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CURSO DE ARBITRAGEM

DA
ORDEM DOS ADVOGADOS DE ANGOLA
AULA 4 – O PROCESSO ARBITRAL

SOFIA VALE
ÍNDICE

I. Princípios do processo arbitral


II. Fases do processo arbitral
III. Actos preparatórios do processo arbitral
IV. O processo arbitral perante os árbitros
V. Arbitragens multipartes
VI. A prova no processo arbitral
VII. Questões Práticas
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I. PRINCÍPIOS DO PROCESSO ARBITRAL

1. Contratualização do processo: as partes podem definir as regras que desejam


2. Inaplicabilidade dos códigos processuais comuns: os árbitros podem – no silêncio
das partes - estabelecer as regras que considerem mais adequadas
3. Princípio da igualdade das partes (paridade processual): representa a
consagração em sede arbitral do princípio da igualdade dos cidadãos perante a
lei, plasmado na Constituição da República de Angola. O que se pretende é
assegurar que as partes são tratadas com absoluta igualdade ao longo de todo o
processo, podendo exercer as faculdades e os meios de defesa que lhes assistem
em igualdade de condições. – 18.º LAV
4. Princípio do contraditório (paridade de armas), ou seja todo o acto produzido por
meio do processo caberá o mesmo direito à outra parte de se manifestar
discordando, aceitando ou até mesmo modificando os factos e o direito alegado
pelo autor, de acordo com o juízo de conveniência. – 18.º LAV
5. Audição prévia (oral ou escrita) antes da prolação da sentença
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Artigo 18.º do Regulamento do CREL - (Regras de procedimento e condução da
arbitragem)
1. Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, o tribunal arbitral conduz a
arbitragem do modo que considere mais apropriado, incluindo através da fixação de
regras processuais que não contendam com as disposições inderrogáveis do presente
Regulamento.
2. No exercício do poder de condução da arbitragem, o tribunal arbitral deve, tendo
em conta as circunstâncias do caso concreto, promover a celeridade e eficácia e dar
às partes uma oportunidade razoável de fazerem valer os seus direitos, sempre com
respeito pelos princípios da igualdade e do contraditório.
3. As partes devem ser ouvidas antes de proferida a decisão final. 4
Criação de um
ambiente de Interação do tribunal
confiança e de com os advogados
cooperação entre os das partes
árbitros

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II. FASES DO PROCESSO ARBITRAL

FASE DE
INSTAURAÇÃO
DO PROCESSO

e FASE FASE FASE


CONFIRMATÓRIA INSTRUTÓRIA CONCLUSIVA

FASE DE
CONSTITUIÇÃO
DO TRIBUNAL

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• Apresentação da petição e da contestação
FASE DE • Se arbitragem institucional, esta fase fica a cargo do Centro de Arbitragem
INSTAURAÇÃO

• Segue em simultâneo com a fase anterior


FASE DE
• Designação dos árbitros de parte
CONSTITUIÇÃO
DO TRIBUNAL
• Declaração de independência e de imparcialidade (e de neutralidade) dos árbitros

• As partes e os árbitros reúnem-se e assinam a Acta de Missão, que define as regras do processo
FASE
CONFIRMATÓRIA

• As partes oferecem as provas


• Em arbitragens internacionais, esta pode ser a única fase em que as partes e o tribunal arbitral
FASE
INSTRUTÓRIA se encontram fisicamente

• As partes apresentam alegações/conclusões (orais ou escritas)


FASE • O tribunal emite a sentença arbitral
CONCLUSIVA 7
III. ACTOS PREPARATÓRIOS DO PROCESSO

Requerimento de Constituição do Audiência de


arbitragem Tribunal Arbitral instalação do
Tribunal Arbitral

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REQUERIMENTO DE ARBITRAGEM

A parte que pretenda despoletar a arbitragem deve elaborar o Requerimento de


Arbitragem, por escrito – 20.º, n.º 1, LAV.

