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Brazilian Journal of Development

Estudo do processo evaporativo em Indústria Sucroalcooleira no Município de


Sirinhaém em Pernambuco

Study of evaporative process in sugar-alcohol industry of Sirinhaém in


Pernambuco
DOI:10.34117/bjdv6n6-096

Recebimento dos originais: 08/05/2020


Aceitação para publicação: 04/06/2020
Marília Sthella Da Silva Soares
Engenheira Química
Instituição: UNINASSAU - Recife
Endereço: R. Guilherme Pinto, 114 - Graças, Recife - PE, 52011-210
E-mail: mariliasthella@gmail.com

Caio Július César Miranda Rodrigues da Cunha


Mestre em Tecnologias Energéticas e Nucleares
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco
Endereço: Cidade Universitária, Recife - PE, 50740-540
E-mail: caio.julius@ufpe.br

Roberto Luiz Frota de Menezes Vasconcelos


Engenheiro Civil e Tutor de Engenharia do Grupo Ser Educacional
Instituição: UNINASSAU – Recife/Grupo Ser Educacional
Endereço: R. Guilherme Pinto, 114 - Graças, Recife - PE, 52011-210
E-mail: roberto.vasconcelos@sereducacional.com

Iury Sousa e Silva


Doutor em Engenharia Química, Docente do Centro Universitário Maurício de Nassau –
UNINASSAU-Recife e Professor Executor do Grupo Ser Educacional
Instituição: UNINASSAU – Recife/Grupo Ser Educacional
Endereço: R. Guilherme Pinto, 114 - Graças, Recife - PE, 52011-210
E-mail: iurysousa88@gmail.com

RESUMO
Em uma indústria sucroalcooleira existem diversos processos que envolvem operações unitárias,
entre eles o processo evaporativo que é um grande consumidor de vapor na concentração do caldo
clarificado a um teor de sólidos dissolvidos. A maneira como a estação de evaporadores é configurada
indica a quantidade de vapor que uma fábrica necessita e assim a determinação do sistema da
evaporação é uma das mais importantes considerações. O objetivo desse trabalho foi apresentar as
vantagens do uso de evaporadores múltiplo efeito, assim como aplicar estudos relacionados a
operações unitárias aplicadas a engenharia química. Para isto foi de grande importância a análise de
parâmetros de temperatura e °Brix dos evaporadores da indústria, sendo adotado valores médios para
a obtenção dos resultados. Os cálculos foram realizados admitindo os valores adquiridos na indústria,
estimando valores do coeficiente de transferência de calor. Após os resultados foi perceptível a
vantagem da utilização de um sistema evaporativo múltiplo efeito, por ter uma economia mais
elevada. Entretanto a economia não vem sem custos. Na proporção que os números de efeitos
aumentam a diferença de temperatura entre o vapor e as condições do seu final têm de ser
compartilhadas entre os evaporadores. Isto implica que a área de aquecimento tem que aumentar e

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isto trazem custos adicionais. Contudo o sistema evaporativo múltiplo efeito é de fato uma alternativa
executável para indústria, pela sua viabilidade produtiva, pela sua capacidade e pela sua grande
economia quando comparado a outros sistemas de evaporação.

Palavras-chave: Múltiplo efeito; Caldo clarificado; Evaporadores; Transferência de calor.

ABSTRACT
In a sugar-alcohol industry, there are so many process involving unitary operations, among them the
evaporative process, which is a major consumer of steam in the clarified cane juice concentration to
a content of dissolved solids. The way the evaporator station is configured indicates the amount of
steam a factory needs and so determining the evaporation system is one of the most important
considerations. The objective of this paper was to present advantages of the use of multiple effects
evaporators, as well studies related to the advantages of using unitary operations in chemical
engineering. For this, it was of great importance the analysis of industry evaporators parameters such
as, temperature and °Brix being assumed average values for the obtaining results. The calculations
were performed assuming the values acquired in the industry, estimating values of the heat transfer
coefficient. After the results was noticeable the advantage of using an evaporative multiple effect
system, because it has a higher economy. However, an economy does not come without costs. In
proportion as the number of effects increase the temperature difference between the vapor and the
conditions of its end have to be shared between the evaporators. This implies that the heating area
has to increase and this brings additional costs. However the multiple effect evaporative system is in
fact an executable alternative for industry, for its productive viability, for its capacity and for its great
economy when compared to other evaporation systems.

