Você está na página 1de 13

ABIM 005 JV Ano XIII - Nº 110 - Jun/19

São João

Nosso Patrono
Editorial
O temário desta edição, assim como vimos
fazendo em edições anteriores, foi especialmente
selecionado, com um diferencial de ter sido fruto de
um “insight”, quando daremos especial atenção ao
personagem bíblico João, o Batista, que, somente,
nas entrelinhas das Sagradas Escrituras e com “olhos
de ver”, atributo de um verdadeiro Iniciado, poder-
se-á desvendar sua nobilíssima função de Arauto no
processo do Advento de Jeoshua Ben Pandira, o Jesus
bíblico, o Cristo, o Avatara da Era de Piscis. Falando, ainda, de João, o Batista, continua: “As
duas iniciais por Ele adotadas (J e B), como Iokanaan do
Quando da manifestação da Essência Divina na
Ciclo de Piscis, são as mesmas das Colunas do Templo
face da Terra, em que as Escrituras nos revelam que, “o
de Salomão, adotadas pela Maçonaria, ou sejam Jakim
Verbo se fez carne”, fato que ocorre ciclicamente, uma
e Bohaz – uma de Ouro, outra de Prata (Sol e Lua). Do
corte de Seres de Altíssima Espiritualidade participa
mesmo modo que, das cidades onde Jesus nasceu e
ativamente de tal manifestação, criando mecanismos
morreu: Belém e Jerusalém. Jnana (o Conhecimento, a
para o êxito desse hercúleo e altruístico Trabalho, em
Sabedoria) e Bhakti (o Amor, a Devoção, etc.), são os
prol da evolução da humanidade.
dois Caminhos da Vedanta”.
Assim, João, o Batista, teve um papel
A Revista Arte Real, em seu nobre trabalho
importantíssimo de Anunciador dAquele que veio trazer
de difundir o conhecimento iniciático, jamais, poderia
um novo estado de consciência para a humanidade.
deixar de dar a nossa contribuição, intuitos que fomos,
Segundo o Professor Henrique José de Souza, fundador
selecionando matérias de cunho exotérico e esotérico, à
da Sociedade Brasileira de Eubiose, “O nome ‘João’,
guisa de estimular nossos leitores a se enveredarem em
só por si, é uma legenda. Johan, Johanes, Jean, Joiin,
pesquisas e estudos sobre tão valioso tema.
Jing, Dzyan, Dzin ou Djin, em várias línguas, não é mais
do que o “Jênio” ou Jina, que serve de Guia aos homens Adotado, mais tarde, como Patrono da
vulgares da Terra”. Maçonaria Simbólica, João, em seu breve tempo de vida
física, representou bem mais do que a religião revela.
Ainda, segundo o Professor Henrique, “A
Seu compromisso de defender a verdade e os bons
Igreja distingue o termo ‘Yokanan’ do de João Batista.
costumes, que lhe custou a própria vida, é um magnífico
Mas, a Verdade é que o Arauto ou Anunciador do
exemplo de sacrifício (em seu caso de “sacro-ofício”), que
“Messias Prometido”, possuía aquele “título iniciático”.
o Maçom deve seguir em defesa da moralidade. Apesar
E isto porque, Yokanan ou Iocanaan, é o Guia, além
de sua divina missão, jamais, deixou que a vaidade lhe
de Arauto, de um clã, família, etc., para a “Terra da
subisse à cabeça. Como nos revela Ernani Souza, em
Promissão”. Nesse caso é o Chefe de um Movimento,
seu trabalho “Patronos da Maçonaria”, publicado nesta
ao mesmo tempo que anunciador de um avatara ou da
edição: “No que diz respeito à Maçonaria, São João
manifestação da Divindade na Terra. E a prova está em
Batista é um profeta que anuncia e prepara, no sistema
que é Ele mesmo quem batiza Jesus no Rio Jordão,
iniciático, a vinda da Luz. Ele ensina a humildade, a
quando o Espírito Santo descendo sobre Aquele, dá-
renúncia ao ego, sem as quais a iniciação e o progresso
lhe o valor integral do seu messiânico papel na face da
espiritual são impossíveis”.
Terra. Jesus, João e Jordão, 3 ‘jotas’ ou três mistérios
ligados ao Mundo Jina ou Agartino”. Pedimos uma especial reflexão sob o tema!