O Requerimento de Arbitragem deve conter:


Identificação das partes e morada para efeitos de notificação
Pedido claro de que o litígio seja submetido a arbitragem
Cópia do contrato ou da cláusula arbitral, na qual se baseia o pedido de arbitragem
Referência ao contrato do qual emergiu o litígio
Descrição sumária do litígio e, se possível, indicação do montante dos danos que se
reclamam
Indicação do árbitro que cabe à demandante indicar ou proposta de árbitro único (a
indicar de comum acordo pelas partes)
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RESPOSTA AO REQUERIMENTO DE ARBITRAGEM

A parte demandada responde ao requerimento de arbitragem e nomeia o árbitro


que lhe cabe ou, sendo o caso, propõe um nome para árbitro único – o processo
segue.

Mesmo que não haja uma cláusula arbitral no contrato, se a parte demandada
responde ao requerimento estamos perante uma aceitação tácita da arbitragem –
o processo segue.

Se não existe cláusula arbitral e o demandado não responder, o processo não


segue.
Se existir cláusula arbitral e a parte demandada não responder, o processo segue
à revelia. – art. 23.º Regulamento do CREL

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REVELIA

Deve ser assegurado o princípio do contraditório em todas as fases do


processo arbitral, devendo o demandado ser citado para se defender -18º, al.
b) da LAV:
É permitido o julgamento de litígios arbitrais no âmbito de processos em
que o demandado, regularmente citado, não contesta, não constitui
mandatário nem intervém de qualquer forma no processo – revelia absoluta
É permitido o julgamento de litígios arbitrais quando o demandado
apenas constitui mandatário ou de alguma forma intervém no processo, mas
não contesta - revelia relativa

A LAV não estabelece nenhum efeito cominatório para a revelia, sendo


os factos livremente apreciados pelo tribunal arbitral.
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CONSTITUIÇÃO DO TRIBUNAL ARBITRAL

Nos centros de arbitragem há listas de árbitros que as partes podem consultar, com
o nome e um resumo do CV dos árbitros, que lhes permite escolherem o árbitro mais
adequado.
Se não houver acordo das partes, a nomeação dos árbitros cabe ao Coordenador Administrativo
do CREL.
Nas arbitragens ad hoc, as partes nomeiam cada uma o seu árbitro e, depois, os
árbitros de parte nomeiam o presidente do tribunal arbitral.
Em arbitragens institucionais ou ad hoc é comum fazer-se uma reunião preliminar
interna antes da Audiência de Instalação do Tribunal Arbitral, que tem em vista:
Explicar aos árbitros os seus deveres éticos (Código de Deontologia dos Árbitros do CREL);
Explicar aos árbitros a dinâmica do calendário processual;
Definição do calendário processual a aplicar àquela concreta arbitragem, que será, depois,
proposto às partes.

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Artigo 27.º do Regulamento do CREL - (Definição ou recusa de constituição do tribunal arbitral)
1. Apresentados o Requerimento de Arbitragem e eventuais Respostas, e decididos eventuais incidentes
que hajam sido suscitados, o Coordenador Administrativo do CREL define a composição do tribunal
arbitral, designando o árbitro ou árbitros que lhe caiba nomear, nos termos da convenção de arbitragem
e do Regulamento, sem prejuízo do disposto no número seguinte.
2. O Coordenador Administrativo do CREL recusa a constituição do tribunal arbitral nos seguintes casos:
• Inexistência ou manifesta nulidade da convenção de arbitragem;
• Incompatibilidade manifesta entre a convenção de arbitragem e disposições inderrogáveis do
Regulamento;
• Quando, não existindo convenção de arbitragem, o demandante tenha apresentado proposta de
celebração de convenção de arbitragem que remeta para o Regulamento e a outra parte, depois
de citada, não apresente defesa ou recuse expressamente a realização da arbitragem;
• Quando as partes não prestem a provisão inicial para encargos da arbitragem.
3. O tribunal arbitral considera-se constituído com a aceitação do encargo pelo árbitro ou árbitros que o
compõem. 13
AUDIÊNCIA DE INSTALAÇÃO DO TRIBUNAL ARBITRAL

Ocorre depois de todos os árbitros terem aceitado o encargo.