Keywords: Multiple effect; Clarified Cane Juice; Evaporators; Heat Transfer.

1 INTRODUÇÃO
A indústria que é capaz de transformar a matéria-prima da biomassa em diversos produtos, é
chamada de biorrefinaria, ela utiliza diferentes processos convectivos, que partem das plataformas
bioquímica e termoquímica. Entre as biomassas lignocelulósica e não oleaginosa existentes, a que tem
grande aplicação no território brasileiro é a cana de açúcar (ELY, 2009). O caldo de cana obtido da
extração se apresenta como uma mistura complexa que contém além dos componentes comuns da
cana-de-açúcar, material incorporado da colheita, transporte e das operações realizadas durante a etapa
de moagem (NUNES E FINZER, 2019).
No ponto de vista socioeconômico, a cultura da cana-de-açúcar é de grande importância e os
principais impactos positivos podem-se citar a geração de empregos e renda, sendo observado que o
setor sucroenergético se destaca por apresentar grande potencial econômico, decorrente da
comercialização de produtos e subprodutos do processamento da cana-de-açúcar como álcool e açúcar
e dada a grande experiência brasileira na produção dos produtos e sua posição de destaque nas
exportações destes se espera que a sua produção aumente significativamente a fim de atender à
crescente demanda interna e externa (DORNFELD E PAULILLO, 2020)

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A evaporação é a principal operação unitária na fabricação do açúcar e é utilizada para retirar
os quase 75% da água que contém o caldo e retirar o açúcar que vem na cana, com isto, tem-se um
alto consumo de energia, em forma de vapor (GONZÁLES, 2010).
O processo no qual uma solução com um solvente volátil e um soluto não volátil é concentrada
é chamada de evaporação (BUENO, 2011). Onde ocorre a vaporização do solvente e resulta em uma
solução final concentrada (MCCABE et al, 2004).
De acordo com Rain (2013), o processo evaporativo é o maior consumidor de vapor na
concentração do caldo clarificado a um teor de sólidos dissolvidos de cerca de 65 a 68%. A maneira
como a estação de evaporadores é configurada determina a quantidade de vapor que uma fábrica
necessita e assim a determinação do arranjo da evaporação é uma das mais importantes considerações.
A geometria do evaporador modifica sua estrutura de troca térmica, no entanto, há várias formas
diferentes de evaporadores eles podem ser constituídos por tubos horizontais ou por tubos verticais
(ARAUJO, 2012). É interessante lembrar ainda que a adição de bombas ao evaporador orienta o fluxo
da solução no interior do equipamento. Existem sistemas de evaporação que trabalham com apenas
um evaporador, fornecendo a solução na concentração desejada e há sistemas de múltiplos efeitos que
compõe dois ou mais evaporadores interligados em série. A sua composição ou o formato que sua
estrutura está arranjada dependem principalmente do tipo do tipo de aplicação e da função
desempenhada por estes equipamentos (FOUST et al. 2011).
O princípio da evaporação de múltiplo efeito foi criado por Norbet Rillieux, que foi um dos
primeiros engenheiros químicos estadunidense, esta invenção modificou radicalmente o processo na
usina de açúcar, com uma economia grande no uso do vapor e um caldo concentrado de maneira
contínua, contendo aproximadamente 70°Brix. Com a constante necessidade de energia do mundo, as
usinas buscam a otimização energética para ter uma operação sem consumo de outro combustível
adicional e dispor de sobra de combustível que permita gerar energia para venda. Foi também o
próprio Rillieux que criou a ideia da utilização do vapor gerado no sistema de concentração no
aquecimento e cozimento de açúcar - "sangrias dos evaporadores" (GONZALES, 2010).
O objetivo deste presente trabalho é apresentar o estudo sobre os processos evaporativos, assim
como os benefícios da utilização de evaporadores múltiplo efeito.

