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AGOSTO 2020

www.sabo.com.br

Do vapor ao
hidrogênio:
como serão os
combustíveis do futuro
TUDO COMEÇOU NA ÁGUA E PODE VOLTAR A SER MOVIDO A ÁGUA,
OU PELO MENOS ALGO PARECIDO COM ISSO. VAMOS SABER COMO
TUDO COMEÇOU E QUAIS AS TECNOLOGIAS QUE ESTÃO SENDO
DESENVOLVIDAS PARA SUBSTITUIR OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E
OFERECER OPÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA OS MOTORES DO FUTURO.

As primeiras máquinas conhecidas


eram movidas pela força da água, com o
homem aproveitando a energia gerada
pelo fluxo da água para gerar movimento.
Eram os moinhos de água, ou azenhas, um
tipo de mecanismo capaz de aproveitar
a energia cinética da movimentação de
águas para moer grãos, irrigar grandes
arrozais, drenar terras alagadas e até gerar
eletricidade.

O moinho de água é reconhecidamente a máquina


mais antiga movida por força não animal. As primeiras
referências à engenhoca datam do século I a.C. no
mundo romano.
Posteriormente, veio o motor a vapor, ou máquina a vapor, que foi o dispositivo inventado
para dar movimento a outras máquinas. Desenvolvido no século 18, o combustível para acionar
seu conjunto era o vapor d’água, tecnologia que continuou a ser utilizada e aperfeiçoada até
o início do século 20.
Denis Papin e Thomas Savery, no fim do século 17, desenvolveram os primeiros motores
a vapor de uso prático e de interesse industrial, mas a verdadeira revolução na área foi
a criação de Thomas Newcomen, em 1712, do chamado “motor de Newcomen”, que foi o
primeiro tipo de motor a vapor a ser amplamente usado.
O próximo grande avanço seria realizado por James Watt, em 1769, que criou uma máquina
com um condensador que minimizava as perdas de calor e que possuía outras finalidades,
como propulsão de moinhos e tornos, com o movimento de rotação substituindo o de sobe
e desce.

Esquema do motor a vapor de James Watt

A partir das modificações de Watt, os motores a vapor passaram a movimentar as


primeiras locomotivas, barcos e fábricas, além de fundições e minas de carvão. Dessa forma,
constituíram a base da Revolução Industrial.
Um típico motor a vapor de pistão, amplamente empregado nas locomotivas, funcionava
a partir de uma válvula corrediça, responsável por permitir que o vapor em alta pressão
entrasse em qualquer lado do cilindro. Para a válvula deslizar, era necessária uma haste
de comando, geralmente conectada a uma ligação com uma cruzeta. O vapor era, depois,
liberado na atmosfera pela chaminé.
Da locomotiva aos primeiros automóveis com motores a vapor foi um passo muito rápido,
sendo a água transformada em vapor o primeiro combustível utilizado por veículos. Mas foi
apenas uma breve passagem desses motores, que logo foram substituídos pelos motores de
combustão interna, alimentados por gasolina.
Estes eram mais seguros (o vapor poderia espirrar quando o dono tentasse manusear o
motor) e seu acionamento era mais rápido - motores a vapor necessitavam que sua água
esquentasse até o ponto de vapor, como numa chaleira.
Curiosidade
Os atuais combustíveis utilizados no mundo têm um tempo de utilização limitado pela
sua extração e produção. Veja por quanto tempo, aproximadamente, estes recursos podem
ser usados antes que se esgotem.

CARVÃO URÂNIO

118
anos
106
anos

GÁS NATURAL PETRÓLEO

59
anos
46
anos

Como podemos ver, os preciosos recursos de energia que foram acumulados ao longo
de centenas de milhões de anos também são limitados.

