https://bit.ly/2vAspn5>.

3 PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES
Arquimedes (287-212 a.C.) foi um dos mais influentes pensadores da
antiguidade, conhecido pela história que relata seu momento de inspiração,
correndo sem roupas pela cidade de Siracusa enquanto gritava “Eureka! Eureka!”,
“Descobri! Descobri!”. Já discutimos as origens de Arquimedes na Unidade 1,
de modo que podemos seguir direto para o mito da coroa de ouro, um desafio
proposto pelo rei Hierão II (306-215 a.C.), para saber se estava sendo roubado
pelo fabricante da coroa, que podia estar substituindo o metal áureo por algum
outro metal de valor menor. O mito envolve ainda o acima mencionado episódio
da banheira e uma brilhante constatação.

O empuxo é uma força de resposta do meio no qual um objeto está


mergulhado. Na atmosfera também sofremos com a ação de um empuxo
negligenciável, mas é quando submergimos um objeto em um líquido que
realmente sentimos a ação dessa força. Observe a Figura 11, ela mostra um bloco
(preto) de massa mbloco, ligado a uma balança por um fio de massa desprezível e
mergulhado em um recipiente com água.

185
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

FIGURA 11 – PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES - A

FONTE: O autor


Podemos perceber que sobre o bloco de massa atuam a força peso P, a

força de reação da mola F , mas também atuam sobre as superfícies superior
→ m → →
e inferior duas forças Fsup e Finf, respectivamente. Você pode pensar em Fsup

como o peso da coluna d’água na superfície superior do bloco e quanto a Finf, você
pode pensar nela como a força de reação que o líquido impõe ao peso do bloco,
algo como um arrasto. Veja, o empuxo é o balanço das forças que geram pressões
diferentes entre as superfícies superior e inferior. Desse modo podemos defini-lo
como:
  
E Finf − Fsup
= (3.15)

Ou ainda podemos, nesse caso, definir o empuxo como a diferença entre


→ →
as forças peso P e de reação da mola Fm.
  
E + Fm − Fp =
0; (3.16)

  
= Fp − Fm .
E

O que percebemos com a equação (3.16) é que o empuxo está relacionado



com um peso aparente, medido pela diferença entre o peso P, que puxa o bloco em

direção à base inferior do recipiente e a força Fm da mola, que repara a distensão
da mola. Entretanto, mesmo que não tenhamos uma mola para medir o peso
aparente do bloco, o empuxo ainda está lá, como mostra a Figura 12.

186
TÓPICO 2 | HIDROSTÁTICA

FIGURA 12 – PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES - B

FONTE: O autor

Nela temos a mesma situação descrita para a Figura 11, à exceção do fio
de massa desprezível, da balança de mola e da força associada a ela, entretanto,
veja que a equação (3.15) ainda se aplica. Ainda há forças atuantes nas superfícies
superior e inferior, logo, ainda há empuxo atuando sobre o bloco, como mostra o
painel (a) da Figura 12. Daí podemos concluir que o empuxo é igual ao peso da
caixa.
 
E − Fp =
0; (3.17)

 
E = Fp ;


= mbloco g

Porém, esse conceito vai além. Observe o painel (b) da Figura 12, ele
apresenta uma réplica do painel (a), entretanto com o volume Vb do bloco
preenchido com o próprio fluido em que foi imerso. É uma representação
hipotética da substituição instantânea do bloco pela água, como se pudéssemos
operar magicamente. Teremos, a partir de (3.15):
  
E Finf − Fsup ;
= (3.18)

  
=Pinf A inf − Psup A sup =mbloco g ;
  
= ρ f g hinf A inf − ρ f g hsup A sup = mbloco g;
 
E =
ρg h A =
ρg V =
mg.

187
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

Note que a terceira linha vem da definição (3.8) para pressão, em que aqui
tomamos P0 = 0. Perceba ainda que se tomarmos o módulo em ambos os lados,

teremos uma expressão escalar para o empuxo, aqui E = |E|. Além disso, perceba
que a última igualdade revela que o peso do bloco é igual ao peso do fluido
deslocado:

ρg V =
mg ; (3.19)

m flu g = mbloco g
 
Fp ; flu = Fp ; bloco

E daqui tiramos que o peso do fluido, que ocupa o mesmo volume V,


antes ocupado pelo

bloco, é→igual ao peso do bloco. Há então uma queda de braço
entre o empuxo E e o peso Fp.
 
E = Fp ; (3.20)

ρ flu g V =
ρobj Vg

m flu g = mobj g

 
Fp ; flu = Fp ; obj .;
 
Fp ; flu = Fp ; obj .

E a terceira linha da equação (3.18) nos mostra que quem realmente


comanda essa queda de braço são as densidades, tanto do fluido ρflu, quanto do
objeto mergulhado ρobj. Em seguida confirma-se então que o peso do fluido que
ocupava o volume V de um objeto submerso é igual ao peso daquela porção do
objeto.

No sistema (objeto mergulhado + fluido) da Figura 12, estamos observando


um objeto que não flutuará, tampouco afundará. Pelo menos não sob as forças do
empuxo ou peso. Não há aceleração resultante sobre o bloco do painel (a) ou o
mesmo volume de água do painel (b). Entretanto, se houver uma força líquida
atuando no sistema, teremos:
  
FR= E − Fp . (3.21)

188
TÓPICO 2 | HIDROSTÁTICA

→ → → →
E sempre que E > Fp (ρflu > ρobj), o objeto flutuará, mas sempre que E < Fp (ρflu <
ρobj), o objeto afundará. Dividindo as intensidades das forças peso envolvidas,
encontramos a densidade relativa ρR:

Fp ; obj mobj ρobj Vobj ρobj
ρ=
R
 = = = . (3.22)
Fp ; flu m flu ρ fluV flu ρ flu

Quando ρR > 1, o objeto afundará, mas quando ρR < 1, ele flutuará.

DICAS

O princípio de Arquimedes foi fundamental para o desenvolvimento da


hidráulica como ciência e sua aplicação na indústria. Talvez não tivéssemos presenciado a
uma mesma Revolução Industrial sem o completo entendimento desse conceito. Para um
aprofundamento no tópico, indicamos o artigo Um aparato experimental para o estudo
do princípio de Arquimedes (BARBOSA, V. C.; BREITSCHAFT, A. M. S., 2006), publicado
na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele os autores apresentam um apetrecho que
pode ser utilizado para o estudo desse princípio, bem como um roteiro onde descrevem
minuciosamente um experimento com um corpo mergulhado em um fluido. Para lê-lo,
acesse: <https://bit.ly/2GH4aWJ>.

189
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• A isotropia espacial impõe que as pressões dentro de um fluido se propagam


igualmente em todas as direções.

• O princípio de Pascal estabelece a igualdade de pressões em extremidades


de circuitos hidráulicos preenchidos com fluido, o que gera uma relação de
multiplicação das forças geradas, na proporção da razão das áreas de seção
reta das extremidades.

• No princípio de Pascal temos uma conservação de volume, durante o


deslocamento dos pistões.

• Vasos comunicantes apresentam colunas d’água de mesma altura,


independentemente de sua geometria espacial.