Apesar de não haver referência a ela em muitos regulamentos de arbitragem, aconselha-se a
sua realização.
A audiência de instalação é o acto formal de estabelecimento do tribunal arbitral, e tem em
vista: - Audiência Preliminar – art. 30,º, n.º 1, do Regulamento do CREL
1) Apresentar o tribunal às partes

2) Entregar todo o expediente ao presidente do tribunal

3) Nomear o Secretário do tribunal

4) Fixar os honorários dos árbitros e as despesas iniciais do processo (remuneração do


secretário, emolumentos do centro de arbitragem, etc.)
5) Lê-se a cláusula arbitral (ou o compromisso arbitral) e fixa-se a competência do tribunal
arbitral – art. 29.º, n.º 1, Regulamento do CREL
6) Ouve-se as partes sobre as regras processuais que conduzirão a arbitragem (sede,
meios de prova, prazos, questões de prova, etc.) e o calendário arbitral

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Desta reunião lavra-se uma acta, que vai assinada pelos árbitros e pelas partes.
IV. O PROCESSO ARBITRAL PERANTE OS ÁRBITROS

Acta de Escritos e Audiências Alegações


Missão e Documentos Prova Arbitrais Finais
Calendário

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CALENDÁRIO DE TRABALHOS

Apesar de a maioria dos centros de arbitragem não o regularem, é um elemento


de rigor essencial para disciplinar todos os envolvidos na arbitragem – art. 30.º, n.º
2, al. b), do Regulamento do CREL
Permite ao tribunal controlar o processo;
Permite às partes prepararem-se atempadamente para os actos processuais a
praticar.
Deve constar de um documento escrito e conter datas indicativas para todos os
passos a dar ao longo do processo.
O calendário é desenhado na Audiência de Instalação do Tribunal Arbitral (em
conjunto com as partes), podendo ser modificado pelo tribunal arbitral consoante
as necessidades do processo (devendo as partes ser ouvidas).

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ACTA DE MISSÃO (OU TERMOS DE REFERÊNCIA)

Tem vantagens técnicas, psicológicas e jurídicas, porque permite:


Estruturar e circunscrever o litígio
Fixar os pontos em que as partes estão de acordo quanto a questões
processuais (idioma, procedimento em matéria de provas e depoimentos, valor
da causa, etc.) e questões materiais em litígio
Disciplina o tribunal arbitral e as partes
Permite ao tribunal verificar, quando vai proferir a sentença, se respeitou o
âmbito da decisão (o infra e o ultra petita)
Esta metodologia utilizada pela CCI é hoje aplicada em todas as arbitragens
institucionais ou ad hoc.
A acta de missão é assinada pelos árbitros e pelas partes.

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Artigo 30.º do Regulamento do CREL (Audiência preliminar)
2. O tribunal arbitral, ouvidas as partes ou no prazo máximo de trinta (30) dias,
define:
• As questões a decidir;
• O calendário processual provisório, incluindo a data ou datas da audiência;
• Os articulados a apresentar, os meios de prova e as regras e prazos quanto à sua produção;
• A data até à qual podem ser juntos pareceres;
• As regras aplicáveis à audiência, incluindo, se tal for julgado conveniente, o tempo máximo
disponível para a produção de prova, respeitando o princípio da igualdade;
• O prazo e modo de apresentação de alegações finais;
• O valor da arbitragem, sem prejuízo da possibilidade de modificação superveniente.

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REUNIÕES E DELIBERAÇÕES DO TRIBUNAL

São reuniões de trabalho que os árbitros têm e que, em regra, não estão
disciplinadas nos Regulamentos dos centros de arbitragem:
As partes não estão presentes. Só participam os árbitros e as pessoas que
apoiam o tribunal arbitral (o Secretário).
As reuniões são confidenciais.
Discute-se a dinâmica do calendário processual e elaboram-se informações que
servem de guia para os árbitros.
Preparam-se decisões interlocutórias sobre questões processuais.
O presidente do tribunal é quem conduz as reuniões, como entender.
Podem ocorrer em qualquer lugar que o tribunal arbitral entenda conveniente.

