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Isso mostra que o dinheiro desviado naqueles quatro anos foram gastos em jogos, viagens
e diversão. Ele não poupou e tampouco pagou suas dívidas.
Quando Haroldo Queiroz saiu, a prefeitura estava arruinada. Não apenas depauperada e
endividada, mas também com seu quadro de servidores desmantelado. As máquinas deixadas
eram só sucata.
Assim como a prefeitura, também suas empresas estavam irrecuperavelmente
endividadas. Ele também estava insolvente, pois havia gastado em jogos, viagens e lazer todo
o dinheiro vindo da corrupção.
Entre 2001 e 2004 Haroldo viveu do favor de parentes e amigos e de alguns bicos
proporcionados pelo padrinho Newton Cardoso.
Em 2004 concorreu novamente ao cargo de prefeito. Nessa ocasião declarou ao TSE o
mesmo patrimônio que tinha 14 anos antes: uma casa de morada e as cotas das empresas
EXECUTA e ENDESTER.
Empossado em 2005, o patrimônio de Haroldo começou a crescer de forma
impressionante.
Para se ter uma idéia, dos R$ 108 mil que recebeu em 2005, declarou ter economizado R$
60.000,00. Uma poupança de fazer inveja a qualquer pão-duro. Ainda mais para quem ficara 4
anos desempregado e tinha uma dívida acumulada de 10 anos.
Esse dinheiro – esses R$ 60 mil que Haroldo Queiroz afirma ter economizado – ele não
deixou na sua conta bancária e não investiu. Guardou em casa, sob o colchão, na forma de
dinheiro vivo.
Assim, 2005 marcou o início de uma era diferente para Haroldo Queiroz. Em primeiro
lugar, naquele ano ele conseguiu poupar 73% de sua renda depois de descontado o imposto de
renda e a previdência. Uma façanha impressionante para qualquer pessoa. Mais ainda para
ele, que esteve desempregado, endividado e tinha tradição de não poupar.
Em segundo lugar, a partir dali ele adotou o hábito de guardar dinheiro vivo em casa, o
que não é comum nem entre empresários honestos nem entre cidadãos, pois todos têm medo
da inflação, dos ladrões e da perda de oportunidade de investimentos.
Em terceiro lugar, é de se notar que Haroldo Queiroz consolidou o hábito de não pagar
suas dívidas, ainda que tivesse dinheiro sonante para fazê-lo. Outro costuma que destoa
daqueles cultivados por cidadãos e empresários honestos.
Pois bem.
Nos três anos seguintes Haroldo continuou com o mesmo padrão de economizar dinheiro,
guardá-lo debaixo do colchão, não pagar seus credores e não colocar nada no seu nome.
Enquanto ele juntava dinheiro, aumentavam as execuções dos seus credores.
De calote em calote, até 2008 Haroldo juntou R$ 150.000,00 em dinheiro vivo. Foi o que
declarou ao TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Enquanto isso, continuou aumentando suas
dívidas de jogo, a emitir cheques sem fundo e a acumular um patrimônio paralelo, ilícito,
colocado em nome de laranjas.
No final de 2008 esse patrimônio ilícito, paralelo, já somava mais de R$ 1 milhão.
Dinheiro desviado da prefeitura. Mas não parou por aí. Até o início deste ano o patrimônio
paralelo dele já ultrapassa R$ 2,5 milhões, como aqui está amplamente documentado.
No segundo governo Haroldo voltou mais escolado e mais audacioso. Preparou fraudes
de maior porte que lhe renderam valores bem mais vultosos.
Também aprendeu a declarar ter em casa dinheiro vivo que não tinha. Mas,
principalmente, aprendeu que deveria poupar alguma coisa para viver após o término do
mandato.
Assim, ao lado do dinheiro fictício declarado à Receita Federal e ao TSE, Haroldo
Começou a formar um patrimônio verdadeiro, só que oculto sob o nome de testas de ferro.
Calha adiantar alguns exemplos.
Parte da propina pela canalização do Córrego das Palmeiras (chamado Córrego dos
Machados) chegou às mãos de Haroldo na forma de um apartamento na Rua Três Corações,
no Prado, em Belo Horizonte. Outra parte veio em dinheiro. Uma teceria parte veio na forma
de concreto e ferro que ele usou na construção do seu prédio particular, na Rua Dona Tinuca,
132.
Assim como o apartamento de Belo Horizonte, também o prédio da Rua Dona Tinuca
está em nome de laranjas.
Mas o prédio tem uma particularidade que merece ser destacada. Haroldo comprou suas
fundações em maio de 2006, quando começou a canalização do Córrego dos Palmeias. Dessa
forma foi-lhe possível usar o concreto e o ferro da obra pública em sua obra particular.
Mas Haroldo Queiroz não colocou o prédio em seu próprio nome, mas sim em nome de
terceiros, entre eles, dois secretários municipais de sua absoluta confiança. Esses são dois
parceiros em muitos dos golpes que ele aplica: José Eustáquio Dornelles Penido e Francisco
Xavier Tavares.
Ao colocar o prédio em nome de terceiros, Haroldo Queiroz protegeu-se contra a ação
dos credores, fugiu do fisco e lavou o dinheiro sujo do qual vinha se apropriando.
Ele fez o mesmo com os automóveis que comprou para si e para sua família. Em 2006
adquiriu um Ford Fiesta, mas não colocou em seu nome. Em 2007 comprou uma caríssima
moto Harley-Davidson, mas também não colocou em seu nome.
No final de 2008 e início de 2009 deu a si mesmo uma caminhonete de presente. À sua
mulher e a cada uma de suas três filhas maiores, deu um automóvel de luxo. Era presente de
Natal. Mas era, também, comemoração pela vitória que o levava ao terceiro mandato. Juntos,
os carros custaram em torno de R$ 400.000,00.
Registre-se que o salário que ele recebe como prefeito não é suficiente nem para pagar as
prestações desses carros, mesmo se fossem financiados em 10 anos.
Mas circulando pelas ruas estão esses vistosos carros. Um é dourado e os outros são
pretos. As placas, escolhidas a dedo, são as chamativas HHF-5000, HHF-6000, HMK-7000,
HHF 8000, HLV-8000.
A beleza poética desses números é que as filhas receberam os números 5.000, 6.000 e
7.000. Pai e mãe, cada um ficou com o número 8.000. E as placas todas começam com a letra
“H”, de Haroldo.
Exceto a Captiva, de placa HHF-8000, todos os demais veículos Haroldo colocou em
nome de laranjas. Para sua tristeza, pois tão logo o fez, os credores entraram na justiça
pedindo o impedimento judicial e a penhora do bem.