Plataforma de petróleo: extração de um recurso natural que estará disponível por mais meio século, no máximo
Qual será o combustível do futuro?
Junto da automação dos carros, motivada pela segurança viária, os estudos sobre novos
combustíveis dominam os centros de pesquisa de montadoras e empresas de energia.
O desafio é criar uma fonte renovável que possa ser utilizada em larga escala no mundo, a
fim de diminuir as emissões de poluentes.
Sabemos que os combustíveis fósseis, em especial o petróleo, estão com os dias contados.
Além de ser usado como combustível para carros e aviões, há ainda uma ampla demanda
dessa matéria-prima para produção de plásticos e outros derivados.
Como o petróleo é o recurso mais utilizado no mundo, é importante considerar suas
características e usá-lo de forma racional e que seja muito bem aproveitado, pois sabemos
que em um futuro breve o combustível para veículos terá de ser substituído.
O futuro do transporte passa pelos combustíveis alternativos. E o mercado já oferece
boas opções, muito mais limpas e renováveis.
O uso de combustíveis alternativos frente aos tradicionais vem cada vez mais chamando
a atenção do mercado. Isso porque as reservas dos compostos de origem fóssil, como a
gasolina e o diesel, podem chegar ao fim num futuro próximo. Além disso, os combustíveis
tradicionais afetam diretamente o meio ambiente.
A boa notícia é que a corrida para desenvolver os combustíveis alternativos está bastante
avançada. Um estudo da Carbon Tracker, organismo independente que realiza análises
sobre o impacto da transição energética nos mercados, aponta que, a partir de 2023, fontes
renováveis de energia devem ocupar mais espaço do que combustíveis fósseis.

Principais opções de combustíveis alternativos


São várias as possibilidades que o mercado já oferece. Vamos ver quais são elas.

BIODIESEL

Um combustível 100%
extraído de óleos
vegetais, que reduz a
emissão de CO2 em
até 66%

Produzido a partir de compostos orgânicos derivados da gordura vegetal ou animal, este


combustível tem baixos índices de poluição. Quando comparado ao diesel, a redução na
emissão de CO2 é de 66%.
O biodiesel pode ser obtido a partir da extração da glicerina do óleo de vegetais, como
colza, mamona, amendoim, soja e girassol. A sua produção também pode acontecer a partir
de gorduras animais, sendo, portanto, um dos combustíveis alternativos cujas fontes são
renováveis.
A utilização do biodiesel como combustível já não é novidade. Ele pode ser usado na sua
forma pura ou misturada para alimentar os veículos que utilizam diesel. Em alguns postos,
é comercializado sob o nome B2, o que quer dizer que há 2% de biodiesel e 98% de diesel
tradicional.
Quadro com a evolução do uso do biodiesel no Brasil elaborado pelo
químico industrial e especialista em petróleo e gás Marcelo Gauto

BIOMETANO

Esse combustível é obtido com biogás vindo da decomposição de resíduos sólidos


urbanos, orgânicos e esgoto doméstico. O gás passa por um processo de purificação, no
qual são retirados os resíduos que não contribuem para a combustão. Sob a ótica ambiental,
é muito bem-visto, já que reduz em 90% a emissão de CO2, além de ter uma produção barata.
O biogás é um tipo de energia renovável - um biocombustível - gerado em determinadas
condições de umidade, acidez e temperatura a partir da atuação de bactérias fermentadoras
de matérias orgânicas. Basicamente, esse gás é uma mistura de metano e dióxido de carbono.
A utilização do biogás se justifica, entre outras questões, pela sua relação com a matéria
orgânica, ou seja, a partir de sua produção se torna possível reaproveitar o lixo orgânico.
Entre os materiais utilizados na produção do biogás, estão: esterco, restos vegetais,
palhas, esgotos e outros resíduos “naturais”. Atualmente, ele é produzido por biodigestores
anaeróbios, geralmente em áreas rurais e alguns espaços urbanos em países como China,
Índia e Brasil. Com o avanço da tecnologia, espera-se que os biodigestores ampliem suas
capacidades para que o lixo possa ser melhor aproveitado.
Atualmente, o biogás (biometano) é utilizado na geração de energia elétrica e como
combustível para fogões e motores. No Brasil, a usina de Itaipu já conta com um sistema
de produção que abastece parte de sua frota de veículos. O combustível pode ser utilizado
também nos caminhões híbridos e adaptados ao gás natural veicular (GNV).