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NOTIFICAÇÕES

Cabe ao Secretariado do tribunal arbitral efectuar as notificações às partes e receber os escritos e


documentos que estas remetem ao tribunal.
Deve privilegiar-se as notificações electrónicas.
Artigo 45.º do Regulamento do CREL (Citações, notificações e comunicações)
1. As citações, notificações e comunicações são efectuadas por qualquer meio que proporcione prova da
recepção, designadamente, por carta registada, entrega por protocolo, ou correio electrónico.
2. Até à constituição do tribunal arbitral, quando não for possível o envio por meios electrónicos nem a sua
apresentação sob forma digitalizada, todas as comunicações são apresentadas no Secretariado, em tantos
exemplares quantas as contrapartes intervenientes no processo arbitral, acrescidos de um exemplar para cada um
dos árbitros e de um exemplar para o Secretariado.
3. Após a constituição do tribunal arbitral, e sem prejuízo das regras fixadas pelo mesmo, todos os articulados,
requerimentos e documentos que os acompanhem, bem como as demais comunicações com o tribunal, devem ser
levados ao conhecimento de todos os seus membros, de todas as partes e do Secretariado, por qualquer dos
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meios previstos no n.º 1, valendo essas comunicações como notificações.
ESCRITOS E DOCUMENTOS DAS PARTES

As partes apresentam ao tribunal arbitral diversos escritos e documentos ao longo do processo:


Requerimento de arbitragem: dá início ao processo – art. 19.º do Regulamento do CREL
Resposta ao Requerimento de Arbitragem: - art. 20.º do Regulamento do CREL
Petição:
nas arbitragens ad hoc, depois de constituído o tribunal, este notifica o demandante para apresentar a
petição.
No Regulamento do CREL, a petição deve ser apresentada logo com o Requerimento de Arbitragem – art.
19.º
Contestação: pode ser uma simples contestação ou incluir pedidos reconvencionais
Nas arbitragens ad hoc, depois de constituído o tribunal, e de o demandante apresentar a petição, o
demandado é notificado para apresentar a contestação.
No Regulamento do CREL, a contestação deve ser apresentada logo com a Resposta ao Requerimento de
Arbitragem – art. 20.º
Resposta à Reconvenção: o tribunal decide se deve existir este escrito.
Comunicações, pedidos, avisos ou outros escritos: sempre que necessários. 21
AUDIÊNCIAS ARBITRAIS

Promovem a oralidade.
Servem para:
Discutir questões processuais
Ouvir testemunhas e peritos
Ouvir as partes
O tribunal é que determina como se organiza a audiência.
O número de audiências varia de acordo com a natureza de cada processo:
Audiências de produção de prova: no CREL deve realizar-se sempre uma audiência para
produção de prova, desde que uma das partes a requeira (31.º, n.º 3, Regulamento do CREL)
Audiência para alegações orais (eventual)
Confidencialidade: só podem estar presentes as pessoas autorizadas pelo tribunal.

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ALEGAÇÕES

As alegações devem:
Resumir os argumentos de direito que justificam que a razão assiste à parte em questão
Não devem repetir o já peticionado, mas efectuar o pedido tendo em conta o que foi
dado como provado ou não provado ao longo do processo
Ser apresentadas de modo claro e conciso

Podem ser orais, escritas ou ambas – art. 32.º, n.º 1, do Regulamento do CREL, que confere
margem aos árbitros para determinar como devem ser apresentadas
Deve indicar-se um tempo limite para as alegações orais que, em regra, é de 1 hora.

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V. ARBITRAGENS MULTIPARTES

• É a regra geral
2 PARTES

• Quando uma convenção de arbitragem é subscrita por mais de 2 partes


PLURALIDADE DE • Ex: contratos com consórcios, sub-contratos, litígios societários, acordos
PARTES ORIGINÁRIA parassociais, e também as estratégias terroristas em que uma parte tenta
“plantar” no litígio um demandado que lhe seja favorável.

PLURALIDADE DE
• Quando há lugar à intervenção de terceiros no processo arbitral
PARTES
SUBSEQUENTE
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PLURALIDADE DE PARTES ORIGINÁRIA

O problema: a relação material levada perante o tribunal arbitral tem mais de


duas partes, sendo necessário que todas intervenham no processo, i.e., que a acção
seja proposta por todas ou contra todas, sob pena de se verificar ilegitimidade
(litisconsórcio necessário).
A solução tradicional: o grupo de partes que não consiga escolher de comum
acordo um dos co-árbitros deve recorrer à entidade de nomeação.
Artigo 9.ºdo Regulamento do CREL (Pluralidade de partes)
Em caso de pluralidade de partes, considera-se como parte, para efeitos de designação
de árbitros, o conjunto dos demandantes ou dos demandados.