A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade
mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados,
no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005
JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.
www.revistaartereal.com.br - redacao@revistaartereal.com.br - Facebook RevistaArteReal -  (35) 99198-7175 Whats App.
O Enigmático

São João
Batista

C
omo demonstrou Edouard Schuré, em “Os Grandes 21 e 22 de dezembro, era marco no qual o Sol atingia
Iniciados”, o estado de consciência da Humanidade menos tempo durante o seu curso diurno. Algo como uma
atual está, ainda, infelizmente, longe de poder morte física, na qual eram exaltados os aspectos ocultos
perceber o significado do trabalho de Seres Superiores como e espirituais, redentores, no dualismo manifestado entre
Gautama, Jesus, Krishna, Orfeu, Hermes Trismegisto, etc., Morte e Ressurreição – a Morte como passagem para a
não apenas, porque alguns deles, pouco mais do que míticos Vida Eterna, e o nascimento como passagem da Morte para
para a maior parte dos investigadores, deixaram poucos a vida manifestada. Um paradigma destas festividades era,
registros escritos, mas, também, porque, apenas, uma por exemplo, os Mistérios de Mitra, na Pérsia, e depois em
pequena parte do que operam os Avatares ou manifestações todo o Império Romano, celebrados na noite de 24 para 25
do Espírito da Verdade, é realmente incompreensível para de dezembro, donde a Igreja retirou, por assimilação, a data
o homem comum, por falta de preparação intelectual, do nascimento de Jesus. O dia menor do ano era, portanto,
cultural e por simples falta de interesse pelos aspectos a festa da Luz Espiritual Onipresente, mesmo nas trevas,
mais profundos das coisas. Em resumo: a espiritualidade! nas mais fundas cavernas, hipogeus e criptas... e, também,
Henrique José de Souza está dentro dessas grandes Luzes no céu e na Terra.
em forma humana, muitas das quais foram reduzidas à razão
Já nos três dias rituais, que se seguiam a 21-22
de ídolos pelas próprias religiões – que não fundaram – e
de junho, eram exaltados os valores relativos à pujança
em nome das quais foram impostas aos povos aberrações
do Sol físico, a saber, o fogo, com sua energia vivificante,
psíquicas e dogmas redutores em vez de ensinamentos
que na Índia assumia a identidade de Agni, com os seus
verdadeiramente redentores – os verdadeiros e originais!
três aspectos védicos: no céu, o astro-sol; o relâmpago no
Desde tempos muito antigos, da Índia às civilizações ar ou mundo intermédio; o Fogo Ritual propriamente dito,
meso e sul-americanas, que solstícios e equinócios eram, na Terra, entre os homens. Deste modo, se em dezembro
no curso anual, pontos fundamentais para todos quantos se exaltava o Sol Espiritual, em junho era o Sol Físico,
sentiam dever harmonizar-se com os ritmos do Cosmo. ou psíquico, diríamos com o Professor Henrique José de
Essas etapas devidamente ritualizadas e teatralizadas Souza, que recordava ser o nosso Sol a roupagem ou
de várias formas, de modo a que o povo sentisse algo veste psíquica – acessível ao corpo e aos sentidos – do
de superior nos símbolos e incompreensíveis gestos e verdadeiro Sol Espiritual, único e verdadeiro, invisível, que
discursos dos Iniciados, dos Hierofantes dos Mistérios. por detrás desse se acha.
No hemisfério Norte, o solstício de Inverno, atingido entre

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 03


Deste modo, o simbolismo do “Yohanan” (João, em
hebraico) ganha, com os séculos uma poderosa força, que é
cultivada por várias correntes gnósticas até chegar à Idade
Média. Os Mestres Construtores da época, igualmente, até
hoje os Maçons identificam as suas Lojas como “de São
João”.

