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No artigo Compreender, Pierre Bourdieu aponta que quando se trata de fazer pesquisa, os

cientistas “permanecem dominados pela fidelidade a velhos princípios metodológicos”

(BOURDIEU, 1997, p.693) ao adotarem uma postura de interlocução exclusiva entre si.

Segundo o autor essa perspectiva deve ser abandonada e, a partir disso, debruça-se sobre

questões decorrentes da relação entre pesquisador e pesquisado, considerando os efeitos da

estrutura social e do modo por meio do qual pesquisas são feitas sobre os resultados finais

possibilitando reconhecer as distorções que existem em todo tipo de pesquisa.

Essas distorções -variáveis- existem porque a relação que se dá em uma pesquisa científica
continua sendo uma relação social que, por sua vez, é caracterizada pela inter-influência entre
as partes. Assim, a fim de garantir a confiabilidade da pesquisa o cientista deve ao invés de
assumir uma postura de “inocência epistemológica” (BOURDIEU, 1997, p.694), buscar por
essas distorções a fim de controlá-las antes que comprometam a legitimidade de sua pesquisa.
Com isso o autor propõe uma ferramenta de aperfeiçoamento de pesquisa: a reflexividade
reflexa que, baseada em um olhar sociológico do conhecimento adquirido, permite que o
pesquisador identifique e controle os reflexos da estrutura social e do processo da própria
pesquisa no decorrer ou nos resultados finais do estudo. Dessa forma, no decorrer do texto,
Bourdieu segue apontando e explorando os fatores que permitem o processo de construção da
pesquisa a começar pela base de uma pesquisa de sucesso: uma boa comunicação entre o
entrevistador e o entrevistado, de modo que o pesquisador deve ter o conhecimento acerca
das consequências que uma pergunta mal formulada pode ter, dado que, por meio de uma
violência simbólica (BOURDIEU, 1997, p. 695), pode atingir fatores morais e psicológicos
do entrevistado ao não atentar-se a esse fato.
Assim Bourdieu afirma que a abordagem mais adequada para a realização de trabalho de
campo e entrevistas é fundada em uma comunicação não violenta (BOURDIEU, 1997, p.
697), que consiste em criar um ambiente não hierárquico e confortável para o pesquisado, de
modo que interaja com o pesquisador de forma leve e natural pois eles assemelham-se. O
pesquisador deve reunir as características adequadas para entrevista baseando-se na
familiaridade e afinidade do entrevistado, por exemplo: um professor fazendo perguntas a um
professor ou um desempregado interrogando alguém na mesma condição. Com a
proximidade social estabelecida entre as partes, as respostas são obtidas de forma natural por
meio de uma escuta ativa e metódica (BOURDIEU, 1997, p. 695), porque quem está
entrevistando garante que os ideais e atributos subjetivos do entrevistado não sejam reduzidos
à questões meramente objetivas, o que faz com que esse último se sinta bem durante a
entrevista.
Contudo, essas manobras metodológicas provocam a emersão de questões éticas, dado que os
pesquisadores têm a clareza de que por mais que se assemelham com o interlocutor, existe
uma dissimetria social entre as partes, logo, eles devem procurar neutralizá-las mas sempre
respeitando o entrevistado ao reconhecer as diferenças existentes.
Bourdieu é responsável por uma contribuição substancial nos estudos de epistemologia
dentro da sociologia e creio que o incentivo que o autor propõe a compreender os mais
diversos fatores que estão circunscritos no decorrer da pesquisa que refletem nos resultados, a
postura de semelhança entre pesquisador e pesquisado além de assumir as influências a fim
de dominá-las finais é vital para a realização de entrevistas que respeitem a pluralidade e
subjetividade dos mais diversos grupos humanos, portanto, na minha opinião, é a mais
adequada para tal tarefa.

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