Vê-se, portanto, que diferentemente do primeiro mandato, dessa vez Haroldo Queiroz
usou o dinheiro da corrupção para garantir o teto e o transporte da família. Garantiu a renda
também, pois sua mulher e uma de suas filhas são secretárias municipais. O genro, também
servidor municipal, recebe uma gratificação extra de 50%.
A construção do prédio de apartamentos era uma forma de ocultação de bens e também
de lavagem de dinheiro. Mas, para aperfeiçoar o mecanismo, Haroldo Queiroz comprou uma
churrascaria em Nova Serrana. Como é bem sabido por todos, churrascarias e restaurantes são
típicas lavanderias de dinheiro sujo.
Criada e registrada com o nome de “Tradição Caipira”, Haroldo Queiroz a reformou e
mudou seu nome para “Serrana Grill”. A mudança, porém, nunca foi registrada. Nela
empregou seu secretário Acir Parreiras, sua filha Maria Isabel e seu genro Edson Queiroz.
Vale lembrar que Maria Isabel é também secretária municipal e Edson Queiroz é servidor
municipal.
Até aqui vimos que Haroldo Queiroz guardou dinheiro vivo sob o colchão, comprou uma
frota de carros para a família, construiu um prédio com 8 apartamentos, ganhou um
apartamento em Belo Horizonte e comprou uma churrascaria. Também é sabido – porque
amplamente divulgado – que ele reiteradamente perde dinheiro em jogo, viaja para o exterior
e dá festas ostentosas.
Importa agora dizer de onde vem o dinheiro para tudo isso.
Uma pequena fração vem do seu subsídio de prefeito. A maior parte porém, vem de
fontes ilícitas.
A primeira delas é o conhecimento “mensalinho”. Isso é, uma cota que alguns
contratados e ocupantes de cargos de confiança pagam mensalmente ao prefeito ou a seus
prepostos.
A segunda delas são as propinas que o prefeito cobra para asfaltar ruas, liberar
loteamentos e emitir certos alvarás. Parte vem em dinheiro, parte vem em lotes de terreno.
A quarta é o uso direto de máquinas, equipamentos e materiais da prefeitura.
A quinta fonte – aquela que será mais minuciosamente destrinchada nesta denúncia – é a
fraude às licitações.
Das licitações, duas serão tratadas com maior minúcia: a compra superfaturada de 29
veículos e a canalização do Córrego das Palmeiras. Juntas, essas duas fraudes renderam R$
5.250.737,00 ao prefeito e às quadrilhas
As provas desse desvio estão nos autos e foram rigorosamente demonstradas nas
planilhas.
Mas entre as infrações perpetradas por Haroldo Queiroz estão aquelas que, embora não
causem prejuízo direto ao Município, ofendem a dignidade e o decoro do cargo. Entre elas, a
reiterada emissão de cheque sem fundo, a sonegação fiscal, a prática dos jogos de azar, o
desrespeito às requisições da Câmara Municipal.
carros de forma contrária à lei, e que pagou juros exorbitantes, cabe ao prefeito demonstrar
que não o fez.
Essa norma constitucional tem sido conveniente esquecida pelo prefeito Haroldo Queiroz,
por seus auxiliares e também por esta Casa. Isso, porém, não pode mais acontecer.
DENÚNCIA
contra o Prefeito Municipal de Bom Despacho, Haroldo de Sousa Queiroz, por ofensa ao
disposto nos incisos II, III, VI, VII e IX do art. 89 da Lei Orgânica do Município de Bom
Despacho, bem como ao disposto nos incisos III, VI, VII, VIII, IX e X do art. 4o do Decreto-
Lei no 201/67. Por tais infrações político-administrativas pede sua cassação após o devido
processamento na forma dos §§1o a 13 do art. 89 da LOMBD e art. 5o e seguintes do Decreto-
Lei no 201/67 c/c art. 280 do Regimento Interno desta Casa.
Seguem a descrição das condutas e as respectivas provas.
O direcionamento
O direcionamento – ou seja, o jogo de cartas marcadas – se evidencia nos seguintes fatos:
a) A cotação prévia foi feita com um só fornecedor somente, quando a prática é cotar com
pelo menos três. Mesmo assim, esse fornecedor não foi de Bom Despacho, da região, de Belo
Horizonte, ou mesmo de Minas. Ainda é um mistério saber como a prefeitura só descobriu
esse fornecedor de Goiás para produtos que estão disponíveis aqui, em Divinópolis, em Pará
de Minas, por todo lado.
b) A empresa consultada que forneceu a cotação não é do ramo de venda de caminhões,
ônibus e automóveis. Portanto, não poderia ter cotado e não deveria ter sido consultada.
c) Os secretários municipais, usaram um ofício padronizado, preparado no mesmo
computador, impresso na mesma impressora, e emitidos na mesma data, nos quais pedem que
os veículos sejam comprados mediante “locação com doação ao final”. Por si só esses fatos
mostram o conluio. Mostra-o mais ainda o fato de que é uma coincidência improvável que
oito secretários tenha a mesma idéia de adotar uma forma de aquisição que não faz sentido
nem no mundo jurídico nem no mundo dos negócios. E, para completar, todas as secretarias
precisavam dos veículos na mesma data e se propuseram a pagar na mesma forma e na mesma
duração.
O ofício assinado pelo Secretário da Administração, Oranício Menezes, é tão exemplar
quanto estapafúrdio, como mostra a transcrição abaixo:
Solicito a fineza de providenciar processo licitatório para locação com doação ao final dos
pagamentos de 01 (um) veículo tipo automóvel de passeio, conforme descrição em requisição
anexa, com início da locação em janeiro de 2006, para transporte de funcionários da área
O falso aluguel
No sistema jurídico brasileiro não existe a figura de um “contrato de locação com opção
de doação”. Não existe e não faz sentido. Se o comprador paga o valor de um bem em 27
parcelas e ao final o recebe incondicionalmente, trata-se de venda a prazo. Agora, se o recebe
O nome “locação com doação ao final” é um engodo. Uma fraude. Primeiro, porque não
houve locação; segundo, porque não houve doação.
Doação, nos termos do art. 538 do Código Civil, é um contrato em que uma pessoa, por
liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Portanto, não
pode haver obrigação de doar. Entretanto, é isso que determina o contrato firmado pela
prefeitura. Diz ele:
Tendo a Administração Pública, [sic] efetuado os pagamentos mencionados no sub item IV –
das condições de pagamento, a empresa contratada, se obriga a transferir a propriedade dos
bens objetos do contrato a ser celebrado, oriundo da presente licitação, sem nenhum ônus, ou
despesas, entregando os documentos “Certificados de Propriedade” dos veículos
devidamente preenchidos em nome do Município, assinados e com firma reconhecida, no
prazo máximo de 30 (trinta) dias, após o término dos pagamentos (fl. 42 do processo
licitatório do pregão no 2, de 14/12/2005.)