• O princípio de Arquimedes relaciona as forças que atuam nas superfícies de


um objeto mergulhado em um fluido e define o empuxo como a resultante
delas.

• A relação entre as densidades de um objeto e do fluido em que está mergulhado


é fundamental para entendermos a flutuabilidade dos corpos.

• A densidade relativa é uma razão entre as densidades de um objeto e do fluido


onde ele está mergulhado.

190
AUTOATIVIDADE

1 O princípio de Pascal trata dos fluidos incompressíveis e como se dá a relação


entre as pressões em ambas as terminações de um sistema formado por dois
pistões conectados. Com isso em mente, indique valores de verdadeiro (V)
ou falso (F) para a sequência de proposições a seguir:

a) ( ) O princípio de Pascal emerge da multiplicação das pressões ocorridas em


ambas as terminações de um sistema formado por dois pistões conectados.
b) ( ) O princípio de Pascal emerge da multiplicação das forças ocorridas em
ambas as terminações de um sistema formado por dois pistões conectados.
c) ( ) Segundo o princípio de Pascal, os volumes de fluido deslocados para
mover ambos os pistões serão iguais e a relação entre as distâncias deslocadas
por cada pistão dependerá da razão entre as áreas deles.

2 O princípio de Arquimedes trata das forças que atuam em um objeto


mergulhado em um fluido de determinada densidade ρ. Com isso em
mente, indique valores de verdadeiro (V) ou falso (F) para a sequência de
proposições a seguir:

a) ( ) Segundo o princípio de Arquimedes, para que um corpo flutue é


necessário que seu empuxo seja menor que o peso do objeto mergulhado.
b) ( ) Segundo o princípio de Arquimedes, para que um corpo flutue é
necessário que seu empuxo seja maior que o peso do objeto mergulhado.
c) ( ) Segundo o princípio de Arquimedes, para que um corpo mantenha
um equilíbrio estático em um fluido, sem afundar ou flutuar, é necessário
que seu empuxo seja igual ao peso do objeto mergulhado.

3 Considere um turista mergulhando em algum resort na praia. Sabendo que a


densidade da água no local é de 1030 kg/m3, calcule a que profundidade ele
deve estar para atingir duas atmosferas. Lembre-se de que P0 = 101325 Pa.

4 Duas crianças brincam de se equilibrar em um sistema hidráulico com duas


plataformas montadas em pistões de áreas A1 = 1.5A2. Calcule qual deve ser
a massa m2 da segunda criança, em termos da massa m1 da primeira criança,
de modo que as plataformas estejam em equilíbrio estático.

5 Imagine um bloco sólido de prata de densidade ρb = 10490 kg/m3 afundando


em um tanque com um fluido de densidade ρf = 1000 kg/m3. Calcule a
aceleração de queda do bloco.

191
192
UNIDADE 3
TÓPICO 3

HIDRODINÂMICA

1 INTRODUÇÃO
Até aqui investigamos a natureza dos fluidos em condição de equilíbrio
estático. Entretanto, há uma descrição para seu movimento. Ela tira vantagem dos
conceitos de pressão que investigamos anteriormente e também da continuidade
de algumas quantidades físicas dos fluidos, através de superfícies fechadas. As
energias potenciais e cinéticas e potencial também contribuem para a dinâmica
dos fluidos.

A hidrodinâmica é o ramo da Física que lida com a dinâmica dos fluidos.


Ela descreve como um objeto se move em um fluido, ou como o fluido escorre
pela superfície de um objeto. Este é um campo fascinante da Física, pois conecta
elementos matemáticos e físicos tão diversos, como viscosidade e campos
vetoriais.

2 O ESCOAMENTO DE UM FLUIDO
Observe a Figura 13, ela apresenta um tijolo voando pelos ares, a uma
velocidade v, considerada alta o bastante para que os efeitos aerodinâmicos
comecem a se fazer notar. Como o tijolo se move da esquerda para a direita, a
porção fronteira se depara com um acúmulo de ar, isso cria uma zona de alta
pressão na parte frontal do tijolo.

FIGURA 13 – ARRASTO

FONTE: O autor

193
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

Na parte posterior, pelo contrário, o fluxo do ar é tal que zonas de rarefação


de ar se criam e, consequentemente, uma zona de baixa pressão. Considere por
um momento a definição matemática da pressão: a definimos como a razão entre
a força aplicada e a área sobre a qual ela se aplica. A pressão nos diz como a força
se distribui sobre uma superfície.

F
P= ; (3.23)
A

dF dPdA
= = adm;

dPdA = aρdAdz;

1 dP
a= ;
ρ dz

 1
a =− ∇P.
ρ

Observe que da definição clássica é possível calcular a aceleração de


um objeto em termos da variação de pressão, gerada por ele, naquela direção,
também é necessário conhecer a densidade do objeto. Note também que quando
tomamos o caso tridimensional, um sinal é agregado. Ele deriva do sinal da área
→ → → →
A da superfície onde se aplica a força F. Se A e F forem paralelas, mas de sentido
→ → →
oposto, temos o típico caso em que o vetor ∇P tem sinal oposto a a e logo a F.

Uma vez que definimos uma porção infinitesimal da massa como:

dm =
ρdV =
ρdAdz; (3.24)

Podemos reescrever uma porção de força dF em termos da pressão e do


volume dV = dAdz. A quarta e a quinta linhas da equação (3.23) nos dizem que a
aceleração de um objeto mergulhado em um fluido, como o ar, pode ser entendida
como uma perturbação gerada na superfície do fluido em contato com o objeto.
Quando você se move, cria ondas de impacto no fluido no qual está mergulhado,
o ar à sua volta. Agora, para os mais esquecidos, o gradiente é o operador
matemático vetorial que calcula a direção e o sentido de variação espacial de uma
função escalar. O gradiente é uma derivada direcional que aponta no sentido de
maior taxa de incremento na função escalar estudada.

  ∂ ∂ ˆ ∂ ˆ
∇=P  iˆ + j + k  P. (3.25)
 ∂x ∂y ∂z 

194
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

O gradiente da pressão é um cálculo da derivada parcial da pressão, em


cada uma das direções e o produto final dessa operação é um vetor, um campo
vetorial, que descreve as variações de pressão do ar em todas as direções do
espaço. O gradiente é a ferramenta que nos possibilita visualizar esse campo.

Multiplicar ambos os lados da última linha da equação (3.22) nos devolve


a expressão para a força, mas agora expressa em termos de uma variação espacial
da pressão.

 m
ma =− ∇P; (3.26)
ρ
 
F =−V ∇P.

Uma possível interpretação da equação (3.26) é aquela que vê a relação


entre o conceito de força e o de gradiente de pressão. Fica claro, ainda da equação
(3.26), que a unidade para o gradiente de pressão é N/m, no caso unidimensional,
e N/m3, no caso tridimensional. Isso nos permite compreender então a força
aplicada por ou sobre um corpo como uma perturbação tridimensional do ar.