No Brasil, a cana-de-açúcar é a principal fonte de


BIOETANOL bioetanol, mas existem países extraindo o combustível
do milho, da beterraba, do sorgo e até da soja

No Brasil, ele está presente na maioria dos postos de combustíveis. Entre os combustíveis
renováveis, o bioetanol possivelmente é o mais conhecido. Diferentemente do etanol
tradicional, produzido a partir de composições fósseis, o bioetanol utiliza como matéria-
prima os vegetais.
A principal fonte de extração no país é a cana-de-açúcar, porém um grupo de pesquisa da
Universidade Federal do Ceará identificou que o caju pode ser também uma boa alternativa
para a sua produção. Já nos Estados Unidos, o milho é utilizado como matéria-prima,
enquanto na França utiliza-se majoritariamente a beterraba.
Além da origem renovável, quando comparado à gasolina, esse combustível pode
proporcionar redução de 60% de emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa.
Atualmente, o bioetanol é o único combustível líquido prontamente disponível para ser
utilizado na substituição parcial da gasolina, o que representa um grande avanço, não é
mesmo?
A Nissan, em parceria
com a Unicamp,
desenvolve a
tecnologia de célula
de combustível a
partir do bioetanol

As montadoras já oferecem veículos movidos a E85, cuja composição é 85% de etanol e


15% de gasolina. O bioetanol também vem sendo testado e utilizado para abastecer baterias
de carros elétricos.

GÁS NATURAL (GNV)

Tanque de GNV em
carro bicombustível
(Flex – gasolina ou
álcool – e GNV)

Da lista de combustíveis alternativos, o GNV é o mais conhecido pelos motoristas


brasileiros. Ele é apontado como o biocombustível mais limpo. Além disso, é responsável por
aumentar a vida útil do motor e gera uma economia considerável em seu consumo. Além
do GNV, existem também outros tipos de gases naturais que podem ser utilizados como
combustíveis alternativos, como o gás natural líquido e o gás liquefeito de petróleo (GLP).
Vejamos do que se trata cada um deles.
O GNV é formado pela mistura de hidrocarbonetos, os quais passam para o estado gasoso
quando submetidos à temperatura ambiente e à pressão atmosférica. Ele é constituído,
principalmente, por metano e pode ser extraído de rochas porosas localizadas no subsolo,
sendo, muitas vezes, acompanhado do petróleo. A queima do GNV certamente é uma
das mais limpas, e esse tipo de combustível apresenta uma das melhores relações custo-
benefício, já que o consumo é inferior ao do etanol e da gasolina.
Assim como o GNV, o gás natural líquido também é extraído do subsolo. Ele é bastante
similar ao gás de cozinha tradicional, entretanto se diferencia deste em razão da pressão e
da temperatura a que é submetido, o que o torna líquido. Devido à grande quantidade de
energia gerada por esse gás, ele passou a ser indicado e utilizado em grandes equipamentos,
carros e caminhões.
O gás propano, mais conhecido como GLP, também é um hidrocarboneto (propano e
butano) com incrível potencial energético. Ele apresenta maior densidade quando comparado
ao gás natural líquido e à gasolina. Assim como os outros gases, o GLP pode ser obtido a
partir do refino do petróleo e de outros combustíveis fósseis.
Mas atenção: a solução baseada no uso do gás tem um grande problema. Este é um
combustível de origem fóssil e com previsão de escassez para, no máximo, 60 anos.

Embora mais econômico e menos poluente, a maior desvantagem


do GNV é que é um combustível com estoque limitado

ENERGIA ELÉTRICA
Carros elétricos estão
na dianteira dos novos
projetos de todas as
montadoras. O gargalo
desta tecnologia
ainda é a rede de
abastecimento.