São João, o Fogo e o Solstício de Verão, no


hemisfério Norte, estão, então, indissoluvelmente ligados
com uma ação, um trabalho essencialmente transformador,
no qual o Fogo Sagrado agirá, quer como agente hermético-
alquímico, quer como condição necessária para o trabalho
com os metais – vejam-se os vários mitos maçônicos
relativos ao Mestre Hiram e à construção do Templo de
Jerusalém – quer como inteligência criadora, criativa, genial,
avessa a qualquer tipo de controle, ou seja, própria do
Livre Pensador, o verdadeiro discípulo do Avatara, porque
compartilha desse “mesmo Fogo Divino”, aquele que não
Na tradição paleocristã, existe um personagem reconhece poder na Terra superior a Deus...
que se relaciona, particularmente, com o Fogo e com o
É por tudo isto que o trabalho que temos à frente junto
Simbolismo do Cordeiro – Ram ou Rama – que é São João
à Humanidade é imenso e riquíssimo também, praticamente
Batista. É de se notar que é com o signo do Carneiro que se
inesgotável na medida em que aquela necessita de perceber
dá início ao ano astrológico. Justamente, no Equinócio da
que existe uma unidade fundamental muito acima de todos
Primavera (hem. Norte), ponto anual no qual o Sol Espiritual
os mitos, ritos, religiões e sistemas filosóficos, representada
“nascido” na noite de 24 de dezembro atinge a maturidade e
pelo Avatara, presença essa, a qual, daqui para frente, será
está apto, durante 6 meses, a dispensar a sua ação benéfica
permanente na face da Terra. Com efeito, a demonstração
em termos tangíveis, palpáveis (sementeiras e colheitas,
ao mundo dessas sublimes verdades, terminando, apenas,
alegria e calor, etc.) sobre os homens e as suas obras. De
quando o ser humano vier sentir em si mesmo – e não fora
tal forma que podemos, talvez, dizer que é ele mesmo, João
– essa mesma Luz Única e esse mesmo Fogo Sagrado que
Batista – e não Jesus – o próprio Agnus Dei (o Cordeiro
arde no seio do Universo.
de Deus), portador e síntese da tradição judaica mais pura,
* Este trabalho foi compilado de um artigo, editado em 24 de junho de 2001,
que ardia entre os Essênios, antes do novo impulso que
pela Sociedade Brasileira de Eubiose, Departamento de Lisboa – Portugal.
seria dado à Civilização pelo Avatara Jeoshua Ben Pandira,
designado o Cristo.

Sacrificado por degolação, o valor simbólico e


filosófico de João, o Batista, é muito importante e ultrapassa
completamente o dogma católico: João batizava os seus
adeptos com água (ou seja, utilizando um símbolo material),
mas afirmava que o que viria depois dele “batizaria com
fogo”, diríamos, envolvendo os discípulos com uma
poderosa aura, ou impacto relativo ao Mundo das Causas,
o Akasha, etc. etc. ou ... Espírito Santo.

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 04


A Morte de
São João

Ruy Silva Barbosa

S
ão João é o Patrono da Maçonaria. Não se João Batista era considerado um homem santo
deve confundir com Padroeiro. A Maçonaria é e extremamente respeitado, fazia pregações em praça
uma entidade filosófica e filantrópica, que visa, pública fazendo críticas à Herodes e afirmando que seu
também, o aperfeiçoamento espiritual do homem. Caso casamento era ilícito, posto que tomara como esposa a
fosse padroeiro seríamos voltados para uma religião e a cunhada, mulher de seu meio-irmão (Felipo) e casando
Maçonaria não está voltada à nenhuma religião. com ela, mandara matar seu meio-irmão.

Existem achados arqueológicos comprobatórios Apesar de diversas mensagens de Herodes e


que João Batista e, também, Jesus e sua família, até mesmo ter falado, pessoalmente, com João, este
viveram próximo a Qumran. Nesses achados existem continuava a fazer suas pregações críticas. Herodíades
muitos pontos comuns com a mensagem cristã. Deve-se (esposa de Herodes), pediu a condenação à morte de
levar em conta, que João Batista tenha convivido com João inúmeras vezes, no entanto, este tinha receio de
esta comunidade e parte de sua formação religiosa tenha prendê-lo, já que ele era tido como um homem santo e
sido ali recebida, bem como Jesus Cristo, que viveu bem extremamente respeitado pelo povo. Com medo de uma
próximo a esta comunidade. revolta protelou ao máximo sua decisão.

Após a morte de Herodes I, o Grande (4 a.C.), Pela insistência de Heroniadíades, esposa de


fundador da dinastia dos Herodes, segundo a Bíblia, foi o Herodes, este mandara prender João e acorrentá-lo
responsável pela lendária morte de João Batista. Amigo no cárcere quando João disse-lhe: Não é lícito possuir
dos romanos, casou-se com a filha do Rei Nabateu a mulher de seu irmão. Herodíades, então, voltou-se
Aretas IV, mas repudiou-a e casou-se com a mulher contra ele e queria matá-lo, mas não podia, pois Herodes
de seu meio irmão Herodes Felipo, isto veio mais tarde tinha medo de João e sabendo que era um homem santo
causar-lhe uma represália do Rei Nabateu Aretas IV, que e justo o protegia. E quando o ouvia ficava muito confuso
guerreou contra ele e o derrotou. e o escutava com prazer.