Ora, se desde o início a empresa contratada se obriga, a doar, então não se trata de
doação, mas de obrigação contratual.
No presente caso, tratou-se de uma mal disfarçado financiamento com alienação
fiduciária. Só que, perante a instituição financeira, quem tomou o financiamento foi a
quadrilha e não a prefeitura.
Portanto, a “locação com doação” é um negócio simulado, com graves prejuízos para o
Município.
O superfaturamento
Superfaturamento é a venda ilícita por preço superior ao de mercado. Diz-se ilícita
porque a mera venda por preço alto não caracteriza o superfaturamento, uma vez que no
Brasil vige o sistema de livre iniciativa e a regra é não haver controle de preços. Entretanto,
quando há fraude à livre concorrência o preço alto se converte em superfaturamento e torna-se
ilícito.
Um dos objetivos da licitação é evitar o superfaturamento. Para isso, a Administração
deve observar se os preços pedidos pelas proponentes estão coerentes com os praticados no
mercado. Para tanto, antes de lançar o edital, deve levantar os preços vigentes e elaborar um
orçamento detalhado.
No presente caso, porém, isso não foi feito. A única empresa que o prefeito buscou para
cotação foi a CIMEL, membro da quadrilha e sem condições legais de cotar os veículos que
cotou.
Nos autos não há registro dos preços à vista que vigiam na época. Tampouco há qualquer
indicação de que tenham sido verificadas as condições para compra a prazo, seja no mercado
das financeiras, seja no mercado dos agentes de governo, como o BNDES e BDMG e agentes
do FINAME.
O tamanho do golpe no erário pode ser conferido pelo exemplo proporcionado pelo
financiamento de um ônibus escolar para 52 passageiros, fabricado pela Marcopolo, modelo
Volare W8, a Diesel, ano 2005.
Segundo registro da FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – em dezembro
de 2005 esse veículo custava R$ 131.154,00. O prefeito, porém, pagou por ele R$ 252.000,00.
Isso representa o pagamento de R$ 120.846,00 de juros num período de 27 meses.
Esse mesmo ônibus, financiado às taxas de mercado para utilitários, sairia por R$
147.079,98. Portanto, o lucro da quadrilha, só na intermediação desse ônibus, foi de R$
104.920,02.
Ora, foram oito ônibus. Portanto, só nesse item o prefeito e a quadrilha embolsaram R$
734.440,14.
O mesmo esquema mafioso repetiu-se em todos os outros veículos, conforme
demonstrado nas planilhas anexas. No total, o dinheiro abocanhado pela corrupção foi de R$
1.926.420,53. Isso, em dinheiro da época. Ajustado para moeda atual, o valor pula para R$ 2,4
milhões.
Além das demonstrações das planilhas anexas, vale a pena trazer os exemplos de sete
prefeituras que, entre 2005 e 2011, compraram caminhões análogos aos coletores comprados
pelo prefeito Haroldo Queiroz. Todas pagaram preços muito menores e juros muito menores.
Observe-se que os exemplos foram escolhidos para representar uma amostra de Minas e
do Brasil. Por isso três prefeituras são de Minas, uma é do Paraná, uma é da Bahia, uma do
Rio Grande do Norte e uma do Rio Grande do Sul.
Enquanto o prefeito Haroldo Queiroz pagava R$ 355.000,00 pelo caminhão, as outras
sete prefeituras pagaram o preço médio de R$ 200.571,28.
Porém, mais claro do que o preço médio é o preço pago pela prefeitura de Santos
Dumont: R$ 187.999,990. Isso, com carência de 6 meses e 54 meses para pagar.
O quadro abaixo ilustra os preços pagos pelas sete prefeituras mencionadas e os
respectivos documentos estão anexados.
Guaíra-PR R$ 192.000,00
Cel. Fabriciano-MG R$ 200.000,00
Ipiau-BA R$ 200.000,00
Apodi-RN R$ 212.000,00
Gramado-RS R$ 218.000,00
Piumhi-MG R$ 194.000,00
Santos Dumont-MG R$ 187.999,00
Preço médio R$ 200.571,28
O quadro abaixo, por sua vez, apresenta os preços levantados pela Perícia do Ministério
Público. Na coluna da direita pode-se constatar que o superfaturamento médio foi de 52,32%.
Isso significa, essencialmente, que metade do dinheiro pago foi embolsado pelo prefeito e
pela quadrilha.
Convém insistir que também o valor preço que o Ministério Público indica como preço
de mercado já inclui os juros do financiamento. Não se trata de comparação entre preço à
vista e preço a prazo.
Diferença Diferença
Preço Preço Preço a maior a maior
Item Qt. Cimel Contratado Mercado (R$) (%)
Caminhão coletor 3 1.110.000,00 1.065.000,00 697.777,14 367.222,86 52,63%
Caminhão basculante 3 780.000,00 735.000,00 519.422,64 215.577,36 41,50%
Caminhão de carroceria 1 205.000,00 195.000,00 128.899,28 66.100,72 51,28%
Uno Mille 4 225.000,00 148.800,00 116.009,28 32.790,72 28,27%
Pick-up Strada 1 58.000,00 53.700,00 35.995,68 17.704,32 49,18%
Microônibus 7 1.890.000,00 1.764.000,00 1.059.173,57 704.826,43 66,54%
Kombi 10 760.000,00 762.500,00 544.080,00 218.420,00 40,14%
Total 29 5.028.000,00 4.724.000,00 3.101.357,59 1.622.642,41 52,32%
A fraude na licitação
A licitação foi jogo de cartas marcadas com a empresa Valadares Gontijo. Por isso ela
não teve projeto básico, não teve projeto executivo e não teve orçamento. Três elementos
essenciais a qualquer licitação de obras. Aliás, essenciais à própria execução da obra.
Mesmo sem esses elementos e sem o parecer jurídico, o aviso de licitação foi mandado à
publicação no dia 10 de fevereiro de 2006 (fl. 17).
No dia 16 de março – véspera da data marcada para a abertura das propostas – o
Controlador Interno registrou essas irregularidades dizendo:
Entende essa controladoria que para o atendimento ao disposto no art. 7o da Lei
8.666/93, deverá ser juntado aos autos a planilha orçamentária, todo o projeto
básico, o projeto executivo e o memorial descritivo da obra, assinatura do RT nos
projetos da obra e aprovação dos projetos pelos órgãos competentes para posterior
prosseguimento (fl. 121).
Ou seja, a licitação não estava em condições de prosseguir1.
O parecer foi entregue ao Secretário de Planejamento às 17 horas e 30 minutos do dia 16
de março. Nas horas seguintes ele juntou aos autos duas plantas (fls. 76-77) e algumas
especificações vagas (fls. 123-130).