Cada vez mais veículos são movidos a energia elétrica. Apesar do alto investimento na
sua aquisição, há uma significativa economia em manutenção. Inclusive, polui menos do que
a gasolina, por exemplo.
Por tudo isso, os carros movidos a eletricidade vêm ganhando cada vez mais espaço
ao redor do mundo. O sistema funciona com uma bateria que armazena a energia e pode
Esquema de instalação da tecnologia
em veículos elétricos

ser recarregada por meio de um sistema similar às tomadas tradicionais. No Brasil, ainda
são poucos os pontos de recarga disponíveis. A grande vantagem é a redução dos custos
relacionados ao abastecimento e à baixíssima emissão de gases, mas isso não é novidade.
Hoje, todas as montadoras já possuem projetos ou mesmo veículos rodando com energia
elétrica ou sistemas híbridos, que combinam motores tradicionais a combustão interna
com propulsores alimentados por eletricidade. Vale lembrar que, para alcançar o ideal de
sustentabilidade, os modelos com motores alimentados por eletricidade devem obter a
energia de fontes renováveis, tais como a eólica, o que também vem crescendo a cada dia.

O quadro apresenta as diversas tecnologias empregadas nos motores elétricos


ÓLEO VEGETAL HIDROGENADO

O HVO é um
combustível
reciclado a partir de
óleos usados

O combustível é produzido a partir do óleo usado de colza, palma e gordura animal.


Em inglês, é conhecido como Hydrotreated Vegetable Oil (HVO) e sua extração é parecida
com a do diesel. Neste caso, a diferença é que o processo químico usa hidrogênio no HVO,
enquanto no diesel é usado o metano para fazer a catalisação. Na Europa, a Ford aprovou
a utilização de Óleo Vegetal Hidrogenado (HVO) nos seus furgões Transit. Este combustível
diesel renovável é produzido a partir de óleos usados, incluindo os óleos residuais dos
restaurantes e até mesmo das nossas cozinhas.
A utilização de HVO (ou gasóleo renovável), em alternativa aos combustíveis fósseis
convencionais, pode contribuir para melhorias na qualidade do ar. Os gases de efeito estufa
podem ver-se reduzidos num máximo de 90%, comparativamente aos gasóleos tradicionais,
além de que os veículos que funcionam com HVO emitem menos NOx (óxido de nitrogênio)
e partículas do que outros a gasóleo, pois o combustível não contém enxofre ou oxigênio.

O Ford Transit,
movido a óleo vegetal
hidrogenado, já circula
pelos países da Europa
HIDROGÊNIO

Toyota Mirai utiliza


hidrogênio como
combustível. A
montadora obteve os
maiores avanços neste
tipo de motor.

O uso do hidrogênio é apontado como a solução para descarbonizar diversos setores,


inclusive o transporte de longa distância. Ele também pode ser armazenado, transportado e
usado para produzir eletricidade.
Com isso, países com pouco espaço para equipamentos eólicos e solares podem ser
abastecidos com energia limpa. Algumas das montadoras de veículos já estão apostando na
criação de carros movidos a esse tipo de combustível.

Então os carros movidos a hidrogênio são o futuro?


É uma excelente opção, mas há controvérsias. O hidrogênio é derivado de combustíveis
fósseis, incluindo carvão e gás natural. Embora as usinas emitam gases de efeito estufa, as
empresas podem empregar tecnologias de captura de carbono, que, segundo informações,
reduzirão as emissões de dióxido de carbono (CO2) em 90%.
Mesmo que as operações não sejam livres de poluição, alguns ambientalistas entendem
que o investimento das empresas na tecnologia do hidrogênio será um importante avanço
para a obtenção de economia e melhoria do clima.
No entanto a transição para uma matriz baseada no hidrogênio levantou algumas
preocupações relevantes. Como o hidrogênio é inodoro e queima com uma chama clara,
vazamentos podem ser difíceis de detectar, embora o gás seja tão leve e se disperse tão
rapidamente que a chance de uma explosão aberta seja considerada mínima.

Antes, um esclarecimento
Embora muitas vezes confundido com uma fonte de energia, o hidrogênio é, na verdade,
um combustível artificial, como a gasolina, que pode ser usado para transportar e armazenar
energia. Diferentemente dos combustíveis fósseis, sua promessa de longo prazo reside na
capacidade de se separar da água por meio de eletrólise, usando energia solar ou outras
formas de energia renovável.
Sua aplicação mais divulgada é em transporte. O gás hidrogênio é armazenado em um
tanque a bordo até ser combinado com oxigênio em uma célula a combustível, onde o
processo de eletrólise é essencialmente invertido, liberando energia química por meio de
uma carga elétrica. Essa eletricidade pode ser usada para alimentar motores elétricos em
carros, ônibus, barcos e outros veículos.
Esquema de funcionamento do motor a hidrogênio do Toyota Mirai