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 05


Entretanto, chegou o dia propício. Herodes, por São João Batista é um símbolo de grande
ocasião do seu aniversário, ofereceu um banquete aos significado. Como “precursor” da Grande Obra de
seus magnatas, oficiais e às grandes personalidades da Redenção Universal, realizada por Jesus, ele simboliza
Galileia. E a filha de Herodíades entrou e dançou. Seu o “mediador”, aquele que tem a missão de abrir a porta
nome era Salomé e tinha, apenas, 15 anos. Agradou a da iniciação. Daí o porquê de pensarmos que a escolha
Herodes e aos convivas. Então, o rei disse à moça: “peça- de São João Batista como patrono das Lojas Simbólicas,
me o que bem quiseres e te darei”. E fez um juramento: tem sua fundamentação em temas alquímicos. Esse
“qualquer coisa que pedires te darei, até a metade de Santo, que, provavelmente, foi um adepto da seita dos
meu reino”. Ela saiu e perguntou a mãe: que peço? E helênicos, é considerado pelos esotéricos um mediador
ela respondeu: a cabeça de João Batista. Voltando logo, entre duas estruturas cósmicas, representadas por suas
apressadamente, à presença do rei, fez o pedido: “quero, partes: material e espiritual.
agora mesmo, que me dês, num prato, a cabeça de João
Para a Maçonaria, a tradição de invocar esse
Batista.
Santo como Patrono, teria a postura de despertar a sua
O rei ficou profundamente triste. Mas por causa mediação para a realização da transmutação do caráter
do juramento que fizera e dos convivas, não quis deixar profano do recipiandário para o estado de consciência
de atendê-la. E, imediatamente, o rei enviou um executor superior, que caracteriza o iniciado na Maçonaria.
com ordens de trazer a cabeça de João. E saindo, o
decapitou na prisão, trazendo a sua cabeça num prato.
Matéria extraída do site Recanto das Letras, onde o autor tem acervo de
Deu-a à moça e esta entregou-a à mãe. Os discípulos 177 artigos publicados, dos mais variados temas.
de João sabendo disso, foram lá pegaram o corpo e o
colocaram num túmulo.

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 06


Patronos
da Maçonaria Ernani Souza

D
entre os trinta e seis São Joãos canonizados eleito o patrono da Cavalaria do Templo (Templários), em
pela igreja católica, o Batista, o Evangelista e o virtude de seus trabalhos assistenciais feitos ao povo pobre
Esmoler, são tidos como os mais prováveis e mais e enfermo de sua região.
recomendáveis candidatos a patronos da Maçonaria, em virtude
Nos hemisférios Sul e Norte, em uma mesma data,
de atributos históricos e místicos que envolvem seus nomes.
os Solstícios são contrários, podendo apresentar, de um ano
Os Solstícios de Inverno, por exemplo, por sua para outro, variação de um dia, para mais ou para menos,
importância esotérica, influenciaram para a escolha dos dois nas datas base 22 de junho e 22 de dezembro.
primeiros Joãos patronos (o Batista e o Evangelista), além
Na Antiguidade, as iniciações eram feitas, sempre,
de o forte apelo religioso que os dois São Joãos possuem
no Solstício de Inverno, porque, sendo o último dia de maior
junto à comunidade católica cristã, em seus respectivos
noite, significava a marca do início do ciclo de dias de luz
hemisférios.
cada vez maiores e dias com menores ciclos de escuridão,
No hemisfério Sul, o Solstício de inverno tem início dessa forma, as iniciações passavam a ter o significado
em 22 de junho, data aproximada da consagração de São de renascer, ou nascer de novo da escuridão para a luz,
João Batista, que é 24 de junho. São João Batista, ainda, gradativamente.
beneficia-se do fato de a primeira Potência Maçônica do
Essa época (Solstício de Inverno) era considerada
mundo ter sido registrada, de forma oficial, em 1717, em
um período ideal para uma reflexão pessoal e interior,
Londres, Inglaterra, na mesma data consagrada ao santo.
objetivando encontrar, dentro de nós, uma nova fonte de
Já no hemisfério Norte, o Solstício de Inverno tem luz e regeneração para nossa consciência, que marcasse
início em 22 de dezembro, data aproximada da consagração o início de um novo ciclo, onde as plantas, os homens e
de São João Evangelista, que é 27 de dezembro, ocasião os animais se regenerassem plena e positivamente para o
em que o referido santo recebe grandes homenagens ideal da construção de um futuro melhor, decorrente, nesse
reverenciais de toda a comunidade desse hemisfério. momento, da limpeza, renovação e pureza realizada em
nosso espírito.
Já, São João Esmoler não se beneficia dessas
prerrogativas solsticiais, em virtude de sua data de Por isso, a “noite de São João”, em cada hemisfério,
consagração ocorrer no dia 23 de janeiro, data relativamente é um grande festival folclórico e místico, que saúda com
distante, se comparada com as dos outros dois concorrentes. alegria uma nova vida e onde se homenageia a construção
Porém, São João Esmoler tem a seu favor o fato de ter sido do universo material.

