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METAFÍSICA I

Ementa:

Apresentação do que é a metafísica, a partir do estudo de seu


nascimento no pensamento antigo, de sua fundamentação no
pensamento moderno e de sua crítica no pensamento contemporâneo.
A questão do ser, da verdade e do fundamento.

Prof. Fernando Pessoa


“O início é mais do que a metade do todo.”
Aristóteles

“Grandes coisas exigem que nos calemos a seu respeito


ou que falemos com grandeza.”
Nietzsche
O nascimento da filosofia na Grécia Antiga
“Outros povos têm santos, os gregos têm sábios.”
Nietzsche
Recitados na educação das crianças ou em
grandes festivais de poesia, os versos de
Homero foram responsáveis pela formação do
povo grego, à medida que criou, com seus
deuses e heróis, um paradigma de excelência
para os homens, que vai construir a identidade
do grego:

quem é o melhor dos aqueus?


Heráclito, fragmento 29:

“Uma coisa a todas as outras preferem os melhores:


a glória (kléos) sempre brilhante dos mortais”
Os heróis homéricos são todos virtuosos,
nobres Seja com a virtude guerreira de
Aquiles na Ilíada, seja com a virtude da
astúcia de Ulisses na Odisséia, Homero
criou um paradigma de excelência para o
povo grego. Todos os gregos queriam ser
como os deuses e heróis de Homero, todos
cantavam os seus versos de cor.
O exemplo poético de Homero foi fundamental para a
constituição do mundo grego, na medida em que
humanizou os deuses, potencializou o poder da
linguagem, educou e unificou o povo Grego.

Foi nessa conjuntura em que a linguagem e,


consequentemente, o pensamento ganharam
suprema importância que nasceu a filosofia na Grécia
Antiga com os chamados:
Os pré-socráticos
ou
Fisiólogos
(Peri physeos)
Tales de Mileto
(cerca de 625/4 – 558/6 a.C.)

“A natureza está cheia de deuses”


“Tudo vem da água”
F. Nietzsche, A filosofia na idade trágica dos gregos:

A filosofia grega parece começar com uma idéia


absurda, com a proposição: a água é a origem e a
matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário
deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três
razões: em primeiro lugar, porque essa proposição
enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo
lugar, porque faz sem imagem e fabulação; e enfim,
em terceiro lugar, porque nela está contido o
pensamento: ‘Tudo é um’.
A razão citada em primeiro lugar (falar da
origem) deixa Tales ainda na comunidade
dos religiosos e supersticiosos, a segunda
(sem imagem e fabulação) separa-o dessa
sociedade e mostra-o como investigador
da natureza, mas é em virtude da terceira
que Tales se torna o primeiro filósofo
grego.

“tudo é um”
Aristóteles: “Aquilo que Tales e
Anaxágoras sabem será chamado
de insólito, assombroso, difícil,
divino, mas inútil, porque eles não
se importavam com os bens
humanos (terrenos).”
Nietzsche: “Um filosofo é um homem que
constantemente vive, vê, ouve, suspeita e
sonha... coisas extraordinárias.”

Heidegger: “Filosofar é a investigação


extraordinária do extraordinário.”
Aristóteles:

“Diz-se que Heráclito assim teria


respondido aos estranhos vindos na
intenção de observá-lo. Ao chegarem,
viram-no aquecendo-se junto ao
forno. Ali permaneceram hesitantes
em pé. Heráclito então os encorajou a
entrar, pronunciando as seguintes
palavras: ‘Mesmo aqui, os deuses
também estão presentes’.”
Com esta frase, Heráclito indica a
revelação do extraordinário no ordinário:
um olhar que, ao ver o ordinário, se
espanta com o que nele há de divino e
maravilhoso:

“aqui também, na ordinária situação de me


aquecer no forno, vigora o extraordinário.”
Heráclito de Éfeso (o obscuro)

Frag. 50. “Ouvindo não a mim mas o


Lógos, é sábio concordar que tudo é um.”

(Hèn Pánta, um: tudo, tudo: um)


Para compreendermos o que Heráclito pensou,
devemos buscar o que ele buscou.

Em seu fragmento 101, Heráclito diz com toda


clareza: “Eu me busco a mim mesmo.”

Buscar a si mesmo é o caminho que nos conduz,


a cada um de nós, a pensar o que Heráclito
pensou, pois: “É dado a todos os homens
conhecer-se a si mesmo e pensar.” (116)
Quando Heráclito indica que o
pensamento surge do conhecimento de si
mesmo, ele indica a possibilidade comum
do si mesmo, numa experiência de
comunhão da sabedoria: “Os homens
acordados têm um mundo só que é
comum (enquanto cada um dos que
dormem se voltam para o seu mundo
particular).” (89)
A experiência de vigília que Heráclito indica
mostrar aos homens um mundo só, que é
comum, consiste no conhecer-se a si
mesmo que nos abre à compreensão do
logos no pensamento de Heráclito e,
assim, à origem da filosofia.
No final do prólogo de Genealogia da moral, Nietzsche
escreve sobre a arte de ler aforismos:

Na terceira dissertação deste livro, ofereço um exemplo do que


aqui denomino "interpretação": a dissertação é precedida por
um aforismo, do qual ela constitui o comentário. É certo que, a
praticar desse modo a leitura como arte, faz-se preciso algo
que precisa mente em nossos dias está bem esquecido - e que
exigirá tempo, até que minhas obras sejam "legíveis" -, para o
qual é imprescindível ser quase uma vaca, e não um "homem
moderno": o ruminar...
Atividade assíncrona da semana:
Ruminar em casa os seguintes aforismos de
Heráclito:

73. “Não é para se falar e agir dormindo.”

34: “Sem compreensão: ouvindo, parecem


surdos; o dito lhes atesta: presentes estão
ausentes.”

19. “Não sabendo auscultar, não sabem falar.”


114. “Para falar com recolhimento é necessário
concentrar-se na reunião de tudo...”

113. “Pensar reúne tudo.”

101. “Eu me busco a mim mesmo.”

116. “É dado a todos os homens conhecer-se a


si mesmos e pensar.”

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