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PLURALIDADE DE PARTES SUBSEQUENTE

O problema: A admissibilidade de um requerimento de intervenção de terceiros,


quer seja provocada, quer seja espontânea deve depender de requisitos
específicos do processo arbitral, como a existência de convenção de arbitragem, a
importância da vontade das partes, o princípio da igualdade das partes e da
eficiência do processo.

A solução: só poderá intervir caso se verifique um consenso entre as partes,


devendo os árbitros decidir sobre a pertinência do pedido. Caso seja autorizado,
há uma extensão subjectiva da convenção de arbitragem ao terceiro, que fica
vinculado pela decisão arbitral.

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Artigo 25.º do Regulamento do CREL (Intervenção de terceiros)
1. É admissível a intervenção de terceiros no procedimento arbitral sempre que:
• Os mesmos estejam vinculados a todas as partes, pela mesma convenção de arbitragem;
• Os mesmos estejam vinculados por outra convenção de arbitragem, compatível com a convenção de arbitragem na qual se funda o
respectivo Requerimento, quando as circunstâncias do caso concreto revelem que, no momento da celebração das convenções de
arbitragem, todas as partes aceitaram que o procedimento arbitral pudesse decorrer com a sua presença.

2. Se a intervenção for requerida antes da constituição do tribunal arbitral, compete ao Coordenador Administrativo do CREL
decidir sobre a sua admissão, depois de ouvidas as partes e o terceiro.
3. Sendo admitida a intervenção requerida antes da constituição do tribunal arbitral, esta rege-se pelo disposto para a
pluralidade de partes, ficando sem efeito a designação de árbitro, efectuada pela parte associada ao terceiro interveniente e
fixando-se prazo de oito (8) dias, para que estes acordem sobre o árbitro que lhes compete designar.
4. A decisão do Coordenador Administrativo do CREL que admita a intervenção de terceiros, nos termos dos números
anteriores, não vincula o tribunal arbitral, mantendo-se inalterada a sua constituição, qualquer que seja a decisão que o
tribunal arbitral venha a tomar quanto à intervenção daqueles.
5. Se a intervenção for requerida após a constituição do tribunal arbitral, a decisão sobre a admissão da intervenção compete
ao tribunal, ouvidas as partes e o terceiro, só podendo ser admitida a intervenção de terceiro que declare aceitar a
composição do tribunal.
6. Em qualquer caso, a intervenção espontânea implica sempre a aceitação da composição do tribunal naquele momento. 27
VI. A PRODUÇÃO DE PROVA

A prova deve ser admissível e pertinente, de modo a conduzir à convicção dos


factos apresentados.
São admitidos todos os tipos de prova – art. 21.º, n.º 1, LAV
Audição das partes, até como testemunhas
Prova testemunhal
Opinião de peritos
Exames e verificações pelo tribunal
Prova documental
Regras da American Bar Association sobre Produção de Prova em Arbitragem
Comercial Internacional

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REGRAS DO TRIBUNAL ARBITRAL QUANTO À PRODUÇÃO DE PROVA

O tribunal arbitral tem uma grande margem de conformação das regras relativas
à produção de prova, que acorda com as partes, e fixa na Acta de Missão. Decide,
por ex:
• A base instrutória (selecção da matéria de facto para a decisão da causa) deve existir?
• As partes podem testemunhar sem limitações?
• Que limites e regras para a obtenção de meios de prova em poder da parte contrária ou
de terceiros?
• Devem existir depoimentos escritos das testemunhas? E entregues com os articulados?
• Perícia colegial ou testemunhas peritos (“expert witnesses”)? A questão da prova do
Direito e dos pareceres jurídicos.
• Que regras para os interrogatórios (“cross examination”, até que ponto?)
• As alegações finais de facto e de direito, orais ou escritas, em conjunto ou separadas?
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Artigo 31.ºdo Regulamento do CREL - (Diligências de instrução)
2. Compete ao tribunal arbitral determinar a admissibilidade, pertinência e valor de qualquer
prova produzida ou a produzir.
3. O tribunal arbitral procede à instrução, no mais curto prazo possível, podendo recusar
diligências que as partes lhe requeiram, se entender não serem relevantes para a decisão ou
serem manifestamente dilatórias.