As plantas são velhas, de 1998, são erradas e são irrelevantes para as obras. A única
relacionada com a obra tem um erro tão grande que marca como 2.200 metros uma extensão
que mal chega a 1.200 metros. Nenhuma delas tem registro no CREA. Algumas nem
assinatura têm.
A juntada das especificações de fls. 123-130 é um verdadeiro deboche. Em primeiro
lugar, porque é uma cópia fiel do que já estava nas folhas de 52-60. Em segundo lugar, porque
não suprem a necessidade dos projetos básicos e executivo. Portanto, não passa de uma
zombaria.
Já a planilha orçamentária juntada à fl. 131 é arbitrária nos seus valores e quantitativos.
Não está fundamentada em cálculos e não traz qualquer documento de apoio, como referência
de preços.
Mesmo assim, a licitação prosseguiu e as propostas foram abertas horas depois.
O preço do edital
O edital foi vendido ao preço de R$ 1.000,00. Essa venda, porém, é proibida pelo
disposto no §5o do artigo 32 da Lei no 8.666/93. É proibida, também, porque representa
cobrança de tributo não definido em lei. Ofende, portanto, as disposições dos artigos 145 e
seguintes da Constituição da República bem como as disposições do artigo 3o do Código
Tributário Nacional.
1
Nesse sentido, assim se manifestou o Tribunal de Contas da União a propósito de obra executada apenas com
base em planilha orçamentária estimativa: Com efeito, os serviços foram licitados apenas com base em planilhas
orçamentárias estimativas, em contrariedade ao que dispõe o artigo 7º, § 2º, inciso I, da Lei nº 8.666/93.
Brasil. TCU. Representação. Acórdão n. 1813/2008 - Plenário. Processo n. 002.127/2007-6. Órgão: Prefeitura
Municipal da Juína-MT. Relator: Min. Benjamin Zymler. Ata 34/2008 - Plenário. Sessão de 27/08/2008. DOU
29/08/2008.
O conluio
As empresas Valadares Gontijo (fl. 86), Mello de Azevedo (fl. 87) compraram o edital
um mês antes de sua publicação. A empresa Aterpa (fl. 84) comprou dois dias antes.
Por si sós, esses fatos revelam o conluio entre elas e a combinação com o Município.
Mais revelador, porém, é o fato de que as empresas Valadares Gontijo e Mello de Azevedo
foram à prefeitura e pegaram as guias de recolhimento no mesmo dia e horário. Isso é, 12
horas e 2 minutos do dia 18 de janeiro de 2006. Também pagaram no mesmo dia e horário, no
mesmo caixa da Caixa Econômica Federal, agência de Bom Despacho. Finalmente, as duas
empresas, no mesmo dia 24 de fevereiro de 2006, às 12 horas e 48 minutos, transmitiram
cópias dos recibos para o fax da prefeitura, usando o mesmo fax da empresa Construtora
Valadares Gontijo, de Belo Horizonte.
Essas datas, horários e o uso do mesmo aparelho de fax mostram que essas empresas
estavam mancomunadas.
Entretanto, isso não aconteceu. Os concorrentes aceitaram as mudanças de última hora sem
reclamar. Esse é mais um indício da colusão.
Serviços preliminares
Os serviços preliminares envolvem três itens: locação da obra, colocação da placa de
identificação da obra e construção do barracão. Orçados em R$ 20.800,04, por eles a
prefeitura pagou R$ 198.104,60. Portanto, um superfaturamento médio de 852,42%. Os
detalhes estão no quadro abaixo.
Unit Custo Cobrado
Serv. (R$) Qtd previsto (Unitário- Pago
preliminares (orçado) prevista (R$) R$) Medição (R$)
Locação da obra m2 1,60 9.500,00 15.200,00 14,90 8.914,00 132.818,60
Placa de obra m2 63,89 36,00 2.300,04 891,00 36,00 32.076,00
Barracão de obra m2 110,00 30,00 3.300,00 1.107,00 30,00 33.210,00
Total do superfaturamento nos serviços preliminares: R$ 117.618,60
Mesmo agora, cinco anos depois, esses ainda não custariam mais do que R$ 25.000,00.
Muito longe, portanto, dos R$ 117.618,60 que custaram.
Movimento de terra
Na movimentação de terra, o superfaturamento foi de R$ 635.896,59. Ou seja, de um
total orçado de R$ 186.792,80 o custo subiu para R$ 822.689,39. Um aumento de 340,43%
cujos detalhes estão no quadro abaixo.
Custo Cobrado
Unit (R$) Qtd previsto (Unitário- Pago
Movimento de terra (orçado) prevista (R$) R$) Medição (R$)
Limpeza e transporte de entulho m2 0,98 9.500,00 9.310,00 3,38 28.474,80 96.244,82
Escavação de solo mole m3 23,80 4.750,00 113.050,00 22,95 16.465,27 377.877,95
Esc. Mec. Mat 1ª Categoria m3 3,42 6.840,00 23.392,80 12,15 5.159,00 62.681,85
Reaterro manual cop. 100% PN m3 6,00 6.840,00 41.040,00 14,20 20.132,73 285.884,77
Subtotais 186.792,80 822.689,39
Superfaturamento no movimento de terra: R$ 635.896,59
O quadro também mostra como foram usados o superfaturamento e o jogo de planilha. O
reaterro manual, por exemplo, foi cotado pela prefeitura em R$ 6,00 o metro quadrado, para a
execução de 6.840 metros quadrados. Entretanto, a empresa cotou a R$ 14,20 cobrou
20.132,73 metros quadrados. Portanto, um aumento de 194% no volume e um aumento de
597% no custo. Dessa forma o superfaturamento no item alcançou R$ 635.896,59.
Serviços complementares
Nos serviços complementares todos os itens estão fora do padrão. Três, porém, chamam a
atenção: o passeio que ninguém fez, mas está lá, o ladrilho que não foi colocado, e as árvores
que foram pagas, mas não foram plantadas.
Quanto às árvores, observa-se que o contrato previa o plantio e rega de 2.144 árvores
nativas e frutíferas (fl. 58-59). Dessas, 190 seriam plantadas ao longo do canal, de um lado e
outro, a cada vinte metros de distância. As restantes 1.954 seriam plantadas nas nascentes do
córrego, a uma distância de um metro uma da outra.
O que se constata, porém, é que o plantio foi feito como indicado no quadro abaixo.
