Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Eternamente Ran
Eternamente Ran
Yasha~Hime
- Como? Como eu pude perdê-la? Como eu nunca tinha notado o quanto necessária ela
era na minha vida?
Uma discreta lágrima voltou a cair de seus olhos e ele continuava a sussurrar com uma
voz ainda mais abafada:
- Sempre fui tão egoísta, tão ignorante, tão grosso com ela e ela sempre tão carinhosa,
tão dedicada e amável comigo. – Max estalava seus dedos com suas mãos frias e
trêmulas enquanto se lamentava - Sempre me acordava com seu mais belo sorriso, um
sorriso que eu desprezava sem saber que quando o perdesse lamentaria eternamente sua
falta.
Ele se levantou, colocou suas mãos nos bolsos de seu largo moletom escuro e caminhou
observando cada detalhe daquele imenso parque. Avistou a alguns passos à sua frente
uma bela árvore coberta por flores e frutos, imensamente linda, aquela árvore trouxe de
volta mais lembranças e ele não conseguiu deixar de admirá-la e enquanto caminhava
em sua direção, pensou:
- “Quando a vi pela primeira vez ela estava sob aquela árvore, sentada, lendo um livro,
me aproximei. Seus longos cabelos negros e sua expressão serena me encantaram
inexplicavelmente e tudo nela me chamou a atenção. Eu senti uma imensa e
incontrolável vontade de descobrir seu nome… Ran …”
Ele parou em frente a árvore e a observou com seu olhar vazio e repleto de lágrimas que
não conseguia controlar:
- “Quando me aproximei dela e parei na sua frente, ela me olhou e sorriu. Seu sorriso
era tão singelo e sincero que conseguiu derreter meu coração. Ela fechou seu livro e
começou a conversar comigo como se me conhecesse há anos. Sua espontaneidade era
contagiante, sua personalidade era tão natural e magnética que quando eu percebi já
estava ao lado dela, sorrindo, sem nenhuma preocupação ou timidez.”
Ele se sentou sob a árvore com sua cabeça abaixada, seus pensamentos ganharam voz e
mais uma vez ele sussurrava :
- Ela fazia com que me sentisse tão bem, tão a vontade. Eu não precisava de máscaras,
podia ser eu mesmo na frente dela, com todos meus defeitos e qualidades. Por que tudo
teve que ser assim? Por quê?
Seu desespero aumentava junto a raiva que sentia de si mesmo e de toda a infeliz
situação. Aquela raiva misturada ao desespero fazia seu coração acelerar e sua culpa e
seu ódio aumentar. Recostou a cabeça de uma forma tão raivosa que chegou a ouvir um
considerável som oco ao bater contra a árvore, desesperado e quase a gritar ele
perguntou:
Logo depois colocou as duas mãos sobre o rosto e chorou copiosamente. Era difícil
demais suportar, ele já não aguentava. Aquela pergunta que se fazia todo o tempo, sem
descanso. Aquelas lembranças e toda culpa que carregava. Ele então se levantou
subitamente e começou a caminhar de uma maneira veloz, algumas vezes ainda olhava
para trás, mas sua expressão era como se tentasse fugir de algo que o assombrava. A
verdade era que aquela árvore simbolizava ao mesmo tempo tudo de mais belo que ele
já sentira, e toda sua culpa e arrependimento por ter deixado escapar, e o pior, porque
havia menosprezado sem o mínimo de respeito enquanto ainda o possuía. Quando
finalmente parou de olhar, voltou a pensar com uma expressão mais serena, mas não
menos triste. Mais uma vez, com suas mãos nos bolsos do moletom, olhava para aquela
grama verde por onde caminhava.
- “Depois de encontrá-la minha vida ganhou um novo sentido, mas após um mês
estando juntos eu já havia voltado a ser o mesmo tolo, egocêntrico e arrogante de
sempre… Mesmo assim ela continuava ao meu lado, sempre tentando me fazer feliz. Se
esquecendo de si própria e vivendo só para o amor que sentia por mim, mas eu já tinha
me tornado frio e distante, como me arrependo…”
Ele levou a mão à cabeça, com seus dedos entre os cabelos os puxou em sinal de
desespero.
- Como eu pude não me importar com suas lágrimas que sempre ouvira na madrugada?
Como eu não pude responder a todas as perguntas que ela fazia à si própria deitada ao
meu lado da cama em meio as lágrimas e soluços abafados que ela fazia questão de
disfarçar para não me incomodar? Ela sempre se perguntava por que era tão inútil e por
que era tão sem graça ao ponto de não ser capaz de conquistar meu amor… Mas ela
sempre teve o meu amor, mas eu, estúpido, nunca soube e nem queria demonstrar por
que pra mim demonstrações de afeto eram pra fracos… Eu não sabia dar valor ao que
ela sentia, nem mesmo ao que eu sentia.