Toda essa discussão a respeito das interpretações para força e pressão


tem uma grande importância para explicar o conceito do arrasto gerado por um
objeto que se move, enquanto mergulhado em um fluido. Retornando à Figura 13,
observe que, como explicado anteriormente, duas zonas de alta e baixa pressão
são formadas na região frontal e na região posterior, respectivamente. Como nos
diz a equação (3.26), esse gradiente de pressão dá origem a uma força com sentido

oposto, na Figura 13 essa força é o arrasto Fa.

3 REGIMES DE ESCOAMENTO DE UM FLUIDO


Discutimos até agora os efeitos da perturbação do meio em que um objeto
está mergulhado, mas a hidrodinâmica lida também com a fluidez do fluido. E
um fluido pode escorrer de diversas maneiras e nenhuma delas pode ser descrita
com completa exatidão. Modelar um fluido em movimento é uma tarefa de alta
complexidade, pois há muitos regimes sob os quais um fluido escorre, vamos
aqui discutir brevemente dois dos principais.

Primeiro vamos definir o conceito de linhas de corrente de fluido, como


apresentado na Figura 14. Nela vemos um fluxo de fluido percorrendo uma
certa trajetória no espaço. A cada instante, e devido aos gradientes de pressão, a
direção do vetor velocidade do fluido é alterada. As linhas de corrente de fluido
nos ajudam a mapear o campo de velocidades.

195
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

FIGURA 14 – LINHAS DE CORRENTE

FONTE: O autor

Considerando um escoamento que atravessa uma superfície que delimita


seccionalmente as linhas de corrente, teremos o chamado tubo de corrente, como
mostrado na Figura 15. Essa ferramenta é importante para o estabelecimento do
fluxo do fluido. Na figura vemos dois anéis que delimitam uma certa quantidade
de linhas de corrente, formando um fluxo que atravessa os anéis seccionais ao
fluido.

FIGURA 15 – TUBO DE CORRENTE

FONTE: O autor

O regime laminar de escoamento ocorre quando essas linhas fluem


paralelas umas às outras, continuamente, sem que haja qualquer interrupção no
fluxo, ou entre as linhas de corrente. Enquanto a velocidade do fluido se mantém
abaixo de um certo valor de transição, não há a tendência de interação entre
camadas adjacentes. Isso significa que não há correntes que cruzam o sentido
do fluxo do fluido, também não há formação de redemoinhos no fluido. O
regime laminar é ordenado, relativamente previsível e tende a ocorrer a baixas
velocidades.

O regime de escoamento depende da velocidade e da viscosidade do fluido


e como pelo menos uma dessas quantidades está variando o tempo todo durante o
escoamento de um fluido, o mesmo pode incorrer em diferentes regimes. A transição
do regime laminar para o turbulento é um dos problemas mais complicados para
a Física moderna. Uma possível razão que possa levar o escoamento de um fluido
do regime laminar para o turbulento pode ser a existência de algum obstáculo no
trajeto do fluxo laminar, pequeno o bastante para criar uma leve perturbação no

196
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

fluxo, que acaba se propagando para todas as camadas adjacentes. Todo o sistema
pode migrar para um comportamento absolutamente imprevisível, pelo menos
se pensarmos na quantidade de operações que devem ser feitas a cada momento
para descrever um fluxo turbulento. Essa transição pode ser vista na fotografia
Schlieren da Figura 16, nela vemos a convecção térmica da fumaça de uma vela,
em ar parado. Essa é uma técnica de fotografia desenvolvida pelo físico alemão
August Toepler (1836-1912), que utiliza um ajuste entre fontes de luz e lentes para
captar o movimento de fluidos no espaço. No caso da Figura 16, o experimento
foi fotografado pelo professor Gary Settles e a fumaça sobe laminarmente até uma
determinada altura, a aproximadamente 2/3 da base da vela.

FIGURA 16 – FLUIDO EM REGIME DE TRANSIÇÃO LAMINAR-TURBULENTO, POR GARY SETTLES

FONTE: <https://bit.ly/2fcTZig>. Acesso em: 27 maio 2018.

O regime turbulento é mais desordenado, imprevisível, cheio de


redemoinhos e que tende a ocorrer a velocidades mais altas. A turbulência é
também fruto das correntes de interação que cruzam a direção do fluxo, causando
redemoinhos e a mistura de linhas de corrente com aquelas nas adjacências. No
regime turbulento a teoria da hidrostática não se sai tão bem, o regime turbulento
pode ser caótico.

Embora complexo, há formas de se mensurar a possibilidade de um


sistema laminar evoluir para um turbulento. O número de Reynolds, por exemplo,
em homenagem ao inventor e estudioso irlandês Osborne Reynolds (1842-1912),
popularizador do conceito, é uma medida do regime sob o qual o fluido escoa,
é uma grandeza adimensional que pode tomar tantas formas quantos forem os
sistemas imaginados. Entretanto, considerando um fluido que escorre por um
cano, como algum parecido com aquele da Figura 15, podemos definir Re pela
equação (3.27).

ρuL uL
Re
= = . (3.27)
µ ν

197
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

Ela descreve uma relação competitiva entre os efeitos inerciais,


evidenciados pelo produto (ρuL); entre a densidade ρ do fluido, a sua
velocidade u e o diâmetro L do tubo, e os efeitos viscosos, aqui representados
pela viscosidade μ. Perceba que o termo cinético é o mesmo que conduz ao
regime turbulento, que vimos na Figura 16. Já a viscosidade, por seu caráter
inercial, promove um escoamento mais lento e laminar. Quanto menor for o
número de Reynolds, mais as forças de viscosidade dominarão e mais laminar
será o escoamento, quanto maior for Re, mais as forças inerciais dominarão e
mais turbulento será seu escoamento. A equação (3.27) nos diz que um fluido de
alta densidade e baixa viscosidade viajando a rápida velocidade, por um cano
de largo diâmetro, tem altas chances de apresentar um escoamento turbulento.

DICAS

O fluxo de fluidos é um assunto fascinante, pois nos impele a um mergulho em


diversos campos da física e da matemática. A descrição matemática dos campos vetoriais é
minuciosa e intrigante e a física que ela descreve, presente em nosso dia a dia. Para aqueles
que procuram um aprofundamento no tópico, sugerimos o artigo Escoamento de fluidos
em tanques: uma ferramenta alternativa para o ensino de Mecânica dos Fluidos. (SILVA R.
F.; SANTOS, E.; CRUZ, D. F. S., 2017), publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele
os autores propõem a utilização de dois protótipos para o estudo do escoamento de fluidos
em tanques. Os autores sugerem a utilização de três diâmetros distintos para as tubulações,
além de investigar os efeitos da densidade e da viscosidade, ao variar os fluidos aplicados.
Acesse-o em <https://bit.ly/2IkqN65>.

3.1 EQUAÇÃO DE BERNOULLI


O arrasto não é o único efeito do gradiente de pressão que atua em objetos
que se movem através de um fluido. Um dos efeitos proeminentes para o voo dos
aviões é a sustentação gerada sob a asa, à medida que o avião... voa. A Figura 17
mostra um detalhe de uma asa, submetida ao movimento em um fluido. Aqui, a
geometria da asa cria um gradiente de pressão entre as partes superiores (y = yi)
e inferiores (y = yf). Devido à sua forma, bem mais encurvada que a superfície
interior, a superfície superior expõe o fluido a uma trajetória mais longa, entre
o início e o fim da asa. Como o fluxo do fluido que passa pela parte superior é
igual àquele da parte inferior, mas tem uma distância maior para percorrer entre
os extremos das asas, sua velocidade aumenta, compensando essa adversidade.