Atendem Não atendem Não atendem
Goiabeira 1 Acerola 8 Ligusto 9
Araçá 3 Alamanda 8 Murta 5
Ipê Variados 58 Amora 11 Pitanga 6
Quaresmeira 2 Jamelão 84 Hibisco 2
Jenipapeiro 4 Aroeira Salsa 11 Sete Copas 1
Buganvília 6 Covas vazias 22
Dama da noite 10 Mudas mortas 2
Total = 253 68 138 47
Ou seja, somente 68 árvores são nativas. Só oito são nativas e frutíferas. Entre as demais
mudas plantadas, 138 são de árvores ou arbustos exóticos e 47 são ornamentais. Portanto, das
2.144 árvores previstas, somente 68 foram plantadas. Como as árvores deveriam ter o custo de
R$ 8,48 a unidade e a empresa plantou 68, ela deveria receber R$ 576,64. Invés disso, recebeu
R$ 66.571,20 – um prejuízo de R$ 65.994,56.
Observe-se, ainda, que o trecho do canal entre a Rua da Fábrica e o Beco do Zeca do
Couto não recebeu uma única muda. Nem mesmo de flor.
Já o passeio e o ladrilho formam mais um caso de jogo de planilha. Quem fez o passeio
foi a prefeitura. Os ladrilhos não foram colocados. Isso representou uma economia de R$
440.800,00. Entretanto, esse dinheiro não retornou aos cofres da prefeitura. Ao contrário, foi
para a conta da empreiteira, e de lá para o bolso do prefeito Haroldo Queiroz.
O gramado
O projeto previa o plantio de 17.100 metros quadrados de grama. Desses, a empreiteira
plantou 4.600. Os outros 12.500 foram plantados pela prefeitura. Entretanto, assim como
aconteceu no caso do passeio e do ladrilho, esse dinheiro também não voltou para os cofres da
prefeitura. Um prejuízo de R$ 60.875,00.
Uma quarta forma de fraudar é não executar os serviços previstos, mas cobrar os
respectivos valores em outro item. Essa quarta forma, porém, é apenas uma variante extrema
de jogo de planilha.
Na canalização do Córrego das Palmeiras, todas essas técnicas foram usadas.
Por exemplo, a placa de identificação da obra foi pura e simplesmente superfaturada.
Escandalosamente superfaturada. Por um produto que deveria ter custado R$ 2.300,00 ou até
menos, a prefeitura pagou R$ 32.076,00.
Outro exemplo é a locação da obra. Pelo valor de mercado de R$ 15.000,00 a prefeitura
pagou R$ 117.618,60.
Nesses casos o valor desviado é calculado diretamente pela diferença entre o valor de
mercado e o valor pago.
Há outros casos, porém, em que o cálculo do desvio requer engenhosidade. Por exemplo,
o consumo de concreto FCK 15 estava previsto em 4.335 metros cúbicos e o ferro CA-50, em
372.400 quilos. Pela proposta da empresa, esses produtos custariam R$ 2.868.061,50.
O quadro abaixo mostra o que aconteceu.
mais razão seria mais barato em maio de 2010, pois, a despeito de 0 km, era um modelo de
fabricação antiga e já desvalorizado.
Nesse caso, maior do que o prejuízo financeiro foi o prejuízo para a moralidade pública.
O prefeito comprou o veículo para atender a seu desejo pessoal, e não para atender a uma
necessidade da Administração. Fê-lo direcionando a compra para um modelo específico e um
fornecedor específico.
Aliás, para tanto provar, basta comparar o anexo I do edital 17/2010 com o anexo I do
edital 4/2010, o primeiro de fevereiro de 2010, o segundo de maio de 2010. No primeiro são
especificados dois veículos. O primeiro, um automóvel “ano não inferior a 2010/2010” (o
negrito é do original).
A especificação do segundo veículo, porém, destaca, em negrito: “ano de fabricação e
modelo não inferior a 2009/2010”.
Por que, no início de 2010, a prefeitura insistiria em comprar um carro fabricado no ano
anterior? Por que – no mesmo edital – exige que um carro seja 2010/2010 e o outro,
2009/2010?
Porque – como já esclarecido – o carro já estava encomendado e importado. O edital era
apenas para sacramentar o negócio que já estava fechado. Direcionamento também
confirmado pelas demais especificações.
O primeiro edital, porém, foi impugnado. O prefeito lançou segundo, que recebeu o
número 17/2010. Ligeiramente alterada, a especificação passou a exigir “veículo de passeio,
0 Km, modelo 2010 (grifamos). Ou seja, foi removida a referência ao ano de fabricação. Para
o caso de haver dúvidas, as demais especificações do edital ajudavam a caracterizar
completamente o veículo desejado (fl. 36 do edital 17/2010).
Como se não fosse suficiente, o edital condicionou o prazo de entrega em 5 dias, o que só
seria possível se o fornecedor já o tivesse em estoque. Principalmente em se tratando de um
carro importado, como aconteceu nesse caso.
O crime
O direcionamento para a compra desse automóvel caracteriza o crime previsto no artigo
90 da Lei no 8.666/93, pois frustrou o caráter competitivo do certame. Caracteriza, também,
improbidade administrativa e infração político-administrativa por descumprimento de preceito
legal.
Compra de enciclopédias
No dia 20 de agosto de 2009 o prefeito Haroldo Queiroz assinou contrato para a compra
de 10 enciclopédias, ao preço total de 19.980,00.
Embora se tratasse da compra de livros comuns, o prefeito simulou a contratação de
serviços técnicos e contratou mediante inexigibilidade, conforme admitido pelo inciso I do
artigo 13 da Lei das Licitações.
Uma fraude pura e simples.
Ademais, o livro é arremedo de enciclopédia. Basta ver que o vendedor diz dela: 11
volumes, com 40 matérias, 35.000 verbetes enciclopédicos, 3.500 verbetes históricos, 7.000
verbetes geográficos, 3.500 biografias de estrangeiros e 3.500 biografias de brasileiros. Isso
totaliza 52.500 entradas.
Retirando as 320 páginas de ilustrações, nas outras 3.764 páginas de 14 x 22 cabem 3
linhas por verbete. Para um dicionário isso já seria palavra de menos para verbete demais.
Mas, para uma enciclopédia que alega ter 7.000 biografias, o adjetivo não pode ser menos do
que ridículo. Pura tapeação.
A inexigibilidade da licitação
O andamento processual também é revelador e vale a pena ser sintetizado.
Primeiro dia – 18/8/2009
• A empresa enviou um orçamento para o Município (quem pediu o orçamento, não se
sabe) (fl. 4);
• No próprio dia 18/9 a Secretária da Educação enviou memorando ao setor de licitações
pedindo a compra da enciclopédia. Junto com o pedido veio a documentação da
empresa fornecedora (fls. 2-3 e 4-26);
• Ainda no próprio dia 18/9 o setor de licitação encaminhou o pedido para o setor contábil
fazer a reserva orçamentária. (fl. 27);
Segundo dia – 19/08/2009
• Aprovação pelo setor contábil (fl. 27);
• Aprovação pelo setor de finanças (fl. 27);
• Reunião da CPL para decidir pela inexigibilidade porque se trataria de estudo técnico,
planejamento e projeto básico ou executivo, em consonância com o Artigo 13, inciso I
da Lei 8.666/93. (Entretanto, tratava-se da mera compra de livro, não de estudo técnico
ou planejamento.)