No curto prazo, essas células de combustíveis também são consideradas uma fonte
promissora de eletricidade para algumas indústrias e prédios, particularmente aquelas
que exigem energia de backup constante durante apagões. Nesta aplicação, o hidrogênio
é frequentemente derivado do gás natural e do propano, que já possuem sistemas de
distribuição estabelecidos.
A utilização de combustíveis fósseis para gerar hidrogênio pode resultar em emissões
modestamente menores de CO2 (gás carbônico) e outros poluentes do que usar esses
combustíveis como fontes de energia convencionais, embora isso dependa da eficiência
das tecnologias envolvidas. Para obter maiores reduções, o CO2 pode ser manipulado em
processo que ainda permanece em formato experimental e extremamente caro.
No entanto, quando o processo de separação de hidrogênio é baseado em fontes de
energia renováveis, o uso de hidrogênio é essencialmente livre de poluição e seus únicos
subprodutos gerados são água e calor.
Nos veículos movidos a hidrogênio, existem tanques de hidrogênio que se mesclam
com o oxigênio presente no combustível. Por meio desse processo, é gerada a eletricidade
necessária para movimentar os motores elétricos do veículo.
Modelo em corte do Toyota Mirai. Destaque para o tanque
de armazenamento de hidrogênio.

Para entender melhor como funcionam esses tanques de hidrogênio, é preciso considerar
primeiramente que, assim como acontece com os veículos movidos a gasolina e com os
carros elétricos, a energia que será usada por esses automóveis necessita ser armazenada
em algum local. Com os carros elétricos, por exemplo, essa eletricidade é guardada por
meio das baterias de lítio, enquanto nos veículos movidos a hidrogênio, o armazenamento
é feito nesses tanques específicos, capazes de aguentar as temperaturas baixíssimas do
hidrogênio, que podem chegar a -36 0C.
Já para compreender a movimentação da corrente elétrica, quando esse modelo de
veículo está em funcionamento, o hidrogênio é expelido do tanque para, então, entrar em
contato direto com o ar, ou seja, com o oxigênio. O resultado dessa reação entre ambos os
elementos faz com que o automóvel libere vapor de água por meio de seu tubo de escape, e
o “choque” entre o oxigênio e o hidrogênio é o fator que cria essa corrente elétrica essencial
para nutrir o motor elétrico.
Isso significa que, por mais que esses veículos sejam movidos a hidrogênio, o seu motor
depende diretamente de eletricidade, da mesma forma que acontece com os já conhecidos
automóveis elétricos. Desse modo, é possível dizer que esses carros mesclam duas tecnologias
distintas para formar um veículo ambientalmente correto e com uma excelente autonomia.
Carros movidos a hidrogênio:
vantagens e desvantagens
As características tecnológicas dos veículos movidos a hidrogênio fazem com que
eles sejam revolucionários e apresentem boas vantagens, mas também existem certas
inconveniências a serem consideradas.
Vantagens
• Não há emissões de poluentes
Em um mundo onde a consciência ambiental é crescente, o fato de os veículos movidos
a hidrogênio não emitirem poluentes na atmosfera é, sem dúvidas, uma de suas maiores
vantagens. Porém vale destacar que mesmo que esse tipo de automóvel não gere poluentes,
os processos utilizados para obter o hidrogênio fazem uso de outras energias, o que acaba
gerando alguma poluição.
De qualquer forma, em alguns países, como é o caso da Espanha, esses automóveis
já estão sendo classificados como “veículos verdes”, o que permite certos benefícios aos
proprietários, como acessar e estacionar em zonas que são restritas a outros modelos de
veículos. Com o passar dos anos, essa tendência deverá chegar a vários outros países.
• Reabastecimento ágil e fácil
Outra vantagem importante é a agilidade com que é feito o abastecimento desses veículos,
muito mais eficaz do que o que ocorre com os automóveis elétricos, por exemplo. Em cerca
de cinco minutos eles já ficam completamente carregados, sendo um processo apenas um
pouco mais demorado do que os carros movidos a gasolina, que são reabastecidos em cerca
de dois minutos.
• Ótima autonomia
A questão da autonomia é outro diferencial que merece ser mencionado entre os automóveis
movidos a hidrogênio e aqueles de origem elétrica. Os modelos mais modernos de carros
que utilizam o hidrogênio já estão apresentando uma autonomia de aproximadamente 600
km até que precisem ser reabastecidos. Além disso, a expectativa é de que essa autonomia
continue sendo aprimorada e alcance números ainda melhores em um futuro próximo.