198
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

FIGURA 17 – SUSTENTAÇÃO

FONTE: O autor

O princípio de Bernoulli diz que ao considerarmos um objeto que viaja


por um fluido, ou um fluido que escorre por uma superfície fixa, qualquer
aumento em sua velocidade implicará em uma diminuição da pressão que este
impõe à superfície, ou em uma diminuição da diferença de profundidade entre as
camadas do fluido. Esse princípio leva o nome do matemático e físico suíço Daniel
Bernoulli (1700-1782), que estudou a teoria cinética dos gases e a termodinâmica
dos corpos e fluidos. O retrato da Figura 18 nos dá uma ideia de sua aparência
aos 50 anos de idade.

FIGURA 18 – DANIEL BERNOULLI, RETRATO, 1750

FONTE: <https://bit.ly/2xMI1oy>. Acesso em: 29 set. 2018.

Nascido na cidade de Groningue, região atual dos Países Baixos, Daniel


Bernoulli veio de uma das famílias mais intelectualmente influentes da Basileia,
com um histórico de oito matemáticos renomados. Ele era filho de Johann
Bernoulli, um matemático que assumiu a cadeira de Matemática na Universidade
de Basileia, vaga após a morte de seu irmão, Jacob. Daniel Benoulli estudou
medicina, pois seu pai temia que as áreas exatas não o sustentassem. Também
estudou em Heidelberg, onde teve despertado seu interesse pela dinâmica dos
fluidos nos vasos e correntes sanguíneas do corpo humano. Seu trabalho de

199
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

doutorado, de volta a Basileia, tinha a mecânica da respiração como tema. Sem


conseguir uma posição na universidade de sua terra natal, Daniel Bernoulli se
mudou para Veneza, na Itália, onde estudou o comportamento da água, quando
movida entre recipientes.

FIGURA 19 – PRESSÃO DE COLUNA D’ÁGUA E FLUXO DE JATO

FONTE: O autor

Foi ele quem observou que a velocidade v de um jato horizontal de água,


como visto na Figura 19, depende diretamente da altura h da coluna de água. Uma
clara demonstração de conservação de energia, uma vez que a energia cinética
do jato de água corresponde à energia potencial da coluna. Por consequência,
a pressão e o fluxo também se equivalem em direta proporção, quanto menor a
altura da coluna d’água, menor o fluxo de um jato e vice-versa. Daniel Bernoulli
foi convidado por Catarina, a Grande para ocupar a cadeira de professor de
Matemática da recém-fundada Academia de Ciências, em São Petersburgo, na
Rússia. Foi lá que passou o período mais produtivo de sua carreira, focando nas
características do fluxo dos fluidos.

Estudando o fluxo de fluidos em tubos e canos de diferentes diâmetros,


Bernoulli descobriu que a velocidade do fluido aumenta, quando este tem que
passar por trechos de área de seção reta estreitada, achou a resposta para esse
enigma, no que veio a ficar conhecido como princípio da continuidade. Esse
princípio se baseia na observação de que o volume de um fluido que atravessa um
cano em um dado momento é o mesmo em todos os pontos do cano. Com essas
e outras observações, Daniel Bernoulli cunhou o termo hidrodinâmica, e quando
recebeu um convite da Universidade de Basileia, oferecendo-lhe a cadeira de
Anatomia e Botânica, voltou para casa. Aos 50 anos, Daniel Bernoulli foi indicado
à cadeira de Física, na mesma universidade, onde deu aulas até o fim de sua vida,
morrendo aos 82.

200
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

DICAS

A discussão sobre o voo dos aviões é antiga e muito interessante, muitos são os
ângulos que podem ser tomados como aproximação. Para um aprofundamento no tópico,
leia o artigo A dinâmica dos fluidos complementada e a sustentação da asa (WELTNER, K.
et al., 2001), publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele os autores estudam as
forças aerodinâmicas que atuam na superfície de uma asa e exploram uma interpretação
newtoniana, sem deixar de lado a próspera interpretação do problema sob a ótica da
hidrodinâmica. Para isso fazem uso de fotos, figuras e esquemas pictóricos. Disponível em
<https://bit.ly/2QWMZa2>.

Um conceito importante de introduzir aqui é o do fluxo de fluido. Essa é


uma quantidade escalar que mede a taxa de variação temporal com que um certo
volume de matéria atravessa uma superfície determinada. Observe a Figura 20,
ela apresenta um fluxo de ar, com velocidade →
v, atravessando uma superfície de
área Ax.

FIGURA 20 – FLUXO DE UM FLUIDO

FONTE: O autor

O fluxo de ar que atravessa a superfície na Figura 20 é dado então pela



soma integral das porções de fluido com velocidade v, que atravessam a área de

seção reta Ax.
 
=
φx ∫∫ vx ⋅ dAx ; (3.28)

Estamos interessados na conservação do fluido, quando toda matéria que


atravessa a superfície, passando de um lado para o outro, se conserva. Daí temos
que:

201
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

∆φ = φ f − φi = 0 (3.29)

φi =φ f ;

vi Ai = v f A f ;

Ai
vf = v.
Af i

A conservação do fluxo implica que qualquer alteração nas áreas de


seção reta envolvidas causará uma alteração na velocidade do fluxo, essa é a
compensação paga pela velocidade, no caso da Figura 21. Comparando a equação
(3.29) com a Figura 21, podemos perceber como essa alteração na velocidade é
necessária. Na figura percebe-se um fluxo de fluido, que poderia estar fluindo
dentro de uma mangueira obstruída, e que emerge de uma superfície de área de
seção reta maior, à esquerda, passando por uma superfície de área de seção reta
menor, ao centro do segmento, e então voltando a cruzar uma superfície de área
de seção reta igual à primeira. Em termos da velocidade, notar-se-ia que o fluido
acelerou entre as duas primeiras superfícies e desacelerou entre as duas últimas.

FIGURA 21 – CONSERVAÇÃO DO FLUXO DE UM FLUIDO

FONTE: O autor

O ajustamento central da Figura 21 expressa a conservação do fluxo


entre as áreas pequena e grande. O importante é que deve-se entender que não
é possível criar ou destruir matéria, sempre que concentração de matéria gerar
um gradiente de pressão no tecido do fluido no qual um objeto se move, forças
estarão atuando, logo, acelerações e variações temporais de velocidade.

202
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

 
F =−V ∇P; (3.30)

d  
p =−V ∇P;
dt

d  
p − V ∇P =0
dt

Isso fica claro quando tomamos a equação (3.26) e a reescrevemos como


uma equação diferencial do equilíbrio de forças. O equilíbrio de forças implica
em equilíbrio dos gradientes de pressão do fluido onde o objeto está mergulhado.