• Encaminhamento ao setor jurídico para parecer (fl. 30);
Terceiro dia – 20/08/2009
• Setor jurídico aprova a inexigibilidade (fls. 31-36);
• Encaminhamento à Controladoria Interna (fl. 39);
• Controladoria Interna aprova o processo (fls. 40-42);
• Prefeito ratifica a compra (fl. 44);
• Contrato elabora e assinado pelas partes (fls. 45-48);
• Encaminhado o extrato para publicação (fls. 49-50).
Portanto, em três dias, o prefeito Haroldo Queiroz conseguiu o prodígio de realizar um
processo licitatório inteiro, desde o pedido inicial do setor interessado até a assinatura do
contrato. Esse é um recorde notável, mesmo quando comparado com as outras licitações
fraudadas da prefeitura.
Outro fato notável é que, a despeito de a vendedora morar no interior de São Paulo,
compareceu imediatamente à prefeitura para assinar o contrato. Nenhuma delonga ou espera.
Essa licitação é uma fraude. A uma, porque o produto não atende a nenhuma necessidade
das escolas de Bom Despacho. A duas, porque não se tratava de inexigibilidade, tal como
definido pela Comissão de Licitação. A três, porque foi conduzida com o único objetivo de
gerar o pagamento de propina.
Incidem, no caso, as penas previstas nos artigos 89 e 90 da Lei das Licitações. Os autos
do processo administrativo no 77/2009 e a inexigibilidade no 7/2009 são provas suficientes da
fraude.
Cinco meses depois – com base em licitação fraudada – o prefeito assinou novo contrato
no valor de R$ 15.039,99 divididos em 5 parcelas. A primeira, de R$ 2.239.99; as outras
quatro, de R$ 3.200,00.
Mediante aditivos, o valor do contrato foi duas vezes aumentado em R$ 19.200,00. A
primeira vez, em 1o de setembro de 2009; a segunda vez, em data desconhecida, mas
presumivelmente em julho de 2010, de modo a cobrir os pagamentos feitos entre agosto e
dezembro de 2010. Os principais fatos estão mostrados no quadro abaixo.
Contrato de consultoria com a ASSETEC Informática
O primeiro contrato é ilegal, foi feito sem licitação e sem levantamento de custos do
mercado. O segundo, porque a licitação – sob a modalidade de carta convite – foi fraudada.
Também é ilegal o aditivo no 2, pois extrapola o limite legal do aumento de 25%. Com
tanto mais razão é ilegal o terceiro aditivo, pois eleva o valor excedente para 821,28%.
Além do mais, a contratação da empresa ASSETEC para prestar consultoria fere o
disposto no §3o do art. 22 da mesma lei, já que convite é a modalidade de licitação entre
interessados do ramo pertinente ao seu objeto.
Entretanto – conforme demonstra a Certidão Simplifica Digital anexa – a empresa
ASSETEC é explicitamente vedado de vender serviços de “análise de sistemas, programação
e consultoria”.
Configurados, portanto, os crimes tipificados nos artigos 90 e 92 da Lei das Licitações.
O nepotismo cruzado
Finalmente, deve-se registrar que a empresa ASSETEC pertence a Paulo Sérgio Alves,
que lhe detém 97,22% das cotas. Paulo Sérgio, por seu turno, é Secretário Municipal de Saúde
em Araújos. Também por esse motivo estaria impedido de prestar serviços à prefeitura de
Bom Despacho, já que tem dedicação exclusiva à prefeitura a que serve.
Acontece, porém, que Maria Izabel de Carvalho Queiroz – filha do prefeito Haroldo
Queiroz – é servidora do Município de Araújos. Ali é subordinada ao Secretário Paulo Sérgio.
Foi com o beneplácito dele que ela conseguiu afastar-se da prefeitura de lá para assumir em
Bom Despacho o cargo de Secretária de Governo do seu pai, Haroldo Queiroz.
Caracterizado, portanto, o nepotismo cruzado.
2
Castro, José Nilo de. A defesa dos prefeitos e vereadores em face do Decreto-Lei 201/67. 5. ed. rev. amp. atu.
Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 213.
que vê a maior autoridade municipal envolvida com jogos e fraudes, com cheque sem fundo e
desrespeito ao judiciário e ao legislativo, com sonegação fiscal e calote.
Por isso elas caracterizam a infração político-administrativa descrita no inciso X do art.
4o do Decreto-Lei no 201/67 c/c inciso X do art. 89 da Lei Orgânica do Município de Bom
Despacho. A pena para essas condutas é a perda do mandato político.
3
Executivas, possessórias e falimentares contra a empresa ENDESTER: 0032287-20.2001.8.13.0074,
0032303-71.2001.8.13.0074, 0035926-46.2001.8.13.0074, 0077371-10.2002.8.13.0074, 0080888-
23.2002.8.13.0074, 0176254-55.2003.8.13.0074, 0176270-09.2003.8.13.0074, 0176296-07.2003.8.13.0074,
0257232-48.2005.8.13.0074, 0260954-90.2005.8.13.0074, 0260970-44.2005.8.13.0074, 0262398-
61.2005.8.13.0074, 0262406-38.2005.8.13.0074.
Executivas, possessórias ou falimentares contra a EXECUTA: 0018302-81.2001.8.13.0074, 0023187-
41.2001.8.13.0074, 0023195-18.2001.8.13.0074, 0023203-92.2001.8.13.0074, 0027592-23.2001.8.13.0074,
0093865-47.2002.8.13.0074, 0113745-88.2003.8.13.0074, 0452704-79.2008.8.13.0074, 0497459-
57.2009.8.13.0074, 0007783-95.2011.8.13.0074.
Executivas, possessórias, despejo, insolvência ou falimentares contra HAROLDO DE SOUSA QUEIROZ:
0010812-08.2001.8.13.0074, 0012982-50.2001.8.13.0074, 0015365-98.2001.8.13.0074, 0023187-
41.2001.8.13.0074, 0023195-18.2001.8.13.0074, 0023203-92.2001.8.13.0074, 0031404-73.2001.8.13.0074,
0032287-20.2001.8.13.0074, 0032303-71.2001.8.13.0074, 0035926-46.2001.8.13.0074, 0037435-
12.2001.8.13.0074, 0076209-77.2002.8.13.0074, 0077371-10.2002.8.13.0074, 0081209-58.2002.8.13.0074,
0083858-93.2002.8.13.0074, 0109190-62.2002.8.13.0074, 0119411-70.2003.8.13.0074, 0137116-
81.2003.8.13.0074, 0153634-49.2003.8.13.0074, 0191053-69.2004.8.13.0074, 0228244-51.2004.8.13.0074,
0244644-09.2005.8.13.0074, 0256549-11.2005.8.13.0074, 0260954-90.2005.8.13.0074, 0262281-
70.2005.8.13.0074, 0266373-91.2005.8.13.0074, 0273676-59.2005.8.13.0074, 0294357-16.2006.8.13.0074,
0298200-86.2006.8.13.0074, 0300188-45.2006.8.13.0074, 0311821-53.2006.8.13.0074, 0328635-
43.2006.8.13.0074, 0344358-68.2007.8.13.0074, 0360503-05.2007.8.13.0074, 0364307-78.2007.8.13.0074,
0486817-25.2009.8.13.0074, 0042063-29.2010.8.13.0074.