O reabastecimento do tanque de hidrogênio é similar ao


processo atual dos veículos movidos a gasolina ou etanol
Desvantagens
• Limitações na rede de abastecimento
Uma das maiores desvantagens de quem pretende adquirir um veículo movido a hidrogênio
atualmente é a falta de uma rede ampla de abastecimento. O cenário atual em grande parte
do planeta é de escassez de estações dedicadas ao abastecimento de hidrogênio. Há indícios
de que isso possa vir a mudar nos próximos anos, mas nos dias de hoje esse é um problema
indiscutível para os condutores.
• Armazenamento do hidrogênio
Outra questão inconveniente diz respeito à segurança do automóvel. Apesar das marcas
terem se esforçado para desenvolver uma tecnologia de ponta para os carros movidos a
hidrogênio, com tanques modernos e aptos para evitar vazamentos, ainda assim trata-se de
um gás inflamável. Os tanques de hidrogênio possuem, atualmente, uma vida útil de 15 anos,
estabelecida por lei, o que acaba implicando num período de tempo útil menor do próprio
automóvel.
• Custos dessa tecnologia
Em primeiro lugar, os custos com a produção são mais elevados, em função da célula
de combustível. Para completar, os valores atuais do hidrogênio também não o tornam tão
acessível. Isso significa que o reabastecimento acaba sendo mais caro do que os valores
atuais aplicados para veículos movidos a gasolina. A título de curiosidade, o custo é de cerca
de 60 euros (algo próximo de R$ 380) para encher o tanque com hidrogênio e rodar 600
quilômetros.
Soluções para baixar o custo com a produção do hidrogênio para movimentar veículos
estão na mira das grandes empresas do setor. Na petrolífera Shell, está sendo estudada uma
tecnologia que retira o dióxido de carbono do ar e o incorpora à molécula de hidrogênio
proveniente do refinamento do diesel para produzir hidrocarbonetos usados como
combustível. Além de limpar a atmosfera de gases que aumentam o efeito estufa, essa
técnica permite um valor relativamente baixo de produção.
Nos testes preliminares, o custo deste novo combustível ficou em cerca de US$ 3
(aproximadamente R$ 10,50) por litro, o que poderia ser reduzido em até 70% se fosse feito
em larga escala. A Shell ainda não realizou testes para produção em massa do combustível,
mas, de acordo com pesquisadores da empresa, como são usados processos abundantes no
mundo e possui captação relativamente simples, ao fim dos estudos esse será o menor dos
problemas.

Visão em corte do tanque de


hidrogênio do Toyota Mirai
Shell estuda um processo de produção do hidrogênio que reduzirá o preço do combustível em até 70%

Há dois anos, um estudo da empresa concluiu que carros a combustão interna só estarão
no mercado até 2070. No entanto a Shell acredita que, durante a transição para o hidrogênio,
o uso de gás natural e eletricidade vai crescer, mas, ao menos até 2035, a maioria dos carros
ainda vai usar combustíveis à base de petróleo.

Mas e o Brasil? Qual a tendência?