2 METODOLOGIA
Ao avaliar semanalmente os parâmetros de temperatura, pressão, vazão e °Brix nos
evaporadores, aplicou-se estes parâmetros em equações contidas na avaliação da aplicação do conceito
do evaporador múltiplo efeito. O estudo deste sistema foi realizado através da aplicação de um
conjunto de equações, as quais necessitam apenas das condições de entrada e saída de cada efeito.

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Ao aplicar o balanço material global, obteve-se as seguintes equações de acordo com FOUST
et al. (2011) e Araujo (2012):
𝐹 =𝐸+𝑆 (1)
Posteriormente foi calculado o soluto e com os valores obtidos realizou-se o cálculo do balanço
material para primeiro efeito utilizando as seguintes equações:
𝐹. 𝑥𝑓 = 𝑆4 . 𝑥𝑠4 (2)
F= E1 +S1 (3)
Do mesmo modo, o balanço de massa para o segundo, terceiro e quarto efeito:
𝑆1 = 𝐸2 + 𝑆2 (4)
𝑆2 = 𝐸3 + 𝑆3 (5)
𝑆3 = 𝐸4 + 𝑆4 (6)
Em seguida determinou-se a fração de concentrado de cada efeito com as equações posteriores:
𝐹. 𝑥𝑓 = 𝐸1 . 𝑥𝑒1 + 𝑆1 . 𝑥𝑠1 (7)
𝑆1 . 𝑥𝑠1 = 𝐸2 . 𝑥𝑒2 + 𝑆2 . 𝑥𝑠2 (8)
𝑆2 . 𝑥𝑠2 = 𝐸3 . 𝑥𝑒3 + 𝑆3 . 𝑥𝑠3 (9)
Para determinar as incógnitas deste processo, foi necessária a aplicação de balanço de energia,
sendo assim:
𝑞𝑐𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜 = 𝑞𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑑𝑜
𝑞𝑐𝑒𝑑𝑖𝑑𝑜 = 𝑊(ℎ𝑔 – ℎ𝑓)
𝑞𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑑𝑜 = 𝐸1 . ℎ𝑒 + 𝑆1 . ℎ𝑠 − 𝐹 . ℎ𝑓
Ou então:
𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎 = 𝑆𝑎𝑖
𝐹 . ℎ𝑓 + 𝑊 . ℎ𝑔 = 𝐸1 . ℎ𝑒 + 𝑊 . ℎ𝑓 + 𝑆1 . ℎ𝑠 (10)
O cálculo das entalpias é dado como:
𝑇
ℎ = ℎ0 + ∫𝑇 𝐶𝑝 𝑑𝑇 (11)
0

Conforme descrito em literatura por Astolfi (2011), o coeficiente de calor específico para o caldo
clarificado é descrito como:
𝐶𝑝 = 4,19 – 𝐴. 𝑤 (12)
𝐾𝐽
Onde 𝐴 é descrito como 3,38 [𝐾𝑔 °𝐶] e 𝑤 sendo o °Brix do caldo. A transferência de calor foi

considerada igual nos quatro efeitos. Portanto:


∑3𝑖=1 𝛥𝑇 = 𝛥𝑇1 + 𝛥𝑇2 + 𝛥𝑇3 = (𝑇𝑠 − 𝑇1 ) + (𝑇1 − 𝑇2 ) + (𝑇2 − 𝑇3 ) + (𝑇3 – 𝑇4 ) = 𝑇𝑠 − 𝑇4
(13)

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𝑊 °𝐶
Sabendo que cada efeito é dependente do coeficiente global de transferência de calor 𝑈𝑖 [ 𝑚2 ],

tem-se as seguintes expressões para a variação de temperatura dos efeitos:


(𝑈1 )
Δ𝑇1 = ∑4𝑖=1 𝛥𝑇 . 1 1
1
1 1 (14)
+ + +
𝑈1 𝑈2 𝑈3 𝑈4

(𝑈1 )
Δ𝑇2 = ∑4𝑖=1 𝛥𝑇 . 1 1
2
1 1 (15)
+ + +
𝑈1 𝑈2 𝑈3 𝑈4

(𝑈1 )
Δ𝑇3 = ∑4𝑖=1 𝛥𝑇 . 1 1
3
1 1 (16)
+ + +
𝑈1 𝑈2 𝑈3 𝑈4

(𝑈1 )
Δ𝑇4 = ∑4𝑖=1 𝛥𝑇 . 1 1
4
1 1 (17)
+ + +
𝑈1 𝑈2 𝑈3 𝑈4

Com isto, foi possível estabelecer a expressão que determina a temperatura interna de cada
efeito:
𝑇1 = 𝑇𝑠 − 𝛥𝑇1 (18)
𝑇2 = 𝑇1 − 𝛥𝑇2 (19)
𝑇3 = 𝑇2 − 𝛥𝑇3 (20)
As entalpias de vaporização e condensação do vapor de aquecimento, foram obtidas através da
tabela de propriedades de água saturada. Ao substituir os valores em cada termo da equação do balanço
de energia foram desconsideradas as perdas de calor do processo. Com todas as incógnitas
determinadas, tornou-se possível efetuar o cálculo do calor cedido em cada efeito:
𝐾𝐽
𝑞1 = 𝑊 . (ℎ𝑔 − ℎ𝑓 ) [ ℎ ] (21)
𝐾𝐽
𝑞2 = 𝐸1 . ℎ𝑓𝑔 [ ℎ ] (22)
𝐾𝐽
𝑞3 = 𝐸2 . ℎ𝑔 [ ℎ ] (23)
𝐾𝐽
𝑞4 = 𝐸3 . ℎ𝑓𝑔 [ ℎ ] (24)

Ainda foi possível determinar a área de troca térmica através da seguinte expressão:
𝑞
𝑖
𝐴𝑖 = 𝑈 .∆𝑇 (25)
𝑖 𝑖

Em que 𝑖 representa o efeito (1, 2, 3 ou 4). Em seguida, realizou-se o cálculo da economia do


sistema utilizando a expressão descrita abaixo:
∑𝐸
𝐸𝑐 = (26)
𝑊

E a partir desses valores obteve-se a taxa de evaporação:


Σ𝐸
𝑇𝑎𝑥𝑎 = (27)
𝐴

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O caldo clarificado da cana-de-açúcar passa por sistema evaporativo múltiplo efeito, que contém
quatro evaporadores acoplados conforme a Figura 1, com a finalidade de obter uma concentração de
aproximadamente 63,0 °Brix. A modelagem matemática utilizada no presente trabalho tem como
princípio a correta aferição dos dados, atestando assim, sua reprodutibilidade em vasta produção. O
produto a ser concentrado tem uma vazão de entrada no primeiro efeito de aproximadamente 428
m³/h, com um °Brix de aproximadamente 16,0. Embora alguns dados tenham sido adquiridos na
empresa, outros dados foram mantidos em sigilo industrial.

Figura 1 - Evaporadores da Usina em Sirinhaém – Pernambuco

Fonte: o Autor (2019)

𝑚3 𝐾𝑔
Inicialmente converteu-se a vazão de entrada de [ ℎ ]para [ ℎ ] que resultou:
𝑚3
𝐹 = 428 [ ℎ ] → sendo a densidade do caldo clarificado 1,05
𝐾𝑔
∴𝐹 = 428 ∗ 1000 ∗ 1,05 = 449400 [ ℎ ]

Sendo sua composição na entrada: 𝑥𝑓 = 0,16

Utilizando a vazão de entrada encontrada e adotando as concentrações iniciais e finais como os


valores do °Brix. Foram realizados cálculos através das equações demonstradas anteriormente para
encontrar as vazões de saída de líquido, as vazões mássicas de vapor em cada efeito. Os resultados
estão apresentados na Tabela 1:

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Tabela 1 - Vazões mássicas de vapor e vazões de saída de líquido
Vazões de saída Vazões mássicas
Efeitos 𝑲𝒈 𝑲𝒈
de líquido ( ) de vapor ( )
𝒉 𝒉

1º 365.580 83.817
2º 281.770 83.817
3º 197.950 83.817
4º 114.130 83.817

Com os dados apresentados na tabela acima foi possível calcular as concentrações de entrada e
saída em cada evaporador que estão apresentados em um gráfico apresentado na Figura 2.

Figura 2 - Determinação das concentrações na entrada e na saída dos evaporadores.

0,7
0,6
0,5
0,4
°Brix

0,3 Brix de entrada


0,2 Brix de saída
0,1
0
1 2 3 4
Evaporadores

Ao observar o gráfico foi perceptível a diferença entre os valores do °Brix, e que a concentração
prevista de 0,63 °Brix foi alcançada, ou seja, ocorreu a concentração do caldo até torna-se um xarope.
Um xarope de boa concentração é um produto de extrema importância em uma indústria no setor
de cozimento. Quando este tem uma baixa concentração, os efeitos negativos são muitos, provocando
aumento do consumo de vapor e do tempo de cozimento, bem como perdas de capacidade dos
equipamentos.
E em seguida foram encontradas as vazões e as concentrações, foi possível calcular as variações
de temperatura utilizando as Equações 13, 14, 15, 16 e 17 e em seguida a temperatura interna de cada
evaporador, a partir das Equações 18, 19 e 20.
Os valores do coeficiente global de transferência de calor foram estimados com base em
literaturas apropriadas, conforme Tabela 2.

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Tabela 2 – Estudo da influência do coeficiente global de transferência de calor no conceito de evaporadores de
múltiplo efeito.
Coeficiente Temperatura

Efeito Global [°𝑪]


𝑾
[𝒎𝟐 °𝑪]

1º 2500 106,09
2º 2319 91,09
3º 2194 75,24
4º 1496 52,0

De acordo com a Tabela 2, nota-se que as temperaturas decrescem, isto ocorre devido a uma
expansão isentalpica que ocorre quando a solução passa de um evaporador para outro por uma válvula,
este nome se dá pois não há variação de entalpia apenas de temperatura e pressão, pois há uma
necessidade de diminuir a temperatura para que não atrapalhe o processo, logo diminui-se a pressão
para uma menor que a atmosférica para que o líquido que é a água entre em ebulição com uma
temperatura mais baixa. Visto que a temperatura final da solução, isto é, o xarope, tem que ser de
aproximadamente 55°C. Também é interessante avaliar que a evaporação em múltiplo efeito terá a
capacidade de reduzir a temperatura conforme passam os efeitos, tal execução não é possível ao
utilizar um simples efeito por ser apenas um evaporador e trabalhar com apenas uma temperatura e
pressão.
A partir das temperaturas e dos coeficientes foi possível construir gráficos da temperatura com
relação aos evaporadores e de coeficiente com relação aos evaporadores, que podem ser observados
nas Figura 3 e Figura 4 respectivamente, a fim de afirmar que o coeficiente global de transferência de
calor e as temperaturas do sistema são diretamente proporcionais.

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Figura 3 – Comportamento da temperatura ao longo dos efeitos.

120
106,09
91,09
100
Temperatura (°C)

75,24
80
52
60

40

20

0
1 2 3 4
Evaporadores

Nota-se que as temperaturas iniciais são altas, mas em seguida ocorre a necessidade de diminui-
las, pois em temperaturas muito altas pode ocorrer a deterioração da sacarose transformando-a em
furfural não sendo possível a obtenção do xarope.

Figura 4 – Variação do coeficiente global de transferência de calor ao longo dos efeitos.

