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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

CURSO DE PSICOLOGIA

DISCIPLINA: RELAÇÕES INTERPESSOAIS E GESTÃO DE CONFLITOS

PROFESSOR: MARIANA ALMEIDA

ACADÊMICO: ELEOSANGELA JARDIM/ RODRIGO NUNES

DATA:31/06

RESENHA CRÍTICA:

Resumo da Obra: O filme conta a história de Val uma empregada doméstica


nordestina que mora, há mais de uma década, em São Paulo na casa de seus
patrões de classe média Val, habituada a ser tratada de uma maneira diferente dos
demais integrantes da casa, não questiona o porquê de ter que comer em uma
mesa diferente, de viver no quarto mais desconfortável e não poder usufruir da
piscina. Seus patrões, aparentemente modernos, mas conservadores em seus
costumes sociais, sempre disseram que ela fazia parte da família, mas nunca a
trataram como tal, mesmo ela cuidando do filho deles como se fosse seu próprio.

O enredo muda quando Val recebe uma ligação de sua filha Jéssica a qual
deixou em Recife ao se mudar para São Paulo, procurando melhores condições de
vida. Interessada em estreitar o relacionamento com a filha que não vê há mais de
dez anos, Val a acolhe na capital paulista onde irá prestar vestibular, que, por
coincidência, é o mesmo que Fabinho, o filho dos patrões, fará.
Jéssica vai morar com a mãe em seu ambiente de trabalho e gera uma
tensão na casa por não agir da maneira esperada por Val e, principalmente, por
seus patrões. Ela é uma garota inteligente, questionadora e faz com que sua
chegada abale a forma de pensar e agir dos integrantes da casa, principalmente de
sua mãe, que sempre cumpria ordens sem reclamar.

Crítica do resenhista:

O longa conta com personagens característicos que apresentam a realidade


das mansões da cidade grande, elementos que constituem a diversidade social
elencando fatores multiculturais do Brasil. Assim como Val, uma mulher nordestina
de classe social mais baixa, vivencia uma realidade diferente da sua na
movimentada cidade de São Paulo. Segundo os questionamentos de Touraine 1997
como será possível viver juntos considerando uma sociedade formada por “iguais e
diferentes”. Essa ambiguidade aparece no filme como personagens estereotipados,
cada um no seu plano sustentando uma relação interpessoal dentro do roteiro. São
opostos que tem por incomuns ações como a do compartilhamento do território (a
mansão) como também das relações intrafamiliares, que aparecem no decorrer do
filme tornando-se visível as diferenças entre eles.
Val a empregada doméstica, demonstra-se muito competente no seu trabalho
desempenhando as atividades com exatidão. Para Kofes (2001) o que distingue a
empregada doméstica do escravo, atualmente, é apenas o assalariamento,
principalmente no caso daquelas que moram no próprio local de trabalho. Seguindo
esse pensamento vemos que o trabalho de Val vai muito além de limpar a casa e
cozinhar, mas remete a diversas ocasiões de trabalho que não são de sua função
serem feitas por ela.
Assim, morar no local de trabalho revela uma situação de maior sujeição e de
violação dos direitos legais por parte dos empregadores, entre outros a não-
observância da carga horária de oito horas diárias de trabalho, com intervalos de
descanso. O que é perceptível quando os empregadores elogiam e beneficiam o
funcionário se ele concordar em fazer mais horas extras e trabalhos extras, sendo
indiferente aos direitos do trabalhador.
A crítica social presente no filme instiga o público a reavaliar a sociedade na
qual está inserido. Isso é exatamente o que a diretora procura retratar nessa e em
outras de suas obras: a diferença social vivida no Brasil.

"Que horas ela volta?” traz uma crítica com uma pincelada de humor, recurso que
Anna Muylaert gosta de utilizar, como em sua obra “Durval discos”. Por se tratar de
uma crônica, a história do filme não se aprofunda nos assuntos abordados,
deixando diversas pontas soltas. Além disso, possui a presença de símbolos, como
o sorvete e as xícaras de café, que recebem uma importância maior do que
normalmente teriam, para que os simples preconceitos cotidianos fazem os
espectadores refletirem.

Dessa forma, o ótimo roteiro, os atores preparados com personagens bem


construídos e uma narrativa que explora a boa dramaturgia, o filme "Que horas ela
volta?" faz com que muitos espectadores possam se identificar com seu enredo e
suas questões sociais bem retratadas, fazendo críticas aos diversos assuntos
presentes, que muitas vezes passam despercebidos aos olhares das pessoas.

REFERÊNCIAS:

Kofes, S. (2001). Mulheres, mulheres- identidade, diferença e desigualdades na


relação entre patroas e empregadas domésticas. Campinas, SP: UNICAMP.

Touraine.1997. ¿Podremos vivir juntos? Iguales ydiferentes. Buenos Aires : Fondo


de CulturaEconómica.

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