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CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM

(TRAVAGLIA, 2001)
Concepções de linguagem
1.1. Linguagem como expressão do pensamento
(tradicional)
Para essa concepção as pessoas não se expressam bem
porque não pensam. Presume-se que há regras a serem
seguidas para a organização lógica do pensamento e,
consequentemente, da linguagem.
1.2 Linguagem como instrumento de comunicação
(estrutural)
A língua é vista como um código, ou seja, como um
conjunto de signos que se combinam segundo regras, e
que é capaz de transmitir uma mensagem, informações
de um emissor a um receptor.
1.3 Linguagem como forma ou processo de
interação (pragmática)
Nessa concepção, o que o indivíduo faz ao usar a língua
não é tão somente traduzir e exteriorizar um pensamento
(1.1), ou transmitir informações a outrem (1.2), mas sim
realizar ações, agir, atuar sobre o
interlocutor(ouvinte/leitor). A linguagem é, pois, um
lugar de interação humana.
Assim, o diálogo em sentido amplo é que caracteriza a
linguagem. Essa concepção é representada por todas as
correntes de estudo da língua que podem ser reunidas
sob o rótulo de Linguística da Enunciação: Linguística
Textual, Teoria do Discurso, Análise do Discurso,
Análise da Conversação, Semântica Argumentativa, ou
seja, todos os estudos ligados à Pragmática.
2 Concepções de gramática
2.1. Normativa
A gramática é concebida como um manual com regras de bom
uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se
expressar adequadamente. Conjunto sistemático de normas
para bem falar e escrever, estabelecidas pelos especialistas,
com base no uso da língua consagrado pelos bons escritores.
A língua é só a variedade dita padrão ou culta. Para perceber
e definir essa norma padrão há argumentos de diferentes
ordens: elitistas, políticas, comunicacionais, históricas. Tal
concepção surgiu da concepção de linguagem como expressão
do pensamento.

2.2. Descritiva
A gramática é um conjunto de regras que o cientista encontra
nos dados que analisa à luz de determinada teoria ou método.
São representantes dessa concepção as gramáticas feitas de
acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a
descrição da língua oral e as gramáticas feitas segundo a teoria
gerativo-transformacional que trabalha com enunciados
ideais, abstraindo a língua de seu contexto, ou seja, trabalha
com um sistema formal abstrato que regularia o uso que se
tem em cada variedade linguística.

2.3. Internalizada
“Gramática corresponde ao saber lingüístico que o falante de
uma língua desenvolve dentro de certos limites impostos pela
sua própria dotação genética humana, em condições
apropriadas de natureza social e antropológica.” (Franchi,
1991:54, apud Travaglia, 2001, p.37)
Dessas diferentes concepções de linguagem e de gramática
surgiram tipologias gramaticais ou tipos de gramática.

Tipos de Gramática (TRAVAGLIA, 2001, p.30-32)

Tendo em vista as diferentes concepções de linguagem


e de gramática, temos três conceitos que nos levam a três
tipos de gramática: a normativa, a descritiva e a
internalizada (ou competência linguística internalizada
do falante).
1. Gramática Normativa: estuda apenas os fatos da
língua padrão, da norma culta de uma língua, norma
essa que se tornou oficial. Segundo Travaglia (2001,
p.31), a gramática normativa é mais uma espécie de
lei que regula o uso da língua em uma sociedade.

2. Gramática Descritiva: descreve e registra para uma


determinada variedade da língua em um dado
momento de sua existência as unidades e categorias
linguísticas existentes, os tipos de construção
possíveis e a função desses elementos, o modo e as
condições de uso dos mesmos. Esse tipo de gramática
trabalha com qualquer variedade da língua e não
apenas com a variedade padrão e dá preferência para
a forma oral desta variedade.

3. Gramática Internalizada ou Competência


Linguística Internalizada do falante: o conjunto de
regras que é dominado pelos falantes e que lhes
permite o uso normal da língua. É essa gramática que
é objeto de estudo dos outros dois tipos de gramática,
sobretudo da descritiva.

Além desses três tipos de gramática derivados da


concepção que se tem de gramática, trabalha-se também
com outros tipos cujo critério de proposição está ligado
à explicitação da estrutura e do mecanismo de
funcionamento da língua. São eles: gramática implícita,
gramática explícita ou teórica e gramática reflexiva.
1. Gramática implícita: a competência linguística
internalizada do falante= gramática inconsciente;
2. Gramática explícita ou teórica: todos os estudos
linguísticos que explicitam a estrutura, constituição e
funcionamento da língua;
3. Gramática reflexiva: a gramática em explicitação.
Esse conceito se refere mais ao processo do que aos
resultados; representa as atividades de observação e
reflexão sobre a língua.

Referência

TRAVAGLIA, L.C. Gramática e interação: uma


proposta de ensino de gramática no 1º e 2º graus. 6.ed.
São Paulo: Cortez, 2001.

Elaborado por Lúcia Ribeiro. Recife: FAFIRE, 2021.

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