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 08


Norte e inverno no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas
almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens.

No que diz respeito à Maçonaria, São João Batista


é um profeta que anuncia e prepara, no sistema iniciático,
a vinda da Luz. Ele ensina a humildade, a renúncia ao
ego, sem as quais a iniciação e o progresso espiritual são
impossíveis. São João Batista simboliza, assim, o Grande
Iniciador, o Mestre sábio que prepara, humildemente, o
caminho para o Aprendiz.

A relevância do papel de São João Batista reside no


fato de ter sido o “precursor” de Cristo, a voz que clamava
no deserto e anunciava a chegada do Messias, insistindo
para que os judeus se preparassem, pela penitência, para
essa vinda. Com esse objetivo, ele praticava um Ritual de
Purificação corporal por meio de imersão dos fiéis na água,
para simbolizar uma mudança interior de vida.

São João Evangelista teve privilégio de ser o


discípulo mais amado por Jesus. Nasceu na Galileia, filho
de Zebedeu e Maria Salomé, irmão de Tiago, o maior. Foi
discípulo de São João Batista e junto com André, foram
os dois primeiros discípulos de Jesus. Formou junto com
Pedro e Tiago, o pequeno grupo de preferidos, que Jesus
levava a todos os lugares e foram eles (João, Pedro e
Tiago) que presenciaram seus maiores momentos como: a
transfiguração de Jesus, a ressurreição da filha de Jairo,
a agonia de Cristo no Horto das Oliveiras e, também,
Acredita-se que todos os anos, nessa época, uma encarregaram-se de preparar o local da Última Ceia.
onda espiritual de vitalidade e energia positiva penetre na
Terra, por ocasião do Solstício de Inverno, para impregnar
as sementes adormecidas e as almas arrefecidas na terra,
para dar-lhes nova vitalidade, para elas e para o mundo em
que vivemos.

Quanto aos três São Joãos, candidatos a patronos


da Maçonaria, eles possuem histórias e evolução mística
suficientes para atender a demanda exigida pelo cargo.
João, mais tarde chamado, o Batista, nasceu numa cidade
do reino de Judá, filho do sacerdote Zacarias e de Isabel,
parenta próxima de Maria, mãe de Jesus.

Um velho ritual pagão que festejava o Sol, no mês


de junho, foi apropriado pelo culto romano da deusa “Vesta”,
patrona do Fogo e, posteriormente, pelo cristianismo, que
o atribuiu a São João Batista, no Solstício de Inverno, a 24
de junho. Etimologicamente, junho, deriva do latim “Junius-
Junior”, que significa o mais novo, ou o que renova. Para o
Cristianismo, São João Batista é o testemunho da Luz, do
Verbo encarnado, o que introduz o Rito do Batismo, ou seja,
da renovação.

Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental,


quanto para o ocidental, o Solstício de Câncer, ou da
Esperança, alusivo a São João Batista (verão no hemisfério

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 09


Foi o único dos apóstolos que esteve presente
no Calvário e que recebeu de Jesus o mais precioso dos
presentes. Cristo lhe encarregou de cuidar de sua Mãe,
como se fora sua própria mãe, lhe dizendo: “Eis aí a sua
Mãe”. E dizendo a Santa Maria: “Eis aí a seu filho”.

A imagem central do Cristo crucificado, tendo a sua


direita Maria, a Mãe, e a sua esquerda, o discípulo que Ele
mais amava, São João Evangelista, por sua pureza de vida,
inocência e virgindade, simbolizam o Novo Testamento, a
Luz, e o amigo fiel, que no domingo da ressurreição, foi o
primeiro dos apóstolos a chegar ao sepulcro vazio de Jesus
e depois da Ressurreição de Cristo, na segunda pesca
milagrosa, foi o primeiro em reconhecer Jesus na borda do
Lago de Tiberíades.

Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental,


quanto para o ocidental, o Solstício de Capricórnio, ou do
Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno
no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul), é a porta
cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta
dos Deuses.

Por fim, São João Esmoler, também, conhecido


como São João da Escócia ou São João de Jerusalém
ou São João Almoner ou São João Armsgiver, nasceu na
cidade de Amatunte, antigo Limasol, na ilha de Chipre, ao
Sul da Itália, em 556 d.C., filho de um nobre muito rico de
nome Epifânio, governador de Chipre.

Foi escolhido Patriarca de Alexandria, em 606


d.C., e uma das primeiras ações de seu episcopado foi
a distribuição de 80.000 peças de ouro para hospitais e Foi eleito e sagrado Grão-Mestre dos Cavaleiros de
monastérios. Mais tarde, seguiu para Jerusalém, com Jerusalém e recebeu as mais altas honrarias Templárias,
a intenção de montar um hospital que atendesse aos pois estes o reconheciam como um puro e fiel Cavaleiro
peregrinos enfermos, que iam a “Terra Santa” visitar o Santo seguidor dos antigos valores que regiam a Ordem dos
Sepulcro e, também, os feridos da guerra. Cavaleiros do Templo.

Fundou a Ordem dos Cavaleiros Hospitalares, que Com sua experiência em Jerusalém fundou a
tinha por principal função defender os hospitais e prestar Ordem dos Cavaleiros de Malta, que tinha a dupla função
socorro àqueles que se achavam enfermos. A Ordem dos de proteger os hospitais, ajudar os enfermos e feridos
Cavaleiros Hospitalares, logo, foi transformada na Ordem e a de lutar pela manutenção da paz e preservação da
dos Cavaleiros de Jerusalém, que, então, não só tomava independência de sua pátria, ficando conhecidos como
conta dos hospitais, como corriam em socorro dos doentes os grandes defensores dos oprimidos e daqueles que
e necessitados, onde quer que se encontrassem. precisavam de ajuda.

A Maçonaria herdou grande parte dos ensinamentos


e do modo de agir dos Cavaleiros Templários, que elegeu São
João Esmoler como seu Padroeiro, por ele ter sido elevado
a condição de Santo e por adotar, fielmente, a doutrina e
ideais de amor incondicional ao próximo estabelecidos pela
Cavalaria.
*compilação do texto original “Os São Joãos – Patronos da Maçonaria, do
mesmo autor.

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 10


O Sagrado Coração
e os Fogos de Baco
Alberto Vieira

A
s festas populares de São João nos dão um cenário João viu a Jesus, disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira
adequado para conversarmos sobre o mito universal os pecados do mundo”. E continuou seu testemunho: “Vi
de um monarca divino, que reuniria, numa mesma o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre
individualidade, o poder temporal e o poder espiritual. ele”. Continua o Evangelista, dando voz ao Patrono da
Bem no meio das fogueiras de São João, herdeiras dos Maçonaria (1,33): “Eu não o conhecia; mas o que me enviou
“Fogos de Baco” da Antiguidade, sempre vem a reflexão a batizar com água, esse me disse: Aquele sobre quem
da arbitrariedade do poder – representado por Herodes e vires descer o Espírito e sobre ele permanecer, esse é o
corrompido por Salomé – face à espiritualidade do Profeta, que batiza com o Espírito Santo”. Ora, o Espírito Santo traz
o precursor do Messias. consigo o símbolo sacrossanto da espiritualidade ocidental:
a Taça do Santo Graal. A tradição iniciática, paralela desde
Todos os que estudam as Sagradas Escrituras
sempre da religião popular, de uma busca pela Taça na qual
sabem que, ao fim de algum tempo com seus discípulos,
foi recolhido o sangue do Salvador, jorrado da ferida aberta
Jesus começou a revelar-se com mais profundidade, e
em seu coração, desencadeou desde cedo manifestações
se apresentou como um monarca. Porém, algo diferente
míticas, literárias e lendárias na Europa, no século sexto,
dos demais: seu reino não era desse mundo, e sim, do
que atravessaram toda a Idade Média e, ainda hoje,
de Deus, o dos céus, o do Pai. Ora, ninguém tinha ouvido
continuam despertando paixões, como o tão célebre como
falar em semelhante prodígio. Porém, no início, havia esse
polêmico “Código da Vinci”.
homem misterioso chamado João, batizando com água e
impressionando a todos com sabedoria e com sua visão A questão em torno de um monarca divino,
mística. Tinha numerosos discípulos e levava uma vida representante de um Centro Espiritual único e universal,
austera, longe dos príncipes e poderes desse mundo. O que foi descrita e estudada, entre outros, desde o século XIX,
não impediu de ser sacrificado por eles. por Ferdinand Ossendowski, Alexandra David-Neel, Saint-
O outro João, o Evangelista, deixou escrito (1,6): Yves d’Alveydre, Nicholas Roerich e René Guénon. Todos
“Houve um homem, enviado de Deus, cujo nome era João”. eles, autores consagrados, cujas obras continuam sendo
Segundo o discípulo amado, quando, na margem do Jordão, reeditadas, uma após a outra, na Europa, nas Américas e