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QUANDO DEVE A PROVA SER APRESENTADA?

A prova deve ser apresentada juntamente com a petição, com a contestação e com
a resposta à reconvenção.
mas o tribunal arbitral pode sempre autorizar a apresentação de provas em
momento ulterior.

Artigo 31.º do Regulamento do CREL - (Diligências de instrução)


5. Sem prejuízo das regras definidas pelo tribunal arbitral, os articulados devem ser
acompanhados de todos os documentos probatórios dos factos alegados, só sendo admissível a
apresentação de novos documentos em casos excepcionais e mediante a autorização do
tribunal arbitral.

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QUEM REQUER A PROVA?

A prova pode ser requerida pelas partes ou pelo tribunal – 21.º, n.º 1, LAV

Artigo 31.º do Regulamento do CREL - (Diligências de instrução)


4. O tribunal arbitral pode, por sua iniciativa ou a requerimento de uma ou de ambas as
partes:
• Ouvir as partes ou terceiros;
• Promover a entrega de documentos em poder das partes ou de terceiros;
• Nomear um ou mais peritos, definindo a sua missão, e recolher o seu depoimento ou os seus
relatórios;
• Proceder a exames ou verificações directas.

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OBTENÇÃO DE MEIOS DE PROVA EM PODER DA PARTE CONTRÁRIA
OU DE TERCEIROS

O problema: o tribunal arbitral carece de força coercitiva para impor às partes ou a


terceiros a colaboração necessária em matéria de produção de prova – o dever de
colaboração que existe no processo judicial aqui está muito enfraquecido.
Ex: as notificações para as testemunhas comparecerem no processo arbitral constituem um
simples convite.
Ex: o tribunal arbitral pode notificar terceiros, não vinculados pela convenção de
arbitragem, a apresentarem documentos… mas eles não estão vinculados a tal.

A solução: em caso de recusa de apresentação de documentos em poder da parte contrária


(arts. 528º e 529º do CPC), recusa de cumprir a requisição de documentos (arts. 535º e
537º do CPC), recusa de prestação de depoimento de parte (art. 552º e ss do CPC), recusa
em testemunhar (art. 616º e ss do CPC), recusa de cumprimento de deveres de perito (art.
568º e ss do CPC) e recusa de permitir a inspecção de coisas ou de pessoas (art. 612º e ss
do CPC), possa requerer-se que a produção de prova seja feita perante o tribunal judicial
competente - art. 18º, n.º 2 da LAV
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QUESTÃO PRÁTICA 1

As empresas A e B celebraram um contrato de prestação de serviços que contém uma


cláusula arbitral que remete para arbitragem nos termos do Regulamento do CREL. A
empresa B despoleta a arbitragem porque os seus serviços não foram pagos. Mas a
empresa A não constitui mandatário, não nomeia o árbitro que lhe cabe nem
apresenta contestação.
1. O que deve fazer a empresa B para despoletar uma arbitragem CREL?
2. Pode a arbitragem continuar apesar da empresa B não ter indicado árbitro?
Como?
3. O facto da empresa B não se ter apresentado ao processo tem influência em
relação á arbitragem?

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QUESTÃO PRÁTICA 3

Elabore o calendário processual de uma arbitragem doméstica, a que se aplique o


Regulamento do CREL, indicando os prazos previstos no Regulamento de Arbitragem
do CREL para cada uma das diligências processuais específicas.

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QUESTÃO PRÁTICA 2

O sócio A e o sócio B da Sociedade X, S.A não se entendem quanto à nomeação de


administradores na referida sociedade, uma vez que o sócio A entende que ela não
respeita o modo como, em sede de acordo parassocial, os sócios se vincularam a votar
a eleição dos administradores.
O sócio A intenta uma acção arbitral contra o sócio B, que corre termos no CREL, tendo
em conta a cláusula arbitral constante do acordo parassocial.
1. Pode a acção arbitral correr apenas com estes 2 sócios?
2. Como se processa a nomeação dos árbitros?

35
Muito Obrigada!

Sofia Vale
vale_sofia@hotmail.com

Trabalhos disponíveis em:


https://fduan.academia.edu/SofiaVale
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