O Brasil aposta no biodiesel e tem estrutura para liderar a produção mundial. Além de
possuir matéria-prima em abundância, o biodiesel apresenta-se como solução para os danos
ao meio ambiente provocados pelo petróleo, reduzindo a emissão dos gases causadores do
aquecimento global.
Diante de nossa riqueza, o
biodiesel é um dos combustíveis
renováveis, pois é produzido a partir
de fontes naturais (girassol, mamona,
soja, dendê), misturado com metanol
(obtido de madeiras) ou etanol (cana-
de-açúcar).
Apesar das vantagens de seu
uso, esse tipo de fonte de energia
também apresenta desvantagens.
Requer estratégias relacionadas
ao desmatamento, para constante
produção, sendo necessário ampliar
áreas de cultivo, intensificando, Qual será a matriz energética dos veículos no
consequentemente, o desmatamento. Brasil? Será que teremos novas mangueiras de
abastecimento nos postos de combustíveis?
Outro problema é a expansão da prática agrícola, que demanda aumento considerável do
uso de água, afetando os recursos hídricos.
Pesquisas realizadas sinalizam que carros com motores “flex” permanecerão relevantes
por muitos anos - mesmo com as perspectivas de crescimento nas vendas mundiais de
elétricos, que deverão atingir 110 mil unidades por ano a partir de 2023.
Essa substituição é fundamental não somente para garantir o equilíbrio climático, mas um
ar mais limpo para a população. No Brasil, ainda temos um longo caminho a percorrer, pois
as estatísticas anuais de óbitos por fuligem ainda são enormes.
É por isso que precisamos obter outras opções energéticas além dos veículos movidos
a petróleo e diesel. A indústria automobilística tem um papel crucial na conquista de um
planeta com baixa emissão de carbono.

O álcool, combustível extraído da cana-


de-açúcar ainda deve estar presente nos
veículos no Brasil por mais alguns anos

Mas e o carro movido a água?


De tempos em tempos, um antigo sonho de milhões de motoristas espalhados por todo
o planeta, preocupados com o alto custo dos combustíveis, sempre ganha força e torna-se
o centro das atenções no mundo automotivo: um veículo que se movimente com energia
barata e de baixo impacto ambiental.
O assunto da vez se refere ao veículo movido a água e ganhou projeção nas mãos de
um cientista paquistanês que, em setembro de 2012, jurou ter inventado um veículo que se
locomove tendo como “combustível” a água.
O engenheiro paquistanês Agha Waqar Ahmed virou um herói em seu país ao afirmar ter
feito uma descoberta que poderia acabar com a dependência mundial de petróleo por meio
da utilização de motores que funcionam à base de água.
Ahmed teria demonstrado seu invento para uma plateia de mais de cem oficiais do
governo, engenheiros e jornalistas, na capital Islamabad. Segundo ele, a água ativaria o
motor de um veículo pelo processo de eletrólise, no qual uma corrente da bateria passa
através da água destilada, cheia de eletrólitos, separando o hidrogênio do oxigênio. Neste
caso, o hidrogênio isolado seria o responsável pelo acionamento do motor. O anúncio do
invento foi recebido com desconfiança pela comunidade científica mundial, pois, segundo
os cientistas, seu funcionamento contraria as leis da física. A energia usada para separar o
hidrogênio da água seria a mesma ou até maior do que a que chegaria ao motor, tornando
inverossímeis as afirmações.

Algumas tentativas de uso do hidrogênio


como combustível
A eterna busca por inventos que propiciem o funcionamento de motores com produtos
baratos e abundantes na natureza sempre causou fascínio entre inúmeros cientistas
espalhados pelo mundo. Este fascínio gerou um incontável número de casos de fraudes que
ganharam repercussão mundial.
Um exemplo clássico na história automotiva ocorreu em 1916, nos Estados Unidos, quando
Louis Enricht anunciou que havia desenvolvido um composto barato que, quando adicionado
à água, poderia mover um veículo. Sua demonstração ocorreu em Long Island e parecia um
truque de mágica. Enricht pediu que jornalistas examinassem o carro em busca de tanques
adicionais, e depois, que trouxessem um balde de água.
No balde, ele adicionou uma substância esverdeada, e despejou a solução no carro.
O veículo funcionou com a mistura, exalando um aroma de amêndoas pelo escapamento.
Seu invento logo ganhou repercussão e chamou a atenção de Henry Ford, um dos maiores
empresários do setor automotivo americano. E rapidamente a farsa foi descoberta. Suas
demonstrações utilizavam acetileno. A combinação de acetileno e água é capaz de mover
um motor a combustão, mas gera acentuada corrosão e desgaste do motor. Enricht foi
condenado por estelionato e passou sete anos na cadeia.