3000
2500 2319
2500
Coeficiente W/(m2K)

2194
2000
1496
1500

1000

500

0
1 2 3 4
Evaporadores

De acordo com a Figura 4 observou-se que a medida que o coeficiente diminuía a temperatura
também diminuía, levando a compreender que são diretamente proporcionais, ou seja, a variação da
temperatura vai depender da variação do coeficiente global de transferência de calor.
Outra observação importante é o coeficiente está ligado diretamente á concentração do fluido,
pois a medida em que a concentração aumenta, ocorre também um aumento na sua viscosidade,

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podendo causar incrustações no interior do equipamento causando aumento na resistência térmica e
reduzindo a taxa de transferência de calor. De acordo com o procedimento dos cálculos mencionados,
a partir dos valores das temperaturas, foi possível obter os valores das entalpias liquida da água e a
entalpia de vaporização, assim como o valor da entalpia do caldo da cana, com a tabela de propriedades
de água saturada e utilizando as Equações 11 e 12:
𝐾𝐽
ℎ𝑓𝑔 = 2202,6 [ ]
𝐾𝑔
𝐾𝐽
ℎ𝑠 = 503,71 [ ]
𝐾𝑔
𝐾𝐽
ℎ𝑒 = 2686,6 [ ]
𝐾𝑔
𝐾𝐽
ℎ𝑓 = 419,658 [ ]
𝐾𝑔
Em seguida foi realizado o balanço de energia utilizando a equação (10) para obter a massa de
água vaporizada por unidade de tempo:
𝐾𝑔
𝑊 = 100.214 [ ]

Com isto, percebe-se que a cada uma hora 100.214 kg de água são evaporados, ou seja, depois
de uma hora terão sido evaporados aproximadamente 30% da quantidade de água presente no sistema.
Ao realizar os devidos cálculos percebeu-se que serão necessários aproximadamente três horas e meia
para evaporar toda a massa de água.
Ao substituir os valores encontrados anteriormente em cada equação do balanço de energia,
desconsiderou-se as perdas de calor. Com todas as incógnitas encontradas, foi determinado o calor
cedido em cada efeito com as Equações 21, 22, 23, e 24 e transformando a unidade resultante para
[W]:
𝑞1 = 61363359,53 [𝑊]
𝑞2 = 52161949,53 [𝑊]
𝑞3 = 53046852,87 [𝑊]
𝑞4 = 53944921,3 [𝑊]

Como calor é a energia em trânsito, ou seja, é a energia transferida de um sistema para outro.
Esta transferência de energia é altamente vantajosa para as indústrias visto que só há consumo de
energia no primeiro efeito, no entanto nos demais há o reaproveitamento dela. Ou seja, haverá uma
grande quantidade de água evaporada com um pequeno consumo de energia. Após encontrar os
valores do calor cedido foram determinadas as áreas de troca térmica em cada efeito:

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𝐴1 = 1764,6 [𝑚2 ]
𝐴2 = 1500,0 [𝑚2 ]
𝐴3 = 1525,4 [𝑚2 ]
𝐴4 = 1551,3 [𝑚2 ]

Com todos os dados foi possível calcular a economia:

𝐾𝑔 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟𝑖𝑧𝑎𝑑𝑎
𝐸𝑐 = 3,3455 [ ]
𝐾𝑔 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜

De acordo com o valor obtido para a economia do processo, é possível notar que no sistema
múltiplo efeito a cada Kg de vapor consumido são evaporados 3,3455 Kg de água. Ao realizar um
levantamento de dados de trabalhos acadêmicos foi observado que a economia para evaporadores
simples efeito normalmente resulta ≈ 0,8 kg, logo compreende-se que mesmo utilizando uma grande
quantidade de vapor no processo não haverá um rendimento tão proveitoso, pois para cada 1 kg de
vapor utilizado, está se evaporando cerca de 0,8 kg da solução. Ao comparar sistemas evaporativo
múltiplo efeito e um sistema simples efeito, percebe-se que a concentração final do xarope será a
mesma, porém o consumo de energia será maior, tal coisa pode não ser viável na indústria
sucroalcooleira, pois ao utilizar um simples efeito seria necessário uma maior geração de energia para
ser transferida ao evaporador, o que remete a maiores e menores rendimentos.
A economia de vapor também ocorre devido a reutilização do vapor, pois por serem interligados
o vapor passa de um para o outro, para que assim não ocorra perda de vapor. Posteriormente calculou-
se a taxa de evaporação:

83817
𝑇𝑎𝑥𝑎1 = = 47,4987[𝐾𝑔/𝑚². ℎ]
1764,6
83817
𝑇𝑎𝑥𝑎2 = = 55,8775[𝐾𝑔/𝑚². ℎ]
1500,0

83817
𝑇𝑎𝑥𝑎3 = = 54,9461[𝐾𝑔/𝑚². ℎ]
1525,4

83817
𝑇𝑎𝑥𝑎4 = = 54,0307[𝐾𝑔/𝑚². ℎ]
1551,3
A taxa de evaporação é a quantidade de líquido evaporado por unidade de área, por este motivo
é interessante considerar esta taxa, para ter o conhecimento de quanto está sendo evaporado em cada
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efeito e quanto o valor da área pode interferir no processo. A taxa depende muito da diferença de
temperatura entre o vapor de aquecimento e o vapor gerado, como também da temperatura com que o
caldo é inserido no equipamento.
Um evaporador gerando vapor vegetal de baixa pressão, desde que a pressão do vapor de escape
esteja correta, ele terá taxas de evaporação melhores porque existe uma diferença de temperaturas
entre o vapor fora dos tubos e o caldo dentro dos tubos. Todos os cálculos foram realizados com o
auxílio do software MatLab que se apresenta o código fonte no Apêndice.
Após a realização do dimensionamento concluiu-se que, o equipamento está dentro dos padrões
para o processo e fabricação de açúcar, pois os resultados comportam-se de acordo com os parâmetros
esperados.

4 CONCLUSÃO
Dentre os resultados obtidos na avaliação do conceito proposto, pode ter ocorrido discrepâncias
em alguns valores devido a suposições do calor específico, do coeficiente de transferência de calor e
de haver desconsiderado a elevação da temperatura ou perdas de calor. Tendo em vista que são valores
com altas interferência no processo, pois as perdas de calor têm grande significado nos primeiros
efeitos uma vez que uma perda na evaporação afetará todos os vasos subsequentes e a elevação da
temperatura que é a consequência das alterações do líquido e que provoca alterações nas pressões e
purezas.
De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, observa-se que um menor consumo de
vapor geralmente combina com a necessidade de uma superfície maior. Rillieux descreve claramente
que o número de efeitos está diretamente ligado a economia de vapor, ou seja, uma evaporação quatro
efeitos requerem 1/4 Kg de vapor para que 1 Kg de água seja evaporado.
Entretanto, a economia não vem sem custos. Na proporção que o número de efeitos aumenta, a
diferença de temperatura entre o vapor e as condições do seu final tem de ser compartilhada entre os
evaporadores. Isto implica, que a área de aquecimento tem que aumentar e isto traz custos adicionais.
No entanto, estes trazem um benefício maior em termos de eficiência e economia.
De modo geral, a partir dos resultados obtidos neste trabalho, observou-se que a aplicação do
sistema múltiplo efeito cocorrentes são de fato uma alternativa executável para indústria, pela sua
viabilidade produtiva, pela sua capacidade e pela sua grande economia quando comparado a outros
sistemas de evaporação.