3.2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE


Ainda sobre a Figura 21, podemos sofisticar mais o problema, incluindo
um termo para o caso de uma diferença de altura entre as áreas de seção reta
consideradas. Considere por um momento a Figura 22, ela apresenta um detalhe
de uma mangueira gasta, com diâmetros variáveis. Seja por quais motivos, os
diâmetros (D = 2r) aumentam e diminuem ao longo da mangueira. Isso altera as
π
áreas de seção reta ( A =πr 2 = D 2 ), atravessadas pelo fluido.
4

FIGURA 22 – PRINCÍPIO DE BERNOULLI

FONTE: O autor

Um certo volume de fluido passa Ai e, depois Af, em um determinado


período de tempo. Considerando a diferença de energia potencial ∆U entre os
dois pontos, hi e hf, de um fluido de densidade ρ, de volume V e submetido a uma
aceleração gravitacional g, teremos:

203
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

∆U =mgh f − mghi =ρVg h f − hi ; ( ) (3.31)

µ
=
ν
(
Vg h f − hi )
Já a variação de energia cinética ∆K de um fluido sob tais condições
dependerá também da densidade, do volume, e da diferença dos quadrados das
velocidades do fluido nos dois pontos considerados.

1 1 1
∆K =
2 2 2
(
m v 2f − m vi2 = ρV v 2f − vi2 ; ) (3.32)


=

(
V v 2f − vi2 )
Note que tanto na equação (3.31) como na (3.32), é possível ainda entender
essas energias tanto em termos das viscosidades μ, quanto da viscosidade
dinâmica v. Em ambos os casos, as energias ∆U e ∆K variam diretamente com μ.
O que no primeiro caso pode ser mais explorado em termos do arrasto gerado
na queda e, no segundo caso, claramente está associado à eficiência do fluido em
ter seu estado de movimento alterado. Ou seja, quanto menor for a viscosidade
cinética v, mais eficientemente o fluido ganhará ou perderá energia cinética.

DICAS

A dinâmica dos fluidos é um tópico muito interessante da Física, pois com


ela exploramos o conceito de força como perturbações do meio, a hidrodinâmica sugere
também problemas complexos e fascinantes. Para um aprofundamento no tópico, indicamos
o artigo Uma discussão sobre hidrodinâmica utilizando garrafas PET (DE JESUS, V. L. B.;
MACEDO JUNIOR, M. A. V., 2011), publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física. Nele os
autores propõem a utilização de materiais de baixo custo para a abordagem de tópicos em
hidrodinâmica. Duas atividades são propostas para o estudo da vazão de um fluido, através
de furos em uma garrafa PET, e sua relação com a pressão atmosférica. Leia-o em <https://
bit.ly/2MCTr3q>.

Uma vez que objetos mergulhados em fluidos sofrem a ação de forças


e gradientes de pressão, é claro que uma certa quantidade de trabalho é
realizada por ou sobre eles. Na Figura 22, o volume V = Aisi sofre a ação de
uma força Fi = PiAi, que empurra o fluido por uma distância si, realizando um
trabalho Wi, como pode ser visto na equação (3.33)

204
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

Wi = Fi ∆si = Pi Ai ∆si = Pi ∆V ; (3.33)

Wf =Ff ∆s f =Pi A f ∆s f =− Pf ∆V ;

Obviamente o mesmo ocorre para a porção de volume V = Afsf, de forma


absolutamente análoga. O trabalho total então, realizado sobre o fluido, é dado
pela soma das expressões na equação (3.33), o que nos deixa com:

(
Wtot = Wi + W f =Pi ∆V + Pf ∆V = Pi − Pf ∆V . ) (3.34)

Apesar de ser uma quantidade escalar, do ponto de vista vetorial, o


trabalho é definido como o produto escalar entre o vetor gradiente de pressão e
o deslocamento do objeto no espaço. Perceba a dúbia interpretação da equação
(3.35).
 
W= F ⋅ ds; (3.35)
 
=−V ∇P ⋅ ds;

 ∂ ∂ ˆ ∂ ˆ 
−V  iˆ +
= j + k  P ⋅ ds;
 ∂x ∂y ∂z 

O trabalho continua com as mesmas unidades que você já conhece


Pa 3 N
W  m3 =
= m m= J
m m2 . Como fruto das variações cinéticas e potenciais que
ocorrem no sistema (objeto + fluido), o trabalho total Wtot pode ser associado à
variação de energia mecânica. O que, por meio do princípio de conservação de
energia mecânica, nos conduz à relação:

Wtot = ∆Emec (3.36)

Wtot = ∆U + ∆K ;

1
( P − P ) ∆V = ρ∆Vg ( h
i f f ) (
− hi + ρ∆V v 2f − vi2 ;
2
)
1
( P − P ) =ρg ( h
i f f ) (
− hi + ρ v 2f − vi2 ;
2
)
1 1
Pi + ρghi + ρvi2 = Pf + ρgh f + ρv 2f ;
2 2

205
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

Em que a soma das pressões ligadas ao trabalho de mover o volume V


de fluido, à variação de sua energia potencial e à variação de sua energia cinética
representa uma quantidade constante Γ. A última linha da equação (3.36) denota
uma equação de continuidade das pressões envolvidas no sistema da Figura 23.

1
P + ρgh + ρv 2 = Γ. (3.37)
2

A equação (3.27) é também uma relação de conservação de energias e é


possível mostrar também que ela deriva da relação de conservação de fluxo ϕ,
através de uma área de seção reta. Para o caso de um sistema cujas alturas não
variam, ∆h = 0, teremos:

1
P + ρv 2 =Γ (3.38)
2

Agora fica mais fácil de compreender o que se passa na Figura 18, como há
a formação de um gradiente de potencial entre os dois lados da asa, é necessário
que a velocidade do fluido que passa pela área superior, mais longa, haja de
acordo, compensando a alteração de pressão de modo que a quantidade Γ se
conserve.

DICAS

A equação de Bernoulli tem importância fundamental para o estudo da


hidrodinâmica, pois ela deriva do conceito de conservação de energia aplicado aos
sistemas de fluidos em movimento. Para um aprofundamento no tópico, sugerimos o
artigo Transferência de fluido por meio de um sifão vs. aplicação da equação de Bernoulli
(VERTCHENCKO, L.; DICKMAN, A. G.; FERREIRA, J. R. F., 2006), publicado na Revista Brasileira
de Ensino de Física. Nele os autores propõem a análise de um sistema hidráulico, composto
por um fluido que pode ser transferido entre dois reservatórios, por meio de um sifão. Os
autores discutem a importância da viscosidade do líquido transferido e como sua presença
não pode ser negligenciada, caso a equação de Bernoulli seja aplicada. Acesse-o em <https://
bit.ly/2MCTr3q>.

3.3 EFEITO COANDĂ


Uma das propriedades mais interessantes sobre os fluidos é aquela que
denota a tendência de um jato de fluido de seguir a curvatura de uma superfície
adjacente. Nomeado em homenagem ao construtor de aeronaves romeno
Henri Coandă (1886-1972), esse efeito pode ser interpretado sob a ótica de uma
comparação com seu análogo sólido, um choque.