Porém, Haroldo Queiroz foi incapaz de poupar o dinheiro que recebeu no primeiro
mandato. Dessa forma, verificamos que, na declaração de rendimentos de 2005, o prefeito
declarou à receita ter o mesmo patrimônio que tinha quando se iniciou na política: uma casa
de moradia e as cotas das empresas ENDESTER e EXECUTA. Os números estão no quadro
abaixo.
Entre 2001 e 2004 Haroldo Queiroz não teve renda. O fato é conformado pelo anexo
ofício da Receita Federal. Naquela época ele vivia do favor de amigos e parentes. Em 2005,
porém, voltou a receber subsídios de prefeito, num total bruto de R$ 108.108,65.
Naquele ano pagou R$ 3.451.72 de previdência e R$ 22.790,87 de imposto de renda,
restando-lhe R$ 81.866,00 dos subsídios. Com esse dinheiro sustentou sua casa, com duas
filhas menores e uma terceira que fazia faculdade em Belo Horizonte. Apesar dessas despesas,
declarou ter poupado R$ 60.000,00 dos R$ 81.866,06 que lhe sobraram após os descontos
compulsórios.
Nenhum pai de família da classe média acreditará nessas contas, mas a Receita Federal
parece ter acreditado. Talvez porque pense que o contribuinte Haroldo Queiroz, embora
endividado, seja um exemplo raro e espetacular de capacidade de poupança.
Consta-se que Haroldo Queiroz poupava muito mas não pagava suas dívidas. Tampouco
investia seu dinheiro. Nem mesmo o deixava na conta bancária. Ao contrário, deixa guardado
em casa, em dinheiro vivo. Conforme mostra o quadro abaixo, esses hábitos foram mantidos
em 2007.
Bem Valor
01 Casa residencial na rua Padre Augusto, 170 – Bairro Ozanan – Bom R$ 50.000,00
Despacho (MG)
01 consórcio R$ 13.900,00
Dinheiro em espécie R$ 150.000,00
Total R$ 213.900,00
Pois bem.
Não há cidadão bom-despachense que não saiba que o prefeito Haroldo Queiroz e sua
família ostentam sinais de riqueza incompatíveis com esse patrimônio e com sua renda. São
seis automóveis e uma moto, um prédio de oito apartamentos na Rua Dona Tinuca, um
apartamento em Belo Horizonte, uma churrascaria em Nova Serrana, pomposas e ostensivas
festas de casamento e de aniversário e repetidas viagens nacionais e internacionais levando
juntos não apenas a família inteira, mas também amigos e agregados.
Sem falar nas famosas noitadas de jogo de baralho em que o prefeito tem fama de perder
dezenas e até centenas de milhares de reais.
Esse ostentoso e pródigo padrão de vida é mantido com dinheiro desviado da prefeitura.
Vem de licitações fraudadas, de obras superfaturadas, de propinas para emissão de alvarás e
licenças, do uso de máquinas e servidores públicos.
4
Atualmente recebe também uma gratificação de 50% do salário. Essa gratificação lhe foi atribuída pelo sogro,
conforme Decreto no 3.639, de 4 de julho de 2007.
Veículos da família
O automóvel oficial do prefeito tem a placa HBP-0012. Não é coincidência. Como a
maioria dos jogadores compulsivos, Haroldo Queiroz cultiva uma relação mística com os
números, com as letras e com a realidade. Por exemplo, um dos seus antigos celulares tem o
número 9985-0001, pois ele acredita que o “0001” o ajuda a se manter como prefeito, o
primeiro da cidade, o número um.
Seu outro celular tem o número 9985-3737. Como “37” é o prefixo DDD da cidade, ele
acredita que esses dígitos lhe darão sorte e poder no comando do Município.
O prefeito mantém uma relação mágica também com as placas iniciadas pela letra H, de
Haroldo. Ele cultiva esse fetiche com tal zelo que ele acabou por se tornar uma forma
assinatura, uma marca pessoal.
No caso do carro oficial comprado na licitação fraudada de 2010, o prefeito elevou seus
sortilégios ao paroxismo. Na cabeça dele – conforme amplamente comentado entre os
servidores – as três letras da placa – HBP – foram escolhidas para significarem Haroldo Bom
Prefeito. O número 12 de “0012” é o número com que ele, por quatro vezes, concorreu ao
cargo de prefeito. Como ganhou três das quatro, ele o tem como um número de sorte.
Esse fetiche o prefeito leva também para seus carros particulares, mesmo quando
colocado em nome de laranjas. Conforme demonstra o quadro abaixo, todos os seus
automóveis têm placas começadas com a letra H, de Haroldo.
anos assegurava ao prefeito Haroldo Queiroz que ele continuaria tendo duas fontes de
dinheiro: uma lícita e limitada, representada pelo seu salário de prefeito e pelo salário de sua
mulher e filha; e outra ilícita representada pelas propinas e pelo dinheiro desviado de obras,
como a canalização do Córrego das Palmeiras.
Desses veículos, somente o Captiva está no nome do prefeito. Sobre ele, porém, recaem
diversos impedimentos administrativos e judiciais, tal como indicado pelos processos
0074.06.031182-1 e 0074.09.048681-7 que tramitam no fórum de Bom Despacho. Os demais
automóveis estão em nome de laranjas.
Conforme indicado no quadro, o valor de aquisição desses veículos na época da aquisição
era de R$ 442.102,00.
Conclusão
Não se desconhece a dificuldade de cassar um mandato popular. Mas isso se torna
obrigatório quando a democracia é maculada pela demagogia; quando a coisa pública é
capturada e usada como coisa particular; quando o mérito é substituído pelo nepotismo;
quando o interesse de todos é massacrado sob os interesses de uma família. Principalmente,
isso é necessário quando o dinheiro do contribuinte é dilapidado em viagens familiares, em
festas e em mesas de jogo.
Assim, em vista dos graves fatos acima narrados impõe-se a essa Casa – após o devido
processo legal – cassar o mandato do prefeito Haroldo de Sousa Queiroz.