O invento de Minnesota (EUA)


Em 2006, cientistas da Universidade de Minnesota (EUA) diziam ter criado um motor
capaz de se locomover apenas com água e um elemento químico chamado boro. O mineral
tem o poder de quebrar o H2O, liberando hidrogênio puro a partir da água do tanque.
O boro, neste processo químico, se desgasta rápido, mas segundo Tareq Abu Hamed,
líder do grupo que desenvolveu o projeto, pode ser reciclado infinitas vezes e voltar para
o motor, refazendo o processo. O invento de Minnesota tem amparo científico, pois o boro
pode converter H2O em hidrogênio para o motor.
Segundo a pesquisa, a água vai do tanque para um reservatório cheio de boro em pó. Esse
elemento tem a capacidade natural de “sugar” o oxigênio da água. O hidrogênio vai para o
motor, onde pode ser queimado como se fosse gasolina ou virar fonte de energia elétrica.
No interior do motor, o hidrogênio se combina com o oxigênio do ar, produzindo energia.
O resultado desta energia é a geração de água, que acaba saindo pelo escapamento em
forma de vapor. Conforme o boro vai tragando oxigênio da água, ele se transforma em óxido
de boro. Na produção de hidrogênio, cada 45 litros de água podem consumir até 18 quilos
do minério. O projeto ainda é experimental e não foi testado em escala industrial.

O invento japonês
Em 2008, uma empresa japonesa, a Genepax, anunciou o desenvolvimento do primeiro
veículo movido a água. Segundo a companhia, o protótipo H2O Power funciona totalmente a
água e a ar. O sistema gera energia pelo fornecimento da água e do ar, produzindo hidrogênio.
O combustível passa por eletrodos, que contêm um material capaz de discriminar a água
em hidrogênio e oxigênio por meio de uma reação química. O anúncio, de acordo com o
site oficial da empresa, vai revolucionar a indústria automotiva com veículos capazes de se
locomoverem por uma hora, a uma velocidade de até 50 km/h, com apenas 1 litro de água.
A comunidade científica recebeu a notícia com enorme desconfiança, pois o projeto não foi
plenamente aberto aos cientistas, deixando dúvidas acerca do funcionamento da invenção.
Carro israelense movido a água. Baterias com placas de alumínio
abastecidas com água destilada geram energia para mover o veículo.

Um teste que funcionou


A empresa israelense Phinergy criou uma tecnologia para carros elétricos que permite
que esse sonho se torne realidade.
Trata-se de uma bateria equipada com placas de alumínio abastecida com água destilada,
que passa por um processo químico capaz de produzir o combustível final, o óxido de
alumínio hidratado. A equação química é de quatro átomos de alumínio para três moléculas
de oxigênio e seis de água.
De acordo com o CEO
da Phinergy, Aviv Tzidon,
cada placa de alumínio
pode fornecer a energia
necessária para percorrer
36 km. A bateria instalada
no carro de teste, um
Citroën C-Zero, possui 50
placas desse tipo, e o peso
total do conjunto é de
apenas 25 kg.

Detalhe das placas de alumínio instaladas no Citröen de teste


A tecnologia chega a ser dez vezes mais eficiente que uma bateria de íons de lítio, que
oferece a autonomia de 160 km, como demonstrou o ensaio com o C-Zero abastecido com
água destilada.
Apesar da desconfiança geral acerca do assunto, acreditar que um dia um motor pode
funcionar com água desperta fascínio em todos e mobiliza cientistas na busca de respostas
que possam proporcionar mais conforto e economia, além de contribuir com a diminuição
da emissão de gases tóxicos ao homem e ao meio ambiente.
Talvez demore um pouco para que estas questões tenham sua resolução, mas em se
tratando da engenhosidade humana, que, em 50 anos, conseguiu ir até a lua ou obter
avanços impressionantes na área da medicina, a descoberta de fontes limpas e baratas de
energia é questão de tempo.
Mas, por enquanto, não podemos ligar a mangueira do jardim e abastecer o motor do
carro.
AGOSTO 2020

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