206
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

FIGURA 23 – COMPARAÇÃO ENTRE (A) CHOQUE DE UMA PEDRA E (B) EFEITO COANDĂ,
QUANDO EM CONTATO COM UMA ESFERA MACIÇA

FONTE: O autor

Observe a Figura 23, ela apresenta uma comparação do que queremos


dizer aqui. No trecho (a) vemos uma pedra em rota de colisão com uma esfera
maciça de aço, ou uma bola de boliche. Ela ricocheteia na esfera e é deflexionada
por esta para longe.

Já no painel (b) temos uma corrente de ar que segue, levemente, a


curvatura da esfera. O ar que viaja próximo à superfície da esfera e também sofre
uma deflexão, mas em sentido oposto àquele da pedra do painel (a).

O que ocorre é que a viscosidade faz seu trabalho entre a camada de ar


que, inicialmente, passa voando, como no painel (a) da Figura 24. Nele vemos
que num primeiro momento, por inércia, a corrente de ar (Longas setas) tende a
manter a direção de sua trajetória, mas da superfície gera-se um atrito entre as
moléculas da corrente de ar e aquelas próximas a ela. Esse atrito é uma forma de
arrasto, que arrasta moléculas da região frontal à superfície (área sombreada).

FIGURA 24 – EFEITO COANDĂ

FONTE: O autor

Isso cria ali uma zona de baixa pressão e já sabemos o que acontece quando
um gradiente de pressão se apresenta. No painel (b) vemos o resultado da força
líquida, originada no gradiente de pressão, empurrando o ar em uma direção que
coincide com a curvatura da superfície.

Este é o efeito Coandă, note que ele nos diz muito sobre como o ar flui
quando próximo a objetos. É por causa dele que você consegue empinar bolinhas
de tênis de mesa na coluna de ar de um aquecedor de cabelos, é por causa dele
que o vinho escorre pelo gargalo da garrafa.

207
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

FIGURA 25 – LENTICULAR AERODYNE, POR HENRI COANDĂ, 1932

FONTE: <https://bit.ly/2Q8CmQp>. Acesso em: 26 set. 2018.

Quando jovem, Coandă estudou na École Nationale Supérieure d'Ingénieurs


en Construction Aéronautique, de Paris, se formando em Engenharia Aeronáutica,
em 1910. Ele desenvolveu seu primeiro avião no mesmo ano e logo se interessou
pelos motores a jato e chegou a receber um prêmio dos militares britânicos.
Durante a primeira guerra construiu aviões para os franceses.

Sua explicação para o fenômeno que vimos acima veio em 1934 e foi
com a patente relacionada ao efeito que ele construiu uma aeronave, Aerodina
Lenticulară, em formado de lente, cujo diagrama pode ser visto na Figura 26. Mas
o projeto não seguiu em frente por falta de interesse de investidores na pesquisa.
Henri Coandă morreu aos 86 anos de idade.

DICAS

Coandă foi um grande pesquisador no campo da hidrodinâmica e o efeito que


leva seu nome ocorre todos os dias em nossas vidas. Para uma leitura mais informativa e
com boas sugestões para atuação em sala de aula, sugerimos o artigo A física do voo na
sala de aula (STUDART, N.; DAHMEN, S. R., 2006), publicado na Revista Brasileira de Ensino
de Física. Nele os autores exploram o voo das máquinas como ferramenta para se trabalhar
diversos temas físicos, entre eles, é claro, temas da hidrodinâmica que vimos aqui. Disponível
em: <https://bit.ly/2zuEHjh>. A edição de outubro de 2006 da revista A Física na Escola traz
vários textos sobre a vida e o legado de Santos Dumont.

208
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

3.4 EFEITO MAGNUS


Como vimos, a existência de um gradiente de pressão em um fluido é
capaz de gerar uma força sobre um objeto que se mova nesse fluido. O efeito
Magnus leva o nome do físico e químico alemão Heinrich Gustav Magnus (1802-
1870), que o descreveu em 1852, enquanto estudava por que bolas de canhão
tomam uma trajetória curva ao transladarem pelo ar.

Magnus diz que todo objeto que translada e rotaciona pelo ar é submetido
à aplicação de uma força como resposta ao gradiente de pressão gerado entre
as superfícies opostas do objeto. Observe a Figura 26, ela mostra duas bolas de
basquete que caem de uma determinada altura com velocidade de queda de → vq;b.
A bola da esquerda apenas translada, enquanto a da direita também rotaciona.
Considerando o ponto de vista da bola, o ar se move em relação a ela, gerando um
vento com velocidade vertical e de baixo para cima, →
vv.

FIGURA 26 – EFEITO MAGNUS

FONTE: O autor

vt ;b
Note que a rotação da bola concede a ela uma velocidade angular ωb = r ,
relacionada ao raio →
r à velocidade tangencial →
vt;b da bola, esse grau de liberdade a mais
da bola da direita é transportado para o ar na superfície da bola através da soma dos
vetores de velocidade do vento e de velocidade tangencial da bola, de modo que a
velocidade total do ar naqueles pontos da bola girante fica:
  
vtot ; ar= vv ± vt ;b (3.39)

O sinal ± demonstra que essa soma depende do sentido da rotação, que


no nosso caso é anti-horário. A rotação faz, por meio do efeito Coandă, com que
→ →
o ar seja deslocado da região em que os vetores de velocidade vt;b e vv se somam,
para a região em que eles se cancelam, ou seja, a diferença entre as velocidades
totais, considerando ambos os lados, com vetores →vt;b e →
vv colineares, mas paralelos

e anti-paralelos, cria um gradiente de pressão entre os lados com → vt;b e vv paralelos
209
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

(baixa pressão representada pela região hachurada) e os lados com v→t;b e →


vv anti-
paralelos

(alta pressão). Toda essa manobra cria então um gradiente de pressão
V∇P no sentido da região de menor concentração de ar para aquela de maior

concentração, e devido à terceira lei de Newton, uma força F de reação é criada
no sentido oposto.

FIGURA 27 – EFEITO MAGNUS EM PARTIDA DE FUTEBOL

FONTE: O autor

Uma clássica aparição desse efeito ocorreu em uma partida de futebol


entre Brasil e França, durante a Copa das Confederações que precedeu a Copa do
Mundo de 1998. O jogador Roberto Carlos, da seleção brasileira, foi incumbido
de cobrar uma falta a uma distância considerável das traves do goleiro Fabien
Barthez, da seleção francesa. Ao chutar a bola, Roberto Carlos impôs sobre ela
um efeito que a fez girar no sentido anti-horário, como podemos ver no esquema
da Figura 27. Somada à velocidade de translação da bola, a velocidade tangencial
proporcionou o mesmo tipo de acúmulo de ar do qual falamos na Figura 26. Um
gradiente de pressão para um lado e uma força para o outro e Roberto Carlos
pôde comemorar seu objetivo...

210
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

FIGURA 28 – BUCKAU, POR BAIN NEWS SERVICE, NÃO DATADO

FONTE: <https://bit.ly/2IsNl4E>. Acesso em: 28 maio 2018.