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 11


Estamos falando de textos com cerca de 5.000
anos. Porém, a realeza egípcia, ainda que impregnada do
Sagrado, não era mais do que o reflexo visível dos deuses
ocultos, sobretudo de Osíris, que reinava sobre os Imortais
nos reinos luminosos e subterrâneos do Amenti: eis porque
ele era o julgador dos mortos. E o faraó é sempre Hórus, o
filho de Osíris, que renasce e pontifica em nome de seu pai,
sempre oculto. É de notar que esse “reino interior” nada tem
a ver com o Inferno católico, lugar de dor e perdição, este
radicado obscuramente em algumas tradições judaicas,
através da crendice e da superstição.

Também, no Tibete e na Mongólia, o rei-pontífice,


que, como Osíris no antigo Egito, rege os mortais e os
Imortais a partir de um lugar interior e luminoso, é Rigden-
Jyepo, Senhor de Shamballah, morada dos Deuses, cujo
significado literal é, justamente, “Monarca Universal”, entre
outras designações equivalentes, derivadas da tradição
original hindu, tanto védica como budista, mais tarde:
Padmapani Chenrazi, Avalokiteshvara, Sanat Kumara,
em outros lugares O Brasil não é exceção. Índia, Tibete, embora esta última, apesar de muito difundida no Ocidente,
Israel e Egito são as principais fontes de onde emerge um confunda-se com outra e careça de alguma precisão.
Mistério com diversos nomes, personagens e faces, mais
ou menos diferentes, mais ou menos próximas, mas falando Em Israel, a tradição de um “Santo dos Santos”
de uma só verdade. passou discretamente ao Cristianismo e não lhe foi dada
muita importância, porque não se sabia ao certo seu lugar
Durante mais de 4.000 anos, o Egito praticou no labirinto do dogma, arquitetado por simples mortais.
uma forma de governo teocrático, na qual religião, poder e Trata-se de Melki-Tsedek ou Melquisedeque, “Sacerdote
espiritualidade se confundiam, antes do advento dos últimos do Altíssimo” e “Rei de Salém”, personagem, que o mesmo
Ptolomeus e do cesarismo romano, que deu o golpe derradeiro René Guénon examina com extremo detalhe em sua obra
no antiquíssimo reino do Nilo, a “Morada dos Deuses”. “O Rei do Mundo”, publicada em 1927.

Um fragmento dos “Textos das Pirâmides”, citado Nas Escrituras cristãs, encontram-se breves, mas
pelo egiptólogo e autor Christian Jacq, em “Poder e significativas referências a esse misterioso quanto excelso
Sabedoria no Antigo Egito”, coloca Nut, a deusa do Céu, personagem: no Gênesis (14,18), nos Salmos (110) e na
falando do faraó: “O rei é como o meu filho mais velho / Que Epístola aos Hebreus, de São Paulo (5, 6 e 7), que conhecia
abre o meu ventre / Ele é aquele que eu amo / Eu estou bem as Escrituras judaicas. Saint-Yves d’Alveydre, em suas
em harmonia com ele”. Um papiro de Abydos, também, pesquisas da mesma tradição universal na Índia, também,
citado por Jacq, coloca o rei (faraó) como aquele que fala encontra o “Chefe Supremo da Agartha”, o esplendoroso e
a linguagem dos deuses e a transmite aos seres humanos. espiritual reino subterrâneo, com o nome de Chakravarti, ou
O rei, ele mesmo, é a “Grande Morada” (Per-âa), onde o Brahmatmâ, o supremo pontífice universal.
Ser divino, Um e múltiplo, reside em realeza: “Eu celebrarei
*O saudoso autor foi MI e membro da ARLS Ciência e Trabalho, nº 30,
os ritos em todos os lugares / … / enquanto os deuses GOSC, Or. de Tubarão-SC. Pertenceu às fileiras da Sociedade Brasileira
estiverem sobre a Terra”. de Eubiose, onde foi instrutor por muitos anos.