Por poucos segundos ele manteve sua mente livre de pensamentos, havia fechado seus
olhos, apertando-os firmemente. Ao abri-los avistou uma bela flor solitária naquele
imenso campo do parque que cada vez parecia mais vazio e frio. De longe ele já
percebeu, era uma orquídea. Caminhou até ele e disse parando e admirando toda sua
beleza:
Se abaixou e usou um de seus joelhos como apoio para ficar diante da orquídea. A
observou com os olhos atentos e ainda cheios de lágrimas:
- Ela era tão linda e cheia de vida, que não precisava de nada para fazê-la brilhar…
O equilíbrio de seu joelho e pernas cederam e ele caiu se apoiando com as duas mãos
sobre o chão e mais uma vez chorou compulsivamente. Suas lágrimas eram derramadas
sobre a flor e soluçando ele disse:
- O seu maior erro foi se apaixonar por mim… Sou tão menosprezível, incapaz de
demonstrar algum bom sentimento… Eu nunca devia tê-la conhecido e ela nunca devia
ter se apaixonado por mim… e …afinal… o que ela viu em mim? Nunca mereci alguém
como ela.
Já sem forças ele se deitou sobre o gramado bem ao lado da orquídea e olhando para ela
com seus olhos cheios de lágrimas e vermelhos continuou seu lamento:
- Como sou miserável, sou tão covarde que nem estou aonde deveria estar agora…
- Nesse momento devem estar velando seu corpo. Todos os que a amam estão prestando
a última homenagem que ela tanto merece, mas eu nunca teria coragem de encarar a
todos seus familiares. Todos eles já devem saber que foi minha culpa, só minha culpa…
- Por que foi ela e não eu a morrer naquele acidente? – respirou fundo tentando aliviar o
aperto em seu peito, sem muito sucesso. - Eu devia tê-la obrigado a colocar o maldito
cinto como sempre ela fazia comigo, mas eu só estava me importando com a minha
inútil raiva… - mais uma vez respirou profundamente, agora ao fechar seus olhos e
recomeçou a se culpar em seus pensamentos:
- “Essas foram suas últimas palavras antes da batida… Aquele carro surgiu tão de
repente e eu nem estava prestando atenção… Em questão de segundos o cruel destino a
tirou de mim. Me privou de reconhecer seu amor e fez com que nossos sonhos e planos
se estilhaçassem junto aqueles vidros… Seu frágil corpo fora arremessado para fora do
carro diante dos meus olhos e eu não pude fazer nada, só observar enquanto na minha
lembrança vinham as memórias dos seus sorrisos contagiantes, dos seus vários “eu te
amo” que me dizia com toda sinceridade em seu coração. Naquele mesmo instante eu já
sabia que todo o meu sonho e chance de felicidade havia acabado, que ela tinha partido
sem sequer ter ouvido a frase que tanto aguardava de mim, um simples “ eu também te
amo” …”
Ele voltou a se sentar respirando profundamente, tentando mais uma vez amenizar o
forte aperto em seu peito e também um nó na garganta. Passou a acariciar a orquídea de
uma forma delicada, no fundo de si imaginava-se acariciando sua amada Ran. Queria
poder imaginar-se acariciando-a daquela maneira, na verdade queria acaricia-la daquela
maneira enquanto ainda estava viva.
- Por que só agora eu percebi que você era a luz da minha vida? Que sem você nada
mais faz sentido?
Continuou a acariciar delicadamente a flor e em meio as mais sinceras lágrimas que não
paravam de cair.
- Ran… Eu queria que você soubesse que era tudo para mim e que desde que partiu
minha vida nunca mais foi a mesma. – enxugou suas lágrimas com ambas as mãos,
usando até as mangas de seu casaco, precisava fazer uma promessa. – Mas a partir de
agora eu darei mais valor às mínimas coisas belas da vida e vou mudar esse meu jeito
egoísta e covarde de ser. Você é tão maravilhosa que mesmo não estando mais aqui
consegue levar lições à seres ignorantes e estúpidos que nunca entenderam a verdadeira
razão da vida. Você será para sempre minha inspiração e o meu tormento, uma
lembrança que nunca esquecerei e quero que saiba que…
Olhou para o céu mais uma vez e sentiu uma brisa passar sobre seu rosto, agora não tão
gélida, era como se as delicadas mãos de sua falecida amada tocassem sua face, o
acariciasse. Então ele voltou a dizer em meio a lágrimas, mas agora mais brandas:
- … eu te amo, eu te amei desde a primeira vez que te vi, só não tive coragem de falar.
Não tive coragem em de me dar conta, nem de demonstrar, mas agora eu sei, lamento
tanto por ser tarde demais. Mas continuarei te amando até o ultimo segundo da minha
inútil vida…
Max se levantou ainda com seu peito a pesar, sempre cheio de culpas e
arrependimentos. Nunca se esqueceria, iria se lamentar para sempre. Saiu do parque
acompanhado por suas lembranças. Não serviu de muito todo seu desabafo. A partida
tão trágica, repentina e prematura de Ran obviamente seria uma lembrança traumática e
eterna, mas que ele nunca iria pensar em esquecer porque se esquecesse, esqueceria uma
parte do seu verdadeiro amor e isso era a última coisa que ele desejava fazer na vida.
Todos os anos ele retornava ao parque para relembrar de como conhecera seu único
amor e sempre ficava a admirar uma orquídea que parecia renascer com todo seu brilho,
frescor e beleza para esperá-lo. Sempre solitária, mas eternamente bela…