O fenômeno descrito por Magnus tem também aplicações na engenharia,


aviões e embarcações marítimas já foram desenvolvidos e embora os aviões gerem
mais arrasto que empuxo, os navios se saíram bem com o uso dessa tecnologia.
Eles são conhecidos como Flettner Rotor, ou Rotor Flattner, em homenagem ao
engenheiro aeroespacial alemão Anton Flettner (1885-1961).

Na Figura 28 vemos um retrato de Buckau, de 1924, um dos navios


construídos por Flettner. Ele possuía dois rotores de aproximadamente 15m de
altura e usava as correntes de ar para gerar propulsão. Esses navios são usados
até hoje, de catamarãs a cargueiros.

FIGURA 29 – E-SHIP 1, AUERBACH-SCHIFFFAHRT, 2010

FONTE: <https://bit.ly/2OSxAWN>. Acesso em: 28 maio 2018.

211
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

A Figura 29 apresenta uma fotografia do navio cargueiro E-Ship 1, da


companhia alemã Auerbach-Schifffahrt. A embarcação navega os mares dotada
de quatro rotores de 27m de comprimento, que giram com o auxílio de dois
motores a diesel, podendo operar também com motores elétricos, aqueles que
usam diesel podem alcançar margens de economia de combustível de até 25%.

FIGURA 30 – EFEITO MAGNUS EM NAVIO FLETTNER ROTOR

FONTE: O autor

A Figura 30 apresenta um esquema do funcionamento de rotores Flettner.


Nele vemos que o barco tira vantagem de ventos cortantes, com dois rotores
cilíndricos que giram com velocidade → vt;c , quando atingidos pelos ventos com

velocidade vv, temos a repetição do mesmo processo discutido na Figura 17. Há
uma vazão de ar do lado com velocidade total vtot maior (soma de → vt;c com →
vv),
→ →
para o lado com velocidade total vtot menor (diferença vt;c e vv), Mais uma vez,
a equação da continuidade (3.27) e o princípio de Bernoulli atuam, criando um
gradiente de pressão entre os lados opostos dos rotores, e por sua vez, uma força
de reação à frente.

DICAS

O efeito Magnus é um fenômeno muito interessante e absolutamente não


intuitivo, com o qual nos deparamos muitas vezes em momentos de lazer, ao assistirmos
a práticas desportivas. Sua natureza excêntrica pode nos surpreender inclusive quando ele
ocorre em nossas partidas de recreação. Para um aprofundamento no tópico, leia o artigo
A aerodinâmica da bola de futebol (AGUIAR, C. E.; RUBINI, G., 2004), publicado na Revista
Brasileira de Ensino de Física. Nele os autores estudam as forças aerodinâmicas que atuam
em uma bola de futebol, através de vídeos e fotografias de eventos protagonizados por
grandes nomes do esporte. Acesse em <https://bit.ly/2GxSN4B>.

212
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

LEITURA COMPLEMENTAR

QUAL É O PROPÓSITO DA CIÊNCIA?

Luiz Davidovich
 
“Uma teoria com beleza matemática é mais provável de ser correta do
que uma teoria feia que concorde com alguns dados experimentais” (Paul Dirac,
1902-1984).
 
No início do século 20, um grupo de jovens provoca uma revolução na
ciência, ao formular uma teoria que se afasta radicalmente dos conceitos clássicos:
a física quântica. Surge então uma nova visão da natureza: a luz comporta-se
ora como ondas, ora como se fosse constituída de corpúsculos; átomos e elétrons
poderiam também ter comportamento típico de ondas. O primeiro vislumbre
aparece com os trabalhos de Max Planck, em 1900 e de Albert Einstein, em 1905.
Os jovens responsáveis por essa reviravolta conceitual não tinham nenhuma ideia
sobre possíveis aplicações dessa nova física: movia-os a curiosidade e a paixão
pelo conhecimento.
           
Cem anos depois dos trabalhos de Planck, um artigo publicado na
revista "Scientific American" pelos físicos norte-americanos Max Tegmark e John
Archibald Wheeler mostrava que, no ano 2000, cerca de 30% do Produto Interno
Bruto (PIB) norte-americano eram baseados em invenções tornadas possíveis
pela física quântica, de semicondutores em chips de computadores a lasers em
reprodutores de CDs e DVDs, aparelhos de ressonância magnética em hospitais,
e muito mais.

A história é rica em exemplos de descobertas em ciência básica, movidas


pela curiosidade, que acabaram provocando grandes transformações no cotidiano
da humanidade. Assim foi com a eletricidade, explorada em experimentos pelo
grande físico britânico Michael Faraday. Foi ele quem descobriu, em 1831, que
uma corrente elétrica era produzida em um fio de cobre, ao movê-lo em um
campo magnético – descoberta que deu origem aos geradores de energia elétrica.
Questionado pelo então Ministro das Finanças britânico, Sir William Gladstone,
sobre a utilidade do efeito que acabara de descobrir, Faraday responde: "Há uma
alta probabilidade, Sir, de que em breve o senhor poderá taxá-la”.

Também no Brasil, a ciência teve um retorno fantástico: aumentou


enormemente a eficiência da agricultura, tornou possível a extração de petróleo
do pré-sal – hoje mais que 50% da produção brasileira –, permitiu o enfrentamento
de epidemias emergentes, o enriquecimento de urânio para centrais nucleares
e o aparecimento de diversas empresas de alta tecnologia com protagonismo
internacional.
           

213
UNIDADE 3 | FLUIDOS, HIDROSTÁTICA E HIDRODINÂMICA

Hoje em dia, a velocidade crescente do avanço científico e tecnológico


diminui a distância entre descobertas de ciência básica e suas aplicações. Por
isso mesmo, em 2012, em meio à crise global que afeta a taxa de crescimento
de sua economia, a China aumenta em 26% os recursos para pesquisa básica.
A União Europeia planeja alcançar, no ano 2020, 3% do PIB em pesquisa e
desenvolvimento. Coreia do Sul e Israel já ultrapassam os 4% do PIB. Enquanto
isso, o financiamento à pesquisa no Brasil está estagnado, em torno de 1% do PIB,
o que ameaça as conquistas já alcançadas e mina o desenvolvimento econômico
e social do país.

Mas a ciência não deve ser justificada apenas em função de suas possíveis
aplicações. Se assim fosse, como entender o entusiasmo em torno do anúncio,
em 2016, da detecção de ondas gravitacionais produzidas por uma colisão de
buracos negros, ocorrida há mais de um bilhão de anos, motivo de manchetes de
jornais em todo o mundo e do Prêmio Nobel de Física em 2017? Como entender
a fascinação provocada pela descoberta de um novo elo na evolução da espécie
humana?

A curiosidade está inscrita no DNA humano. Trata-se de buscar respostas


para questões fundamentais: quem somos, de onde viemos, qual o nosso lugar no
Universo. A busca pelo desvelamento dos enigmas da natureza está intimamente
ligada ao senso de beleza, que justifica a frase do grande físico Paul Dirac e é
fundamental para o propósito humano. Einstein dizia que “A coisa mais bela que
podemos experimentar é o misterioso. Essa é a fonte de toda verdadeira arte e
toda a ciência. Aquele para quem essa emoção é estranha, aquele que não pode
mais fazer uma pausa para refletir e ficar absorto em admiração, está praticamente
morto: seus olhos estão fechados”.