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 12


Curiosidades
Sobre o Patrono
de nossa Ordem Sydney Grumberg

S
ão João Batista, o Precursor de Jesus, filho do padre judeu eram dedicados a algum santo padroeiro, de acordo com a fé
Zacarias e de Elizabete, era um zeloso juiz de moralidade religiosa local e, mesmo durante o período colonial, as Lojas
e destemido pregador do arrependimento. Ele obteve Maçônicas da Inglaterra eram dedicadas a São João, enquanto
grande celebridade, primeiramente, em sua terra pátria, depois as Lojas Escocesas eram dedicadas a Santo André. As duas
nas montanhas da Judeia e, finalmente, em toda a nação. Sua primeiras Lojas, em Boston, eram divididas.
maneira simples e sóbria de viver contribuiu muito para a sua fama
Enquanto as diferentes religiões dedicavam suas igrejas
e como símbolo daquela puridade moral, que ele tanto inculcava
aos seus diferentes santos, entre os judeus, da sua história
zelosamente.
primária, todos os seus lugares de louvor eram dedicados a um
Jesus se permitiu ser batizado por ele e, a partir Deus, Jeová. Assim, a Maçonaria foi dedicada ao Rei Salomão
daquele momento, João disse aos seus discípulos que Jesus era, por muitos anos, pois ele foi o primeiro Grande Mestre, mas,
certamente, o Messias. A sinceridade, seriedade e a fama com as posteriormente, do século XI ao século XV, a Maçonaria foi
quais ele pregava na Galileia, logo, trouxe sobre ele suspeita e ódio dedicada a São João Batista e era conhecida como a Loja do
da corte do Tetrarca Antipas, ou Rei Herodes, que o aprisionou e, Sagrado Santo de Jerusalém.
em 29 de agosto, em seu trigésimo segundo ou trigésimo terceiro
Foi durante o século XV que São João Evangelista foi
ano de sua vida, o decapitou. Dia 24 de junho, seu aniversário, é
reconhecido e, a partir de então, a Maçonaria tem sido dedicada
dedicado a sua memória em toda Cristandade.
aos Sagrados Santos João, incluindo os dois. Até alguns anos
O santo padroeiro da irmandade maçônica, primeiramente, atrás não era conhecido que João Batista tinha alguma conexão
não foi São João Batista e sim, São João Evangelista, o qual o com Maçonaria ou por que ele deveria ser tão honrado, mas,
festival era comemorado em 27 de dezembro, no dia em que eles através da descoberta dos documentos Essênios em Qumram, foi
tinham sua assembleia geral, provavelmente conduzida dessa estabelecido que ele era um membro da sociedade dos Essênios
maneira, porque nessa época do ano os membros estavam mais e que ele tinha servido como capelão ou padre.
desligados de seus trabalhos e profissões. Por essa razão, eles
O fato dele batizar, o qualificava como um padre.
escolheram para seus festivais quaternários a Proclamação da
Enquanto não é, definitivamente, estabelecida que a sociedade
Virgem Maria, Michaelmas, e o festival de São João Batista, que
dos Essênios era a mesma que a Maçonaria, existe uma grande
era o último festival, pois o clima era melhor e outras circunstâncias
similaridade entre as duas e o moral dos ensinamentos das suas
foram achadas ser mais convenientes para aquela reunião anual,
é o mesmo. A caridade das duas, assim como a prática de Amor
era, geralmente, apontado para a época na qual deveria acontecer,
Fraternal eram idênticas.
de maneira que, agora, ele ficou um festival geral. Muitas Lojas,
ainda, celebram o dia 27 de dezembro e chamam esse dia de “dia
menor de São João”.

Entre os povos das muitas nações, tem sido um


costume, há tempos, dedicar todos os templos, estátuas, altares,
prédios públicos ou qualquer lugar sagrado à alguma divindade,
geralmente, algum santo ou pessoa de caráter excepcional, o qual
o trabalho para a sociedade ajudou em seu estabelecimento.
Clique aqui e assista ao vídeo promocional
Os romanos da Antiguidade confiavam essa tarefa aos
seus cônsules, pretores, censores e outros chefes magistrados e,
em último caso, aos seus imperadores. Muitos desses edifícios

Revista Arte Real nº 110 - Jun/19 - Pg 13

Você também pode gostar