As provas reunidas nos autos são robustas, abundantes, contundentes. Qualquer um que
as examine se convencerá da veracidade do que nesta denúncia se afirma.
Portanto, é com base em provas robustas e convincentes que se pede a cassação do
prefeito Haroldo Queiroz.
Portanto, é sob a luz desse princípio, é sob a égide desse artigo do Regimento Interno que
digo que hoje temos nesta Casa quaro vereadores que não podem participar do julgamento do
prefeito Haroldo Queiroz.
O primeiro sou eu mesmo. Por já ter convicção formada, não posso mais ser imparcial na
avaliação das condutas que denuncio. Ao contrário, se eu não considerasse o prefeito culpado,
não o denunciaria. Por isso mesmo, estou impedido de julgá-lo.
O segundo impedido de julgar o prefeito é o vereador Marcos Fidelis Campos, por causas
das relações pessoais e profissionais que mantém com o prefeito Haroldo Queiroz, bem como
em decorrência de negócios com ele entabulados. Senão, vejamos. a) o vereador, por ser
presidente da Câmara, está na linha sucessória do prefeito. Por isso mesmo, é suspeito para
julgá-lo; b) o vereador é o antigo proprietário do imóvel da Rua Dona Tinuca, no 131. Foi ele
quem vendeu o imóvel ao prefeito. Além do mais atuou como testemunha de defesa do
prefeito perante o Ministério Público. Por tudo isso, tem interesse pessoal, direto e imediato
nos resultados desse julgamento; c) a pedido do vereador, dezenas de eleitores seus foram
obsequiados com lotes que o prefeito lhes concedeu no Mato Seco e na cidade; d) com sua
intercessão – e como um favor pessoal do prefeito – o vereador conseguiu uma função pública
para seu amigo e protegido Fábio Miguelloti Muller;
O terceiro impedido é o vereador Pedro Paula Paiva, porque a) é companheiro do prefeito
Haroldo Queiroz nas mesas clandestinas de jogo; b) ele mesmo disse que o prefeito é um
perdedor nato que já lhe propiciou substanciais ganhos financeiros advindos do jogo, sendo as
quantias suficientes para a compra de uma casa, dois carros e um sítio; c) ele declarou,
também, que conhece tantas malfeitorias do prefeito Haroldo Queiroz que, se resolvesse falar,
o prefeito seria cassado e preso no mesmo dia. Entretanto, sempre se recusou a trazer tais
fatos ao conhecimento dos vereadores; d) como membro da Comissão de Meio Ambiente, foi
encarregado pelo plenário de contar e relatar sobre o plantio de árvores na Avenida Dr.
Roberto e nas nascentes do Córrego das Palmeiras. Entretanto, recusou-se a assinar o
relatório, assim como se omitiu na emissão de relatório e voto próprios, caracterizando desídia
que protege o prefeito; e) além disso, já declarou de público que já tomou decisão contra a
cassação do prefeito e a favor da cassação do vereador denunciante.
Por todos esses motivos, o vereador Pedro Paulo Paiva não tem a imparcialidade, a
isenção e a independência se que exige do julgador.
Finalmente, deve se afastar o vereador Gilmar Geraldo do Couto, Iru, porque: a) tal como
o vereador Pedro Paula Paiva, recusou-se a assinar o relatório da Comissão de Meio Ambiente
na contagem das árvores do Córrego das Palmeiras e tampouco fez o seu próprio relatório ou
apresentou voto em separado, caracterizando favorecimento ao prefeito e desídia no
cumprimento de suas obrigações b) embora fosse relator da CPI do mensalinho instalada nesta
Casa, no auge das oitivas de testemunhas e reunião de documentos, em agosto de 2010 pediu
e conseguiu que o prefeito Haroldo Queiroz nomeasse sua ex-mulher Joana Elisa Araújo do
Couto, que começou a trabalhar na prefeitura em agosto de 2010. Ela ficou por dois ou três
dias no setor de recursos humanos e depois foi encaminhada para trabalhar na Secretaria da
Saúde, onde permanece.
Da mesma forma que acontece com os outros vereadores acima nominados, também o
vereador Gilmar Couto encontra-se impedido no presente caso, visto que o seu julgamento
está comprometido pelos benefícios que lhe foram concedidos pelo prefeito Haroldo Queiroz.
Dessa forma, para que seja preservada a lisura, a independência, a isenção e a
imparcialidade do julgamento pugno para que os vereadores Fernando Cabral, Marcos Fidelis,
Pedro Paula e Gilmar Couto sejam declarados impedidos, devendo seus suplentes serem
convocados para atuarem em seus lugares em todos os aspectos relativos e decorrentes dessa
denúncia.
O pedido de cassação
Assim, na forma do artigo 5o do Decreto-Lei no 201/67 c/c art. art. 89 da Lei Orgânica do
Município de Bom Despacho e demais legislação aplicável à matéria, o vereador Fernando
Cabral pede a esse Plenário que receba esta denúncia e, após o devido processo legal, seja o
prefeito Haroldo de Sousa Queiroz reconhecido culpado pelas condutas acima alinhavados,
sendo ao final cassado e afastado da vida política do Município especialmente pelos seguintes
fatos a seguir resumidos:
i) Desatendimento a pedidos de informações da Câmara, ofendendo assim, repetidamente, o
disposto no inciso III do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;
ii) Reiterada prática de improbidade administrativa, consubstanciada nas fraudes a licitações,
com direcionamento e desvio de dinheiro mediante superfaturamento e outros artifícios,
incidindo, portanto, nas iras do inciso VII do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;
iii) Reiterada negligência na defesa de bens, rendas, direitos e interesses do Município,
conforme demonstrado pela inércia continuada na execução da dívida ativa, ofensa a
dispositivos das leis no 4.320/64 e à Lei de Responsabilidade Fiscal, caracterizando assim
a ofensa prevista no inciso VII do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;
iv) Prática reiterada de sonegação fiscal, emissão de cheque sem fundo, participação em jogos
de azar, condutas essas que configuram ofensa ao disposto no inciso X do art. 4o do
Decreto-Lei no 201/67;
v) Prática reiterada de abandono de cargo, consubstanciado em viagens internacionais
realizadas em autorização prévia do Plenário da Câmara Municipal, caracterizando assim
a ofensa ao inciso ao IX do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;
vi) Cessão ilegal de lotes, contrariando expressa disposição de lei, caracterizando assim
ofenda ao disposto nos incisos VII e VIII do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;
vii) Falta de decoro por ter mentido a este Plenário dizendo jamais ter sido punido pelo TCE
por irregularidades em licitações. A mentira caracteriza ofensa à dignidade e ao decoro
do cargo de prefeito, tal qual previsto no inciso X do art. 4o do Decreto-Lei no 201/67;
Pede deferimento