Einstein dizia também que “o eterno mistério do mundo é sua


compreensibilidade”. Está aí talvez o grande enigma da ciência, aquele que
une de forma indissolúvel o Universo com aqueles que o observam: através da
ciência, o Universo é descrito por uma parte sua, a chamada “vida inteligente”,
que obsessivamente procura entender os mistérios do mundo em que vive e as
respostas para sua própria existência.

FONTE: <https://blogs.oglobo.globo.com/ciencia-matematica/post/qual-o-proposito-da-ciencia.
html>. Acesso em: 7 dez. 2018.
 
Quem é Luiz Davidovich? Com graduação em Física pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (1968) e doutorado em Física pela
Universidade de Rochester (1975), nos Estados Unidos, a ênfase de suas pesquisas
está nos campos da óptica quântica e informação quântica, com foco nos temas:
emaranhamento quântico, descoerência, dispositivos para computação quântica,
reconstrução de estados quânticos, teoria do laser, metrologia quântica. Entre
seus prêmios recebidos, destacam-se a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito
Científico (2000) e o Prêmio TWAS de Física em 2001. Na presidência da Academia
Brasileira de Ciências (2016), deu início ao Projeto Ciência para o Brasil, com a
finalidade de elaborar propostas para o fortalecimento de setores estratégicos para
214
TÓPICO 3 | HIDRODINÂMICA

o desenvolvimento do país. Além de fazer parte da ABC, é membro da Academia


Mundial de Ciências (TWAS, na sigla em inglês) e da Academia Nacional de
Ciências (NAS, na sigla em inglês) dos EUA. Sobre a ciência, Davidovich afirma:
“É preciso defender o desenvolvimento científico e tecnológico, ingrediente
fundamental do progresso no mundo contemporâneo”. Liderança brasileira
no que diz respeito à luta pelo crescimento da ciência brasileira em prol da
sociedade, Davidovich ressalta que países desenvolvidos, como EUA, Coreia do
Sul e Suécia, reconhecem que, em tempos de crise, há a necessidade de aumentar
os investimentos na área de pesquisa e desenvolvimento, e não o oposto, e que
“o mais importante é manter a paixão e a curiosidade sempre vivas em suas
carreiras", completa.
 
FONTE: <http://www.abc.org.br/membro/luiz-davidovich/>. Acesso em: 7 dez. 2018.

215
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A hidrodinâmica é o ramo da Física que lida com a vazão de fluidos.

• A forma do objeto em translação em um fluido tem importância, principalmente


quando consideramos o arrasto associado ao movimento.

• Um gradiente de pressão em um fluido é capaz de gerar uma força entre as


porções rarefeitas e adensadas.

• Quando flui, um fluido segue regimes de escoamento, entre eles o laminar e o


turbulento.

• O número de Reynolds é uma quantidade que compara as forças inerciais e


viscosas que atuam no fluido.

• Daniel Bernoulli foi um dos grandes nomes da mecânica dos fluidos,


responsável pelas observações a respeito da relação de conservação de energia
na vazão horizontal de um fluido, pela observação da variação de velocidade
em um fluido que passa por uma tubulação estreitada e pela observação de que
o volume de um fluido que percorre um cano, a qualquer momento, é sempre
constante.

• O efeito Coandă descreve a tendência do movimento de um fluido nas


adjacências da superfície de um objeto nele mergulhado, de seguir suas curvas,
limitado às condições de velocidade.

• O efeito Magnus trata da emergência de forças devidas a gradientes de pressão


em fluidos em movimento.

216
AUTOATIVIDADE

1 A hidrodinâmica se encarrega de descrever a dinâmica dos fluidos em


movimento, aqui a descrição vetorial do espaço se torna ainda mais
complexa. Com isso em mente, indique valores de verdadeiro (V) ou falso
(F) para a sequência de proposições a seguir:

a) ( ) O gradiente de pressão é um operador escalar, que calcula a derivada


direcional da distribuição de densidades de fluidos no espaço.
b) ( ) Gradientes de pressão são responsáveis pela movimentação de camadas
de fluido, submetidos a forças de reação.
c) ( ) Um campo de velocidades, tangentes às linhas de corrente, pode ser
empregado para a descrição de um fluido que se desloca no espaço.

2 Um fluido pode escoar de diversas formas, segundo diversos regimes, os


principais deles são o laminar e o turbulento. Com isso em mente, indique
valores de verdadeiro (V) ou falso (F) para a sequência de proposições a
seguir:

a) ( ) O regime laminar se caracteriza pelo escoamento paralelo das linhas de


corrente, de forma contínua, sem interação entre linhas de corrente.
b) ( ) A transição entre os regimes laminar e turbulento é brusca e tem descrição
simplificada.
c) ( ) O regime turbulento se caracteriza pelo escoamento desordenado das
linhas de corrente, de forma imprevisível, e permeado com redemoinhos.

3 O fluxo de um fluido é uma grandeza de extrema utilidade para o estudo


da hidrodinâmica, ele consiste em contabilizar o volume de um fluido, que
atravessa uma determinada superfície de área de seção reta, por unidade
de tempo. Com isso em mente, determine a velocidade de um fluido que
1
atravessa duas superfícies, com áreas A f = Ai , sabendo que sua velocidade
3
inicial é de vi = 16m/s.

4 O princípio de Bernoulli nos diz que a pressão de um fluido será afetada


por alterações em sua velocidade de fluxo ou posição referencial, duas
quantidades ligadas às energias cinética e potencial gravitacional do fluxo.
Com isso em mente e sabendo que um certo volume V fluido, de densidade
1
h = h
ρ, escorre por uma tubulação cuja altura varia pela metade, ou seja f 2 i
1
e que sua velocidade dobra após tal variação de altura, ou seja v f = 2 vi .
Determine como a pressão do fluido varia, em termos das energias potencial
Ui e cinética Ki, iniciais.

217
5 Muitos são os efeitos hidrodinâmicos que atuam sobre fluidos que escoam
nas proximidades de superfícies, assim como muitos são aqueles que ocorrem
em objetos que se movem através de fluidos. Com isso em mente, indique
valores de verdadeiro (V) ou falso (F) para a sequência de proposições a
seguir:

a) ( ) O efeito Coandă descreve a tendência de um fluido de seguir a superfície


do objeto nas proximidades do qual ele escoa.
b) ( ) Fluidos e sólidos têm comportamentos muito equivalentes quando ambos
se chocam contra a superfície de sólidos massivos. Para ambos os casos há
um movimento de ricochete, em que sólidos e fluidos se afastam do objeto
atingido.
c) ( ) O efeito Magnus descreve a força que atua em corpos que rotacionam
enquanto se movem pelo espaço.

218
REFERÊNCIAS
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Brasileiro de Ensino de Física, v. 26, n. 4: p. 297-306, nov. (2004).

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______. Reavaliação e rememoração dos conceitos da mecânica geral com


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