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NOMENCLATURA

Ai - área de troca térmica do evaporador i [m2]


Cp - calor específico [Kj/Kg °C]
Ec - economia do sistema
Ei - vazão de vapor no evaporador i [Kg.h-1]
F - vazão de alimentação do caldo clarificado [Kg.h-1]
hF – entalpia do líquido em F [KJ/Kg]
hfg - entalpia de vaporização da água [KJ/Kg]
hs - entalpia do líquido em S [KJ/Kg]
i = 1,2,3 ou 4
q - taxa de calor cedido [KJ.h-1]
Si - vazão de saída do líquido evaporador i [Kg.h-1]
Ti - temperatura do evaporador i [°C]
Ui - coeficiente global de transferência de calor do evaporador i [W.°C.(m2)-1]
W - vapor perdido [Kg.h-1]
xei - concentração de vapor do evaporador i
xf - concentração do caldo clarificado
xsi - concentração de líquido no evaporador i

REFERÊNCIAS

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Aletados. Dissertação de pós-graduação, Universidade Estadual Paulista, São Paulo. 2011

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de melhorias dos funcionários em uma empresa de transporte de usina de açúcar e etanol, Brazilian
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RAIN, P. Engenharia do açúcar da cana. Stone, Inglaterra. 876 P, 2013

APÊNDICE

clear all
clc
% evaporador quatro efeitos
% variáveis
F=449400.0; %vazão de entrada
Xf=0.16; %porcentagem de sólidos na vazão de entrada
Xs4=0.63; %porcentagem de sólidos na vazão de saída
Tf=115.0; %temperatura de entrada no evaporador
Tsat=120.0; %temperatura de saturação
Te3=52; %temperatura de saída no terceiro efeito
U1=2500;
U2=2319;
U3=2194;
U4=1496;
%vazão de saída
S4=F*Xf/Xs4;
%vazão dos caldais de vaporização
E=F-S4;
E1=E/4;
E2=E1;
E3=E2;
E4=E3;
%balanço de massa global
S1=F-E1;
S2=S1-E2;
S3=S2-E3;
S4=S3-E4;
%balanço de massa dos sólidos;
Xs1=F*Xf/S1;
Xs2=S1*Xs1/S2;
Xs3=S2*Xs2/S3;
Xs4=S3*Xs3/S4;
%determinação das variações de temperatura de cada efeito
dT=Tsat-Te3;
dT1=dT*(1/U1)/(1/U1+1/U2+1/U3+1/U4);
dT2= dT*(1/U2)/(1/U1+1/U2+1/U3+1/U4);
dT3= dT*(1/U3)/(1/U1+1/U2+1/U3+1/U4);
dT4= dT*(1/U4)/(1/U1+1/U2+1/U3+1/U4);
%temperatura de ebulição de cada efeito

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34177
Brazilian Journal of Development
T1=Tsat-dT1;
T2=T1-dT2;
T3=T2-dT3;
T4=T3-dT4;
%calores específicos de entrada e saída da solução;
cpf=4.19-3.38*Xf;
cps4=4.19-3.38*Xs4;
%entalpias (kJ/kg) graus celsius
Hfg=2202.6; %120.0 Celsius
Hs=503.71;
He=2686.552; %para temperatura um
Hf=cpf*Tf;
%calculando o vapor perdido através do balanço de energia
W=(E1*He+S1*Hs-F*Hf)/Hfg;
%para o cálculo da taxa de calor cedido foram usadas entalpias encontradas na tabela de propriedades de
água saturada.
HfgT1=2238.611; %para T1
HfgT2=2276.558; %para T2
HfgT3=2315.130; %para T3
%cálculo do calor cedido em cada evaporador
%sabendo que se deve transformar para Watt, foi utilizado o fator de transformação 0,278
q1=(W*Hfg)*0.278;
q2=(E1*HfgT1)*0.278;
q3=(E2*HfgT2)*0.278;
q4=(E3*HfgT3)*0.278;
%determinação das áreas
A1=q1/(U1*dT1);
A2=q2/(U2*dT2);
A3=q3/(U3*dT3);
A4=q4/(U4*dT4);
%determinação da economia
Ec= E/W;
%determinação da taxa de evaporação
Ta1=E1/A1;
Ta2=E2/A2;
Ta3=E3/A3;
Ta4=E4/A4;

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 34163-34177, jun. 2020. ISSN 2525-8761

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